Coesão textual Introdução: Coesão [Do fr. cohésion, poss.] Substantivo feminino. 1.União íntima das partes de um todo. 2.Fig. Harmonia, concordância, união: Havia falta de coesão entre os membros do partido. 3.Conexão, nexo, coerência. 4.Fís. Propriedade resultante da ação das forças atrativas existentes entre as partículas (moléculas, átomos, íons) constitutivas de um corpo. 5.E. Ling. Ligação, de natureza gramatical ou lexical, entre os elementos de uma frase ou de um texto. Dicionário Aurélio Eletrônico. Acesso em 23/06/2013. http://fotos.sapo.pt/malbe/fotos/?uid=DFFERugtTZAsoF8zo5PM Acesso 25/06/2013. Coesão social é um termo que representa as forças que mantém os homens juntos em sociedade e que lhes permite viver num certo consenso e ordem social. Coerência [Do lat. cohaerentia.] Substantivo feminino. 1.Qualidade, estado ou atitude de coerente. 2.Ligação ou harmonia entre situações, acontecimentos ou ideias; relação harmônica; conexão, nexo, lógica. 3.V. congruência (1). 4.Estat. Propriedade pela qual um estimador de parâmetro de uma população tende aleatoriamente para esse parâmetro quando o número de membros da amostra tende para infinito. 5.Fís. Propriedade apresentada por duas ou mais ondas eletromagnéticas monocromáticas que têm o mesmo comprimento de onda e o mesmo plano de vibração, apresentam diferenças de fase constantes e passam, em um mesmo intervalo de tempo, por uma mesma região de espaço. 6.E. Ling. Num discurso oral ou escrito, conjunto de relações que unem os significados de sentenças. [A coerência de um discurso pode apoiar-se em mecanismos formais, i. e., de natureza gramatical ou lexical, e no conhecimento partilhado entre os usuários da língua.] 7.Lóg. Ausência de contradição, i. e., acordo do pensamento consigo mesmo (dos princípios com as consequências, dos axiomas com os teoremas, etc.); compatibilidade, consistência. Dicionário Aurélio Eletrônico. Acesso em 23/06/2013. Coesão textual é a articulação entre os vários elementos que compõem um texto, estabelecendo-se o encadeamento necessário à sua compreensão pelo leitor. Pronomes, advérbios, conjunções, preposições, numerais, artigos definidos são algumas das categorias gramaticais por meio das quais essa articulação pode ser estruturada, mas ela se estabelece também por meio de repetições, sinônimos, hiperônimos e de outras estratégias, conforme detalharemos adiante. Ressalta-se, entretanto, que embora mecanismos de coesão de natureza gramatical sejam indispensáveis ao entendimento de alguns textos, outros cumprem sua finalidade discursiva, de forma articulada, sem a presença dessas classes de palavras, como ocorre no poema reproduzido a seguir. A pesca Affonso Romano de Sant’Anna o anil o anzol o azul o silêncio o tempo o peixe a agulha vertical mergulha a água a linha a espuma o tempo a âncora o peixe a garganta a âncora o peixe a boca o arranco o rasgão aberta a água aberta a chaga aberto o anzol aquelíneo ágilclaro estabanado o peixe a areia o sol O texto de Afonso Romano mostra-se coerente, isto é, compreensível ao leitor, mesmo sem elementos coesivos de natureza gramatical que interliguem suas ideias. Essa coerência decorre da organização dos acontecimentos, expressos de forma sintética, em uma sequência temporal, facilmente perceptível: inicialmente, o pescador depara-se com o rio (mar ou lagoa) de águas límpidas (o azul), em um dia claro (céu de anil), lança seu anzol e fica na expectativa de fisgar um peixe: “o anil/ o anzol/ o azul/ o silêncio/ o tempo/ o peixe”. Fica por algum tempo com o anzol mergulhado até que um peixe é fisgado: “a agulha/ vertical / mergulha / a água/ a linha/ a espuma/ o tempo/ a âncora/o peixe”. Quando percebe que o fisgou, retira o anzol da água e visualiza o pescado que se debate: “a garganta/ a âncora / o peixe / a boca / o arranco/ o rasgão / aberta a água / aberta a chaga / aberto