UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I PEDAGOGIA – ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL INTERVENÇÃO DIDÁTICA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA ESCOLA MUNICIPAL PROFESSOR FREIRE FILHO SANDRA MARA SILVA SOARES SALVADOR 2010 SANDRA MARA SILVA SOARES INTERVENÇÃO DIDÁTICA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA ESCOLA MUNICIPAL PROFESSOR FREIRE FILHO Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus I, sob Orientação da Profª. M. Sc. Andréa Betânia da Silva. SALVADOR 2010 FICHA CATALOGRÁFICA : Sistema de Bibliotecas da UNEB Soares, Sandra Mara Silva Intervenção didática e o processo de alfabetização e letramento na educação de jovens e adultos da Escola Municipal Professor Freire Filho / Sandra Mara Silva Soares . – Salvador, 2010. 46f. Orientadora: Profª. Msc. Andréa Betânia da Silva. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2010. Contém referências e apêndices. 1. Alfabetização de adultos - Salvador(BA). 2. Educação do adolescente. 3. Educação de adultos. 4. Didática. 5. Letramento. I.Silva, Andréa Betânia da Silva. lI.Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 374.012 SANDRA MARA SILVA SOARES INTERVENÇÃO DIDÁTICA E O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS DA ESCOLA MUNICIPAL PROFESSOR FREIRE FILHO Monografia apresentada como requisito parcial obtenção da graduação em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus I, sob Orientação da Profª. M. Sc. Andréa Betânia da Silva. Salvador, ____ de _____________ de 20____. ______________________________________ ______________________________________ ______________________________________ SALVADOR 2010 Dedico esse trabalho aos meus pais, Ramos e Iara, que foram o meu alicerce nesta caminhada. Ao meu irmão Davidson e ao meu noivo Rui, pela compreensão e paciência e a todos aqueles que estiveram ao meu lado no desenvolvimento deste trabalho. AGRADECIMENTOS Em especial à orientadora Prof.ª M. Sc. Andréa Betânia da Silva, sem seu apoio não seria possível a realização deste trabalho. Dedico-lhe o meu mais sincero agradecimento. Aos meus pais por terem sido os meus primeiros educadores e por terem me ensinado o valor da educação. Ao meu noivo Rui, pelo incentivo e companheirismo durante toda essa jornada. Ao meu irmão Davidson, por estar sempre presente em meus melhores e piores momentos. “A importância da educação está no fato de que ela ajuda o homem a preencheras lacunas que lhe são inerentes, uma vez que, o homem é um ser incompleto, é um ser carente, é um ser aberto, ele esconde mistérios, enigmas, contradições e é sobre essa realidade humana que a educação atua no intuito de transformá-lo e aperfeiçoá-lo”. (MORAIS, 1992) RESUMO Este trabalho tem como objetivo abordar aspectos relevantes acerca das intervenções didáticas realizadas por professores da Educação de Jovens e Adultos, assim como conceitos atualmente discutidos sobre alfabetização e letramento, demonstrando as diferenças destes conceitos com o passar dos anos. Outro ponto a ser abordado será a Educação de Jovens e Adultos, muitas vezes estigmatizada socialmente, sendo uma modalidade da educação de fundamental importância para oportunizar a formação daqueles que por diversos motivos precisaram se afastar da escola ou nunca tiveram acesso à mesma, destacando os anseios e dificuldades dessas pessoas na busca pelo aprendizado da leitura e escrita. A pesquisa foi baseada em estudos bibliográficos e na pesquisa de campo, do tipo estudo de caso, com abordagem qualitativa, tendo como instrumentos a observação e entrevistas semi-estruturadas com professores da Escola Municipal Professor Freire Filho. Palavras-chave: Intervenção didática. Alfabetização. Letramento. Educação de Jovens e Adultos. ABSTRACT This work aims to address relevant aspects about instructional interventions undertaken by teachers of youth and adult education, as well as concepts currently discussed about literacy and literacy, demonstrating the differences of these concepts over the years. Another point to be addressed is the Education of young people and Adults, often socially stigmatized, being a modality of education vital to chance formation of those who for various reasons had to leave school or never had access to it, highlighting the concerns and difficulties of such people in the search for learning of reading and writing. The survey was based on bibliographic studies and field research, case study, with qualitative approach, having as instruments to observation and semi-structured interviews with teachers of the municipal school Professor Freire Filho. Keywords: educational Intervention. Literacy. Literacy. Youth and adult education. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 09 2 A IMPORTÂNCIA DE SER ALFABETIZADO E LETRADO NA ATUALIDADE ................................................................................................... 11 2.1 ALFABETIZAR NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO ............................ 13 2.2 ASPECTOS RELEVANTES SOBRE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS .......................................................................................................... 16 2.3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA O PÚBLICO DE EJA ............. 17 3 PAPEL DO PROFESSOR NA ORGANIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO DIDÁTICA PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ............................. 20 3.1 SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS ENQUANTO PRÁTICA PEDAGÓGICA .................................................................................. 22 3.2 CONTRIBUIÇÕES DOS PCNs .................................................................... 27 4 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO DA PESQUISA ........................... 30 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA ...................................... 31 4.2 TEORIZANDO A PRÁTICA ......................................................................... 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 40 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 43 APÊNDICE ........................................................................................................ 46 1 INTRODUÇÃO A escolha pela temática surgiu através da realização de um trabalho acadêmico proposto pela disciplina de Educação de Jovens e Adultos, no qual foram abordadas questões relacionadas à alfabetização e letramento para este público. A partir de então, despertou-se o interesse em aprofundar o conhecimento acerca do conteúdo trabalhado, verificando a ocorrência destas questões na prática docente dos professores que atuam nesta área. A relevância social do tema surge por perceber que, nas práticas docentes, a diferenciação entre alfabetizar e letrar são por vezes distorcidas, limitando as possibilidades para realização de um trabalho que favoreça o desenvolvimento dos alunos, valorizando seus conhecimentos prévios que oportunizariam uma formação integral. Neste sentido, os principais objetivos deste trabalho foram: realizar uma investigação sobre as intervenções didáticas dos professores e compreender como eles diferenciam e utilizam os conceitos de alfabetização e letramento em suas práticas. O trabalho articula-se em três capítulos. No primeiro, trata-se da contextualização da perspectiva de alfabetização e letramento dentro da formação da Educação de Jovens e Adultos, destacando, sobretudo, a importância destes dois processos na inserção das pessoas no mundo letrado. Aborda, ainda, aspectos relevantes de EJA, investigando a importância de ser alfabetizado e letrado na contemporaneidade. Este capítulo inicial serviu de embasamento teórico durante a pesquisa, promovendo uma análise mais detalhada da compreensão dos professores sobre o assunto e como o mesmo é trabalhado em sala de aula. O segundo capítulo aborda questões referentes ao papel do professor na organização da intervenção didática, destacando a importância da seleção dos conteúdos enquanto prática pedagógica e as contribuições dos PCNs para nortear o trabalho dos docentes. A priori, sabe-se que, para ocorrer uma intervenção didática, exige-se dos professores uma organização, sistematização e intenção no fazer docente, a fim de garantir a eficiência e eficácia da ação. Sobretudo, esses aspectos também implicaram na pesquisa, com o intuito de perceber de que forma os professores organizam suas práticas e se realmente existe planejamento para que elas aconteçam. Por fim, o terceiro capítulo apresenta a análise de dados da pesquisa e os resultados obtidos. O trabalho em campo foi realizado na Escola Municipal Professor Freire Filho, uma escola da rede municipal de Salvador, tendo como amostra os professores que atuam na modalidade da EJA. A análise foi realizada através da sistematização dos resultados fundamentada no referencial teórico. Os resultados da pesquisa comprovaram que os professores precisam refletir mais sobre seu saber e fazer pedagógico, pois os dados coletados demonstraram a necessidade de um comprometimento maior quanto a sua própria formação, atualizando-se sobre questões importantes para atrelar a teoria à prática em suas ações pedagógicas. O trabalho pode favorecer para uma melhor compreensão sobre o tema, despertar para outras reflexões, e servir ainda como leitura para quem deseja pesquisar sobre esta mesma temática. 