SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA A UTILIZAÇÃO DE CÃES NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA THE USE OF DOGS IN THE INTENSIVE CARE UNIT PEREIRA, Cláudia1 FERRARI, Douglas² BARROS, Marcela³ RESUMO Este trabalho tem como objetivo discutir por meio de Revisão Bibliográfica, as principais características da utilização de cães dentro da unidade de terapia intensiva e sua relação com a melhora clínica e recuperação do paciente crítico. O uso de animais dentro do ambiente hospitalar ocorre com frequência em hospitais nos Estados Unidos, entretanto, no Brasil, o método é recente, com relatos desde 1997, e ainda faltam evidências cientificas que comprovem sua eficácia. As intervenções junto a pacientes que respondem verbalmente podem representar atuações mais seguras a Terapia Assistida por Animais (TAA). O Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais - INATAA é um exemplo que pode ser considerado, no sentido de apresentar resultados relacionados a melhoria na socialização do paciente, na comunicação, no controle físico e psicológico, dentre outros. Apesar da escassez de materiais sobre o assunto, conseguiu-se alcançar os objetivos do estudo. Assim, sugere-se aos profissionais da área da saúde maiores investigações sobre a TAA e seus benefícios a saúde dos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva. Palavra chaves: Terapia Assistida por Animais. Unidade de Terapia Intensiva. INATAA. ABSTRACT This paper aims at discussing through Literature Review, the main characteristics of the use of dogs in the intensive care unit and its relationship to clinical improvement and recovery of critical patients. The use of animals within the hospital environment occurs frequently in hospitals in the United States, however, in Brazil, the method is new, with reports since 1997, and still lack scientific evidence to prove their efficacy. The interventions with patients who respond verbally performances may represent a safer Animal Assisted Therapy (AAT). The National Institute of Shares and Animal Assisted Therapies - INATAA is an example that can be considered, in order to present results related to patient improvement in socialization, communication, physical and psychological control, among others. Despite the scarcity of material on the subject, we were able to achieve the study objectives. Thus, it is suggested to professionals in the health area for further exploration of the TAA and its benefits to health of patients admitted to the Intensive Care Unit. 1 Enfermeira da UTI Pediátrica do Hospital de Base Ari Pinheiro (RO), Aluna do Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva - SOBRATI ² Médico Intensivista, Diretor do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, Coordenador do site MedicinaIntensiva, Doutor em Terapia intensiva, Editor da Ri - Revista Intensiva. ³ Enfermeira da UTI Pediátrica do Hospital de Base Ari Pinheiro (RO), Mestre em desenvolvimento Regional pela Universidade Federal de Rondônia. Key word: Animal Assisted Therapy. Intensive Care Unit. INATAA. 1 INTRODUÇÃO A unidade de terapia intensiva (UTI) é uma área destinada à acomodação de pacientes críticos, onde proporciona condições de internação a pacientes graves em ambientes individuais ou coletivos, conforme grau de riscos, faixa etária, doença e requisitos de privacidade (KNOBELL, 2006). São unidades hospitalares destinadas ao atendimento de pacientes graves ou de riscos que dispõem de assistência ininterrupta, com equipamentos específicos próprios, recursos humanos especializados e que tem acesso a outras tecnologias destinadas ao diagnóstico e terapêutica (UENISHI, 2009). As UTIs surgiram a partir da necessidade de concentração de recursos materiais e humanos para o atendimento a pacientes graves em estado crítico porém, recuperáveis e, da necessidade de constante observação, centralizando o cliente em núcleo especializado. equipamentos que auxiliam na Para tanto, manutenção da são necessários inúmeros vida ou mesmo para prevenir complicações (GÊ et al, 2007). A UTI é um lugar onde se luta pela vida, por isso deve ter acesso a: laboratório de análises clínicas nas 24 horas do dia, aparelho de Raio X móvel, estudo hemodinâmico, angiografia seletiva, endoscopia digestiva, fibrobroncoscopia, eletroencefalografia (UENISHI, 2009). Dados do Ministério da Saúde (MS) informam que o Brasil conta com o total de 498.885 leitos de UTI, sendo 32.515 na região Norte, 128.658 na região Nordeste, 217.339 na região Sudeste, 80.556 na região Sul, 39.787 na região Centro Oeste. De 2003 à 2009, o Ministério da Saúde credenciou 5.305 leitos de UTI em todo o país. Isso representa um aumento de 47% do número de leitos disponíveis para a população brasileira (BRASIL, 2010). As patologias mais frequentes como causa de internação em UTIs são as respiratórias e cardiovasculares com ocorrências de complicações infecciosas. A infecção pulmonar é a mais frequente dentre as complicações infecciosas. Os pacientes infectados tem maior tempo de permanência na UTI causando aumento nos custos hospitalares (STRABELLI et al, 2008). A pneumonia é uma causa importante de internação nas UTIs. A incidência de pneumonia em pacientes de UTI varia de 9% a 68%, sua alta letalidade varia de 33% a 71% e a relação entre caso e fatalidade pode atingir 55%. Embora nem todas as mortes de pacientes com pneumonia sejam atribuídas a infecção, a pneumonia contribui para mortalidade nas UTIs independente de outros fatores sendo fortemente associada à morte desses pacientes (GUIMARÃES e ROCO, 2006). No Brasil em 2003, 27,4% dos óbitos foram decorrentes de doenças cardiovasculares (DCV). A principal causa de morte em todas as regiões do Brasil, excluídos os óbitos por causas mal definidas e violência, é o AVE, acometendo as mulheres em maior proporção. Entre fatores de risco para mortalidade, a hipertensão arterial sistêmica (HAS) explica 40% das mortes por AVE e 25% daquelas por doença coronariana (MANSUR et al, 2009). Os custos da unidade de terapia intensiva para a instituição podem atingir de 18% a 20% do orçamento hospitalar anual, graças aos custos ao incremento da assistência prestada aos avanços tecnológicos e ao contínuo aprimoramento dos recursos (PONTALTI & BITTENCOUT, 2008). Por ser uma unidade onerosa à instituição, é fundamental o conhecimento do perfil da população atendida. Para facilitar o tratamento dos pacientes dentro da unidade de terapia intensiva, surgiu à possibilidade de tratamento por animais, em especial, os cães. A utilização de animais dentro do ambiente hospitalar ocorre com frequência em hospitais nos Estados Unidos, entretanto, no Brasil, o método é recente, desde 1997, e ainda faltam evidências cientificas que comprovem sua eficácia (HOSPITAL SÃO PAULO, 2005). Os animais mais utilizados são cães e gatos, sendo as raças preferidas Golden Retriver e o Labrador. O cão tem de ser treinado para obedecer a comandos e ser isento de agressividade. É importante salientar que a terapia com cães não promete a cura de doenças, mas por outro lado proporciona benefícios físicos e mentais aos pacientes, tais como: melhoria da capacidade motora, dos sintomas da depressão, do sistema imunológico, diminui a ansiedade e a pressão sanguínea, aumentam a sociabilidade e sentimento de autoestima. Além dessas vantagens, temos a melhoria do clima hospitalar, pois com a presença dos cães no tratamento o ambiente hospitalar se torna mais favorável nas relações e comunicação entre as pessoas (HOSPITAL SÃO PAULO, 2005). Atualmente existem diversos profissionais da área de saúde que estão interessados neste tema, mas não possuem conhecimento sobre os animais. Por outro lado, existem profissionais que conhecem a veterinária, no entanto, sabem pouco sobre as pessoas. Ou seja, o estudo sobre o tema e a contextualização de diversas áreas é fundamental para este ramo. Neste sentido, o principal objetivo deste trabalho é descrever as principais características do uso de cães nas unidades de terapia intensiva, citando o Instituto INATAA como referência para a melhora clinica e recuperação do paciente crítico. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que busca explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos, teses e livros. A pesquisa bibliográfica segundo Cooper (1989) pode ser realizada independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental, mas em ambos os casos, buscam conhecer e analisar contribuições científicas existentes sobre um determinado assunto. A pesquisa terá como abordagem teórica uma análise qualitativa dos dados, diante da complexidade que representa o problema e da dinâmica do sujeito com o mundo, utilizando coleta de dados de artigos disponíveis sobre a utilização de cães na unidade de terapia intensiva. Para a formulação dos objetivos da revisão bibliográfica, primeiramente, selecionamos o tópico a ser revisado, recaindo a escolha sobre a utilização de cães na unidade de terapia intensiva. As bases de dados constituíram-se: Scielo, Sciencedirect, scopus, Lilacs. Diante dos artigos encontrados, construímos um banco de dados, o qual empregou-se um processo de análise e comparação dos títulos, segundo a utilização de cães na unidade de terapia intensiva. Adotando um caráter interpretativo, o qual se refere aos dados obtidos. As informações extraídas foram analisadas e interpretadas, quanto as suas divergências e convergências, sendo explicitadas através dos relatos no presente trabalho. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 A UTI Na condição de hospitalização o paciente passa a depender dos cuidados de outros, muitas vezes até para alimentação e higiene, onde o corpo do doente passa a ser o principal lugar de manipulações realizadas por muitas mãos: profissionais de enfermagem, médicos, estudantes e residentes. Além disso, a ruptura com a vida cotidiana, trabalho, amigos, família, provoca uma carência relacional, que acrescida à falta de informação acerca de sua situação clínica pode tornar a hospitalização penosa ao paciente. Somado a esses aspectos há também as dificuldades enfrentadas pelas condições do quarto em termos de privacidade, iluminação e lazer (TORALLES-PEREIRA ET AL, 2004). Segundo Caprara e Franco (1999), durante a hospitalização o paciente pode perder sua autonomia, sofrendo um processo de despersonalização. AngeramiCamon (1994) corrobora tal idéia ao salientar que o indivíduo hospitalizado deixa de ter nome, independência e passa a ser chamado pelo número do leito ou pelo nome de certa patologia. A Unidade de Terapia Intensiva é a área do hospital que oferece tratamento específico e intensivo ao paciente em estado crítico. Esta unidade é destinada a receber pacientes em cuidados paliativos, clínicos, pós-cirúrgicos e em estado grave com a possibilidade de recuperação. A procedência do paciente internado em UTI pode ser do centro cirúrgico, enfermarias e pronto-socorro, além de encaminhamentos de outros hospitais que não dispõe de recursos para tratar o paciente (PREGNOLATTO & AGOSTINHO, 2010). Conforme indicam Pregnolatto & Agostinho (2010), a equipe de saúde que trabalha na UTI é composta por um grupo permanente de médicos intensivistas, enfermeiro chefe, técnicos e auxiliares de enfermagem, sendo que a equipe volante é composta por psicólogos, fisioterapeuta, nutricionista e assistente social. O médico tem funções como atender às emergências, direcionar rotinas e cuidados, verificar medicações, prescrever medicamentos e exames, tomar decisões. A equipe de enfermagem (enfermeiro, técnicos) permanece ao lado do paciente, pois seu trabalho envolve cuidados e observações contínuas dos sinais vitais. O fisioterapeuta tem como foco de trabalho o auxílio no tratamento e recuperação do sistema respiratório e funções motoras. O psicólogo tem como objetivo avaliar a adaptação do paciente à hospitalização, avaliar o estado psíquico do paciente e sua compreensão do diagnóstico, além das reações emocionais frente à internação e à doença. Sendo que todos os profissionais devem estar voltados para um único foco: o paciente, o ser humano, internado na Unidade