Prof. Rubem Almeida Mariano PSICOLOGIA, PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃS GRADUAÇÃO TEOLOGIA MARINGÁ-PR 2010 Reitor: Wilson de Matos Silva Vice-Reitor: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração: Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Extensão: Flávio Bortolozzi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria do NEAD: Willian Victor Kendrick de Matos Silva Coordenação de Ensino: Viviane Marques Goi Coordenação de Curso: Silvio Silvestre Barczsz Coordenação de Tecnologia: Fabrício Ricardo Lazilha Coordenação Comercial: Juliano Mario da Silva Capa e Editoração: Luiz Fernando Rokubuiti, Fernando Henrique Mendes e Ronei Guilherme Neves Chiarandi Supervisão de Material: Nalva Aparecida da Rosa Moura Revisão Textual e Normas: Cristiane de Oliveira Alves, Elaine Bandeira Campos e Janaína Bicudo Kikuchi Av. Guedner, 1610 - Jd. 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PSICOLOGIA, PRÁTICAS EM ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃS Prof. Rubem Almeida Mariano 4 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância SUMÁRIO UNIDADE I TEOLOGIA PRÁTICA E OS FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA PSICOLOGIA TEOLOGIA PRÁTICA E PSICOLOGIA: UM DIÁLOGO NECESSÁRIO O QUE É PSICOLOGIA O NASCIMENTO DA PSICOLOGIA CIENTÍFICA AS ABORDAGENS CLÁSSICAS DA PSICOLOGIA UNIDADE II EPISTEMOLOGIA DA PSICOLOGIA PSICOLOGIA: UM CONHECIMENTO CONTRADITÓRIO PSICANÁLISE: UM CONHECIMENTO SIMBÓLICO BEHAVIORISMO: UM CONHECIMENTO EXPERIMENTAL PSICOLOGIA HUMANISTA: UM CONHECIMENTO SUBJETIVO PSICOLOGIA SÓCIO-HISTÓRICA: UM CONHECIMENTO SÓCIO-CULTURAL UNIDADE III NOÇÕES BÁSICAS DE PSICOPATOLOGIA I AS RAÍZES DA PSICOPATOLOGIA DEFINIÇÃO E CAMPO DE ESTUDO CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM PSICOPATOLOGIA E PRINCIPAIS SINTOMAS UNIDADE IV NOÇÕES BÁSICAS DE PSICOPATOLOGIA II ESTRUTURAS DA PERSONALIDADE: PSICOSE, NEUROSE E BORDELINE TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE UNIDADE V TEORIAS EM ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO CONCEITO DE ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO TEORIAS EM ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO ACONSELHAMENTO PSICANALÍTICO ACONSELHAMENTO BEHAVIORISTA FASES DO PROCESSO DE ACONSELHAMENTO AS CARACTERÍSTICAS DO CONSELHEIRO EFICIENTE ÉTICA E ACONSELHAMENTO UNIDADE VI ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃOS FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃOS REFERÊNCIAS UNIDADE I TEOLOGIA PRÁTICA E OS FUNDAMENTOS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS DA PSICOLOGIA Prof. Rubem Almeida Mariano Objetivos de Aprendizagem • Constatar a importância do diálogo entre Teologia e Psicologia. • Identificar o significado e o sentido do termo “Psicologia.” • Conhecer, de forma introdutória, os fundamentos da Psicologia Científica. • Distinguir as abordagens clássicas da Psicologia. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Introdução ao Direito Civil • Direito Civil – Parte Geral • Atos e Negócios Jurídicos • Obrigações e Contratos INTRODUÇÃO Os estudos teológicos, classicamente, estão subdivididos em: Teologia Bíblica, Teologia Sistemática e Teologia Prática. O primeiro volta-se para os fundamentos e os rudimentos dos textos bíblicos do AT e NT. O segundo aborda as elaborações filosófico-teológicas como sistema de interpretação e compreensão de doutrinas cristãs sistematicamente construídas, bem como dialoga com outros saberes como é o caso da Filosofia, Sociologia, Antropologia, Psicologia dentre outras. A Teologia Prática, por sua vez, tem como objetivo fundamentar construções teóricas e práticas da ação evangélica. Nesse particular, em nossos dias, há uma significativa demanda para a Teologia Prática, pois vivemos tempos de novos paradigmas. Dessa forma, por que não dizer quais exigem maior rigor e necessidades de atuação da Teologia? A disciplina “Psicologia, Aconselhamento e Capelania Cristãs” se coloca no eixo e na dimensão interdisciplinar entre Psicologia e Teologia. Contudo a construção dessa disciplina não dispensa a metodologia das Ciências da Religião, uma vez que o estudo ora desenvolvido está na perspectiva do estudo fenomenológico da religião. Para dar conta do ementário proposto nessa disciplina, foram trabalhados os campos da conceitual, da história, da cultura, do social e do religioso de corte cristão, sempre primando, como pano de fundo, pelo diálogo intra-religioso, sem dar ênfase a esta ou àquela doutrina ou confissão cristã determinada. Os conteúdos abordados começam pela Psicologia Científica e, paulatinamente, caminham para a Teologia Prática, em que se fixa no Aconselhamento e Capelania Cristãs. Os referenciais teóricos utilizados foram de literatura devidamente sustenta na visão clássica da Psicologia, sem nunca perder o tom crítico, assim como nos estudos sobre aconselhamento e capelania. Faz-se necessário sublinhar que as fontes bibliográficas publicadas sobre capelania são deverasmente escassas, diferentemente das de aconselhamento. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 11 A lógica desta disciplina prima pelo diálogo e respeito entre os conhecimentos psicológicos e teológicos, o que não poderia ser diferente. Entretanto, foi opção respeitar as especificidades dos conhecimentos para constituição do estudo dessa disciplina, ou seja, referente ao aconselhamento cristão, primou-se em estudar de forma muito peculiar os conhecimentos de aconselhamento advindo do universo psicológico. Essa opção não tira, em nada, o brilho e a riqueza das elaborações e contribuições da Teologia Prática para ação evangélica nessa área. Pelo contrário, acredita-se que esse procedimento, na verdade, marca de forma indelével o respeito e o entendimento que os conhecimentos devem realmente exercitar, no contexto acadêmico, para o melhor conhecimento do objeto de estudo comum entre esses dois saberes. Em relação aos objetivos a serem alcançados nesta disciplina, procurou-se atender às três áreas enfatizadas pela pedagógica e didática, a saberem: cognitivo, afetivo e motor. Nessa seqüência e sentido, foram sendo elaborados os estudos, tema a tema, para que o aluno ou a aluna, ao final desta disciplina, tenha condições de ver e refletir sobre os conhecimentos necessários para o exercício da Teologia, em especial, nas áreas do aconselhamento e capelania cristãs. Por fim, a disciplina “Psicologia, Aconselhamento e Capelania Cristãs” está dividida em 6 unidades: I. Teologia Prática e os fundamentos Histórico-Filosóficos da Psicologia; II. Epistemologia da Psicologia; III. Noções Básicas de Psicopatologia I; IV. Noções Básicas de Psicopatologia II; V. Teorias em Aconselhamento Psicológico e VI. Aconselhamento e Capelania Cristãs. 12 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Fonte: PHOTOS.COM TEOLOGIA PRÁTICA E PSICOLOGIA: UM DIÁLOGO NECESSÁRIO Quando se propõe um diálogo, não precisa ser muito entendido para perceber que deve haver alguma dificuldade para desenvolvê-lo. Isso não é diferente entre Teologia e Psicologia, até porque são dois campos de conhecimento com os seus devidos métodos, linguagem e objetos de estudo. É verdade que ambos têm uma relação, em sua origem, marcada pela filosofia. Contudo, especificamente na área do aconselhamento, há discussões homéricas a respeito se esse diálogo é possível ou não. Sem entrar em maiores detalhes, o objetivo desse texto, e, também uma das justificativas, é de estudar sobre Psicologia, Aconselhamento e Capelania Cristãs, em vez de ficar em exaustivas considerações sobre essas questões. Neste trabalho, parte-se do pressuposto que o ser humano, conforme Casera (1985) é ponto de encontro da Teologia e da Psicologia, ou seja, tudo aquilo que é próprio da existência humana tem relação com ambas e, por sua vez, ambas devem se ocupar, principalmente, no entendimento e em dar as devidas respostas. Nesse sentido, toda Teologia é prática, como bem observa Sathler-Rosa (2004), porque procura ressaltar o compromisso eclesial da Teologia. Esse mesmo autor questiona: “Mas não seria o especifico da elaboração teológico-pastoral fazer correlação existência/teologia? (...) toda teologia, independente de sua especialização, é teologia prática, isto é, o teologar tem sempre uma relação com o cotidiano e com a igreja...” (p.59). Portanto, a teologia prática está marcada, indelevelmente, pela existência humana e suas questões mais básicas, do cotidiano, do hoje, do aqui, da contemporaneidade, das angústias e das dores do ser humano, no seu contexto, à luz dos fundamentos bíblico-teológicos da tradição cristã. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 13 Quem também faz uma elaboração muito importante sobre o porquê da Teologia Prática hoje é Zabatiero (2005): Prática é o modo de ser da teologia à medida que o objetivo último da reflexão e construção teológicas é prático, não especulativo. Primeiro é o compromisso de caridade, de serviço. A teologia vem depois, é ato segundo”. Prática é o modo de ser da teologia, pois nós a fazemos em um mundo marcado pelo pecado e pelo conseqüente sofrimento da pessoa e de toda a criação, que geme: Diante da tragédia dos que sofrem, a fé em Jesus Cristo nos desafia à justiça e à eqüidade. O paradigma do Bom Samaritano (Lc 10:25-37) — o qual, diferentemente do sacerdote e do levita, sente compaixão e se detém para ajudar o ferido — serve de marco referencial para compreender o que significa refletir teologicamente sobre as vítimas e considerar as implicações que sua desgraça acarreta para o nosso compromisso de fé. [...] Fazer teologia, como nos recorda este episódio do Evangelho, não significa especular, mas encontrar novos estímulos para seguir a Jesus Cristo e dar testemunho das boas novas de seu reino... Teologia (prática) é discurso crítico e construtivo sobre a ação cristã no mundo. Fundamenta-se no discernimento da ação de Deus e se constrói em diálogo — crítico e construtivo — com os discursos sobre a ação não-cristã e sobre a ação anticristã. A racionalidade da teologia consiste de uma teoria crítico-discursiva da ação. Sua finalidade é contribuir para o aperfeiçoamento da ação cristã na contemporaneidade, em resposta crítica — na energia do Espírito Santo — à ação de Deus no mundo. Teologia (prática) é discurso, ação comunicativa, atividade comunitária e não individual e isolada. Como tal, constrói-se a partir de reflexão, diálogo e confronto (p.25-26). Nessa perspectiva, Sathler-Rosa (2004) entende que deve haver reciprocidade entre teologia e a ação cristã, no mundo. Isso quer dizer que a Teologia Prática deve abrir canais de diálogo com as ciências sociais e outras, de forma mais ampla, e de maneira mais objetiva, como é o caso da Psicologia, quando o assunto, por exemplo, é o comportamento humano. Portanto, compreende-se que o diálogo é necessário e salutar, tanto para Teologia quanto para a Psicologia. Nesse sentido, as publicações interdisciplinares ou transdisciplinares reafirmam a riqueza entre esses dois conhecimentos. Especialmente, na área do aconselhamento e da capelania cristã, em que nota-se um diálogo enriquecedor. 14 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 1. O que é Psicologia? O que é Psicologia? Esta é, quase sempre, a primeira pergunta que alguém se faz quando se depara ou se interessa, ou, ainda, começa a estudar mais detidamente o conhecimento psicológico. A pergunta é aparentemente simples, mas guarda significativa complexidade. Por exemplo: quando observamos um novo objeto, temos certa tendência em determinar sua compreensão futura a partir das primeiras referências construídas ou obtidas. A questão, então, tem a ver com o sentido mais apropriado, que pautará uma compreensão inicial adequada para dar conta, por exemplo, de entender esse termo “Psicologia” e, assim, acompanhar, na realidade, na trama do dia-a-dia da história esse conhecimento, como foi se constituindo. Por isso, dizer que Psicologia é tratar da alma, porque vem do grego psyché, “alma” + lógos, “tratado”, não ajuda absolutamente em nada o seu entendimento. Ou, ainda, compreender Psicologia sob o manto do significado apresentado nos dicionários como: “estudo científico do pensamento, da percepção, da emoção, da aprendizagem e do comportamento dos seres humanos e das suas relações e interações com o ambiente físico e social” (Dicionário online Priberam, 2008), também não ajuda muito. Observa-se que esses significados expostos nos dicionários passam a ideia de palavras soltas, seguidas de outras palavras que também carecem de explicação para dar o devido sentido. É um caminho sem fim. É bom afirmar, logo de início, para quem se aproxima desse conhecimento, que a Psicologia é um conhecimento riquíssimo, vasto, complexo e com objetivos nobres, pois é construído pela humanidade. Um estudioso da Psicologia atual, chamado Figueiredo (2000), para explicar o que vem a ser o conhecimento psicológico, usa de um recurso ilustrativo (imagem). Ele compara a Psicologia, enquanto conhecimento, a um Arquipélago. Na língua portuguesa, arquipélago é o coletivo de ilhas. Psicologia, portanto, usando dessa imagem, é um conhecimento variado (ilhas) na sua forma, mas que, na sua essência, está ligada, de maneira indissociável, a um tronco AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 15 comum (conjunto de ilhas – arquipélago), que estuda o comportamento humano, no sentido empregado por Teles (1991). É fundamental entender “comportamento” no sentido amplo, como observa Teles (1991), “comportamento não apenas como reações externas, mas também como atividades da consciência e mesmo do inconsciente, num plano indiretamente observável” (p. 9). Diante disso, pode-se compreender que a Psicologia, enquanto conhecimento científico, “procura compreender o Homem, seu comportamento, para facilitar a convivência consigo mesmo e com o outro. Pretende fornece-lhe subsídios para que ele saiba lidar consigo mesmo e coma as experiências da vida” (p.9). Tal entendimento de Psicologia demarca esse conhecimento no campo das Ciências Humanas, vinculado a outros saberes necessários, por exemplo, as Ciências Sociais, Naturais e Exatas. Como observamos acima, esse conhecimento é complexo e vasto. Segundo Teles (1991), o campo de estudo da Psicologia é um tema que tem, ainda hoje, gerado considerável debate, mas uma coisa é certa: o ser humano é sua principal preocupação, também é bastante vasto e trata de questões fascinantes sobre a pessoa e sua relação com outro ser humano e o meio onde vive. Por fim, a Psicologia tem três objetivos, enquanto estudo do comportamento humano, segundo Teles (1991): a) Descrição: Refere-se à necessidade de se tornarem claramente explicitas as condições nas quais o fenômeno ocorre, sem quaisquer referências ao significado. b) Predição: A capacidade de predição da Psicologia é possível em algumas áreas onde hipóteses foram comprovadas, e relações de causa-efeito foram estabelecidas através de estudos criteriosos. c) Controle: A capacidade de manipular o comportamento dos indivíduos por meio de certas técnicas. 16 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 2. O Nascimento da Psicologia Científica É importante registrar que a Psicologia que estamos tratando é a Psicologia enquanto conhecimento científico. Aquela que tem como marco histórico o primeiro psicólogo Wilhelm Maximilian Wundt em 1879, na Alemanha, em Leipzig, com a criação do primeiro laboratório de Psicologia. Antes, porém, a Psicologia tem suas primeiras elaborações, de forma rudimentar, nos primitivos, em que a existência da alma é tida como entidade Wilhelm Maximilian Wundt responsável pelas manifestações de natureza subjetiva, quer do ser humano ou do animal. Aqui, não há compreensão dualista, segundo Penna (1991). Já na Grécia Antiga, onde corpo e alma são absolutamente distintos, é que a Psicologia passa a ser entendida como estudo da alma. Tal compreensão foi ratificada nos séculos XV e XVI, principalmente com Descarte que apresentou a teoria psicofísica, ou seja, distinção entre corpo e alma. Dessa maneira, a Psicologia iria ser entendida, até a sua fundação enquanto Ciência, como o estudo da alma, da mente ou da consciência humana. (Teles, 1991). Segundo Teles (1991), nos séculos XVIII e XIX, a mente era objeto de estudo por parte dos filósofos. Duas grandes correntes dominavam nesse período: O empirismo inglês e o racionalismo alemão. O empirismo inglês acreditava que todo conhecimento se baseava nas sensações: os órgãos dos sentidos recebiam a estimulação do mundo exterior e os nervos a conduziam ao cérebro, o resultado era a percepção dos objetos, base de todo conhecimento. Segundo John Locke, a pessoa nasce com uma mente como uma tabula rasa, uma página em branco, em que a experiência e a percepção sensorial inscrevem todo o conteúdo. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 17 Os racionalistas alemãs, por sua vez, afirmavam que a mente tinha poder de gerar idéias, independentemente das estimulações sensoriais. O conhecimento era baseado na razão, pois essa tinha a ação de perceber, recordar, raciocinar e desejar. O importante é o que ela faz e não o que ela tem, isso é fundamental para compreender o conhecimento; Contudo, Segundo Figueiredo (2000), é com Wundt (1832-1920) que a Psicologia se torna Ciência Independente, no seguinte sentido: na criação de instituições destinadas à pesquisa e ao ensino da psicologia, e na formação de inúmeros psicólogos. A obra de Wundt se estende da psicologia experimental fisiológica à psicologia social, e, para ele, a Psicologia era uma ciência intermediária entre as ciências naturais e as ciências da cultura. O Objeto da psicologia é, segundo seu pensamento, a experiência imediata dos sujeitos. Experiência imediata, por sua vez, é a experiência tal como o sujeito a vive antes de se pôr sobre ela, antes de comunicá-la, antes de “conhecê-la”. É, em outras palavras, a experiência tal como se dá (FIGUEIREDO, 2000). No entendimento de Wundt, há duas formas de fazer psicologia: A primeira é utilizando o método experimental, que pretende pesquisar os processos elementares da vida mental, ou seja, aqueles processos mais fortemente determinados pelas condições físicas do ambiente e pelas condições fisiológicas dos organismos. Outra maneira é por meio da análise dos fenômenos culturais – como a linguagem, os sistemas, os mitos etc. Segundo Wundt, manifestam-se os processos superiores da vida mental - como o pensamento, a imaginação etc. (FIGUEIREDO, 2000). 