o anzol / aquelíneo / ágilclaro/ estabanado”. Recolhe a linha e deposita o peixe sobre a areia: “o peixe/ a areia/ o sol.” A diagramação, no caso do poema em foco, também contribui para a construção da coerência: palavras organizadas de modo a sugerir a linha que pende da mão do pescador, esticada pelo peso do anzol em sua ponta, o qual submerge em busca do pescado. Não se pode deixar de ressaltar, nesse processo de significação, a seleção arquitetada de 3 campos semânticos inerentes à pescaria: 1º) rio (mar ou lago): “anil, azul, areia, sol, mergulhar”; 2º) material de pesca: “anzol/ agulha, isca, linha”; 3º) peixe: “boca, rasgão, chaga, garganta”. Nem todos, porém, possuem o talento de Sant’Anna, e gêneros discursivos que cumprem a função de informar, como os que circulam em jornais e publicações científicas, não podem dar margem a ambiguidades. Nesses casos, os mecanismos de coesão de natureza gramatical são indispensáveis. Observe que, no texto a seguir, o encadeamento das ideias ocorre por meio de diferentes mecanismos, dentre eles, a substituição da palavra “Papa” e da expressão “voluntários da Jornada Mundial da Juventude” por outras, que evitam a repetição desnecessária. O Papa, em seu discurso aos voluntários da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), disse-lhes que não poderia retornar a Roma sem lhes agradecer de modo muito afetuoso a dedicação com que o acompanharam. O Pontífice ressaltou que inúmeros detalhes que fizeram da 27ª JMJ uma experiência inesquecível de fé, somente foram possíveis em decorrência do voluntariado. O Santo Padre disse aos presentes que, com os sorrisos de cada um deles, com a gentileza, com a disponibilidade ao serviço, eles provaram que “há maior alegria em dar do que em receber” (At 20,35). O Sumo Pontífice comparou a ação dos voluntários a São João Batista, que preparou o caminho para Jesus. Francisco encerrou sua fala, pedindo que os jovens sejam revolucionários, que lutem contra a corrente; que se rebelem contra a cultura do provisório, pois são capazes de assumir responsabilidades e de amar de verdade. O Papa voluntários da jornada mundial da juventude O lhes O Pontífice lhes Santo Padre voluntariado O Sumo Pontífice os presentes Francisco cada um deles eles os voluntários Notem que as palavras e expressões destacadas, ao mesmo tempo em que retomam algo anteriormente enunciado, servem de ponte para a introdução de uma nova ideia, num fluxo lógico e contínuo de ideias que fazem com que o texto se apresente como algo mais compreensível aos olhos do leitor. COESÃO REFERENCIAL: é aquela em que se utilizam expressões que retomam ou antecipam ideias. Cabe ao autor, portanto, acionar articuladores que favoreçam a compreensão de seu texto por seu público alvo, e, ao leitor, cabe significar ater-se à presença desses articuladores e significa-los. Evidencia-se, pois, que a construção da coerência pelo viés dos mecanismos de coesão é um processo colaborativo entre autor e leitor. Podemos citar como exemplo, uma produção textual em que a utilização precisa de conjunções necessárias à explicitação de relações semânticas pretendidas pelo primeiro, pouco ou nada contribuirá para compreensão do que se enuncia, caso o segundo não detenha conhecimentos básicos sobre a carga semântica inerente a essa classe de palavras. Não há convergência entre os teóricos em relação à categorização dos mecanismos de coesão, optamos, por isso, pelas mais recorrentes: coesão referencial, sequencial e recorrencial. Substituição de um elemento por outro Pronomes1 Verbos Advérbios Numerais Reiteração de um elemento do texto por outro Repetições de um mesmo termo pronomes pessoais na 3ª pessoa ele, ela, eles, elas pronomes indefinidos algum, nenhum, todo, muito, alguém... João acordaria cedo, pois ele teria uma consulta. pronomes possessivos