Tratar a planta e não a doença: Princípio agroecológico de

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Tratar a planta e não a doença: Princípio agroecológico de manejo fitopatológico
Witalo da Silva Sales1, Joaquim Torres Filho2, Jackson Teixeira Lobo1
Aluno do curso de Agronomia da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri - Bolsista do Programa de Educação Tutorial - PET
Agronomia; e-mail: [email protected] ; [email protected]
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Orientador: Professor adjunto II do Curso de Agronomia da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri; e-mail: [email protected] Tutor PET Agronomia UFC Cariri.
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Resumo: O presente artigo teve como objetivo procurar mostrar que existem métodos simples e eficazes de
controle preventivo de doenças de plantas em sistema de cultivo agroecológico e apresentar uma revisão
bibliográfica de maneira clara e precisa sobre o manejo de doenças de plantas, através do emprego de controle
agroecológico e com aplicação de métodos culturais, tendo como principal objetivo demonstrar que o manejo
agroecológico pode ser empregado no controle da meloidoginose. Os métodos culturais e alternativos quando
realizados de forma precisa e minuciosa, apresentam resultados iguais ou superiores aos tradicionais,
proporcionando o desenvolvimento de uma agricultura voltada para conservação do meio ambiente obtendo um
produto final saudável. Utilizando-se, portanto de conhecimentos e técnicas de fácil aprendizado, o pequeno, médio
e grande produtor poderá controlar as doenças de suas plantações, explorando os próprios recursos naturais em seu
favor, tendo com isso monitoramento das possíveis doenças que possam vir a atacar o plantio, permitindo ao
mesmo saber como agir para evitar ou diminuir os efeitos daquela doença sobre área cultivada.
Palavras-chave: agricultura, agroecologia, conservação, meio ambiente, sustentabilidade
Introdução
Na sociedade atual, a busca pela sustentabilidade tem ganhado grande destaque nas mais diversas áreas de
trabalho, não diferentemente, no meio rural tem emergido uma preocupação quanto aos efeitos das atividades do
homem para com o meio ambiente. Nesse contexto, surge a agroecologia, como um novo campo de estudo, que trás
como principal proposta o desenvolvimento sustentável da atividade agrícola, contrapondo-se assim ao modelo
convencional de produção. O movimento chamado Revolução Verde que deu início ao modelo de produção
tradicional conhecido atualmente, tinha como principal objetivo a maximização da produção para acabar com a
fome, essa tentativa foi falha e a nossa sociedade ainda sofre com problemas de fome e subnutrição em todo o
mundo. Em geral, o modelo “científico” da Revolução Verde continua sendo causador de destruição da
biodiversidade (ainda que tentemos ter leis de proteção) continua estreitando a base genética da qual depende nossa
alimentação, continua enfatizando os monocultivos e a produção de commodities, em detrimento da diversificação
de cultivos e da produção de alimentos básicos adequados aos diferentes hábitos alimentares e dietas das distintas
populações (Caporal, 2009).
Uma das preocupações existentes na ponta da cadeia de produção agropecuária é a utilização indiscriminada
de agrotóxicos. Segundo a ABRASCO (2012) em dossiê lançado durante o primeiro congresso mundial de nutrição
no Rio de Janeiro, o World Nutrition Rio 2012, alerta que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de consumo
de agrotóxicos no mundo. Um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado
pelos agrotóxicos.
Diante dessa informação surge uma grande preocupação quanto à qualidade dos alimentos que se consome
e, portanto uma busca pela melhor alternativa no tratamento de doenças de plantas, já que sua manifestação em
qualquer que seja o plantio cultivado, irá ocorrer; a forma como lhe dar com essa, irá depender do produtor, optar
pelo manejo tradicional ou pelo manejo agroecológico. A existência pacífica de microrganismos no solo, nas
plantas e animais é uma realidade, porém a sua manifestação maléfica significa uma falha do organismo, um
desequilíbrio no sistema.
De acordo com Paulus (2000) dentro desse enfoque de sistema, um problema qualquer de parasitas em
animais ou plantas não pode ser visto e atacado de forma isolada, e sim entendido em sua relação com as demais
condições em volta, isto é, do meio ambiente e do manejo, uma vez que a solução não se restringe apenas a eliminar
os sintomas de doença de uma planta ou um animal, por exemplo, e sim a resolver as causas que a provocaram. Na
verdade, a visão holística que se adota dentro dos princípios agroecológicos defende que se trate a planta e não a
doença. Isto retrata muito bem uma relação de causa – efeito, onde o emprego de agrotóxicos dentro do sua visão
imediatista combate a consequência e não a causa, enquanto o manejo solo-água-planta proporciona o equilíbrio
indispensável ao bom desenvolvimento vegetal.
