EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPRESA, INDÚSTRIA E

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Notas de Aula – Economia Industrial
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EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPRESA, INDÚSTRIA E MERCADO
(CADEIAS PRODUTIVAS E COMPLEXOS INDUSTRIAIS) NO ÂMBITO DE
ECONOMIA INDUSTRIAL.
Bibliografia: KUPFER, D. ; L. HASSENCLEVER. Economia industrial: fundamentos teóricos e
práticos no Brasil. Rio de Janeiro:Campus, 2002. (CAPÍTULO 2)
OBJETIVO
O objetivo deste tópico é fazer uma revisão sobre conceitos de firma, indústria, mercados,
incluindo-se aqui também os conceitos de cadeias produtivas e complexos industriais.
A crescente importância das grandes corporações, em geral acumulando várias atividades
produtivas, contrasta claramente com a visão neoclássica de empresa (sua natureza e
objetivos), gerando preocupações com a idéia de empresa e com seus espaços de
concorrência, sobretudo na definição de mercado e de indústria.
A Economia Industrial >> tenta incorporar na análise as questões do crescimento e
acumulação de capital das empresas como determinantes fundamentais da dinâmica da
economia capitalista
CONCEITO DE EMPRESA
1. Natureza e objetivo da Empresa
Segundo Chandler (1992)
Uma empresa é uma unidade legal que estabelece contratos com fornecedores, distribuidores,
empregadores e, freqüentemente, com clientes. É também uma unidade administrativa, já que
havendo divisão e trabalho em seu interior ou desenvolvendo mais de uma atividade... Uma
vez estabelecida, a empresa se torna um conjunto articulado de qualificações, instalações e
capital líquido. Finalmente, em nome de lucros, empresas têm sido e são instrumentos de
economias capitalistas para a produção de bens e serviços e para o planejamento e a alocação
para a produção e distribuição futuras.
Segundo Penrose (1959)
Uma empresa ... não é um objeto observável
de maneira separada de outros objetos, e é
difícil de se definir a não ser com referência ao que faz o ao que é feito em seu interior. Cada
analista é livre para escolher quaisquer características da empresa nas quais esteja
interessado, definir a empresa em termos dessas características e proceder de forma a chamar
a sua construção como “empresa”.
Portanto o retrato de empresa nas teorias econômicas depende da visão que têm de
funcionamento do sistema econômico geral
Por outro lado, a evolução histórica das empresas também influenciam a formulação teórica do
que vem empresa.
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Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL
Profa. Nelly
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1.1.
Escola clássica
Não define empresas, mas agentes – trabalhadores, proprietários de terras e capitalistas.
Antes revolução industrial – empresas comerciais; produção feita de forma doméstica –
patrimônios doméstico e empresarial não separados.
Empresa na escola clássica = corresponde ao Capitalista e seu objetivo é acumular capital
em um ambiente competitivo
1.2.
Escola neoclássica
ponto central dessa escola de pensamento: alocação de recursos escassos a necessidades
ilimitadas => modelos de equilíbrio
Empresa é vista como o agente que toma decisões de produção no curto prazo e de escolha de
tamanho da planta no longo prazo, incluindo a entrada e a saída de mercados onde os lucros
estejam acima ou abaixo dos lucros normais. (Marshall)
As escolhas individuais conduzem a escolhas de aplicação de recursos pela sociedade- o que
produzir, como, quanto, e para quem.
As decisões são governadas pela maximização dos
lucros: qual a quantidade produzida que proporciona maior lucro para o tamanho de planta
(curto prazo) ou à escolha da planta ótima que permite lucro máximo, no longo prazo.
A empresa é portanto o local onde se combinam fatores de maneira a gerar produtos (sendo a
produção sujeita às leis dos rendimentos) Modelos preocupados com o equilíbrio. Não
consideram a natureza institucional da empresa, por exemplo sua organização hierárquica.
Segundo Walras – a empresa aparece sob a forma de empresários que comparecem ao
mercado de fatores como demandantes de seus serviços e no mercado de bens como
ofertantes de produtos. Lucro extraordinário seria a diferença entre o que pagam (salários,
lucros do capital, e renda dos recursos naturais) e o que recebem, e por pressão da
competição, os lucros extraordinários desaparecem.
Empresas como instituições –
Coase Empresa é vista como um arranjo institucional que substitui a contratação renovada de
fatores no mercado por outra forma de contratação, representada por um vínculo duradouro
entre fatores de produção.
O autor considera que a alocação de recursos tem duas naturezas:
Determinada pelo mercado - flexível, respondendo aos preços
Hierárquica – interna à empresa – devido a economia de custos de transação, por ex.
