PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMETNO REGIONAL: A SUDECO E OS EFEITOS DE SUA ATUAÇÂO NO CENTRO-OESTE BRASILEIRO Rodrigo Lima Beda 1,3; Dulce Portilho Maciel2,3 RESUMO No Brasil, o Estado tem desempenhado função essencial no seu desenvolvimento econômico, principalmente no aspecto do planejamento que visa corrigir as distorções do mercado, a fim de levar o país a um desenvolvimento equilibrado. A região Centro-Oeste, outrora sem destaque no contexto brasileiro quanto ao aspecto de desenvolvimento econômico, hoje possui elevados índices de desenvolvimento econômico. Isto se deve consideravelmente a atuação da Superintendência de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste – SUDECO -, órgão do governo federal que atuou na coordenação e acompanhamento de planos e programas concernentes a esta região, durante o regime militar. Palavras-chave: planejamento, desenvolvimento, Centro-Oeste. Introdução No presente estudo, busca-se compreender os planos e programas executados por meio da Superintendência do Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (SUDECO), entre 1968 e 1990. Esta instituição, cuja existência transcorreu, na sua maior parte, durante o regime militar, foi um órgão planejador, normativo e coordenador de ações, levadas a efeito por outras esferas de governo (estaduais e municipais) e pela iniciativa privada na região Centro-Oeste do Brasil. Esta instituição contribuiu para as transformações operadas, nesta região, tais como: modernização agrícola, povoamento mediante migração dirigida, processo de urbanização acelerada, entre outras. 1 Bolsista PBIC/UEG Pesquisadora – Orientadora 3 Curso de História-licenciatura, Unidade Universitária de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas 2 2 Material e Métodos Este estudo fundamenta-se numa pesquisa em fontes documentais primárias, entre elas, o acervo da Superintendência do Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (SUDECO), atualmente guardado no Arquivo Nacional – Coordenação Regional do Distrito Federal. O método adotado é o exame exaustivo do conjunto documental da referida instituição, além de leituras bibliográficas acerca do tema. Resultados e Discussão O planejamento econômico foi praticado no inicio do século XX, inicialmente nos países socialistas e, posteriormente, nos países capitalistas. Antes da década de 1930, em países capitalistas acreditava-se no automatismo do mercado para equilibrar a economia e na teoria do laissez-faire. O princípio do laissez-faire era de que o mercado levaria ao melhor dos mundos; porém, com as crises cíclicas do sistema capitalista – superprodução, desemprego, etc. – essa teoria passou a ser contestada. Após a crise de 1929, surge a teoria Keynesiana, a qual afirmava que o mercado não poderia ser automático, que exigia a intervenção do Estado para corrigir suas distorções. O Estado, também nos países capitalistas, passou a ter um papel importante na economia, intervindo, direta e indiretamente, na prevenção e correção de distorções no seu desenvolvimento. De acordo com Betty Mindlin Lafer (1997), o planejamento do Estado numa economia capitalista pode abranger uma parte ou totalidade da economia de um país. O planejamento pode ser destinado a setores da economia que estejam em desequilíbrio, ou a regiões para as quais se busca o desenvolvimento. O uso de técnicas de planejamento tem em vista produzir o equilíbrio entre os níveis da produção e da demanda por bens. Tem em vista, também, o crescimento da renda per capita. O fracasso ou sucesso do planejamento deve-se, em grande parte, a organizações administrativas e burocráticas instituídas para sua implementação. Anita Kohn (1999) afirma que, no Brasil, as tentativas de organizar a economia através do planejamento datam da década de 40 do século XX, contidas no Relatório Simonsen (1944-1945), nos diagnósticos da Missão Cooke (1942-1943), da Missão Abbink (1948), da comissão Mista Brasil-EUA (1951-1953) e no Plano Salte (1946). 3 Entretanto, a primeira experiência de planejamento global e contínuo, efetivamente aplicada no país, data de 1956, com o Plano de Metas. Posteriormente, a partir de 1961, foi implantado, ainda que parcialmente, o Plano Trienal de Desenvolvimento, durante o governo do presidente João Goulart. Roberto Macedo (1997) analisa este plano e afirma que, mesmo com o fracasso do Pano Trienal, quanto ao desenvolvimento econômico e a política inflacionária, este contribuiu para intensificar o planejamento no país, ajudando a compreender a realidade econômica brasileira e ordenando os problemas com base em pesquisas realizadas no período. Celso L. Matorne, ao analisar o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG) (1964-1966,), verifica os resultados da política econômica implantada, tanto no que se refere ao desenvolvimento econômico, quanto ao controle da inflação. Segundo este autor, apesar das contradições internas da estratégia de política econômica do PAEG, o plano representou uma mudança na mentalidade dos governantes em relação ao problema inflacionário, pela primeira vez encarada seriamente. Segundo Denysard Alves e João Sayad, o Plano Estratégico de Desenvolvimento (1968-1970), apresenta as diretrizes gerais que irão nortear