Foto: Natacha Cardoso Nº 89 • Trimestral • Preço de Capa: 1€ Congresso 2010 • 4 Dezembro Programa em encarte INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE SOLIDARIEDADE SOCIAL Com o apoio do 2 Boletim Esclerose Múltipla E ditorial Já estamos outra vez no Outono! E isso significa o regresso ao dia-a-dia de trabalho ou simplesmente à rotina que o verão sempre afasta. Já de casaco vestido é tempo de voltarmos às nossas lides e a rentrée não nos reservou boas surpresas! A alteração nos montantes de comparticipação nos medicamentos, a diminuição dos salários da função pública ou o congelamento das pensões não auguram melhores dias. E esta situação que, infelizmente, não é brilhante, acarreta para a SPEM uma responsabilidade acrescida na defesa dos direitos, já de si tão reduzidos, dos portadores de EM. Não devemos e não podemos baixar os braços na sensibilização de todos quantos têm uma voz na tomada de decisões que a todos afectam. Por isso tencionamos cha- 2 Editorial Índice OPINIÃO 3 Esclerose Múltipla e o emprego DOSSIER UROLOGIA 5 A intervenção da Fisioterapia Uroginecológica na Esclerose Múltipla – abordagem urinária 9 Incontinência Urinária e Esclerose Múltipla 12 A intervenção do Enfermeiro na Incontinência Urinária no indivíduo com Esclerose Múltipla SEDE 14 Novas Terapêuticas para a Esclerose Múltipla – Encontros na SPEM TERAPIAS COMPLEMENTARES 21 Tai Chi Taoista® artes internas e métodos DIREITOS 25 Aquisição ou construção de habitação própria PROJECTOS 26 Vamos construir a casa SEDE 27 Serviço de Apoio Domiciliário – SAD 29 SPEM promove encontro entre delegações DELEGAÇÃO DE FARO 29 Em Agosto fomos ao teatro! 29 Reclame luminoso na Delegação de Faro da SPEM 30 2ª Edição do 3º Torneio de Golf Algarve – SPEM DELEGAÇÃO DO PORTO 31 I Concurso de Fotografia 32 Participação na III Feira de Artesanato 32 Voltamos à praia 33 Mobilidade saudável 33 Serviço de Psicologia Clínica mais completo DELEGAÇÃO DE LEIRIA 33 A Delegação de Leiria agradece DELEGAÇÃO DE VISEU 34 Notícias 35 Estatísticas mar a atenção dos poderes públicos e de todas as forças vivas da sociedade para a problemática da esclerose múltipla e dos contornos graves que assume em momentos de crise como o que atravessamos. O panorama não é animador, de norte a sul, e isso mesmo tivemos oportunidade de verificar num encontro entre todas as Delegações, que marcou o início dos trabalhos pós férias. Mas nem tudo é negro e no horizonte perspectivam-se boas notícias. Os conhecimentos científicos avançam e as técnicas são cada vez mais sofisticadas em prol da qualidade de vida dos portadores. Ficaremos a saber mais, no Congresso de Dezembro, que nos vai trazer as informações que necessitamos acerca de novas terapias e dos fármacos administrados por via oral. E sempre na senda da nossa missão e cumprindo o objectivo de alargar e dar a conhecer todos os conhecimentos úteis acerca da patologia, damos espaço a outros saberes. Desde já, este número do Boletim contempla um artigo acerca de Tai Chi, uma “arte” milenar oriental, que procura o equilíbrio e bem-estar dos praticantes. Devemos agradecer a Natacha Cardoso a gentileza da magnífica foto de capa. Mais adiante, por ocasião do Congresso, contamos trazer algumas ideias alternativas, como se pode concluir pelos diversos painéis participantes e de que daremos notícia adiante. Contamos-lhe ainda que a SPEM continua a crescer e uma nova Delegação surgirá em Évora. Na sequência do anterior Boletim, mantemos as “portas abertas” para mostrar quem somos e, sobretudo, como somos. Desta feita vamos ouvir e observar mais de perto as ajudantes familiares que são, eventualmente, as que mais de perto observam a realidade para a qual existimos. E por essa realidade continuamos a trabalhar e com muito orgulho daremos conta, com mais detalhe, da notícia já amplamente divulgada, da oferta de um terreno para a construção da “nossa casa”! A DIRECÇÃO Boletim Esclerose Múltipla O pinião Esclerose Múltipla e o emprego Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Se a humanidade se regesse pelos princípios que enformam a Declaração Universal dos Direitos Humanos, este artigo abordaria outro Dr. Humberto Santos, Presidente da APD tipo de questões que não as inúmeras injustiças (Assoc. Port. de Deficientes) cia experimentam no dia-a-dia, bem como o ao emprego é paradigmática em termos da rela- e desigualdades que as pessoas com deficiênmuito que falta cumprir para que todos os seres ção deficiência/emprego. De facto, de acordo humanos sejam iguais em dignidade e direitos. com o recente estudo da SPEM, 41,5% dos lógicas com maior incidência a nível mundial e ou viram-se forçados a recorrer à reforma ante- A Esclerose Múltipla é uma das doenças neuroem cerca de 90% dos casos manifesta-se em pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 50 anos (LaRocca, Kalb, Scheinberg, & Kendall, 1985; Rumrill, Tabor, Hennessey, & Minton, 2000). Os sintomas comuns da Esclero- se Múltipla incluem fadiga, fraqueza, distúrbios de mobilidade, disfunções do intestino e da bexiga, deficiência visual, depressão e disfun- ção cognitiva (Rumrill, 1996). 1 inquiridos com esta patologia foram despedidos cipada, apesar da esmagadora maioria preferir continuar a trabalhar. Estes números revelam o quanto o estigma e o preconceito ainda permanecem no imaginário dos nossos empregadores, preconceitos estes que resultam de um profundo desconhecimento sobre as capacidades laborais dos cidadãos com deficiência. No caso da esclerose múltipla, como de outras deficiências adquiridas na fase O vasto leque das consequências da esclerose activa da pessoa, as competências e capacida- cias ao nível físico, ou sensorial ou cognitivo, casos, inalteradas, pelo que os despedimentos múltipla, que podem mesmo causar deficiênassociado ao facto de a doença se manifestar em idade activa ou potencialmente activa, tem, em grande parte dos casos, sérias repercussões na vida laboral destes cidadãos. A situa- ção das pessoas com esclerose múltipla face 1 des laborais mantêm-se, na maior parte dos ou as reformas antecipadas constituem um grande desperdício para a economia empresa e do país, além de constituir uma tremenda injus- tiça para a pessoa que é vítima de um trata- mento diferenciado. http://goliath.ecnext.com/coms2/gi_0199-5433421/Predicting-continued-employment-in-persons.html 3 4 Boletim Esclerose Múltipla Estes números mostram também a nossa incapacidade em fazer cumprir os normativos legais que proíbem a discriminação no emprego com base da deficiência, nomeadamente a Directiva 2000/78/CE de 27 de Novembro, que estabelece um quadro geral de igualdade de tratamento no emprego e na actividade profissional e a Lei 46/2006 de 28 de Agosto, que proíbe e pune a discriminação em razão da deficiência e da existência de risco agravado de saúde. Sabemos que não é fácil provar a existência de práticas discriminatórias no processo de recrutamento ou manutenção do emprego e sabemos também que o percurso judicial que é necessário percorrer para tal exige recursos financeiros de que a maioria das pessoas não dispõe, mas seria fundamental para as pessoas com deficiência a criação de jurisprudência nesta matéria. Os dados conhecidos sobre a empregabilidade das pessoas com deficiência são demonstrativos das desigualdades a que estas são sujeitas em matéria de emprego. Segundo o INA – Instituto Nacional de Administração, I.P., a administração pública portuguesa emprega pouco mais de três mil pessoas com deficiência, número que corresponde a menos de um por cento dos funcionários públicos. Destes, 80% têm incapacidades ligadas ao foro oncológico, o que significa que a maior parte dos trabalhadores com deficiência na administração pública já lá trabalhava quando adquiriu uma deficiência, pelo que as contratações de pessoas com deficiência na Administração Pública são residuais. Segundo o Balanço Social de 2008, no sector privado estavam empregados 4.221 trabalhadores com deficiência, num total de 833.572 trabalhadores. Muitas diligências terão de ser adoptadas para alterar esta deplorável situação. Para além da necessidade urgente de sensibilizar os empregadores, pensamos que o Estado deve investir, entre outras mateiras, em: • Formação profissional inclusiva e de qualidade. • Incentivos ao emprego por conta própria – instalação por conta própria. • Incentivos às entidades empregadoras (adaptação do posto de trabalho, eliminação das barreiras arquitectónicas, deduções na segurança social) atractivos. • Acessibilidade do meio edificado e da via pública. • Acessibilidade dos transportes públicos. • Disponibilização atempada de ajudas técnicas. • Alteração da legislação da quota de emprego na Administração Pública. • Regulamentação da quota de emprego no sector privado prevista na Lei n.º 38/2004, de 18 de Agosto, que define as bases gerais do regime jurídico da prevenção, habilitação, reabilitação e participação da pessoa com deficiência. • Readaptação dos postos de trabalho no caso dos acidentes laborais. Cremos que será fundamental que na actual crise financeira o governo adopte medidas quanto à protecção dos trabalhadores com deficiência, já que está provado que estes cidadãos são os primeiros a serem despedidos e os últimos a serem admitidos. Por último, e face à ratificação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência pelo Estado Português, urge adoptar um plano, em estreita colaboração com as organizações representativas das pessoas com deficiência que, com base nos princípios e objectivos deste Tratado, assegure a efectiva igualdade de oportunidades e de direitos destes cidadãos. TODOS OS DIREITOS HUMANOS PARA TODAS AS PESSOAS Humberto Santos, Presidente da APD (Assoc. Port. de Deficientes) Boletim Esclerose Múltipla D ossier Urologia A intervenção da FISIOTERAPIA UROGINECOLÓGICA na ESCLEROSE MÚLTIPLA – abordagem da incontinência urinária A Esclerose Múltipla (EM) englobando uma problemática ainda pouco investigada em Portugal, repercute-se com elevado impacto físico, psicológico e social, nos mais variados contextos de vida dos portadores e familiares. Durante os últimos anos tem havido um interesse crescente relativamente ao papel interventivo do Fisioterapeuta em disfunções uroginecológicas, nomeadamente ao nível de estratégias de reeducação do pavimento pélvico e vesico-esfincteriano. As disfunções uroginecológicas incluem o grupo de condições: incontinência urinária, prolapsos, incontinência fecal e outras disfunções relacionadas com problemas do sistema urinário e gastrointestinal. Assim, na medida em