UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA - EVZ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS INTOXICAÇÕES POR UREIA E NITRATO EM RUMINANTES: REVISÃO DE LITERATURA Jordanna de Almeida e Silva Orientador: Prof. Dr. Paulo Henrique Jorge da Cunha GOIÂNIA 2012 ii JORDANNA DE ALMEIDA E SILVA INTOXICAÇÕES POR UREIA E NITRATO EM RUMINANTES: REVISÃO DE LITERATURA Seminário apresentado junto à disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. Nível: Mestrado Área de Concentração: Patologia, Clínica e Cirurgia Animal Linha de pesquisa: Alterações clínicas, metabólicas e toxêmicas dos animais e meios auxiliares de diagnóstico. Orientador: Prof. Dr. Paulo Henrique Jorge da Cunha – EVZ – UFG Comitê de orientação: Prof. Dr. Juliano José de R. Fernandes – EVZ - UFG Dr. Victor R. M. Couto- Bolsista DTI CNPq – EVZ -UFG GOIÂNIA 2012 iii SUMÁRIO 1 Introdução ........................................................................................................... 1 2 Revisão de Literatura .......................................................................................... 3 2.1 Nitrogênio não proteico .................................................................................... 3 2.2 Uréia ................................................................................................................. 6 2.2.1 Fontes ........................................................................................................... 6 2.2.2 Fisiopatogenia da intoxicação por ureia ........................................................ 7 2.2.3 Sinais clínicos ................................................................................................ 9 2.2.4 Diagnóstico.................................................................................................. 10 2.2.4.1 Hemograma e bioquímicas sanguíneas ................................................... 10 2.2.4.2 Hemogasometria ...................................................................................... 12 2.2.4.3 pH e amônia ruminal ................................................................................ 13 2.2.4.4 Exame anatomopatológico ....................................................................... 15 2.2.5 Prognóstico ................................................................................................. 15 2.2.6 Tratamento .................................................................................................. 16 2.2.7 Controle e prevenção .................................................................................. 17 2.3 Nitrato ............................................................................................................. 19 2.3.1 Fontes ......................................................................................................... 19 2.3.2 Fisiopatogenia da intoxicação por nitrato .................................................... 20 2.3.4 Sinais clínicos .............................................................................................. 22 2.3.5 Diagnóstico.................................................................................................. 22 2.3.5.1 Hemograma e bioquímicas sanguíneas ................................................... 23 2.3.5.2 Hemogasometria ...................................................................................... 23 2.3.5.3 Metemoglobina ......................................................................................... 24 2.3.5.4 Prova da difenilamina ............................................................................... 25 2.3.5.5 Exame anatomopatológico ....................................................................... 26 iv 2.3.6 Prognóstico ................................................................................................. 26 2.3.7 Tratamento .................................................................................................. 27 2.3.8 Controle e prevenção .................................................................................. 28 3 Considerações finais ......................................................................................... 30 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 31 1 Introdução A Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) estima que a população mundial aumente dos sete bilhões em 2011 para 8,3 bilhões em 2030, com maior adensamento populacional em países asiáticos, africanos e sul-americanos. Alimentar esse contingente representará um desafio para o setor agropecuário, que terá de aumentar sua produção e rebanhos (SINODIO et al., 2012). Quanto aos sistemas de produção animal sabe-se que o número de animais terminados em confinamento no Brasil ainda é pequeno, cerca de 3 milhões de cabeças em 2010, com estimativa de crescimento para 3,7 milhões para o ano de 2012 (ANUALPEC, 2011). Nota-se que grande parte da produção de bovinos é de animais criados em sistema extensivo, porém um dos grandes fatores limitantes, principalmente na região centro-sul, é a sazonalidade na produção de pastagens, já que há duas épocas distintas, a de seca e a de chuvas. A intensificação do uso das pastagens acentua a necessidade de utilização de suplementos destinados à alimentação animal, principalmente durante a estação seca do ano. A proteína é um dos nutrientes de maior importância para garantir a nutrição adequada dos animais (VALADARES FILHO et al., 2012), mas ao considerar os custos da alimentação, a proteína pode ser o nutriente mais oneroso (IMAIZUMI, 2006). Os suplementos utilizados na substituição da proteína verdadeira são conhecidos como nitrogênio não proteico (NNP). O NNP inclui componentes que possuem nitrogênio (N) não na forma polipeptídica das proteínas e que libere, durante seu metabolismo, nitrogênio amoniacal (N-NH3) no rúmen. Dentre as fontes de NNP, as mais utilizadas são a ureia e o nitrato. A ureia é um composto comumente utilizado na substituição de parte da proteína fornecida aos animais, e as principais razões são seu comprovado poder de fornecimento de nitrogênio amoniacal; por haver fontes protegidas; ter uma relação custo/benefício favorável e ser de fácil disponibilidade do mercado. 2 Porém, quando fornecida sem critérios de adaptação aos animais, pode gerar quadros de intoxicação devido a sua rápida hidrólise ruminal. O nitrato também tem sido utilizado na alimentação de ruminantes, já que durante seu metabolismo ocorre liberação eficiente de amônia ruminal e redução na produção de metano entérico. WRIGHT & KLIEVE (2010), relatam que os ruminantes emitem aproximadamente 61 milhões de toneladas de metano por ano, sendo que, segundo KLIEVE (2009), esse valor contribui com cerca de 28% do total de emissões deste na atmosfera. Devido a isso, é importante que se encontrem alternativas para reduzir essa emissão sem que haja prejuízos na produção dos ruminantes. Tanto a ureia quanto o nitrato têm sido utilizados na pecuária como fonte de NNP, mas são frequentes os surtos de intoxicação pelos dois compostos. As empresas de nutrição têm desenvolvido tecnologias para minimizar os riscos de intoxicação, como o uso de polímeros que promovem hidrólise adequada dos compostos, mas avaliações em relação ao custo/benefício ainda estão sendo realizadas. Dessa forma objetiva-se com este trabalho revisar sobre o uso de ureia e nitrato na alimentação de ruminantes, seus riscos de intoxicações, bem como o diagnóstico, tratamento e controle dessas situações. 