Segundo Ambrosano (1999) para colocar em prática o manejo ecológico de parasitas é importante considerar
alguns princípios básicos, tais como: a) Todo parasita tem pelo menos um inimigo natural; b) Toda planta suporta
um determinado nível de ataque de parasita ou doença; c) Todo agroecossistema pode atingir equilíbrio na natureza;
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d) Todo controle pode ser seletivo; e) Toda planta com nutrição sadia e equilibrada dificilmente é atacada por
parasitas.
Os métodos de controle cultural objetivam antecipar as possíveis doenças que venham a ocorrer, sempre
monitorando não só a área, mas também seus arredores e buscando alternativas de diminuição ou a destruição do
inoculo existente, de que a cultura escape ao potencial ataque do patógeno e sempre direcionando o crescimento da
planta a ter uma menor suscetibilidade a incidência do agente etiológico. Toda atenção deve ser dada às medidas de
controle cultural juntamente com o controle biológico e a aplicação de defensivos naturais, estes compõem um
sistema mais complexo e efetivo de manejo de doenças de plantas.
Os defensivos naturais são aqueles produzidos a partir de produtos naturais, não tóxicos, eficientes no
combate aos agentes etiológicos das doenças, que não favoreçam formas de resistência dos agentes causadores, de
simples aquisição e produção, e simplicidade de manejo e aplicação. Estes defensivos permitem obter produtos
agrícolas mais saudáveis, evitar a contaminação do produto e do consumidor, manter o equilíbrio da natureza,
reduzir o número de defensivos agressivos, aumentar a resistência da planta contra a ocorrência de doenças
diminuindo os gastos com a condução das culturas, reduzir o custo de produção e aumentar a lucratividade e
atender a crescente procura de produtos sadios a nível local e internacional.
Os produtos considerados como
defensivos naturais mais utilizados nos cultivos são a calda bordalesa, pasta bordalesa, EM4 (ativado 0,1%),
extratos e caldas de plantas como calda de fumo (Nicotiana tabacum), calda de alho e extrato de Neem
(Azadirachta indica), entre outros como leite de vaca cru 5% (Oídio), Cavalinha (Equisetum arvense L.), Mamoeiro
(Carica papaya) e Menta (Mentha piperita) + Alho (Doenças fúngicas transmitidas por sementes).
O presente artigo tem por finalidade divulgar os princípios de controle agroecológico alternativos e culturais
com o enfoque em tratar a planta e não a doença.
Material e Métodos
Com base em um programa de visitas de inspeção fitopatológicas a sistemas de cultivos agroecológicos em
mandala na região do Cariri, foram realizadas visitas a três mandalas no município de Porteiras, sul do estado do
Ceará. Na oportunidade foi avaliado o sistema de cultivo e o manejo adotado pelos agricultores. Observou-se a
incidência de fitomoléstias e as práticas de manejo solo – água – planta adotada nas respectivas mandalas. Baseado
nas observações foram realizadas anotações de recomendações de técnicas a serem adotadas no sentido de gerenciar
melhor o equilíbrio biológico do sistema.
Resultados e Discussão
Quanto à aplicação dos métodos culturais, observou-se que, os resultados positivos são notáveis. Em
algumas culturas é necessária uma avaliação pra saber quais métodos podem render melhores resultados. Para
obtenção de sucesso no cultivo de plantas no sistema mandala é imprescindível a escolha de mudas saudáveis e de
origem conhecidas, já que essas podem ser um dos principais veículos de agentes causadores de doenças. O método
de rotação cultural, cujo principal objetivo é a quebra do ciclo das culturas para conservação do solo, é um item a
ser observado, pois se notou o plantio sucessivo de pimentão e cenoura, fato este que se torna contraproducente
dentro da filosofia de se tratar a planta e não a doença. Nesse processo, a escolha das diferentes espécies a se plantar
é um fator diretamente decisivo no sucesso do plantio e da conservação da área onde essa esteja instalada. Vale
lembrar que dentro do princípio de prevenção de doenças de plantas, a diversidade nos hábitos culturais e as
exigências nutricionais da planta, serão fatores de interrupção no ciclo dos agentes causadores de doenças. O
sistema mandala se mostra totalmente viável aos pequenos agricultores quando se trata do combate a doenças, já
que a utilização de uma mesma área para plantio de culturas de diferentes hábitos não permite aos agentes
patogênicas condições de instalação.