que a EM pode implicar determinados défices neurológicos, também pode desencadear alterações funcionais na bexiga e pavimento pélvico, lesões da inervação do tracto urinário inferior, afectando músculos, tais como os esfíncteres e o detrusor, e subsequentemente incontinência urinária (Chancellor e Blaivas, 1995; Kanpen, 2007). A Sociedade Internacional para a Continência define incontinência urinária como uma condição na qual a perda involuntária de urina constitui um problema social e/ou higiénico e que pode ser objectivamente demonstrado (Kelleher, 1997). Actualmente, o 3º Consenso Internacional em Incontinência define incontinência urinária como perda involuntária de urina, considerada uma disfunção do tracto urinário inferior (Abrams et al., 2005), e um sintoma comum que pode afectar todas as idades e apresentar múltiplos graus de gravidade (Hunskaar et al., 2005) A incontinência urinária pode assumir diminuição dos níveis de auto-estima global e das relações interpessoais (Mascarenhas e Coelho, 1999; Viana, Viana e Festas, 2005; Bo et al., 2007), desen- cadeando ansiedade, influência negativa na autoestima e qualidade de vida da pessoa com EM (Chancellor e Blaivas, 1995; Kanpen, 2007). Adi- cionalmente, a incontinência urinária exerce um impacto na actividade sexual e sexualidade, não se conhecendo muitos estudos sistemáticos sobre a função eréctil e a qualidade de vida dos indivíduos, e sendo pouco conhecida a forma como estas variáveis se relacionam. Não obstante, e de acordo com Viana, Viana e 5 6 Boletim Esclerose Múltipla Festas (2005), a intervenção do Fisioterapeuta na incontinência urinária, incluindo a percepção e interpretação do meio cultural que envolve as relações, a personalidade e os comportamentos, deve ser conducente à satisfação de necessidades específicas da pessoa, constituindo-se como um pólo de interacção nas diferentes abordagens terapêuticas. Embora durante os últimos anos tenha havido um interesse crescente relativamente ao papel da Fisioterapia na EM, poucos são os estudos randomizados que se debruçaram ao nível de estratégias de Fisioterapia Uroginecológica na pessoa com EM. O papel do fisioterapeuta que intervém nesta área é considerado fulcral, embora possa estar condicionado segundo determinados níveis de treino e expertise (Bo, 2007). E por isso, a avaliação do Fisioterapeuta deve constituir um processo contínuo e consistente, com uma sequência integrativa e adequada às circunstâncias da pessoa com EM. Neste sentido, e remetendo às Guidelines internacionais para a Esclerose Múltipla da NICE (National Institute for Clinical Excellence), a intervenção da fisioterapia deve contemplar, precocemente a indução da motivação, estabelecendo canais de comunicação efectivos, reforçando assim a relação de empatia entre o Fisioterapeuta e a pessoa com EM. Assim, os Fisioterapeutas intervêm nesta área específica, nomeadamente através de Fisioterapia Uroginecológica, com a aplicação de diferenciadas técnicas de reeducação do pavimento pélvico manuais e instrumentais. É de salientar que as técnicas instrumentais englobam procedimentos, tais como: • Electroestimulação (EE): permite restaurar o mecanismo reflexo fisiológico nos nervos e músculos com disfunção, atingindo o potencial efectivo dos músculos do pavimento pélvico e esfíncteres, fortalecendo-os. • Biofeedback (BFB): detecta, reconhece e amplifica informações de um processo fisiológico (contracção e relaxamento) emitido pelos músculos do pavimento pélvico e esfíncteres, recorrendo a procedimentos visuais e auditivos para uma optimização do treino e controle. Neste âmbito, alguns investigadores estudaram a relação da Fisioterapia como modalidade terapêutica em pessoas com EM, mas sem grupo de controle e verificaram uma redução nos episódios de incontinência urinária e no uso dos absorventes diários, após a electroestimulação e o Treino com o biofeedback (De Ridder et al., 1999; Klarskov et al., 1994; Primus, 1992; Skeill e Thorpe, 2001; Van Poppel et al., 1985, cit. in Kampen, 2007) Por conseguinte, num dos poucos estudos randomizados (com grupo de controlo) com pessoas com EM, cujo tratamento consistia em sessões de electroestimulação e Biofeedback, os investigadores Vahtera et al. (1997) também concluíram que os exercícios dos músculos do pavimento pélvico combinados com electroestimulação dos mesmos constituem uma efectivo tratamento do tracto urinário inferior. Evidentemente que uma técnica que justifique a sua intervenção na globalidade, implica que o fisioterapeuta intervenha como multifactorial, como por exemplo a reeducação muscular, englobando o fortalecimento muscular, a manutenção e/ou aumento da actividade funcional, o realinhamento de fibras musculares e a normalização de tónus. No entanto, o Fisioterapeuta não deve negligenciar as técnicas de reeducação postural, respiratória e proprioceptiva, devendo sempre (re)avaliar a postura, a qualidade de movimento, o padrão respiratório e a mobilidade abdomino-diafragmática, assim como a coordenação, as reacções de equilíbrio, os reajustes posturais e os controlos proprioceptivos/ sensoriais. Não obstante, aspectos como a informação e a orientação devem ser sempre enfatizados, de forma a esclarecer e a orientar a pessoa com EM e 8 Boletim Esclerose Múltipla familiares, como por exemplo, o recurso a tecnologias de apoio, e a encorajar hábitos e ajustes nas actividades da vida diária/ocupacional/profissional, não menosprezando a fadiga da pessoa com EM. Apesar de as investigações empíricas sobre o impacto da EM na população portuguesa ainda serem escassas, as implicações desta problemática devem ser discutidas em equipa pluridisciplinar. Neste sentido, a colaboração entre os profissionais desta equipa deve constituir o primeiro componente de uma cascata de intervenções na pessoa com EM e com disfunção uroginecológica, no sentido de desenvolvimento e co-ajustamento entre objectivos e recursos de acção, e promoção de estratégias de modelação, enfatizando pontos importantes, tais como: • Múltiplas fontes de informação e conhecimento da EM • Promoção de qualidade de vida e bem-estar subjectivo e psicológico • Estratégias de intervenção, não só ao nível das perturbações físicas, mas também das psicológicas, nomeadamente as afectivas e as cogniti- vas. • Investimento em estudos randomizados sobre a Influência da Fisioterapia Uroginecológica/Vesi- co-Esfincteriana. • Planeamento e desenvolvimento de mais estratégias de intervenção em equipa, incluindo o núcleo familiar. Esperamos que a inovação e o conhecimento acerca da EM prossiga, fomentando à comunida- de científica e à comunidade em geral, uma dimensão formação, uma dimensão acção e uma dimensão investigação. Rui Viana Fisioterapeuta do Hospital de São João, EPE Docente da Universidade Fernando Pessoa Mestre e Doutorando em Psicologia FPCE – Universidade do Porto Referências Abrams, P., Artibani, W., Cardozo, L., Khoury, S., Wein, A. (2005). Clinical manual of incontinence in Women. Based on the reports of the 3rd International Consultation on Incontinence. Health Publications Ltd. Bo, K. (2007). Overview of physical therapy for pelvic floor dysfunction. In B. Berghmans, S. Morkved, M. Van Kampen, EvidenceBased Physical therapy Pelvic Floor - Bridging Science and Clinical Practice (pp. 1-8). USA: Elsevier. Bo, K., et al. (1999). 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Na maioria das mulheres, nomeadamente na pós-menopausa, a incontinência urinária resulta de um enfraquecimento dos músculos do pavimento pélvico originando hipermobilidade da uretra e/ou deficiência do esfíncter urinário. Nos doentes com patologia neurológica as causas são, no entanto, distintas. A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença inflamatória crónica desmielinizante do sistema nervoso central da qual resulta, muitas vezes, uma diminuição da mobilidade e perda de autonomia. Nesta doença, a disfunção do sistema urinário é, geralmente, o resultado da desconexão nervosa dos centros de controlo da micção no cérebro e os centros sagrados ao nível da medula espinhal. Cerca de 75% dos doentes com EM apresentam alterações urinárias, geralmente, proporcionais ao grau de incapacidade1. Nestes doentes, a incontinência urinária é considerada um dos piores aspectos da doença, interferindo na sua qualidade de vida2. Os doentes com EM podem ter sintomas urinários por contracções da bexiga não inibidas, deficiente contractilidade vesical, contracções vesicais contra o esfíncter urinário fechado ou uma mistura destes mecanismos. Em caso de contracções não inibidas os sintomas podem ser: necessidade de urinar muitas vezes – polaquiúria; necessidade urgente e inadiável de urinar – imperiosidade; perda involuntária de urina associada a imperiosidade (muitas vezes agravada pelo défice de mobilidade destes doentes) – incontinência por imperiosidade. Nas situações em que a lesão nervosa faz com que o músculo da bexiga não contraía de forma eficaz, o que leva a um esvaziamento vesical insuficiente (o doente mantém urina dentro da bexiga após as mic- ções, voltando esta rapidamente a encher), cursa com polaquiúria. Numa fase posterior, a bexi- ga deixa de ter capacidade para conter mais uri- na originando a incontinência por “overflow”. Quando a bexiga contrai contra o esfíncter urinário fechado (dissociação vesico-esfincteriana) há dificuldade na micção e desenvolvem-se pres- sões demasiado elevadas no sistema urinário. Essa pressão elevada dentro da bexiga leva a médio/longo prazo à lesão dos rins, originando insuficiência renal crónica com eventual necessi- dade de diálise. Assim, um doente com EM pode ter alterações na bexiga muito diferentes, que causam incontinência urinária por diferentes mecanismos e não é possível diferencia-los só pelos sintomas. Tam- bém é importante ter noção que os problemas urinários, nomeadamente, a incontinência urinária são bastante frequentes na população geral e, por isso, um doente com EM pode ter incontinên- cia urinária não causada pela EM. Para além dis- so, estes doentes são susceptíveis a infecções urinárias que por si só agravam a sintomatologia urinária, podendo desencadear incontinência uri- nária. A correcta avaliação destes doentes, inclui para além da história clínica e exame físico dirigido, análises de urina, avaliação do resíduo pós- miccional e testes urodinâmicos, de forma a permitir um diagnóstico correcto3. 