2 A IMPORTÂNCIA DE SER ALFABETIZADO E LETRADO NA ATUALIDADE A comunicação é fundamental para o convívio em sociedade e, mais ainda, é indispensável para que os indivíduos se sintam parte dela. Em todos os espaços sociais, as pessoas se encontram imersos na cultura letrada, mesmo aqueles que não dominam o código escrito, são expostos à necessidade de se comunicar, conviver e se socializar. Para tanto, embora a escrita e sua utilização nos contextos sociais sejam necessários para a interação no cotidiano, o fato de não dominar o código escrito e o uso correto da linguagem é motivo de exclusão para aqueles que não dominam essas competências. Então, cabe, a partir disso, uma reflexão sobre a importância de saber ler e escrever, e mais ainda de tornar-se capaz de interpretar e construir, no âmbito social, novos conhecimentos a partir do uso da escrita e da leitura, ou seja, estar alfabetizado e letrado. A princípio, historicamente o uso da escrita não era tão valorizado pelos indivíduos, as pessoas estabeleciam suas relações e se comunicavam basicamente através da oralidade, não havendo necessidade de saber ler e escrever para promover a troca de idéias e de opiniões, isto é, não se utilizava a escrita e a leitura como atualmente. Conforme Corti e Vóvio: Durante um longo período da história brasileira, a palavra escrita não estava tão presente no dia-a-dia da grande maioria das pessoas. Elas construíam sua vida, trabalhavam, participavam de partidos políticos, aprendiam, ensinavam os filhos, se comunicavam e trocavam informações de outras maneiras. Para muitas dessas pessoas, os conhecimentos e as informações, assim como as competências ligadas ao trabalho, eram aprendidas através da comunicação oral e do contato prático com as atividades produtivas, Ou seja, na sociedade brasileira do passado, a oralidade era central. (CORTI e VÓVIO, 2007, p.17). Na contemporaneidade, as necessidades são outras, os registros tornaram-se parte integrante das relações sociais e documentar passou a fazer parte da maioria das atividades desenvolvidas. Entretanto, saber ler e escrever - ou seja, estar alfabetizado - não basta para caracterizar que o indivíduo esteja fazendo uso do código escrito de forma proveitosa, conseguindo utilizar todas as possibilidades da linguagem, seja ela oral ou escrita, para desenvolver-se e compreender o mundo. Não ser alfabetizado e letrado hoje, principalmente para os jovens e adultos, implica em diversas questões, desde as mais simples tarefas do dia a dia, até as atividades que envolvam aptidões mais complexas. Nesse contexto, o acesso à escrita, à leitura e aos seus domínios passam a ser utilizados como instrumento de “poder” para quem os detém, os demais ficam à margem. Em outro pólo da sociedade estão aqueles que, embora já saibam ler e escrever e utilizem estas habilidades no seu cotidiano, não fazem uso adequado das mesmas. Neste sentido, para Ribeiro (2001), analfabeto funcional atribui-se à condição das pessoas que têm um nível rudimentar de conhecimento da linguagem escrita não suficiente para enfrentar as exigências impostas por seu contexto de vivência. Reconhecendo a importância de ser alfabetizado e letrado, muitos jovens e adultos voltam às salas de aula, no intuito de reparar as carências ocasionadas pela não escolarização, resultantes de uma trajetória que por diversos motivos os impediram de estudar. Pode-se destacar que algumas possibilidades apenas são possíveis na atualidade quando os sujeitos estão capacitados, ou seja, quando, no mínimo, estão alfabetizados e letrados. Dentre essas possibilidades, destacam-se: a conquista e/ou a permanência no emprego, melhores salários, autonomia, desenvolvimento de novas competências, entre outros. Deste modo, a função social da escrita e da leitura permite que o indivíduo seja inserido e participe da sociedade de maneira ativa, contribuindo não só para sua formação individual como coletiva. 2.1 ALFABETIZAR NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO A educação possui diversas etapas e uma das mais importantes é a alfabetização, um processo pelo qual, teoricamente, todos deveriam passar para inserir-se no mundo da leitura e da escrita. No entanto, observa-se a confusão que ocorre na hora de conceituar tanto a alfabetização quanto letramento. Por vezes, esses dois conceitos são distorcidos, alterando seus significados. Para um melhor entendimento sobre essas duas concepções, alfabetização e letramento, é preciso estabelecer suas particularidades com o objetivo de compreensão destes dois processos que se diferenciam e ao mesmo tempo precisam se integrar. Geralmente, acredita-se que alfabetizar diz respeito apenas ao ato mecânico de aprender a ler e escrever. Certamente isso não nega o fato de que a alfabetização prima pela aquisição do código escrito e sua utilização nas práticas de leitura e escrita. Nesta perspectiva, Soares define alfabetização: [...] como o processo de aquisição da “tecnologia da escrita”; isto é, do conjunto de técnicas – procedimentos, habilidades – necessárias para a prática da leitura e da escrita: as habilidades de codificação de fonemas em grafemas e de decodificação de grafemas em fonemas, isto é, o domínio do sistema de escrita (alfabético ortográfico); [...] Em síntese: alfabetização é o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja, o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. (SOARES,2003, p.91) O domínio da escrita presente na definição da autora, que envolve competências em produções escritas, é primordial para um entendimento da natureza do ato de alfabetizar diferenciando-se da visão reducionista que muitos envolvidos com a educação possuem. Ressalta-se, porém, que se deve manter certa cautela para não reduzir e nem ampliar o conceito de alfabetização, caindo no mesmo equivoco que aqui se discute. Para relacionar a importância de alfabetizar na perspectiva do letramento, cabe antes de tudo, conceituar letramento: [...] exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita denomina-se letramento, que implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos – para informar ou informar-se, para interagir com outros, para imergir no imaginário, no estético, para ampliar conhecimentos, para seduzir ou induzir, para divertir-se, para orientar-se, para apoio à memória, para catarse...; Habilidades de interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros de textos; habilidades de orientar-se pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos, ao escrever; atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e prazer em ler e escrever, sabendo utilizar a escrita para encontrar ou fornecer informações e conhecimentos, escrevendo ou lendo de forma diferenciada, segundo as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor. (SOARES, 2003, p. 91-92) A autora, em sua definição, atrela o letramento principalmente à utilização da escrita competente, como artifício indispensável em todas as práticas sociais. Para ela, ser letrado depende, a princípio, da aquisição da escrita, ou seja, para ser letrado, devese antes ser alfabetizado.Percebendo o letramento numa perspectiva mais ligada as situações do cotidiano, Marcuschi traz a seguinte contribuição: O letramento, por sua vez, envolve as mais diversas práticas da escrita (nas suas variadas formas) na sociedade e pode ir desde uma apropriação mínima da escrita, tal como o indivíduo que é analfabeto, mas letrado na medida em que identifica o valor do dinheiro, identifica o ônibus que deve tomar, consegue fazer cálculos complexos, sabe distinguir as mercadorias pelas marcas etc., mas não escreve cartas nem lê jornal regularmente, até uma apropriação profunda, como no caso de indivíduos que desenvolve tratados de Filosofia e Matemática ou escreve romances. Letrado é o individuo que participa de forma significativa de eventos de letramento e não apenas aquele que faz o uso formal da escrita. (MARCUSCHI,2008, p. 25). Define o letramento num contexto mais amplo, entendendo-o como um processo que pode ocorrer independente do indivíduo estar alfabetizado ou não. Antes mesmo de adquirir competências da linguagem escrita, o indivíduo pode ser exposto ao contato com materiais escritos, familiarizando-se com o código ortográfico, ao ser envolvido em situações do cotidiano. Depois de apresentadas as diferenças entre os dois conceitos, pode-se abordar a questão de alfabetizar na perspectiva do letramento. De acordo com Soares: Alfabetização e letramento são, pois, processos distintos, de natureza essencialmente diferente; entretanto, são interdependentes e mesmo indissociáveis. A alfabetização – a aquisição da tecnologia da escrita – não precede nem é pré-requisito para o letramento, isto é, para a participação em práticas sociais de escrita, tanto assim que analfabetos podem ter um certo nível de letramento: não tendo adquirido a tecnologia da escrita, utilizam-se de quem a tem para fazer uso da leitura e de escrita; além disso, na concepção psicogenética de alfabetização que vigora atualmente, a tecnologia da escrita é aprendida não como em concepções anteriores, com textos construídos artificialmente para a aquisição das “técnicas” de leitura e de escrita, mas através de atividades de letramento, isto é, de leitura e produção de textos reais, de práticas sociais de leitura e de escrita.