Jornal 116.p65

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INFORMAÇÕES
AGRONÔMICAS
MISSÃO
Promover o uso apropriado de P e K nos
sistemas de produção agrícola através da
geração e divulgação de informações científicas que sejam
agronomicamente corretas, economicamente lucrativas,
ecologicamente responsáveis e socialmente desejáveis.
N0 116
DEZEMBRO/2006
MANEJO SUSTENTÁVEL NA AGRICULTURA
É DISCUTIDO EM WORKSHOP NA ESALQ
Tsuioshi Yamada1
Silvia Regina Stipp e Abdalla2
O
objetivo do Workshop sobre Manejo Sustentável
na Agricultura, promovido pela Potafos, foi o de
proporcionar um debate aberto, não tendencioso,
sobre as tecnologias relacionadas à sustentabilidade na produção agropecuária, além de apresentar e divulgar informações e
experiências práticas de agricultores e pesquisadores relativas ao
tema.
O Workshop, coordenado por Tsuioshi Yamada, Potafos, e
pelo Professor Paulo Roberto de Camargo e Castro, da ESALQ,
ocorreu em 23 e 24 de Novembro, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Piracicaba, SP, e constou de três painéis:
Herbicidas e o manejo de plantas de cobertura, Manejo sustentável na agricultura e Integração sustentável da agricultura com a
pecuária.
A seguir, segue um resumo das principais mensagens deixadas pelos palestrantes.
Painel 1. HERBICIDAS E O MANEJO DE PLANTAS DE
COBERTURA
Palestra: CONCEITOS BÁSICOS PARA O USO DE
HERBICIDAS EM SISTEMA SUSTENTÁVEL –
Jussara Borges Regitano, Pesquisadora do Cena-USP, Piracicaba,
SP, e-mail: [email protected]
Segundo Jussara, a agricultura sustentável pode ser definida como a capacidade que uma unidade agrícola tem de continuar a
produzir, numa sucessão sem fim, com um mínimo de aquisição do
exterior. Pode-se dizer que ela envolve três conceitos básicos: conservação do ambiente, unidades agrícolas produtivas e criação de
comunidades agrícolas prósperas.
1
2
Veja também neste número:
Nutrição e Adubação da Cultura da Banana ..... 14
Divulgando a Pesquisa ..................................... 20
Painel Agronômico ........................................... 28
Cursos, Simpósios e outros Eventos ................ 30
Publicações Recentes ....................................... 31
Ponto de Vista ................................................... 32
Relacionando o conceito de agricultura sustentável com o
plantio direto, disse que, primeiramente, é necessário pensar nos
possíveis destinos do herbicida no ambiente. Assim, entre o sítio de
aplicação de um produto e o seu destino final, que pode ser água,
solo, ar ou alimento, existem vários processos de transporte ou transformação (Figura 1) que dependem de dois processos principais:
• Sorção. Refere-se ao equilíbrio que se estabelece entre a
quantidade de produto que vai permanecer na solução do solo e
aquela que é sorvida na superfície do solo, e determina a disponibilidade do produto em solução bem como o seu destino no ambiente; e
• Degradação. Refere-se à transformação na estrutura química da molécula, que pode ser química (fotólise, hidrólise, óxiredução, etc.) ou biológica (metabolizada por microrganismos, plantas ou animais), e vai determinar a persistência do produto no
ambiente.
Engenheiro Agrônomo, M.S., Doutor, diretor da POTAFOS; e-mail: [email protected]; [email protected]
Engenheira Agrônoma, M.S., POTAFOS; e-mail: [email protected]; [email protected]
POTAFOS - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA PESQUISA DA POTASSA E DO FOSFATO
Rua Alfredo Guedes, 1949 - Edifício Rácz Center, sala 701 - Fone e fax: (19) 3433-3254 - Website: www.ipni.net - E-mail: [email protected]
Endereço Postal: Caixa Postal 400 - CEP 13400-970 - Piracicaba-SP, Brasil
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
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MANEJO SUSTENTÁVEL
Figura 1. Destino dos herbicidas no ambiente.
Salientou que, além desses processos, também vão influenciar no destino final dos herbicidas as condições edafoclimáticas
do ambiente e as propriedades físico-químicas tanto do solo como
do herbicida.
Comentou que, normalmente, as moléculas de herbicidas
são orgânicas e interagem diferentemente com a superfície do solo
e com a água, tendo maior afinidade pela fração orgânica do solo.
Mas que a molécula de glifosato é uma exceção, porque possui alta
solubilidade em água e, devido à sua alta especificidade, principalmente devido aos grupos carboxílico e fosfônico, apresenta também alta sorção à superfície do solo, preferindo a fração mineral e
os óxidos de ferro e alumínio, e também a matéria orgânica do solo.
Desta forma, compete pelos sítios de adsorção com o fósforo e, por
ser uma molécula que fica muito retida ao solo, pode ser carreada
junto às partículas de solo pela erosão.
Considerando-se que a matéria orgânica é a principal fração
do solo responsável pela retenção de moléculas orgânicas da maioria dos herbicidas, citou que a sorção é muito maior nos primeiros
20 cm do solo, onde é maior o teor de carbono orgânico.
Quanto à degradação, Jussara disse que a maioria dos pesticidas é degradada biologicamente através dos microrganismos, e
a mineralização seria a forma de degradação ideal porque através
dela se tem a quebra total e a detoxicação da molécula do ambiente.
Para que a biodegradação ocorra de maneira satisfatória, algumas
condições são necessárias, como:
• Existir pelo menos um organismo capaz de produzir as
enzimas necessárias;
• Este organismo precisa estar presente no local de ação;
• O herbicida tem que estar acessível ao organismo;
• Se a enzima de atuação inicial for extracelular, esta precisa
estar disponibilizada;
umidade do solo estiver entre 40% e 75% da capacidade máxima de
retenção de água. Se houver água suficiente no sistema, o herbicida
vai ser mais facilmente transportado até as colônias aderidas à superfície do solo.
Vê-se, portanto, que são vários os fatores que interagem
simultaneamente no ambiente, e o equilíbrio é estabelecido de uma
forma dinâmica, dependendo da característica da molécula do
herbicida, da umidade e do tipo de solo.
Assim, do ponto de vista de persistência, Jussara disse que
a característica desejável de um herbicida, para se manter um sistema agrícola sustentável e preservar o ambiente, é que ele seja persistente o suficiente para exercer a sua função, mas não o bastante
para promover efeitos adversos e cumulativos no ambiente. Daí a
importância das formulações e da reavaliação do produto periodicamente.
Destacou que, independente do tipo de solo, quanto maior
o tempo que o produto permanecer no solo, maior a sua retenção
(sorção) e maior a sua persistência no ambiente. Assim, o tempo
entre a aplicação de um produto até a ocorrência de uma chuva é
extremamente importante para se predizer o que vai acontecer com
ele, sob o ponto de vista ambiental.
Disse que, embora no plantio direto haja maior teor de matéria orgânica, o que envolve normalmente maior sorção do herbicida
e maior atividade microbiana, o balanço entre esses fatores é que
vai determinar se a degradação do produto será maior ou não.
Quanto à contaminação das águas, o herbicida pode ser
carreado por lixiviação (subsuperfície), ou por escoamento superficial . Quanto maior a sorção do produto, menor sua lixiviação. Quanto
maior a lixiviação do produto (maior infiltração no solo), menor a
tendência de seu escoamento superficial. Assim, observou-se que,
ou a molécula do herbicida tem potencial de lixiviação, por ter alta
solubilidade e infiltração, ou tem alta sorção e persistência no solo,
e terá escoamento superficial junto aos sedimentos.
Assim, pensando-se no manejo sustentável, é preciso escolher o produto de acordo com as características do ambiente. Se a
molécula tiver persistência suficiente, ela vai apresentar um efeito
colateral que poderá ser administrado através do manejo.