9 10 Boletim Esclerose Múltipla Existem diversos tratamentos com actuação a diferentes níveis: reeducação de comportamentos e alteração de estilos de vida; terapêutica farmacológica; técnicas cirúrgicas; e, pequenos procedimentos. Em relação à reeducação comportamental e alteração de estilos de vida, uma vida activa, se possível, com actividade física, tem um efeito benéfico comprovado no controlo da bexiga. A cafeína é desaconselhada nos casos de incontinência por imperiosidade4. O treino vesical (com aumento progressivo do intervalo entre micções), os exercícios de Kegel (contracção voluntária repetida do esfíncter urinário) e a fisioterapia do pavimento pélvico, ajudam por sua vez a reforçar os músculos responsáveis pela continência urinária, originando melhoras nalguns doentes5. No tratamento farmacológico, os anticolinérgicos são os medicamentos de eleição para os doentes com queixas de frequência, imperiosidade, incontinência por imperiosidade ou contracções vesicais não inibidas6. A maioria dos doentes sente melhoria clínica, especialmente nas doses mais elevadas de fármacos. Nestas doses podem surgir efeitos laterais, como secura de boca, alterações da visão e obstipação. Estes agentes também podem ser instilados directamente para a bexiga através de algálias, com algum sucesso7. A prevenção das infecções urinárias através do uso de sumo de arando ou em determinados casos de antibioterapia profilática pode ser justificada em alguns doentes. Nos doentes com agravamentos das queixas, o rastreio e eventual tratamento de uma infecção urinária é fundamental. No caso dos doentes masculinos com idades mais avançadas a detecção e o tratamento da hipertrofia benigna da próstata também não devem ser descurados. Em relação aos tratamentos cirúrgicos, a injecção nas paredes da bexiga de toxina botulínica tem sido muito utilizada nos últimos anos, em doentes refractários aos anticolinérgicos ou naqueles que desenvolvem pressões demasiado elevadas na sua bexiga, sendo actualmente o tratamento cirúrgico mais frequente8. É bastante eficaz, mas tem como inconvenientes a sua duração limitada (cerca de 1 ano) e o risco (embora baixo) de retenção urinária. A neuroestimulação dos nervos sagrados é uma opção em situações muito particulares, mas ainda não é utilizada em Portugal (9). Em casos raros refractários à toxina botulínica ou que já não toleram a algaliação crónica poderá ser considerada a cistoplastia de aumento ou uma forma de derivação urinária. Convém não esquecer que as mulheres com EM também podem ter incontinência urinária de esforço, tal como as outras sem doença neurológica, e depois de devidamente estudas, podem beneficiar de correcção cirúrgica com slings sub-uretrais1. Uma forma de minorar os problemas dos doentes que não conseguem esvaziar a sua bexiga de forma eficaz ou que têm incontinência por “overflow”, é a algaliação intermitente1. Consiste na inserção de um tubo de plástico (algália), uma ou mais vezes por dia, dentro da bexiga para drenar a urina que fica após as micções. Embora este método possa intimidar quem nunca o realizou, muitos doentes com EM, mesmo com limitações na mobilidade, fazem-no sem dificuldades. Caso o próprio não o possa fazer, um familiar poderá realizá-lo por ele. Apesar do uso de algálias permanentes ser cada vez mais evitado devido ao risco de infecção urinária, continua a ser uma opção para prevenir lesões renais ou resolver casos graves de incapacidade de contracção da bexiga, especialmente nos doentes mais incapacitados. A cistostomia (algália colocada na bexiga através orifício cirúrgico na parede abdominal) é geralmente a forma preferida pela facilidade de acesso, menor desconforto, inexistência de lesão uretral e facilitação da actividade sexual10. 11 Mesmo nos casos em que, apesar de todos os tratamentos, não se consegue curar a incontinência urinária, existem várias opções de produtos absorventes (pensos e fraldas) que permitem que o doente tenha uma vida socialmente activa. Os homens podem, também, usar um colector peniano associado a um sistema colector, que se adapta ao pénis e impede o extravasamento de urina. Medos e potenciais embaraços podem levar estes doentes a evitar a sociedade e, mesmo, o contacto íntimo. Contudo, a incontinência urinária não deve impedir o doente de ter uma vida normal, o que inclui uma vida sexualmente activa. Medidas simples como uma higiene adequada e partilha de sentimentos sobre a doença com o parceiro(a), são pequenos passos que ajudam no tratamento desta doença e diminuem o seu impacto na vida destes doentes. Embora a incontinência urinária seja uma doença com efeitos devastadores, não há necessidade de sofrer em silêncio. A combinação de medidas preventivas, auto-cuidados e apoio de profissionais de saúde especializados permite minorar a maioria dos problemas urinários e permitir uma vida sem limitações. Francisco Botelho Médico Interno de Urologia do H. São João Bibliografia: 1. Fowler CJ, Panicker JN, Drake M, Harris C, Harrison SC, Kirby M, et al. A UK consensus on the management of the bladder in multiple sclerosis. Postgrad Med J. 2009;85(1008):552-9. 2. Hemmett L, Holmes J, Barnes M, Russell N. What drives quality of life in multiple sclerosis? 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A parte inferior da bexiga tem um músculo (esfíncter urinário) que contrai ou relaxa deixando ou não a urina sair para fora do corpo. A mensagem que a bexiga está cheia, sai desta através dos nervos até à espinal medula e posteriormente ao cérebro, para a pessoa tomar consciência da vontade de urinar. A mielina tem como função ajudar esses nervos a interpretar a informação do cérebro, daí a sua importância. Quando há perda de mielina, a transmissão da vontade de urinar não é feita e pode ocorrer uma perda involuntária de urina, chamada incontinência Urinaria (IU). Ou seja a bexiga está cheia mas devido á perda de mielina, o cérebro da pessoa não recebe essa informação e acaba por perder urina involuntariamente. A incidência global da IU vai aumentando progressivamente com a idade, embora esta se possa manifestar em qualquer idade. IU é um problema muito comum nos doentes com EM. Atinge mais as mulheres devido á anatomia do aparelho urinário feminino, no entanto há muitos homens com este problema como resultado de problemas de próstata ou excesso de peso, entre outros. As pessoas tendem a viver com este problema sem procurar uma ajuda especializada, por medo, vergonha, ansiedade ou simplesmente por pensarem erradamente que não há solução para o problema, quando em muitos casos pode haver cura ou pelo menos alguma forma de melhorar e controlar a situação. A IU constitui um importante problema médico, com repercussões sociais, económicas, familiares e psicológicas levando muitas vezes o doente a isolar-se, piorando desta forma a sua qualidade de vida. Nestas situações é importante uma avaliação constante não só pelo impacto negativo nas actividades de vida e auto estima das pessoas mas também para evitar problemas a longo prazo como falência dos rins ou outros danos permanentes. Há vários tipos de IU, embora as mais frequentes são a incontinência urinária de esforço e IC de urgência. Na IU Esforço há uma perda de urina em situações de esforço, de tosse, de riso, de actividade física, aumentando a pressão dentro do abdómen. Esta pode ocorrer devido á debilidade do esfíncter urinário ou de alguma lesão neurológica. A IU de Urgência é caracterizada por uma vontade de urinar repentina seguida de 1 perda incontrolável de urina. A pessoa em questão não tem tempo para chegar á casa de banho e esta situação pode acontecer em qualquer situação, a dormir ou durante qualquer parte do dia independentemente do que está a fazer. Se lhe acontecer alguma destas situações deve falar com seu medico ou enfermeiro de forma a que seja diagnosticado a causa e o tipo de IU que sofre. O Enfermeiro tem um papel muito importante no diagnóstico/orientação assim como na sua gestão diária da IU. O enfermeiro conversa com o doente para conhecer os seus sintomas, os problemas existentes (história clínica) e orienta para o médico efectuar o diagnóstico recorrendo a determinados exames/testes. Boletim Esclerose Múltipla O seu profissional pode utilizar um pequeno cateter depois de o indivíduo com EM urinar, para verificar se ficou restos de urina na sua bexiga, embora existam outras formas de avaliar que podem ser utilizados. Esta técnica pode ser muito útil em vários casos mas só deve ser utilizada por pessoal especializado de forma a evitar infecções ou outros problemas inerentes. Pode também acontecer que o enfermeiro lhe peça um diário urinário onde escreve o número de vezes que vai á casa de banho, se teve incontinência ou não em que circunstâncias e a quantidade de líquidos ingeridos ao longo do dia. Uma análise á urina é imprescindível para se saber se os sintomas que o doente apresenta estão relacionados com a EM ou com uma infecção urinária. Lembre-se que cada caso é um caso, cada pessoa é uma pessoa, e cada problema tem o tratamento personalizado. Nos casos em que foi diagnosticado que a causa do problema é o enfraquecimento dos músculos pélvicos, existe os exercícios de kegel que pode ajudar a fortalece-los. Pode aproveitar o momento em que está na sanita para tentar interromper o fluxo de urina e soltar varias vezes. Contrair e descontrair estes músculos vai ajuda-lo a controlar a IU. Faça estes exercícios num sítio calmo, pelo menos 3 vezes por dia. Não desista, os efeitos podem demorar semanas ou meses a melhorar o controlo da bexiga. Se tiver alguma dúvida na execução dos mesmos peça ajuda a um(a) médico(a) ou enfermeiro (a). Construa um calendário onde possa marcar os dias em que fez os exercícios, de forma a motiva-lo. Outras formas de ajudar a controlar a IU, pode passar pelo uso de determinadas técnicas: beber 1,5l de água por dia distribuídas ao longo do dia (nunca deixar de ingerir líquidos que lhe pode trazer outros problemas); evitar beber líquidos a partir das 18h de forma a evitar as idas ao wc durante a noite; estabelecer um horário para ir ao wc de forma a reeducar a sua bexiga, evitando urinar na hora no intervalo determinado; evitar bebidas com gás, bebidas alcoólicas, tabaco ou alimentos ácidos que aumentam a vontade de urinar ou podem irritar a bexiga; ter uma alimentação regrada de forma a controlar, reduzir peso e melhorar o funcionamento do intestino (que pode dar sensação que vontade de urinar); usar roupas práticas e confortáveis de forma a facilitar as idas á casa de banho; esvaziar a bexiga ate ao máximo que puder sempre que for á casa de banho; usar sem complexos fraldas ou pensos absorventes de forma a se sentir mais seguro