(SOARES,2003, p.92) Como foi dito, trata-se de dois processos distintos, que podem ocorrer de forma simultânea, pois ambos possuem elementos que, integrados, contribuirão não só para aquisição e domínio da língua escrita, mas, também, para que o indivíduo seja capaz de ler o mundo, desenvolvendo aptidões relacionadas à subjetividade, bem como adquirir capacidade de refletir, criticar e construir. O problema é que o letramento é distorcido na medida em que se confunde com o processo de alfabetização. Segundo Viegas: É importante destacar que letramento não é um método. A discussão do letramento surge sempre envolvida no conceito de alfabetização, o que tem levado a uma inadequada e imprópria síntese dos dois conceitos, com prevalência do conceito de letramento sobre o de alfabetização. Não podemos separar os dois processos, pois, a princípio, o estudo do aluno no universo da escrita se dá ao mesmo tempo por meio desses dois processos: a alfabetização, e pelo desenvolvimento de habilidades da leitura e da escrita, o letramento. (VIEGAS,2007, p. 2) A falta de discernimento ou compreensão entre letramento e alfabetização é um dos grandes problemas enfrentados pelos professores e pela escola, de modo que é preciso uma tomada de consciência sobre a importância desses dois processos e uma reformulação nas abordagens. 2.2 ASPECTOS RELEVANTES SOBRE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS Por décadas, os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) foram vistos apenas por suas trajetórias escolares. Eram friamente analisados e, no geral, definidos como alunos evadidos, reprovados, defasados, com problemas de freqüência, de aprendizagem, entre outros. Isso se deve a um conjunto de modelos e de estereótipos socialmente construídos que impedem de olhar os jovens e adultos que ali freqüentam, considerando suas peculiaridades e, de acordo com Dayrell (2005), correndo o risco de analisá-los de forma negativa. As turmas da modalidade de EJA são formadas por pessoas que voltam para a escola ou nela chegam tardiamente, conforme os padrões oficiais de ensino, já com um sentimento de inferioridade por não terem o sucesso escolar socialmente desejado, apresentam dificuldades muito semelhantes em relação à aquisição de conhecimentos, carregam consigo também sentimento de incapacidade e incompetência diante da aprendizagem. Esses jovens e adultos repetem longas histórias de negação de direitos que envolvem uma série de elementos, como raça, etnia, gênero e classe social. Nesse sentido, faz-se necessário assumir a EJA como uma política afirmativa, como um dever específico da sociedade, do Estado e da Pedagogia (ARROYO, 2006). É por esse motivo que é importante traçar o perfil desses alunos, o que exige conhecer sua história de vida, os obstáculos que os impediram de freqüentar o ensino regular, os motivos que lhes deram força para continuar, as circunstâncias em que cursam a EJA, dentre outras. Tendo em vista que os alunos de EJA são sujeitos que carregam experiências de vida diferentes, é preciso que o educador tenha uma formação específica para sua atuação pedagógica (SOARES, 2009), além de ter bem claro o perfil dos estudantes com os quais irá interagir. Nesse sentido, o perfil do aluno da EJA tem sido um dos pontos principais de discussão, uma vez que para se chegar a esse perfil é preciso conhecer o contexto no qual ele está inserido 2.3 ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO PARA O PÚBLICO DE EJA Geralmente os alunos da educação de jovens e adultos são trabalhadores que vivem, na maioria das vezes, apenas suprindo necessidades básicas de sobrevivência, oriundos das camadas mais baixas da sociedade, desfrutando de pouca ou nenhuma oportunidade de estudar, dificultando o acesso a novas possibilidades. Neste sentido, a escola para alunos de EJA deve ser pensada de modo diferente, com abordagem de conteúdos e propostas metodológicas desenvolvidas para que favoreçam a aprendizagem, uma vez que essas pessoas trazem experiências de vida e conhecimentos ainda que não sistematizados. O jovem ou adulto não alfabetizado é um homem letrado, ele apenas não possui instrução formal. Isso acontece por conta da interação com a sociedade, que lhe possibilita compreender as coisas a sua volta sem que haja necessidade de decodificar as letras, apenas compreendendo o contexto. Mas, isso não é suficiente para que ele seja capaz de vivenciar plenamente a cultura que possui base escrita e nem para interagir com tudo que essa cultura pode lhe oferecer. Uma das razões pelas quais os jovens ou adultos retornam à escola é para apropriar-se da língua escrita, oportunizando, desta forma, busca por emprego, valorização da imagem social, exercício da cidadania, busca de convivência social, almejo de novos conhecimentos e uma formação que lhes permita competir em iguais condições com os outros sujeitos. Essas pessoas começam a observar que o mundo ao seu redor parece ocultar informações importantes para suas práticas cotidianas. Além disso, a aquisição de novos saberes irá promover o desenvolvimento de seus potenciais para a aprendizagem e determinar toda uma caminhada escolar. De acordo com Rego: O desenvolvimento está intimamente relacionado ao contexto sócio-cultural em que a pessoa se insere e se processa de forma dinâmica (e dialética) através de rupturas e desequilíbrios provocadores de contínuas reorganizações por parte do indivíduo. (REGO,2000, p. 59) Sendo assim, a escola deve ser um ambiente que suscite inquietudes e reflexões, favorável para um constante movimento de idéias, com trocas e conhecimentos, promovendo o crescimento cultural, intelectual e pessoal do indivíduo. Para isso, faz-se necessário que as propostas sejam contextualizadas com a realidade do aluno ocasionando o aumento do rendimento escolar e a diminuição da evasão que são tão freqüentes nas salas de EJA. Diversos fatores contribuem para o insucesso e a evasão percebida nas classes de EJA, dentre eles: cansaço devido à jornada de trabalho, problemas familiares, questões financeiras e emocionais, desinteresse tanto dos alunos quanto dos professores, aulas no horário em que muitas vezes seria para o descanso e o lazer, entre outros. No que diz respeito aos professores, muito deles, por falta de formação adequada, não propõem flexibilidade em seus planejamentos, descartam os conhecimentos prévios dos alunos que, contextualizados com a realidade, tornam-se cheios de significados no processo de aprendizagem e, aliados aos outros fatores já citados, tornam-se motivos cruciais para as desistências das aulas. Infelizmente, isso acontece, pois, as discussões teórico-metodológicas para esta modalidade de ensino, na maioria das vezes, não recebem a importância necessária pelos formadores de professores. As questões metodológicas para esta modalidade passam como uma mera adequação do que é planejado para as crianças da educação básica. Com essas práticas, os alunos se sentem na condição de excluídos, pois a escola esta adequada para um grupo que não e o seu. O currículo, os programas e os métodos são estruturados para atender crianças em sua trajetória escolar. Enfim, as práticas metodológicas e o currículo precisam ser voltados para o jovem e o adulto, reconhecendo-os como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Neste sentido, seria de fundamental importância na formação inicial de professores discussões acerca da forma na qual ocorre a construção da identidade dos professores alfabetizadores de jovens e adultos, as alternativas para conhecer a realidade sociocultural dos alunos, o planejamento para que a educação de jovens e adultos apareça de forma equilibrada na matriz curricular dos cursos de licenciaturas. Nesse contexto, o educador precisa adotar uma relação de parceria com o aluno, favorecer o