Concluiu dizendo que é importante estabelecer valores de
persistência e de sorção de produtos nas nossas condições de
clima e solo; monitorar a qualidade da água a campo (subsuperficial
e superficial), devido ao uso intenso de herbicidas. Deve-se considerar, também que, no Brasil, 60% dos solos são latossolos (com
mais de 4 m de profundidade), com chuvas intensas e menor duração da palhada (Cerrados), necessitando de maiores cuidados com
problemas de erosão e escoamento superficial.
• Se as enzimas forem intracelulares, o herbicida terá que
atravessar a parede celular do organismo;
Palestra: RELAÇÕES ENTRE O USO DE HERBICIDAS
E SUSTENTABILIDADE –
Dana Katia Meschede, Professora da Unesp, Botucatu, SP,
• As condições ambientais têm que ser favoráveis, permitindo a proliferação dos organismos potencialmente ativos.
e-mail: [email protected]
Mas, citou que nem sempre a degradação acontece imediatamente após a aplicação do produto, pois muitos microrganismos
dependem de um período de aclimação (adaptação) antes que a
molécula seja degradada. Esse período é importante porque, se for
muito extenso, aumenta o tempo de exposição do herbicida no ambiente.
Disse que, de forma geral, a atividade microbiana no solo é
máxima quando a temperatura está entre 15oC e 45oC, e quando a
2
Segundo Dana, atualmente, não se pensa em agricultura somente em termos de produtividade e rentabilidade, mas considerase também o ambiente. O manejo adequado, que gera a sustentabilidade agrícola, vai trazer retorno financeiro sem danificar o
ambiente e, conseqüentemente, garantir um futuro melhor para a
humanidade.
A principal técnica utilizada atualmente para se manter a
fertilidade e a vida do solo, e que está relacionada à sustentabilidade,
é o sistema de plantio direto. E quando se pensa em sustentabilidade
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
MANEJO SUSTENTÁVEL
no plantio direto tem-se que considerar o controle de plantas daninhas, pois elas diminuem os lucros do sistema de produção através
de competição com a cultura, alelopatia; hospedagem de pragas,
doenças e nematóides; além de dificultar os tratos culturais e aumentar o custo de produção. E o grande avanço deste sistema, que
se deu na década de 90, favoreceu o uso de herbicidas e, conseqüentemente, o uso de glifosato, graças à sua disponibilidade e
acessibilidade em relação a custo.
Dana alertou sobre o problema da deriva do glifosato nas
culturas, mostrando que, em subdoses, ele não leva a planta à
morte, mas, por interromper a rota do ácido chiquímico, faz com
que ela deixe de sintetizar compostos secundários responsáveis
pela sua defesa, como hormônios, ácido salicílico, ácido jasmônico,
bem como diminui a produção de ligninas, flavonóides e taninos.
Daí as plantas ficarem mais suscetíveis às doenças. Outro efeito é
o de interferir na síntese de clorofila. Um exemplo pode ser visto
em rebrota de cana, depois que o herbicida foi utilizado como
maturador, causando amarelecimento ou arroxeamento (Figura 2)
da planta.
perdidos entre 0,87% e 16%, resultados afetados pelas características operacionais e condições climáticas.
O manejo de herbicida em sistema sustentável implica na
exclusão daqueles altamente tóxicos e que persistem no ambiente.
Para o manejo correto do herbicida deve-se considerar o momento
em que a planta está sofrendo a interferência da planta daninha,
obtendo-se a maior produtividade com a menor densidade de plantas daninhas por metro quadrado.
Dana explicou que em todo o processo de reação da planta,
local ou sistêmica, às pragas, doenças, plantas daninhas e agentes
abióticos, há um sistema de reconhecimento dos iliciadores, através de sinalizadores químicos, levando as plantas a expressar os
genes de reação sistêmica que podem levar, ou não, à resistência.
Assim, a produção de compostos secundários pelas plantas tem
relação direta com os fatores de estresse a que ela está sujeita.
Destacou que a manutenção da cobertura do solo na entrelinha da cultura é fundamental para o controle das plantas daninhas
e que, embora haja competição da cobertura e/ou efeito de compostos alelopáticos com a cultura, os benefícios que a ela se agregam,
ao mantê-la, são muitos maiores.
Disse que, como a maioria dos efeitos da palhada está condicionada ao efeito da luz, mais do que ao efeito alelopático, é importante a escolha correta da espécie a ser utilizada como cobertura
morta. Explicou que existe uma ação diferenciada no controle de
plantas daninhas em relação a algumas espécies de palhada. Com
8 t ha-1 de Brachiaria plantaginea, por exemplo, praticamente se
elimina o problema das plantas daninhas; o que já não ocorre com a
Euphorbia heterophylla, que mesmo com 15 t ha-1 não produz o
mesmo efeito.
Observou-se que, além da quantidade produzida, deve-se
pensar no tempo de degradação da palhada, em função das condições climáticas e de solo da região. Para várias espécies de coberturas estudadas (Figura 4), percebe-se que em cerca de 30 dias metade de toda a palhada já foi degradada.
Figura 2. Clorose e arroxeamento em cana-de-açúcar causados por subdoses
(deriva) do herbicida glifosato.
Outros herbicidas podem agir como inibidores da protoxi,
fazendo com que a protoporfirina se acumule no citosol da célula,
provocando a necrose dos tecidos (Figura 3). Assim, um herbicida,
por ser não seletivo, pode reduzir a produção de uma cultura através de sua deriva.
Figura 4. Avaliação da quantidade de palha no campo em função do tempo
após o seu manejo.
Figura 3. Necrose em folha de milho e de algodão causada pela deriva de
herbicidas.
Experimentos realizados em 16 propriedades agrícolas no
Paraná, para se medir a perda de herbicida por deriva no momento
de aplicação, observou-se que só pelo processo de aplicação foram
Portanto, para um manejo sustentável, o uso de palhada é
imprescindível pois, para algumas espécies, ela tem eficiência comparável à dos herbicidas, e 6 a 10 t ha-1 de palha proporcionam
controle entre 50% e 85% para as espécies mais sensíveis, sendo
que a cobertura deve ser espessa e uniforme, para evitar que as
sementes germinem.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
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MANEJO SUSTENTÁVEL
Salientou que o controle das plantas daninhas sempre é
feito primeiro pela cultura, e depois pela palha e pelos herbicidas.
Assim, para culturas de fechamento lento, deve-se maximizar a produção de biomassa, atrasar a operação de manejo e fazer uma seleção do tipo de cobertura.
Resumindo, concluiu que os métodos disponíveis atualmente
para um manejo sustentável envolvem a integração de culturas,
cobertura viva, cobertura morta, herbicidas, preparo do solo, controle biológico (cultura), práticas preventivas e controle de estresses
ambientais. E as recomendações gerais envolvem:
• Constituição de bases de dados sobre os métodos de
controle;
• Maximização e preservação da capacidade de controle das
culturas, respeitando a época adequada de aplicação de herbicidas
para controle ou dessecação; e
• Maximização da capacidade de controle do meio, através de:
• Uso adequado de coberturas, que agem no controle de
plantas daninhas através de alelopatia, alteração do regime térmico,
de luz (qualidade e quantidade) e como barreira física à emergência.
Além disso, aumentam a retenção da água de chuva, a umidade do
solo, o teor superficial de matéria orgânica e a atividade microbiana,
predação, quebra de dormência.
• Uso adequado das restrições climáticas;
• Ocupação contínua do ambiente.
maior (30%), relacionadas a um complexo de pragas (Figura 5) e
a outros fatores, comparada a 8% com 28 dias de antecipação no
controle;
Palestra: MANEJO DE PLANTAS DE COBERTURA NO
SISTEMA PLANTIO DIRETO –
Aroldo I. Marochi, Gerente Regional Sul, Monsanto do Brasil
• Estimula a emergência de plantas daninhas após a primeira
aplicação, controlando-as na segunda aplicação;
Ltda., e-mail: [email protected]
De acordo com Aroldo, a agricultura com plantio direto precisa de palha, e a rotação de culturas é uma prática fundamental
para a sustentabilidade de todo o processo, seja com culturas ou
com coberturas, porque ela quebra o ciclo de uso de defensivos, o
uso de cobertura da mesma cultura, diminui patógenos, pragas, etc.
