forma dessa superfície. (Pode-se provar que este é o caso porque E 1/ r2) De fato, o fluxo resultante através de qualquer superfície q fechada que envolve uma carga pontual q é dado por . 0 Figura 6.6. Superfícies fechadas de várias formas englobando uma carga q. O fluxo eléctrico resultante através de cada superfície é o mesmo. Considere agora uma carga pontual localizada no exterior de uma superfície fechada de forma arbitrária, como na Figura 6.7. Figura 6.7. Carga pontual localizada no exterior de uma superfície fechada. O número de linhas que entram na superfície é igual ao número de linhas que sai da superfície. Como se pode ver a partir dessa construção, linhas do campo eléctrico entram na superfície e linhas do campo saem dela. Entretanto, o número de linhas do campo eléctrico que entram na superfície é igual ao número que sai da superfície. Consequentemente, concluímos que é nulo o fluxo eléctrico resultante através de uma superfície fechada que não engloba nenhuma carga. Vamos estender esses argumentos para o caso geral de muitas cargas pontuais. Empregaremos outra vez o princípio de sobreposição. Isto é, podemos expressar o fluxo resultante através de qualquer superfície fechada como 105 E dA E 1 E 2 E3 .dA onde E é o campo eléctrico total em qualquer ponto sobre a superfície, sendo que E1 , E 2 e E3 são os campos produzidos pelas cargas individuais nesse ponto. Considere o sistema de cargas apresentado na Figura 6.8. A superfície S engloba somente uma carga, q q1; logo, o fluxo resultante através de S é . O fluxo através de S devido às cargas 0 exteriores é zero porque cada linha do campo eléctrico dessas cargas que entra em S em um ponto deixa S em outro ponto. A superfície S’ engloba as cargas q2 e q3; logo, o q q2 fluxo resultante através de S' é 1 . Finalmente, o fluxo resultante através da 0 superfície S" é nulo, pois não existe carga alguma dentro dessa superfície. Isto é, todas as linhas do campo eléctrico que entram em S" num ponto saem de S" em outro ponto. Figura 6.8. O fluxo eléctrico resultante através de qualquer superfície fechada depende q apenas da carga dentro desta superfície. O fluxo resultante através da superfície S é , 0 q q2 o fluxo resultante através de S' é 1 , e o fluxo resultante através da superfície S" é 0 zero. A lei de Gauss, que é uma generalização da discussão anterior, afirma que o fluxo resultante através de qualquer superfície fechada é q E E.dA int 0 (6.6) onde o qint representa a carga líquida no interior da superfície e E , o campo eléctrico em qualquer ponto sobre a superfície. Ou seja, a lei de Gauss afirma que o fluxo eléctrico resultante através de qualquer superfície fechada é igual à carga líquida dentro da superfície dividida por 0. A princípio, a lei de Gauss é válida para o campo eléctrico de qualquer sistema de cargas ou distribuição contínua de carga. Na prática, entretanto, a técnica é útil para 106 calcular o campo eléctrico somente nas situações onde o grau de simetria é elevado. A lei de Gauss pode ser usada para calcular o campo eléctrico para as distribuições de carga que têm simetria esférica, cilíndrica ou plana. Fazemos isso escolhendo uma superfície gaussiana apropriada, que permita que E seja retirado da integral na lei de Gauss, e fazendo a integração sobre a área. Observe que uma superfície gaussiana é uma superfície matemática e não precisa coincidir com nenhuma superfície física real. 6.3. Aplicações da Lei de Gauss Como foi mencionado anteriormente, a lei de Gauss é útil para determinar campos eléctricos quando a distribuição de carga tem um elevado grau de simetria. Os exemplos seguintes mostram maneiras de escolher a superfície gaussiana nas quais a integral de superfície dada pela equação 6.6 pode ser simplificada, e o campo eléctrico determinado. A superfície deve sempre ser escolhida para aproveitar a simetria da distribuição de carga, de maneira que possamos remover E da integral e resolver a integral. O objectivo nesse tipo de cálculo é determinar uma superfície que satisfaça a uma ou mais das seguintes condições: (1) Pode-se afirmar por simetria que o valor do campo eléctrico é constante sob a superfície. (2) O produto escalar na equação 6.6 pode ser expresso como um simples produto algébrico porque E e dA são paralelos. (3) O produto escalar na equação 6.6 é zero porque E e dA são perpendiculares. (4) Pode-se afirmar que o campo é zero em qualquer parte da superfície. ______________________________________________________________________ Serão resolvidos na aula teórica: Exemplo 6.1. Campo eléctrico devido a uma carga pontual. A partir da lei de Gauss, calcule o campo e1étrico devido a uma carga pontual isolada q. Exemplo 6.2. Distribuição de carga com simetria esférica. Uma esfera sólida isolante de raio a tem uma densidade volumétrica de carga uniforme e uma carga positiva total Q. Calcule o campo eléctrico num ponto dentro da esfera. ______________________________________________________________________ 6.4. Condutores em Equilíbrio Electrostático Um bom condutor eléctrico, tal como o cobre, contém cargas (electrões) que não estão presas a nenhum átomo e são livres para se mover dentro do material. Quando nenhum movimento de carga ocorre dentro do condutor, este está em equilíbrio electrostático. Nessa situação, toda carga no condutor é uma partícula em equilíbrio, sob a acção de uma força resultante nula. Como veremos, um condutor isolado (um condutor que esteja isolado da terra) em equilíbrio electrostático tem as seguintes propriedades: 1. O campo eléctrico é nulo em qualquer ponto dentro do condutor. 