socialmente. Os homens podem usar um colector peniano que impede que o extravasamento de urina. São apenas algumas das estratégias que o enfermeiro pode usar com a pessoa com EM para ajudar a gerir melhor estas situações desagradáveis, melhorando desta forma a qualidade de vida. Por isso, mal sinta alguma alteração comunique ao seu profissional de saúde de forma a ser avaliada a sua situação e procurar o melhor tratamento/exame, estratégias, medidas preventivas possíveis para ter uma vida sem limitações. Não se acomode. Sílvia Ferreira Enfermeira dos Cuidados de Saúde Primários – Centro de Saúde de Espinho – Unidade de Saúde Familiar de Anta; Assistente de Ginecologista na Clínica Capitólio na Boavista Setembro 2010 Referencia Bibliográficas: • Kalb, Rosalind C.; Holland, Nancy J. MS NetWork, Urinary dysfunction and Multiple Sclerosis society Of Canadá, Nádia Pestrak Edition, ISBN:0-921323-78-6 (2007) • Michael J Olek, DO, Comorbid problems associated with multiple sclerosis in adults, Francisco Gonzalez-Scarano, MD edition, Last literature review version 18.2: Maio 2010 | This topic last updated: Fevereiro 4, 2010 - http: https://www.uptodate.com/home/store.do • SHIRLEY, P – Enfermagem de Reabilitação: aplicação e processo, Lusociência, 2ªedição Loures ISBN: 972-8383-13-4 • http://www.saudedamulher.com.pt/content/backgrounders/www.womenhealth.info/www.gynecare.pt/All_About_Kegel.pdf • http://www.rebicare.pt • http://www.inr.pt 13 14 Boletim Esclerose Múltipla S ede Novas Terapêuticas para a Esclerose Múltipla Encontros na SPEM 8 de Julho de 2010, Sede da SPEM, Lisboa Apresentação: Dr. Rui Pedrosa (Neurologista – Hospital dos Capuchos, Lisboa Com organização da SPEM – Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla, os Encontros à Volta da Esclerose Múltipla têm vindo a reunir um grupo de pessoas com relações várias com esta patologia, entre portadores, familiares, amigos e profissionais de saúde. Após terem sido tratados, nos primeiros Encontros, aspectos associados ao diagnóstico e à adaptação e vivência psico-sociofamiliar da EM, no 4º “Encontros à Volta da Esclerose Múltipla” foi nosso objectivo reflectir acerca dos progressos na investigação científica das terapêuticas farmacológicas da EM. Para esse efeito, contámos com a presença do Dr. Rui Pedrosa, que não só trouxe esclarecimentos acerca das novas terapêuticas, como esclareceu as dúvidas de muitos dos presentes, referentes a controvérsias que têm vindo a ser difundidas em múltiplos canais de comunicação, para além de ter aprofundado a discussão em torno da eficácia e segurança da mais recente vaga de terapêuticas. Segundo o Dr. Rui Pedrosa, actualmente, todas as terapêuticas em estudo ou a dar entrada no mercado, encontram-se principalmete direccionadas para a forma Surto-Remissão da Esclerose Múltipla, ou seja para a forma de EM que apresenta surtos na fase mais activa e inflamatória da doença, mas com recuperação significativa das capacidades após os mesmos. Quanto à forma progressiva da EM, não existe ainda nenhuma terapêutica aprovada nem mesmo em final de estudo que possa ser aprovada em breve. Por outro lado, não existem também, nem no mercado nem em estudo, terapêuticas regeneradoras que possam recuperar as lesões já estabelecidas e melhorassem, assim, alguns níveis de incapacidade. Desta forma, as novas terapêuticas farmacológicas aprovadas ou em aprovação que foram referidas ao longo do 4º “Encontros à Volta da Esclerose Múltipla”, encontram-se apenas direccionadas para a prevenção da existência de surtos na forma Surto-Remissão da EM. NATALIZUMAB [TYSABRI] Como primeiro ponto em foco nesta sessão foi apresentado o Natalizumab (nome comercial: Tysabri) por constituir ainda um tema que levanta algumas dúvidas na comunidade EM. Segundo o Dr. Rui Pedrosa, apesar da existência de alguns receios referentes aos efeitos secundários, tratase da terapêutica mais eficaz até ao momento, quer nos resultados apresentados em estudos clínicos, quer mesmo na experiência clínica diária. Comparativamente com os Interferons eAcetato de Glatirámero, quando for possível ultrapassar os receios referentes aos efeitos secundários do Natalizumab que limitam a sua utilização, provavelmente tornar-se-á a terapêutica mais utilizada e mais eficaz na prevenção de surtos na forma Surto-Remissão da EM. Nesse sentido, o Dr. Rui Pedrosa referiu-se ao Natalizumab como uma droga de “pura investigação tecnológica”, ou seja, a partir do conhecimento de como a doença se processa fisiopatologicamente, tentou-se descobrir drogas que pudessem interferir no mecanismo fisiológico da doença. Uma vez que na Esclerose Múltipla o ataque à mielina é feito predominantemente através de linfócitos (um tipo de glóbulos brancos, presente no 16 Boletim Esclerose Múltipla sangue, que têm a função de combater microrganismos causadores de doenças) que se tornam agressivos, e quando eactivados à periferia do Sistema Nervoso Central (SNC), passam da circulação sanguínea para o SNC através de uma barreira – Barreira Hemato-Encefálica – normalmente muito difícil de transpor que se encontra lesionada na EM, seria necessário encontrar um fármaco que permitisse interromper ou dificultar o acesso destes linfócitos agressivos ao SNC. Desta forma, o que o Natalizumab permite é evitar a passagem desses linfócitos para dentro do SNC através da Barreira Hemato-Encefálica. Trata-se então de um anticorpo monoclonal antagonista de uma glicoproteina da superfície destes linfócitos, ou seja, um anticorpo contra um constituinte da “parede” dos linfócitos que impede que estes se liguem à Barreira Hemato-Encefálica e, consequentemente, entrem no SNC sendo, actualmente o fármaco mais eficaz na EM com surtos. Ou seja, os Interferons e o Acetato de Glatirámero É A MESMA PERCENTAGEM!!!!! têm uma grande actividade e uma acção benéfica comprovada em cerca de um terço dos doentes, outro terço de doentes terá também uma acção benéfica mas parcial, enquanto o último terço de portadores de EM não terá qualquer efeito quando medicados com estes imunomoduladores. Por outro lado, o Natalizumab é muito activo em cerca de 60% dos doentes, apresentando sensivelmente o dobro da eficácia dos Interferons, ou até mais se tivermos em conta os resultados apresentados por estes pacientes ao nível das ressonâncias magnéticas realizadas. No fundo, a acção do Natalizumab é como um “polícia interno” que consegue reconhecer os linfócitos específicos que atacam os feixes de mielina na EM, impedindo-os de se deslocar até ao cérebro e, como tal, de destruir a mielina. Contudo, ao impedir a entrada destes linfócitos no SNC, dificulta ainda a acção benéfica que esses mesmos linfócitos têm no combate a outras infecções, razão pela qual se verifica a existência de efeitos secundários potencialmente preocupantes que referiremos mais adiante. Outra vantagem do Natalizumab é apresentar uma administração endovenosa uma vez por mês realizada no hospital, que se assume como um dos principais benefícios desta terapêutica, por diminuir o massacre físico sentido pelos doentes que se submetem diariamente a injecções. Con- tudo, apresenta efeitos secundários raros mas potencialmente graves, como a leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP), provocada por um vírus normalmente bem controlado pelas defesas do organismo mas que, quando é administrado o Natalizumab e, portanto como explicado anteriormente, se diminui a acção protectora dos linfócitos, é possibilitada a acção do vírus e, consequentemente, o desenvolvimento da LMP. A LMP manifesta-se muitas vezes com alterações ou perda da visão, hemiparesia (paralisia parcial de um lado do corpo), afasia (deterioração da função da linguagem), alterações de comportamento, déficits sensitivos e ataxia cerebelar (dificuldades na coordenação dos movimentos). Contudo, a incidência da LMP é muito rara, em cerca de 60 000 doentes em tratamento há cerca de 60 doentes que a desenvolvem, verificando-se uma maior incidência entre os 24 e os 36 meses de utilização do Natalizumab, não existindo ainda experiência suficiente após 3 anos de utilização que permita avaliar os efeitos a longo prazo. Assim, este fármaco, encontra-se aprovado com restrições, pela severidade dos efeitos secundários que pode apresentar, sendo então uma droga de 2ª linha recomendada para as formas graves de EM por surtos que não respondem às terapêuticas de 1ª linha (imunomoduladores - Interferons [Avonex, Betaferon, Extavia e Rebif] e Acetato de Glatirámero [Copaxone]) ou como droga de 1ª linha em formas muito graves, raras, da doença logo nas suas primeiras manifestações, não se encontrando indicado para as formas progressivas de EM. Nos casos em que é possível e segura a utilização desta terapêutica, tem-se vindo a observar uma redução na frequência de surtos, superior à obtida com os imunomoduladores, uma redução significativa da progressão da incapacidade, sendo ainda muito eficaz nos parâmetros de Ressonância Magnética. Como efeitos secundários, têm vindo a ser referidos a fadiga (27%), reacções alérgicas (9%), reacções de hipersensibilidade graves (1%) e Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva (LMP) (1/1000). Trata-se de uma terapêutica de maior benefício para portadores totalmente ambulatórios e, portanto com baixos níveis de dependência (EDSS – Expanded Disability Status Scale [Escala de Avaliação de Incapacidade Expandida]- inferior a 5) mas que apresentam doença bastante activa Boletim Esclerose Múltipla (dois ou mais surtos no ano anterior e actividade visível na RM). É ainda enfatizada a necessidade de realização de uma ressonância magnética (RM) antes do início do tratamento de forma a monitorizar os efeitos a médio prazo do Natalizumab. Não é contudo de esperar benefício clínico imediato, uma vez que o seu efeito só se faz sentir a partir de 4 meses de utilização. No que se refere ao início da terapêutica, as evidências apontam para que a imunossupressão prévia (ex. tratamento anterior com Mitoxantrona, que provoca uma reacção de imunossupressão prolongada, ou seja, impede a actividade do sistema de protecção do organismo [sistema imunitário] vulnerabilizando-o a outras infecções) não é contra-indicação uma vez que o Natalizumab apresenta o mesmo risco com e sem tratamento de iminossupressão prévio. No caso do surgimento de novos sintomas neurológicos típicos de EM aquando da toma de Natalizumab, será necessário realizar o despiste de um surto, com eventual recurso a terapêutica de corticosteroides para combate ao mesmo. Por outro lado, no caso de surgimento