3 2 Revisão de Literatura 2.1 Ureia e nitrato como fontes de nitrogênio não proteico As fontes de compostos nitrogenados utilizadas na alimentação de ruminantes podem ser classificadas como fontes de nitrogênio proteico (NP) e nitrogênio não proteico (NNP). Enquanto o NP é formado por aminoácidos unidos por ligações peptídicas, o NNP inclui qualquer componente que contenha nitrogênio não na forma polipeptídica das proteínas, representados por aminoácidos livres, peptídeos, ácidos nucleicos, amidas, amina e amônia (SANTOS & PEDROSO, 2011). As fontes de NP são classificadas como fontes ricas, intermediárias ou pobres em proteína degradável no rúmen (PDR) ou em proteína não degradável no rúmen (PNDR). A PDR é a que está disponível para microrganismos ruminais para a síntese de proteína microbiana, sendo que a maior parte da PDR se transforma em amônia e uma pequena parte é transformada em aminoácidos e pequenos polipeptídeos, que também são utilizados pelos microrganismos (KOZLOSKI, 2002). A PNDR consiste na fonte que não é utilizada pelos microrganismos no rúmen, ocorrendo digestão química no abomaso e absorção de aminoácidos no intestino (LAMOTAGNA & FRANZOLIN, 2009). Grãos e farelo de soja, farelo de girassol, farelo de amendoim, girassol e canola são fontes ricas em PDR. O farelo de algodão é uma fonte intermediária. Farelo de glúten de milho, resíduos de cervejaria, farelo de peixe, farelo de soja tratado quimicamente e grãos de soja tostados são exemplos de fontes ricas em PNDR (SANTOS & PEDROSO, 2011). Os ruminantes são capazes de transformar tanto o nitrogênio derivado da proteína verdadeira que são aminoácidos de cadeia ramificada e peptídeos, quanto o proveniente de compostos nitrogenados não proteicos de alto valor nutritivo, em proteína verdadeira (PEREIRA et al., 2009). A presença dos microrganismos ruminais viabilizam a utilização de compostos, como as fontes de PDR, na alimentação fornecida aos bovinos (CARARETO, 2011). 4 O NNP é importante fonte de N para os microrganismos ruminais. As bactérias ruminais proporcionam a transformação da fonte de N em amônia. Este composto favorece o crescimento dos microrganismos, especialmente das bactérias e promovem síntese de proteína microbiana (RIBEIRO, 2006; MEDEIROS, 2007). As duas principais justificativas para o uso de NNP na alimentação de bovinos são: do ponto de vista nutricional, para adequar a ração em PDR, e do ponto de vista econômico, para baixar o custo da suplementação proteica. Ainda determinadas fontes de proteína vegetal como os farelos de algodão e trigo, onerarem o custo de produção, favorecendo a utilização de NNP (ALI et al., 2008). Algumas fontes que podem ser utilizadas como de NNP são a ureia, o sulfato de amônia, compostos de purinas e pirimidinas, ácido úrico, glicosídeos nitrogenados, alcaloides, glutamato monossódico e nitratos (CURRIER et al., 2004; LENG, 2008; PEREIRA et al., 2009; CARARETO, 2011). Porém, as fontes mais utilizadas são a ureia (CHALUPA et al., 1970; GUO et al., 2009; VASCONCELOS et al., 2009; NEVES-NETO, 2010; CARARETO, 2011; GEBRETSADIK & KEBEDE, 2011; YIRGA et al., 2011) e o nitrato (LEWIS, 1951; GUO et al., 2009; HULSHOF et al., 2012). A ureia pecuária já é rotineiramente empregada pela maioria dos produtores, porque é acessível e de baixo custo (GONÇALVES et al., 2011). Já o nitrato tem sido utilizado principalmente em sistemas que visam a diminuição da produção de gás metano, tornando-se uma fonte alternativa a ureia (LENG, 2008). Para avaliar se plantas que recebiam a aplicação de fertilizantes nitrogenados em grandes quantidades sob condições ambientais que limitavam o crescimento possuíam um aumento na quantidade de nitrato, e se o uso associado a ureia aumentava os casos de intoxicação, CARVER & PFANDER (1974) utilizaram cinco grupos experimentais com seis ovinos, sendo o grupo GI: controle, sem adição de ureia ou nitrato de potássio (KNO3); GII: 1, 2, 4 e 5% de KNO3 adicionado na dieta; GIII: 1, 2, 4 e 5% de ureia adicionada na dieta; GIV: 2% de ureia associado a 1, 2, 4 e 5% de KN03; GV: 2% de KNO3 e 1, 2, 4 e 5% de ureia. Apenas no grupo GII os animais apresentaram valores elevados de 5 metemoglobina (20%), porém não apresentaram alterações clínicas nem quadro de intoxicação. Concluíram que o uso associado de ureia e nitrato em doses adequadas não promoveu quadro de intoxicação em ovinos, mesmo com elevação de metemoglobina. PHUC et al. (2009) forneceram três diferentes fontes de NNP para 12 ovinos alocados em três grupos, GI: nitrato de potássio a 50% do nitrogênio (N) da dieta; GII: nitrato de amônia a 50% do nitrogênio (N) da dieta; e GIII: ureia a 50% do nitrogênio (N) da dieta. Não foram observados quadros de intoxicação em nenhum dos grupos. Além disso, a retenção de nitrogênio e as taxas de crescimento foram melhores nos grupos que receberam nitrato como NNP. Concluíram que o nitrato é uma fonte segura e eficiente na alimentação de ruminantes conforme havia proposto TILLMAN et al. (1965). HUYEN et al. (2010) avaliaram três bovinos fistulados, em quadrado latino 3x3, quanto ao efeito de dieta à base de caroço de algodão associada a três fontes de NNP em que GI recebeu nitrato de sódio (6,6% da matéria seca); GII: nitrato de potássio (3,0% da matéria seca); e GIII: ureia (2,2% da matéria seca). Não houve quadros de intoxicação nos animais e os grupos GI e GII apresentaram redução na produção de metano quando comparados ao GIII. Entretanto, não foram encontradas diferenças quanto às avaliações de consumo, digestibilidade da dieta e ganho de peso. Tanto a ureia quanto o nitrato promoveram liberação constante e adequada de nitrogênio amoniacal no rúmen. Concluíram que as três fontes fornecidas aos animais podem ser utilizadas com segurança como NNP. Também NOLAN et al. (2010) forneceram duas diferentes fontes de NNP a oito ovinos. O grupo GI recebeu dieta com feno de aveia e 4% de nitrato de potássio e o grupo GII: feno e 5,4 gramas de ureia por quilo de feno. Entre os grupos não foram encontradas diferenças nos níveis de amônia ruminal, na digestibilidade da dieta, no crescimento dos animais e nos valores de metemoglobina. Ao avaliar a produção de gás metano, notou-se que a produção foi menor no grupo suplementado com nitrato de potássio. Concluíram que o nitrato pode substituir a ureia na dieta dos animais como fonte de nitrogênio não proteico, além de promover redução na produção de metano ruminal. 