diálogo e propiciar uma nova visão de mundo, problematizar a realidade em que se encontra inserido e levá-lo a refletir sobre o conhecimento adquirido. Segundo Freire (2006, p. 68), “[...] o trabalho de alfabetização, na medida em que possibilita uma leitura crítica da realidade, se constitui como importante instrumento de resgate da cidadania [...].” Para isso, o educador tem que entender que é preciso inovar na prática, mudar sua proposta, assimilando que o essencial não é apenas aprender a decorar, copiar, mas aprender a aprender, exercitar a prática do pensar, o que levará os alunos sentir-se estimulados, motivados, mobilizados a participar. Dessa forma, é importante que o educador crie estratégias que possibilitem alfabetizar esses alunos na perspectiva do letramento, apresentando materiais que possuam relevância para sua vida de modo que o aluno consiga perceber que aprender a ler e escrever vai ter uma finalidade, que vai se converter em melhoria na sua vida, por isso, as ações do professor devem refletir essa intenção. “O ensino da leitura e da escrita deve ser entendido como prática de um sujeito agindo sobre o mundo para transformá-lo e, para, através da sua ação, afirmar a sua liberdade e fugir à alienação” (VIEGAS,2007, p.4) 3 PAPEL DO PROFESSOR NA ORGANIZAÇÃO DA INTERVENÇÃO DIDÁTICA PARA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS As etapas da elaboração de uma intervenção didática são muito importantes e, para tanto, o professor deve se organizar e mapear o que deseja trabalhar. A definição de três pontos é essencial: o que quero ensinar, como cada aluno aprende e como será feito o acompanhamento e avaliação dos alunos, principalmente quando se trata de uma turma tão heterogênea como a de EJA. Percebe-se, neste momento, que um dos maiores desafios no planejamento e organização de uma intervenção didática é a definição do tempo necessário para o trabalho com um determinado tema, atividade ou projeto. Compreende-se desta maneira, que primeiro deve-se estabelecer as habilidades e competências, as noções e conceitos, os objetivos e os conteúdos que alicerçarão essa construção. Em seguida, pensar nas atividades a serem desenvolvidas baseadas na forma que os alunos aprendem. (ZABALA, 1998) Os conteúdos, os objetivos, os recursos didáticos, tudo tem que ser pensado quando se organiza uma intervenção didática e aplicado para que o aluno se torne agente ativo da construção do seu conhecimento. Zabala (1998) nos ajuda a pensar uma prática centrada no sujeito, na qual a função social da aprendizagem seja possibilitar a todos uma formação integral considerando suas especificidades. Neste segmento, ao organizar uma intervenção didática na Educação de Jovens e Adultos, é necessário efetuar um levantamento prévio dos conhecimentos dos alunos e, a partir desse, planejar intervenções que apresentem desafios e/ou problemas, atividades diferenciadas, jogos, uso de diferentes linguagens e gêneros de textos, análise e reflexão. Gradativamente, deve-se aumentar a complexidade dos desafios e dos textos permitindo um aprofundamento do tema proposto, promovendo, desta forma, a construção do conhecimento. Nesta perspectiva, Libâneo diz que: Em síntese, podemos dizer que, talvez, uma das qualidades mais importantes do professor seja a de saber lançar pontes (ligações) entre as tarefas escolares e as condições prévias dos alunos para enfrentá-las, pois é daí que surgem as forças impulsoras da aprendizagem. O envolvimento do aluno no estudo ativo depende de que o ensino seja organizado de tal forma que as “dificuldades” (na forma de perguntas, problemas, tarefas, etc.) tornem-se problemas subjetivos na mente do aluno, provoquem nele uma “tensão” e vontade de superá-las. (LIBÂNEO,1994, p. 95) Há de se atentar, então, para a importância da relação professor e aluno, na medida em que o educador é capaz de atribuir significado à curiosidade despertada pelos assuntos ou atividades, às perguntas feitas pelos alunos. No momento em que o professor consegue entender e aprofundar seus conhecimentos nesta proposta de trabalho,tem condições de aventurar-se em infinitas descobertas e perceber o quanto isto é enriquecedor. Um planejamento que enfoca os objetivos deve levar em consideração a forma como o aluno aprende, pois a intervenção é pautada na necessidade do mesmo. Para isso, busca uma explicação na concepção construtivista dos processos de aprendizagem, pois ela leva em consideração os aspectos psicopedagógicos do individuo a fim de compreender a maneira como construímos um conhecimento para torná-lo o mais significativo possível. Na concepção construtivista, a aprendizagem se produz quando é atingido o máximo de relações entre os conhecimentos pré-existentes e os novos adquiridos. Estes últimos são agregados aos anteriores, modificando-os e tornando-os mais complexos. Segundo Becker: [...] a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do Indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia. (BECKER,1992, p. 88) Pressupõe-se, então, que nossa estrutura cognitiva é uma rede de conhecimentos, como uma teia de aranha, que vai sendo construída e reconstruída a cada nova informação. Dentro dessa perspectiva, uma aprendizagem significativa é aquela na qual o aluno consegue desencadear esse processo fazendo uso daquele novo conhecimento, transformando-o e adaptando-o a sua realidade e necessidade. O construtivismo, ao abordar todas essas questões, coloca professor e aluno como protagonistas nesse processo, pois, se por um lado o aluno é quem constrói o conhecimento e faz uso dele, por outro o professor é o responsável por criar condições favoráveis para desencadear todo esse processo: seleção e apresentação adequada de conteúdos, observação dos alunos, respeito à maneira como cada aluno aprende, entre outros. O papel do professor também é o de provocar, para que, desta forma, o aluno se sinta estimulado, ou seja, a atividade deve fazer sentido para ele e o mesmo deve ser capaz de executá-la mobilizando seus conhecimentos e agregando novos. Por isso, Zabala (1998, p. 38) diz que “(...) a situação de ensino e aprendizagem também pode ser considerada como um processo dirigido a superar desafios, desafios que possam ser enfrentados e que façam avançar um pouco mais além do ponto de partida.” Essa postura deve ser adotada para auxiliar na construção do conhecimento de todos os tipos de conteúdos, afinal, a forma como o aluno percebe a escola e as atividades que lhes são propostas influencia diretamente no seu aprendizado. 3.1 A SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS CONTEÚDOS ENQUANTO PRÁTICA PEDAGÓGICA Definir o que se deve aprender em sala de aula não é simples, requer um cuidado especial: é preciso perceber que os conteúdos devem ter naturezas variadas, englobando habilidades, técnicas, atitudes, conceitos. São essas escolhas que responderão às perguntas intrínsecas que permeiam a educação. É necessário determinar para os alunos o que é importante saber, o que é preciso saber fazer e que tipo de sujeito ele deve ser. Isto não quer dizer formar alunos padronizados, modelados, mas a clareza dessas perguntas que permitirão traçar um plano de trabalho que realmente forme cidadãos capazes de atender às demandas pessoais e sociais. A divisão dos conteúdos segundo uma tipologia serve para identificar com mais precisão as intenções educativas presentes em cada um deles e, a partir dessa classificação, torna-se mais fácil perceber as semelhanças que existem na forma como cada conteúdo é aprendido e ensinado. Assim, o processo de aprendizagem adquire características distintas para cada tipo de conteúdo. Zabala (1998), alerta para o fato de que essa divisão é uma construção intelectual, utilizada para facilitar a compreensão dos processos cognitivos, pois a aprendizagem ocorre de forma integral e os conteúdos estão sempre interligados. Os conteúdos conceituais englobam a aprendizagem de fatos, conceitos e princípios. Os conceitos são um conjunto de fatos, objetos ou símbolos agrupados por suas características comuns. Os conceitos e princípios têm em comum o fato de necessitarem de compreensão: podemos dizer que o aluno só aprendeu um conceito ou principio quando é capaz de utilizá-lo adequadamente em qualquer situação. Por conta disso, a aprendizagem desses conceitos não é considerada inacabada, pois é possível agregar a eles novos valores, novos significados, existindo sempre uma possibilidade de ampliá-los. Os conteúdos procedimentais implicam no saber fazer, que só pode ser verificado em situações de aplicação desses conteúdos. Os conteúdos procedimentais são conjuntos de ações que têm por finalidade um objetivo. São eles: ler, desenhar, observar, calcular, classificar, traduzir, recortar, saltar, inferir, etc. Esses conteúdos têm em comum o fato de serem ações, porém são ações distintas, para que as