Disse que o que compacta o solo não é o plantio direto, mas
o mau uso de grades niveladoras na preparação do solo para sua
implantação. Todos os processos de quebra da estrutura causam
excessiva pulverização do solo e compactação da subsuperfície,
acarretando perdas de toneladas de solo, sementes e insumos através da erosão laminar, causada pelas fortes enxurradas. A manutenção da cobertura do solo com o plantio direto, ao longo dos anos,
favorece o equilíbrio entre biologia, nutrientes e planta.
Tendo em vista que o sistema plantio direto foi fundamentado na eficiência da utilização do glifosato como herbicida, Aroldo
enumerou alguns pontos fundamentais proporcionados pelo manejo antecipado das plantas daninhas, como:
• Diminui a competição por água no início de desenvolvimento da cultura;
• Aumenta a decomposição dos restos culturais das coberturas ou plantas daninhas, por disponibilizar nutrientes e evitar a
adsorsão;
• Quebra o ciclo de pragas. Quando se desseca, por exemplo, aveia-preta ou azevém ou ervilhaca com antecedência ao
plantio, há diminuição na taxa de plantas dominadas na cultura
seguinte. Nota-se que quando não se faz o controle antecipado
das plantas daninhas o número de plantas dominadas é muito
4
Figura 5. Danos em milho ocasionados por pragas de solo. Dessecação
realizada muito próxima ao plantio.
• Melhora a uniformidade de plantio e evita o espelhamento
do sulco de plantio;
• Diminui os efeitos alelopáticos de coberturas ou plantas
daninhas;
• Uniformiza o estádio de plantas daninhas, facilitando a
ação dos herbicidas pós-emergentes;
• Promove o controle de plantas de difícil controle (guanxuma
de toco, capim de rhodes, amargoso e poaia-branca, trapoeraba,
erva-quente, etc.); e
• Aumenta a produtividade.
Comentou que as coberturas mortas interferem no desenvolvimento da cultura através da alelopatia, causando redução de
germinação, falta de vigor vegetativo, morte de plântulas, amarelecimento/clorose das folhas, redução do perfilhamento e redução/deformação das raízes. Dependendo da velocidade de decomposição da palhada, sua influência pode ser maior, se os materiais
forem mais lignificados, com alta relação C/N, e mais ricos em substâncias alelopáticas; ou menor, se os materiais forem menos
lignificados, ricos em carboidratos, mais facilmente decompostos
pelos microrganismos. A dessecação antecipada do azevém, por
exemplo, promove menor efeito alelopático no milho, boa uniformidade de plantio, bom fechamento do sulco de plantio, manutenção
de água no solo e facilidade no corte da palha, enquanto o manejo
tardio, no plantio, causa desuniformidade de profundidade do plantio, dificuldade de fechamento do sulco, grandes efeitos alelopáticos
e dificuldade no corte da palha.
Assim, o manejo antecipado das plantas daninhas interfere
em uma série de fatores, como água, temperatura e entrada de luz no
solo. Então, pode-se diminuir os efeitos físicos das coberturas, permitindo a emergência de fluxos de plantas daninhas pelo aumento
da temperatura do solo, reduzindo os custos e uniformizando toda
a área.
Com a segunda aplicação do herbicida ocorre a morte dos
primeiros fluxos de infestantes, promovendo diminuição destas na
cultura e a liberação de substâncias alelopáticas no início de desenvolvimento das culturas, pela decomposição da cobertura.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
MANEJO SUSTENTÁVEL
Aroldo comentou que é possível melhorar muito o plantio
direto para as condições ambientais e econômicas do cerrado com
o desenvolvimento de trabalhos específicos para a região. Citou
algumas alternativas já testadas pela Monsanto, visando melhorar
os solos degradados da região devido, principalmente, ao preparo
convencional:
a. Uso de correntão: em função das grandes áreas, um fator
fundamental é substituir a grade niveladora, utilizada no sistema
convencional, pelo correntão, para incorporar as sementes de cobertura. Ele proporciona: alto rendimento e baixo custo, baixo
revolvimento do solo, mantendo os restos de cultura sobre o solo,
e baixa degradação dos restos culturais.
b. Uso de coberturas que se desenvolvem em condições de
seca, como brachiárias, sorgo ou milheto, que melhoram a cobertura do solo e aumentam a reciclagem de nutrientes.
A Brachiaria ruziziensis preenche os requisitos como cobertura de solo para o plantio direto por ter:
• Disponibilidade de sementes, rusticidade, ampla adaptação, fácil controle com herbicidas, baixa incidência de pragas e doenças; baixa exigência nutricional e hídrica;
• Boa produção de massa verde (média de 40 t ha-1);
• Elevada relação C/N, permitindo a presença da palha por
período mais longo;
• Hábito de crescimento cespitoso, o que resulta em 100%
de cobertura do solo, facilitando o plantio;
• Pode ser semeada a lanço ou incorporada ao solo;
• Auxilia na redução de patógenos – soja/feijão/algodão
(Rizoctonia e Fusarium) e milho (Cercospora, Diplodia e
Antracnose);
• Espécie com micorrização e recicladora de silício;
• Excelente seqüestradora de carbono.
Além disso, a Brachiaria ruzizienses pode ser consorciada
com milho para obtenção de cobertura morta, com o milho safrinha,
respeitando-se a melhor época de semeadura, e pode ser também
integrada com a pecuária.
Painel 2. MANEJO SUSTENTÁVEL NA AGRICULTURA
Palestra: EFEITO DO GLIFOSATO NA INCIDÊNCIA DE
DOENÇAS DE PLANTAS –
Tsuioshi Yamada, diretor da POTAFOS, Piracicaba, SP, e-mail:
[email protected]; [email protected]
O principal objetivo desta palestra, segundo Yamada, foi o
de propor soluções para o problemas que podem surgir com o uso
inadequado do glifosato.
Comentou que, nos últimos cinco anos, houve uma crescente participação dos defensivos no custo de produção da agricultura brasileira, com um aumento de 200% nas despesas com
fungicidas, coincidindo com o aumento da ferrugem na cultura da
soja, detentora de 44% do gasto total com defensivos na agricultura em 2005.
Disse que as doenças estão destruindo, cada vez mais, o
sistema de produção, e caso não se adote um sistema mais sustentável, a cadeia toda – ambiente, consumidor, agricultor e fornecedores de insumos e máquinas agrícolas – será penalizada.
A literatura confirma que a contaminação das culturas econômicas com glifosato pode torná-las mais suscetíveis às doenças.
Possivelmente, os mecanismos de defesa, construídos ao longo da
evolução, estão sendo desativados, bem como está sendo exacerbada a multiplicação de patógenos.
Sabe-se que a rota para a produção de compostos secundários (fitoalexinas, lignina, tanino), vital para a defesa da planta,
pode ser bloqueada pelo uso do glifosato, que é muito móvel e se
acumula nos meristemas, onde é estável e efetivo em concentrações mínimas.
Observa-se que o efeito do glifosato é maior nas raízes
do que na parte aérea, sendo que ele pode passar da planta-alvo
para a planta-não alvo através das raízes, como mostra trabalho
recente do Prof. Volker Römheld, Hohenheim University, Alemanha (Figura 6).
Outra cobertura alternativa, muito bem adaptada às condições de seca do cerrado, é o Cover crop, híbrido de capim sudão
com uma linhagem de sorgo. Suas principais características são:
alto crescimento com baixa necessidade de água; produção de 8 a
12 t ha-1 de matéria seca, alta competitividade com plantas daninhas; rebrote após início das águas; alta relação C/N; mantém a
umidade no solo; boa plantabilidade; mantém a cobertura no solo
até a colheita da soja.
Aroldo finalizou com uma orientação sobre o uso correto da
soja Roundup Ready. Disse que no sistema de soja Roundup Ready
é fundamental plantar no limpo para obter os melhores benefícios
da tecnologia e ganhos de produtividade. Quando se planta no
limpo, independentemente da cobertura ou cultura que esteja sendo cultivada, sempre há ganhos de produtividade comparativamente
a manejos junto ou após plantio das culturas.