4. As abordagens clássicas da Psicologia Na atualidade, há uma diversidade de abordagens na Psicologia. Tal é essa diversidade, que há estudos epistemológicos, por exemplo, que esboçam a problemática da seguinte maneira: há Psicologias ou Psicologia? Ou seja, pode-se dizer que o conhecimento psicológico é 18 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância constituído essencialmente de uma única forma ou ela é constituída de forma essencialmente diferente? Ou, ainda, há um único objeto ou objetos de estudo? Há um único método ou métodos? Tanto Japiassu (1977) quanto Figueiredo (2004) tratam sobre essa problemática ressaltando essa diversidade como sendo própria do conhecimento psicológico. Diante disso, Figueiredo (2004) chega a afirmar que Psicologia é um conhecimento de “natureza dispersa”, mas que encontra na subjetividade seu ponto de convergência fundante. A partir da Psicologia Científica, com Wundt, no século XX, foram formadas escolas psicológicas: Estruturalismo, Funcionalismo, Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise. Segundo Wertheimer (1989), essas escolas tiveram convicções particulares a respeito da definição e da tarefa da Psicologia, bem como métodos adequados à execução dessa tarefa. Wertheimer (1989) compreende, respectivamente, os seguintes objetivos dessas escolas: a) Estruturalismo - descobrir tudo a respeito do conteúdo da mente e a estudava por introspecção. b) Funcionalismo – preocupava-se mais com a adaptação, ou seja, para que servem as várias atividades da mente? c) Behaviorismo – a psicologia deve estudar o comportamento e não a experiência. A experimentação objetiva era o único método legitimo. d) Psicologia da Gestalt – tanto a experiência quanto o comportamento são áreas legitimas de estudo da Psicologia. Devem ser empregados métodos adequados ao problema, desde que sejam cautelosos para evitar a fragmentação do fenômeno sobre o qual se trabalha. e) Psicanálise – Diferentemente das anteriores, objetiva compreender, a partir da associação livre e da análise de sonhos, os processos fundamentais da mente consciente e inconsciente e as forças dinâmicas que compõem a personalidade. A seguir, vejamos uma tabela que apresenta uma visão sintética de onde se encontram as cinco escolas a respeito de algumas das importantes idéias da época: AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 19 As escolas de Psicologia e o que sustentavam Escola (e seus partidários mais representativos) Unidade de Estudo Subjetiva ou Objetiva? O que a Psicologia deve estudar? Método Preferido Propósito: Pura ou aplicada? Nomotética ou idiográfica? Explicação fisiológica Estruturalismo (Wundt, Titchener) Funcionalismo (Angell, Carr, Thorndike, Woodworth) Behaviorismo (Watson, Hunter, Hull) Psicologia da Gestalt (Wertheimer, Koffka, Köhler) Psicanálise (Freud, Jung, Adler) Elementos mentais Elementos mentais e processos adaptativos Elementos S-R Antielementos (os conjuntos naturais ou gestalten) Elementos e processos Mentalismo (subjetiva) Preponderantemente mentalismo (subjetiva) Antimentalismo (objetiva) Tanto objetiva como subjetiva Mentalismo (subjetiva) Conteúdo Preponderantemente função, mas também conteúdo. Conteúdo e função Conteúdo e função Conteúdo e função Introspecção Introspecção: mais tarde, também observação do comportamento. Observação do comportamento Fenomenologia e observação do comportamento Associação livre Pura Pura e aplicada Pura e aplicada Preponderantemente pura Mais aplicada do que pura Leis gerais Algumas diferenças individuais (idiográfica), mas, sobretudo leis gerais. Ambos Ambos Mais diferenças individuais do que leis gerais Ligações fisiológicas Porquês e para quês fisiológicos Ligações fisiológicas Campos fisiológicos Impulsos biológicos? Fonte: (WERTHEIMER, M. 1989). Neste item, serão apresentadas apenas as escolas que hoje têm presença e influência no conhecimento e, conseqüentemente, na prática psicológica, quer em terapia ou aconselhamento. Vejamos, portanto: Behaviorismo, ou Psicologia do Comportamento como é conhecida, nasceu com o americano John Broadus Watson (1878-1958), nos Estados Unidos. Para Figueiredo e Santi (2000), o projeto de Psicologia de Watson não é a mente, conforme compreendia o funcionalismo, mas o objeto é o próprio comportamento e suas interações com John Broadus Watson 20 o ambiente, e o método é a observação e experimentação de comportamento publicamente observáveis. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Segundo Schultz & Schultz (1992), essa escola, inicialmente, foi influenciada por três tendências: a filosofia empirista/objetivista e do mecanicismo, a psicologia animal e, por fim, a psicologia funcional. Ficou para os anais da História da Psicologia a célebre frase de Watson sobre o poder que o conhecimento Behaviorista se propunha atingir: Dêem-me uma dúzia de crianças sadias, de boa constituição e a liberdade de poder criálas a minha maneira. Tenho a certeza de que, se escolher uma delas ao acaso e puder educá-la convenientemente, poderei transformá-la em qualquer tipo de especialista: médico, advogado, artista, grande comerciante e até mesmo em mendigo e ladrão, independentemente de seus talentos, propensões, tendências, aptidões, vocações e da raça de seus ascendentes (In: FREIRE, 2002). Segundo Kahhale (2002), o Behaviorismo tem três grandes tendências: o Behaviorismo Cognitivo, o Behaviorismo Metodológico, e o Behaviorismo Radical. A primeira tendência pressupõe que existe uma relação entre o mundo, como ambiente externo ao indivíduo, que desencadeia, neste, os pensamentos e os sentimentos que irão determinar comportamento dele no ambiente. A segunda tendência dá ênfase aos procedimentos de medida do comportamento na sua relação com o ambiente, essa tendência ficou conhecida com a Psicologia S – R, ou seja, S (operacionaliza o ambiente) e R (o comportamento). Por fim, a terceira tendência compreende por comportamento as relações do organismo com o ambiente, expresso pela tríplece contingência de reforçamento. Mais recentemente, o americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) é considerado um dos principais expoentes dessa abordagem. Era ortodoxo e rejeitava toda e qualquer subjetividade, por isso ele é considerado adepto de um behaviorismo denominado radical. Skinner Teve influência de Pavlov, do hedonismo e de Thorndike. É de Skinner a compreensão comportamentalista do principio do reforçamento na aprendizagem. Essa abordagem, portanto, advoga o controle do meio, bem como a observação do comportamento que resultou deste meio, por isso ele afirmava que só esse controle cientifico do meio poderia melhorar a existência humana (FREIRE, 2002). AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 21 Algumas das características principais dessa abordagem: a) As teorias e modelos psicológicos são fundamentados na experimentação, no controle, no condicionamento do comportamento, e admitem uma conduta humana mecanicista. b) O ser humano é estudado como um animal. c) Negação de todas as tendências inatas. d) Atenção dada aos fenômenos observáveis, mensuráveis, pela influência que o meio ambiente exerce no indivíduo, e pela rejeição de toda introspecção. Psicanálise é outra abordagem psicológica, que nasceu no fim do século XIX. Seu fundador foi Sigmund Freud (1856-1939), austríaco, de origem judia. Pode-se disser que o nascimento, propriamente dito, da Psicanálise coincide com a publicação dos Estudos sobre a histeria, em 1895, de autoria de Breuer e de Freud. No entendimento de Figueiredo e Santi (2000), Freud coloca-se nos estudos da gênese do sujeito, partindo do ser biológico ao ser moral, diferentemente do comportamentalismo de Skinner, que entende o social como sendo determinante para a Sigmund Freud compreensão do comportamento humano. Para Kahhale (2002), a Psicanálise vai além do entendimento positivista da época. Tem caráter hermenêutico, compreensivo. As regras de interpretação da Psicanálise têm um carácter próprio, uma vez que essa teoria atravessa a fronteira do biológico e vai à busca da interpretação dos símbolos. Freud foi influenciado, dentre outros, pelo filósofo alemão Franz Brentano (1838-1917). Freud dedicou-se ao estudo das pessoas portadoras de perturbações mentais, de modo especial as acomeditadas de histeria. Para tratar dessas perturbações, Freud hipnotizava seus pacientes, porém logo abandonou essa prática pelo método da conversação. Ele acreditava 22 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância que, através da conversação, a pessoa falaria espontaneamente de todas as lembranças relacionadas a desejos reprimidos. Freud relacionou esses desejos reprimidos como sendo de natureza sexual, a libido. Ao longo da vida de uma pessoa, esses desejos são lançados ao inconsciente e, com isso, são esquecidos. Esses desejos se manifestam na realidade do dia-a-dia através dos sintomas neuróticos, de forma simbólica. Sendo assim, mediante a Associação Livre, a pessoa chegaria a acessar o inconsciente, onde residem esses desejos reprimidos, recalcados e, uma vez sendo identificados, perderiam sua força causadora de sofrimento psicológico. Diante disso, Segundo Kahhale (2002): O projeto freudiano, em sua prática, é estudar como objeto o inconsciente humano, o qual pretende atingir pela observação mediante o método de associação livre, análise dos sonhos, dos chistes, atos falhos dentre outros. O inconsciente, por conseguinte, seria observado não de forma direta, mas como instância real, investigado pelas suas manifestações, modo que pode ser utilizada para observação e o conhecimento da estrutura psíquica humana. A Psicanálise é uma abordagem que tem diversas ramificações. De seu inicio até aos nossos dias, fazem parte de seus estudos nomes como de: Alfred Adler (1870-1937), austríaco; Carl Gustav Jung (1875-1961), suíço; Sandor Ferenczi (1873-1933), húngaro; Melanie Klein (18821960), austríaca; Harry Stack Sullivan (1892-1949), norte-americano; Jacques Lacan (19011981); Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979), indiano; Donald Winnicott (1979-1983), inglês. Por fim, a abordagem psicológica da Gestalt surge na Alemanha, por volta de 1910-1912. Diferentemente das outras duas escolas, essa abordagem foi constituída a partir de vários teóricos e não apenas de uma única personalidade, como Freud, na Psicanálise; ou Watson, no Behaviorismo Metodológico. Seu elaborador inicial foi Max Wertheimer (1880-1943), depois houve as contribuições Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967). No entendimento de Figueiredo e Santi (2000), essa abordagem partia da experiência imediata e adotava, como procedimento para a captação da experiencia tal como se dava ao sujeito, o método fenomenológico. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 23 Segundo Freire (2002), a palavra Gestalt vem do alemão e quer dizer configuração, estrutura, forma ou padrão. Esse termo ressalta, portanto, o conjunto, o todo. Devido a essa diversidade de significados para a língua portuguesa, preservou-se o termo no alemão, usa-se Psicologia da Gestalt, ou, ainda, em uma tradução para o português, Psicologia da Forma. A partir dos estudos de Wertheimer sobre a percepção, a abordagem da Gestalt encontra seu nascimento. Ele observou, inicialmente, que os objetos em movimento, em um curto espaço de tempo, podem ser percebidos de forma continuada. Os objetos são vistos pelo observador como um todo e não em partes, ou seja, o que o observador vê é o todo e não as partes, como elementos ou soma deles. Nesse sentido, as partes percebidas pelo observador, desse ponto de vista dado, não existe. O que há para o observador é o todo. Esse princípio observado por Wertheimer é o mesmo que, inicialmente, marca a lógica dos Max Wertheimer desenhos animados e do cinema. Diante disso, Freire (2002) observa “que não são as partes que determinam à natureza do todo, mas sim, a natureza das partes é determinada pelo todo. As características e as qualidades das partes dependem da relação entre as partes e o todo e ainda do lugar e da função, que cada uma tem nesse todo.” (p.116). Nesse sentido, observa Freire (2002) a Gestalt “interessou-se pela problemática da figurafundo. Toda a percepção é composta de figura e fundo e cada objeto é um todo. Uma unidade com uma configuração delimitada chama-se figura, em comparação com o espaço que a envolve e que lhe serve de fundo.” (p.117). A partir desse entendimento, a Psicologia da Forma ressalta que o comportamento não é a soma das sensações e percepções. Ela tem uma dinâmica própria. Segundo Freire (2002), assim também ocorre com “os processos psicológicos (aprender, raciocinar, relacionar-se, 24 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância agir, motivar-se etc.) não forma um conglomerado sem sentido, são organizados de dentro para fora e são significativos” (p.116). No entendimento de Figueiredo e Santi (2000), dois aspectos são essenciais da psicologia cientifica, segundo a Gestalt: a) O reconhecimento da experiência imediata. b) A preocupação de relacionar essa experiência com a natureza física e biológica e com o mundo dos valores socioculturais. Algumas características da Gestalt: a) Visão globalista e totalista. b) Valoriza a análise da ciência e os métodos utilizados da fenomenologia e da experimentação. c) Condena toda dicotomia e fragmentação. d) A mente e o corpo devem se unificar na compreensão da realidade. e) Não parte de pré-pressupostos, mas da realidade observada. f) Condena as teorias que utilizam o elementismo e o associacionismo. É importante considerar que, das três escolas apresentadas, a gestalt deixou de existir como escola psicológica, diferentemente do Behaviorismo e da Psicanálise, desde os meados do séc. XX. Contudo, continua presente nos campos aplicado à psicologia, principalmente na educação, psicoterapia e aconselhamento como Gestalt-terapia. No mesmo espírito do comentário de Figueiredo e Santi (2000), concluo essa parte: “a psicologia está hoje, como desde o inicio, dividida entre diferentes linhas de pensamento [...] essas divisões não são casuais nem devem esperar que sejam brevemente superadas; a psicologia tornou-se possível, como ciência independente, no bojo de uma crise. Seu objeto, a experiência subjetiva dos indivíduos” (p.84). AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 25 ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO 1. Qual a posição do autor sobre o diálogo entre Teologia Prática e Psicologia? Ele é a favor ou contra? Comente. 2. Cite e explique os três objetivos da Psicologia, conforme apresentado no item: “o que é Psicologia?” 3. Quais as duas formas de fazer Psicologia para Wundt? Exponha. 4. O que significa dizer que a Psicologia é como um arquipélago? Interprete. 5. Cite duas características principais das abordagens: Behaviorista, Psicanálise e Gestalt em Psicologia. 26 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância UNIDADE II EPISTEMOLOGIA DA PSICOLOGIA Prof. Rubem Almeida Mariano Objetivos de Aprendizagem • Desenvolver um espírito crítico. • Constatar os tipos de epistemologias em Psicologia. • Diferenciar as abordagens da Psicologia. • Relacionar as possíveis conexões epistemológicas das abordagens. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Psicologia: um conhecimento contraditório? • Psicanálise: um conhecimento simbólico. • Behaviorismo: um conhecimento experimental. • Psicologia Humanista: um conhecimento subjetivo. • Psicologia Sócio-histórica: um conhecimento Sócio-cultural. PSICOLOGIA: UM CONHECIMENTO CONTRADITÓRIO? A Psicologia é considerada, hoje, um conhecimento científico. Contudo, tal atestado já foi questionado e, ainda, é tema recorrente de discussões, principalmente, nos ciclos acadêmicos (JAPIASSU, 1977). Faz-se necessário, para quem se aproxima desse conhecimento, ter condições básicas de precisar, fundamentalmente, o objeto e o método da Psicologia, pois, sem isso, estará sujeito a cometer equívocos. Esse comportamento, contudo, é esperado face à diversidade que é própria e peculiar da Psicologia (KAHHALE, 2002). Portanto, é condição primeira para quem estuda a Psicologia, enquanto conhecimento científico, deter-se no estudo da Epistemologia. Esse conhecimento, por seu turno, tem o dever de apresentar, fundamentar e questionar os conhecimentos que se apresentam como científicos. Esse conhecimento faz o papel de “advogado do diabo”. Epistemologia, numa definição, é o estudo crítico do conhecimento (ABBAGNANO, 1982). Quem, na atualidade, dentre outros, tem se ocupado em discutir e procurado alinhavar as questões sobre a Psicologia enquanto conhecimento científico é o estudioso Figueiredo (2000; 2004). Ele tem duas obras que abordam o assunto com muita propriedade, são essas: “Matrizes do Pensamento Psicológico” e “Revisitando as Psicologias: da Epistemologia à Ética das Práticas e Discursos Psicológicos”. Este último livro trata, por sua vez, no capítulo: “Convergências e divergências: a questão das AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 29 correntes de pensamento em Psicologia”, dentre outras questões, o problema da epistemologia tão necessária para o entendimento e fundamentação das correntes psicológicas hoje. Especificamente, Figueiredo (2004) faz algumas considerações sobre a dificuldade que se encontra no meio psicológico pela questão de lidar com a fragmentação dos saberes psicológicos que têm resultado nas posições do dogmatismo e do ecletismo, expõe, ainda, sobre algumas perspectivas que considera mais maduras e profícuas para enfrentar essa dificuldade; Conforme Figueiredo (2004), faz parte do conhecimento psicológico a característica da fragmentação, sendo peculiar. A História da Psicologia é testemunha disso. A Psicologia não é um continente, observa Figueiredo (2004), mas um arquipélago conceitual e tecnológico, ou seja, não se trata de um território uno e integrado, embora também não sejam ilhas totalmente avulsas e desconectadas. Tal realidade tende a levar a angústia. Contudo, de maneira quase que simultânea, têm surgido duas reações muito típicas e perniciosas: o dogmatismo e o ecletismo. No primeiro, a pessoa tranca-se dentro de suas crenças e ensurdece para tudo que possa contestá-las. No segundo, indiscriminadamente, todas as crenças, métodos, técnicas e instrumentos disponíveis, de acordo com a sua compreensão, são utilizados para atender a prática. Essas duas defesas têm algo em comum contra a angústia, pode-se compreender que ambas bloqueiam o acesso à experiência tão necessária ao conhecimento. Isso quer dizer que a pessoa que não experiência o pensamento psicológico não desenvolve o seu próprio ato de conhecer, pois não tem experiência própria, por exemplo. O que é experimentar efetivamente senão entrar em contato com a alteridade? pergunta Figueiredo (2002). Ele responde, observando, por fim, dois aspectos. O primeiro é de que deve haver uma atitude necessária ligada aos movimentos construtivos e reflexivos. O segundo, cita Heidegger: “Fazer uma experiência como o que quer que seja, uma coisa, um ser humano, um deus, isto quer dizer: deixá-la vir sobre nós, para que nos atinja, nos caia em cima, nos transforme e nos faça outro”. 30 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Por fim, observa-se a valorização do próprio ato de conhecer por parte de quem se aproxima do conhecimento psicológico como momento de encontro, mesmo com suas negações e transformações. Deve haver a disposição e a abertura para a experiência do conhecer e assim entender esse conhecimento, que tem se mostrado, ao longo dos tempos, tão fantástico e necessário à Humanidade. PSICANÁLISE: UM CONHECIMENTO SIMBÓLICO A Psicanálise é um conhecimento psicológico marcado, fundamentalmente, pela ruptura em relação ao conhecimento até então existente e predominante. Estamos nos referindo ao pensamento positivista por excelência. Primeiramente, a Psicanálise vai além do entendimento positivista, pois tem caráter Divã hermenêutico, compreensivo. As regras de interpretação da psicanálise têm um carácter próprio, uma vez que essa teoria atravessa a fronteira do biológico e vai à busca da interpretação dos símbolos. Outra ruptura dá-se devido o objeto de estudo da Psicanálise: o inconsciente. Diferentemente dos parâmetros positivistas e científicos, a obra de Freud opõe-se, também, ao empirismo (ROSA, E. Z.; RIBEIRO, A. M. E MARKUNAS, M., 2002). Diante disso, é fundamental ressaltar que a hermenêutica psicanalítica tipicamente freudiana interpreta o símbolo não como uma representação do real, mas sim como uma distorção do real, procurando um sentido além da consciência e atingido uma verdade inconsciente. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 31 A obra de Freud tem a influência de Franz Brentano (1838-1917), da fenomenologia e da Psicologia do Ato. Foi esse filósofo quem observou a necessidade de um conhecimento psicológico rigoroso. Essa modalidade de conhecimento necessitava da observação, contudo sem que tivesse uma ênfase imprescindível na experimentação. Ele compreendida que a Psicologia deveria ser essencialmente empírica e não experimental, portanto; Segundo as autoras Rosa, E. Z.; Ribeiro, A. M. e Markunas, M., 2002, foi Brentano quem desenvolveu a Psicologia do Ato, que consiste em estudar a atividade mental como processo, ou seja, importante não seria o conteúdo em si de qualquer atividade mental. Vale, portanto, a experiência de ver, falar ou ouvir e não o conteúdo desses atos. O fundamental é o ato e não o conteúdo das experiências mentais. Diante disso, o projeto freudiano, em sua prática, é estudar, como objeto, o inconsciente humano (teoria do id, ego e superego), o qual pretente atingir, pela observação mediante o método de associação livre, atenção flutuante, análise dos sonhos, dos chistes, atos falhos, dentre outros. O inconsciente, por conseguinte, seria observado, não de forma direta, mas como instância real, investigado pelas suas manifestações, modo que pode ser utilizado para observação e o conhecimento da estrutura psíquica humana. Conforme as autoras Rosa, E. Z.; Ribeiro, A. M. e Markunas, M., 2002, Freud utilizava experiências vivenciadas a partir do inconsciente, experiências estas que são percebidas através da observação de fatos mentais como os sonhos ou associações livres, a respeito de determinada temática emergente no processo terapêutico. Ele se ocupa do que é vivido pelo sujeito, como percebido, assimilado, processado, e quais são seus produtos. Daí a formulação do inconsciente como objeto de estudo. 32 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância BEHAVIORISMO: UM CONHECIMENTO EXPERIMENTAL O behaviorismo é uma abordagem que tem dentre outros, dois nomes que se destacam, são: o de Watson e o de Skinner. O primeiro adepto de um behaviorismo metodológico e o segundo do Caixa de Skinner behaviorismo radical. Antes, porém, de tratar das epistemologias advogadas por Watson e Skinner, Schultz & Schultz (1992) observam que o behaviorismo foi influenciado por três grandes tendências de conhecimento: a filosofia empirista/objetivismo e do mecanicismo, a psicologia animal, e a psicologia funcional. Vejamos agora. O Behaviorismo/comportamentalismo surgiu nos Estados Unidos com John Broadus Watson (1878-1958). No início do século XX, os EUA passavam por um processo de expansões agrícolas, comerciais e industriais, propiciando um ambiente favorável a críticas aos mentalistas como explicação, e à introspecção como forma de obtenção de dados passíveis de análise do comportamento humano. Nesse sentido, Watson acreditava que, analisando determinados comportamentos dos animais, seria possível compreender determinados comportamentos dos seres humanos. Para Watson, a Psicologia deveria ser a ciência do comportamento, um ramo experimental objetivo das ciências humanas. Diante disso, a finalidade da Psicologia seria prever e controlar o comportamento e ter como o objetivo principal o estudo do comportamento. No início, essa linha de pensamento estudava os atos que podiam ser descritos de modo objetivo mediante observação, depois, ao longo dos tempos, foi sendo modificada. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 33 Segunda Kahhale (2002), as metodologias utilizadas por Watson foram: a observação com e sem o uso de instrumentos, os métodos de testes, o método do relato verbal, e o método do reflexo condicionado. Ele considera o sistema nervoso secundário e o comportamento indo além de uma atividade reflaxa decorrente de estímulos fisiológicos ou condicionados. O foco exclusivo no uso de métodos objetivos e a eliminação da introspecção representavam uma mudança da natureza e do papel do sujeito humano no laboratório psicológico. O ser humano, nesse sentido, é tido como uma máquina: basta um estímulo para ocorrer uma cadeia de resposta. Kahhale (2002) observa que os estímulos, assim como as respostas, podem ser simples ou complexos. Os estímulos podem ser objetos físicos do meio ambiente ou uma situação mais ampla, um agrupamento de estímulos específicos. Portanto, o comportamentalismo se ocupa do comportamento do organismo inteiro com relação ao seu ambiente. A Psicologia de Watson, diferentemente de seu tempo, prega uma libertação total das noções mentalistas e de métodos subjetivos. Ele pretendia que a Psicologia fosse tão objetiva como a Física. Por fim, Watson enfatiza a influência do ambiente sobre o comportamento dos organismos (KAHHALE, 2002). Já o behaviorismo de Skinner era radical, pois não aceitava as idéias mentalistas para explicar o comportamento humano. Skinner, de escritor romancista a pesquisador renomado, sofreu influência da filosofia de Russel (1927), da teoria da evolução natural de Charles Darwin, do mecanicismo funcional que evidenciava as relações entre sensações, e de eventos comportamentais e não mais causa e efeito (modelo newtoniano). Para Skinner, o objeto de estudo é o comportamento do organismo total. Ele se detém ao estudo como as unidades do comportamento se unem e interagem. Para isso, ele assumiu, inicialmente, o reflexo como unidade básica a ser investigada. Contudo, esse objeto não explicava os comportamentos mais complexos nem os comportamentos que não estavam associados diretamente a estímulos incondicionais. É ai que surge sua nova elaboração, 34 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância denominada de comportamento operante, ou seja, o organismo age sobre o ambiente e produz conseqüências e reforçamento, e este advém das respostas dadas pelo organismo. Desse modo, a unidade básica de comportamento passa a ser tríplice contingência de reforçamento, que engloba o comportamento e suas condições antecedentes e suas conseqüências. Isso quer dizer, segundo Kahhale (2002), que “numa analise de primeiro nível (1ª ordem) consiste em um estimulo discriminativo seguido de uma resposta que, por sua vez, é seguida por um estimulo reforçador que controla a probabilidade futura da resposta (SD – R – Sr). O estímulo discriminativo configura o ambiente no qual a resposta é emitida” (p.p. 103104). Reforço é um tipo de conseqüência do comportamento que aumenta a probabilidade de um determinado comportamento voltar a ocorrer. Evidencia-se, por sua vez, a relação organismoambiente de contingências de reforço. Um bom exemplo disso é se a criança faz birra e seus pais a atendem. Diante disso, o comportamento birra é um comportamento resposta quando os pais atendem (conseqüência), sendo assim aumentam as chances de que, na próxima vez que a criança queira algo, ela se comporte da mesma forma. Devido às influencias da teoria da evolução, Skinner também re-elaborou sua teoria para dar conta em compreender o comportamento humano, o qual é, para ele, altamente complexo. Diante disso, ele desenvolve a teoria da tríplice determinação ambiental indissociável: a espécie (filogenética), a vida do individuo (ontogenética) e a cultura (práticas culturais). Para concluir essa parte, observe o comentário de Kahhale (2002) sobre as implicações dessa nova elaboração de Skinner: Isso implica uma mudança nos métodos e procedimentos para conhecer, pois a fragmentação e isolamento, bem como a simples observação direta não permitem entender a complexidade que o comportamento humano assume. O ambiente passa a ser definido de maneira mais ampla e dinâmica, não é simples detonador de comportamentos, mas sim, onde se modula e se seleciona os comportamentos. Este modelo de seleção pelas contingências empresta unidade metodológica e epistemológica ao estudo do comportamento: ele opera em todos os eventos comportamentais e em todas as espécies (p.106). AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 35 Por fim, pode-se, parafraseando Kahhale (2002), afirmar que o Behaviorismo Radical compreende que o ser humano comporta-se devido a sua história pessoal e global, da qual são resultados seu comportamento e sua subjetividade. PSICOLOGIA HUMANISTA: UM CONHECIMENTO SUBJETIVO A Psicologia Humanista teve a pretensão de substituir as outras duas principais forças da Psicologia: a Comportamental e a Psicanálise, por isso essa abordagem também é denominada de Terceira Força (SCHULTZ, D.P.; SCHULTZ, S.E.; CUCCIO, S.S., 2005). A Psicologia Humanista foi constituída, de forma mais cristalina, na década de 60. Suas elaborações mais recentes estão localizadas em meio às guerras, lutas pelo poder, manipulação e morte, bem como no auge do poder positivista. Sua preocupação, ou seja, em uma linguagem científica, seu objeto de estudo é o ser humano. Segundo Rosa, E. Z. e Kahhale, E. M. P. (2002), para alguns teóricos, essa psicologia não é considerada uma escola, do ponto de vista da Filosofia da Ciência, mas uma grande experiência que tem influência de filósofos, como: Sören Kierkegaard (1813 – 1855), Edmundo Husserl (1859-1938) e HenriLouis Bérgson (1859-1941). Também tem influência de psicólogos, como: Carl Rogers (19021987), Maslow (1908 -1970) e Rollo May (1909-1994). São duas as idéias fundamentais advindas de Bérgson para a Psicologia Humanista. A primeira é que a realidade se define pelo movimento, em sua simplicidade indivisível e em sua totalidade, e não pelas explicações racionalistas das partes. Aquelas, portanto, englobam essas, dando sentido e significado e, por sua vez, o movimento é conduzido pelo impulso vital (élan vital), ou impulso original da vida, o qual define como uma tendência a agir sobre a matéria bruta. Vida e matéria, portanto, são indivisíveis (ROSA, E. Z. E KAHHALE, E. M. P., 36 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 2002). A segunda idéia distintiva na filosofia de Bérgson é a seguinte: o ser humano e seu psiquismo são marcados pelo “eu de superfície”, assim ele caracteriza-se por ser estático, mecanizado e restrito ao que poderia ser denominado “eu social” do indivíduo, e pelo “eu profundo”, o qual se caracteriza por sua duração pura e irreversível, em permanente mudança qualitativa e irrepetição continua que mantém sua identidade por intermédio da memória (livre-arbítrio). Outra influência que constrói a Psicologia Humanista é a de Edmund Husserl (1859-1938), criador da Fenomenologia, que, dentre outras contribuições, assevera a concepção que implica em limitar todo o conhecimento ao sujeito e suas significações, pois o que ele percebe ou significa é. Essa elaboração é, para Husserl, um pressuposto, ou seja, toma-se a subjetividade como elemento objetivo. Contudo, tal questão sofre muita resistência dos ciclos positivistas da época de então. Pode-se, no entendimento de SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E.; CUCCIO, S. S. (2005), listar, como sendo essencial ao pensamento da Psicologia Humanista, o seguinte: • Ênfase na experiência consciente (FRANS BRETANO). • Uma crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano. • A concentração no livre-arbítrio, na espontaneidade e no poder de criação do indivíduo (OSWALDO KÜLPE). • O estudo de tudo o que tenha relevância para a condição humana (WILLIAM JAMES). Portanto, para a Psicologia Humanista, o ser humano é dotado das possibilidades de se desenvolver, de se realizar, tendo, naturalmente, equilíbrio e auto-organização (gestalt-terapia), e devendo caminhar nesse sentido. Psicologia Sócio-Histórica: um conhecimento sócio-cultural O presente item será desenvolvido a partir das idéias compiladas do texto “Psicologia Sócio- AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 37 Histórica: uma tentativa de sistematização epistemologia e metodologia”, de autoria de Eliza Rosa e Ana Andriani. A Psicologia Sócio-Histórica surge no início do século XX, na antiga União Soviética, no momento em que esta se preocupava em construir suas teorias científicas a partir do referencial marxista. O clima era de problemas sociais e econômicos. O nome que se destaca é o de Vygotsky (1896-1934). Ele faz críticas à Psicologia, em especial, à soviética, que se estabelecia dentro da lógica dualista: objetividade “versus” subjetividade ou interno “versus” externo. Também, a partir, ora de um modelo elementarista, negando a consciência, ora a partir de modelos subjetivistas, considerando a consciência e os processos interiores desvinculados das condições materialistas que os constituíam. A proposta de Vygotsky era construir uma Psicologia guiada pelos princípios e métodos do materialismo dialético, de modo que sua produção se destinava à descrição e explicação da construção e desenvolvimento do psiquismo e comportamento humano, a partir das funções psicológicas superiores (pensamento, linguagem e consciência), guiando-se pelo princípio da gênese social da consciência. Vygostsky seguiu ainda os seguintes pressupostos: a A concepção de desenvolvimento humano marcada pela origem social, colocando a cultura como parte do desenvolvimento. b)As concepções marxistas: os fenômenos são compreendidos como processos em movimento e mudança. O ser humano é entendido como um ser que atua sobre a realidade, por intermédio de instrumentos, transformando-a e a si próprio. O conhecimento deve apreender, a partir do aparente, as determinações constitutivas do objeto, e a origem e a base do movimento individual estão nas condições sociais de vida historicamente formadas. 38 Lev Semenovitch Vygotsky AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância A obra de Vygotsky é marcada, portanto, pela concepção marxista de ser humano e realidade, a qual é guiada pelo princípio de que o ser humano constrói a si mesmo nas relações que estabelece com a realidade, na medida em que é determinado por esta, atua sobre ela e a transforma. Sendo assim, para a concepção sócio-histórica, não há natureza humana apriori. O humano se constitui pela relação do ser humano com a realidade, não só enquanto meio social imediato, mas como processo cultural historicamente produzido. A condição humana é construída, sócio-historicamente, nas relações sociais e na ação dos seres humanos sobre a realidade. A Psicologia Sócio-Histórica está fundamentada, basicamente, na concepção de homem como um ser histórico-social. O ser humano não nasce formado ou possuindo uma essência pronta e imutável. Ao contrário disso, ele se constrói como ser humano a partir das relações que estabelece com o meio e com os outros seres humanos, em um movimento dialético em que faz parte de uma totalidade e vai transformando-se, em sua essência, por um processo de complexificação e multideterminação. Portanto, segundo o velho Marx, “não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência”; Dentro dessa concepção, o ser humano é um ser ativo, histórico e social. O ser humano é, essencialmente, um ser social; A linguagem e os símbolos que emergem das relações sociais mediam o ser humano, o seu psiquismo e a sua realidade. Sendo, assim, a matéria prima da consciência são a linguagem e os signos. São o signo e a atividade que constroem a consciência. Para Vygotsky, a atividade é semioticamente mediada, sendo preenchida por significações que constroem a subjetividade humana. O psiquismo humano é construído na relação dialética que o ser humano estabelece com o meio, em sua dimensão social e histórica. Ele está, intrinsecamente, ligado à realidade deste sujeito com a realidade, e, também, ao processo de apropriação e construção de signos AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 39 e significados, a partir do que o ser humano poderá construir-se e transforma-se, agir na realidade transformando-a, trazendo a ela algo novo. ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO 1. Interprete o seguinte questionamento: “A Psicologia é um conhecimento contraditório?” 2. Sobre a Psicanálise, em que sentido o projeto freudiano estuda o inconsciente humano? 3. Sobre o Behaviorismo, identifique um dos objetivos da Psicologia em Watson e Skinner, respectivamente. 4. Sobre a Psicologia Humanista, como essa abordagem vê o ser humano? 5. Sobre a Psicologia Sócio-Histórica, cite e explique os fundamentos filosóficos dessa abordagem. 40 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância UNIDADE III NOÇÕES BÁSICAS DE PSICOPATOLOGIA I Prof. Rubem Almeida Mariano Objetivos de Aprendizagem • Conhecer as raízes históricas da Psicopatologia. • Definir o campo de estudo da Psicopatologia. • Identificar os principais fundamentos e sintomas em Psicopatologia. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • As raízes da Psicopatologia FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ Foto24 Não há necessidade de se fazer uma exposição longa e sistemática sobre os fundamentos bíblico-teológicos do Aconselhamento e da Capelania Cristã. Isso fica para outro trabalho tipicamente de revisão bibliográfico, mais elaborado. Aqui, o objetivo é o ensino, teórico e técnico. Contudo, não se pode descuidar, uma vez que, dependendo do caminho, muitas vezes, pode ser sem volta, diante das várias e intermináveis discussões de área. Por isso, o texto trabalha idéias em comum para fundamentar ambas as áreas tão necessárias ao contexto social, aconselhamento e capelania cristã. Portanto, tenha-se a idéia mestra dessa fundamentação bíblico-teológica. As AS RAÍZES DA PSICOPATOLOGIA Quando se lê esse termo “psicopatologia” é comum associá-lo à loucura. Do ponto de vista histórico, os estudos de psicopatologia têm sua origem no problema da loucura. Esta, na pré-história e na Antiga Grécia, era compreendida como sendo resultado de maus espíritos ou poderes divinos. Contudo, no período denominado clássico, surge um filósofo que estudava o corpo humano, e que se tornaria o Pai da Medicina, seu nome era Hipócrates (460-377a.C). Ele defendeu que a loucura, doenças mentais, tinha causas naturais e o tratamento seria semelhante às doenças físicas. Já, no período medieval e nos séculos XV e XVI, em meio às crenças e manifestações religiosas, as concepções filosófico-científicas eram combatidas e a forma de tratamento compreendia a aplicação de torturas e exorcismo de demônios. A partir do século XVII, com os avanços da medicina nos campos da fisiologia e anatomia, os problemas mentais seriam entendidos como provenientes do funcionamento anormal do organismo. A loucura, assim, perde seu caráter mágico. DEFINIÇÃO E CAMPO DE ESTUDO Quem estuda Psicopatologia deve estar preparado para a complexidade do tema (PAIM, 1993). Hoje, ela goza da qualificação de ciência, contudo esse caminho foi e ainda é ardoroso. Por exemplo, não é fácil descobrir a origem do termo. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 43 Segundo Paim (1993), há uma possibilidade de que o criador do termo seja o inglês Jeremy Bentham (1748-1832), o qual, ao preparar uma lista das motivações humanas, viu a necessidade da organização de uma psychological pathology (1817). Contudo, ao longo dos tempos, foram sendo criados novos termos para expressar esse novo campo de estudo, tais como: psicopatologia geral, psicologia patológica, psicopatologia clinica, psicologia anormal, psicologia da anormalidade e psicologia do patológico. Por fim, o termo que se tornou referência foi psicopatologia. Segundo Miranda-Sá Jr. (2001), psicopatologia se difere da psiquiatria, pelo objeto de estudo e método. Enquanto aquela estuda os aspectos diagnósticos das perturbações mentais mediante, inicialmente, o método fenomenológico; esta, por sua vez, estuda de forma sistemática as enfermidades mentais, nos seus aspectos relacionais e terapêuticos, através do método experimental. Foi com o filósofo Karl Jaspers, em 1913, no livro Psicopatologia Geral, que a Psicopatologia foi sistematizada. Jaspers compreendia que a psicopatologia deveria cuidar, unicamente, da atividade cognitiva científica descritiva. Ele era um fenomenista. Atualmente, conforme observa Miranda-Sá Jr. (2001), a psicopatologia tem como objetivo estudar e explicar as relações recíprocas que se estabelecem entre os estados mentais e os comportamentos de um lado, e as enfermidades de outro. Para que a psicopatologia tenha condição de desenvolver essa atividade, ela precisa das ciências de apoio, como as neurociências, as ciências sociais e as humanas. Miranda-Sá Jr. (2001) observa que, por causa das características do objeto de estudo da psicopatologia, os fenômenos e processos psíquicos transtornados patologicamente (nesse sentido o termo que melhor define esse campo de estudo é psicologia do patológico como já foi observado por Paim (1993) no livro: “História da Psicopatologia”), a psicopatologia deve ser considerada como uma ciência de transição, situada na intersecção de quatro mundos em que ela serve-se e beneficia a todos, são eles: 44 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância a) O mundo natural. b) O mundo social. c) O mundo da saúde. d) O mundo da doença. CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM PSICOPATOLOGIA E PRINCIPAIS SINTOMAS Este item da presente unidade está baseado em dois capítulos do livro “Psicopatologia e Psiquiatria Básicas”, que têm como autor Geraldo José Ballone (2004). 1.Normal, não-normal e patológico. Esses termos, inicialmente, parecem fáceis de ser entendidos, contudo em psiquiatria há uma forte complicação. Vejamos: Segundo Ballone (2004), são dois os critérios para realização de um diagnóstico: a) Critério estatístico – normal seria o mais freqüente, ou seja, normal teria uma conotação numérica, algo compatível com a maioria. Na psiquiatria, considera-se o comportamento, a atitude mental, o rendimento psíquico global mais comum, estatisticamente mais freqüente. Contudo, não se deve ter esse critério como absoluto, porque, ser incomum e raro, não significa obrigatoriamente, doente. O incomum pode ser apenas não-normal, como: uma pessoa muito inteligente de QI 150 ou a gravidez de gêmeos. Ambos os casos não são comuns, nem por isso são doentes, ou seja, patológico. Por isso, a necessidade do segundo critério: o valorativo. b)Critério Valorativo – a doença é uma situação geralmente não-normal que, invariavelmente, causa sofrimento, ou seja, é mórbida. Nesse AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 45 sentido, o valor que é dado pela cultura é determinante. Deve fica claro que o valor, que emana do sistema sociocultural e que serve para argüir o estado mental das pessoas, abrange desde as concepções éticas, estéticas, morais, até as concepções médicas, cientificas e fisiológicas. Tomemos por exemplo uma pessoa com os dentes cariados: mesmo que, estatisticamente, tenha uma ocorrência de normalidade, se houver morbidade e sofrimento, teremos a doença. Portanto, é de fundamental importância conjugar os critérios: estatístico e valorativo, para a elaboração de um diagnóstico acertado, e que busque uma maior precisão, em psicopatologia, no que se refere à identificação dos transtornos mentais. DOENÇA MENTAL É comum, popularmente, julgar a sanidade mental de uma pessoa à obediência aos familiares, o sucesso no sistema de produção, a postura sexual etc. Contudo, a doença mental deve ser compreendida, fundamentalmente, como uma variação mórbida do normal, ou seja, variação esta capaz de produzir prejuízo no desempenho global da pessoa e/ou nas pessoas com quem convive. Quem corrobora com essa ideia é Ballone (2008) ao caracterizar o quadro de doença mental: Uma comportamento anormal ou um curto período de anormalidade do estado afetivo não significa, em si, a presença de distúrbio mental ou de comportamento. Para serem categorizadas como transtornos, é preciso que essas anormalidades sejam persistentes ou recorrentes e que resultem em certa deterioração ou perturbação do funcionamento pessoal, em uma ou mais esferas da vida. Os Transtornos Mentais e Comportamentais se caracterizam também por sintomas e sinais específicos e, geralmente, seguem um curso natural mais ou menos previsível, a menos que ocorram intervenções. Nem toda deterioração humana denota distúrbio mental. (In: <www.psiqweb.med.br>) 46 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Segundo Ballone (2004), interessa a Psiquiatria não apenas o que a pessoa faz, mas, sobretudo: • Porque faz. • O que pensa que está fazendo. • O que motivou a fazer. • O que está sentido com tudo isso. Um bom exemplo é relacionar duas pessoas, sendo que a primeira tem um rompante de furor e a segunda é acometida por uma reclusão total (isolamento em um quarto, há dois dias). Aparentemente, o primeiro é mais doente do que o segundo. Contudo, um rompante pode ser passageiro, enquanto o segundo pode levar à morte. Nota-se que, em Psiquiatria, a definição de doença mental como um estado incomum e mórbido, deve considerar os critérios estatísticos e valorativos da performance global da pessoa. Esse entendimento está intrinsecamente relacionado à compreensão da Organização Mundial de Saúde (OMS) (BALLONE, 2004), que diz “que o estado completo bem estar físico, mental e social define o que é saúde” (p.30) Principais sintomas Considere-se a classificação feita por Ballone (2004) sobre os principais sintomas em Psicopatologia Geral, de forma resumida. São os seguintes: a) Sintomas de afetividade. b) Sintomas de pensamentos. c) Sintomas de sensopercepção. A) Sintomas de afetividade – por afetividade deve-se compreender o estado de ânimo, um atributo que dá a valorização emocional da experiência vivida. A afetividade é quem determina a atitude geral da pessoa diante da vida, promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 47 os fatos de maneira agradável ou sofrível, confere uma disposição indiferente ou entusiasmada, e determina os vários estados do humor. É a afetividade que, também, estabelece o tônus da relação entre a pessoa e a vida (BALLONE, 2004). Ballone (2004) dá o seguinte exemplo: A afetividade funciona como se tivesse uma espécie de lentes de óculos colocados entre sujeito e o mundo, caracterizando assim sua maneira e ver o mundo. Essas lentes afetivas fazem com que o sol seja percebido com maior ou menor brilho, que a vida tenha perspectivas otimistas ou pessimistas, que o passado seja revivido como um fardo peso ou lembrado com suavidade. Essas lentes interferem qualitativa e quantitativamente na realidade percebida pelas pessoas, mais precisamente, ma representação que cada pessoa tem do mundo, da realidade de usa vida (p.54). É importante observar que a afetividade, dentro de um aspecto geral, é considerada normal quando uma mesma pessoa tem seu estado afetivo momentâneo variável. Isso quer dizer que uma mesma pessoa pode, ora estar alegre, porque teve uma noticia que há muito tempo espera. Ou, essa mesma pessoa, pode estar triste, por receber uma noticia do falecimento de uma pessoa que lhe é muito importante. Do ponto de vista patológico, a afetividade pode sofrer alterações, e estas serem patológicas. É o caso da hipertimia. São considerados, por alguns autores como sendo afetos agradáveis, pois apresentam uma afetividade de prazer, confiança e felicidade. Contudo, quando a pessoa está nesse estado, ela pode desenvolver a euforia. Esse estado afetivo expansivo se manifesta por um estado mórbido e sem base real de completa satisfação e felicidade. A pessoa apresenta as seguintes características: a) Alterações no curso e aceleração do ritmo do pensamento. b)Loquacidade. c) Vivacidade da mímica facial. d) Aumento da gesticulação, riso fácil. e) Excitação sexual. 48 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância f)Insônia. g) Grande facilidade dos movimentos expressivos. h) Fala muito. B) Sintomas de pensamento – O pensamento é uma atividade mental organizada, com alto grau de liberdade, não limitada ao mundo físico. É um processo organizado de representação neural que forma um modelo mental para o planejamento, definição de estratégias, previsões e soluções de problemas. Esse processo envolve a correlação e a integração de eventos críticos no tempo e no espaço (GATTASS, R. 2000). Segundo Ballone (2004), o pensamento humano é uma cadeia infinita de representações, conceitos e juízo, em que se sobressai à lógica e a experiência sensorial. O pensamento lógico consiste em selecionar e orientar conceitos com objetivos de alcançar uma integração significativa para a ação. Já a experiência sensorial é a fonte inicial de todo o processo de pensar. A lógica é constituída de juízo e raciocínio. O primeiro é um processo de julgar ou estabelecer relação entre conceitos. Enquanto compete ao raciocínio a atitude de relacionar uns com os outros. Veja os exemplos: Exemplo de juízo: “Deus é bom. Deus é bom demais!” Exemplo de raciocínio: Todos os homens são mortais. João é homem. Logo, João é mortal. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 49 Portanto, para um pensamento ser sadio do ponto de vista psicopatológico, ele deve ser lógico. Sinteticamente, as alterações psicopatológicas do pensamento são alterações de ritmo, do curso e do conteúdo. Veja o conceito e exemplo: a) Ritmo – tem a ver com a velocidade do pensamento, se é mais depressa ou devagar. Exemplo: Uma pessoa eufórica tem pensamentos acelerados e uma pessoa deprimida tem pensamentos bem lentos. b) Curso – São cinco as situações referentes às alterações no curso do pensamento: fuga de idéias, bloqueio ou interceptação do pensamento, perseverança, circunstancial idade ou prolixidade e incoerência. Vejamos a definição e exemplo de duas dessas situações: Definição de fuga de idéias: é uma expressão do pensamento, que se caracteriza por variação incessante do tema e dificuldade importante para se chegar a uma conclusão. Exemplo: “Eu não gosto de batatas, mas acho que em São Paulo o clima é melhor. Por que o senhor não compra um carro novo?” Definição de perseveração: é a repetição continuada e, anormalmente persistente, na exposição de uma idéia. Exemplo: “Então a minha mãe corria atrás da gente com uma faca, ai eu ia buscar a Genizinha que sabia benzer ela, então chegava e benzia e minha mãe corria atrás da gente com uma faca, ai eu ia buscar a Genizinha que sabia benzer ela, então chegava e benzia minha mãe que corri atrás da gente...” c) Conteúdo – São 4 as principais alterações de conteúdo: idéias supervalorizadas, obsessões, fobias e delírios. Vejamos duas também. Definição de obsessões: é quando idéias se tornam presentes de forma insistente e repetitiva, incomodando a pessoa. Isso ocorre de maneira involuntária e totalmente ilógica. 50 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Exemplos: “a idéia de haver um bicho de baixo da cama” ou “que o gás pode estar aberto apesar da lógica sugerir estar fechado” Definição de delírios: é um juízo patológico falseado e que apresenta as seguintes características: convicção irremovível e crença absolutamente inabalável; impenetrabilidade e incompreensibilidade psicológica para o individuo normal; e impossibilidade de conteúdo da realidade. Exemplo de Delírio de Perseguição: “a pessoa percebe o ambiente como hostil, acredita ser perseguido por pessoas ou entidades que o querem prejudicar, ferir ou mesmo matar.” C) Sintomas de sensopercepção – O ser humano é detentor de sensação e de percepção. A primeira nos dá a condição de poder apreender um estimulo, como um som, um cor, uma forma. A segunda, a percepção que é própria da subjetividade humana, como a memória, raciocínio, juízo. Sendo assim, a sensopercepção é a somatória da sensação com a percepção (Ballone, 2004). É importante observar que esses dois elementos atuam dentro de uma condição de aprendizagem, em que a pessoa, previamente, tem o conhecimento, por convenção social. Por exemplo, uma pessoa em estado de inércia, imóvel, em um sofá da sala, após ser chamada e sacudida por outra pessoa, por um tempo convencional aceitável, e não responde, podese concluir que esta pessoa está tendo algum tipo de problema. Veja como estão presentes sensação e percepção nesse exemplo. Por fim, vejamos os erros ou distorções clássicas de sensoperceptivas. São as Ilusões e alucinações. A primeira sinaliza os erros e enganos, propriamente ditos, da sensopercepção. É quando uma pessoa interpreta de forma distorcida algo que é real, ocorre uma falsificação da percepção de um objeto que, de fato, existe. Portanto, ilusão é a percepção enganosa de um objeto real. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 51 Já a alucinação se distingue como sendo percepções reais de um objeto que não existe, ou seja, a percepção se dá por um estimulo não existente. Elas se originam internamente e podem ser auditivas e visuais. Patologicamente, as alucinações auditivas são aquelas em que a pessoa ouve vozes bem definidas como um diálogo, comentários, críticas, infâmias, difamações. Essas vozes comumente advêm do mundo sobrenatural, de demônios ou de deuses, exemplo típico são aquelas vozes de comando: “... faça isso ou aquilo nesse exato momento, agora!...”. As visuais, por sua vez, são percepções de objetos que não existem, mas que, para a pessoa que alucina, são verdades absolutas que não podem ser questionadas em hipótese alguma. Exemplo: “Ver uma cobra ficar em pé e sair andando tranquilamente no meio de outras pessoas” ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO 1. Explique o porquê da seguinte afirmação de Paim (1993): “Quem estuda Psicopatologia deve estar preparado para a complexidade do tema”. 2. Explique como se chega a um diagnóstico sobre a doença metal, a partir dos critérios estatístico e valorativo. 3. Explique o que é doença mental para o autor. 4. Apresente as principais características dos três sintomas de doença mental em Psicopatologia? Dê um exemplo para cada sintoma. 52 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância UNIDADE IV NOÇÕES BÁSICAS DE PSICOPATOLOGIA II Prof. Rubem Almeida Mariano Objetivos de Aprendizagem • Definir as estruturas e os transtornos da Personalidade. • Apontar as características das estruturas e dos transtornos de Personalidade. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Estruturas da Personalidade: Neurose, Psicose e Borderline • Transtornos da Personalidade ESTRUTURAS DA PERSONALIDADE: PSICOSE, NEUROSE E BORDELINE O objetivo desta parte é abordar, de forma básica e introdutória, as estruturas da personalidade humana, as quais sejam: psicose, neurose e borderline. Contudo, deve-se registrar que a categorização utilizada para esses transtornos psíquicos com o termo “estrutura” não desconhece o debate, por sinal rico e oportuno, em torno da polêmica existente, mas a sua utilização tem aqui fins didáticos. A justificativa, por ora, desse conhecimento é um requisito fundamental para quem, de uma maneira ou de outra, almeja ou desenvolve a prática do aconselhamento, em especial o pastoral. Psicose - Sobre a psicose, é importante ressaltar que sua conceituação sofre variação, conforme a abordagem ou método estudado, bem como da compreensão cultural da qual faz parte, pois, o que para uma cultura é psicose no sentido patológico, para outra não pode ser. Isso significa que algumas culturas entendem determinados comportamentos como sendo bizarros, outras como sendo dádivas divinas. Segundo D’Andrea (1986): Psicoses são graves distúrbios da personalidade em que o funcionamento mental está alterado de tal forma que a pessoa frequentemente não consegue responder as demandas da vida cotidiana. Causados por fatores orgânicos ou originados do desenvolvimento psicossocial resultam em acentuadas falhas do desenvolvimento de papeis, da comunicação, do autocontrole, do comportamento, da afetividade, da sensopercepção, da memória, da inteligência e do pensamento. (p.3). Por sua vez, para Ballone (2005), “Psicoses são distúrbios psiquiátricos graves onde o paciente perde contato com a realidade, emite juízos falsos (delírios), podendo também apresentar alucinações (ter percepções irreais quanto à audição, visão, tato), distúrbios de conduta levando à impossibilidade de convívio social, além de outras formas bizarras de comportamento.” (In: <www.psiqweb.med.br>) AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 55 Nota-se que uma das características essenciais da psicose é a impossibilidade de a pessoa viver e se relacionar com outras pessoas (cria um mundo próprio). Isso quer dizer não atender às expectativas das outras pessoas e também não entender o papel delas em sua própria relação com o meio em que está inserido. Por fim, do ponto de vista nosológico, há diversas psicoses, dentre as quais destacamos: as orgânicas (comprometimento cerebral), do envelhecimento (Alzheimer), alcoólicas (delirium tremens); psicoses puerperais (durante e após a gravidez); psicoses funcionais (esquizofrenia, Fonte: PHOTOS.COM afetivas, estados paranóides e psicoses reativas ou situacionais). Neurose – O termo neurose, inicialmente, fora compreendido como distúrbios dos nervos, e, na Psicanálise, como distúrbio psíquico. As elaborações psicodinâmicas a respeito das neuroses têm em Sigmund Freud um dos seus principais referenciais, segundo D’Andrea (1986). Esse transtorno se distingue da psicose, tanto na sintomatologia como na psicopatologia e nos métodos terapêuticos. Portanto, isso quer dizer, em bom português, que neurose não é sinônimo de loucura. Segundo Ballone (2008): A Neurose é uma reação exagerada do sistema emocional em relação a uma experiência vivida (Reação Vivencial)... Assim, as principais diferenças entre uma pessoa neurótica e outra normal são em relação à capacidade de adaptação às situações vividas e em relação à quantidade de emoções e sentimentos. Os neuróticos ficam mais ansiosos, mais angustiados, mais deprimidos, mais sugestionáveis, mais teatrais, mais impressionados, mais preocupados, com mais medo, enfim, eles têm as mesmas emoções que qualquer pessoa, porém, em quantidade que compromete a adaptação. (In:<www.psiqweb.med.br>) A seguir, D’Andrea (1986) apresenta e comenta três fatores como desencadeadores da neurose, são eles: a) um aumento da tendência à descarga do impulso, b) uma diminuição das forças de contenção, e c) um aumento das forças de contenção. 