o programa Metas e Bases para a Ação do Governo (1970-1973). Amaury Patrick Gremaund e Julio Manuel Pires analisam o programa Metas e Bases e o I Plano Nacional de Desenvolvimento - I PND (1970-1974), nos quais o objetivo síntese era levar o Brasil a ingressar no mundo desenvolvido. O principal problema diagnosticado no documento era o a atraso tecnológico existente no país. Frente ao objetivo e ao diagnóstico, as diretrizes para a ação foram: modernizar as áreas desenvolvidas da sociedade; aproveitar ao máximo os recursos humanos; e aproveitando a dimensão continental do país, promover o progresso de áreas novas e ocupar áreas vazias. Conforme aqueles autores, durante a vigência do II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND (1975-1979), as empresas estatais tiveram um papel fundamental, pois iriam atuar onde o setor privado não tinha condições de atuar. Durante o regime militar, a prática de planejamento era rigorosamente técnica e a implementação de atividades caracterizava-se pelo autoritarismo, ignorando-se aspirações e interesses regionais ou locais, e mesmo, circunstancias necessidades de urgente intervenção governamental, decorrentes de causas naturais ou outras. A SUDECO teve desempenho significativo, no sentido de planejar e coordenar ações, mediante convênios com estados, municípios e a iniciativa privada. No acervo documental desta instituição encontram-se fontes primárias que confirmam o importante 4 papel por ela desempenhado, na fomentação do desenvolvimento regional do CentroOeste brasileiro. Entre as diversas linhas de ação desta instituição cabe destaque a política regional para modernização agrícola e o avanço na ocupação de áreas para produção de grãos, bem como para a implantação de agroindústrias. Esta instituição atuou também no ordenamento de processos de migrações internas, de modo a incorporá- las eficientemente ao processo produtivo da região, o que resultou no crescimento populacional e, consequentemente, na aceleração do processo de urbanização. Conclusões Nos últimos anos, a região Centro-Oeste vem apresentando elevados índices de crescimento econômico, com um progressivo aumento de sua participação na formação do PIB nacional, em face das demais regiões brasileiras. Possui hoje uma das rendas per capita mais altas do Brasil e sua taxa de urbanização é idêntica à das regiões Sudeste e Sul, tradicionalmente, as mais desenvo lvidas do país. Essa região, por outro lado, vem se apresentando receptiva aos novos fenômenos da modernização, em geral, e principalmente no que se refere a métodos de produção, tanto em atividades econômicas urbanas, quanto nas rurais, principalmente nestas últimas. Parte desta produção destinase a mercados internacionais. Tudo isto guarda relação, por certo, com as intervenções no governo federal em seu território, efetuadas no passado, 3 principalmente por meio da SUDECO. Fonte primária ARQUIVO NACIONAL – Coordenação Regional do Distrito Federal, fundo: Superintendência do Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (SUDECO) 3 A atuação da SUDECO na região Centro-Oeste foi antecedida pela ação de uma outra instituição do governo federal, a Fundação Brasil Central – FBC -, criada em 1943 e extinta em 1967, quando da constituição daquela Superintendência. Para uma melhor compreensão acerca da atuação do Estado nessa região, vejam-se dois artigos de Dulce Portilho Maciel: Fundação Brasil Central: sua conturbada trajetória e o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro; Estado e meios de transporte no sertão brasileiro (1905-1968): Estrada de Ferro Tocantins – frágil elo vital na rota Goiás-Belém do Pará. 5 Referências Bibliográficas ALVES, Denysard O.; SAYAD, João. 1997. O Plano Estratégico de Desenvolvimento (1968-1970). In: LAFER, Betty. (org.) Planejamento no Brasil. São Paulo: Perspectiva, pp. 91-109. KON, Anita. 1999. Introdução: A Experiência Brasileira de Planejamento Público Federal. In: KON, Anita. (org.) Planejamento no Brasil. São Paulo: Perspectiva, pp. 1539. GREMAUND, Amaury Patryk ; PIRES, Julio Manuel. 1999. “Metas e Bases” e I Plano Nacional de Desenvolvimento. In: KON Anita. (org.) Planejamento no Brasil II. São Paulo: Perspectiva, pp. 41-66. ___________. 1999. II Plano Nacional de Desenvolvimento. In: KON Anita. (org.) Planejamento no Brasil II. São Paulo: Perspectiva, pp. 67-101. LAFER, Betty Mindlin. 1997. Introdução: O conceito de Planejamento. In: LAFER, Betty. (org.) Planejamento no Brasil. São Paulo: Perspectiva, pp. 9-28. MACEDO, Roberto B. M. 1997. Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social (1963-1965). In: LAFER, Betty. (org.) Planejamento no Brasil. São Paulo: Perspectiva, pp. 51-68. MACIEL, Dulce Portilho. Estado e meios de transporte no sertão brasileiro (19051968): Estrada de Ferro Tocantins – frágil elo vital na rota Goiás-Belém do Pará: In: XXVI International Congresso of the Latin American Studies Association, 2006, San Juan – Puerto Rico. MACIEL, Dulce Portilho. Fundação Brasil Central: sua conturbada trajetória e o desenvolvimento do Centro-Oeste brasileiro. In: IV Colóquio sobre transformaciones territoriales. Sociedad, Território y Sustentabilidad: perspectivas desde el dessarrollo regional y local, 2002, Montevideo.