de sintomas atípicos, como por exemplo alterações de comportamento, confusão mental, alterações psiquiátricas, de linguagem ou de campo visual (que poderão indicar LMP), é aconselhado parar de imediato o tratamento, fazer uma RM e uma punção lombar (PL) para pesquisa do vírus responsável pela leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP) com posterior reavaliação da utilização do Natalizumab. (Mais informações ver o portal www.infarmed.pt) Novos Fármacos A temática relativa aos novos fármacos para a EM é extremamente actual, uma vez que, segundo o Dr. Rui Pedrosa, existem neste momento dois fármacos com os estudos de fase 3 [última fase de investigação] concluídos e que já foram aprovados pela agência americana (Food and Drug Administration – FDA), esperando-se para breve a aprovação da Agência Europeia do Medicamento – EMEA. Desta forma, estes fármacos, encontram-se actualmente em processo de pedido de comparticipação ao Estado, sendo de supor que ao longo do próximo ano de 2011 sejam disponibilizados nos mercados e, previsivelmente, nos nossos hospitais. A grande mais-valia destes novos fármacos incide principalmente na forma de administração, por ser uma toma oral, em comprimidos, o que permite facilitar o tratamento diário da EM, evitando o recurso às injecções. Trata-se de fármacos derivados de imunossupressores, ou seja, enquanto os Interferons e Acetato de Glatirámero são imunomodeladores e portanto não alteram profundamente o funcionamento do sistema imunitário nem o destroem, estes novos fármacos, de acção imunossupressora, mesmo com baixa dosagem, apresentam uma acção directa sobre o sistema imunitário, suprimindo-o, ou seja, diminuindo ou anulando a sua actividade. A pesquisa que tem vindo a ser realizada no âmbito da Esclerose Múltipla tem passado pelos Imunomoduladores Clássicos (Interferons e Acetato de Glatirámero) de administração parentérica obrigando a injecções, que são tendencialmente mal tolerados pelo portador de EM e apresentam uma eficácia limitada mas que não apresentam efeitos adversos graves, assumindo-se com um alto nível de segurança. Por outro lado, a investigação debruça-se agora sobre uma nova geração de medicamentos, bem tolerados pelo portador de EM, com maior eficácia, mas que apresentam efeitos secundários potencialmente graves, principalmente ao nível de infecções uma vez que condicionam a protecção natural do organismo contra as mesmas (efeito de imunossupressão), pelo que a segurança destes fármacos a longo prazo não está ainda clarificada. O objectivo último da investigação, que seria a cura da Esclerose Múltipla, passando pela criação ou descoberta de agentes de neuroprotecção e de regeneração celular continuam a não passar de um sonho. Ou seja, não existem sequer medicamentos em fases finais de investigação que permitam curar as cicatrizes da EM, pelo que a regeneração da mielina e a recuperação da função cerebral em área lesionadas que permitiria diminuir os défices já estabelecidos, ainda não é possível através da farmacologia. Novos Fármacos Gilenya (conhecido anteriormente como Fingolimod) Um novo fármaco, que se encontra já apto a ser comercializado e que contou com a colaboração 17 18 Boletim Esclerose Múltipla do Hospital dos Capuchos nos ensaios clínicos, é o Gilenya, um derivado de um fungo que apresenta um mecanismo de actuação original, uma vez que “sequestra” os linfócitos (principais células do sistema linfático e um tipo específico de glóbulos brancos, pertencentes ao sistema imunitário, que têm a missão de defender o organismo das diversas doenças e infecções) evitando que estes migrem para os locais de inflamação. Neste caso não há destruição dos linfócitos, estes apenas ficam recluídos nos órgãos linfáticos onde são produzidos, impedindo que possam, como vimos anteriormente, passar a Barreira HematoEncefálica e, consequentemente, entrar no SNC. O Gilenya apresenta a mais-valia de uma administração oral diária, de grande benefício para os portadores de EM quando comparado com os fármacos actualmente disponíveis e foi estudado em duas doses (1.25 mg e 0.5 mg), sendo que não se verificaram diferenças ao nível da eficácia terapêutica, apesar de a dose mais baixa apresentar menos efeitos secundários, pelo que será a dose a ser comercializada. Como efeitos secundários do Gilenya têm vindo a ser referidas subidas da Tensão Arterial [pressão do sangue dentro do coração e das artérias], Bradicárdia [diminuição na frequência do batimento cardíaco], Bloqueio auriculo-ventricular [alteração na passagem do estímulo eléctrico para os ventrículos com bradicardia ou dissociação aurículo-ventricular], Edema macular [espessamento da mácula, uma pequena área no centro da retina, no olho, que nos permite ver os detalhes com clareza, provocando dificuldades ou mesmo perda de visão moderada a grave], infecções das vias aéreas inferiores e urinárias, infecções víricas, doenças malignas localizadas na pele ou cancros de pele, apesar de não haver certezas de se registar uma prevalência superior à registada na população em geral. Devido à potencial diminuição na frequência do batimento cardíaco (Bradicárdia), a primeira toma deste fármaco deverá ser realizada no hospital, e permanecer no mesmo durante seis horas, de forma a monitorizar a frequência cardíaca e prevenir este efeito secundário. As restantes tomas já não obrigam a esta vigilância pelo que poderão ser realizadas normalmente em casa. A aplicação do Gilenya parece ser predominantemente indicada na forma Surto-Remissão, tendo-se registado uma redução de 54% a 60% na taxa de surtos bem como uma redução da probabilidade de evolução da EM para forma progressiva, para além se terem evidenciado resultados muito positivos nos estudos de Ressonância Magnética. Os resultados obtidos nos ensaios clínicos colocam o Gilenya, em termos de eficácia, entre os Interferons/Acetato de Glatirámero e o Natalizumab. Novos Fármacos CLADRIBINA Ainda no âmbito dos novos fármacos, o Dr. Rui Pedrosa referiu a Cladribina, um fármaco com muitas semelhanças com o Gilenya, tratando-se de um imunossupressor já aprovado para tratamento de algumas formas de leucemia [Leucemias de Células Pilosas] que provoca apoptose [morte] dos linfócitos. Ou seja, a Cladribina conduz à auto-destruição ordenada dos linfócitos para além de impedir a sua multiplicação sem prejudicar de forma relevante as outras células do sistema imunitário. Os resultados clínicos e imagiológicos referentes a este fármaco são muito semelhantes aos do Gilenya, sendo bem tolerado pelos portadores e eficaz em doentes com Esclerose Múltipla de forma Surto-Remissão, para além de o número de tomas ser baixo, apresentando um esquema posológico simples. A característica principal deste fármaco é que apresenta uma duração de acção muito prolongada o que possibilita um número de tomas muito reduzido. Ou seja, consoante o peso do portador de EM, a primeira toma é de 3 a 4 comprimidos, repete-se esta toma cerca de uma a duas semanas depois e a acção do fármaco tem a duração de sensivelmente um ano, pelo que, só ao fim de cerca de 50 semanas é que se inicia novo ciclo terapêutico. Esta vantagem tem contudo um risco inerente, se por algum motivo for necessário suspender rapidamente a toma do fármaco, só após vários meses é que o organismo retoma a sua função imunitária normal, enquanto no caso do Gilenya, cerca de 15 dias são suficientes para restabelecer o nível de linfócitos em circulação. Assim, relativamente à Cladribina e também de alguma forma relativamente ao Gilenya, falta então esclarecer com precisão o perfil de segurança, especialmente a longo prazo, uma vez que se encontram des- Boletim Esclerose Múltipla critos efeitos adversos como linfopenia [diminuição da quantidade de linfócitos] e aumento da incidência de infecções e de cancros que importa esclarecer. De qualquer forma, a utilização de Cladribina ou Gilenya deverá ser sempre acompanhada por uma grande vigilância médica por se tratarem de imunossupressores que, por colocarem em causa as defesas naturais do organismo, facilitam necessariamente o desenvolvimento de outras patologias, principalmente infecções, para as quais o sistema imunitário deixa de ter resposta, podendo mesmo, em casos extremos, conduzir à morte do paciente. Novos Fármacos 4-AMINOPIRIDINA/FAMPRIDINE-SR A Fampridine-SR, ou o seu antecessor 4-aminopiridina, foi mais um dos “novos” fármacos referidos pelo Dr. Rui Pedrosa, descrito como um medicamento puramente sintomático ou seja, que não tem por objectivo evitar surtos mas antes melhorar a transmissão da informação, do impulso nervoso ao nível do Sistema Nervoso (SN), com resultados principalmente ao nível da paraparésia [dificuldade de movimentos ou paralisia incompleta dos membros inferiores] e da fadiga. Relativamente ao seu mecanismo de acção, trata-se de um antagonista dos canais de potássio que se associam ao funcionamento da membrana da célula. Ou seja, trata-se de uma substância que neutraliza os efeitos biológicos dos canais de potássio, impedindo a passagem do potássio para o exterior dos neurónios, melhorando a condução de impulsos nervosos nas fibras – axónios – desmielinizadas e, portanto, diminuindo os sintomas provocados por essa deficiente comunicação. Esta acção é principalmente visível ao nível das grandes fibras nervosas, da via que vai do cérebro para a medula, que quando se apresenta desmielinizada por acção da EM, a 4-aminopiridina permite o aumento da velocidade de transmissão do impulso nervoso, com consequente melhoria dos sintomas associados. Paradoxalmente, a 4-aminopiridina tem vindo a ser utilizada há mais de 20 anos no tratamento sintomático da Esclerose Múltipla, contudo apesar de se tratar de um fármaco com um baixo custo, a sua produção representava um grande risco para o farmacêutico responsável localmente pela sua criação, pelo que a sua utilização foi diminuindo progressivamente. Actualmente foi produzida uma nova forma de 4-aminopiridina de acção retardada ou de libertação prolongada – Fampridine-SR – que permite diminuir os efeitos secundários desta terapêutica, nomeadamente as crises convulsivas. Como efeitos terapêuticos da Fampridine-SR têm vindo a ser descritas melhorias na espasticidade, na capacidade de marcha e na força dos membros inferiores, bem como uma grande utilidade na fadiga. Trata-se de um fármaco principalmente útil nos doentes com formas secundárias progressivas de EM e com dificuldades na marcha, e também na forma primária progressiva, podendo porém facilitar a existência de crises convulsivas