Tendinose de Calcâneo O tendão de Aquiles é o tendão comum dos músculos gastrocnêmio e sóleo. Insere-se na face posterior do calcâneo. A lesão ocorre em uma área hipovascular, localizada entre 2 e 6 cm proximais à inserção. É uma lesão persistente por excesso de uso, sua causa é multifatorial e a avaliação completa é essencial para identificar e abordar os fatores etiológicos. As sobrecargas repetitivas de um tendão podem dar origem a uma resposta inflamatória, ou tendinite. A tendinite geralmente tem um inicio súbito. Inicialmente o atleta relata uma dor sutil no tendão após uma demanda de exercícios. Quando o atleta continua com as mesmas atividades físicas, sem tratamento, a dor passa a aparecer durante os exercícios e persiste até nas atividades diárias. Pode assim, evoluir para um processo degenerativo, predispondo roturas . Khan et al reportaram os achados de vários estudos histopatológicos onde se encontrou ausência de células inflamatórias, degeneração do colágeno e alterações nos sinais de RM e Ultrasom em tendões do manguito rotator, extensor radial curto do carpo, patelar e Aquileu. Dada a ausência de células inflamatórias podemos assumir que o termo tendinite é incorreto já que o sufixo “ite” denota inflamação. Khan et al cita a modificação realizada por Bonar sobre a classificação de Clancy como a mais confiável para identificar tendinopatias. Esta classifica as tendinopatias em tendinose, tendinite, paratenonite e paratenonite com tendinose. A tendinose é uma condição caracterizada pela degeneração do colágeno e ausência de células infamatórias e perda da orientação normal das fibras de colágeno assim como de seu diâmetro. A tendinite é uma condição onde há degeneração e infiltrado inflamatório no tendão. Os estudos histopatológicos em humanos refutam este achado não tendo sido demonstrado a presença de células inflamatórias no tendão mesmo quando este havia sido operado rapidamente até quatro meses após o início da dor . Enwemeka demonstrou em estudos com animais que é possível a presença de células inflamatórias no tendão posterior à secção cirúrgica do mesmo. Ainda que tenha sido usado um modelo para simular a inflamação do tendão e não o overuse, após 7 dias da secção, uma matrix colágena abundante, similar ao de outros estudo cirúrgicos, foi observada. A paratenonite é uma condição onde há inflamação do paratenão e clinicamente se observa crepitus os nível do tendão lesionado e a paratenonite com tendinose é uma combinação de inflamação do paratenão com degeneração colágena do tendão. Essa é a terceira lesão tendinosa mais freqüente, superada apenas pela lesão do manguito rotador e do mecanismo extensor quadricipital. O crescente aumento das atividades esportivas em adultos vem contribuindo para o aumento na incidência dessas lesões. A maioria dos casos ocorre em homens, entre 30 e 50 anos de idade, durante práticas de atividades esportivas, tendo pequena predileção pelo lado esquerdo. São vários os fatores biomecânicos (intrínsecos) que predispõem à lesão deste tendão. Entre eles destacam-se a rotação excessiva do pé para dentro (pronação), o hábito de utilizar em demasia a extremidade posterior do calcanhar (examinando o salto das sapatilhas de desporto, nota-se onde há mais desgaste), as pernas arqueadas, a excessiva tensão do tendão dos músculos poplíteos e dos músculos da panturrilha (gastrocnêmio e sóleo), os arcos dos pés muito pronunciados, os tendões de Aquiles demasiado tensos e as deformidades do calcanhar. Entre os fatores extrínsecos, destacam-se o treinamento excessivo, as alterações repentinas no volume, intensidade ou em ambos, superfícies de treinamento muito firmes como concreto e asfalto, além de calçado inadequado. As teorias fisiopatológicas mais aceitas para essa injúria são a degenerativa, na qual microtraumas repetitivos em uma área hipovascular provocariam a lesão e a falência do mecanismo inibitório da unidade musculo-tendínea. Os principais mecanismos de trauma indireto sugeridos são flexão plantar do tornozelo com joelho estendido, no início da corrida; dorsiflexão súbita do tornozelo e dorsiflexão violenta após flexão plantar, como uma queda de altura. O início da tendinite costuma ser gradual ou insidioso. O atleta queixa-se de dor intensa e constante após a atividade , por exemplo, durante ou após a corrida, o atleta pode observar um discreto edema na região da dor e dor ao realizar fortalecimento e ou alongamento da panturrilha. Por se tratar de uma lesão produzida pela contração, a dor costuma aumentar com a dorsiflexão passiva e a flexão plantar resistida. A tendinite provoca, em 70% dos casos, dor matinal e, em 