de Terapia intensiva (PREGNOLATTO & AGOSTINHO, 2010). A internação na UTI rompe bruscamente com o modo de viver do paciente e de seus familiares. Por ser uma unidade em que o risco de morte é iminente, com grande demanda, os procedimentos e a agilidade na assistência são exigências feitas aos profissionais que atuam em UTI. Essa tecnicidade parece interferir no relacionamento profissional–paciente, contribuindo para uma impessoalidade na relação e desencadeando ações pouco humanizadas. No entanto, a atitude de distanciamento e impessoalidade por parte da equipe de saúde pode ser uma estratégia utilizada para evitar envolvimento emocional, visando enfrentar as situações conflitantes que surgem no cotidiano profissional (SIQUEIRA ET AL, 2006). A UTI parece oferecer um dos ambientes mais agressivos, tensos e traumatizantes do hospital. Para Villa & Rossi (2002) os fatores agressivos não atingem apenas os pacientes, mas também a equipe multiprofissional, principalmente a enfermagem que convive diariamente com cenas de prontoatendimento. Conforme apontam Rossi & Vila (2002), a própria dinâmica de uma UTI não possibilita momentos de reflexão para que a equipe de saúde possa repensar suas atuações com os pacientes internados. Em pesquisa desenvolvida por Correa (1998) é citado que os pacientes internados em UTI, muitas vezes, ficam impedidos de falar, de se expressar com mais clareza, devido à presença de tubos de alimentação, aparelhos de ventilação artificial, sedação, coma, dentre outros aspectos, estando em situação de dependência aqueles que deles cuidam. Assim, torna-se difícil para o profissional da saúde definir as necessidades reais do paciente. Nesse contexto são necessários discernimento, empatia, sensibilidade para avaliar cada situação, e cooperação de toda a equipe de saúde para que apesar da necessidade de técnicas invasivas, seja possível resgatar a totalidade da pessoa humana (CORREA, 1998). Segundo Shimizu & Ciampone (2004) nas UTIs, apesar dos elementos da equipe de enfermagem permanecerem juntos em uma área física mais restrita, prestando cuidados aos pacientes, existe pouca interação entre eles. Os autores complementam ainda afirmando que, como esses aspectos e as relações interpessoais não são devidamente valorizados e adequadamente trabalhados, os trabalhadores de enfermagem se desgastam intensamente durante a convivência grupal no cotidiano de trabalho e, ainda, havendo possibilidade de que os conflitos intergrupais possam ser manifestados na relação com os pacientes. 3.2 TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS (TAA) A Terapia Assistida por Animais (TAA), de acordo com Juliano et al. (2008) é uma intervenção individualizada, direcionada e com critérios específicos onde o animal faz parte do processo do tratamento de um paciente, independente de sua patologia. Conta Martins (2004) que a TAA foi utilizada pela primeira vez em 1792 para tratar portadores de doença mental. Passado alguns longos anos, mais precisamente na década de 60, o psiquiatra Boris Levinson desenvolveu a Psicoterapia Facilitada por Animais, a fim de tratar transtornos de comportamento, problemas de comunicação em crianças e déficit de atenção. Devido os resultados favoráveis da terapia, esta tem sido aplicada nas ultimas décadas em vários segmentos ambulatoriais e hospitalares com o objetivo de recuperar a saúde do paciente, melhorar o processo de comunicação, autoestima, promover a interação social, dentre outros (JULIANO et al, 2008). No Brasil, a psiquiatra Nise da Silveira encontrou na TAA uma forma de tratamento para a esquizofrenia (JULIANO et al, 2008). Em São Paulo, a médica veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs coordena o projeto Pet Smile há dez anos, onde voluntários levam animais para interagir com crianças em hospitais (VACARRI & ALMEIDA, 2007). No começo deste século, em 2001, foi fundada a Organização Brasileira de Interação Homem-Animal Cão Coração, que promove o Projeto Cão do Idoso em casas de repouso ou abrigos com a finalidade de