aprendizagens tenham características específicas. É importante que o aluno tome consciência da sua atuação, reflita sobre as suas atividades. Por exemplo, não basta escrever todos os dias pra que o aluno escreva bem, mas é imprescindível que ele possua o conhecimento da morfossintaxe, pois isso fará com que ele melhore a sua capacidade como escritor. Fica claro, então, que não basta ter o conhecimento teórico e fazer a reflexão, mas é preciso fazê-la sobre a própria atuação. Os conteúdos atitudinais podem ser agrupados em: valores, atitudes e normas. Dentre esses conteúdos, por exemplo, podemos destacar cooperação, solidariedade, trabalho em grupo, respeito e ética. É importante salientar que nesses conteúdos fazem parte as relações afetiva e de convivência, que não podem deixar de serem trabalhadas na Educação de Jovens e Adultos e serem consideradas importantes, pois estão ligadas ao lado filosófico da escola, onde é relevante desenvolver aspectos que nos completem como seres humanos. Seria interessante que os conteúdos conceituais fossem priorizados nos níveis avançados de ensino, enquanto que os procedimentais e atitudinais nos níveis iniciais, pois serão eles que darão o suporte para uma capacidade mais elaborada de construção dos conceitos nas etapas seguintes da formação, portanto, nesse sentido, é a tipologia dos conteúdos que acaba servindo como instrumento para definir as diferentes posições do papel que deve ter o ensino na vida do aluno, que intenções educativas são pertinentes e que conheçamos a fundo aquilo que se trabalha e ou que se pretende trabalhar. Quanto à organização dos conteúdos, destacam-se três formas: as propostas disciplinares, os métodos globalizados e o enfoque globalizador. Não há dúvidas de que quanto mais relacionados estejam os conteúdos, melhor será a compreensão dos mesmos. Essa atividade vem ganhando espaço, com a intenção de garantir uma aprendizagem mais significativa ao aluno. Inicialmente a organização dos conteúdos na perspectiva disciplinar era realizada de uma forma bastante tradicional, com a compartimentação dos conteúdos de acordo com cada matéria ou disciplina, não existindo uma inter-relação entre elas, o que ainda hoje é bastante utilizado nas escolas. Por conta disso, o resultado obtido nem sempre é o esperado, pois, na maioria das vezes, os alunos utilizam algumas estratégias, entre elas a da memorização superficial. Ainda na linha disciplinar, na qual o foco está na aprendizagem das disciplinas, novas propostas com relação à organização dos conteúdos foram feitas, com o intuito de promover um melhor entendimento dos mesmos. Surge, então, a integração entre as disciplinas, que se dá em três graus: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Na primeira, os conteúdos ainda são apresentados por matérias independentes umas das outras, no entanto, pode ser proposta simultaneamente, o que a define como uma organização somativa. Na interdisciplinaridade já existe uma relação de comunicação entre duas ou mais disciplinas, contudo, não se perde as particularidades. Já a transdisciplinaridade se caracteriza por conseguir o grau máximo de relações entre as disciplinas, supondo integração global dentro de um sistema totalizador. O avanço na forma de organizar os conteúdos na perspectiva disciplinar permite aos educandos fazer associações entre os conteúdos, assimilando-os e armazenandoos de forma correta, o que levará à potencialização dessa aprendizagem, possibilitando, também, futuramente, a realização de novas conexões, utilizando o que foi aprendido. A pedagogia tradicional tinha como base os conteúdos e o professor, até aparecer os métodos globalizados com o propósito de romper com a forma tradicional de organização dos conteúdos. Neste momento, os mesmos deixam de ser imprescindíveis e tornam-se os meios pelos quais será possível que os alunos trabalhem e conheçam a realidade concreta para que, dessa forma, sejam capazes de resolver problemas e situações cotidianas na sociedade. Os métodos globalizados despontam quando o aluno torna-se o centro do processo educativo e suas necessidades educativas são levadas em consideração, quando se passa a pensar mais no aluno do que nas matérias e disciplinas. Este método apresenta uma proposta que permite desenvolver aptidões amplas dos alunos dando-lhes uma formação integral que amadurece habilidades, capacidades de solucionar problemas. Os objetivos dos métodos globalizados é formar cidadãos capazes conhecer e interagir com o meio; preparar para a vida pessoas solidárias, cidadãos que são capazes de “aprender a aprender” para intervir na realidade É nesse sentido que a proposta dos métodos globalizados focaliza, numa perspectiva voltada para interação dos conteúdos com o meio em que vivemos. O enfoque globalizador é uma tentativa de conciliação entre o método globalizado e as propostas disciplinares. Nele, o protagonista também é o aluno e sua forma de aprender tem como ponto de partida três princípios para que a intervenção do professor seja a mais construtiva possível: situação próxima à realidade, conteúdo interessante para o aluno e elaboração de situações que estimulem a busca por respostas. Esses princípios são os mesmos do método globalizado. A diferença entre os dois está no fato do enfoque globalizador prezar pelo respeito à estrutura proposta pelas disciplinas. Pode-se trabalhar as disciplinas com situações-problema diferentes. O que ocorrerá de forma igual é a seqüência didática (situação real, problemas, recursos da disciplina, formalização, aplicação a outras situações). No entanto, nada impede que em algum momento uma situação real possa ser trabalhada em mais de uma matéria, desde que isso não fuja à lógica científica da disciplina. Essa estrutura apresentada no enfoque globalizador não aborda os conteúdos procedimentais e atitudinais. Outro ponto a ser destacado é que uma proposta ligada à lógica disciplinar impõe certa limitação quanto aos vínculos entre os diferentes conteúdos, das diversas disciplinas. Essa limitação pode impossibilitar o enriquecimento das estruturas cognitivas, afinal, como foi dito antes, os conteúdos são todos interligados e a separação é feita apenas para facilitar a compreensão. 3.2 CONTRIBUIÇÕES DO PCN Em 1995, iniciou-se o processo de elaboração de Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), editado em 1997, com o intuito de criar um material de referência que auxiliasse os professores na elaboração de projetos educacionais, elaboração de aula, reflexão dos conteúdos para as práticas educativas e a utilização do material didático. O PCN percebe a importância das práticas pedagógicas dos professores, ressaltam a necessidade deles serem mediadores da educação e reconhecem que a qualidade da educação depende de como os professores conseguem realizar suas práticas pautadas na formação integral do aluno. O PCN aos professores devem servir para: [...] auxiliá-lo na execução de seu trabalho, compartilhando seu esforço diário de fazer com que as crianças dominem os conhecimentos de que necessitam para crescerem como cidadãos plenamente reconhecidos e conscientes de seu papel em nossa sociedade. (PCN,1997, p. 4) Os Parâmetros são um referencial que visa auxiliar na realização do trabalho docente eficaz, orientando e favorecendo as discussões e pesquisas relacionadas à educação. Mesmo para os professores que estão atuando nos locais com menos acesso às atualizações educacionais, isso se torna necessário porque são elas quem consegue realizar uma educação de qualidade para todos. Quanto às práticas educativas, o PCN sugere que os professores reflitam, sobre elas, fazendo com que estejam voltadas para o aluno e suas necessidades, conduzindo a uma educação que abranja diversos aspectos. Trata-se então, não apenas da simples organização de conteúdos e sua transmissão e sim de que forma esses conteúdos contribuíram para a formação de cidadãos que sejam indivíduos autônomos, reflexivos capazes de conhecer seus direitos e deveres para que possam atuar na sociedade ativamente, participando, tornando-se um agente transformador da sua realidade. O professor deve perceber essa ferramenta não como um manual a ser seguido, ou uma receita pronta, mas sim como um suporte educacional para consultas a respeito de materiais didáticos, elaboração de novos recursos que sejam eficazes para a construção do conhecimento, temas importantes para abordagem e uma reflexão constante sobre os conteúdos e a importância da reflexão permanente sobre a prática pedagógica dos professores para que sejam capazes de trabalhar com a diversidade adequando a educação aos aspectos políticos, econômicos e sociais que refletem as demandas sociais. A prática educativa e a vivência são essenciais para que cada escola se organize com uma proposta de trabalho flexível, condizente com a realidade de cada ambiente escolar, podendo contribuir na vida dos professores de diferentes formas e situações, sendo utilizado para orientar discussões ou ser pauta para reunião de pais e professores acerca da rotina escolar a que estão inseridos, ainda que de forma indireta, como co-autor A proposta dos Parâmetros sugere que os conteúdos sejam abordados e trabalhados de forma reflexiva, crítica e que possibilite que o alunado construa seus conhecimentos pensando nas diversas possibilidades de utilizá-los tendo ainda a consciência de que serão úteis para sua vida prática. Pretendem, portanto, estimular para que o ensino torne-se eficaz a partir de propostas reais, permitindo que a educação seja uma atividade social emancipatória não só para as classes mais favorecidas economicamente, mas para todos democraticamente. É fazer com que professores e alunos percebam que uma educação de qualidade deve ser acessível a todos os saberes elaborados socialmente necessários para partilhar de uma mesma comunidade e que as oportunidades devem ser proporcionadas a todos de forma igualitária, desprendendo-se das amarras ideológicas que entravam a sociedade impedindo a mobilidade social a partir do conhecimento que deve chegar para todos. 