E que deve-se fazer o manejo de pré-plantio. O intervalo
entre a dessecação e o plantio é fator fundamental para o sucesso
do sistema. Com isso, há facilidade no plantio; armazenamento de
água no solo; distribuição adequada de sementes; facilidade no
controle das plantas daninhas na pós-emergência; garantia de
estande adequado da soja; evita a matocompetição precoce;
minimiza os efeitos alelopáticos; há ganhos de produtividade.
Figura 6. Inibição do crescimento do girassol induzida pelo glifosato devido à não observância do período de carência para aplicação.
Ele observou que o crescimento do girassol, plantado em
vaso onde havia Lolium perene como planta de cobertura, era afetado pelo intervalo de tempo entre a dessecação desta com o
glifosato e o plantio de girassol. E quanto menor o intervalo de
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
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MANEJO SUSTENTÁVEL
tempo, menor era o crescimento da planta de girassol. E, ainda, que
esta redução no crescimento estava relacionada com o aumento de
ácido chiquímico nas raízes, induzido pelo glifosato. E o aumento
do teor de ácido chiquímico, que mede indiretamente o efeito do
glifosato, estava relacionado com o cálcio no solo, que era menor
no Arenosol. Ou seja, quanto menor o teor de cálcio no solo, maior
a passagem do glifosato da planta-alvo para a planta-não alvo e,
conseqüentemente, maior o acúmulo de ácido chiquímico.
Em culturas perenes, como citros, por exemplo, quando as
plantas estão enfraquecidas, como conseqüência do mau uso de
glifosato, é comum se notar perda de saia, morte de gemas terminais, seca de galhos, queda de frutos, além de parasitismo dos
galhos por musgos e mini-samambaias, possivelmente devido à
exsudação de açúcares e proteínas dos tecidos, como conseqüência da perda de controle da permeabilidade das membranas
celulares.
Yamada comentou algumas referências da literatura mostrando efeitos do glifosato no:
• Desenvolvimento de invasoras resistentes ao mesmo;
• Reduções na nodulação, produção de leghemoglobina e
clorofila na soja sob estresse hídrico;
• Aborto de maçãs, no algodão RR; e
• Aumento da severidade do “mal-do-pé”em trigo de inverno cultivado após soja RR.
Também citou trabalhos do Dr. Robert Kremer, University of
Missouri, mostrando que os fungos de solo e de raízes, principalmente Fusarium, vão predominar no ambiente manejado com
glifosato. Eles são indicadores da ecologia microbiana da rizosfera,
com potencial patogênico às plantas. Algumas espécies causam
doenças de importância econômica, como podridões radiculares,
síndrome da morte súbita (Fusarium solani f sp glycines), e podem
se associar ao nematóide de cisto da soja e aumentar a severidade da
doença.
Ressaltou que o glifosato é um excelente herbicida quando
bem utilizado, mas seu manejo inadequado pode causar problemas
à agricultura. E comentou algumas estratégias que podem ser
indicadas para mitigar os seus efeitos negativos, tais como:
• Gessagem: o aumento do teor de Ca na solução do solo
pode funcionar como antídoto do glifosato através da sua complexação.
• Aplicação de manganês via solo e/ou via foliar: o Mn é
fundamental para a resistência da planta às doenças mas pode
ser indisponibilizado pela ação do glifosato sobre os organismos
redutores do elemento na rizosfera. E o predomínio da população de microrganismos oxidantes pode levar à deficiência de Mn
na planta.
• Intervalo de tempo entre a dessecação e o plantio: deve-se
respeitar o tempo de espera de duas a três semanas entre a
dessecação e o plantio de culturas anuais para que as plantas não
sofram interferências do herbicida, do efeito alelopático das plantas daninhas, do sombreamento, etc., e tenham um desenvolvimento inicial rápido e vigoroso. Caso o tempo de espera entre a
dessecação e o plantio não for considerado, a absorção do glifosato
remobilizado na rizosfera poderá resultar na diminuição da produção da planta-não alvo.
Em experimentos realizados nas áreas de cooperados da
COAMO, no Paraná, por exemplo, observou-se que a dessecação
realizada 20 dias antes do plantio da soja e do milho no sistema
6
seqüencial (SIC – sistema integrado de controle de plantas daninhas) resultou num incremento de cerca de 11 sacas ha -1 de soja
e de 18,5 sacos ha-1 de milho, quando comparada ao sistema aplique-plante.
Concluiu dizendo que a mudança do sistema tradicional de
cultivo para o sistema mais sustentável somente virá com a conhecimento do problema e a vontade de enfrentar o desafio.
A seguir, Alberto Henrique Ricordi, Alonso José de Resende
Júnior e Maurício Akira Okubo, estagiários do GDT Potafos-Esalq,
apresentaram algumas das novas tecnologias para manejo sustentável na agricultura.
• Em culturas perenes: manejo da cobertura vegetal com
roçadeira ecológica. Nessas culturas é possível manejar as invasoras com reduzido uso ou até eliminação do glifosato, através do uso
de roçadeira ecológica junto com manejo da adubação e de plantas
de cobertura, como, por exemplo, Brachiaria ruziziensis, Arachis
pintoi, ervilhaca peluda (Figuras 7 e 8).
Figura 7. Brachiária nas entrelinhas de citros. O manejo é feito através de
roçadeiras, sem uso de herbicida ou grade.
Figura 8. Ervilhaca peluda na entrelinha de café. No detalhe, alta produção
do cafeeiro jovem, como resultado do manejo alternativo.
• Em culturas anuais, sob sistema plantio direto, é bastante promissor o manejo das invasoras através de plantas de
cobertura como aveia preta, ervilhaca peluda e nabo forrageiro
(Figura 9). Estas são roladas (ou colhidas) antes do plantio de
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
MANEJO SUSTENTÁVEL
• Redução do custo de produção – com a economia no consumo de adubo nitrogenado e no controle de ervas daninhas e de
nematóides.
Donizeti comentou que a adubação verde, atualmente, está
sendo aplicada em grandes áreas, como as de reforma de canaviais
(Figura 10), áreas novas, de implantação de culturas. Por anteceder a
implantação das mais diversas culturas, sejam anuais ou perenes, melhora a capacidade produtiva dos solos degradados ou de baixa fertilidade. O uso intercalar em culturas perenes e, atualmente, anuais, permite aproveitar o espaço nas entrelinhas para produzir biomassa,
além de outros benefícios (Figura 11). Tem-se observado atualmente,
também, o uso de leguminosas perenes em culturas perenes, ou de
leguminosas anuais em culturas anuais, ou em revegetação de áreas
degradadas (por exemplo, taludes de estrada, áreas de mineração).
Figura 9. Entrelinha de milho sem a presença de plantas daninhas. Manejo
do nabo forrageiro na entrelinha de milho somente com a aplicação de atrazina em pós-emergência, sem dessecação em présemeadura.
verão e eventuais invasoras são controladas com adubo líquido, como URAN, e também com os herbicidas convencionais, se
necessários.
Palestra: MANEJO DE PLANTAS DE COBERTURA EM
SISTEMAS SUSTENTÁVEIS –
Jo
sé A. Donizet
José
Donizetii Carlos , Sementes Piraí S/A, Piracicaba, SP,
Figura 10. Crotalaria juncea na reforma de canavial.
e-mail: [email protected]
De acordo com Donizeti, há muito tempo o agricultor constatou que os solos perdem a produtividade com o plantio contínuo,
intensivo, e desde a antigüidade já se sabia da necessidade de se
rotacionar as culturas e fazer o pousio com plantas que enriquecem
o solo e permitem a continuidade do seu uso.
No Brasil, o adubo verde foi bastante utilizado no início do
século passado, mais expressivamente na cultura do café, naquela
época ainda cultivado em solos de boa fertilidade. Com a queda da
fertilidade dos solos e com a expansão da fronteira agrícola, o adubo verde voltou a tomar força, e a partir das décadas de 70 e 80 as
pesquisas aumentaram e o consumo se acelerou. Mesmo com a
tecnologia moderna dos adubos químicos a adubação verde ainda
produz excelentes resultados, proporcionando sustentabilidade e
continuidade da produção agropecuária.