Marshall – utilizou na análise de equilíbrio parcial a figura de uma empresa idealizada,
representativa, madura o suficiente para estar de posse de capacitações organizacionais
representativas do desenvolvimento geral da indústria e do conjunto de empresas produtoras
em análise de equilíbrio – Segundo o autor a empresa tem um ciclo de vida e se desenvolve ao
longo deste => fundador tem qualidades que o selecionam no ambiente; traz soluções aos
problemas quando a empresa cresce (isso acontece sob rendimentos crescentes); empresas
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grandes têm ganhos de escala na compra insumos e no uso de recursos de comercialização
acessíveis aos grandes, + vantagens dinâmicas referentes à experiência, conhecimentos
acumulados, relacionamentos já estabelecidos, estrutura interna consolidada, portanto a
empresa maior se torna mais competitiva.
A primeira empresa a atingir essa dimensão, não é capaz de monopolizar o mercado – não
pode reter permanentemente as vantagens do tamanho porque ao final da primeira geração
fundadora há perda de vigor. Isso se deve ao fato de os gerentes posteriores serem
selecionados entre os herdeiros e não pela capacidade de conduzir empresas – empresa entra
em decadência.
Generalistas e Penrose – Generalistas rejeitam o processo de maximização do lucro como
determinante exclusivo do comportamento decisório da empresa.
– figura do gerente
profissional que possui objetivos próprios, não necessariamente coincidentes com os interesses
dos acionistas proprietários.
Consideram
fatores
que
afetam
suas
carreiras,
empregos,
oportunidades
futuras
de
remuneração – parcela de mercado das empresas, grau de risco, crescimento das vendas – Ex:
menos lucro e mais venda para aumentar o prestígio entre os gerentes existentes.
Edith Penrose: o objetivo perseguido pelos gerentes é o crescimento – todos os outros são
englobados neste. Cada empresa é uma experiência única – caráter de trabalho em equipe,
sendo que as estratégias dependem dos membros da empresa e sua experiência passada
conjunta. Tudo isso em ambiente hierárquico.
Visão neoschumpeteriana => Richard Nelson e Sidney Winter => a empresa se apresenta
como o agente que acumula capacidades organizacionais. Essa capacitação se apresenta como
rotinas – Não ocorrem escolhas racionais renovadas, mas rotinas cristalizadas através de sua
experiência. Essas rotinas coordenam a atividade interna dos membros da empresa, ao mesmo
tempo em que encerram o conhecimento da organização, à semelhança de um código
genético.. O conhecimento não é passado por meios formais. A discussão da rotina é um
aspecto central do comportamento das empresas: não bastam equipamentos e manuais; a
empresa não é uma planta que é operada com custos variáveis na forma de trabalho que pode
ser demitido ou contratado; as rotinas encerram o conhecimento da empresa – produção,
transmissão e interpretação de informações vindas de fora e geradas dentro da empresa
Segundo Nelson – a inovação ocorre quando se busca soluções para problemas ocorridos
dentro das rotinas
2. Estrutura organizacional interna da empresa: Empresa, indústria e mercado
A Diversificação é uma das formas tradicionais de expansão das empresas capitalistas
Organização interna da Empresa diversificada (Williamson e Chandler)
Formato unitário => forma U
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Empresa se organiza segundo uma perspectiva funcional – produção, marketing, finanças, que
se sobrepõem à linha de produtos. Cada divisão funcional se envolve com uma ampla gama de
produtos. A alocação dos fundos disponíveis para investimento tende a ocorrer de acordo com
as barganha de interesses entre as várias divisões funcionais.
Formato multidivisional => Forma M=>empresa diversificada dividida em tantas quaseempresas quanto forem os mercados em que atuam.
Divisões organizadas por produto ou por região geográfica, cada uma se comportando
como uma unidade produtiva responsável por um grande número de decisões => federação de
quase-empresas às quais caberia a responsabilidade pela produção colocada em um mercado
particular. Cada gerente da quase-empresa é responsável por decisões rotineiras de seus
produtos; Gerência geral da empresa define
os gerentes das quase-empresas, fica com
decisões cruciais como políticas e estratégias de investimento e distribuição de recursos entre
as quase-empresas.
Resultados positivos : descentralização produtiva (espaço decisório para as quase-empresas);
concentração decisória ( pela gerência central)
Modelos de empresa diversificada =>
1. Multiproduto
Vários bens para mercados distintos, porém relacionados em P&D, fabricação e marketing.