4 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO DA PESQUISA Para atingir os objetivos do presente estudo, optou-se pelo desenvolvimento de uma pesquisa de caráter qualitativo. Este tipo de pesquisa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo investigada, através do trabalho intensivo de campo. A pesquisa qualitativa em educação, segundo Bogdan e Biklem, citada por Ludke e André (1986), apresenta cinco características básicas: 1) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; 2) os dados coletados são predominantemente descritivos; 3) a preocupação com o processo é maior que com o produto; 4) o “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial do pesquisador; 5) a análise dos dados tende a seguir um processo indutivo. O espaço escolhido para realização da pesquisa foi a Escola Municipal Professor Freire Filho, da rede pública de ensino, situada no bairro do Bonfim, na cidade de Salvador. Os sujeitos da pesquisa foram os professores da Educação de Jovens e Adultos. A pesquisa aconteceu no período de dois meses, entre julho e agosto de 2010, sendo realizadas visitas periodicamente. A fim de coletar os dados nessa pesquisa, foram usados os seguintes instrumentos: observação e entrevista. O registro do levantamento de informações foi feito através de diário de campo e depoimentos dos professores. O processo de transcrição de toda observação e das entrevistas foi preparado a partir de categorias eleitas para discussão conceitual. Neste sentido, a elaboração dessa pesquisa visa mostrar um pouco da experiência adquirida durante o processo de observação e suas ligações com a teoria que aborda o tema e as conclusões a respeito do mesmo. 4.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO DE PESQUISA A Escola Municipal Professor Freire Filho está situada na Praça Senhor do Bonfim, nº 45, bairro do Bonfim. Fundada por Adolfo Espinheira Freire de Carvalho no ano de 1954, pela portaria 1512020/05/57/1260. No ano de 2002, a instituição passou a ser municipalizada e hoje é mantida por recursos da prefeitura de Salvador. A mesma foi reinaugurada em 08 de junho de 2010, pela Secretaria da Educação, Cultura, Esporte e Lazer (SECULT), após uma reforma, está foi realizada de maneira cuidadosa, não sendo submetida a ampliação, nem mudança em sua estrutura física, pois funciona num casarão tombado pelo patrimônio histórico e, assim, as reformas só podem ser de cunho reparador, sem modificar a estrutura. No que diz respeito ao bairro Bonfim, o mesmo é tradicional e turístico, conhecido pela devoção, tendo como o seu maior símbolo a Basílica do Senhor do Bonfim. A Lavagem do Bonfim reúne católicos e adeptos do candomblé, que comungam uma mesma fé. Do alto da Colina Sagrada, pode-se observar um contraste entre duas cidades distintas: a do seu entorno, constituída de um grande número de casas coloniais, e a Salvador contemporânea.. Deste modo, a história do bairro do Bonfim e da escola Professor Freire Filho se funde. A dinâmica da escola, os projetos, as atividades sociais e escolares acontecem de forma que contemplam a cultura em que estão inseridos, como uma maneira de fortalecer os bens culturais. A escola atende 230 alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e do Programa Salvador Cidade das Letras. Composta por turmas do 1º ao 5º ano, nos turnos matutino, vespertino e noturno. Possui cinco salas de aula, carteiras em número suficiente, armários; quatro banheiros; sala de professores; secretaria, cantina e uma área para recreação. O quadro docente da escola é formado por professores graduados, alguns com especializações e os mesmos relataram que estão constantemente participando de cursos voltados para formação continuada oferecida pelo município. Segundo a coordenadora, os professores comparecem às Atividades Complementares (ACs), reuniões e todas as atividades voltadas para a melhoria da qualidade de ensino. O planejamento é feito semanalmente, nos dias de sexta-feira, quando os alunos são liberados mais cedo, e ocorre com a presença de todos os professores, muitos deles se reúnem por séries e juntos planejam as atividades que serão realizadas durante a semana. Existe um esforço em interligar os conteúdos à realidade do aluno, para um melhor desenvolvimento da aprendizagem. No que diz respeito ao papel social e educacional da escola, a coordenadora informou que a direção e os demais funcionários entendem que a instituição tem como compromisso e missão garantir aos seus alunos o acesso a saberes elaborados socialmente, a fim de que possam construir instrumentos de compreensão da realidade. Com relação à administração da escola, esta cumpre sua função, enfrentando os percalços com determinação e buscando parcerias para que os mesmos possam ser solucionados com mais facilidade. O esforço coletivo faz com que a escola esteja sempre organizada, cuidada, limpa, um ambiente agradável para o convívio de todos os membros que a compõem. Por fim, a coordenadora relatou que escola também está integrada à comunidade e citou contar com sua efetiva participação no conselho escolar e nas atividades escolares e sociais, criando uma parceria entre professores, servidores, pais e alunos permitindo que a escola e a comunidade sejam integradas com o objetivo de buscar soluções para os problemas que as afetam, caracterizando, assim, uma legítima gestão participativa. 4.2 TEORIZANDO A PRÁTICA Para preservar o anonimato das professoras que participaram da pesquisa, foram utilizados pseudônimos, e as mesmas serão identificadas da seguinte forma: a primeira professora se chamará: Ana; a segunda: Paula e a terceira Maria. A primeira professora é especialista em Psicopedagogia e há 12 anos atua na área de educação. A segunda é pós-graduada em Pedagogia e há quatro anos trabalha com a Educação de Jovens e Adultos. A terceira professora é graduada em Licenciatura Plena em Pedagogia, trabalha há 16 anos com EJA. A análise de dados da pesquisa foi realizada através da sistematização dos resultados com base no referencial teórico, tendo como instrumento a entrevista semi-estruturada, como se pode conferir: A pergunta inicial pretende demonstrar que significado as professoras atribuem ao ato de alfabetizar. Obtiveram-se as seguintes respostas: E- Para você, o que significa alfabetizar? Ana: Alfabetizar é um processo em que o indivíduo aprende a ler e escrever. Paula: Ensinar o alfabeto e sua utilização. Maria: Alfabetizar significa humanizar, abrir caminhos para conquistar espaços, sentir-se agente passivo do processo. As respostas das professoras Ana e Paula foram as que chamaram mais atenção, pois mantêm uma visão reducionista do conceito de alfabetização como um ato mecânico, descrito por Freire (1983) como limitante para o processo de construção de sentido. O ato de alfabetizar deve permitir que o sujeito desenvolva habilidades com a escrita e leitura, sendo importante a utilização de temas que contextualizem sua realidade, ou seja, trabalhar com elementos familiares aos alunos. Quanto ao ato de letrar e seu significado, apenas a professora Ana demonstra uma definição mais aproximada. Enquanto as demais confundem-no com o conceito tradicional de alfabetização, que o trata como a simples codificação e decodificação de sinais e sua utilização. E- Para você, o que significa “letrar”? Ana: Significa ter uma visão do mundo. Conhecimento da cultura (sua). Paula: Tornar a pessoa consciente do alfabeto e sua utilização. Maria: Letrar significa decodificar sinais, conhecer e identificar as letras, o som e a sua função gramatical. . Neste sentido, letrar oportuniza ao educando antes mesmo de começar a ter domínio do código escrito que ele se envolva em práticas sociais de leitura e escrita, com recursos que tenham significado com seu contexto, valorizando suas experiências e conhecimentos adquiridos ao longo da vida. A terceira pergunta tenta perceber como os professores distinguem o ato de letrar e de alfabetizar. As professoras demonstram não perceber as distinções entre esses dois conceitos. Observe que a professora Maria conceitua de forma tradicional o ato de alfabetizar, demonstra desconhecimento de todas as práticas que podem ser desenvolvidas a partir do conceito de letramento. E- Quais as diferenças entre alfabetizar e “letrar”? Ana: A diferença é que o indivíduo pode aprender a ler sem compreender a importância daquilo que está lendo dentro da sua cultura. Paula: (Resp. 1 e 2). 