melhorar a qualidade de vida, a integridade, o bem estar e respeito ao idoso (JULIANO et al, 2008). No ano de 2003, pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária em parceria com a Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual de São Paulo de Araçatuba, iniciaram o projeto "Cão Cidadão UNESP", que investiga as reações provocadas pelos animais nas crianças com necessidades especiais, como paralisia cerebral, portadores de Síndrome de Down entre outros comprometimentos mentais (MARTINS, 2004). Segundo San Joaquin (2002) diversos especialistas têm considerado a importância da interação dos animais com os pacientes pra recuperar a autoestima e a sensibilidade além da reintegração à sociedade. Sem contar, a referência de que a TAA traz consigo um aspecto importante de humanização (VACCARI e ALMEIDA, 2007). Em 1980, Friedman et al (1980) já destacavam os benefícios específicos da TAA, tais como: aperfeiçoamento das habilidades motoras finas; equilíbrio de sustentação; melhor adesão ao tratamento; aumento da interação verbal entre os membros do grupo; melhoria das habilidades de atenção; desenvolvimento de recreações e lazer; aumento da autoestima; redução da ansiedade; melhoria na interação com a equipe de saúde. O Centro de Medicina do Idoso do Hospital Universitário de Brasília (2005), salienta que a TAA pode ser aplicada em todas as faixas etárias e em diferentes locais, tais como: ambulatórios, hospitais, casas de repouso, clínicas de fisioterapia e de reabilitação e escolas. Além de que são utilizados todos os tipos de animais que possam entrar em contato com os humanos sem proporcionar-lhes perigo. Dentre esses animais, o cão é o mais utilizado, pois apresenta uma natural afeição pelas pessoas, consegue ser adestrado facilmente e cria respostas positivas ao afago. Alguns relatos experimentais revelam que a interação do cão com os pacientes melhora o padrão cardiovascular. Além de produzir aumento da concentração plasmática de â-endorfinas, prolactina, dopamina e ocitocinas, e diminui a concentração plasmática de cortisol e substâncias que atuam positivamente no estado de ansiedade (SOBO, 2006). Diversas pesquisas têm demonstrado que as sessões de TAA com cães e crianças hospitalizadas facilitam a socialização e distração durante procedimentos dolorosos (FRIEDMAN et al, 1980; SOBO, 2006; VACCARI & ALMEIDA, 2007). Apesar das pesquisas evidenciarem a eficácia da TAA com cães em unidades hospitalares, outras vertentes de estudo se preocupam com os inconvenientes relacionados a mordidas de animais, alergias e zoonoses. Contudo, alguns estudos realizados após cinco anos de TAA em ambiente hospitalar, concluíram que o número de infecções não alterou durante o período que os animais estiveram presentes (KHAN & FARRAG, 2000). Segundo Gullo (2000) para que os animais possam fazer a terapia eles precisam de algumas características como: Para que os animais façam parte da terapia são realizados um conjunto de exames rigorosos para garantir que a saúde do animal esteja 100%. Devem apresentar bom comportamento, serem sociáveis com pessoas estranhas e habituadas com o convívio de outros animais. No caso dos cães, podem participar os de pequeno e grande porte (que deve obedecer a comandos básicos de obediência) e de qualquer raça. Animais muito jovens possuem dentes e unhas afiadas, os muitos velhos se cansam ao término da visita, por isso não devem participar da terapia. Para evitar os inconvenientes, sugere-se a criação de um protocolo, onde os cães precisam estar em dia com as vacinações e vermifugação, não podem ter pulgas e nem ingerir carnes cruas e leite não pasteurizado. Os cães precisam ser limpos, escovados, tomar banho antes de visitar o hospital e realizar visitas periódicas ao veterinário (OWEN, 2002). Outro ponto importante é em relação aos pacientes que pertencem ao tratamento, além de seus familiares e equipe multidisciplinar que devem estar com as mãos sempre limpas e lavá-las antes e depois de entrar em contato com o animal. Cabe a equipe ficar atenta a evitar o contato do animal com secreções, fezes, urina, vômitos, salivas e feridas (OWEN, 2002). Vale ressaltar no final dessa apresentação que a TAA é vedada a pacientes que apresentem alergias, medo de animais, problemas respiratórios, feridas abertas, e baixa resistência (STANLEY, 2002). 