Explicou que a adubação verde é uma prática cujo objetivo é
melhorar a capacidade produtiva do solo. Essa melhoria do solo é
obtida através da adição de material orgânico não decomposto de
plantas cultivadas exclusivamente para este fim, que são manejadas antes de completarem o ciclo vegetativo. A adubação verde
pode ser realizada com diversas espécies vegetais (crucíferas,
gramíneas, compostas, etc.), porém, a preferência pelas leguminosas
está consagrada por inúmeras vantagens, dentre as quais destacase a sua capacidade de fixar nitrogênio direto da atmosfera, através
da simbiose.
Citou que a adubação verde pode ser considerada uma
tecnologia sustentável porque, aplicada à agricultura, promove:
• Aumento da receita – devido ao ganho de produtividade e
melhoria da qualidade do produto;
• Preservação do solo – pelo combate à erosão e melhoria
dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo; e
Figura 11. Feijão-de-porco intercalado à cultura de milho.
Disse que a primeira finalidade para o adubo verde é como
cobertura do solo, como cobertura viva, e que, depois de manejado,
passa para outra fase, como cobertura morta do solo.
Comentou que essa cobertura, além de proteger o solo contra os efeitos deletérios da radiação solar, protege-o da erosão e da
infestação por plantas daninhas.
Quanto ao seu efeito abaixo do solo, as raízes das plantas de
cobertura promovem aeração e estruturação do solo, rompendo as
camadas, devido à sua natureza rústica. Além disso, elas fazem o
trabalho de reciclagem, trazendo à superfície os nutrientes lixiviados,
perdidos em profundidade, depois que ela é cortada e decomposta
no solo.
Comentou que nos últimos cinco anos tem havido uma procura muito grande por leguminosas que combatem os nematóides e
que, comercialmente, os adubos verdes que estão sendo mais comercializados e utilizados são:
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
7
MANEJO SUSTENTÁVEL
Leguminosas de verão: Crotalaria breviflora (rotação em
café), Crotalaria spectabilis (controle de nematóides), Crotalaria
mucronata (rotação com fumo), Crotalaria ochroleuca (indicada
para solos com pH baixo e com alumínio), Crotalaria juncea (maior
produção de biomassa em menor tempo, para reforma de canaviais),
feijão-de-porco (intercalar em citros, milho, banana), feijão guandu
(recuperação de solos degradados), guandu anão (intercalar nos
citros), labe-labe (intercalar em citros, rotação com milho), mucuna
anã (intercalar em café), mucuna preta, mucuna cinza, milheto, girassol.
Leguminosas de inverno: aveia amarela, aveia preta, azevém,
ervilhaca (intercalar em citros e café, rotação com milho).
De acordo com Donizeti, os resultados científicos comprovam que o casamento de leguminosas e gramíneas dá muito bons
resultados. Todas as rotações de gramíneas de inverno dão bom
resultado com soja e todas as rotações de leguminosas dão bom
resultado com milho. O nabo forrageiro dá bom resultado com ambas
as culturas. Para o cafeeiro, sugeriu o uso de Crotalaria breviflora
e mucuna anã; e no sistema de renque, o guandu, a cada 5-10 linhas.
Para os citros, tanto em formação quanto em produção, as mais
usadas ainda são o labe-labe, o guandu anão e o feijão de porco; já
para o pomar em formação, Crotalaria juncea e guandu; e em
pomares antigos, feijão-de-porco.
Muitos trabalhos mostram e comprovam, ainda, que o uso
conjunto de várias espécies de leguminosas, denominado coquetel
de espécies de verão, proporciona melhor resultado no solo do que
o uso isolado de cada uma das espécies. Mas que ele ainda não
está sendo adotado devido a problemas operacionais ocasionados
pela diferença de tamanho entre as sementes.
Quanto à recomendação, comentou que a escolha da espécie de adubo verde, da época do plantio, do espaçamento e da
densidade de semeadura dependem do sistema de produção da
cultura e das condições de solo e clima. O solo corrigido é indispensável para o sucesso da adubação verde e a necessidade de adubação mineral depende da análise do solo.
Palestra: MANEJO SUSTENTÁVEL NA CITRICULTURA –
Ronaldo Cabrera , CATI - Casa da Agricultura de Novais, SP,
maior suscetibilidade à seca, maturação precoce dos frutos, com
baixa fixação na época da florada, ponteiros com die back e saia
levantada, aspectos visuais que caracterizam a morfologia de uma
planta improdutiva, anti-econômica e suscetível a pragas e doenças. E com o aumento de pragas e doenças, também aumenta o
custo de produção.
Segundo Ronaldo, tudo o que a parte aérea da planta mostra
é reflexo do seu sistema radicular. Com a abertura de trincheiras em
pomares na região norte do Estado de São Paulo, observou-se que
os pomares doentes e improdutivos têm um sistema radicular que
não ultrapassa 20 cm de profundidade, enquanto pomares saudáveis e produtivos possuem sistema radicular denso, bem distribuído e atinge profundidade superior a 3,5 metros. O sistema radicular
profundo busca água, potencializa a absorção de nutrientes e recicla
os nutrientes lixiviados que estão na camada subsuperficial do solo.
Em pomares já implantados, o citricultor deverá partir para
a adubação do sistema de produção enfatizando os nutrientes N, P,
S, Ca e B e o manejo de mato. A visão de sistema de produção é de
extrema importância, pois é preciso adubar o sistema em área total e
não a planta. E quando se fala em adubar o sistema de produção se
parte do princípio de que não se deve adubar o solo somente na
projeção da saia e sim em área total, corrigindo tanto embaixo da
saia quanto no meio de rua (Figura 12).
Ronaldo comentou que o manejo de mato proporciona muita segurança para a recomendação de doses maiores de gesso, pois
uma braquiária bem manejada (20 t ha-1 de matéria seca) recicla em
termos de nutrientes o equivalente ao que 2,7 t ha-1 de gesso carreiam
para as camadas abaixo de 20 cm de profundidade. Observa-se que
os pomares que recebem anualmente o gesso associado ao manejo
de mato vêm respondendo muito bem em produtividade e tolerância à seca. Salientou que, nas áreas em que se usa gesso em doses
maiores, deve-se tomar o cuidado de fornecer magnésio na forma
de magnesita, sulfato de magnésio ou sulfato duplo de potássio e
magnésio, termofostatos magnesianos, calcário dolomítico e outras fontes. É preciso fornecer também molibdênio, para compensar
o efeito competitivo do ânion sulfato.
Destacou que hoje os citricultores estão redescobrindo a
importância da matéria orgânica para a citricultura, adubando o mato
e-mail: [email protected]
De acordo com Ronaldo, há necessidade de se buscar sistemas alternativos de
produção para a citricultura brasileira, uma
vez que o sistema convencional está sendo
inviabilizado pela baixa produtividade, pelo
aumento do custo de produção e pelo aumento da incidência de pragas e doenças.
O estreitamento das margens de lucro
levou muitos citricultores a adotarem a irrigação como forma de aumento de produtividade e conseqüente redução do custo de produção, porém, observa-se que o custo da irrigação (13,3 toneladas de fruta por hectare
ano, ou 326,9 caixas ha-1, considerando-se o
custo de capital de 12% ao ano e depreciação
em 13 anos) praticamente se iguala ao aumento de produtividade obtido através da sua
adoção (13 t ha-1).
Um pomar mal manejado possui folhas e frutos pequenos, raízes superficiais,
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Figura 12. Efeito da adubação em área total e da gessagem na distribuição do sistema radicular em
pomar de citros com 1 ano de idade.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
MANEJO SUSTENTÁVEL
na entrelinha do pomar para incrementar a produção de biomassa e,
depois de manejá-lo, utilizando-o como fonte de matéria orgânica.