56 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Na puberdade e no climatério, o aumento da energia associada aos impulsos sexuais pode ser absoluta. Será relativa em outras situações como em exposições a estímulos tentadores do meio ou quando a energia originalmente associada a outros impulsos que sejam desvalorizados, é deslocada para o impulso sexual. Uma diminuição das forças de concentração ocorre na fadiga, nas intoxicações ou quando o ego sente-se forte e pseudo-autoconfiante aponto de esquercer-se da censura. Aumenta das forças de concentração aparecem em casos de intensa ansiedade e culpa, quando os meios usuais de reasseguramento parecem perdidos, ou nas reações subseqüentes à diminuição dessas forças. (p.113) Abaixo, apresentamos um quadro comparativo entre as atitudes do neurótico e do psicótico, com base em D’Andrea (1986): Neurótico Psicótico A realidade tem o mesmo significado, A realidade tem significados com exceção de aspectos específicos. diferentes, é mudada pela pessoa. A linguagem não está perturbada. A linguagem é alterada e expressa diretamente os conteúdos conscientes do pensamento. As manifestações inconscientes não ultrapassam a expressão simbólica. As manifestações inconscientes são vividas na realidade, há uma regressão primitiva. Por fim, Ballone (2008) apresenta as seguintes diferenças entre Neuroses e Psicoses, nos seguintes termos: A grosso modo, podemos dizer que Neuroses são alterações quantitativas dos fenômenos psíquicos, capazes de produzir sofrimento e/ou prejuízo na maneira da pessoa viver. Isso significa que os neuróticos não apresentam nenhuma novidade ou nenhuma característica psíquica que não exista nas pessoas normais em quantidades mais adequadas. Ansiedade, angústia, sentimentos depressivos, idéias com tendência obsessivas, teatralidade, medo, etc., são ocorrências psíquicas normais mas nos neuróticos elas estariam exageradamente AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 57 (quantitativamente) alteradas. Por outro lado, podemos dizer que Psicoses são alterações qualitativas dos fenômenos psíquicos, capazes de produzir sofrimento e/ou prejuízo na maneira da pessoa existir. Nesse caso, as pessoas normais não costumam apresentar os fenômenos psíquicos dos psicóticos, mesmo em quantidades menores. Nenhum normal sente um pouquinho de perseguição, paranóia, catatonia, confusão mental, delírios e alucinações primárias... etc. (In: www.psiqweb.med.br ) Borderline – Um pouco de história pode nos ajudar a entender melhor esse transtorno psíquico. Em 1905, Kraepelin já escreve que existiam diversos estados ‘limítrofes’, entre insanidade e condições normais ou apenas estranhas. Ao mesmo tempo, a psicanálise estava desenvolvendo um conjunto de conceitos e uma prática científica que, mais tarde, iriam possibilitar falar sobre uma personalidade borderline. (SOUSA E VANDENBERGHE, 2005). Por volta da década de 30, o diagnóstico de Borderline foi apresentado para rotular paciente com problemas que pareciam se situar entre a neurose e a psicose (Beck, Freeman e Davis, 2005). Com o passar dos tempos, o termo foi se desenvolvendo marcado por um “quê”, como se fosse uma entidade vaga e imprecisa. Contudo, Dalgalarrondo e Vilela (1999) observam que, atualmente, esse transtorno tem conquistado outra compreensão e deixado àquela ideia de uma síndrome relativamente vaga de estados intermediários, de neurose-psicose, para ser um distúrbio específico de personalidade, no qual comportamentos impulsivos, autolesivos, sentimentos de vazio interno, e defesas egóicas muito primitivas seriam predominantes. Para Dalgalarrondo e Vilela (1999), a fim de precisar o diagnóstico, deve-se ter em mente que o típico do transtorno de personalidade borderline são os seguintes fenômenos clínicos: sentimentos crônicos de vazio, impulsividade, automutilação, episódios psicóticos de curta duração, tentativas manipuladoras de suicídio e, freqüentemente, relações interpessoais muito conturbadas e insatisfatórias. 58 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Vejamos algumas características da personalidade Borderline, apresentadas por Ballone e Moura (2008): 1. São indivíduos sujeitos a acessos de ira e verdadeiros ataques de fúria ou de mau gênio, em completa inadequação ao estímulo desencadeante. 2. O limiar de tolerância às frustrações é extremamente susceptível nessas pessoas. 3. São sujeitos a exuberantes manifestações de instabilidade afetiva, oscilando bruscamente entre emoções como o amor e ódio, entre a indiferença ou apatia e o entusiasmo exagerado, alegria efusiva e tristeza profunda. A vida conjugal com essas pessoas pode ser muito problemática, pois, ao mesmo tempo em que se apegam ao outro e se confessam dependentes e carentes desse outro, de repente, são capazes de maltratá-lo cruelmente. 4. Esforçam-se freneticamente para evitarem um abandono, seja um abandono real ou imaginado. Seus esforços frenéticos para evitar o abandono podem incluir ações impulsivas, tais como comportamentos de automutilação ou ameaças de suicídio. 5. A tendência a alguma forma de adição, como o álcool, remédios, drogas, ou mesmo o trabalho desenfreado, o sexo insistentemente perseguido, o esporte, alguma crença etc., reflete uma busca desenfreada de “um algo mais” que lhe complete e lhe dê sossego. 6. São pouco capazes de se empenharem em uma tarefa com persistência e acuidade. Desistem do esforço e circulam em torno daquilo que é preciso fazer, mas não fazem. 7. Essa personalidade é uma peça de teatro onde os atores coadjuvantes estão sempre esperando ele: o ator principal. Trata-se de um ego que não tolera o vazio, a separação, a ausência, não sabe superar, com equilíbrio, os conflitos. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 59 Por fim, observe o quadro comparativo, desenvolvido por Kernberg (1995), da organização borderline em relação à neurose e à psicose: NEURÓTICA BORDERLINE PSICÓTICA INTEGRAÇÃO Representação do self e do objeto são claramente DA IDENTIDADE delimitadas Difusão de identidade aspectos contraditórios do self e dos outros são mal-integrados e mantidos separados Representações do self e do objeto são maldelimitadas ou então há uma identidade delirante OPERAÇÕES DEFENSIVAS Recalcamento de defesas de alto nível formação reativa anulação, racionalização, intelectualização. As defesas protegem o paciente do conflito intrapsíquico. A interpretação melhora o funcionamento As defesas protegem o paciente da desintegração e da fusão self-objeto. A interpretação leva à regressão TESTE DA REALIDADE Capacidade de testar a realidade é preservada, as origens intra-psíquicas e as externas das percepções e estímulos. Alterações ocorrem na relação com a realidade e nos sentimentos sobre a realidade Existe capacidade de avaliar o self e os outros realisticamente e em profundidade. A capacidade de testar a realidade é perdida Fonte: (KERNBERG, 1995) 60 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE Assim como é necessário o estudo introdutório das estruturas ou organizações psíquicas da neurose, da borderline e da psicose, também é necessário o estudo dos denominados transtornos da personalidade, com a finalidade de precisar referenciais de estudo, para aquele que se aproxima da Psicologia, mesmo que os objetos psíquicos sejam muito dinâmicos por natureza, para, assim, possibilitar a identificação mais precisa. As idéias apresentadas a seguir, foram organizadas e sistematizadas em forma de compilação do livro: “Transtornos Psiquiátricos de Adulto”, de autoria de D’andrea (1986). Definição de transtorno da personalidade – São quadros mentais que se caracterizam por padrões desajustados de conduta que não são suficientemente definidos para serem considerados de natureza (estrutura ou organização) neurótica, borderline ou psicótica. Não se configuram sintomas, mas há um exagero de aspectos da personalidade, de tal forma que podem incapacitar a pessoa ou serem perturbadores para o meio onde vive, desta forma produzindo ansiedade. A conceituação e a classificação dos transtornos psíquicos em geral, como doença, podem ser encontrados no Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – MSD IV e na Classificação Internacional de Doenças – CID 10. Esses instrumentos de referência são encontrados disponíveis, amplamente, na internet. Vejamos, portanto, os transtornos: Paranóide, Ciclotímica, Ezquizóide, Explosiva, ObsessivoCompulsiva, Histérica, Anti-Social, Passivo-Agressivo, Passivo-Dependente e Inadequada. A apresentação dos transtornos seguirá a seguinte ordem: caracterização e etiologia. Observese que esta exposição tem cunho elementar e pontual, havendo interesse de um melhor conhecimento, através do aprofundamento em literatura devidamente especializada. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 61 Personalidade Paranóide - Uma pessoa de personalidade paranóide caracteriza-se pela hipersensibilidade nas relações pessoais. Geralmente, é desconfiado, extremamente defensivo e, conseqüentemente, muito agressivo, também possui personalidade rígida, própria para se mantém longe das pessoas. O indivíduo que possui esse tipo de personalidade, quando pressionado fica irado e tende a fugir, vive tenso, é muito ciumento, tem pouco sendo de humor, é superficial nos contactos afetivos, e tem boa capacidade intelectual. A memória desse indivíduo é excelente, principalmente, para utilizá-la em suas interpretações negativas da vida. Ao fazer suas críticas a outros, invariavelmente projeta as suas próprias fraquezas. Qualquer observação ou episódio ocorrido onde se encontra ou tenha alguma relação ele interpreta como sendo uma questão direta à sua pessoa. Contudo é muito eficiente e dedicado ao trabalho. Troca constantemente de emprego, e tem fantasia de grandeza que os outros não admitem. A etiologia está associada ao contexto familiar onde atmosfera é de dúvida, incertezas e insegurança. Personalidade Ciclotímica – Essa pessoa de personalidade ciclotímica é marcada por períodos altamente repetitivos de elação e depressão. Na elação, é entusiasmado, otimista, ambicioso, cordial etc. Na depressão, tudo se inverte. É tomado por sentimentos de inferioridade menos valia, e tem uma exagerada oralidade. No meio em que essa pessoa é criada, há situações ambíguas de satisfação ou frustração, sempre em tom ameaçador. Personalidade Esquizóide – Pessoa que demonstra timidez, hipersensibilidade, fuga às relações íntimas ou competitivas. É excêntrica. Não perde o contacto com a realidade, mas tem pensamento aos devaneios. Não sabe expressar a agressividade e não sabe enfrentar situações perturbadoras. Tem dificuldade em se aproximar de outras pessoas. Tende a se apegar a um ou outro membro da família. Mostra-se desinteressado e desligado, contudo desenvolve sentimentos persecutórios ou de grandeza. É narcisista. Gosta de contactos intelectuais, sendo sexualmente frio e distante. 62 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Sua etiologia pode estar associada a uma vida na infância, para escapar das dificuldades em vez de enfrentá-las, de fazer relacionamentos com outras pessoas, como no período escolar. Na adolescência, não participa de competições. Narcisisticamente, ele se protege afastando de qualquer objeto que o fira, regredindo à onipotência infantil. Personalidade Explosiva – Outros termos que denominam essa personalidade são: epiléptico e epileptóide. A marca principal é que o comportamento habitual dessa pessoa é de uma explosão de raiva com agressividade verbal e física. São pessoas de fácil excitação diante de um ambiente em que não são capazes de se controlarem. Após as atitudes explosivas de raiva e agressão, sobrevém arrependimento e culpa. São pessoas que se escondem atrás de uma máscara de condições normais de vida, a egocentricidade, o pedantismo, a circunstancialidade e a religiosidade. Personalidade Obsessivo-Compulsiva - A pessoa que desenvolve uma personalidade obsessivo-compulsiva tem um comportamento típico do neurótico marcado, contudo se distingue, pois este não é sentido como sintoma no meio, ou seja, não traz desajustes onde vive. Os traços predominantes nessa personalidade são: a ordem, a meticulosidade, a preocupação com detalhas, as regras e as formalidades e, ainda, são limpas, frias, racionais, aparentemente muito confiantes em si mesmas, inteligentes e moralmente integras. Em contrapartida são inseguras e intolerantes com as outras pessoas. Tem poucos amigos. O meio o aceita e o acolhe, caso haja desajustes o meio o rejeita vigorosamente. Segundo a concepção psicanalítica, essa personalidade tem seu desenvolvimento originário na fase anal. Nessa fase, ocorre o controle dos esfíncteres. Controlá-los passa por um processo de amadurecimento e esse processo dependerá da relação que se estabelece entre criança e mãe. Personalidade Histérica – São pessoas egocêntricas, fúteis, superficiais. Gostam de chamar a atenção. São capazes de mentir e inventar. Acreditam nas próprias fantasias. O comportamento exterior é erotizado, mas são frígidos. Têm necessidade compulsiva de AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 63 serem amados e apreciados, são sugestionáveis e imprevisíveis, muitos dramáticos e, excessivamente, dependentes do reconhecimento dos outros. Sob o estresse, perdem o senso de realidade, chegando ao delírio. Têm dificuldade de expressar suas emoções através das palavras, contudo gostam de utilizar o corpo para fazer as suas manifestações. A história de vida dessas pessoas é marcada por relacionamentos perturbados, desde a infância, com traumas de separação e abandono por parte dos pais e de adultos significantes. Esses traços parecem estar mais associados às mulheres, contudo também têm se desenvolvido em homens que têm uma sexualidade frágil. Personalidade Anti-Social - São pessoas basicamente não socializadas e que desenvolvem constantes conflitos, com a sociedade, ao longo do tempo. Têm dificuldades em manter ligações importantes, ou em se manterem leais a alguém, grupo ou valores sociais. Possuem muita insensibilidade, buscam por prazeres imediatos, egoístas, irresponsáveis, incapazes de sentimentos de culpa. Utilizam frequentemente da mentira para sustentar as suas posições contrárias ao status quo. Essas pessoas, geralmente, são de lares desarmônicos, quase sempre filhos não desejados e ilegítimos. A mãe é figura sofrida, tem conflitos no casamento, muitas vezes chega a se separar. Quase sempre a criança é abandonada aos cuidados dos outros, passando de um para o outro constantemente devido aos problemas que ocorrem. Essa dinâmica viciosa possibilita o desenvolvimento delinqüente face às frustrações, agressões, rejeição, e o desapego total ou da constituição de vínculos sociais. Contudo, quando essas características não são identificadas em pessoas de uma história de vida de personalidade anti-social, deve-se verificar a hereditariedade ou lesões cerebrais. Personalidade Passivo-Agressiva – São indivíduos que se mostram agressivos passivamente, através de teimosia, criação de obstáculos e ineficiência intencional. Não são hostis, mas fica clara sua forma de atuação contrária. Não expressam seus sentimentos abertamente, mas 64 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância carregam ressentimentos inúmeros por causa disso. São pessoas dependentes quando não são atendidas em seus desejos. Têm um comportamento servil e de inércia total. Às vezes, essas pessoas podem fazer críticas ou se tornarem excessivamente exigentes. Psicanaliticamente, essa personalidade tem pontos de contato com os tipos de carácter oral e sádico-anal, marcados por um ambiente exigente e sem o devido enfrentamento (atitude de passividade) por parte da pessoa, o que leva à regressão. Personalidade Passivo-Dependente – Já esse tipo de personalidade é marcado pelo desamparo e pela fraqueza total de tomar iniciativas. Sua forma de funcionar é através da manipulação das pessoas, projetando nelas o tipo ideal que as pode proteger. Possivelmente, a origem dessa personalidade está associada a uma dinâmica familiar em que prevaleceu a dependência nas relações, entre pais e filhos ou entre os cônjuges. Personalidade Inadequada – Aqui temos pessoas que são incapazes de enfrentar as demandas da vida, em termos sociais, profissionais ou mesmo físicos. Imaturas, pois se apresentam inaptas e instáveis, com pobre juízo crítico. Contudo, são capazes de estabelecer relações interpessoais afetivas significantes e não tendem a se isolar em si mesmas. Suas repostas diante da vida são fracas e seu ajuste psicossocial é precário. Não param em emprego e seus contatos com as pessoas raramente são produtivos. Sua inadequação e falta de preocupação dão a impressão de deficiência mental. Etiologicamente, essas pessoas advêm de uma socialização onde há probreza ou desvantagens sociais extremas, conduzindo a um processo inibitório. Desenvolve um sentimento mágico diante da vida, tipo príncipe encantado, ou no aguardo de um super-herói ou um messias. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 65 ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO 1. Apresente duas características das estruturas psicose, neurose e borderline. 2. Diferencie as estruturas entre si: psicose, neurose e borderline. Utilize exemplos. 3. Conceitue e exemplifique transtorno de personalidade. 4. Em sua opinião, a partir dos estudos sobre transtornos de personalidade, há alguma relação entre os transtornos de personalidade obsessivo-compulsiva e histérica com os comportamentos religiosos fanáticos? 66 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância UNIDADE V TEORIAS EM ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO Prof. Rubem Almeida Mariano Objetivos de Aprendizagem • Conceituar aconselhamento psicológico. • Conhecer as teorias de aconselhamentos em Psicologia. • Identificar as fases do aconselhamento. • Apontar as características do conselheiro eficiente. • Refletir sobre ética no aconselhamento. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Conceito de Aconselhamento Psicológico • Teorias de Aconselhamento em Psicologia • Fases do Aconselhamento • As características do conselheiro eficiente • Ética e Aconselhamento Fonte: PHOTOS.COM CONCEITO DE ACONSELHAMENTO PSICOLÓGICO A palavra aconselhamento, segundo Patterson e Eisenberg (1995), é um termo usado para descrever várias atividades, desde as comerciais às psicoterapias. Contudo, neste texto, estar-se-á tratando desse conceito no campo da Psicologia especificamente, pois, conforme Scheeffer (1989), a partir da década de 80 o termo tornou-se um campo próprio da Psicologia. Assim como há Psicologia Organizacional, Experimental, Escolar, Esportiva, Hospitalar etc. Historicamente, o termo surge com movimentos psicológicos renovadores, entre os quais: orientação infantil e juvenil, orientação profissional, serviços de higiene mental para adultos envolvendo a questão conjugal, atuação na área da assistência social e nas empresas (Scheeffer, 1989). Segundo Patterson e Eisenberg (1995), o aconselhamento teve sua origem, especificamente, no trabalho de Frank Parsons (1909), que tinha a preocupação de ajudar pessoas jovens a fazer escolhas profissionais efetivas. Contudo, é com Carl Rogers, em 1942, que o aconselhamento ganha sentido de um serviço de ajuda humana, principalmente na assistência social e na educação. A abordagem rogeriana enfatizava o potencial de cada individuo e definia o papel do conselheiro como facilitador do crescimento pessoal (PATTERSON E EISENBERG, 1995). Quem faz uma boa síntese histórica do termo é a estudiosa do assunto, Scheeffer (1989), ao afirmar: Tradicionalmente, o termo aconselhamento foi usado em conexão a varias situações, tais como: fornecer informações, dar conselhos, criticar, elogia, encorajar, apresenta e sugestões e interpretar ao cliente significado do seu comportamento. Na realidade, a apalavra aconselhamento foi empregada na sua evolução para designar atividades que variam de punição e coerção a relação permissiva que proporciona a liberação emocional do indivíduo e facilita o seu desenvolvimento. À medida que as suas técnicas se tornaram mais elaboradas e a sua aplicação ampliada, constituindo, como já dissemos um novo ramo da psicologia científica, as definições de aconselhamento sofreram idêntica evolução (SCHEEFFER, 1989, p. 12). AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 69 Aconselhamento, enquanto atividade do campo da psicologia, deve ser distinguido da entrevista, o que nem sempre é fácil fazê-lo na prática, por ser uma conversa com objetivos. Também dever ser distinguido da orientação educacional, por ser um processo de ajuda e da psicoterapia por ser o processo de ajuda a indivíduos que têm conflitos no âmbito da normalidade. Deve-se ressaltar, mais uma vez, que não é simples distinguir, principalmente, aconselhamento de psicoterapia, segundo Scheeffer (1989). Contudo, em uma perspectiva didática, tenha-se o referencial de níveis entre aconselhamento e psicoterapia, sendo que o primeiro está no campo, segundo os padrões aceitos da normalidade. Segundo Patterson e Eisenberg (1995), o aconselhamento é um processo interativo, caracterizado por uma relação única entre conselheiro e cliente, que leva este último a mudanças em uma ou mais das seguintes áreas: a) Comportamento. b) Construções pessoais ou preocupações emocionais relacionadas a essas percepções. c) Capacidade de ser bemsucedido nas situações da vida. d) Conhecimento e habilidade para tomada de decisão. Por fim, os autores assinalam que o aconselhamento deve resultar em comportamento livre e responsável, sendo acompanhado de capacidade para compreender e controlar a ansiedade. TEORIAS EM ACONSELHAMENTOS PSICOLÓGICO Já se tem como consenso, a idéia de aconselhamento, segundo Patterson e Eisenberg (1995), onde se apresentam elementos próprios como a construção do relacionamento, a descoberta inicial, a exploração em profundidade e o planejamento da ação. Todavia, há diferenças nas ênfases teóricas advindas das abordagens mais usuais em aconselhamento. Atualmente, existe literatura clássica que aborda sobre o assunto, em língua portuguesa, dentre as quais se destacam os seguintes autores: Scheeffer (1980 e 1985), Corey (1983) e Patterson e Eisenberg (1988). O texto a seguir estará fundamentado nas idéias de Patterson 70 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância e Eisenberg (1988) onde serão destacados os referenciais teóricos das abordagens, dentre os quais: Aconselhamento Centrado no Cliente, Aconselhamento Gestáltico, Aconselhamento Psicanalítico, Aconselhamento Racional-Emotivo, Aconselhamento baseado em Traços e Fatores e Aconselhamento Behaviorista. A forma de apresentação destacará as origens históricas, a concepção de natureza humana e o processo de aconselhamento de cada uma dessas abordagens, resultando em um quadro sinóptico das abordagens, tendo como referência a relação conselheiro-aconselhando. Assim, fica a indicação de uma leitura mais aprofundada no que concerne à prática em aconselhamento, o texto de Corey (1983), que, de forma sistemática, apresenta técnicas associadas às devidas abordagens teóricas, possibilitando o devido aprofundamento inicial. ACONSELHAMENTO CENTRADO NO CLIENTE O fundador dessa abordagem é o psicólogo norte-americano, Carl Ranson Rogers (1902-1987). Sua prática foi considerada uma reação às concepções já estabelecidas da Psicanálise e do Behaviorismo, a chamada terceira força da Psicologia, a Psicologia Humanista. Essa visão de ser humano é eminentemente positiva, no sentido otimista do termo. Pois vê o ser humano como possuidor de valores positivos e do desejo de vir a Carl Ranson Rogers (1902-1987) aturar integralmente, portanto, viver o mais efetivamente possível. Essa visão é bem diferente da psicanálise, que compreendia o ser humano como refém de impulsos negativos e, se não fosse socializado adequadamente, dariam origem a comportamentos destrutivos para ele próprio e para os outros. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 71 Essa abordagem, segundo Patterson e Eisenberg (1988), está baseada em uma teoria da personalidade chamada teoria do eu (self theory). Essa concepção advoga que é a pessoa, no contexto de seu meio, que determina seu comportamento e sua satisfação pessoal, isso devido à forma que as relações foram se constituindo, amigável ou hostil. Nessa teoria, ressalta que as percepções que a pessoa faz do eu e das outras pessoas são a realidade para ela, ou seja, se uma pessoa se vê como incompetente, independente que haja uma situação favorável para a estima, ele agirá como um incompetente. O processo de aconselhamento parte do princípio de que os seres humanos são positivos e auto-realizadores por natureza. Nessa direção, o conselheiro deve proporcionar condições que permitam a autodescoberta e encorajem a tendência natural do cliente para o crescimento pessoal. Segundo Patterson e Eisenberg (1988), para encorajar a descoberta, o conselheiro deve estabelecer condições que promovam confiança no cliente. São essas as condições, como características da relação de ajuda ao crescimento, propostas por Rogers: a) Empatia – compreender a experiência do outro como se fosse a própria, sem jamais esquecer a condição “como se”. b) Coerência ou autenticidade – ser como você parece, sempre coerente, digno de confiança no relacionamento. c) Consideração positiva – interessar-se por seu cliente. d) Incondicionalidade – não estabelecer condições para seu interesse. e) Concreção – usar linguagem clara para descrever a situação de vida do cliente. É fundamental destacar que o conselheiro, nessa perspectiva, atua, fundamentalmente, como um modelo operacional para orientar a pessoa de como deve viver integralmente os relacionamentos com outras pessoas. 72 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância A abordagem centrada no cliente emprega técnicas de menos condutiva no processo de aconselhamento, utilizando respostas de silêncio, aceitação, reafirmação e clarificação, sendo o cliente que conduz a discussão e é responsável pelos resultados (Patterson e Eisenberg, 1988). ACONSELHAMENTO GESTÁLTICO Essa maneira de conceber o aconselhamento foi uma elaboração inicial de Frederick Perls (18931970). Segundo Ballone (2005), “A chamada Gestaltterapia surge no início da década de 50, a partir das reflexões de Friederich Perls, um psicanalista Frederick Perls (1893-1970) nascido em Berlim em 1893, que emigrou durante a década de 40 para a África do Sul e posteriormente para os Estados Unidos da América, onde juntamente com um grupo de intelectuais norteamericanos desenvolveu esta nova abordagem.” (In: <www.psiqweb.med.br>). Inicialmente, o conceito central é a idéia de todo. Essa idéia traduz o termo Gestalt, de forma bem elementar. Nesse sentido, o todo é mais importante que a soma das partes para essa abordagem. O ser humano funciona como um todo sempre em busca de equilíbrio. O desequilíbrio é proveniente das ameaças externas e pelos conflitos internos. Sendo assim, cabe ao aconselhamento preservar o equilíbrio entre todas as áreas da vida de uma pessoa, dentre elas, as fisiológicas e as psicológicas e, ainda, nessa abordagem, não há comportamento “ruim” ou “bom”, mas comportamento “efetivo” ou “inefetivo”. O aconselhamento gestáltico tem caráter afetivo e centrado no cliente, porque os sentimentos são enfatizados e o cliente é responsável por sua atuação na vida. Nessa perspectiva, o conselheiro é um facilitador de um cliente em direção à auto-responsabilidade. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 73 No processo de aconselhamento da gestalt, o objetivo é estimular o crescimento pessoal, o qual se desenvolve em uma seqüência que passa da experiência para a sensação, desta para a experimentação e, então, para a formação da Gestalt. Perls, Goodman e Hefferline (1951), in: Martín, 2007, foram os primeiros a descrever as etapas do processo de contato retirada ou o ciclo de excitação, no qual se vê envolvido o individuo quando satisfaz suas necessidades: • Etapa de pré-contato. Sensação-excitação • Etapa de tomada de contato. Em um primeiro momento, há excitação e, no segundo, escolha ou rejeição das possibilidades, de acordo com as necessidades emergentes. • Etapa de contato final. Nessa fase a percepção, a ação e o sentimento caminham juntos. • Etapa de pós-contato. A excitação desaparece e se transforma em relaxamento. A neurose é considerada uma interrupção (bloqueio) do processo de crescimento e os mecanismos de defesa, dispositivos que enfraquecem o viver efetivo. Segundo Martín (2008), na pessoa neurótica, há três forças que determinam esse bloqueio: Primeiro: se a pessoa, por seu insuficiente contato com o ambiente, não olha para a pessoa com quem fala, nem olha para os objetos que descreve e, em geral, lhe passam despercebidos todos os seus gestos, seus movimentos, seu tom de voz, e, consequentemente, seu contato com o ambiente fica reduzido e seu dar conta, através de um dos mais importantes sentidos com a vista, lhe passa despercebido; Segundo: Há um bloqueio e incapacidade de expressar abertamente as necessidades e, consequentemente, a satisfação das mesmas não se realiza e a pessoa permanece enganchada e pendente. Terceiro: a repressão – quando a pessoa, por diversos motivos inibe sua expressão, a qual se dá através do seu organismo, através do processo muscular. A repressão é um dos principais mecanismos que impedem a formação de gestalts. 74 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Ainda, conforme Martín (2008), esses são sintomas que sobressaem na constituição da neurose: • Percepção distorcida da realidade. • Angústia, que pode somatizar-se corporalmente e influir no aparecimento de doenças. • Comportamentos negativos para a pessoa: autopunitivos ou destrutivos. • Isolamento, com a consequente perda nos intercâmbios com o entorno, e a insatisfação que isto cria em todos os níveis. Cabe ao aconselhamento da gestalt frustrar as tentativas do cliente de evitar novas experiências através de comportamentos defensivos. (PATTERSON E EISENBERG, 1988). Por fim, as técnicas usadas pelo conselheiro da Gestalt visam trazer experiências “passadas e distantes” para o “aqui e agora”, como a dramatização, jogos de exageração e do “eu assumo responsabilidade”, dentre outras. É importante ressaltar que compete ao conselheiro chamar a atenção do cliente para as tentativas de defesas como imposturas, mas sim incentivá-lo a ter uma postura autêntica que reflita seu estado interior, o que não é algo simples. ACONSELHAMENTO PSICANALÍTICO A Psicanálise foi uma criação de Sigmund Freud (1856-1939), que nasceu em Freiberg, Moravia, no império austro-húngaro (hoje Pribor, Checoslováquia). Estudou na Universidade de Viena em 1873, primeiro fez filosofia e depois medicina, e se especializou em fisiologia nervosa. Inicialmente, a Psicanálise não estava voltada para o aconselhamento, após Rogers ela toma um novo rumo. Nesse sentido, a psicanálise se constitui um processo de ajuda minucioso e longo, que colocava bastante ênfase no desenvolvimento psicossexual do cliente. Segundo Patterson e Eisenberg, (1995), o aconselhamento e a psicoterapia, orientados psicanaliticamente, são as práticas mais adotadas de ajuda humana. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 75 Nessa concepção, a pessoa é um ser biológico, dirigido por um desejo instintivo para o prazer pessoal (gratificação). A força vital ou libido é a fonte de energia que os impulsiona para comportamentos que satisfazem o motivo do prazer. O comportamento humano é pautado pelo principio do prazer, por isso é de fundamental importância o processo de socialização, onde os comportamentos são redirecionados para uma forma de vida que não seja destrutiva ou inaceitável para os outros. As principais elaborações da psicanálise advêm de Freud, como as seguintes: a) As fases do desenvolvimento psicossexual: oral, anal, fálica, de latência e genital. O ser humano, ao se desenvolver, tem necessidades que, se satisfeitas, permitem crescimento em direção à maturidade psicológica. b) O inconsciente é uma das idéias mais importantes da teoria psicanalítica, em que o individuo não tem consciência de grande parte do seu processo mental e da atividade mental por ser inconsciente. c) A estrutura da personalidade é constituída de três componentes interagentes: o id, o ego e superego. O primeiro é a fonte da energia psíquica e a origem do instinto. O segundo é considerado o “executivo” da personalidade, sede do pensamento racional, que media os desejos instintivos e as exigências do meio. O terceiro é o superego que constitui normas de certo e errado e que advêm do meio exterior, da cultura. d) Por fim, os mecanismos de defesa são responsáveis em “proteger” o ego quando este não dá conta. É quando a pessoa se encontra em estado de ansiedade, o qual ameaça a sua estrutura psíquica. Por fim, os mecanismos de defesa atuam para reduzir e suavizar a tensão do ego diante das incursões das energias do id e do superego. Os mecanismos de defesa são: racionalização, projeção, sublimação, formação reativa, negação, regressão, repressão, deslocamento, isolamento. O processo de aconselhamento na linha psicanalítica ressalta que o aconselhando traz um comportamento inconsciente em que suas atuações se fazem, principalmente, na utilização dos mecanismos de defesa. Cabe ao conselheiro, ao interpretar, encorajar o cliente a enfrentar o material inconsciente e resolver os conflitos contidos nele. Nesse sentido, o cliente pode abordar esses conflitos através da livre associação, discussão de problema ou relato de 76 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância sonho. Diante disso, cabe ao conselheiro compreender os motivos do cliente e interpretar o comportamento dele com o objetivo de o próprio cliente produzir o devido insight, necessário para uma autocompreensão e, assim, o alívio de seu sofrimento psíquico. ACONSELHAMENTO BEHAVIORISTA Historicamente, segundo Patterson e Eisenberg, (1995), o desenvolvimento do aconselhamento behaviorista se deveu aos estudiosos B.F. Skinner (1971), John Krumboltz e Carl Thoresen (1969, 1976) e Donald Meichenbaum (1977). O aconselhamento behaviorista baseia-se na teoria da aprendizagem, onde todo comportamento é aprendido e, portanto, pode ser mudado. Tal elaboração é o pressuposto B. F. Skinner fundante dessa abordagem. O objetivo do aconselhamento behaviorista é mudar o comportamento inefetivo. Para os behavioristas, o comportamento humano é produto da hereditariedade e do meio. Uma típica visão determinista. Não há a ideia de que o ser humano tende a ser bom ou mau. Dependendo das condições do meio e das características herdadas, o ser humano pode ser bom ou ruim. O ser humano é dotado da capacidade de aprender, e isso se faz através do condicionamento. O processo de aconselhamento behaviorista tem sua ênfase na definição clara dos objetivos, como por exemplo: se uma pessoa quer ter um melhor relacionamento com os pais, então, um objetivo claro seria: “jantarei em casa pelo menos quatro noites por semana e farei tudo o que posso para ter, em boa parte de minha vida, conversas agradáveis com eles”. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 77 Em geral, os conselheiros behavioristas trabalham para mudar comportamentos indesejáveis sem necessariamente tratar de questões afetivas. É possível, ainda, identificar e calcular comportamentos-alvo específicos que devem ser eliminados ou reforçados como resultado do aconselhamento. Fundamentalmente, as estratégias de aconselhamento behaviorista baseiam-se nos princípios de aprendizagem. O cliente aprende a pensar de modo diferente sobre o seu comportamento ou, simplesmente, é condicionado a comportar-se de maneira diferente. Nessa perspectiva, desenvolve-se o condicionamento operante através de técnicas de reforço, quer na obtenção ou na extinção de comportamentos. Outras técnicas são: a dessensibilização para a redução de medos irracionais ou fóbicos, por exemplo, e mostrar um modelo de comportamento onde o cliente vê o comportamento adequado, dentre outras. FASES DO PROCESSO DE ACONSELHAMENTO Aconselhamento é um encontro. Esse encontro, por sua vez, para que se torne efetivamente um aconselhamento psicológico deve ter uma dinâmica própria. O aconselhamento psicológico é mais bem compreendido quando se usa o termo “processo”. Essa expressão sinaliza uma seqüência lógica, de certa harmonia, que tem uma estrutura, que se pode chamar fases. Segundo Patterson e Eisenberg, (1995): No aconselhamento também existe um conjunto predizível de etapas que ocorrem numa seqüência completa. Inicialmente, o conselheiro e o cliente devem estabelecer contato, definirem juntos “em que ponto o cliente está” em relação a sua vida, e identificar os problemas. Segue-se uma conversa, que leva a uma compreensão mais aprofunda das necessidades e desejos do cliente no contexto de seu mundo interpessoal, com objetivos de mudança emergindo netamente, por fim, há o planejamento de ações apropriadas, para realizar alguns objetivos identificados. (p.27) Vejamos a seguir as três fases propostas por Patterson e Eisenberg (1995): 1) Descoberta Inicial, 2) Exploração em Profundidade, e 3) Preparação para a ação. 78 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Descoberta inicial – Como todo encontro, existe o primeiro. Em que as pessoas não são conhecidas. Por isso, logo de início, deve ser assinalado, que cabe ao conselheiro toda a atenção do mundo. Carkhuff e Ergan (In: PATTERSON E EISENBERG, 1995) observam que prestar a atenção é um importante comportamento do orientador no começo do aconselhamento. Nessa fase, cabe ainda ao conselheiro exercer a continência para auxiliar o cliente em suas articulações, de forma que fique clara qual a sua real preocupação que o trouxe à sessão. Nesta etapa, ainda, é indispensável que sejam construídos os devidos vínculos que possibilitem encorajamento ao cliente. Para isso, as idéias rogerianas, sobre a relação de ajuda inicial e durante todo o processo, são imprescindíveis: a) A empatia – compreender a experiência do outro. b) A coerência – ser digno de confiança. c) A consideração positiva – mostrar-se interessado pelo cliente. d) A incondicionalidade – interesse incondicional pelo cliente. e) A concreção – usar linguagem clara para ajudar o auto-entendimento do cliente. Exploração em Profundidade – Nessa fase do aconselhamento, o cliente deve desenvolver uma capacidade de precisar suas preocupações e apontar um novo senso de direção. Para isso, é necessário que os objetivos do aconselhamento comecem a se tornar mais claros o quanto possível. Deve o conselheiro começar a trazer, de forma sutil, suas impressões diagnósticas sobre as dinâmicas e os comportamentos de luta do cliente para o debate, bem como apresentar suas reações às afirmações do cliente. Deixando claro que o “conselho” dado não é uma crítica pela crítica, mas tem uma razão de ser, por isso cabe ao conselheiro a advertência de desenvolver um comportamento pautado nas características de ajuda de Rogers. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 79 Portanto, nessa segunda etapa, é necessário que o cliente se depare com seus comportamentos inadequados, ou não familiares. É uma fase de confrontação, por isso essa fase é considerada de profundidade, pois tem o objetivo de ajudar o cliente a perceber melhor os seus conflitos. Preparação para a ação – Chegou a hora de agir! Nessa fase, o cliente deve precisar os objetivos a seguir, ou seja, o que fazer diante das preocupações que foram definidas, como sendo fundamentais em seu conflito vivenciado. Agora, é decidir quais as ações abertas, se houver alguma, para minorar as preocupações identificadas. Nessa fase, deve-se desenvolver com o cliente um elo de responsabilidade, em que as decisões tomadas têm cursos possíveis, nos quais o cliente deve escolher e julgar em termos de probabilidade dos resultados. Isso deve ser feito de maneira conjunta. Assim, como deve haver, de maneira conjunta, os passos iniciais de mudança. Portanto, nessa fase deve haver a tomada de decisão e ação. É o cliente que considera as ações possíveis e escolhe uma para colocar à prova. Ao conselheiro, cabe apoiar a experimentação de novos comportamentos e ajudar o cliente a avaliar a eficácia dos mesmos – ou de novas concepções da realidade – à medida que possam se relacionar à redução da tensão. Segundo Patterson e Eisenberg, (1995), quando o cliente percebe que os novos comportamentos estão sendo satisfatórios, o aconselhamento está terminando. 