O preparo do solo é sem dúvida uma prática necessária ao bom desenvolvimento de qualquer espécie
vegetal, ele irá influenciar desde a germinação até o desenvolvimento radicular e instalação da cultura. Um dos
métodos para preparo e obtenção de um solo bom produtivo é a incorporação de matéria orgânica, ela irá interferir
nas condições físicas e químicas do solo, facilitando o crescimento dos sistemas radiculares das plantas, fornecendo
condições adequadas de aeração e umidade, o que favorece o desenvolvimento da biota do solo e ameniza a
incidência de doenças.
No que diz respeito ao preparo de solo, se observou que a leitura dos aspectos nutricionais do solo não foi
realizada para se avaliar o pH e a matéria orgânica. Este fato pode ser um fator essencial para a ocorrência de
nematóide das galhas do gênero Meloigogyne já que este tem preferência por solos arenosos e pobres em matéria
orgânica. Uma medida salutar seria a instalação de barreiras vivas ao redor da área da mandala com plantas do tipo
cravo de defunto e crotalária para controle do nematóide. Convém observar que nos canteiros afetados por estes
vermes, aconselha-se o uso destas duas espécies vegetais por um período de 75 (setenta e cinco) dias para em
seguida entrar com a adubação orgânica com o objetivo de trazer de volta o equilíbrio do solo.
Deve-se dar muita atenção também à eliminação dos restos culturais, esses podem conter agentes causadores
de enfermidades que se não destinadas de forma corretas pode promover a continuidade ou a possível instalação da
doença naquela área.
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O controle cultural é de fundamental importância para os agricultores que trabalham com o cultivo em
sistema mandala. Os princípios que fundamentam o controle cultural são: a) supressão do aumento e/ou a destruição
do inóculo existente; b) escape das culturas ao ataque potencial do patógeno; c) regulação do crescimento da planta
direcionado a menor suscetibilidade. Este último princípio é de grande importância, pois está direcionado ao
tratamento da planta e não a doença. A regulação relacionada ao sistema de irrigação e ao seu dimensionamento
adequado é outra medida fundamental, pois caso não esteja dentro das normas de manejo hídrico recomendado pela
assistência técnica, pode ocasionar o favorecimento de ataque de patógenos do solo.
Finalmente, foi detectado o adensamento exagerado tanto da cultura da cenoura como do coentro, fato este
que por si só, favorecem um ambiente propício ao surgimento de patógenos do solo como nematoides do gênero
Meloidogyne e fungos do gênero Phytium e Phytophthora.
Conclusões
Com base nas visitas realizadas, conclui-se que a melhor opção no combate a doenças de plantas é na
verdade a prevenção, ou seja, tratar a planta e não a doença dentro de uma visão holística da agroecologia,
utilizando-se para isso práticas que venham fortalecer o agroecossistema para que a planta cultivada esteja
preparada e resistente a uma eventual incidência de doenças que possam vir a ocorrer. Os métodos culturais e
alternativos baseados na agroecológia demonstram ser mais viáveis e saudáveis, do que os métodos utilizados nos
cultivos convencionais.
Agradecimentos
Agradecemos a Universidade Federal do Ceará pelo apoio a nós fornecido, como também aos docentes e
discentes do curso de Agronomia e em especial ao grupo PET Agronomia UFC Cariri e ao seu respectivo tutor.
Literatura citada
BRECHELT, A. O Manejo Ecológico de Pragas e Doenças. Disponível em: <http://www.rapal.org/articulos_files/O_Manejo_Ecologico_de_Pragas_e_Doencas.pdf> Acesso em: 01 de out. 2012.
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Acesso em: 01 de out. 2012.
GHELLER,
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Disponível
em:
<http://www.fag.edu.br/professores/jorgea/FITOPATOLOGIA%20II/CONTROLE%20CULTURAL%202.pdf>
Acesso em: 28 de set. 2012.
JÚNIOR, P. Prates; OLIVEIRA, M. Zélia Alencar de; BARBOSA, C. de Jesus. Agroecologia: manejo de pragas e
doenças de plantas. Disponível em: <http://www.seagri.ba.gov.br/pdf/3_comunicacao05v9n1.pdf> Acesso em: 01
de out. 2012.
MICHEREFF,
S.
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Controle
Cultural
de
Doenças
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Plantas.
Disponível
<http://www.ciencialivre.pro.br/media/bc354917a20b3bf4ffff839dffffd524.pdf> Acesso em: 30 de set. 2012.
em:
PAULUS, G.; MULLER, A. M.; BARCELLOS, L. A. R. Agroecologia aplicada: práticas e métodos para uma
agricultura
de
base
ecológica.
Porto
Alegre:
EMATER-RS,
2000.
Disponível
em:
<http://www.emater.tche.br/site/br/arquivos/servicos/biblioteca/digital/livro_agroeco.pdf> Acesso em: 02 de out.
2012.
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