Com isso, consegue-se reciclar os nutrientes do perfil do solo, através do aprofundamento do sistema radicular, otimizar o uso de fertilizantes, reduzir os picos de temperatura, reduzir a perda de água
por evaporação e eliminar o uso de herbicidas.
Quanto ao balanço de água do solo, disse que ao se economizar 25% de água com o uso de cobertura morta, em condições de
evapotranspiração de 6 mm ao dia, é possível obter 200 mm de água
a mais no ano, quando se faz um manejo bem feito, ou seja, com
mais matéria orgânica, mais gesso, mais boro e menos herbicida.
Ronaldo finalizou mostrando resultados preliminares de sua
tese de doutorado sobre “Adição de palhada e boro na qualidade
do solo e produtividade em pomar comercial de laranja ‘Pera’ [Citrus
sinensis (L.) Osbeck]”, em que, na média de quatro safras, observou que:
• Com a aplicação de 15 t ha-1 e 30 t ha-1 de mulch no pomar
houve um aumento na produtividade de cerca de 8 t ha-1, ou seja,
um aumento de 200 caixas ha-1 em relação à testemunha;
• Apesar da alternância de safras, observou-se que a produtividade foi crescente ao longo dos anos;
• A partir do 2o ano, em todos os anos houve efeito positivo
dos tratamentos com cobertura morta sobre a produtividade;
• Houve aumento significativo da biomassa microbiana no
tratamento com 30 t ha-1 de mulch, enquanto na testemunha e no
tratamento com 15 t ha-1 praticamente não houve efeito significativo;
• Os valores de carbono e de N (isótopos), medidos nas
profundidades de 5 cm, 15 cm e 25 cm do solo, mostraram maiores
diferenças nos primeiros 5 cm, enquanto nas maiores profundidades praticamente não houve diferença estatística;
• A cobertura morta não influenciou a capacidade de retenção de água no solo, indicando que seu maior efeito é na diminuição da evaporação de água, do que no aumento da capacidade de
retenção de água.
• Para melhor produtividade, a relação foliar P/S deve estar
próxima de 0,6, enquanto a relação K/Ca deve estar próxima de 0,4.
P alestra: MANEJO SUSTENTÁVEL NA CAFEICULTURA –
Durval Rocha Fernandes , MAPA-PROCAFÉ, Campinas, SP,
os agricultores em agricultura sustentável, tanto em práticas quanto em conceitos, para que possam desenvolver suas próprias práticas a partir de sua realidade local;
• O monitoramento de pragas e doenças é a base para as
decisões sobre proteção das plantas. Nenhum inseticida ou fungicida é aplicado sem monitoramento, e a aplicação deve ser sempre
localizada e, de preferência, curativa, nunca preventiva;
• A diversidade biológica deve ser reforçada, através do
manejo de mato. Quanto maior a diversidade de mato, maior o número de inimigos naturais e maior a proteção das plantas;
• A qualidade da produção deve ser avaliada por parâmetros
ecológicos do sistema de produção bem como pelos parâmetros de
qualidade externa e interna usuais;
• Deve-se eliminar ou reduzir as fontes de contaminação
geradas pelas atividades agropecuárias – diagnosticar as fontes de
contaminação, identificar os impactos gerados e propor medidas
preventivas e/ou minimizadoras;
• A renda da propriedade deve ser assegurada – a lucratividade da atividade deve ser preservada; e
• Manter as múltiplas funções da agropecuária – atender às
necessidades da sociedade como um todo, gerando produtos e
empregos no campo, assegurando a preservação e diversificação
da fauna, flora e paisagem local.
Durval salientou que, quanto ao aspecto da nutrição de plantas, as adubações são calculadas para repor os nutrientes exportados através das colheitas, e essa reposição deverá ser feita através
das adubações orgânica, verde e química, com base na expectativa
de produção.
Quanto ao aspecto de manejo, não se deve deixar o solo
descoberto, a não ser na época da colheita. Economicamente, evitase gastos desnecessários com capinas e diminui-se o custo final de
produção. Por isso, o manejo do cafeeiro integrado pode ser realizado apenas por meio de roçadas.
A baixa intensidade de cultivo traz benefícios desse manejo
correto do mato, como:
• Redução de capinas. São realizadas roçadas alternadas
mantendo-se uma linha de café com mato até a lavoura florescer,
para aumentar o número de inimigos naturais e, conseqüentemente,
reduzir o uso de inseticidas (Figura 13);
e-mail: [email protected]
Segundo Durval, a missão da assistência técnica é a de promover o desenvolvimento de uma cafeicultura sustentável e saudável, buscando bebida com qualidade superior e alto grau de rastreabilidade, como deseja o mercado global.
E para atender às exigências do mercado globalizado tem-se
que estar atento aos novos conceitos presentes na agricultura,
como: ambiente, biodiversidade, sustentabilidade,qualidade de vida,
segurança alimentar, rastreabilidade – certificação, seqüestro de
carbono –, e aos princípios da agricultura sustentável, que são
basicamente os seguintes:
• Só pode ser aplicada holisticamente;
• Os custos externos e os impactos indesejáveis são minimizados através da integração dos recursos naturais e dos mecanismos de execução das atividades e exploração agrária, visando
minimizar o aporte de insumos procedentes do exterior;
• Os conhecimentos dos agricultores devem ser regularmente atualizados, através de cursos de treinamento. Deve-se capacitar
Figura 13. Cafezal com mato roçado em ruas alternadas.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
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MANEJO SUSTENTÁVEL
• Uso de subdosagem de herbicidas através do uso de adjuvantes ou controle do pH da calda;
• Uso localizado de herbicidas. Para café novo, com até três
anos de idade, deve-se evitar o uso de glifosato para não causar
injúrias às plantas (Figura 14);
Figura 15. Milheto intercalado na entrelinha do café.
Figura 14. Muda de café injuriada pela aplicação incorreta de glifosato.
• Auxílio no controle físico e alelopático das invasoras;
• Maior controle da erosão e, conseqüentemente, melhor
conservação do solo;
• Estabelecimento de ação antipercolante e de reciclagem
de nutrientes (bomba biológica) pelo mato;
• Aumento do teor de matéria orgânica do solo;
• Aumento da infiltração de água e umidade do solo;
• Melhoria da vida microbiana do solo;
Outro princípio empregado no manejo sustentável do cafezal,
ao qual se associa o monitoramento da nutrição das plantas, é o
Monitoramento Integrado de Pragas e Doenças (MIP). Através dele
consegue-se especificar as pragas cuja presença deve ser monitorada,
e os métodos a serem utilizados no monitoramento, e utilizar o limiar de
dano econômico para as pragas mais importante e freqüentes.
Ressaltou que as atividades deverão incluir medidas para
assegurar o aumento da diversidade biológica, já que esta é condição essencial do controle biológico.
Comentou, finalmente, que, para mudar a agricultura no Brasil hoje, é necessário mudar não só a tecnologia, mas também a
mentalidade dos agricultores e dos agrônomos; que o manejo sustentável de café, com bastante mato no meio da lavoura, além de
ficar mais econômico, pode recuperar cafezais degradados, como
ilustrado na Figura 16.
• Diminuição da compactação do solo pelo efeito amortecedor da cobertura vegetal;
• Diminuição da amplitude térmica do solo;
• Manutenção de elevada diversidade de espécies, que garante refúgio e a subsistência de inimigos naturais;
• Manutenção e melhoria das propriedades físicas e químicas do solo;
• Redução do custo de produção quando feito racionalmente.
Salientou que uma das preocupações que também se deve ter na formação de um bom ambiente de
produção é com a proteção do cafezal contra ventos e
contra altas temperaturas, através da implantação de
quebra-ventos ou de arborização. Na formação de café,
a proteção contra ventos é fundamental para se evitar
o brotamento das mudas.