80 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Quadro - Fases do processo de aconselhamento: Descoberta inicial Trabalho do Cliente Comunicar a natureza das preocupações, abrangendo conteúdo, sentimentos e contexto. Clarificar significados espontâneos das preocupações durante a descoberta. Trabalho do conselheiro Proporcionar condições para desenvolver uma relação de confiança e trabalho: Compreensão empática. Coerência ou autenticidade. Consideração positiva. Interesse incondicional. Concreção. Exploração em profundidade Preparação para a ação Desenvolver compreensão mais profunda dos significados de preocupações pessoais e formulação de tentativa de objetivos. Ampliar os instrumentos do cliente para compreender o próprio eu, através de empatia, imediação, confrontação, interpretação e dramatização. Comunicar percepções diagnósticas ao cliente, de modo experimental. Testar alternativas e construir planos para conseguir objetivos desejados. Desenvolver confiança suficientemente forte, nesses planos, para sustentar a ação. Ajudar a traçar um conjunto de alternativas. Estruturar o processo da tomada de decisão. Estimular avaliação e verificação da realidade. Engaja-lo num processo de autodiagnóstico. Fonte: (PATTERSON E EISENBERG, 1995) AS CARACTERÍSTICAS DO CONSELHEIRO EFICIENTE Como este material tem como objetivo formar ou capacitar pessoas para a atividade de aconselhamento faz-se necessário abordar a figura do conselheiro propriamente dito. As idéias a seguir foram sistematizadas e resumidas do texto “O processo de aconselhamento” de Patterson e Eisenberg (1995), especificamente do item que trata das características dos conselheiros. A forma de apresentação será em sinopse, conforme proposta original do texto: 1. O conselheiro eficiente é hábil em levar à extroversão, quando encoraja outros a se comunicarem aberta e sinceramente com ele. Ouve de modo atento e envolvido. 2. O conselheiro eficiente inspira sentimentos de segurança, credibilidade e confiança nas pessoas a quem ajuda, pois é sentido pelo cliente, rapidamente, que pode compartilhar suas preocupações e sentimentos abertamente. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 81 3. O conselheiro eficiente é capaz de introversão e extroversão, pois está ciente dos sentimentos que experimentam e das origens dos mesmos. São capazes de dominar a ansiedade e responder a pergunta “quem sou eu?”; 4. O conselheiro eficiente transmite interesse e respeito pelas pessoas que estão procurando ajuda, quando age colocando-se junto a elas nos seus momentos de felicidade ou de tristeza, sendo uma presença que pode ser, acima de tudo, sentida como real. 5. O conselheiro eficiente gosta de si mesmo, respeita-se, e não usa as pessoas a quem está tentando ajudar para satisfazer suas próprias necessidades, pois está ciente da sua missão e profissionalismo. 6. O conselheiro eficiente tem conhecimento específico em alguma área, que será de especial valor para a pessoa que está sendo ajudada, pois utiliza os seus conhecimentos para auxiliar e não manipular a favor de seus próprios dogmas. 7. O conselheiro eficiente procura compreender o comportamento das pessoas a quem tenta ajudar, sem impor julgamento de valor, pois procura agir sem pré-julgamentos. Assim, aceita o comportamento do cliente como uma forma que ele encontrou para poder dar conta da realidade que o assola. 8. O conselheiro eficiente é capaz de pensar em termos de sistemas, não de uma forma pontual ou estaquem. Também, prima pela visão onde o entendimento nas relações ou de conjunto, e de que um comportamento sempre tem a ver com outras relações significantes para uma mesma pessoa. 9. O conselheiro eficiente é contemporâneo e tem visão global dos acontecimentos humanos. É conhecedor do seu tempo, pois o vive integralmente seu momento. Tem ciência em profundidade das preocupações sociais atuais e consciência de fatos que afetam as concepções dos clientes. 10.O conselheiro eficiente é capaz de identificar padrões de comportamento contraproducentes e procura ajudar as pessoas a substituí-los por padrões mais gratificantes, pois possui um modelo das qualidades e padrões de comportamento de um indivíduo saudável e dos modos eficazes e ineficazes de dominar situações cotidianas de tensão. 11. O conselheiro eficiente consegue ajudar o outro a olhar para si mesmo e responder não defensivamente à pergunta, pois tem, na sua própria dinâmica de vida, a abertura para a aprendizagem e o crescimento, de forma sincera. 82 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância ÉTICA E ACONSELHAMENTO Como vimos, e se pode inferir, são muitas as exigências para garantir um bom desempenho profissional de conselheiro. Nesse sentido, torna-se caminho comum e necessário o tema da ética. Ela está em alta. É bom observar que esse assunto não é mais um modismo, ou seja, uma coisa que só tem valor agora, depois passa. É o mesmo que acontece quando surge um fenômeno televisivo que faz moda de um dia para o outro: como um penteado, uma roupa, ou um jeito de ser que impacta a massa, mas rapidamente também se vai. Cai no esquecimento ou saudosismo. Ética profissional não é nada disso. Não é modismo. Pelo contrário, é uma questão necessária e urgente para a sociedade e para a vida de quem quer ser realmente um profissional (MARIANO, 2007). Afirmar a necessidade da ética no exercício profissional é uma abrupta redundância que agride não só a nossa língua, mas, principalmente, o ser profissional. Sabe por quê? Porque profissão, segundo Nalini (2001), “é uma atividade pessoal, desenvolvida de maneira estável e honrada, a serviço dos outros e a benefício próprio, de conformidade com a própria vocação e em atenção à dignidade da pessoa humana”. Isto quer dizer que ninguém é profissional para si mesmo. A finalidade do exercício profissional é estar a serviço do bem comum, ou seja, a serviço do outro, em harmonia com sua auto-realização, objetivos de uma mesma ação que tem como grande beneficiada a sociedade. A seguir, serão apresentadas questões éticas relacionadas à prática do conselheiro. Essas questões foram extraídas do livro Corey (1983) “Técnicas de Aconselhamento e Psicoterapia”, onde são ressaltadas as atitudes principais do conselheiro. Este livro é um excelente texto para aprofundamento das abordagens, uma vez que há uma riqueza teórica e prática. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 83 Responsabilidade - Quem exerce a atividade de conselheiro tem a responsabilidade sobre o cliente, além dos membros de sua família, tem responsabilidade sobre com a própria função de conselheiro, com a instituição da qual depende, com a sociedade e com a profissão. É função central do conselheiro o bem-estar do cliente e não a satisfação das suas necessidades próprias. Tal exigência reivindica, caso isso ocorra, que encerre a relação terapêutica (COREY, 1983). Competência - o conselheiro deve reconhecer os limites de sua competência e limitações pessoais, não podendo aplicar tratamentos ou diagnósticos que ultrapassem o alcance de seu tratamento. Deve-se, então, consultar colegas, supervisor ou fazer encaminhamentos. Quando o cliente se queixa de sintomas físicos, é essencial encaminhá-lo para um médico, a fim de saber se é de fundo orgânico. Relação terapeuta cliente - devem-se deixar claras, para o cliente, as limitações da relação, além do mais o aconselhamento só é suficiente quando o cliente deseja cooperar com o conselheiro no trabalho. Confidencialidade - devem-se definir os parâmetros da confidencialidade, devendo considerar as exigências da instituição onde trabalha e a clientela a que serve. O conselheiro tem responsabilidade com o cliente e com os outros. Dessa forma, quando se torna evidente que o cliente deseja ferir alguém, o orientador deve, então, dar conhecimento do perigo àqueles aos quais se refere e às autoridades competentes, e estes limites devem ser informados ao cliente. Deve-se informar, também, ao cliente, que certos detalhes do atendimento vão ser discutidos com um supervisor ou colega, ou que o atendimento pode ser gravado. Em trabalhos com grupos, há a necessidade de se estabelecer, com os integrantes, a importância da privacidade das sessões. Os valores e a filosofia de vida do terapeuta – aconselhamento não é sinônimo de pregação ou ensino, mas isso não quer dizer que o conselheiro deva ficar indiferente às comunicações do cliente, e sim discutir os valores de seus clientes. Dessa forma, ao sentir a destrutividade de 84 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância tais comportamentos, o profissional deve confrontar seus clientes e convidá-lo a examinar os custos e as consequências de seus atos. Um conselheiro ético é aquele que se conscientiza de seus valores, estimula o cliente a desenvolver os seus próprios valores, e avalia quais os possíveis efeitos dos seus valores sobre as decisões do cliente. A influência da personalidade e das necessidades do terapeuta - não é possível excluir as necessidades e personalidade do conselheiro, mas deve haver a conscientização do conselheiro sobre as suas necessidades, conflitos, defesas, vulnerabilidades. Se não ocorre a ampliação da autoconsciência do conselheiro, o aconselhamento deixa de referir-se à satisfação do cliente, e passa a satisfazer o conselheiro. Autoconsciência - evitar exercer qualquer atividade em que seus problemas pessoais possam resultar em prejuízo ao cliente, e, se estiver envolvido na atividade, ao perceber tais problemas, ter consciência de procurar assistência profissional competente. O conselheiro deve conhecer sua própria intimidade para conhecer a intimidade de seu cliente, por isso há a necessidade de entrar em processo de terapia antes de iniciar o aconselhamento em outra pessoa. O conselheiro deve reconhecer o valor de assumir para si o que oferecem de valioso para o cliente, e passando por alguma forma de experiência de crescimento pessoal, estará mais bem qualificado no sentido de evitar prejuízos para seus clientes. São áreas específicas da personalidade do conselheiro que podem ter reflexos sobre o cliente: 1) poder do conselheiro e o uso feito por ele do controle. 2) necessidade de servir de apoio sentido pelo conselheiro. Corey (1983) afirma que a motivação de ajudar é decorrente da necessidade de poder, de se sentir útil e de reforçar sentimentos de inadequação, porém, é essencial que o terapeuta inicie a relação como alguém integrado. Pois, se o conselheiro necessita dos outros para manter e alimentar seu ego e reforçar sua adequação pessoal, ele irá manter uma relação de dependência nos seus clientes. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 85 ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO 1. Defina o que é Aconselhamento Psicológico. 2. Faça um quadro comparativo entre as teorias de aconselhamento, observando a concepção de ser humano e o principal objetivo. 3. Identifique e explique as fases do processo de aconselhamento. 4. Identifique as características do conselheiro eficiente e escolha uma delas para dissertar, a qual julgue de maior importância para se ter no desenvolvimento da atividade de conselheiro. 5. Quais as atitudes éticas que o texto aborda como sendo necessárias para a prática do aconselhamento? 86 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância UNIDADE VI ACONSELHAMENTO E CAPELANIA CRISTÃS Prof. Rubem Almeida Mariano Objetivos de Aprendizagem • Assinalar os aspectos fundamentais do aconselhamento e da Capelania Cristãos. • Ressaltar os fundamentos bíblico-teológicos do Aconselhamento e da Capelania Cristã. • Apontar atitudes em Aconselhamento e em Capelania. • Identificar as características necessárias para o exercício do Aconselhamento Cristão. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Fundamentos bíblico-teológicos do Aconselhamento e da Capelania Cristã • Aspectos Fundamentais do Aconselhamento e da Capelania Cristãs • Uma proposta de Aconselhamento Cristão • Características necessárias para o exercício do Aconselhamento Cristão Fonte: PHOTOS.COM FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS DO ACONSELHAMENTO E DA CAPELANIA CRISTÃ Não há necessidade de se fazer uma exposição longa e sistemática sobre os fundamentos bíblico-teológicos do Aconselhamento e da Capelania Cristã. Isso fica para outro trabalho tipicamente de revisão bibliográfico, mais elaborado. Aqui, o objetivo é o ensino, teórico e técnico. Contudo, não se pode descuidar, uma vez que, dependendo do caminho, muitas vezes, pode ser sem volta, diante das várias e intermináveis discussões de área. Por isso, o texto trabalha idéias em comum para fundamentar ambas as áreas tão necessárias ao contexto social, aconselhamento e capelania cristã. Portanto, tenha-se a idéia mestra dessa fundamentação bíblico-teológica. As elaborações advogadas por Clinebell (2000), sobre poimênica e aconselhamento pastoral, no quesito base escriturística e teológica, pois tanto o aconselhamento quanto à capelania têm em comum o corte de tradição cristã, ou seja, o referencial e a dinâmica bíblica e teológica do cristianismo. Clinebell (2000) observa, inicialmente, que toda poimênica e aconselhamento pastoral é indissociavelmente de um fazer teológico, pois há um vinculo entre a herança bíblica e o cuidado e o aconselhamento pastoral; uma alimenta a outra, reciprocamente. A bíblia alimenta a prática poimênica e o aconselhamento com seus referenciais fundantes de vida, e vida em abundância, como é observado nos evangelhos, nas experiências singulares de Jesus Cristo, devidamente registradas. Ou ainda, quando a prática poimênica e de aconselhamento pastoral dá vida a verdades bíblicas fundamentais permitindo que elas se encarnem, e sejam experimentadas em relacionamentos humanos. Nessa perspectiva, o aconselhamento e a capelania cristã também são experiências construídas e contextualizadas pela riqueza do fazer o bem e o cuidado ao ser humano, em uma perspectiva bíblica. Essa tradição bíblica tem, como eixo fundante e articulador, em especial, o Cristo da Fé e o Jesus Histórico. No primeiro, evidencia-se a celebração da Vida; e AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 89 o segundo ressalta as contradições existenciais da Vida. Nessa dinâmica, é que se encontram fundamentados, inicialmente, o aconselhamento e a capelania cristã. Clinebell (2000) apresenta imagens, como ele se refere, aos fundamentos bíblico-teológicos da poimênica e do aconselhamento pastoral, contudo quero destacar duas grandes idéias: 1. O testemunho bíblico enfatiza, reiteradamente, as notáveis potencialidades dos seres humanos – o ser humano é um pouco menor que Deus (Sl 8.5), pois foi criado à imagem e semelhança de Deus, imago Dei, (Gn 1:17). Jesus veio para conceder vida e vida em abundância (Jo. 10:10), assim o ser humano tem condições de desenvolver seus potenciais de sabedoria e de vida, segundo a parábola dos talentos (Mt. 25:14-30) e as admoestações de Paulo a Timóteo para acender a chama do dom de Deus que há em ti (...) pois o espírito de Deus deu é (...) para inspirar poder, amor e autodisciplina (2 Tm. 1:6). É importante, ressaltar, por fim, que a concepção bíblica nessa perspectiva deixa claro que os seres humanos não são Deus, mas é essencial estar ciente da finitude, limitações e as condições efêmeras da humanidade. 2. A compreensão hebraica das pessoas era essencialmente não dualista – a Bíblia assinala que a vida humana deve ser entendida de forma integral, unidade de dimensões, dentro de uma visão holística, corpo, mente e espírito em comunidade. É assim que a Bíblica reafirma que se deve glorificar a Deus no corpo (1Cor. 6:19), e não fora dele ou desconsiderando-o, e que se deve amar a Deus com todas as dimensões humanas (Mc. 12:30), além de viver a vida alimentado em relacionamentos, em paz, shalom, do Antigo testamento, ou, em comunhão, koinonia, na perspectiva do Novo Testamento. O respeito à criação (ecologia) como ato único da vida. E viu Deus que tudo era bom. Assim, a libertação é tanto pessoal quando social. Tanto o pecado quando a salvação são comunitários e sociais, assim como individuais, onde o Novo Testamento afirma “Conheceres a liberdade e a verdade vos libertará” (Jo. 8:32). Portanto, a forma como o ser humano é visto pelas escrituras, em uma dimensão holística e integral para o crescimento, deve mobiliar, positivamente, o fazer do aconselhamento e da capelania cristãs, pois ressalta tanto as condições existenciais da humanidade, suas potencialidade advindas do Criador, quanto os propósitos cristãos para essa humanidade, ou seja, em Cristo, essa humanidade tem vida e vida em abundância! 90 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 2. Aspectos Fundamentais do Aconselhamento e da Capelania Cristãs No contexto religioso, de corte cristão, são duas as práticas em especial: o aconselhamento e a capelania, que são marcadas pelo termo “ajuda”. Ambas se encontram no campo da Teologia Prática, bem como a liturgia, a educação, a pastoral e o cuidado (diaconia). Especificamente, como bem ressalta Barrientos (1991), o tema do aconselhamento é bastante amplo e delicado. Assim, também, já se tem constituído da polêmica à atividade da capelania, ser didático, ou seja, ser uma introdução aos temas do aconselhamento e da capelania para a formação universitária. Não obstante, o leitor atento e interessado deve buscar, na literatura Fonte: PHOTOS.COM ainda que seja nova, em suas mais diversas frentes. Contudo, esse texto tem o objetivo de especializada, seu aprofundamento. É verdade, até então, que há bem mais material disponível em aconselhamento do que em capelania. 1.1. Aconselhamento Cristão A compreensão tradicional de aconselhamento cristão pode ser identificada nas palavras de Cunha (2004), ao tratar sobre o tema, citando Mack: O aconselhamento, para ser chamado cristão, precisa possuir quatro características: 1. Ser realizado por um cristão; 2. Ser centrado em Cristo (Cristo não é um adendo ao aconselhamento, mas é a alma e o coração do aconselhamento, a solução para os problemas. Isto contrata com o caráter antropocêntrico das psicologias modernas); 3. Ser alicerçado na Igreja (a Igreja é meio principal pelo qual Deus trás as pessoas ao seu convívio e as conforma ao caráter de Cristo); 4. Ser centrado na Escritura Sagrada (a Bíblia ajuda a compreender os problemas das pessoas e prover solução para os mesmos). AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 91 Contudo, tomemos, em termos, o conceito advogado por Clinebell (2000), que vê aconselhamento, o qual constitui uma dimensão da poimênica como a “utilização de uma variedade de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar com seus problemas e crises de uma forma mais conducentes ao crescimento e, assim, a experimentar a cura de seu quebrantamento” (p.25). Nesse sentido, aconselhamento tem a função reparadora, quando o crescimento de uma pessoa é seriamente comprometido. Barrientos (1991) apresenta cinco objetivos do aconselhamento, e ainda destaca que o mesmo não está indicado somente para os momentos de crise, mas como um meio de ajuda, com isso corrobora-se a idéia acima de Clinebell (2000), vejamos os cinco objetivos: 1. Relatar a situação que está enfrentando. 