90% dos casos, encontramos alterações estáticas dos pés (60% pés cavos e 30% pés planos valgos). Estima-se que atue sobre o tendão de Aquiles uma força equivalente a 6 a 8 vezes o peso do corpo durante a corrida. Desse modo, todas as atividades de salto que superem a resistência máxima do tendão de Aquiles podem provocar ruptura do tendão na área hipovascular. O diagnóstico de lesões de tendão de Aquiles deve ser precoce, para melhor resultado final. O tratamento a ser instituído deve ser individualizado, levando- se em conta a idade, o nível de atividade esportiva. O tratamento conservador apresenta bons resultados, sendo uma opção terapêutica viável O aspecto mais desafiador da reabilitação é preparar o complexo músculotendíneo para suportar as forças repetitivas de até 10 vezes o peso corporal, sem traumatizar o tendão. O tratamento ainda é alvo de controvérsia na literatura. Trabalhos mostram resultados conflitantes. Arner e Lindholm, em 1959, foram os primeiros a propor tratamento conservador, através de imobilizações gessadas, apresentando apenas seis casos. A partir de 1972, esse tratamento ganhou impulso, com os bons resultados mostrados por Lea e Smith. Desde então outros autores também relataram seus êxitos com essa modalidade terapêutica. Os objetivos principais com este paciente são: mobilização articular, treino proprioceptivo, manutenção da força muscular e treino correto do gesto esportivo. A conduta utilizada foi mobilização de calcâneo, mobilização ativa de tornozelo, exercícios de fortalecimento da musculatura flexora, extensora, inversora e eversora de tornozelo e treino do gesto esportivo. Orientação quanto ao movimento correto, tipo de calçado usado, alongamentos da panturrilha e tendão, foi repassado ao paciente. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO A literatura é controvérsia quanto ao tipo de tratamento a ser instituído. Alguns autores advogam procedimentos cirúrgicos, através das mais variadas técnicas, enfatizando o menor número de recidivas, porém apresentando grande número de complicações maiores como infecção, deiscência de ferida, fístula, necrose de pele e tromboembolismo que afetam o resultado final. Na quase totalidade das técnicas descritas a imobilização é necessária no pós-operatório. Já com relação ao tratamento conservador, essas complicações maiores não ocorreram e o índice de recidivas é baixo, salientando-se que um novo tratamento é efetivo nesses casos. O tratamento cirúrgico constou de sutura do ligamento roto e da cápsula articular com fios de absorção lenta. É de se considerar que em todos os casos de resolução cirúrgica havia rotura completa da cápsula articular anterior do tornozelo. A imobilização pós-operatória constou de aparelho gessado suropodálico durante três semanas sem carga e duas semanas com aparelho gessado ambulatorial. TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO O tratamento conservador é o de escolha. No estágio subagudo, deve ser aplicada tensão ao tendão de Aquiles para estimular a produção de colágeno e para direcionar apropriadamente as fibras ao longo das linhas de estresse. Realizou-se com o paciente alongamento deste complexo, após a realização de uma bandagem estabilizando o tendão. As bandagens funcionais, ferramenta essencial na reabilitação, promovem uma rápida recuperação e evita a perda da função do atleta, pois promove um retorno precoce a atividade ou competição esportiva dentro de uma amplitude cuidadosa, com a área lesada protegidas por eventual lesões futuras e lesões compensatórias. Diferente da maioria dos tecidos moles que necessitam de 7 a 10 dias para cicatrizar, a cicatrização primária do tendão leva em torno de 6 semanas para adquirir a resistência necessária para transmitir efetivamente a força gerada por seu músculo homônimo. Realizou-se com o paciente uma sessão de ultra-som com o objetivo de acelerar a cicatrização. Após alongou-se o tendão de Aquiles e saltos repetitivos foram feitos sem relato de dor. Houve quatro sessões para o tratamento. Logo, respeitou-se a fase da lesão do paciente antes de realizar qualquer atividade. Até o presente estudo, foram utilizados alongamentos, bandagem, ultra-som, e propriocepção como conduta do tratamento. Verificou-se melhora na dor e maior mobilidade do calcâneo após a realização da bandagem. Conclui-se que com o ganho de mobilidade do calcâneo, a força tênsil exigida do tendão é reduzida, aliviando a dor e diminuindo o estresse. Um tratamento baseado no fortalecimento do complexo gastrocnemio- solear e tendão calcâneo aumenta a força de resistência do mesmo reduzindo recidivas e melhorando a mobilidade articular.