6 2.2 Ureia 2.2.1 Fontes A identificação da ureia foi realizada por um cientista alemão chamado Roulle, em 1770. O uso da ureia na nutrição de ruminantes foi estabelecido por Weikee, em 1879, quando verificou a capacidade dos ruminantes em converter NNP em proteína microbiana. Contudo, somente durante a primeira guerra mundial (1914-1918), na Alemanha, quando havia dificuldade em obter alimentos proteicos convencionais, como as tortas e farelos de oleaginosas, que a ureia foi utilizada na alimentação dos bovinos (SANTOS et al., 2001). VILELA & SILVESTRE (1984) descreveram a ureia como sendo um composto orgânico nitrogenado não protéico, solúvel em água, álcool e benzina e pertencente ao grupamento das amidas. A ureia é um produto químico que se apresenta em estado sólido, na cor branca, e possui fórmula química NH2CONH2 (PETROBRAS, 1998). A obtenção industrial da ureia é feita pela combinação da amônia com gás carbônico sob condições de elevada temperatura e pressão. Em um reator de síntese de ureia, a temperatura de 195°C e pressão de 240 Kg/cm² ocorre a reação de síntese. Como a reação não se processa integralmente, permanecem no reator a ureia, carbonato de amônio, água e excesso de amônia, necessitando de purificação por meio de processos de decomposição e recuperação sucessiva. Esse composto tem sido utilizado de forma associada, em substituição parcial ou total à cana-de-açúcar, ao farelo de soja, farelo de algodão, milho, melaço, feno de baixa qualidade e farelo e torta de algodão. Além de sua inclusão no sal mineral proteinado (TOWNSEND, 1998; MOREIRA et al., 2003; MESEJO et a., 2008; VIDAURRE, 2009; AZEVEDO et al., 2010; NEVES-NETO, 2010;CARARETO, 2011). A ureia é classificada em dois tipos, agrícola e pecuária. A diferença baseia-se entre as duas está baseada na legislação do Ministério da Agricultura 7 Pecuária e Abastecimento, já que há legislação específica. A ureia fertilizante recebe adição de formol e polivinilacetato e possui granulometria específica, enquanto a ureia pecuária possui um grau de pureza elevado (PETROBRÀS, 1998). O biureto é um subproduto da obtenção da ureia e considerado um contaminante do processo, podendo ocasionar toxicidade para os ruminantes. Pelo fato de a ureia pecuária apresentar elevado grau de pureza acredita-se, que esta possua quantidades mínimas de biureto (FERREIRA et al., 2007). Devido ao fato de se acreditar que o uso de uréia agrícola na alimentação de animais pudesse levar a casos de intoxicação, RIBEIRO et al. (2006) avaliaram o desempenho de bovinos a pasto suplementados com ureia agrícola ou pecuária na mistura múltipla. Apesar de não terem dosado a quantidade de biureto nos compostos, os animais não apresentaram toxicose, inclusive o desempenho foi estatisticamente igual nos dois grupos. Comprovaram que é possível a utilização de ureia agrícola em substituição a ureia pecuária sem que ocorram alterações nos animais. 2.2.2 Fisiopatogenia da intoxicação por ureia Ao atingir o rúmen, a ureia é rapidamente, hidrolisada gerando compostos amoniacais (NH4 e NH3) e gás carbônico por ação da enzima urease. Essa amônia ruminal possui duas possíveis rotas, ocorrerá a conversão em proteína microbiana no rúmen e/ou será convertida em ureia no fígado. A amônia ruminal será sintetizada em proteína microbiana por meio de processos de transaminação. A participação de carboidratos, como a celulose das forragens, é condição essencial para a eficácia do processo. A proteína microbiana será degradada no abomaso e intestino delgado promovendo a formação da proteína pelo próprio animal (TOWNSEND et al., 1998; GONÇALVES et al., 2011). Enquanto o amônio (NH4) é hidrossolúvel e não absorvível pela parede ruminal, a amônia é lipossolúvel e altamente absorvível. A conversão da amônia em ureia ocorre no fígado por meio do ciclo da ureia. Uma determinada proporção da ureia hepática retorna ao rúmen, parte vai ser reciclada na saliva e o restante é 8 filtrada nos rins e excretada pela urina (TOWNSEND et al., 1998), conforme figura 1. Figura 1 - Esquema simplificado do metabolismo da proteína e da uréia nos ruminantes Adaptado de: GONÇALVES et al. (2011) O fornecimento excessivo de ureia acelera a produção e a absorção de amônia para a corrente sanguínea, ocasionando quadro de intoxicação. A rápida liberação de amoníaco procedente da hidrólise de quantidades potencialmente tóxicas de ureia no rúmen contribuem para a elevação na concentração de amônia e no ph ruminal, o que consequentemente causa alteração no gradiente de permeabilidade do epitélio, favorecendo a passagem de amônia à corrente sanguínea, que atinge o fígado (GONÇALVES et al., 2011). No ambiente intracelular a amônia impede o ciclo de Krebs por meio do bloqueio por saturação do sistema glutamina-sintetase, resultando em diminuição da produção de energia e inibição da respiração celular (ANTONELLI, 2003). 9 Essa sobrecarga sofrida pelos hepatócitos bloqueia o clico da ureia e nos neurônios promove desestabilização na passagem do estimulo nervoso, interferindo no metabolismo de energia no encéfalo associado a alterações na síntese e liberação de neurotransmissores. Assim, ocorrerá diminuição dos níveis de aminoácidos de cadeia ramificada, como a valina, leucina e isoleucina, e aumento dos aminoácidos de cadeia aromática, como o triptofano, fenilanina e a metionina. Os aminoácidos de cadeia aromática atravessam facilmente a barreira hematoliquórica e competem com neurotransmissores normais, como a dopamina e a norepinefrina, formando os falsos neurotransmissores, como a feniletanolamina e octopamina, que deslocam neurotransmissores verdadeiros necessários para a transmissão sináptica, como as catecolaminas (norepinefrina e dopamina). O resultado final é uma depressão do sistema nervoso central (TOWNSEND et al., 1998; ANTONELLI, 2003; MARTINELLI et al., 2003; MESEJO et al., 2008). Outra alteração que pode ser observada é o quadro de acidose metabólica que ocorre devido a maior produção de ácido lático, podendo ainda resultar em lesões musculares. As elevadas concentrações de H+ na corrente sanguínea levam ao aumento do potássio sérico e, consequentemente, ao óbito do animal por proporcionar parada cardíaca (KITAMURA, 2002; ANTONELLI, 2003). 2.2.3 Sinais clínicos Os sinais clínicos surgem entre 20 a 60 minutos após a ingestão da fonte de ureia e são caracterizados por agitação, exoftalmia, desidratação, salivação excessiva, respiração ofegante e taquicardia. As alterações clínicas observadas refere-se aos mecanismos compensatórios que visam reduzir o pH arterial, diminuindo a entrada de amônia no cérebro (CORDOBA & BLEI, 2003). Outro achado clínico é o edema pulmonar, ocasionado pelo efeito tóxico da amônia no trato respiratório, que aumenta a permeabilidade capilar e proporciona extravasamento de liquido para os pulmões (ANTONELLI et al., 2004). 10 As alterações musculares são encontradas nas intoxicações por ureia e caracterizadas por tremores dos músculos da face e movimento das orelhas, seguido de fraqueza muscular e enrijecimento dos membros, podendo evoluir para tetania (ANTONELLI et al., 2004). A encefalopatia hepática ocasionada nos casos graves gera um quadro clínico que pode ser reversível quando diagnosticado precocemente, não deixando sequelas estruturais no animal. Os principais sinais identificados são fetor hepaticus (odor adocicado exalado), nistagmo horizontal, ingurgitação de vasos episclerais devido a congestão de veias cerebrais, apatia e amaurose (ANTONELLI et al., 2004; KAHN & LINE, 2008). Próximos à morte os animais podem apresentar também quadro de cianose, dispneia, anúria e hipertermia (TOWNSEND et al., 1998; ORTOLANI et al., 2000; ANTONELLI, 2003; ANTONELLI et al., 2004; KAHN & LINE, 2008; GONÇALVES et al., 2011). 2.2.4 Diagnóstico Os dados epidemiológicos do rebanho (morbidade, mortalidade), aspectos nutricionais e clínicos auxiliam no estabelecimento das suspeitas. Mas, exames laboratoriais como hemograma, bioquímicas sanguíneas, hemogasometria, valores de pH e amônia ruminal e exames anatomopatológicos podem ser solicitados a para confirmação do diagnóstico de toxicose por ureia (TOWNSEND et al., 1998; ORTOLANI, 2000; ANTONELLI et al., 2007; KAHN & LINE, 2008). 