3.3 BENEFÍCIOS DA TAA Os principais objetivos da terapia com animais, principalmente os cães, segundo Gullo (2000) são: • A Nomeação de filhotes ou chamar os animais pelo nome são exercícios fonoaudiólogos excelentes para os pacientes que têm dificuldade na fala. Aqueles que não falam são estimulados a produzir a fala; • Acariciar uma bola com o paciente e jogar para o cão é um ótimo exercício para coordenar os movimentos, e ajuda a controlar o estresse, a pressão arterial e reduzir o risco de problemas cardíacos, onde a criação de animais pode causar efeitos de relaxamento, como a redução da pressão sanguínea e aumento da temperatura do corpo; • Reduz a percepção da dor e da ansiedade; • Constatou-se que os pacientes que recebem cuidados com cães precisaram de 16% a menos de medicamentos e saíram dois dias mais cedo do hospital do que pacientes que não tiveram contato com animais; • O contato com animais aumenta as células de defesa e faz com que o corpo seja mais tolerante a bactérias e ácaros, reduzindo a probabilidade de pessoas que desenvolvem alergias e problemas respiratórios; • O estímulo com o animal aumenta o nível de endorfinas, ajudando a minimizar os efeitos da depressão; • Reduz e evita que pacientes fiquem com solidão melhorando muito o se comportamento social; • Ajuda a relaxar o clima severo de um ambiente hospitalar; • Aumenta o desejo de lutar pela vida; • Melhora as relações interpessoais; • Esse estímulo com o animal facilita a comunicação entre o médico e o paciente. O animal pode agir como um catalisador social poderoso, facilitando contatos sociais. Este efeito é o mesmo em diferentes países e com diferentes animais e proprietários. Grupos de terapia com cães são necessários em hospitais, quando o paciente não responde, dificultando o diagnóstico e escolhendo assim o melhor tratamento. Animais continuam a ser uma ponte entre o paciente e o profissional, estreitando a distância entre eles. Há muitos relatos de pacientes que não se comunicavam e, no momento em que entraram em contato com animais começaram a falar, surpreendendo toda a equipe que prestou assistência a eles. O paciente pode tocar, acariciar, pentear e alimentar os animais. Muitos pacientes sentem-se estimulados a produzir e aqueles que podem recuperar a fala, recuperam de forma mais rápida e satisfatória. 3.4 INSTITUTO INATAA O INATAA é um expoente na realização de diversas atividades relacionadas a Atividades Assistidas por Animais (AAA), Educação Assistida por Animais (EAA) e Terapia Assistida por Animais (TAA) com cães, através da colaboração de voluntários e seus cães ou mesmo, voluntários sem cães e profissionais, atendendo a diversas instituições como casas asilares, hospitais, nas áreas de psicologia, fisioterapia, fonoaudiologia, equipe multidisciplinar, visitas e cursos de formação, visando a interação Homem-Animal (INATAA, 2013). O INATAA é uma ONG, Organização Não Governamental, fundada em 2008 que atua nas áreas de Terapias Assistidas por Animais - AAA/EAA/TAA e Treinamento e Entrega de Cães de Serviço e Assistência. É constituída de voluntários e profissionais com experiência de mais de oito anos em atendimentos terapêuticos e ações voluntárias envolvendo a interação homem-animal, remanescentes da extinta Ong OBIHACC (INATAA, 2013). Atende cerca de 400 pessoas por mês, entre crianças, adolescentes, adultos e idosos, em quatro instituições asilares, no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, no Hospital das Clínicas – IPQ (Instituto de Psiquiatria) e no Hospital Santa Marcelina - Núcleo Integrado de Reabilitação (NIR) Jardim Soares, em São Paulo. O Instituto conta com o trabalho de 65 Voluntários com cão ou sem cão, e 61 cães terapeutas. O INATAA tem como objetivo