SINAIS DA TERNURA DE DEUS Terminou a minha série de orações sobre os 150 salmos bíblicos, sob o título “No silêncio do Santuário”. Começo agora um outro caminho a que chamo “Sinais da ternura de Deus”. Não são orações, mas sim factos e comentários que nos ajudem a reconhecer quando Deus nos quer bem e cuida de nós bem mais do que por vezes podemos pensar. Insiro-me deste modo no caminho proposto pelo nosso Bispo na sua carta pastoral para o presente ano 2007-2008. Ele convida-nos a aprofundar ao mesmo tempo o acolhimento e a vocação, unidos pelo conceito da ternura divina. Sabemos, por experiência, observação e aprendizagem, que a ternura exprime a grande variedade de atitudes, gestos, acções e palavras com que o amor se torna sensível e agradável. A ternura é assim uma linguagem do amor que se traduz em manifestações de afecto, de atenção e dedicação. Quem manifesta ternura centra-se, dedica-se a, aproxima-se, comunica-se e toca aquele ou aquela por quem tem afecto. A ternura supõe sempre relação e sensibilidade. Ela pode contemplar-se na relação da mãe e do pai com seu filho, dos namorados e dos casais um com o outro, do amigo com o seu amigo, na carícia ou outro gesto para com uma criança ou idoso para lhe fazer sentir que se lhe quer bem e o estima. Também Deus manifesta esta qualidade do amor em relação às suas criaturas, como proclama o salmista: “O Senhor é bom para com todos; cheio de ternura para com todas as suas criaturas” (Sl 144,9). Não apenas os homens mas todos os seres que saíram das mãos de Deus são por Ele queridos e acarinhados. Com mais razão, Ele ama e trata com bondade aqueles que criou à sua imagem e semelhança e a quem se revelou como amigo. A Bíblia narra-nos muitas iniciativas de Deus para fazer sentir aos homens a sua ternura, a começar com o acto da criação. “É com uma exclamação cheia de encanto e de deslumbramento, terna e amorosa, que Deus acolhe o homem e a mulher, a obra-prima da sua criação, à sua imagem e semelhança: E Deus viu que era muito bom e belo (Gn 1,31)!” – nota D. António Marto. E apresenta outras manifestações do amor divino traduzidas em acolhimento, misericórdia, chamamento a uma nova vida ou missão, etc. Tendo incarnado na pessoa de Jesus, Deus ama-nos de modo concreto e acessível à nossa natureza humana. É claro que a ternura de Deus não é como a humana, embora esta nos permita perceber e sentir aquela. Deus é espírito e é nesta dimensão que ele se comunica e é recebida a sua mensagem. Por isso, somente pela fé e pelo sentido espiritual da alma humana nós podemos experimentar e entender a ternura divina. Hoje, como no passado bíblico, Deus manifesta o seu amor pelos homens como ternura em relação a elas. Assim, semana a semana, vou propor-vos algum sinal actual ou recente mediante o qual Deus nos manifesta o seu amor de proximidade. Veremos alguns desses sinais, que podem ser tanto a nível geral e colectivo em relação à humanidade e à Igreja como para cada pessoa, família ou grupo. P. Jorge Guarda 2007-10-22