2.2.4.1 Hemograma e bioquímicas sanguíneas Um surto de intoxicação por ureia foi relatado por ORTOLANI et al. (2000) em 18 cabras em um rebanho de 54 animais que receberam concentrado com 4,2% de ureia. Doze animais apresentaram quadro de desidratação e um animal sinais de edema pulmonar. Nos exames hematológicos observaram aumento de hematócrito e da concentração de proteína plasmática em doze animais que apresentaram desidratação e endoftalmia. 11 Já em indução experimental, ANTONELLI et al. (2007) avaliaram o efeito da intoxicação por ureia na musculatura e no fígado, fornecendo 0,5g/kg de ureia para 12 novilhas canuladas no rúmen. Os resultados laboratoriais apresentaram correlação significativa entre elevação de valores de amônia sanguínea e aspartato aminotransferase (AST), entre amônia no sangue e creatinaquinase (CK) e entre AST e CK. A correlação entre AST e gama glutamiltransferase (γGT) não foi significativa. O fornecimento de elevada concentração de ureia promoveu alta concentração de amônia e uma intensa lesão muscular devido os quadros de convulsões, mas não causaram lesão hepática expressiva. Ainda ANTONELLI et al. (2009) compararam o efeito provocado em alguns componentes bioquímicos sanguíneos em bovinos com quadro clínico grave de intoxicação por ureia. Os doze bovinos avaliados foram divididos em dois grupos em que G1 receberam 2,5 g/kg de ureia extrusada contendo 20% de ureia e 80% de farelo de milho; e G2 0,5 g/kg de ureia granulada e 2,0 g/kg de farelo de milho. Os animais dos dois grupos apresentaram elevação dos valores de hematócrito, sendo que os do GI apresentaram elevação apenas a partir do quadro de convulsão, enquanto que nos do GII essa elevação ocorreu a partir dos primeiros sinais clínicos de tremores musculares, comprovando que há desidratação progressiva nos quadros de intoxicação por ureia. Não observaram diferença significativa nos valores de ureia, creatinina e amônia entre os grupos, exceto para os resultados de glicose e L-lactato. Estas variáveis foram consideradas indicadoras para monitorar alterações bioquímicas causadas pela intoxicação por ureia. DE PAULA et al. (2009) utilizaram vacas não lactantes para avaliar a concentração de ureia no sangue, em resposta ao uso de ureia pecuária e ureia polímero, nos seguintes tratamentos: TC (controle – sem inoculação de fonte de nitrogênio); TU (inoculação de ureia pecuária na dose de 28gramas/animal/dia) e TUP (inoculação ureia polímero na dose de 28gramas/animal/dia). O grupo TU apresentou as maiores concentrações de ureia plasmática a partir de duas horas de fornecimento da ureia, enquanto que no grupo TUP a elevação ocorreu somente a partir de quatro horas, igualando-se, nesse momento, ao TU. Os resultados indicaram que o risco de intoxicação com o uso de ureia pecuária (TU) 12 foi superior em comparação a ureia polímero (TUP) nas primeiras horas de ingestão do NNP. GONSALVES NETO (2011), objetivando avaliar o efeito da substituição parcial da ureia convencional pela ureia de liberação lenta, utilizou 24 cordeiros divididos aleatoriamente em quatro tratamentos: T1 = Ureia convencional + Milho; T2 = 20% de ureia convencional + 80% de ureia de liberação lenta; T3 = ureia convencional + 50% de milho e 50% de casca de soja; e T4 = 20% de ureia convencional + 80% de ureia de liberação lenta. Não foi observada diferença significativa entre os tratamentos para os níveis de ureia plasmática em nenhum dos grupos, concluindo que não houve influência da substituição parcial da ureia de liberação convencional por 80% da ureia de liberação controlada (Optigen®) ou pela substituição parcial do milho pela casca de soja. Além disso, nenhum dos grupos apresentou alterações clínicas de intoxicação. Já ZIGUER et al. (2012) avaliaram o desempenho e o perfil metabólico de 80 cordeiros divididos em quatro grupos sendo o GI: 1% de ureia convencional; GII: 1% de ureia protegida; GIII: 1% de ureia protegida + 0,5% de ureia convencional; e GIV: sem fonte adicional de nitrogênio não- proteico (NNP). Não houve diferença entre os grupos para valores de albumina, comprovando que todos os animais apresentaram condições corporais adequadas. Enquanto que os animais do GII apresentaram maiores valores de ureia plasmática quando comparado aos do GIII, indicando que a liberação lenta de nitrogênio proporcionada pela ureia protegida associada a convencional foi eficiente. Isso ocorreu principalmente devido aos menores níveis de amônia ruminal, já que o principal fator controlador dos níveis de ureia no plasma é a formação de amônia no rúmen. 2.2.4.2 Hemogasometria Experimentalmente ANTONELLI (2003) realizou avaliação hemogasométrica de bovinos intoxicados com ureia extrusada ou ureia granulada. Os animais foram divididos em quatro grupos sendo o GI: I% de ureia extrusada e GII: 1% de ureia granulada, ambos simulando adaptação dos animais a fonte de 13 ureia; GIII: 0,5g por kg de ureia extrusada; e GIV: 0,5g por kg de ureia granulada. O pH sanguíneo e os valores de bicarbonato foram elevados nos animais dos grupos GII e GIV quando os mesmos apresentaram sinais clínicos severos (convulsões). Entretanto, as concentrações foram reduzindo à medida que ocorria melhora clínica dos animais, mantendo níveis baixos até a recuperação. Os bovinos dos grupos GIII e GIV tiveram valores menores de excesso de base que os demais, mas quando os animais apresentaram quadro clínico de convulsões, os valores diminuíram ainda mais e se normalizaram até a recuperação clínica. Esses achados comprovam que os animais intoxicados por ureia passam por um quadro de acidose metabólica. BAILEY et al. (2004) utilizaram quatro bovinos para determinar efeitos da alimentação isonitrogenada contendo 0, 0.5, 1.0 e 1.5% de ureia. Amostras de sangue foram colhidas da artéria auricular uma, duas, quatro e oito horas após a alimentação, para avaliações hemogasométricas. Não foram observadas diferenças entre os tratamentos e os momentos de colheita para pH, pO2, pCO2. Esses achados foram justificados pelo fato de a dieta com milho floculado fornecida aos animais possuir valores baixos de proteína bruta e altos de proteína degradável, o que causa diminuição na produção de ácidos graxos de cadeia curta e na quantidade de ácido presente no fluido e sangue, diminuindo assim as chances de alterações nos valores de pH. Além disso, os animais não apresentaram quadro clínico de intoxicação, o que poderia ter afetado os valores de pH pelos quadros de convulsões (ANTONELLI, 2003). 