proporcionar os benefícios dos efeitos terapêuticos dos animais, por meio da interação Homem-Animal na Educação, Atividade e Terapia Assistida por Animais E/A/TAA, para a melhoria da saúde física, emocional e mental dos clientes. Selecionar, socializar, adestrar e entregar cães de serviço e assistência para indivíduos carentes e portadores de necessidades especiais sejam elas físicas, emocionais ou mentais, buscando a melhora da qualidade de vida destas pessoas. Os principais valores da empresa são: Trabalhar com conceitos éticos; Corresponder às necessidades dos clientes e colaboradores com ajuda especializada e profissional; Valorizar o ser humano e o animal em suas necessidades, respeitando- os sempre, em qualquer situação; Proporcionar o bem estar de indivíduos e animais na Interação Homem-Animal, e o aprofundamento de conhecimentos de seus colaboradores na área de Interação Homem-Animal; Manter a privacidade/ confidencialidade de informações e assuntos relativos à vida pessoal dos clientes e colaboradores, bem como o do próprio Instituto. Nas últimas décadas, a Terapia Assistida por Animais (TAA) vem ganhando interesse e investimentos da comunidade científica, em função dos resultados alcançados nos programas que visam, através da interação homem-animal, promover a saúde física e psíquica das pessoas envolvidas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O hospital se constitui como palco do saber médico, e tem como proposta investigar o corpo, ou partes do corpo, como objetos de interesse. Vasconcelos et al. (2007) esclarecem que trata-se de um saber que se importa com o corpo, mas não com os inúmeros atravessamentos (social, político, cultural, familiar) que o perpassam. O psicólogo então poderia auxiliar na observação dos demais atravessamentos (social, político, cultural, familiar) a partir da troca de saberes, incluindo os dos usuários e sua rede social, diálogo entre os profissionais, modos de trabalhar em equipe que considerem tais atravessamentos. A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) recebe pacientes em situação de risco intensa. Essa característica da UTI faz com que os profissionais da equipe de saúde mantenham-se em alerta em relação à conservação da vida do paciente internado. As máquinas, tubos de respiração e de alimentação em pacientes a princípio não contactantes, podem intimidar o profissional e fazê-lo desconsiderar a subjetividade do ser humano que se encontra hospitalizado. As intervenções junto a pacientes que respondem verbalmente podem representar atuações mais seguras ao TAA. No decorrer do trabalho conseguimos observar a tendência de melhoria da qualidade de visa e resultados satisfatórios quando da aplicação da terapia. O INATAA é um exemplo que pode ser considerado, no sentido de apresentar resultados quanto a melhoria de socialização dos pacientes, melhoras na comunicação, no controle físicos e psicológicos do paciente, dentre outros. Apesar da escassez de materiais sobre o assunto, conseguiu-se alcançar os objetivos do estudo com satisfação. Assim, sugere-se a profissionais da área da saúde maiores investigações sobre a TAA e seus benefícios a saúde dos pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGERAMI-CAMON, Valdemar Augusto. Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 1994. ANIMAIS ajudam na recuperação. Época, São Paulo, p. 33, 10 set. 2001. BRASIL. Ministério da Saúde (Brasil). Esclarecimento do ministério da saúde sobre leitos de UTI. Brasília (DF): MS; abril /2010. Disponivel em: <WWW.saude.gov.br>. Acesso em: 13 mar. 2013. CAPRARA, Andrea; FRANCO, Anamélia Lins e Silva. A relação paciente-médico. Para uma humanização da prática médica. Cadernos de Saúde Pública 15(3):647654, 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v15n3/0505.pdf>. Acesso em 13 mar. 2013. COOPER, H.M. The Integrative research review. A Syst. Appro. Newburg. Sagre, 1989. CORREA, Adriana Katia. O paciente em centro de terapia intensiva: reflexão bioética. 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