1- Ensinar o alfabeto e sua utilização. 2- Tornar a pessoa consciente do alfabeto e sua utilização. Maria: Alfabetizar é ter um domínio completo de todo o processo, é adquirir habilidades de leitura, escrita, cálculos, raciocínio lógico, interpretar e formar opiniões. Letrar é conhecer, mas não interagir sobre os seus significados e utilizações. A fala da professora Maria preocupa, pois, demonstra um pensamento errôneo quanto a concepção de letramento, pois como já foi dito, letrar é algo amplo, que visa favorecer e oportunizar ao sujeito da aprendizagem que ele leia o mundo em que vive, seja capaz de contextualizar a realidade. Para tanto, observa-se agora o que as professoras entendem por alfabetizar na perspectiva do letramento: E- Como alfabetizar “letrando”? Ana: Proporcionando ao indivíduo o aprender a ler e escrever buscando a sua cultura como suporte. Paula: Letramento = apropriação do alfabeto. Maria: Alfabetiza-se letrando quando o alfabetizando se faz compreender que é o ponto de partida, que todo o processo foi criado para atendê-lo, passa a partir em busca de novos conhecimentos, sentindo-se capaz e responsável pelo que conquista e produz. A resposta da professora Ana não esclarece o que seria de fato alfabetizar o aluno letrando. A professora Paula compreende alfabetização e letramento como o mesmo processo. Já a professora Maria coloca o sujeito da aprendizagem como um ser auto-suficiente, deixando a dúvida do entendimento da pergunta. Desta forma, percebe-se que as professoras não utilizam em suas práticas o trabalho simultâneo de alfabetização e letramento. Entretanto, alfabetizar letrando possibilita ao aluno lidar com a escrita e leitura nas mais diversas situações de seu cotidiano, adquirindo consciência do que está aprendendo, abandonando a forma mecânica que permeava ou quem sabe ainda permeia as salas de alfabetização. No intuito de perceber quando os alunos são considerados pelas professoras alfabetizados e letrados, as próximas respostas permitirão as seguintes avaliações: 1) Professora Ana, demonstra melhor a diferença entre letrar e alfabetizar, considerando que saber ler e escrever torna o indivíduo alfabetizado e o ato de interpretar o mundo condiciona-o como sujeito letrado; 2) Professora Paula, entende por alfabetizado aquele que se apropria do código escrito, sendo que, a partir dele, desenvolve suas produções escritas, e, relacionando estas construções ao que está à sua volta, chega à compreensão de letrado; 3) Professora Maria entende por alfabetizado o que mais se adequa à idéia de letrado. E- Quando se pode dizer que uma criança ou um adulto estão alfabetizados? Quando se pode dizer que estão letrados? Ana: Eles estão alfabetizados quando sabem ler e escrever. Eles estão letrados quando sabem ler e interpretar o mundo de forma oral ou escrita. Paula: Quando conseguem decifrar o alfabeto e utilizá-lo fazendo correspondência letra fonema e assim produzirem e lerem o produzido/escrito. Letrado apropriado do alfabeto e sua utilização discorrem sobre a leitura e escrita se apropriando do mundo ao entorno. Maria: O aluno ou o adulto estão alfabetizados quando adquiriram as habilidades contempladas, interagem e mudam de comportamento seguindo novos rumos tanto para si como para seus familiares. Alfabetização e letramento são processos independentes e indissociáveis. Para tanto, conseguir alfabetizar e letrar os alunos de forma concomitante seria um meio de favorecer a melhoria na qualidade da aprendizagem dos indivíduos, principalmente nas turmas de EJA, pois proporcionaria a eles um ensino que não só respeitasse suas experiências, mas também se valesse delas para a formação. A pergunta seguinte procurou identificar se as professoras em sua prática percebem o processo de alfabetizar jovens e adultos na perspectiva do letramento como algo que favorece o desenvolvimento de habilidades no âmbito individual e social dos alunos. As respostas apontam que as professoras reconhecem a importância da contextualização das experiências dos alunos, no ato de alfabetizar letrando, acreditam que assim tornam os alunos críticos e reflexivos, rompendo barreiras e facilitando novas possibilidades para que eles aprendam. E- De que forma, alfabetizar jovens e adultos na perspectiva do letramento poderá contribuir para a transformação do individuo, de maneira que ele possa desenvolver as competências técnicas, sociais e comunicativas para o seu processo de desenvolvimento individual e social? Ana: Se você proporcionar ao grupo um conhecimento que parte da sua vida social, fica mais fácil para a sua compreensão. Ele se tornará critico e reflexivo. Paula: Levando/conduzindo o adulto a apropriar-se do seu entornoconhecimento de mundo. Maria: A partir do momento que o aluno adquire novos conhecimentos, passa a ter uma nova visão de mundo, sente-se capaz de produzir, lutar por seus ideais, romper fronteiras. A sétima pergunta foi realizada com a intenção de verificar qual a compreensão que as professoras têm com relação ao trabalho de intervenção didática e, deste modo, perceber o significado que o mesmo tem para elas. Para tanto, obteve-se as seguintes respostas: E- O que você entende por intervenção didática? Ana: Intervenção didática são ações voltadas para o desenvolvimento da aprendizagem. Elas são feitas de acordo com a necessidade do indivíduo ou grupo. Paula: Intervenção adequada, coerente, na medida do necessário e quando necessário possibilitando o indivíduo interagir e construir seu conhecimento. Maria: O processo de intervenção deve ser realizado quando necessário para apoiar, dar suporte e facilitar a aprendizagem. O educador deve estar atento quando e como fazer a intervenção. Percebe-se que as respostas dadas pelas três professoras seguem o princípio de que só se deve realizar a intervenção quando necessárias, isto de acordo com as suas avaliações. Entretanto, a intervenção, poderia ser exercida através de práticas educativas elaboradas, refletidas e planejadas, com a intenção de promover a aprendizagem com objetivos previamente organizados que façam essa intervenção ajudar na aprendizagem dos alunos, sendo assim, torna-se um prejuízo a restrição dessa ação. De acordo com a pergunta anterior, buscou-se saber de que maneira as professoras promoveriam as suas intervenções didáticas. As respostas foram as seguintes: E- Você utiliza a intervenção didática como prática pedagógica? Se sim, como? Ana: Através de atividades, jogos, projetos, ou seja, todos os recursos necessários para desenvolver o conhecimento do grupo ou indivíduo. Paula: Sim. Resposta (6)- Intervenção adequada, coerente, na medida do necessário e quando necessário possibilitando o individuo interagir e construir seu conhecimento. Maria Sim, acompanhando o processo de aprendizagem do aluno e intervindo quando se fizer necessário. Observa-se que as respostas da professora Paula e da professora Maria são semelhantes, demonstram uma casualidade em suas intervenções, na medida em que narram apenas intervir quando necessário, diferem da professora Ana que diz organizar e realizar suas práticas utilizando de várias estratégias, como tentativa de alcançar seus objetivos. A nona pergunta refere-se à seleção e organização dos conteúdos, já que, para realização dessas análises, deve-se ter, como ponto de partida, a determinação das finalidades ou objetivos da educação. As professoras responderam da seguinte forma: E- Quais os critérios que você utiliza para selecionar e organizar os conteúdos? Ana: O professor deve ter um critério de trabalho. Planejar é “indispensável”! Se o professor trabalha com projeto, “como eu”, tem que elaborar um que seja o perfil da turma. Em um projeto existem elementos que aprendam a selecionar e organizar os saberes que norteiam todo critério para prática em sala. Paula: Partir de uma sondagem de interesse prévio dos alunos (dia-a-dia, profissões, programas de TV, músicas, receitas, cardápios, folhetos de mercado, jornais) e a partir daí desenvolver atividades que despertem e atendam o interesse dos alunos. Maria: O diagnostico da