2.2.4.3 pH e amônia ruminal ORTOLANI et al. (2000) relataram surto de intoxicação em 18 ovinos que apresentaram sinais clínicos agudos após ingestão de dieta com 4,2% de ureia e observaram valores médios de 820mg/L de amônia ruminal e pH 7.7. Os resultados estavam acima dos valores de referência para a espécie e foi possível confirmar o quadro de intoxicação por ureia. ANTONELLI (2003) induziram toxicose por ureia em 24 bovinos que nunca haviam recebido ureia na alimentação e identificaram correlação forte e 14 positiva entre os valores de pH e amônia ruminal. Os níveis de amônia ruminal e pH aumentaram, caracterizando quadros de intoxicação. ANTONELLI et al. (2009) avaliaram a eficácia da ureia extrusada em doze bovinos divididos em dois grupos: GI: ureia extrusada ou GII:granulada. Os resultados indicaram menores valores de pH ruminal nos animais do grupo I, comprovando que a retenção de amônia da ureia extrusada foi adequada e evitou quadro de intoxicação. DE PAULA et al. (2009) para avaliar os valores de amônia e pH ruminal utilizaram vacas não lactantes em três diferentes grupos: TC (controle); TU (inoculação de ureia pecuária na dose de 28gramas/animal/dia) e TUP (inoculação ureia polímero na dose de 28gramas/animal/dia). Os bovinos do grupo TUP apresentaram maiores concentrações de amônia ruminal que os demais grupos a partir de duas horas de inoculação. O valor de pH foi inversamente proporcional, já que esteve menor nos animais do grupo TUP a partir de duas horas de inoculação de ureia. A ureia polímero proporcionou, além de estabilidade no pH, maior e constante concentração de amônia no meio ruminal, durante os tempos de observação. AZEVEDO et al. (2010) utilizaram oito bovinos distribuídos aleatoriamente em quatro grupos com os respectivos tratamentos: o grupo GI: feno de baixa qualidade + sal mineral; GII: feno de baixa qualidade + suplemento proteico com ureia comum; GIII: feno de baixa qualidade + suplemento proteico com ureia encapsula finalizada com caulim; e GIV: feno de baixa qualidade + suplemento proteico com ureia encapsulada finalizada com flor de enxofre. Na primeira hora os valores de amônia ruminal foram elevados nos grupo GII, GIII e GIV. Os grupos GII e GIV tiveram valores dentro da normalidade entre uma e quatro horas pós inoculação e GIII entre uma e duas horas, enquanto que os valores de pH ruminal não se alteraram, fato explicado pela utilização de baixa relação concentrado:volumoso. GONSALVES NETO (2011) utilizou rebanho de 24 cordeiros em quatro tratamentos: T1 = Ureia convencional + Milho; T2 = 20% de ureia convencional + 80% de ureia de liberação lenta; T3 = ureia convencional + 50% de milho e 50% de casca de soja; T4 = 20% de ureia convencional + 80% de ureia de liberação 15 lenta. Não encontrou diferença significativa entre os valores de retenção de amônia e pH ruminal entre os grupos. ZIGUER et al. (2012) encontraram valores menores de amônia ruminal em ovinos que receberam dieta com ureia protegida que nos demais grupos que receberam ureia convencional, ureia protegida + ureia convencional e sem adição de ureia como NNP. Esses valores comprovam que a degradabilidade do composto ocorreu de forma lenta e gradual e que a menor formação de amônia no rúmen manteve os valores de ureia plasmática baixos. 2.2.4.4 Exame anatomopatológico Os principais achados incluem hemorragias, edema pulmonar, congestão do fígado, hidrotórax, hidropericárdio e gastroenterite. Quando o exame necroscópico é realizado imediatamente após o óbito, pode-se sentir exalar do interior da carcaça odor forte de amônia (ANTONELLI, 2003; ANTONELI et al., 2004; KAHN & LINE, 2008; SANT‟ANA et al., 2009). Nos achados histológicos são descritos edema no cérebro e congestão e hemorragia da pia mater (ANTONELLI, 2003; KAHN & LINE, 2008). Em resposta à ação da amônia no SNC (NORENBERG, 1987), podem ser encontrados astrócitos Alzheimer tipo II na substancia cinzenta do telencéfalo (SANT‟ANA et al., 2009), que são alterações nucleares caracterizadas por tumefação, dispersão da cromatina e presença de um ou dois nucléolos proeminentes, estando dispostos em pares ou trios. Para PILATI & BARROS ( 2007), esses achados não têm sido descritos em bovinos. Morfologicamente a lesão de encefalopatia hepática encontrada no encéfalo em bovinos consiste de status spongiosus (RECH, 2007). 2.2.5 Prognóstico O prognóstico é reservado, já que depende do início dos sinais clínicos e da evolução dos mesmos. Animais que se apresentam em decúbito e apáticos 16 geralmente não respondem bem ao tratamento estabelecido (KAHN & LINE, 2008). 2.2.6 Tratamento Na tentativa de estabelecer um protocolo de tratamento para as intoxicações por ureia, ANTONELLI et al. (2004) induziram experimentalmente quaro de intoxicação em seis bovinos e administraram como tratamento 1mL/kg de um produto comercial composto por ácidos aminados, 1mg/kg de furosemida e 20 mL/kg de solução salina isotônica, em aplicação única. Os animais apresentavam quadro de intoxicação grave, caracterizado por convulsões múltiplas e apatia severa e, após o tratamento somente um não se recuperou. Os pesquisadores avaliaram outro protocolo para bovinos que apresentaram sintomatologia clínica branda, caracterizada por tremores musculares, apatia e decúbito. O tratamento consistia em esvaziamento do conteúdo ruminal seguido de administração, pela cânula, de 4 litros de fluido ruminal de bovinos hígidos e 10 litros de solução salina isotônica, por via endovenosa. Todos os seis animais apresentaram recuperação satisfatória. KAHN & LINE (2008) recomendaram terapia suporte com solução salina isotônica endovenosa para corrigir a desidratação e soluções de gluconato de cálcio e magnésio endovenosas para atenuar a fase de convulsões tetânicas da intoxicação por ureia. KITAMURA et al. (2010) induziram em 25 bovinos intoxicação por meio de infusão intravenosa de 1,5mol L-1 de cloreto de amônio diluído em água bidestilada. Após o surgimento do primeiro episódio convulsivo, a infusão foi interrompida e de imediato iniciado o tratamento, conforme um dos cinco grupos: G1: infusão (iv) de 300mL de solução salina isotônica (SSI) no decorrer de 4h; G2: 30mL/ kg de SSI (iv) no decorrer de 4h, associado à administração de 4L de água intrarruminal por meio de sonda esofágica (ASE); G3: mesmo tratamento do G2 e dose única (iv) de furosemida (2mg/kg); G4: inicialmente 5mL/ kg de solução salina hipertônica (SSH) 7,2% infundida nos primeiros 30min, seguida de 20mL/kg de SSI (iv), aplicada no decorrer de 3h e 30min subsequentes, e associada a 17 administração de 4L de ASE; G5: mesmo tratamento do grupo 4 e dose única (iv) de furosemida (2mg/kg). Concluíram que o uso de SSH+SSI+ASE, associada ou não à furosemida (G3 e G4), promoveram um rápido e marcante aumento do volume urinário global, eliminando com eficiência a amônia e a ureia pela urina. Entretanto, o uso da furosemida não interferiu no volume excretado de urina em ambos os grupos. Embora com efeito menor que o observado com solução salina hipertônica, a infusão de fluido isotônico (G1) promoveu também uma melhora no quadro clínico geral e adequada desintoxicação da amônia. KITAMURA et al. (2010) avaliaram eficácia de diferentes tratamentos para intoxicações por amônia. Infundiram uma solução 1,5M de cloreto de amônio (NH4+Cl), tamponada previamente para o pH 7,0, na velocidade de 400mL/h em 15 novilhos até que eles apresentaram quadro de convulsões. Os animais foram distribuídos em três grupos de cinco animais cada e tratados, como: G1: grupocontrole - 1mL/kg de peso vivo (PV) de solução salina fisiológica, infundida pela cânula no decorrer das três horas seguintes; G2- grupo O+H, 1mL/kg de solução de aminoácidos do ciclo da ureia (Ornitargin®) e 20mL/kg de solução salina fisiológica; G3 - grupo O+F+H, recebeu os dois medicamentos citados no grupo anterior adicionados de 265mg de furosemida. Concluíram que os três tratamentos utilizados foram eficientes na desintoxicação da amônia do organismo e promoveram maior excreção de amônia pela urina e atividade adequada do ciclo da ureia. 