Thomas Paine e a Revolução Americana por Juliana Mattos, Raíssa Freitas e Rayssa Ramos Thomas Paine nasceu em Thetford Norfolk, Inglaterra, no ano de 1737, filho do quaker Joseph Paine, um costureiro de espartilhos, e da anglicana Frances Cocke Pain. Estudou na Thetford Grammar School e aos treze anos se tornou aprendiz do pai. Até seus 15 anos, Paine parecia ser um jovem como outro qualquer, mas, aos 16 anos, a sua primeira escapada em busca de liberdade ocorreu. Fugindo do aprendizado que o seu pai tentava impor, foi sua intenção se lançar ao mar, todavia só faria isso de fato aos 19 anos. Com o início da guerra entre Inglaterra e França, o jovem havia conseguido embarcar em um bom navio. Após 6 meses, retornou a Londres e a temporada que passou por lá se tornou decisiva em sua vida, já que teve contato com um antigo professor, pintor e astrônomo James Ferguson, e através dele foi apresentado a Benjamim Franklin, que o ajudou a migrar para a América. Chegando à América, deparou-se com uma articulação para enfrentar a política inglesa que feria as conquistas feitas até então. Era o ano em que, na Filadélfia, reunia-se o primeiro Congresso Continental. Quando desembarcou, a crise colonial e a relação com a metrópole já eram caóticas. Londres estabelecia novos impostos para as colônias e decidiu usá-las para escoar produtos excedentes causando um problema para as mesmas. 1 Estaria no lugar certo, na hora certa. Filadélfia era um lugar de hospitalidade com grandes grupos de discussões. Quando já se familiarizava com a cidade, foi convidado a inaugurar uma publicação em um jornal, The Pennsylvania Journal. Passou, quase de imediato, a ser editor, e mostrou-se um escritor nato. Ao longo de 1775, Paine usava alguns pseudônimos para produzir uma série de artigos; era um crítico do tráfico negreiro, e tornou-se, com o tempo, um abolicionista. No mesmo ano, nas batalhas entre tropas britânicas e “norte-americanas” a relação se tornou totalmente hostil. Paine assumiu posição em defesa da independência. Começariam suas falas e posturas sobre esta. Ao mesmo tempo, repelia armas, criticava o absolutismo quacre e aqueles que viam somente o interesse de sua própria colônia. Após ser demitido do jornal, o Common Sense seria seu objetivo e mudaria todo rumo da revolução. George Washington (1732-1799), que seria o primeiro Presidente dos Estados Unidos, prestou este testemunho: "O Senso Comum operou uma poderosa mudança de mente em muitos homens". Finalmente, em 10 de janeiro de 1776, era publicado o Common Sense. Nesse panfleto incomum, era captado o que as pessoas pensavam e ambicionavam naquele momento. Paine agora independência e reivindicava a uma nova forma de governo, a República, apelando para um possível orgulho “norte-americano”, daqueles que trabalharam a fim de construir uma nova sociedade. Acrescentava, também, a noção de liberdade religiosa, pois, embora a presença de várias vertentes cristãs, a Igreja da Inglaterra ainda monopolizava a ortodoxia. Assim, Paine era a favor do que se chamava de pluralismo confessional, isto é, liberdade religiosa. Acreditava, também, que os norte-americanos deveriam, antes de mais nada, se 2 desvincular da Inglaterra, já que qualquer guerra vinculada à Inglaterra levaria à ruina o comércio na colônia. A argumentação de Paine sobre a questão da guerra britânica influenciando a América do Norte, principalmente no seu comércio, foi definitiva. E Paine, diante daqueles que acreditavam não ser possível vencer o Império Britânico, empregou argumentos práticos para mostrar que era plausível. Passo a passo, reunia argumentos de maneira minuciosa, equilibrando a relação entre “felicidade e liberdade”. Não deixou nunca de demonstrar em seu panfletos que a luta das treze colônias era uma luta universal contra o poder das metrópoles. Ao longo destes, atacou a questão da monarquia e a predestinação da realeza de deter o poder por uma explicação “natural”. Não deixou de transparecer a influência de Hobbes, quando falava do governo como um mal necessário. Tratava das leis inglesas como propositalmente confusas. Por conta disso, dois tipos de tiranias emergiam: a monárquica e a tirania da nobreza. Apelava à fé religiosa, principalmente ao protestantismo. Seu objetivo em publicar um manifesto era informar ao mundo o que pensavam e queriam os norte-americanos. Desse modo, Paine listava uma série de abusos e pregava igualdade e respeito. Queria os direitos norte-americanos e por eles clamava, queria representatividade no Congresso e um vínculo permanente entre as colônias. Paine afirmava que a natureza era a primeira fonte dos direitos humano e natural. Nesse argumento, dizia que a ordem natural favorecia a independência, sendo este o “momento de semear”, e observando ser incomum um continente governado por uma ilha. Para Thomas Paine, “Cada rincão do velho mundo encontrava-se esmagado pela opressão. A liberdade foi perseguida em todo globo. (...) Ó, recebei a fugitiva, e preparai em tempo um abrigo para a humanidade.” (PAINE, Thomas. Common Sense, p.36) A posteriori, com preocupação de manter as forças na luta contra os britânicos, os panfletos de Paine levariam muitos homens a se alistarem no exército de Washington. E no decorrer da guerra, Paine continuou a produzir uma série de textos em forma de panfletos, além de ter participado efetivamente como soldado. Em outubro de 1781, os ingleses foram cercados e obrigados a se renderem, graças, também, ao aparato francês que Paine ajudara a buscar. 