em doentes susceptíveis. Insuficiência Venosa Cérebro-Espinal Crónica Uma das mais recentes promessas no tratamento da Esclerose Múltipla, é uma teoria recente que associa esta patologia a uma Insuficiência Venosa Cérebro-Espinal Crónica. Assim segundo o cirurgião vascular italiano Paolo Zamboni, a EM envolve um processo de doença vascular em que as veias provenientes do cérebro apresentam um entupimento, que resulta num compromisso do fluxo venoso da cabeça para o tórax. Desta forma, segundo este médico, é então criada uma hipertensão venosa intracraniana que condiciona a existência de um excesso de ferro com lesão da parede vascular e da barreira hemato-encefálica e, consequentemente, a passagem de linfócitos ou células imunocompetentes para dentro do cérebro que atacam a mielina. Segundo este cirurgião, e nas palavras do Dr. Rui Pedrosa, o diagnóstico desta insuficiência é fácil sendo possível de ser realizado mesmo antes do aparecimento dos primeiros sintomas de EM, enquanto a sua correcção se assume como um procedimento cirúrgico simples, uma angioplastia [técnica cirúrgica que utiliza um minúsculo balão insuflado dentro da veia obstruída bem como uma mini-tela de aço chamada de “stent” que, aberta, facilita a passagem do sangue] que parece permitir uma melhoria significativa dos sintomas de EM. Contudo, apesar do entusiasmo gerado entre portadores de EM e respectivas famílias, a comunidade científica apresenta ainda grandes reservas no que concerne à teoria da 19 20 Boletim Esclerose Múltipla Insuficiência Venosa Cérebro-Espinal Crónica, apresentando muitas críticas aos estudos de Paolo Zamboni por estes não obedecerem aos critérios rigorosos internacionais que são necessários para comprovação de uma relação causaefeito. Desta forma, a comunidade científica tem vindo a referir que estes estudos não apresentam grupo placebo [grupos sem intervenção cirúrgica real sem o conhecimento do próprio doente], randomização [atribuição de um modo aleatório, de um doente a um grupo de estudo – grupo placebo vs. grupo com intervenção] e não são “cegos” [o paciente não tem conhecimento do tipo de tratamento a que está a ser sujeito], o que poderia eliminar o efeito psicológico do tratamento no doente e, como tal, comprovar verdadeiramente a sua eficácia. Por outro lado, os resultados não foram comparados com a evolução antes da cirurgia e regista-se uma evolução destes doentes semelhante à encontrada em doentes pertencentes a grupos placebo em outros ensaios clínicos realizados. Para além disso, cerca de 50% de doentes com outras patologias neurológicas (nomeadamente doentes vasculares com aterosclerose, com tumores cranianos ou com Parkinson) apresentam alterações venosas semelhantes o que, por si só, parece levantar a questão de a Insuficiência Venosa Cérebro-Espinal Crónica ser não uma causa mas uma consequência da patologia neurológica. Por fim, o argumento que mais dúvidas tem levantado perante a teoria da Insuficiência Venosa Cérebro-Espinal Crónica relaciona-se com o facto de publicações recentes de outros autores não terem vindo a confirmar os resultados obtidos por Paolo Zamboni. Desta forma, esta teoria terá ainda de ser submetida a múltiplos estudos de forma a ser possível a sua confirmação ou infirmação para que os Portadores de EM não sejam submetidos a procedimentos invasivos, com algum risco por envolverem uma intervenção cirúrgica, sem que exista a garantia científica de eficácia terapêutica. Recomenda-se então alguma prudência e, segundo as palavras do Dr. Rui Pedrosa “neste momento nada está estabelecido, há uma teoria que apresenta alguns dados que aparentemente lhe dão alguma autoridade e agora é necessário realizar estudos sérios de forma a comprovar essa teoria, não havendo razão neste momento para realizar esta cirurgia fora do âmbito de um ensaio clínico bem organizado”, principalmente tendo em conta os riscos potenciais da referida cirurgia. Nota importante: à data de fecho deste Boletim, os medicamentos Gilenya, Cladribina e Fampridine-PR aguardam aprovação da EMA (Agência Europeia do Medicamento) para doentes de Esclerose Múltipla. O Gilenya e o Fampridine-SR já foram aprovados pela FDA (Food and Drugs Administration – entidade governamental americana que regulamenta os medicamentos, entre outras substâncias). Os nomes dos medicamentos podem variar consoante o país onde são aprovados. Alexandra Duque (Psicóloga Clínica da SPEM) Bibliografia • http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00053417?term=Fampridine-SR+4-aminopyridine&rank=1 • http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00127530?term=Fampridine-SR+4-aminopyridine&rank=4 • http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00213135?term=Cladribine+multiple+sclerosis&rank=5 • http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00340834?term=fingolimod&rank=1 • http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00342381?term=Fampridine-SR+4-aminopyridine&rank=15 • http://clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00483652?term=Fampridine-SR+4-aminopyridine&rank=6 • http://clinicaltrials.gov/ct2/show/study/NCT00938366?term=Cladribine+multiple+sclerosis&rank=3 • http://www.crohn.ptservidor.com/doc_pdf/resumo-caracteristicas-Tysabri-pt.pdf • Menegatti, E. & Zamboni, P. (2008). Doppler Haemodynamics of Cerebral Venous Return. Current neurovascular Research, 5: 260-265. 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Boletim Esclerose Múltipla T erapias complementares Tai Chi Taoista® artes internas e métodos Saúde e bem-estar para o corpo e a mente Uma arte ao alcance de todos Uma vida activa desempenha um papel central na manutenção da saúde, seja na prevenção de doenças, seja na minoração dos impactos de doenças graves e prolongadas como por exemplo as Cardiovasculares, Parkinson, Esclerose Múltipla, Fibromialgia, Artrose, Osteoporose, Diabetes, entre outras. O Tai Chi Taoista® artes internas e métodos permite que todos possam disfrutar dos benefícios de uma vida activa. Esta arte ao alcance de todos consiste numa sequência de movimentos completos e integrados que actuam sobre todo o corpo, em profundidade e com suavidade, ajudando a recuperar, a manter ou a melhorar a saúde nas suas dimensões físicas, mentais e espirituais. É uma arte antiga dotada de uma grande compreensão sobre como funciona o organismo, das conexões entre os seus vários sistemas e entre o praticante e o meio que o rodeia. A forma de 108 movimentos de Taijiquan (Tai Chi Chuan) exercita gradualmente os músculos, articulações, tendões, ligamentos e órgãos internos e está focada na suave rotação, extensão e relaxamento, ajudando a equilibrar os vários sistemas do organismo, proporcionando uma sensação de bem-estar. A prática continuada desta arte para a saúde pode ajudar a aumentar a qualidade de vida: é um exercício virtualmente apropriado para qualquer indivíduo independentemente da sua idade ou condição física, idoso ou jovem, em forma ou sedentário, saudável ou doente. As exigências de flexibilidade, equilíbrio, força e resistência são ajustadas a cada situação e a cada pessoa e 21 22 Boletim Esclerose Múltipla pode ser praticado inclusivamente numa cadeira ou numa cama, permitindo que o exercício evolua juntamente com a capacidade do praticante para executar os movimentos. Quando existem limitações físicas à prática dos exercícios, tanto o instrutor como o aluno progridem com muito cuidado. Não se realizam mudanças radicais aos movimentos executados normalmente e a diligência requerida para que se possam sentir os benefícios é a mesma que para qualquer praticante; no entanto, o ritmo de progresso e de mudança é mais lento, existindo grande respeito pelas dificuldades que o organismo apresenta para realizar os movimentos. Por vezes as pessoas apenas necessitam de mais tempo e paciência para recuperar a força muscular e a capacidade de estiramento nos ligamentos. Outras vezes, como por exemplo num avançado processo de Artrite, pode ser difícil ou impossível recuperar o movimento normal no ligamento afectado, mas não impede a possibilidade de recuperação noutras zonas do corpo menos afectadas. Algumas pessoas podem, inclusive, como consequência de uma doença neuromuscular progressiva como a Esclerose Múltipla, exercitar-se vigorosamente numa cadeira praticando a forma de Taijiquan numa posição sentada. Os benefícios para a saúde de quem pratica o Tai Chi Taoista® artes internas e métodos traduzemse a vários níveis, destacando-se de entre eles os efeitos no: • sistema cardiovascular: o ritmo suave dos movimentos incrementa a circulação de sangue e oxigénio, melhora a condição física permitindo uma maior resistência ao esforço (exercício cardiovascular moderado); • sistema ósseo: os movimentos estruturados melhoram o alinhamento e flexibilidade da coluna, desenvolvem a flexibilidade nas articulações beneficiando a nutrição dos ossos e aumentando a possibilidade de manutenção da densidade óssea, actuando ao nível da prevenção das quedas; • sistema muscular: os movimentos de expansão e contracção tonificam, estiram e equilibram grupos musculares, beneficiam a abertura da caixa toráxica e trabalham ao nível da cavidade abdominal; os efeitos são ainda muito significativos ao nível das funções dos pulmões, melhorando a elasticidade dos músculos respiratórios; • sistema nervoso: os movimentos ritmados e lentos desenvolvem o equílibro, a coordenação e o controle motor, melhoram a atenção e a concentração e acalmam a mente; sendo uma “meditação em movimento” os benefícios também se traduzem num relaxamento para o espírito; • sistema linfático: os movimentos de suave rotação e estiramento actuam ao nível dos gânglios linfáticos, optimizando o seu funcionamento, contribuindo para a circulação da linfa e ajudando a regular o sistema imunitário do organismo. A tradição do Tai Chi Taoista® artes internas e métodos tem um profundo respeito pelo praticante, centrando-se nos objectivos a longo prazo, no funcionamento do corpo como um todo e na capacidade de cada um para se ajudar a si mesmo. À medida que se pratica aprende-se a valorizar a saúde e a reflectir no que consiste uma vida saudável. O entendimento do que é a saúde e do que é a doença torna se mais profundo, assim como a consciência dos meios que estão disponíveis a todos, jovens ou idosos, para melhorar a qualidade de vida. Nem sempre os problemas desaparecem, mas a prática regular permite que todos os intervenientes se encontrem activamente envolvidos em solucioná-los. Nos últimos anos pessoas de várias idades e de