2.2.7 Controle e prevenção Não recomenda-se utilizar ureia a uma taxa superior a 2-3% da quantidade de concentrado, e deve-se limitar a 1% da dieta total dos animais. Além disso, o uso de ureia deve ser precedido de adaptação dos animais. Devese evitar retirar a fonte de NNP temporariamente da dieta, já que as bactérias ruminais rapidamente tornam-se desadaptadas desse composto (KAHN & LINE, 2008; ANTONELLI, 2003; SANTOS & PEDROSO, 2011). Inúmeros trabalhos têm demonstrado que o uso de ureia revestida por biopolímeros na alimentação dos animais proporciona ganhos satisfatórios na 18 produção de carne ou leite e comprovam a adaptação eficiente dos animais ao produto (PIRES et al., 2004; DE PAULA et al., 2009; NEVES-NETO, 2010; CARARETO, 2011; GONÇALVES et al., 2011; GONSALVES NETO ,2011; VALADARES FILHO et al., 2012). Recomenda-se sempre adicionar enxofre à ureia para que as bactérias do rúmen consigam sintetizar adequadamente aminoácidos sulfurados (cistina, cisteina e metionina). A relação ideal que deve ser mantida de nitrogênio:enxofre é de 10:1 a 15:1. Quanto ao manejo da utilização da ureia, principalmente no sal mineral proteinado, é importante que os cochos sejam cobertos, ligeiramente inclinados e com furos nas extremidades, para evitar que a chuva molhe a mistura e a água se acumule nos cochos, podendo gerar quadros de intoxicação (GONÇALVES et al., 2011). 19 2.3 Nitrato O nitrato é um componente comum de várias fontes de proteínas fornecidas aos ruminantes, e pode ser encontrado comercialmente na forma de fertilizantes à base de nitrato de potássio, nitrato de amônia e sais de nitrato (LENG, 2008). TILLMAN et al (1969) demonstraram que o nitrato pode ser utilizado como fonte de NNP em dietas pobres em proteínas e que, com dose ajustada, os sintomas tóxicos são inexistentes ou mínimos. Estudos comprovaram que durante o metabolismo ruminal o nitrato comporta-se como um aceptor de elétrons e assim possui potencial de redução de metano entérico, tanto em ovinos (SAR et al., 2004; SAR et al., 2005; VAN ZIJDERVELD et al., 2010; SILIVONG, 2011) como em bovinos (LENG, 2008; LENG & PRESTON et al., 2010; VAN ZIJDERVELD et al., 2011; HULSHOF et al., 2012). Do ponto de vista energético a utilização de um aceptor alternativo de elétrons é favorável, já que irá promover uma rota alternativa de diminuição da produção de H2 no rúmen. O processo de metanogênese geralmente compete com outros microrganismos para a utilização de H2 (ELLIS et al., 2008), assim a utilização do nitrato levará a eficiência quanto a diminuição na produção de metano(JOBLIN, 1999; McALLISTER & NEWBOLD, 2008).. 2.3.1 Fontes A fonte mais comum de intoxicações de bovinos por nitratos é por meio da ingestão de plantas com altos níveis desse composto. De acordo com KOZLOSKI (2009), a tendência de acúmulo de nitrato nas plantas está relacionada com baixa incidência solar, períodos de chuva e temperaturas baixas, que provocam uma baixa atividade fotossintética. Essas condições fazem com que os nitratos representem mais de 30% do nitrogênio das plantas. Para KEMP et al. (1978), plantas que possuem mais de 3% de nitrogênio na matéria seca já são capazes de produzir quadros de intoxicação. 20 Plantas que já são conhecidas por conter elevados níveis de nitrato são sorgo (Sorghum sp), aveia (Avena sativa), azévem (Lolium spp), trigo (Triticum vulgare), milho (Zea mays), „button grass‟ (Dactyloctenium radulans), capim mandante (Echinochloa polystachya) e capim elefante (Pennisetum purpureum) (MEDEIROS et al., 2003; McKENZIE et al., 2004; RADOSTITIS et al., 2007; JONCK, 2010). 2.3.2 Fisiopatogenia da intoxicação por nitrato Quando há presença de substrato (nitrato), as enzimas nitrato redutase e nitrito redutase são produzidas e fazem a redução do nitrato a nitrito e, posteriormente, para amônia. A amônia que não é incorporada nos compostos nitrogenados microbianos é absorvida através do epitélio ruminal e entra na circulação portal, chegando ao fígado, onde é convertida em ureia. Essa ureia retorna em parte novamente ao trato gastrointestinal via saliva ou transepitelial, e o restante é eliminado (KOZLOSKI, 2009). A redução de nitrato em sistemas anaeróbios ocorre por vias distintas: via dissimilatória, que promove a redução de nitrato a gás nitrogênio (desnitrificação), e a via dissimilatória/assimilatória, que gera a redução de nitrato a amônia. A fase assimilatória da redução de nitrato / nitrito também é conhecida como amonificação (figura 1) (LENG, 2008). Figura 2 - Reações de redução do nitrato em amônia que ocorrem na face externa das bactérias Adaptado de: LENG (2008) A necessidade de equivalentes de redução para converter nitrato a nitrito é bem menor que para transformar nitrito a amônia. Assim, a taxa de 21 redução de nitrato é cerca de 2,5 vezes mais alta que a redução do nitrito (KOZLOSKI, 2009), o que faz com que o nitrito seja cinco a seis vezes mais tóxico que o nitrato (ROGERS, 1980). Desta forma, quando a taxa de nitrato no rúmen é alta ocorre o acúmulo de nitrito (WANG, GARCIA-RIVERA & BURRIS, 1961; ALLISON, 1978; KOZLOSKI, 2009). O metabolismo excessivo de nitrito no rúmen ocorre quando há um consumo elevado e sem adaptação do nitrato na dieta, falta de adaptação dos organismos ruminais ao nitrato e dietas excessivamente ricas em proteínas degradáveis no rúmen (LENG, 2008). CHUAN WANG et al. (1961), ao administrarem nitrato de potássio diretamente no rúmen de bovinos fistulados, observaram redução acentuada nos níveis de nitrato e aumento nas concentrações de amônia e nitrito. Entretanto, fatores como a concentração inicial de nitrato, o ambiente ruminal e a dieta do animal podem levar a uma conversão inadequada de nitrito (RADOSTITS et al., 2007; TOKARNIA et al., 2011). Este composto em elevadas concentrações no rúmen é absorvido pelos capilares ruminais e na corrente sanguínea sua toxicidades afeta as células vermelhas do sangue, fazendo com que o transporte de oxigênio para o organismo seja prejudicado, convertendo a hemoglobina em um tipo de disemoglobina, conhecida como metemoglobina (MetHb). A afinidade da hemoglobina pelo oxigênio depende de fatores como temperatura, pH, pCO2 e presença de disemoglobinas como a carboxihemoglobina (CoHb), sulfemoglobina (SHb) e a MetHb, que geralmente são minoritárias (NASCIMENTO et al., 2008). A MetHb é a forma oxidada da hemoglobina, cujo Fe2+ da porção heme está oxidado ao estado férrico (Fe3+) e, por isso, não consegue se ligar ao oxigênio (O2). Além de não se ligar ao O2, há uma mudança alostérica na porção heme da hemoglobina parcialmente oxidada, que aumenta sua afinidade pelo O 2. Dessa forma, também há liberação insuficiente do O2 para os tecidos (HAYMOND et al., 2005). 