2. Ter uma visão global do problema, e não reparar apenas em detalhes. 3. Descobrir as causas. 4. Tomar decisões. 5. Amadurecer para que, em situações futuras, possa resolvê-los por si mesma. Mannóia (1985) também corrobora, e apresenta os seguintes objetivos: a) Auxiliar o indivíduo a alcançar o conhecimento e a aceitação de si mesmo. b) Auxiliar o indivíduo a analisar rumos de ação alternativos. c) Oferecer oportunidades ao individuo de escolher um modo de proceder que seja viável. d) Oferecer ao individuo uma situação na qual tome iniciativa e aceite a responsabilidade pelas mesmas. 92 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Clinebell (2000) apresenta o seguinte quadro de áreas funcionais em que há oportunidades, dentre as quais, o aconselhamento se desenvolve de maneira efetiva: Função poimênica Cura Expressões históricas Unção, exorcismo, santos e relíquias, curandeiros carismáticos. Psicoterapia pastoral, cura espiritual, aconselhamento e terapia matrimonial. Preservar, consolar e consolidar. Poimênica e aconselhamento de apoio, aconselhamento em caos de crise, poimênica e aconselhamento em casos de luto ou perda. Dar conselhos, exorcismo, escutar. Aconselhamento educativo, tomada de decisões em curto prazo, aconselhamento de confrontação, orientação espiritual. Sustentação Orientação Confissão, perdão, Reconciliação desciplinamento. Nutrição Expressões atuais em poimênica e aconselhamento Treinamento de membros, novos na vida cristã, educação religiosa. Aconselhamento matrimonial, aconselhamento existencial (reconciliação com Deus). Aconselhamento educativo, grupos de crescimento, enriquecimento do matrimonio e da família, assistência para a possibilatação de crescimento através de crises desenvolvimentais. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 93 Por fim, Clinebell (2000) observa que o fim último do aconselhamento é o crescimento espiritual integral das pessoas. Para isso, o conselheiro deve utilizar dos instrumentos que são próprios ao cristianismo, como: a bíblia, a oração, a visitação, a meditação, a exortação, o perdão, a comunhão, dentre outras. Esses instrumentos, por sua vez, têm o objetivo de potencializar esse crescimento espiritual integral. Clinebell (2000) observa seis dimensões da integralidade da vida de uma pessoa: 1. Avivar a sua mente. 2. Revitalizar seu corpo. 3. Renovar e enriquecer seus relacionamentos íntimos. 4. Aprofundar sua relação com a natureza e a biosfera. 5. Crescer em relação às instituições significativas em sua vida. 6. Aprofundar e vitalizar seu relacionamento com Deus. Deve-se observar, diante dessas considerações de Clinebell (2000), que cabe ao conselheiro buscar ajuda, ou para si, em um processo de aconselhamento individual onde deve tratar as suas próprias questões espirituais e emocionais; ou para quem lhe procura para ser ajudado. O conselheiro deve fazer uma análise honesta e serena quando não reunir as devidas competências para tratar o caso. Cabe, portanto, ao conselheiro buscar ajuda de outros profissionais da área da psicologia ou da psiquiatria, para supervisão ou para encaminhamento do caso. 1.2. Capelania Cristã No que se refere à capelania, deve-se observar, inicialmente, que é uma ação que nasce a partir da interação e de uma relação de ajuda, de auxílio, de cooperação e de cuidado humanizado (SOUZA, 2006), em que as marcas principais são a solidariedade e a fraternidade. 94 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Segundo Barros (2008), Capelania é uma atividade, cuja missão é colaborar na formação integral do ser humano, oferecendo oportunidades de conhecimento, reflexão, desenvolvimento e aplicação dos valores e princípios ético-cristãos, além da revelação de Deus para o exercício saudável da cidadania. Na atualidade, há diversas modalidades de capelania, contudo se destacam entre as mais conhecidas: -Educacional. -Carcerária. -Hospitalar. -Militar. Essas modalidades, em muitos municípios, estados e no Brasil, são devidamente reconhecidas por de lei e já têm uma longa folha de serviços prestados à sociedade. O capelão, seja qual for o contexto, tem a missão de ajudar a pessoa em seu crescimento, utilizando os instrumentos próprios da ajuda pastoral, como: a bíblia, a oração, a visitação, a meditação, a exortação, o perdão, a comunhão, dentre outras. Nesse sentido, cabe ao capelão desenvolver procedimentos contextualizados à sua área de atuação, ou seja, escola, universidade, guartel, presídio, hospital, buscando sempre uma atuação, em equipe, mas que ressalta as contribuições especifica e próprias do trabalho espiritual. Sempre ciente que a pessoa é um ser de várias dimensões, por isso deve exercer seu trabalho à luz da interdisciplinaridade e da transciplinariedade. Um bom exemplo é a atuação capelã no hospital. Esse contexto tem suas especificidades. Ele é marcado, muitas vezes, por contradições que lhe são próprias, como a doença e a morte. Porém, ainda, proporciona a convivência com diversos profissionais da área da saúde e áreas afins, o que independente de suas possíveis crenças, pois tem uma formação profissional específica que pauta a sua atuação, como é o caso da enfermagem, da medicina, AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 95 da fisioterapia, da psicologia, da assistência social, da administração dentre outras. Saad e Nasri (2008) observam, nesse sentido, que o capelão é uma profissional que pode atuar como membro de saúde por: a) Participar em visitas médicas e discussões de caso de pacientes, oferecendo perspectivas no estado espiritual destes. b) Participar em educação interdisciplinar. c) Traçar o plano de intervenções de cuidados espirituais. Cabe, portanto, ao capelão desenvolver conhecimentos básicos e fundamentais para o exercício de sua profissão, com a finalidade de contribuir, nesse contexto, para o que é a ajuda espiritual para o crescimento, por exemplo, diante da dor ou do sofrimento. Saad e Nasri (2008) observam a importância da espiritualidade no contexto hospitalar, bem como ressaltam a relevância da assistência espiritual ao paciente internado. Nesse particular, os referidos autores são taxativos em afirmar diante da questão: quem pode oferecer o serviço? Não é qualquer um. Tem que ter conhecimento e habilidade. Nesse sentido, Saad e Nasri (2008) ressaltam que os capelães têm o seguinte trabalho: • Sensibilidade a realidade de múltiplas culturas e crenças. • Respeito às preferências espirituais ou religiosas dos pacientes. • Entendimento do impacto da doença no individuo e seus cuidadores. • Conhecimento da estrutura e da dinâmica de uma organização de saúde. • Responsabilidade como parte de uma equipe profissional de saúde. • Responsabilidade diante de seu grupo religioso. Conforme Saad e Nasri (2008), são essas as atividades típicas do capelão: • Cuidado em perdas e luto. • Triagem de risco, identificando indivíduo cujos conflitos internos comprometem sua recupe- 96 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância ração satisfatório. • Facilitação de questões espirituais relacionadas a doação de órgãos. • Intervenção em crise. • Avaliação espiritualista. • Facilitação de comunicação entre a equipe. • Resolução de conflitos entre equipe, paciente e família. • Encaminhamento a recursos de auxílios externos ou internos; • Auxilio em tomadas de decisões. • Apoio à equipe em crises pessoais ou estresse trabalhista. Fonte: PHOTOS.COM 3. Características necessárias para o exercício do Aconselhamento Cristão Quando se pensa na atuação do aconselhamento cristão, necessariamente se pensa na pessoa de quem exerce esse papel, ou seja, o conselheiro cristão. Diante disso, surge a seguinte pergunta, quais as características necessárias para o exercício de conselheiro cristão? Quem responde essa pergunta, com propriedade, é Clinebell (1987) quando trabalha a questão das habilidades de poimênica e aconselhamento para o pastor, em especial. Para esse autor, a chave para ser bem sucedido está na própria pessoa do conselheiro. Diante disso, Clinebell (1987) lista seis características, qualidades ou habilidades, que são necessárias para o exercício dessa competência. Clinebell (1987) começa sua lista trazendo as idéias rogerianas, que são: congruência, calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) e compreensão empática. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 97 1. Congruência – significa que o conselheiro deve desenvolver autenticidade interior, integridade e abertura. Nesse sentido, deve proceder a comportamentos que expressem autenticidade e transparência. O posto a essa caracteristica é a impostura, “fazer de conta” e “fingir”. Sendo assim, compreende Clinebell (1987), que a pessoa que esconde seus reais sentimentos, mais cedo ou mais tarde, perde a noção de muitos de seus próprios sentimentos, produzindo pontos cegos emocionais, principalmente nas áreas de hostilidade, agressividade, sexualidade e carinho. 2. Calor humano não possessivo (solicitude e respeito pela pessoa) – é o equivalente humano à Graça de Deus em Cristo. Graça é o amor que não se precisa granjear, porque já está existente em um relacionamento. Segundo Clinebell (1987), “consideração positiva incondicional é uma mescla de calor humano, gostar da pessoa, preocupa-se com ela, interessar-se por ela, aceitá-la e respeitá-la” (p.406). 3. Compreensão empática – significa entrar no mundo interior de significados e sentimentos profundos da pessoa, escutando com a atenção e interesse. Diferentemente, observa Clinebell (1987), que uma das barreiras para o desenvolvimento da compreensão empática é o narcisismo defensivo, pois não consegue olhar para o outro, mas apenas para si. Nesse sentido, Clinebell (1987), em tom pastoral, afirma: “a oração continua do pastor-aconselhador poderia muito bem ser o verso de hino: afasta de mim o obscurecimento de minha alma’” (p.406). As outras três características, Clinebell (1987) acrescenta: 4. Uma robusta noção da própria identidade como pessoa - é quando o conselheiro desenvolve firmemente sua identidade e valor próprio de sua personalidade e vida. São centrados. Certamente, observa Clinebell (1987: p.406) que, quando há essa condição, o conselheiro é capaz de responder, com sensibilidade, necessária às necessidades de outros, na medida em que possui esta consciência centrada de seu próprio valor e personalidade. 5. Sarador ferido - esta é uma expressão usada por Clinebell (1987) que evoca a atitude terapêutica descrita por Henri Nouwen. Essa atitude provém de uma consciência vivida de familiaridade com a doença e o pecado, a solidão, alienação e o desespero da pessoa com distúrbio e, fundamentalmente, quando a pessoa do conselheiro se coloca também nesse plano e o reconhecimento da ação superior de Deus na vida daquela pessoa, pois ela mesma (conselheiro) também é suscetível e frágil, necessitado. No dizer de Clinebell (1987), é necessário que o conselheiro, apesar de suas condições intelectuais ,como um de seus aconselhando, principalmente, os que sofrem distúrbios, por isso Clinebell (1987) afirma: “pela graça de Deus”, tenham a afirmação de fé necessária para o exercício do aconselhamento cristão. 6. Vivacidade pessoal – essa característica é quando se mantêm o vigor e a energia sempre presentes. Contudo, Clinebell (1987) destaca que tal atitude não é simples, pois necessita de aprendizado constante. Uma vez que, quando se fala em vivacidade, está se pensando naquela que é contagiante. Contudo, não é fácil manter essa atitude, lembra Clinebell 98 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância (1987), ao solicitar ao leitor que observe o seu próprio comportamento após atender certas pessoas, como a pessoa do conselheiro fica diferente, ou como a vivacidade interessada oscila. 4. Uma proposta de Aconselhamento Cristão A seguir, estaremos expondo uma proposta de aconselhamento cristão, a qual não é inédita, mas que procura identificar, de maneira básica e fundamental, quais devem ser os procedimentos do conselheiro no contexto pastoral. Observe-se, ainda, que essa proposta, guardadas as devidas proporções, serve também de base para o trabalho de capelania e suas mais diversas atividades, especialmente, quando esse capelão atuar na condição de conselheiro. É importante observar que há muitos escritos sobre o assunto, especificamente com teorias e métodos devidamente elaborados. Há também diversos textos sobre o aconselhamento cristão e a aconselhamento psicológico, que observam seus vínculos, contribuições, limites e críticas, como: Szentmartoni (1999), Mannóia (1985), Sathler-Rosa (2004), Collins (1995), Barrientos (1991), Casera (1985) Clinebell (2000), Pereira (2007). Antes de avançarmos na direção da caracterização do aconselhamento cristão, faz-se necessário ressaltar algumas atitudes ou ações do conselheiro que demonstram equívocos nesse papel. A seguir, listamos os seguintes comportamentos, nessa área, que revelam inadequação, pautados em Wagner in: Lino (1998): • A visita em vez de aconselhamento gera confusão do momento da atuação de aconselhamento pastoral. • A falta de tempo do conselheiro pode ser entendida pelo aconselhando como desinteresse de sua parte. • Rotular, em vez de respeito pela diferença, é um equívoco que afasta e não possibilita novos encontros entre conselheiro e aconselhando. • A condenação, em vez de imparcialidade, gera uma relação de desconfiança por parte do aconselhando, pois este se fecha e não fica disponível para a relação de aconselhamento. • Querer resolver tudo em um só momento revela a ansiedade da relação entre conselheiro e aconselhando e, ainda, gera interpretações apressadas e cansaço, pois é comum serem encontros longos. • Ser diretivo, por parte do conselheiro, é uma atitude que revela uma concepção de negação das potencialidades do ser humano, as quais são fundamentais para agir, de forma adequada e saudável, por si só. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 99 • Envolvimento emocional do conselheiro com aconselhando é a manifestação mais viva que o foco da relação terapêutica está equivocado. • Distanciamento em vez de empatia, quando o conselheiro por algum conteúdo da relação com o aconselhando procede se distanciando quando deveria está presente na relação como facilitador. Há certo consenso na literatura acadêmica pesquisada Szentmartoni (1999), Collins (1995), Barrientos (1991), Casera (1985), Clinebell (2000), Pereira (2007), dentre outros, que, ao tratar do tema do aconselhamento cristão, observam, de uma maneira ou de outras, as idéias de Carl Rogers, método não diretivo, principalmente, aquelas relacionadas à prática do aconselhamento, as quais já foram vista acima. Por isso, nessa direção, uma proposta de aconselhamento passa, necessariamente, pelo estabelecimento de vínculos entre o conselheiro e o aconselhando, sem os quais é impossível um bom desenvolvimento do aconselhamento. Mannóia (1985) coloca, como premissa do aconselhamento cristão, as relações pessoais e a centralidade da pessoa, no aconselhamento. Da mesma forma, Szentmartoni (1999) também o faz, contudo ressalta, ainda, as marcas da natureza do aconselhamento cristão, o que se pode inferir: a) Contextualizada à missão e à evangelização da Igreja. b) Na ajuda, desempenha um trabalho bíblico-teológico do anúncio cristão. c) Uma atividade religiosa (conselheiro e aconselhando) que deve ser observada a pessoa e seu relacionamento com Deus. d) Limites da atuação e da atividade do aconselhamento cristão e suas interfaces com outras atividades de aconselhamento. É imprescindível que o conselheiro tenha as atitudes de empatia, autenticidade e não ser possessivo, segundo Szentmartoni (1999). Tais atitudes já são consideradas, na literatura especializada, como sendo ponto fundamental para o sucesso de todo e bom aconselhamento que tem um propósito de ajuda genuína. 100 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância Nessa perspectiva, Szentmartoni (1999) apresenta as seguintes técnicas de intervenção no aconselhamento, levando em consideração o principio da não-diretividade, as quais sejam: b) A reformulação – é quando o conselheiro se expressa claramente verbal ou não-verbal ao aconselhando, as principais formas são: a reiteração, a resposta-eco, as expressões equivalentes e a recapitulação. c) O reflexo do sentimento – com o objetivo de criar um ambiente de emoção genuína, em que possa haver o contato sincero da pessoa com sua afetividade, os principais sinais são: pausas, choro, contradições entre expressões verbais e não verbais etc. d) A reestruturação do campo – intervenção com a finalidade de fazer reestruturações do campo perceptivo da pessoa, quer referente à sua pessoa (ego) ou a imagem de si. A partir dos conceitos da Gestalt, as intervenções devem ser: ressaltar a “figura” (tema explicito) como é percebido pela pessoa, esclarecer uma posição entre os vários conteúdos expostos, poder ampliar o significado do que foi dito ou mudar a ordem de importância dos elementos pela pessoa. Por fim, Szentmartoni (1999) observa que o conselheiro tem de ter os devidos cuidados em sua atividade, deve evitar colocações ou expressões que não contribuem para o objetivo principal do aconselhamento, segundo Mannóia (1985), que “é o de facilitar o crescimento da personalidade ao máximo nível de maturidade” (p.103). São observações que o conselheiro passa ao aconselhando como sendo as suas conclusões, de forma moralista e não observa as manifestações do seu aconselhando. Segundo Szentmartoni (1999), isso denota falta de confiança nos recursos do outro, por parte do conselheiro e impede que o objetivo maior do aconselhamento seja atingido. AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância 101 ATIVIDADE DE AUTO-ESTUDO 1. Elabore um breve conceito de aconselhamento e capelania cristã, a partir dos estudos feitos sobre aconselhamento e capelania cristãs no texto. 2. Cite duas características básicas que fundamentem o aconselhamento e a capelania cristãos. 3. Qual a base bíblico-teológica para o exercício do aconselhamento e da capelania cristãos? 4. Liste e explique as características necessárias do conselheiro cristão. 5. Liste as principais atividades da capelania cristã o contexto hospitalar. 6. Após ter lido a proposta de aconselhamento cristão, quais os aspectos positivos que destacariam, e o que mais você acrescentaria para o enriquecimento dessa atividade? 7. Destaque e comente, em sua opinião, a partir das características necessárias para o exercício do aconselhamento cristão, duas características que considera como sendo as principais. 102 AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO | Educação a Distância REFERÊNCIAS ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982. BALLONE GJ, MOURA EC - Personalidade Borderline- In: www.psiqweb.med.br, 2008. BALLONE GJ - Perguntas mais freqüente sobre Esquizofrenia - In: www.psiqweb.med.br, revisto em 2005. ________ - O que são Transtornos Mentais – In: www.psiqweb.med.br, 2008. _________- Perguntas mais freqüentes – Neuroses – In: www.psiqweb.med.br, 2008. __________- Friederich Perls in. www.psiqweb.med.br, 2005 BARROS, M. Estudo sobre capelania. (texto não publicado – apostila) BECK, A.T. Freeman, A. e DAVIS, D.D. e colaboradores. Terapia cognitiva dos transtornos de personalidade. Artmed: Porto Alegre, 2005. CASERE, D. Psicologia e Aconselhamento Pastoral. Paulinas: São Paulo, 1985. 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