Expansão concêntrica
2. Empresa verticalmente integrada
Vários estágios da cadeia produtiva associada à transformação de insumos em bens finais de
determinada indústria – justificativa: ganhos de escala
3. Conglomerado gerencial
Produtos pouco relacionados entre si e mercados distintos => capacidade gerencial genérica.
Explora oportunidades e essa capacidade gerencial; recorre aos recursos das várias unidades.
4. Conglomerado financeiro
Presente em vários mercados não relacionados. Integração se dá pelo controle financeiro
associado à distribuição de recursos pela gerência geral que em geral tem acesso privilegiado
aos circuitos financeiros
5. Companhia de investimento
Baseia-se na distribuição de recursos líquidos entre atividades não relacionadas – grande
volatilidade em termos de área de atuação. Ênfase na maximização da rentabilidade do
portfólio do conjunto de atividades. No caso de performance insatisfatória, a empresa se desfaz
dessa unidade rapidamente. A cia de investimentos não detém o controle majoritário das
unidades operacionais de suas unidades
CONCEITO DE INDÚSTRIA E DE MERCADO
Neoclássicos:
Mercado é o espaço abstrato de encontro da oferta e da demanda, sendo o produto bem
definido e portanto perfeitamente distinguido pelos consumidores.
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Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL
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Mercado reflete o conjunto de empresas produtoras, de forma que cada indústria corresponde
a um mercado.
Na moderna Economia Industrial
Crescente diferenciação de produtos como estratégia => produtos heterogêneos => portanto o
mercado corresponde à demanda de produtos próximos entre si.
Penrose – P/ a empresa diversificada, o mercado envolve outros espaços em que atua. A
indústria, por seu turno, é definida pelo conjunto de empresas voltadas para a produção de
mercadorias substitutas próximas, fornecidas a um mesmo mercado. Para uma empresa
diversificada, a indústria é um conjunto de atividades que guardam algum grau de correlação
técnico-produtiva, incluindo uma mesma base tecnológica. Exemplo, indústria de papel (
mesma matéria-prima e diferentes produtos). Portanto, mercado e indústria não são espaços
estanques – no que se refere a produto, objetivos concorrenciais e de expansão.
A questão é como definir o corte analítico – qual é o grupo de produtos que compõe o
mercado. Uma tentativa é realizada a partir do desenvolvimento de cadeia produtiva e de
complexos industriais.
CADEIAS PRODUTIVAS E COMPLEXO INDUSTRIAL
Na medida que a competitividade das empresas depende do seu ambiente imediato, a arena
concorrencial se amplia, deixando de ser apenas a dos mercados imediatos de venda de
mercadorias e serviços e aquisição de insumos => incluem também os mercados acima (a
montante) e abaixo (a juzante) da cadeia.
Cadeias produtivas – resultam da crescente divisão do trabalho e maior interdependência entre
agentes econômicos. São criadas pela desintegração vertical e especialização. E por pressões
por maior integração e coordenação das atividades e integração entre os agentes.
Definição: Cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e
vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos
Cadeia produtiva empresarial: se cada etapa representa uma empresa ou conjunto de
empresas que participam de um acordo de produção (Ex. cadeia de suprimentos = subsistema
vertical estritamente coordenado)
Cadeias produtivas setoriais: etapas são setores econômicos e os intervalos são mercados
entre setores consecutivos. Ex: cadeia dos calçados de couro ou cadeia de calçados
Cadeias podem ser concorrentes – calçados de couro x calçados sintéticos; manilhas de
concreto x manilhas de cerâmica x manilhas de plástico
Complexo industrial Cadeias de uma economia nacional podem ser agregadas em conjuntos
de interrelacionados, de forma que o valor médio das transações intermediárias entre os
setores do bloco seja maior que o valor médio das transações entre esse bloco e todos os
demais setores.
Exemplo: A Cadeia Produtiva da Indústria Têxtil
(fios sintéticos e naturais)
Agroindústria
PUC – CAMPINAS / ECONOMIA TECELAGEM
2006
FIAÇÃO
E
MALHARIA
Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL
ACABAMENTO
TINTURARIA
ESTAMPARIA
CONFECÇÃO
Profa. Nelly
CONSUMIDOR
FINAL
5
Fonte: Garcia, 1999.
Conformação da Cadeia Produtiva de Fios e Tecidos de Algodão
Totalmente integradas
(fiação, tecelagem, acabamento e confecção)
Mercado
Consumidor
Agroindústria
Algodoeira
Fiação e tecelagem
integradas
Fiação
Tecelagem
Confecção
Acabamento
Confecção
Exportações
Mercosul
Fonte: Garcia, 1999.
Exercício:
Identificar uma cadeia produtiva e seus espaços de concorrência
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Disciplina: ECONOMIA INDUSTRIAL
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