22 2.3.4 Sinais clínicos Valores fisiológicos de MetHb variam de 1 a 5% para os bovinos (JONCK, 2010), sendo que valores superiores a esses já são considerados característicos de metemoglobinemia (MetHba), que é uma síndrome clínica causada pelo aumento da concentração de MetHb no sangue. Dentre outros sinais clínicos a hipóxia e anóxia teciduais provocadas pela MetHba são consequência não só da diminuição da Hb livre para transportar O2 (anemia relativa), mas também da dificuldade de liberação de O2 para os tecidos (UDEH et al., 2001; NASCIMENTO et al., 2008). Os animais podem não apresentar alterações e morrer subitamente. Entretanto quando há sinais clínicos, eles surgem em até 14 horas após a ingestão do nitrato e podem ser discretos e/ou surgir de forma súbita. Os principais observados nos casos de intoxicação por nitrato e, MetHba, são sialorreia, ranger dos dentes, cansaço, taquipneia ou dispneia progressiva, ataxia, tremores musculares, contração abdominal, andar cambaleante, mucosas cianóticas, manifestações de baixo débito cardíaco, sonolência, decúbito, relutância em se movimentar, crise convulsiva e abortos (RADOSTITIS et al., 2007.; RIET-CORREA et al., 2007; NASCIMENTO et al., 2008; JONCK, 2010; SEZER et al., 2011; SILVA et al., 2012). Os bovinos toleram valores de 15 a 40% de MetHb, sendo que valores acima de 40% são capazes de ocasionar alteração na coloração das mucosas tornando-as de cor de chocolate. O sinal clínico evidente de falta de oxigênio aparece principalmente com valores de 50-60% e o óbito pode ocorrer com níveis de 80% de metemoglobina (RADOSTITIS et al., 2007; NASCIMENTO et al., 2008; JONCK, 2010). Ao exame clínico observa-se, de forma característica, mucosas cianóticas ou amarronzadas (“cor de chocolate”) e sangue de mesma coloração (JONCK, 2010;TOKARNIA et al., 2011; SILVA et al., 2012). 2.3.5 Diagnóstico 23 O diagnóstico das intoxicações por nitrato realiza-se pelo histórico do rebanho e da alimentação, sinais clínicos e exames complementares, como os valores de hemograma e bioquímicas sanguíneas, hemogasometria, metemoglobina, a prova da difenilamina e o exame anatomopatológico. O diagnóstico terapêutico também é válido podendo ser confirmado pela rápida resposta do animal ao tratamento (RADOSTITIS et al., 2007; JONCK, 2010). 2.3.5.1 Hemograma e bioquímicas sanguíneas CARVER & PRESTON (1974) não encontraram diferença significativa nos valores de hemoglobina, triiodotironina (T3) e albumina de bovinos que receberam 0, 1, 2, 3 e 5% de nitrato de potássio associado ou não a quantidades iguais de ureia. SEZER et al. (2011) relataram que vacas intoxicados por nitrato apresentaram no hemograma diminuição no número de hemácias, elevação de hematócrito, tendência a leucocitose e aumento dos valores de metemoglobina. Além disso, identificaram elevação dos níveis de aspartato aminotransferase, fosfatase alcalina e creatinaquinase, comprovando que a intoxicação crônica por nitrato pode induzir lesões sistêmicas, provavelmente devido à lesões oxidativas pelo uso intensivo do oxigênio pelas vias metabólicas. SILVA et al. (2012) em bovinos submetidos a ensaio experimental com nitrato de cálcio em duas diferente doses e com produto convencional ou protegido, não encontraram alterações no hemograma. Mas notaram tendência de valores de hemácias e hemoglobinas próximos aos valores mínimos de referência. 2.3.5.2 Hemogasometria Nos aparelhos de gasometria convencionais, a pressão parcial de oxigênio arterial (PaO2) aferida é correlacionada matematicamente com um valor de saturação da hemoglobina (SaO2), em função do pH e de uma curva de 24 dissociação da hemoglobina padronizada. Dessa forma, o exame de hemogasometria arterial não é ideal como parâmetro de avaliação da capacidade carreadora de O2 nas intoxicações por nitrato, já que a saturação da Hb nos aparelhos de gasometria é estimada e não aferida. Assim, nos portadores de MetHba os valores são imprecisos (HAYMOND et al., 2005; NASCIMENTO et al., 2008). 2.3.5.3 Metemoglobina A determinação de valores MetHb é um exame complementar importante que pode indicar uma situação incompatível com a vida, e cuja presença em níveis elevados na corrente sanguínea impede o transporte de oxigênio dos pulmões aos tecidos periféricos, causando hipóxia e cianose (CAMARGO et al., 2007). Historicamente teve a primeira técnica de determinação descrita por EVELYN & MALLOY (1938), que foi posteriormente adaptada por HEGESH et al. (1970) e atualmente por NAOUM et al. (2004). LEWIS (1951) a fim de estabelecer sobre o metabolismo ruminal do nitrato em ovinos, forneceu 25 e 10 gramas de nitrato de potássio por inoculação ruminal e 2 gramas de nitrato de potássio por via intravenosa e observou valores próximos a 60% de metemoglobina. JAINUDEEN et al. (1964) forneceram a novilhas prenhes 0, 0,4 e 0,7 g de nitrato/kg de peso corporal, e encontraram valores médios de MetHb de 4,6%; 25% e 44%, respectivamente, porém em nenhum dos grupos foram observados sinais clínicos de intoxicação. BURROWS et al. (1987), por meio de inoculação ruminal, forneceram a 12 bovinos 3g de nitrato de sódio/kg de peso corporal e avaliaram os efeitos de sua associação com três diferentes doses de milho (0, 1,6 e 3,2 kg de milho). Constataram que nos tratamentos de 0 e 1,6 kg de milho as concentrações de MetHb ultrapassaram 50% aproximadamente oito horas após a administração do nitrato de sódio e os sinais clínicos surgiram quando os valores estavam superiores a 60%. 25 NOLAN et al. (2010) submeterem 18 ovelhas a um período de adaptação de 18 dias a dieta com nitrato de potássio. Durante a adaptação observaram valores máximos de MetHb abaixo de 2,8% e nenhum animal apresentou alterações clínicas. VAN ZIJDERVELD et al. (2010) forneceram para 20 ovelhas dieta com fonte de nitrato (2,6%da matéria seca), após adaptação de 28 dias. Os valores de MetHb foram inferiores a 2% em 18 animais e apenas dois apresentaram quadro de MetHba (7 e 3%). Os animais foram assintomáticos, não necessitando estabelecer tratamento. VAN ZIJDERVELD et al. (2011) forneceram nitrato de cálcio (8,8% da MS) em dietas para vacas leiteiras. Essa inclusão foi considerada alta, porém o valor máximo de MetHb aferido foi de 15,3% e os animais não apresentaram sinais clínicos. Dessa forma a inclusão foi adequada para aquele grupo de animais. SEZER et al. (2011) identificaram surto de aborto em um rebanho de vacas com suspeita de intoxicação crônica por nitrato. Os valores de MetHb de 1,65% a 4,25% foram considerados elevados quando comparados aos outros dois grupos do mesmo rebanho (vacas saudáveis e vacas prenhes). SILVA et al. (2012) forneceram experimentalmente duas diferentes doses de nitrato de cálcio, por inoculação ruminal, fracionada em sete diferentes momentos. O animal que recebeu dose de 15% do nitrogênio da dieta fornecido por nitrato de cálcio não apresentou quadro de intoxicação e teve valor máximo de 8,97% de MetHb. Enquanto que o animal que recebeu dose de 30% do nitrogênio da dieta fornecido por nitrato de cálcio apresentou 49,47% de MetHb e morreu sem manifestar sinais clínicos graves. 2.3.5.4 Prova da difenilamina Esse teste pode ser realizado para a detecção de nitrito e nitrato em amostras de capim, fluidos corpóreos, soro, urina e fluidos oculares (RIETALVARIZA, 1993; JONCK, 2010). A técnica consiste na obtenção de três gotas de extrato vegetal ou de fluido corpóreo, obtidas por pressão manual. As gotas são colocadas sobre uma lâmina de vidro, e sobre estas é adicionada uma gota do 26 reagente e observada a reação por alguns segundos. A reação é considerada positiva quando em menos de 10 segundos se forma uma coloração azul intensa (RADOSTITIS et al., 2007; JONCK, 2010). 