Figura 16. À esquerda, cafeeiro em lavoura tradicional; à direita, em tratamento sustenEm cafezal plantado em regiões recém-desbratável.
vadas, como a dos cerrados, por exemplo, em que, no
início, praticamente nada cresce nas entrelinhas, o milheto é uma
Durval finalizou enumerando os desafios para se produzir
das culturas que tem sido utilizadas para manter o solo coberto e café de maneira sustentável: manter o padrão de produto; diminuir
que, além de proporcionar todos os benefícios já citados, protege os custos (sair do vermelho) através do uso de novas técnicas e de
o café contra o vento (Figura 15). Assim, a cultura é formada de maior observação; planejar para aumentar o lucro com produtos de
maneira mais fácil e com menor custo.
melhor qualidade – valor agregado; e atenção social e ecológica.
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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
MANEJO SUSTENTÁVEL
Painel 3. INTEGRAÇÃO SUSTENTÁVEL DA
AGRICULTURA COM A PECUÁRIA
Palestra: INTEGRAÇÃO SUSTENTÁVEL DA
AGRICULTURA COM A PECUÁRIA NO PARANÁ –
Richard F. Dijkstra, Fazenda Frank’Anna, Ponta Grossa, PR,
e-mail: frankannarichard@ uol.com.br
De acordo com Richard, a estratégia da Fazenda Frank’Anna
para a sustentabilidade da propriedade é a integração agropecuária
em plantio direto. O foco é manter o solo vivo, que vai se sustentar
e alimentar diversas gerações.
Richard disse que, quando se fala em integração agropecuária, é importante se pensar em integração de atividades e de
pessoas, que visam o mesmo objetivo (Figura 17).
Assim, na mesma área, em sistema de rotação, é possível
produzir 60 t ha-1 de matéria verde de milho, 35 t ha-1 de matéria
verde de sorgo e 30 t ha-1 matéria verde de cevada, permitindo
produzir, atualmente, 38.620 litros ha-1 ano-1 de leite, produção considerada bastante alta.
Comentou que a silagem de grão úmido (30% a 32% de umidade) é outra opção que permite a otimização da colhedeira e do
sistema de armazenagem, porque ela é ensilada em trincheira de
concreto, coberta com lona, tornando-se excelente material, de grande durabilidade, e que garante bom resultado na produção de leite.
Segundo Richard, um dos cuidados que se toma em relação
ao manejo do solo é limitar a produção de silagem às áreas mais
aptas, garantindo bom volume de um produto de alta qualidade.
Disse que a produtividade média de soja é de 3.400 kg ha-1
(prejudicada nos últimos três anos pela seca durante o enchimento
de grãos), a de milho de 8.800 kg ha-1, e a produção média diária de
leite é de 38 litros por animal.
Quanto ao faturamento das atividades em 2005, a participação da agricultura foi de 41%, a da pecuária leiteira de 33% e a da
suinocultura de 26%. O destino dos produtos da propriedade é a
Cooperativa Agropecuária Batavo, que fornece os insumos com
melhores preços e também indica os melhores mercados para a
comercialização dos produtos. Na Fundação ABC, a empresa busca
o apoio da pesquisa, para a descoberta dos gargalos que podem
estar limitando a produtividade da fazenda.
Figura 17. Fazenda Frank’Anna – integração agropecuária em busca da
sustentabilidade.
Assim, a propriedade mantém integradas as atividades de
pecuária leiteira confinada, suinocultura e agricultura, buscando
torná-las fortes, produtivas e rentáveis. As estratégias são: crescimento vertical (aumentar a produção e a produtividade na mesma
área); viabilizar as culturas de inverno para forragem; manter a produção de grãos; diversificar as atividades para diminuir os riscos e
buscar a parceria de sócios.
No verão, a base da alimentação é o milho em forma de silagem
(cerca de 13 t ha-1 de grãos), que é plantado no espaçamento de
34 cm, em população de 88.000 plantas ha-1, e é fertirrigado. Após a
ensilagem do milho, e para que haja rápida cobertura e proteção do
solo, entra-se normalmente com milheto ou sorgo na área, que são
usados para silagem ou para palha, dependendo do ano e das condições climáticas na região.
Richard comentou que, em um futuro próximo, já antevendo
o aumento de preço da proteína, pensa-se em viabilizar a silagem de
soja, transformando sua proteína em leite. Disse que, desta forma,
pode-se aumentar a rentabilidade da soja em R$ 900,00 por hectare
(com base no preço do farelo de soja).
No inverno, uma das opções de cultura para silagem na região é o azevém, que tem altíssima qualidade (28% de proteína bruta), mas apresenta produtividade limitada e um custo bastante alto,
inviabilizando a cultura. Desta forma, está optando por culturas de
maior produtividade, como a cevada, que produz 16% de proteína
bruta e 30 t ha-1 de matéria verde, ensilada diretamente, sem necessidade de pré-secagem.
Os dejetos da suinocultura e da pecuária leiteira, depois de
passarem por um biodigestor para produção de biogás (1.5002000 m3 dia-1), são utilizados para fertirrigação. O biogás alimenta o
motor para a fertirrigação, tornando o sistema eficiente a um custo
muito baixo, sem compactação do solo, como no caso da distribuição com o trator, com melhor distribuição e melhor rendimento.
Além disso, com a utilização do biogás, é possível fazer a secagem
de milho, soja e trigo.
Richard citou outras formas de integração agropecuária
adotadas por pequenos agricultores da região, e que tem apresentado excelentes resultados, com crescimento de 15% a 20% ao ano,
que são: agricultor com pecuarista (parceria plena); agricultor fornecendo forragem para o pecuarista; entre propriedades pecuárias:
uma especializada na reprodução e criação do gado e outra focada
na produção de leite.
As vantagens da parceria, para o pecuarista, são: foco na
produção de leite e de silagem necessária à sua produção; aumento
de produção; redução de custos fixos; otimização da rotação de
culturas e silagem melhor confeccionada. Já para o agricultor, as
vantagens são: foco na produção de grãos; antecipação de colheita, permitindo o cultivo de outra cultura; otimização das colheitadeiras e receita garantida pela cooperativa.
Quanto aos problemas que podem surgir com estas parcerias, elas dizem respeito a: logística, timing de ensilagem e preço da
safra, que pode dificultar as negociações.
Encerrou deixando a mensagem de Charles Darwin aos participantes: “Não é a mais forte das espécies que sobrevive, nem a
mais inteligente, mas a mais responsiva à mudança”.
Palestra: INTEGRAÇÃO SUSTENTÁVEL DA
AGRICULTURA COM A PECUÁRIA NO CERRADO –
Jonadan Min Ma, Sementes Boa Fé, Uberaba, MG, e-mail:
[email protected]
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
11
MANEJO SUSTENTÁVEL
Segundo Jonadan, há quatro fundamentos estratégicos do
Grupo Mao Shou Tao para a administração da empresa: diversificação de culturas, verticalização, integração dos setores e sustentabilidade.
Disse que a sustentabilidade, seja econômica, familiar, social, ambiental ou financeira, deve fazer parte da vida de todos, é
uma necessidade que impera atualmente e que se manifesta de maneira mais evidente nos momentos de maior necessidade, de crise.
E um dos principais aspectos da sustentabilidade é a diversificação, que foi obtida pelo Grupo através da produção de sementes, de commodities, da produção pecuária, da industrialização dos
produtos (verticalização) (Figura 18), do setor comercial, de criação
de armazéns gerais (Figura 19).
(soja, milho e sorgo), cana-de-açúcar, além da de carne e leite, sendo que a parceria é fundamental para a sustentabilidade do agronegócio.
Disse que a empresa busca a eficiência na produção agrícola e na pecuária intensiva de leite e carne. O sistema pecuária de
leite é dividido em três sistemas: loosing house; pastejo em sistema
irrigado e pastejo em sistema de integração lavoura-pecuária. Já a
pecuária de corte engloba: confinamento total, pastejo em sistema
irrigado e pastejo em sistema de integração lavoura-pecuária.
O primeiro ponto de diversificação de atividades da empresa, e também da verticalização, foi na cadeia da soja, de forma integral, desde o melhoramento genético (por exemplo, com a criação
da cultivar Conquista), a produção comercial da semente, a industrialização, até sua chegada à mesa do consumidor, nos segmentos
de commodities e alimentar.
