A Harmonia da Mente com o Coração Radha Burnier1 A mente tortuosa e colorida pelo desejo é fonte de inúmeras ilusões e conflitos. Muitas são as formas do desejo: ambição, cobiça, ganância, apego, domínio e assim por diante. Conforme dizem os Upanishads, a mente é dupla: impura sob a oscilação do desejo e pura quando livre de seu controle. Somente a mente pura tem indicações da verdade. Penetrando no coração de todas as coisas ela desenvolve a compaixão e expressa-se espontaneamente na reta ação. Ao contrário, a mente impura é entrelaçada com o desejo de maneira tão intricada que não consegue ver claramente, nem sabe como agir. Estar cego e confuso, ambicioso e dominador é fonte de enorme sofrimento. No mundo contemporâneo vemos que a destruição é causada pela ambição e cobiça da mente poluída. Os animais são explorados sem piedade. A horrível busca dos pedófilos ricos procurando crianças em terras distantes e a exploração implacável com a venda de armas, drogas e semelhantes, acontece o tempo todo. O ensinamento-sabedoria sempre enfatizou a necessidade de purificar a mente de desejos egoístas, não somente como um requisito para trilhar a senda espiritual, mas também para construir a estrutura de uma sociedade saudável. O indivíduo e a sociedade são um. O comportamento de cada indivíduo modela a sociedade elevando-a ou degradando-a, conduzindo-a à desintegração ou a uma verdadeira civilização. Por outro lado, as influências que atuam na sociedade repercutem nos indivíduos, condicionando suas vidas e suas ações. Portanto, expurgar da mente o desejo egoísta é um requisito para o progresso individual e social. Hoje a pureza interior é rejeitada por muitas pessoas por ser considerada apenas uma questão moral e sentimental de caráter irrelevante para a vida prática. A mente desejosa é esperta, mas não inteligente. Portanto, na prática, necessita de energia para purificar-se, porque somente a mente pura, que é inteligente, sabe o que é benéfico. Obviamente, não é inteligente continuar com o tráfico de armas, persistir em contaminar a Terra com produtos químicos, destruir florestas ou interferir com o frágil equilíbrio ecológico deste planeta. Ainda assim, tudo isto está sendo feito implacavelmente por ganância, ou por algum outro tipo de ambição. Onde há desejo, há não somente falta de inteligência como também de sentimento. O desejo não é o mesmo que ternura. O desejo é gerado pelo sentimento de existência separada, enquanto que a ternura nasce de um profundo sentido de afinidade e simpatia. O desejo, que aguça a capacidade mental, embota a sensibilidade. Por outro lado, a ternura se expressa pela nãoseparatividade e favorece respostas sensíveis, que conduzem ao amor e à compaixão e, portanto, à espiritualidade. As pessoas esperam ansiosamente que o novo milênio traga alguma mudança. Contudo, um novo nível de prosperidade e progresso pode ser alcançado somente se a mente mudar, o que significa que ela deve harmonizar-se com a ternura e não ser impelida pelo desejo. Isto resultará em clareza de visão e, portanto, em ordem e benesses para a sociedade. A mente é um instrumento maravilhoso quando harmonizada com o coração, que não é um símbolo do desejo, da paixão, do sentimentalismo e da superficialidade, mas daquela profundidade na consciência, cujas respostas são impessoais e totalmente altruísticas. A razão e o sentimento se fundem no coração, tornando-se o fundamento da sabedoria. 1 Presidente Internacional da Sociedade Teosófica em Adyar, Chennai, Índia.