diversas áreas profissionais e interesses têm--se tornado membros da International Taoist Tai Chi Society – ITTCS 1 e de todas as Associações nela integradas como a Associação de Tai Chi Taoista de Portugal – ATCTP 2 porque procuram o Taijiquan e outras artes internas taoistas como forma de lidar melhor com problemas de saúde específicos. A estrutura colegial da Associação, a prática regular do Tai Chi em grupo, o facto de o ensino 24 Boletim Esclerose Múltipla ser assegurado por instrutores voluntários e a ênfase dada ao ajudar os outros em qualquer situação cria um estado de calma, propósito, compromisso e boa disposição, permitindo que haja abertura para diferentes perspectivas individuais, aumentando a consciência para as necessidades dos outros. A prática é realizada num ambiente livre de competição, onde pessoas de várias idades e estados de saúde praticam em conjunto e é sempre executada com o objectivo de melhorar a saúde e não com o objectivo de atingir a perfeição na execução dos movimentos. A ATCTP disponibiliza classes semanais, cursos intensivos, estágios nacionais e internacionais e outras actividades na sede da Associação e, ao longo dos últimos anos, tem vindo a colaborar com outras Entidades, dando a conhecer a génese do seu trabalho nas suas várias vertentes a todos quantos estejam interessados em fazer parte desta grande comunidade espalhada por todo o mundo.a Sejam bem-vindos! Notas 1 A International Taoist Tai Chi Society (ITTCS), a maior organização de Tai Chi sem fins lucrativos a nível mundial, foi fundada em Toronto em 1970 pelo mestre Moy Lin-shin, um monge taoista que emigrou de Hong Kong para o Canadá. A ITTCS celebra este ano o seu 40º Aniversário e conta com mais de 40.000 membros em 26 países. 2 A Associação de Tai Chi Taoista de Portugal (ATCTP) é uma entidade sem fins lucrativos, integrada na ITTCS desde 1994. Tem sede na Rua Rodrigues Sampaio, nº112, Cv-D em Lisboa e conta com cerca de 100 membros. Tem por objectivos: • Proporcionar o acesso do Tai Chi Taoista® artes internas e métodos ao maior número de pessoas • Difundir os efeitos benéficos do Tai Chi Taoista® artes internas e métodos na saúde • Promover o intercâmbio cultural • Ajudar os outros Bibliografia www.taoist.org www.taoista.org.pt “Health Benefits of Taoist Tai Chi® Internal Arts and Methods”, Dr Bruce McFarlane, médico e consultor da ITTCS, Ottawa, 30 de Maio de 2008 Taoist Tai Chi, Good Health for the Body and Mind, ITTCS, 2006 The Source, newsletter of the Taoist Tai Chi Society USA, summer/fall 2004 doa software à SPEM A Microsoft, talvez a mais conhecida empresa de mos tivesse eco no tecido empresarial português. sibilidade social para apoio a instituições como a Portugal, ao responsável pelas relações públicas, software para computadores, tem uma forte senSPEM. Aproveitando esta filosofia, candidatámo- nos à obtenção de novos programas para o nos- À Microsoft, e com especial relevância à Microsoft Rodolfo Oliveira e à sua colega e nossa interlocutora Júlia Queirós, a SPEM expressa o mais vivo so parque informático, no que fomos atendidos, agradecimento. À empresa em si, pelo volumoso utilização cujo valor comercial ultrapassa os apadrinhado o nosso pedido e terem acompa- no mês de Julho, com a doação de licenças de 31.500 dolares americanos (cerca de 24.300 euros) – uma acção de mecenato que gostaría- donativo. Aos seus colaboradores, por terem nhado as diligências internacionais necessárias à sua aprovação. Boletim Esclerose Múltipla D ireitos Aquisição ou construção de habitação própria O Decreto-Lei nº 230/80, de 16 de Julho, estabelece o regime aplicável à aquisição e construção de habitação própria por parte de portadores de deficiência. De acordo com aquele normativo, a taxa de juro de empréstimos à habitação para os referidos indivíduos é a que estiver determinada pelo ACTV (Acordo Colectivo de Trabalho) do sector bancário, ou seja, a mais baixa do mercado. A bonificação é aplicável, igualmente, para os casos de aquisição e instalação de casas préfabricadas, limitando-se o prazo da operação a dez anos. No entanto, para poder usufruir desta vantagem, os interessados terão que comprovar, através de atestado Multiusos, que são portadores de incapacidade para o trabalho igual ou superior a 60%. Assim, em primeiro lugar, importa obter tal certificado em competente junta médica e depois apresentá-lo na instituição bancária escolhida. Contudo é exigido um seguro de vida, o qual muitas vezes é difícil de obter, uma vez que as seguradoras colocam sérios entraves à concessão ou celebração do contrato de seguro, por se tratar de pessoa doente ou deficiente. Noutros casos, as seguradoras optam por agravar substancialmente os prémios de seguro, o que inviabiliza igualmente a operação de crédito. Nesta Secção pretende dar-se respostas às dúvidas em matéria de Direito. Se quiser colocar uma questão, escreva-nos para [email protected] “Nextcare” – apoio gratuito para portadores de esclerose múltipla Foi implementado o “nextcare”, um programa de serviço gratuito para portadores de esclerose múltipla, que garante o apoio humano e ténico, todos os dias do ano, 24 horas por dia. • NEXTCARE Info – materiais informativos sobre a doença e o programa para todos os doentes com EM • NEXTCARE Phone – 800 24 30 24 – linha de atendimento gratuita e personalizada, disponível 24h/dia, 365 dias/ano e que permitirá esclarecimento de dúvidas sobre a doença, sintomas e tratamentos a todos os doentes com EM e/ou seus familiares e cuidadores O grande objectivo do program é a melhoria da qualidade de vida do doente e respectiva família. O NEXTCARE inclui 3 vertentes: • NEXTCARE Home – serviço de apoio gratuito de enfermagem ao domícilio para doentes em tratamento com interferão Beta 1-a I.M. O programa será gerido e coordenado pela empresa BioEpi – clinical research. 25 26 Boletim Esclerose Múltipla P rojectos Vamos construir a casa Uma casa é, por definição e imperativo do coração, um espaço de aconchego, ao abrigo de todas as intempéries. Este é o conceito de “Lar” que queremos imprimir à casa de cuidados continuados que iremos construir em Oliveira do Hospital. Estamos cada vez mais próximo de concretizar um sonho antigo: construir uma casa de cuidados continuados para doentes de esclerose múltipla. A oportunidade surgiu-nos em Oliveira do Hospital, pela mão do Presidente da Câmara Municipal, Alexandrino Mendes. Tudo começou pela grande sensibilidade de dois Oliveirenses, Artur Abreu e Maria José Falcão de Brito, professores na Escola Profissional Eptoliva. O primeiro, chefe de gabinete do Presidente da Câmara e a segunda, representante local do CDS-PP, levaram à edilidade a nossa grande aspiração, que foi imediatamente acarinhada pelo Presidente. Daí ao contacto com a Fundação de Aurélio Amaro Diniz, cedente do terreno, foi um passo. Encontrámos a excelente cooperação e enorme amabilidade do médico da Fundação, Dr. Álvaro Herdade, que nos proporcionou a escolha concreta do espaço. A nossa “casa” será assim edificada na cidade de Oliveira do Hospital, num perímetro onde já se encontra em funcionamento um hospital e um centro de dia da Fundação Aurélio Amaro Diniz. Ficaremos num ponto central, equidistante do norte e sul, com boas acessibilidades. Para além da beleza do local, destacam-se as vantagens de podermos usufruir de certos serviços prestados pela Fundação, como lavandaria e cozinha. Além do mais, está prevista a construção, naquele espaço, de um centro de fisioterapia que poderá ser frequentado pelos nossos doentes. Depois de obter o terreno e antes da construção, impõe-se o projecto de arquitectura, que já está adiantado. Aquele projecto propõe-nos um edifício que alia a funcionalidade à beleza, perfeitamente integrado no espaço e com utilização de materiais próprios da zona. A autoria é da arquitecta Rita Bergano, também responsável por outros projectos na área dos cuidados continuados e que, por si só, já é garantia de qualidade. O trabalho da arquitecta é prestado inteiramente pro bono. Temos ainda muito caminho a percorrer, mas não nos falta ânimo, especialmente agora, que as ideias estão a passar à concretização. Contamos e precisamos do apoio de todos! Seguir-se-ão iniciativas para a obtenção de apoios para a concretização do nosso sonho. A história da “casa”, longa de mais de duas décadas, conta-se rapidamente! Começa com a grande aspiração do grupo de gente excepcional que construiu a SPEM. Desde o início e a par com outros objectivos eventualmente mais modestos, estava o desejo de construir um “lar” para os doentes portadores de esclerose múltipla. É bem sabido que um dos maiores problemas associados à doença é a incapacidade e a dificuldade de encontrar cuidadores. Isto tanto se aplica à incapacidade permanente como à resultante de um surto que termina com a recuperação. Por outro lado, a generalidade dos espaços de cuidados continuados são vocacionados para a terceira idade e muito pouco ou nada se identificam com as necessidades próprias da esclerose múltipla. É ponto assente que a reabilitação dirigida à patologia é capaz de produzir vantagens substanciais e acarretar uma melhoria na condição de vida dos doentes. Referimo-nos naturalmente aos benefícios da fisioterapia, terapia da fala, terapia ocupacional e psicoterapia. A todas estas razões acresce a necessidade de muitas famílias cuidadoras encontrarem um espaço condigno para períodos de ausência. Boletim Esclerose Múltipla S ede Serviço de Apoio Domiciliário – SAD Actuam como um exército que combate a solidão e promove o bem-estar. Para muitos doentes, representam o melhor momento do dia, quantas vezes único de conforto. Os seus nomes são Anabela, Maria da Conceição e Alda e há quem lhes chame “anjos”. São as nossas ajudantes familiares, que integram o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD). Anabela Gouveia, Maria da Conceição Braga e Alda Augusto são os rostos do SAD, valência que existe na SPEM, em Lisboa, desde Maio de 1999 e que foi criada através de um projecto da Assistente Social Dr.