meu, nosso, teu, seu, vosso, dele... pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo... pronomes interrogativos quanto, qual, quem... Minha mãe acorda cedo, mas a dele não. Ele e a mãe programaram o despertador, mas nenhum acordou. Não canso de dizer-lhe isto: durma cedo! Laranja e acerola têm vitamina C, mas qual apresenta maior concentração? pronomes relativos Comprei as frutas que que, qual, quem, onde, cujo, estavam em promoção. como... pronomes adverbiais Fui ao supermercado e lá aqui, aí, lá... encontrei o que precisava. os verbos são empregados Comprei muitas frutas e você em referência a todo o fará o mesmo. predicado Eu sempre acordo cedo e meu irmão, nunca. Comprei duas laranjas e três mexericas, mas as cinco estragaram. Comprei novas frutas e a metade estava ácida. de forma idêntica Comprou flores e esqueceu as flores no balcão. com um novo determinante Comprou as flores, mas essas flores não são perfumadas. de forma abreviada Compraram flores para o altar das celebrações da Jornada Mundial da Juventude, mas o Papa pediu simplicidade nas celebrações da JMJ. de forma ampliada Dilma ressaltou o caráter positivo nas manifestações dos brasileiros, mas a popularidade da presidenta Dilma Rousseff continua caindo. de forma cognata2 Elipse4 Estudar é necessário e o estudo enobrece. 3 sinônimos hipônimos Decidiu que voltaria de ou quase transporte coletivo, mas sinônimos quando o ônibus chegou, já era tarde. 3 (coesão hiperônimos Desistiu de usar ônibus, pois lexical) transportes coletivos não são pontuais nesta cidade. nomes genéricos Um mineiro, diante de uma janela emperrada, exclama: esse trem nunca funciona! termos simbólicos Tinha dúvidas sobre namorar ou não aquele rapaz tão doente, mas o coração venceu a dúvida. expressões nominais definidas Roberto Carlos fará uma turnê em um navio, no qual o rei cantará todas as noites. O astro chegou à varanda do hotel. De lá, acenou para os fãs. 1- Trata-se da forma substantiva dos pronomes, isto é, ele não acompanha, ele substitui o substantivo. João Acordou cedo, pois ele teria uma consulta às 7h. 2- cognato [Do lat. cognatu.] Adjetivo. Substantivo masculino. 1.Que ou aquele que é parente por cognação (1 e 2); cognado. 2.E. Ling. Diz-se de, ou vocábulo que tem raiz comum com outro(s): As palavras belo, beleza e embelezar são cognatas. DICIONÁRIO Aurélio Eletrônico – Acesso em 28/07/2013. 3- Hiperônimo / hipônimo: quando o primeiro elemento de uma sequência linguística mantém com um segundo uma relação todo/parte ou classe/elemento, tem-se um hiperônimo. Quando o primeiro elemento mantém com o segundo uma relação parte/todo ou elemento/classe, tem-se o hipônimo. Exemplos: rosa é hipônimo de flor / flor é hiperônimo de rosa; bicicleta é hipônimo de meios de transporte / meio de transporte é hiperônimo de bicicleta; maçã é hipônimo de frutas / fruta é hiperônimo de maçã. 4- Elipse [Do gr. élleipsis, 'omissão', pelo lat. ellipse.] Substantivo feminino. 1.E. Ling. Omissão deliberada de palavra(s) que se subentende(m), com o intuito de assegurar a economia da expressão. Ex.: "Onde pode, põe a mão. Onde não, põe os seus olhos" (Audálio Alves, Antologia Poética, p. 85); "Cheguei. Chegaste." (Olavo Bilac, Poesias, p. 127). 2.E. Ling. Omissão de parte de uma sentença, subentendida com base na estrutura gramatical. 3.Geom. Lugar geométrico dos pontos de um plano cujas distâncias a dois pontos fixos desse plano têm soma constante; interseção de um cone circular reto com um plano que faz com o eixo do cone um ângulo maior que o do vértice. DICIONÁRIO Aurélio Eletrônico – Acesso em 28 jul. 2013. Ordenação linear Vim, vi e venci. Acordei, levantei e saí. Expressões que assinalam a ordenação Inicialmente, fiquei em dúvidas, depois, ou continuação das sequências entreguei-me ao projeto. temporais Partículas temporais Abrirei a loja amanhã. Correlação dos tempos verbais: Peço-lhe que chegue