turma, sondagens, conversas informais, relatos, observações. A priori, a professora Ana foca na preparação de um trabalho que deixa clara a ação pretendida, para depois selecionar e organizar os conteúdos, avançando para suas finalidades. As professoras Paula e Maria procuram dar mais atenção àquelas aprendizagens realizadas em sala de aula que não necessariamente estão visíveis nos planos de ensino, para que possam ser avaliados com mais coerência, pois essa prática esconde as ideologias e as intenções das professoras, inclusive no que diz respeito a que tipo de formação quer dar a seus alunos. A última pergunta faz relação aos desafios encontrados pelas professoras no trabalho com Educação de Jovens e Adultos. As respostas foram quase que unânimes: despertar interesse e manter a freqüência nas aulas. E- Para você, qual o maior desafio do professor na educação de jovens e adultos? Ana: Compreender o desejo do grupo e conquistar sua amizade. Como diz Paulo Freire, “em um ambiente de camaradagem tudo se aprende”. Paula: Mantê-los interessados e freqüentando. Maria: O maior desafio nos dias de hoje é fazer com que o aluno permaneça na escola, diminuindo a evasão. As aulas precisam ser interessantes, o planejamento bem formulado a educação precisa caber nos arranjos de vida do aluno para que o processo aconteça. .A evasão está atrelada a diversos fatores, no entanto, o desinteresse em freqüentar a escola está vinculada as aulas demasiadamente expositiva que são consideradas densas, tediosas. Trabalhar com essa modalidade exige ainda mais do professor, estar sempre trazendo propostas que tenham um significado para eles, que sejam atraentes, que façam parte de suas realidades, para que, desta forma, eles possam se sentir mais estimulados. Os resultados apresentados pelas professoras com relação à alfabetização e letramento mostram a reprodução da confusão que ainda existe entre os dois conceitos. Na educação, atualmente, discute-se muito as questões referentes à importância do ato de alfabetizar, possibilitando ao aluno não só conhecer os símbolos que compõem o código escrito, mas também desenvolver, na prática, suas habilidades de escrita e interpretação, auxiliando na sua formação integral. Desta maneira, faz-se necessário uma reflexão do trabalho que os professores estão desenvolvendo nas turmas de alfabetização. No que diz respeito ao trabalho de intervenção didática e os critérios utilizados para selecionar e organizar os conteúdos percebe-se uma grande falha, não há planejamento por parte de algumas professoras, chega ser uma imprudência. Como atingir os objetivos sem planejar? Como garantir eficácia do ensino sem intenções? Dificilmente o professor desenvolverá um bom trabalho sem planejamento, o que não quer dizer que ele tenha que seguir um modelo pronto e acabado, ao contrário, o professor deve refletir didaticamente sobre sua prática, pensar no cotidiano sobre o saber fazer em sala de aula, para não escorregar na mesmice metodológica de utilização dos mesmos (LEAL,2006,p.4-5) recursos e das invariáveis técnicas de ensino. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação não é neutra, através das ações metodológicas existe uma concepção de valor que se atribui ao ensino e aos tipos de sujeitos que se pretende formar. Nesse aspecto, surge a necessidade de realizar uma reflexão sobre a prática docente, a importância de saber sistematizá-la e organizá-la em função de determinados fins e objetivos. No entanto, o que se pode observar com a pesquisa realizada é que o professor atribui pouca importância a sua mediação no processo de ensino e aprendizagem. É prejudicial, pois o professor é um dos principais agentes com subsídios para transformar a educação através de uma prática pedagógica consciente e renovadora, com metodologias coerentes à realidade dos educandos, o que merece um reforço ao tratar da Educação de Jovens e Adultos. A mediação e a intervenção como prática pedagógica merecem destaque quando realmente deseja alcançar a eficácia do ensino. O planejamento é, sem dúvidas, de fundamental importância nesse processo. Segundo Tavares: A intervenção como prática pedagógica somente se constitui como processo de ensino-aprendizagem quando está atrelada a um planejamento com delimitação de objetivos e de práticas pedagógicas contínuas disponíveis à avaliação e à reavaliação possibilitando uma sistematização das práticas de ensino-aprendizagem. Se as ações de intervenção não são planejadas e avaliadas, estas passam a ser ações interventivas fragmentadas e imediatas. Ações que se tornariam processo se fizessem parte de um planejamento com objetivos, conteúdos, métodos e avaliações definidas e inter-relacionadas. Sem uma articulação entre as partes de um planejamento fica bem mais difícil para os professores criarem estratégias que explorem e valorize suas ações interventivas. (TAVARES,2008, p. 56) Certamente esse é um processo que requer tempo, preparo, no entanto, pelo que foi observado, torna-se imprescindível inovar a prática, mudar por vezes a proposta. Não basta apenas transmitir o conhecimento, é preciso contextualizá-lo, o que se torna ainda mais desafiador para o docente que tem sua formação em EJA, pois os alunos dessa modalidade já chegam à escola com saberes bastante sedimentados devido à sua trajetória de vida. No que tange o estudo sobre alfabetização e letramento realizado neste trabalho e os resultados obtidos pela pesquisa, chegou-se à conclusão da necessidade existente de aproximar, no campo da educação, teoria e prática dos conceitos abordados. Observa-se na pesquisa que as professoras não perceberam a sutil diferença que existe entre o processo de alfabetização e letramento, havendo um equívoco em suas respostas, caso contrário, saberiam utilizar adequadamente as estratégias desses dois processos sem deixar prender a um dos extremos. Nesse sentido, na busca do entendimento do que é letrar e alfabetizar, pode-se citar textualmente Soares: [...] distingue essas duas concepções enfatizando que alfabetização e letramento são processos distintos, de natureza interdependente e indissociável. A alfabetização não precede, nem é pré-requisito para o letramento, pois pessoas analfabetas, por estarem inseridas no contexto letrado, possuem um nível de letramento, o que pode ser visto como uma conseqüência da imersão na cultura letrada. A alfabetização faz parte de um contínuo linear, com limites claros. Passa-se de analfabeto a alfabetizado. Já o letramento é um processo contínuo não-linear, multidimensional, ilimitado, sempre em permanente construção. (SOARES,2003, p. 93) Ao conseguir distinguir a diferença dessas duas concepções, os educadores de jovens e adultos devem constantemente incentivar situações de aprendizagem nas quais os sujeitos envolvidos possam fazer uso social da escrita em seu cotidiano, ou seja, não somente ensinar a ler e escrever, mas, também, envolver esses sujeitos em situações de leitura e escrita. Por fim, esse trabalho proporcionou inúmeras reflexões, principalmente no que diz respeito à identidade profissional pretendida. Existe uma diferença entre ser professor e educador, de educar e ensinar. A responsabilidade de ser um educador e educar é bem maior, é uma entrega total, é doar o que você tem de melhor sempre, é estar atento às necessidades do seu educando, é ser flexível, é ser apaixonado pelo que faz. As limitações existirão, é importante nunca deixar de acreditar e sonhar. Educar é acima de tudo um ato de amor. REFERÊNCIAS ARROYO, Miguel G. Educação de jovens e adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. In: SOARES, L; MEC/UNESCO, 2006. BECKER, Fernando. O que é construtivismo? Revista de Educação AEC, Brasília, v. 21, n. 83, p. 7-15, abr./jun. 1992. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEE, 1997. CORTI, Ana Paula; VÓVIO, Cláudia Lemos. Jovens na alfabetização: além das palavras, decifrar mundos. Brasília: Ministério da educação. 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APÊNDICE ROTEIRO DE ENTREVISTA: 1- Para você o que significa alfabetizar? 2- Para você o que significa “letrar”? 3- Quais as diferenças entre alfabetizar e “letrar”? 4- Como alfabetizar “letrando”? 5- Quando se pode dizer que uma criança ou um adulto estão alfabetizados? Quando se pode dizer que estão letrados? 6- De que forma, alfabetizar jovens e adultos na perspectiva do letramento poderá contribuir para a transformação do individuo, de maneira que ele possa desenvolver as competências técnicas, sociais e comunicativas para o seu processo de desenvolvimento individual e social? 7- O que você entende por intervenção didática? 8- Você utiliza a intervenção didática como prática pedagógica? Se sim, como? 9- Quais os critérios que você utiliza para selecionar e organizar os conteúdos? 10- Para você, qual o maior desafio do professor na educação de jovens e adultos?