2. Se o condutor isolado tiver uma carga líquida, a carga em excesso fica inteiramente sobre sua superfície. 107 3. O campo eléctrico imediatamente exterior ao condutor carregado é perpendicular à superfície do condutor e tem uma magnitude / 0, onde é a carga por unidade de área nesse ponto. 4. Num condutor de forma irregular, a carga por unidade de área é máxima nos locais onde é mínimo o raio de curvatura da superfície. Verificaremos na discussão a seguir as primeiras três propriedades. A quarta propriedade é apresentada aqui de modo que tenhamos uma lista completa das propriedades dos condutores em equilíbrio electrostático. Contudo, sua verificação requer conceitos que veremos mais adiante, de modo que adiaremos sua verificação até lá. A primeira propriedade pode ser compreendida considerando-se uma placa condutora colocada num campo externo E (Figura 6.9). O campo eléctrico dentro do condutor tem de ser nulo supondo-se que temos equilíbrio electrostático. Figura 6.9. Placa condutora num campo eléctrico externo E . As cargas induzidas sobre as superfícies da placa produzem um campo eléctrico que se opõe ao campo externo, fornecendo um campo resultante nulo dentro do Se o campo não fosse nulo, cargas livres no condutor seriam aceleradas sob acção da força eléctrica. Esse movimento dos electrões, entretanto, significaria que o condutor não está em equilíbrio electrostático. Assim, a existência do equilíbrio electrostático é consistente somente com um campo nulo no condutor. Vamos investigar como esse campo nulo é atingido. Antes que o campo externo seja aplicado, os electrões livres estão distribuídos uniformemente por todo condutor. Quando o campo externo é aplicado, os electrões livres aceleram para esquerda na Figura 6.9, fazendo que um plano da carga negativa esteja presente na superfície esquerda. O movimento dos electrões para a esquerda resulta num plano de carga positiva na superfície direita. Esses planos de carga criam um campo eléctrico adicional dentro do condutor que se opõe ao campo externo. Quando os electrões se movem, a carga por unidade de superfície aumenta até que a magnitude do campo interno se iguale à magnitude do campo externo, fornecendo um campo resultante nulo dentro do condutor. Podemos usar a lei de Gauss para verificar a segunda propriedade de um condutor em equilíbrio electrostático. A Figura 6.10 mostra um condutor com uma forma arbitrária. Uma superfície gaussiana é desenhada dentro do condutor e pode ser tão próxima da superfície quanto desejarmos. Como acabamos de mostrar, o campo eléctrico em toda parte de dentro de um condutor em equilíbrio electrostático é nulo. Consequentemente, o campo eléctrico tem de ser nulo em todo ponto sobre a superfície gaussiana. A partir 108 q desse resultado e da lei de Gauss, E E.dA int , concluímos que é nula a carga 0 líquida dentro da superfície gaussiana. Como não pode haver nenhuma carga resultante dentro da superfície gaussiana (que é arbitrariamente próxima da superfície do condutor), qualquer carga líquida no condutor tem de estar em sua superfície. A lei de Gauss não nos diz como esse excesso de carga é distribuído na superfície, apenas que ele tem de estar na superfície. Figura 6.10. Um condutor isolado de forma arbitrária. A linha tracejada representa uma superfície gaussiana junto da face interna da superfície física do condutor. Conceptualmente, podemos compreender a posição das cargas na superfície imaginando muitas cargas colocadas no centro do condutor. A repulsão mútua das cargas faz com que se afastem. Elas se afastarão o quanto puderem, movendo-se para a superfície. Figura 6.11. Uma superfície gaussiana na forma de um cilindro pequeno é usada para calcular o campo eléctrico junto da face externa de um condutor carregado. O fluxo através da superfície gaussiana é EnA. Para verificar a terceira propriedade, também podemos usar a lei de Gauss. Desenhamos uma superfície gaussiana na forma de um cilindro pequeno que tem suas bases paralelas à superfície (Figura 6.11). Parte do cilindro está fora do condutor e parte está dentro. O campo é normal à superfície porque o condutor está em equilíbrio electrostático: se E tivesse uma componente paralela à superfície, uma força eléctrica paralela à superfície seria exercida sobre as cargas, as cargas livre mover-se-iam ao longo da superfície e, assim, o condutor não estaria equilíbrio; nenhum fluxo atravessa 109 esta parte (do cilindro) da superfície gaussiana porque E é paralelo a esta parte da superfície. Nenhum fluxo atravessa a face plana do cilindro dentro do condutor porque E = 0. Logo, o fluxo resultante através da superfície gaussiana é o fluxo através da face plana fora do condutor onde o campo é perpendicular à superfície. Para essa face, o fluxo é EA, onde E é o campo eléctrico na face externa do condutor e A é a área da face do cilindro. A aplicação da lei de Gauss à essa superfície fornece E EdA EA qint 0 A 0 Assim E será E 0 (6.7) Na Figura 6.12 vemos o padrão do campo eléctrico de uma placa condutora carregada próxima de um cilindro condutor com carga oposta. Figura 6.12. Padrão do campo eléctrico de uma placa condutora carregada próxima de um cilindro condutor com carga oposta. Pequenos pedaços de fibra suspensos em óleo se alinham com as linhas do campo eléctrico. Observe que (1) as linhas do campo eléctrico são perpendiculares aos condutores e (2) não há linhas dentro do cilindro (E= 0). 110