cedo. Pedi-lhe que chegasse cedo. Coesão sequencial por conexão COESÃO SEQUENCIAL Relações discursivas ou argumentativas relações lógico-semânticas causalidade Sairei uma vez que não choveu. porque, pois, como, já que, visto que... condicionalidade Se chover, não saia. se, caso, desde que, contanto que... conformidade Sairei, conforme combinamos. conforme, como, segundo, consoante... disjunção Você sairá ou assistirá a um filme em casa? ou, e/ou, um ou outro... mediação Ele organizou todos os DVDs para escolher para, a fim de ... o filme. temporalidade Quando o filme começou, ouviu-se um quando, mal, assim que, suspiro. enquanto... comparação A nova versão do filme é melhor que a menos que, tanto como, anterior. mais que... comprovação O filme é bom de modo que foi premiado. tanto que, de modo que, de forma que... conclusão Todos atuaram bem, logo merecem o logo, então, assim, prêmio. portanto... conjunção O filme é, de fato, ótimo: tem bom roteiro, a também, além de, mas trilha sonora é fantástica, além disso os também... efeitos especiais são inéditos. contra junção Embora seja um ótimo filme, não teve uma porém, todavia, ainda boa bilheteria. que, apesar de... contraste mas, ao passo que... correção/redefinição isto é, ou melhor... disjunção argumentativa ou... especificação /exemplificação por exemplo, como... explicação que, pois, porque... generalização/extensão aliás, também, é verdade... Gosto de todos os gêneros de filmes, mas terror eu não suporto. Gravarei o filme para você, isto é, se o equipamento funcionar. O filme é bom. Ou não são boas as cenas em que a batalha invade as telas? Filmes, como “Bonequinha de luxo” e “Casablanca”, são clássicos. Os efeitos especiais ficaram fantásticos, pois o diretor de arte é muito experiente. O diretor é ótimo, aliás, ele sempre é premiado. COESÃO RECORRENCIAL Recorrência de termos Esse tipo de coesão não se caracteriza pela retomada de algum elemento... Diferentemente do que ocorre na coesão referencial, não se faz alusão a um referente específico, mas a um determinado padrão ou modelo. Paralelismo1 – recorrência da mesma estrutura sintática “Viver! / E não ter a vergonha / De ser feliz / Cantar e cantar e cantar/ A beleza de ser / Um eterno aprendiz”... Eterno Aprendiz Gonzaguinha “Irene no Céu Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: - Licença, meu branco! E São Pedro bonachão: - Entra, Irene. Você não precisa pedir licença” Manuel Bandeira “Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!” Arnaldo Jabor Paráfrase2 – recorrência de conteúdos semânticos. Recursos fonológicos (rimas) Ele não pagou a diária, ou seja, deu o calote. Ele é muuuuuito inteligente, ou melhor, um gênio. A causa da falta de qualidade na educação é a corrupção. 1- paralelismo [De paralelo + -ismo.] Substantivo masculino. 1.Posição de linhas ou superfícies paralelas. 2.Fig. Correspondência ou simetria entre duas ou mais coisas, comparável ao paralelismo das retas. 3.Correspondência de ideias ou opiniões. 4.Arte Poét. Repetição de ideias de estrofe a estrofe. 5.E. Ling. Estruturação semelhante de orações ou sintagmas em sequência. [...] 2- Uma paráfrase é uma reafirmação das ideias de um texto ou uma passagem usando outras palavras. Uma paráfrase tipicamente explica ou clarifica o texto que está sendo citado, e, algumas vezes, são marcadas por expressões introdutórias como isto é, quer dizer, ou seja etc. Referências: CARNEIRO, Agostinho. Redação em construção. São Paulo: Moderna, 2001. FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 8ª ed. são Paulo: Ática, 2000. KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 15ª ed. São Paulo: Contexto, 2001. SIMÕES, Fátima: CARLOS, Kátia; RUMEU, Márcia. Redação I. CLAC: UFRJ, s/d. CAVALVANTE, José antônio. Coesão sequencial. In: http://linguaberta.blogspot.com.br/2010/10/coesao-sequencial.html. Acesso: 25 jul.2013.