3 A guerra na América levaria a população à identificação com o novo país. Durante toda a guerra, o incentivo de Paine era que todos contribuíssem para a defesa do seu país. Embora tenha se voltado para questões políticas e militares na maior parte do tempo, ele tentara contribuir para um plano de inovação e apareceu com a proposta de construção de uma estrada de ferro. Foi, também, secretário da legislatura e ajudou a abolir o tráfico de escravos – motivo pelo qual devia , de fato, se orgulhar e que causaria completas mudanças. Era a favor, escrevendo, por isso, de mecanismos que diferenças entre pudessem resolver estados. as Participou ativamente do debate da Filadélfia em 1788 que geraria a estrutura básica da Constituição dos Estados Unidos, mas partiu antes de ficar pronta. De fato, Paine conhecia como ninguém a guerra pela independência e os momentos de caos existentes – motivo pelo qual continuou a publicar “A crise”. Acreditava que a grande nação propagava os princípios da sociedade universal. Voltando para a Europa, Paine, como cita Christopher Hitchens na biografia que escreveu sobre o personagem: “foi uma das tochas que continham a chama que Prometeu, com audácia, roubou dos deuses”. Em 1789, se encontrava na Europa quando eclodiu a Revolução Francesa, a que aderiu de pronto, passando mesmo a integrar a Assembleia Nacional. Foi nessa fase que publicou um outro panfleto com o título de Rigths of Man (Os direitos do homem), manifesto republicano democrático publicado em duas partes (1791-1792). Nessa obra, Paine mostra sua visão de uma sociedade igualitária fundamentada nos direitos naturais do cidadão. As detalhadas propostas – expostas na obra – sobre como o governo poderia assistir aos pobres inspiraram as gerações futuras. Na França, recebeu a cidadania honorária e foi eleito 4 membro da Convenção Nacional. Porém, sua posição contrária à execução de Luís XVI levou à sua expulsão da Convenção Nacional, sua prisão e condenação à morte, mesmo tendo conseguido escapar desta última, em 1793. Permaneceu na prisão até outubro de 1794, quando foi libertado e reconduzido ao Parlamento. Thomas Paine teve um final de vida infeliz, morreu pobre, sozinho e doente, acabou sendo esquecido. Apenas seis pessoas compareceram ao seu enterro, um amigo desenterrou seus ossos e tentou enviá-los para o Reino Unido para que Paine pudesse ter um enterro justo, porém não se sabe qual foi o destino de seus restos mortais. Paine mesmo tendo sido uma figura tão importante na Revolução Americana acabou ficando malvisto em consequência do seu deísmo e ateísmo e acabou rotulado como radical demais, ou seja, passava dos limites aceitos na época. Entretanto, fatalmente, onde existirem discussões sobre liberdade, seu nome sempre será mencionado. Homem que sempre foi fiel às suas ideologias políticas, Paine foi relembrado no bicentenário dos Estados Unidos da América, quando a questão da Revolução voltou a ser pesquisada. Na última década foram lançadas três biografias sobre ele. Percebe-se, portanto, que, apesar de anos de esquecimento no final de sua vida, voltou a receber a atenção merecida. Filmografia indicada sobre a Revolução Americana: 1. Revolução, de Hugh Hudson, filme que retrata a guerra da Independência a partir da historia de pai e filho que participam da guerra. Ficha do filme: Gênero: Aventura Tempo: 123 min. Lançamento: 1985 Direção: Hugh Hudson Produção: Irwin Winkler 5 2. O último dos Moicanos, de Michael Mann, uma maneira diferente de ver a guerra americana, a partir da história do indígenas na guerra de independência. Ficha do filme: Gênero: Aventura Tempo: 117 min. Lançamento: 1992 Direção: Michael Mann Roteiro: Michael Mann baseado no livro de James Fenimore Cooper 3. O Patriota, de Roland Emmerich, um pai de família americano que tenta manter seus filhos unidos em meio a guerra. Ficha do filme: Gênero: Ação e drama Tempo: 175 min. Lançamento: 2000 Direção: Roland Emmerich Roteiro: Robert Rodat Bibliografia: 1. BAILYN, Bernard. As origens ideológicas da Revolução Americana. Bauru: edusc, 2003. 2. HITCHENS, Christopher. Os Direitos do Homem de Thomas Paine [uma Biografia]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007 3. <http://books.google.com.br/books?id=Cuuq- nRQCuoC&pg=PA191&dq=thomas+paine&hl=ptBR&ei=r_58TsqkC42itgfjk6Bh&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=3&ved =0CDgQ6AEwAg#v=onepage&q=thomas%20paine&f=false> Acessado em: 28 de setembro 2011. 6 4. HOBSBAWM, Eric J. A Revolução Francesa. In: A era das Revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 2008. Cap. 3, p. 83-113. São Paulo: Paz e Terra, 2008. Cap. 3, p. 83-113. 5. HEALE, M. H. A revolução norte-americana. São Paulo: Ática, 1991. Jefferson, Thomas. Escritos políticos. Coleção Clássicos da Democracia. São Paulo:Ibrasa,1964. 6. PAINE, Thomas. O Senso comum e a Crise. Brasília: Editora da universidade de Brasília, 1982. 7. BERLIN, Ira. “Gerações revolucionárias”. In: Berlin, Ira. Gerações de Cativeiro: Uma História da Escravidão nos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Record, 2006. 7