2.3.5.5 Exame anatomopatológico A necropsia de ruminantes intoxicados por nitrato deve ser realizada com intervalo inferior a cinco horas porque a metemoglobina volta a ser hemoglobina, fazendo com que desapareça a coloração escura do sangue, da carcaça e da musculatura, dificultando o diagnóstico (VALLI, 1992; JONCK 2010; TOKARNIA et al., 2011). TOKARNIA et al. (2011) descreveram que a carcaça recém-aberta exala um cheiro forte de gases nitrosos. Os principais achados macroscópicos descritos são sangue com coloração escura, também denominada como “cor de chocolate”, e com baixa coagulação. Há coloração vermelho intensa dos músculos cardíacos e esqueléticos (cor de cereja). Hemorragias no epicárdio e a parede dos pré-estômagos e os pulmões podem estar congestos e apresentar hemorragias nas serosas e mucosas (RADOSTITIS et al., 2007; JONCK 2010; TOKARNIA et al., 2011). JONCK (2010) encontrou pulmões e encéfalo com coloração amarronzada ao exame necroscópico de bovinos intoxicados experimentalmente com aveia e azevém com altas quantidades de nitrato. SILVA (2012) administrou, via fístula ruminal, 819 gramas de nitrato de cálcio. Os principais sinais clínicos foram mucosas oculares amarronzadas e sangue com tonalidade semelhante ao chocolate. Após óbito do bovino, observaram sangue de difícil coagulação e coloração marrom clara no pulmão, coração e encéfalo. Nenhuma alteração microscópica foi encontrada, o que de acordo com a literatura é comum (CARRIGAN & GARDNER, 1982; RADOSTITIS et al., 2007; JONCK et al., 2010; TOKARNIA et al., 2011). 2.3.6 Prognóstico 27 O prognóstico é reservado haja vista que o animal pode vir morrer sem apresentar sinais clínicos específicos (MEDEIROS et al., 2003; JONCK, 2010). 2.3.7 Tratamento No paciente com MetHba a decisão terapêutica deve ser inicialmente conduzida quanto a gravidade do quadro clínico, tendo o valor sanguíneo da MetHb importância secundária na conduta terapêutica (NASCIMENTO et al., 2008). O tratamento terapêutico recomendado é a administração de azul de metileno caracterizado como uma tiazina com propriedades anti-séptica e oxidante dose-dependente. Durante sua utilização, o sistema enzimático alternativo (NADPH metemoglobina redutase) torna-se fundamental na redução da MetHb. O azul de metileno ativa a NADPH metemoglobina redutase, que reduz o azul de metileno a leucoazul de metileno. O leucoazul de metileno é o subproduto metabólico que transforma a MetHb em hemoglobina reduzida (NASCIMENTO et al., 2008). VAN DIJK et al. (1983) em fornecimento de nitrato de potássio pela fistula ruminal realizou tratamento de bovinos que apresentaram quadro de intoxicação com 1 mg/kg por via endovenosa e os animais se recuperaram. BURROWS (1987) tratou bovinos que apresentaram incoordenação após receberem experimentalmente nitrato de potássio por meio da fistula ruminal. A dose foi de 1 grama de azul de metileno diluído em 50ml de água destilada por via endovenosa e o animal apresentou recuperação 30 minutos após. JONCK (2010) em seu estudo experimental utilizou azul de metileno a 1% na dose de 2mg/kg por via endovenosa em um bovino que manifestou sintomatologia clínica. Cerca de dez minutos após o tratamento o bovinos apresentou-se em estado de alerta, manteve-se em pé por aproximadamente 10 horas e voltou a se alimentar no dia seguinte ao protocolo. 28 SILVA et al. (2012) forneceram experimentalmente 819 gramas de nitrato de cálcio a um bovino por inoculação ruminal. Os principais sinais clínicos observados foram dificuldade respiratória e tremores musculares na região da fossa paralombar, sangue marrom, mucosas oculares cianóticas e ataxia e o valor de MetHb foi de 47,05%. A terapêutica foi com azul de metileno na dose única de 1mg/Kg por via endovenosa e o quadro foi revertido. Após uma hora o animal apresentou 4,07% de MetHb e alimentava-se normalmente. A utilização de ácido ascórbico também é relatada como um possível antídoto das intoxicações por nitrato, porém VAN DIJK et al. (1983) não obteve melhora de quadro clínico em bovinos intoxicados experimentalmente com nitrato de cálcio. ALLEN et al. (2012) utilizaram ácido ascórbico na reversão de quadro de metemoglobinemia em humanos e obteve diminuição dos valores de MetHb. 2.3.8 Controle e prevenção Não deixar que os animais tenham acesso a pastagens vedadas logo após ocorrência das primeiras chuvas precedidas por um longo período de seca já que, alguns relatos ocorreram logo após essas situações. O motivo é que quando chove após períodos de seca as plantas crescem rapidamente absorvendo níveis altamente tóxicos de nitratos (MEDEIROS et al., 2003; RADOSTITIS et al., 2007; JONCK, 2010). Caso a fonte de nitrato seja fornecida aos animais, preconiza-se fazer a adaptação dos mesmos antes de fornecer a quantidade total na dieta (LENG, 2008; NOLAN et al., 2010; VAN ZIJDERVELD et al., 2010; LENG& PRESTON, 2010; INTHAPANYA et al., 2011; VAN ZIJDERVELD et al., 2011). Além disso, segundo RADOSTITIS et al. (2007) e LENG & PRESTON (2010) fornecer dietas ricas em carboidratos associadas a fontes de nitrato levam a diminuição dos riscos de intoxicação. Fazer adubação com fertilizantes em quantidades adequadas e com esterco que tenha sido fermentado adequadamente (MEDEIROS et al., 2003; RADOSTITIS et al., 2007) evitando que haja excesso de nitrogênio disponível o 29 que pode favorecer acúmulo excessivo de nitrato nas plantas. Além disso, excesso de N aumenta a lixiviação de N-NO3 que pode contaminar lençóis freáticos. Forragens que são conhecidas por possuírem naturalmente altas concentrações de nitrato podem ser colhidas e armazenadas como silagem, já que esse processo pode reduzir o teor de nitrato destas plantas forrageiras, em até 50%. Além disso, no processo de corte das plantas pelas ensiladeiras a altura de corte pode ser importante, já que quanto menos caule for incorporado, menor quantidade de nitrato haverá (KAHN & LINE, 2008). 30 3 Considerações finais Os sistemas de produção de bovinos visam atualmente não só o desempenho dos animais, mas a otimização e eficiência do sistema de produção. Devido a preocupação com o uso racional de insumos, a relação custo/benéfico é preconizada já que a dieta dos animas, principalmente as fontes de proteína, é o que mais onera a produção animal. Dessa forma, a ureia e o nitrato são alternativas menos onerosas que podem ser utilizadas. O uso da ureia e do nitrato na alimentação de ruminantes como fonte de nitrogênio não proteico tem sido cada vez mais frequente, haja vista a intensificação do uso de pastagens e a necessidade de reduzir os custos da produção animal. Porém, não é incomum ocorrer casos de intoxicação por esses compostos. O diagnóstico das intoxicações deve ser feito por meio de dados epidemiológicos, da avaliação dos sinais clínicos e da realização de exames complementares. A precocidade do diagnóstico é importante para que o tratamento estipulado seja eficiente na recuperação dos animais. Além disso, a implementação de medidas preventivas fazem com que muitos casos de intoxicação sejam evitados. As indústrias de nutrição animal vêm utilizando tecnologias para melhorar a relação custo-benefício da atividade agropecuária. Uma delas é a produção de ureia e nitrato polímeros que, além de promoverem uma metabolização eficiente do composto diminuem, os quadros de toxicose. 31 REFERÊNCIAS 1. ALI, C. S.; KHALIQ, T.; SARWAR, M.; JAVAID, A.; SHAHZAD, M. A.; NISA, M.; ZAKIR, S. Effect of various non protein nitrogen sources on in vitro dry matter digestibility, ammonia production, microbial growth and ph changes by rumen bacteria. Pakistan Veterinary Journal,Faislabad, v. 28, n. 1, p. 25 – 30, 2008. 2. 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