Destacou que os principais objetivos da implantação das
pastagens irrigadas e da integração lavoura-pecuária são: redução
dos custos de produção do setor agrícola e pecuário; aumento da
receita líquida por hectare; adoção plena do conceito sistema plantio direto; geração de sustentabilidade da atividade agropecuária.
E os desafios na implantação do projeto de integração lavoura-pecuária, no sistema plantio direto, são: formar palhada em
quantidade e qualidade; aumento contínuo na produtividade de
soja e milho; implantação da integração sem afetar a alta produtividade do milho (até 10 t ha-1); manter a brachiária continuamente no
sistema com rotação de culturas soja-milho; implantação em 100%
da área de grãos; manter uma parcela da área com pastagem também
na primavera e no verão.
Jonadan destacou os bons resultados obtidos a partir de
um projeto implantado em parceria com a Potafos na busca da melhor forrageira para a integração lavoura-pecuária, dentro do conceito de sustentabilidade. Disse que, dentre as forrageiras estudadas, a Brachiaria brizantha foi eleita a melhor forrageira para a
região, com excelente comportamento pós-colheita, suportando bem
a seca no período outono-inverno, além de permitir um bom pastejo
(Figura 20), sem afetar a produtividade do milho (167 sacas ha-1).
Figura 18. Verticalização da produção.
Figura 19. Complexo de silos graneleiros e desvio ferroviário próprio.
De acordo com Jonadan, um dos pontos importantes para
gerar sustentabilidade na atividade é investir e buscar o apoio das
instituições de pesquisa, das parcerias, e fazer o compartilhamento
das informações, através de dias de campo, de encontros e de palestras técnicas. Acrescentou que este é o princípio da cooperativa
– compartilhar conhecimento –, e que o sucesso da sua empresa é
proporcional ao sucesso do setor como um todo.
Segundo ele, o mercado da produção agropecuária do Grupo está baseado na comercialização de sementes de soja, grãos
12
Figura 20. Gado em pasto de Brachiaria brizantha após a colheita de milho.
Na etapa de implantação em escala comercial (153,6 ha), observou-se, no balanço final, um incremento do lucro líquido da
integração lavoura-pecuária equivalente a 21% no lucro líquido da
soja e de 13% no lucro líquido do milho.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
MANEJO SUSTENTÁVEL
Jonadan finalizou sua palestra comentando e mostrando os
benefícios do projeto da integração lavoura-pecuária em plantio
direto, os quais podem ser resumidos como: redução dos custos de
dessecação para o plantio das culturas; redução do banco de espécie de plantas daninhas; cobertura permanente do solo; aumento
do nível de fertilidade; aumento do nível de matéria orgânica do
solo; melhora significativa na estrutura do solo; otimização de mãode-obra e estrutura da fazenda; baixo nível de exigência em investimentos e custeio; aumento de renda agrícola e aumento da lucratividade agrícola.
Palestra: SISTEMA SUSTENTÁVEL DE PRODUÇÃO
DE CARNE E LEITE NO BRASIL –
Ricardo Goulart, ESALQ, Piracicaba, SP, e-mail: goulart@ esalq.usp.br
Segundo Ricardo, a demanda por produtos de origem animal (carne vermelha e leite) produzidos em pastagem é crescente, e
a previsão é de que ela dobre até 2020.
Assim, no futuro, o desafio será atender a demanda por
quantidade através da produção com qualidade, em um sistema
sustentável que envolva conceitos econômicos, sociais e ambientais.
Comentou que quando se fala em sustentabilidade pensase em níveis de intensificação necessários para garantí-la, e que
envolvem fatores importantes como:
• Qualidade da água. O acúmulo de nutrientes na água pode
provocar sua eutrofização, causando a morte de peixes e resultando em problemas para saúde humana, pelo alto teor de nitrato. Mas,
em sistemas intensivos de pastagens tropicais observa-se que não
há lixiviação excessiva e acúmulo de nitrato nas camadas mais profundas do solo, e seu teor na água permanece dentro dos limites
permitidos pela legislação. Isto sugere que em sistemas intensivos
a perda de nitrato deve ser muito pequena devido à grande capacidade de extração e produtividade das gramíneas tropicais.
• Uso eficiente de nutrientes. Normalmente, pensa-se que o
baixo uso de insumos é o caminho para a sustentabilidade. Na verdade, pesquisas demonstram que pode haver redução no ganho de
peso dos animais quando não se faz a adubação de manutenção da
pastagem. A Figura 21 mostra que houve perda de cerca de 83% no
ganho de peso do animal quando não se fez a adubação de manutenção da pastagem, ao longo de nove anos. Por outro lado, houve
um aumento de cerca de 49% no ganho de peso do animal quando
se incrementou a fertilidade da pastagem através da adubação.
• Perda de solo. As pastagens podem ou não ser eficientes
no controle da erosão do solo, dependendo das suas condições.
Observou-se que através da adubação pode-se aumentar a produção de matéria seca, reduzir em 1/4 a perda de água e reduzir a
menos da metade a perda de solo. Áreas estabelecidas com gramíneas, ou que utilizam outros métodos que reduzem a velocidade
da água, são as práticas mais eficientes para diminuir o transporte
de sedimentos provenientes de áreas agrícolas e, conseqüentemente, reduzir o assoreamento.
De acordo com Ricardo, para se promover a sustentabilidade
na pecuária é necessário ser eficiente, intensificar o sistema de produção, favorecer uma dieta adequada ao animal e abatê-lo com menor idade. Resultados de experimentos conduzidos na ESALQ comprovaram que um melhor manejo de pastejo, que incluiu o fornecimento de suplemento energético e protéico a bezerros em engorda,
promoveu um ganho de 860 g cabeça-1 dia-1, em relação à testemunha, tratada somente com pastagem. Isso permitiu o abate do ani-
Figura 21. Redução da produtividade em pastagens sem adubação de
manutenção ao longo dos anos.
mal com 18 arrobas, em dois anos, economizando-se 60% da quantidade de alimento em matéria seca, 66% em quantidade de nutrientes digestíveis totais e 63% em proteína bruta, em relação ao abate
com 36 meses.
Isto está relacionado à diminuição do custo total de mantença, resultado do menor tempo de permanência com o animal e,
portanto, da menor exigência em nutrientes por kg de carne produzida, além da menor produção de metano. Em adição a isso, com a
menor área utilizada por kg de carne produzida, sobra mais área
para conservação do ecossistema natural.
Disse também que, quando se quer produzir uma pastagem
de boa qualidade, é necessário fazer uma desfolha freqüente, antes
que ela comece a acumular haste. E com isso, é necessário repor os
nutrientes extraídos pelo animal. Caso não se pretenda fazer a reposição de nutrientes, a eficiência de colheita tem que ser menor, para
aumentar a sustentabilidade da pastagem.
• Seqüestro de carbono. As pastagens têm um enorme potencial de acúmulo de carbono no solo. Embora elas ainda não
façam parte do atual Protocolo de Kyoto, sua grande contribuição
em área no mundo faz desse recurso um dreno potencial de carbono, superando os recursos florestais. Mas, quando o animal está
no pasto, ele emite metano, que é um gás com poder de efeito estufa
25 vezes maior que o do CO2. E, para reduzir a emissão de metano,
existem tecnologias como: melhorar a qualidade da dieta; adequação do manejo do pastejo para produzir forragem de melhor qualidade; uso de aditivos como antibióticos e ionóforos para melhorar
a conversão alimentar; outras alternativas de manejo que reduzam a
idade de abate.
• Bem-estar animal. Sabe-se que, com sombra, o animal
produz mais leite. Assim, fornecer sombra para o gado de leite é de
interesse do produtor, pois há diminuição do estresse animal e aumento na produtividade.
Finalizou dizendo que a atenção a todos estes itens leva a
um sistema de produção mais eficiente, a uma intensificação do
sistema de produção e, conseqüentemente, ao aumento da sustentabilidade do setor produtivo.
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 116 – DEZEMBRO/2006
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