ª Paula Passarinho, que exerceu aqui funções durante três anos. Aquele projecto propunha-se contribuir para a qualidade de vida dos portadores de Esclerose Múltipla e seus familiares, prestando cuidados de ordem física e apoio psico-social, de forma a permitir o seu equilíbrio e bem-estar. Trata-se de objectivos permanentes na instituição e que se desejam perpetuados no tempo. Actualmente, o Serviço de Apoio Domiciliário funciona de segunda a sexta-feira, na área da grande Lisboa, com aquelas três Ajudantes Familiares. Vamos, então, conhecer melhor esta Equipa…. Perguntou-se a cada uma: Há quanto tempo trabalham na SPEM? Alda: Durante cerca de quatro anos dei Assistência a idosos na Santa Casa da Misericórdia, tendo posteriormente iniciado funções na SPEM, local onde me encontro há quatro anos também. A equipa do SAD Conceição: Trabalhei três anos num Lar de Idosos e cinco anos na Mansão de Marvilla, actividades relacionadas com a terceira idade e com a área da deficiência respectivamente. Na SPEM encontro-me a exercer funções há oito anos. Anabela: Exerço funções na SPEM há oito anos, sendo esta a minha primeira experiência nesta área, no entanto tenho aprendido muito quer com as colegas quer com as demais profissionais com que trabalhamos. Numa conversa viva e informal ficamos a saber como encaram a profissão de Ajudantes Familiares: “Ser Ajudante Familiar é uma profissão que exige humanidade, preocupação, humildade, saber calar, sorrir e escutar, pois para além das simples tarefas diárias que exercemos também implica algo mais profundo, tal como a invasão da privacidade e intimidade daqueles a quem prestamos cuidados. É, no fundo, a continuidade do apoio na ausência da família, não substituí-la, pelo contrário, somos o seu apoio/suporte. Ser ajudante familiar não deve ser assim encarado como um trabalho mas como uma vocação. 27 28 Boletim Esclerose Múltipla E quanto às actividades diárias que realizam, disseram: “A nossa actividade consiste em efectuar grande parte das tarefas que todos nós executamos autonomamente (higiene pessoal e habitacional), mas que infelizmente algumas pessoas possuem mais dificuldades ou ficam de todo incapacitadas de executar tais acções. Ajudamos e aliviamos no desempenho da família.” Descrevem como são recebidas em casa dos utentes, onde vão todos os dias, da seguinte maneira: “Todos temos dias “sim” e dias “não”! Num portador de EM isso implica uma carga muito mais pesada, pois as suas limitações provocam profundos estados de depressão, no entanto recebem-nos sempre com amizade, pois sabem que ali nos encontramos exclusivamente para promover o seu bem-estar. Mesmo sem curso de psicologia, tentamos sempre suavizar a situação, quer demonstrando interesse pelos seus problemas, escutando-os, quer gracejando subtilmente em algumas situações menos graves. Geralmente encontramo-los num estado de desânimo ou prostração e deixamo-los mais animados quando partimos.” E do dia-a-dia desta profissão, falam das quais as maiores dificuldades sentidas no confronto com a realidade de cada indivíduo: “A maior dificuldade que se nos depara é a revolta do “Porquê eu?” nos doentes. São na maioria pessoas lutadoras, corajosas e bastante activas que vêem os seus sonhos e projectos desabarem, pelo que o seguinte pensamento nos ocorre nestas situações: “Tantas vezes nos reténs em tua casa porque sentes prazer em conversar connosco. Hoje apressaste-te a convidar-nos a sair. Sentimo-nos tristes. Mas depois compreendemos….querias estar só, na tua dor e sentimo-nos impotentes para te dar a esperança que procuravas!”. Além desta situação, há, igualmente, a questão do engasgamento (dificuldade na deglutição), que representa para nós uma grande aflição.” Quanto à pergunta sobre como reagem ao deparar-se com situações invulgares, afirmam: “Para nós não existem situações invulgares, cada caso é único e todos juntos fazem parte do quotidiano da vida real. Tentamos sempre prestar o nosso contri- buto da melhor forma. Colaboramos procurando erradicar ou minimizar situações em que a pessoa vive em condições higiénicas degradantes. Noutras situações, a nossa intervenção consiste em informar e sensibilizar, atenuando as situações de conflito.” E como gostariam de ver a SPEM no futuro, não hesitam: “Gostaríamos francamente de assistir um dia a uma maior divulgação e expansão da SPEM. Sentiríamos um imenso orgulho ao verificar que a Instituição que tanto se tem esforçado para beneficiar os seus associados teria conseguido colmatar todas as necessidades para os satisfazer plena- mente, sendo assim um ponto de referência para os portadores de EM e seus familiares.” E já no fim desta conversa fica uma mensagem em discurso directo e também “assinada” pelas três ajudantes familiares: “Para finalizar, queremos agradecer a todos os utentes que já nos conhecem e usufruem dos nossos cuidados, pelos laços de confiança e simpatia que partilham connosco, “nós” que tantas vez nos perdemos nas fúteis mesquinhices e contrariedades do dia-a-dia diante da vossa força e coragem temos de dizer obrigada pelas grandes lições de vida que nos têm demonstrado. Em troca que podemos oferecer-lhes?! Apenas que partilhemos juntos um dia de cada vez, mas um dia com toda a dignidade e qualidade de vida a que todo o ser humano deve ter direito! Um abraço fraterno, com toda a amizade As ajudantes familiares da SPEM” O SAD tem actualmente vagas, pelo que quem pretender usufruir deste serviço, contacte a Assistente Social da SPEM, Sara Nava, para o número 218 650 480 ou 934 386 920. Boletim Esclerose Múltipla S ede SPEM promove encontro de Delegações A convite da Direcção da SPEM, reuniram-se em Lisboa, a 18 de Setembro, representantes das diversas Delegações e Núcleos da Instituição. Delegados de Coimbra, Évora, Leiria, NBI (Covilhã), Portalegre (Campo Maior), Porto e Santarém debateram durante várias horas problemas sentidos nas suas áreas de influência e trocaram experiências. Desta partilha de conhecimentos surgiram logo à partida linhas de acção que servirão a diversas Delegações para solucionar questões vividas a nível local. O convívio conduziu também a uma maior abertura dos canais de comunicação entre as diversas Comissões Coordenadoras, que de futuro saberão com quem dialogar para resolver problemas comuns. Foram igualmente abordadas questões envolvendo o relacionamento da Sede com as Delegações, tendo-se adiantado diversas formas de as agilizar. Um dos principais assuntos tratados relaciona-se com a distribuição das quotizações pelas Delegações dos distritos onde os sócios residem, tendo sido propostas soluções que irão ser analisadas pelo técnico de contas para implementar uma decisão já tomada pela Direcção mas que não foi ainda operacionalizada por motivos técnicos ligados ao programa informático de gestão de associados. Por razões de ordem pessoal não puderam comparecer delegados de Faro, Setúbal e Viseu. D elegação de Faro Em Agosto fomos ao Teatro!!!! A Delegação de Faro da SPEM assistiu no passado dia 4 de Agosto de 2010, pelas 22h, à Peça de Teatro “A Gaiola das Loucas” do Filipe Lá Féria, no Pavilhão de Congressos do Arade, no Parchal. Agradecemos deste modo à produção do Filipe Lá Féria pela sua gentileza em oferecer os bilhetes para os nossos associados portadores de Esclerose Múltipla. Reclame luminoso na Delegação de Faro da SPEM!!! A Delegação de Faro da SPEM colocou, no passado mês de Julho de 2010, um reclame luminoso, para uma melhor identificação da nossa parte, no Distrito de Faro. Deste modo, torna-se assim mais eficaz e possível uma melhor visualização da nossa presença neste Distrito, tornando-se a causa da Esclerose Múltipla uma problemática importante nos dias de hoje e bem presente na nossa sociedade. 29 30 Boletim Esclerose Múltipla D elegação de Faro 2ª Edição do 3º Torneio de Golf Algarve – SPEM A Delegação Distrital de Faro da SPEM, realizou a 2ª edição do 3º Torneio de Golfe, no passado dia 12 de Agosto, Evento que contou com a colaboração da Quinta do Vale, Castro Marim, bem como com o apoio de alguns patrocinadores. Este evento contou com a presença, entre outros, da D. Maria de Jesus Guerreiro Bispo, Coordenadora da Delegação Distrital de Faro da SPEM, da Dra. Tânia Filipe e do Dr. Luís Rocha, Técnicos Colaboradores, bem como de diversos participantes. Este Torneio teve como objectivo a angariação de fundos que permitam uma acção mais eficaz na nossa Instituição, no apoio prestado aos associados, nomeadamente a aquisição de algumas ajudas técnicas (cadeiras de rodas, cadeira de banho, cama articulada, canadianas, andarilhos) e ainda a aquisição de algum material necessário às diversas actividades e serviços prestados: Apoio Psicológico; Convívio / Actividades Lúdicas; Aulas de Hidroterapia e de Pintura; Conferências, bem como para a construção de uma nova Delegação Distrital de Faro da SPEM. Todas estas iniciativas e outras que se seguirão nunca são demais para ajudar na promoção da qualidade de vida dos nossos associados, nunca esquecendo a realidade e necessidades daqueles que justificam a nossa existência. A Delegação Distrital de Faro da SPEM agradece a todos os que participaram neste Torneio de Golfe, bem como a todos aqueles que tornaram possível este Evento de Solidariedade. Boletim Esclerose Múltipla D elegação do Porto I Concurso de Fotografia No decurso do mês de Junho o nosso Psicólogo Clínico lançou-nos o desafio de promover um con- curso de fotografia. A Fátima Ribeiro ficou encar- regada de o promover e também de criar o tema no qual as fotografias teriam que se enquadrar. Os concorrentes classificados nos três primei- ros lugares receberam um troféu em acrílico, com o logótipo da instituição e uma imagem alu- siva ao concurso. A todos os presentes foi oferecido um lanche de despedida para as férias. Consideramos que apesar do pouco tempo de que dispusemos e da nossa inexperiência neste campo, o concurso correu muito bem, e ficamos com vontade de repetir a experiência, mas da próxima vez alargada a todos os portadores de EM. Agradecemos á empresa Francisco Fonseca que nos ofereceu os troféus e os porta-chaves, A ideia cresceu e todos começaram a trabalhar: – O Júri elaborou o regulamento e fez a divulgação por email; – Os utentes fizeram a divulgação "oral"; – O Diogo Tavares fez o cartaz; – A Delegação Distrital do Porto disponibilizou uma máquina fotográfica para quem não tivesse. que nós adorámos, sem os quais o concurso não teria a mesma graça. O tema escolhido foi "Coragem". Todos os participantes fotografaram de forma diferente e até engraçada o que entenderam como “coragem”. Apresentaram-se a concurso 7 concorrentes com 18 fotografias que foram apreciadas por um júri que não tinha conhecimento dos respectivos autores. No dia 30 de Julho decorreu na Delegação um convívio de despedida para férias e para a entrega dos prémios. A todos os participantes, incluindo os membros do júri, foi oferecido um diploma de participação e um porta-chaves feito em acrílico, com o formato do logótipo da Spem. Texto escrito por: Mª Fátima Ribeiro – sócia nº 1162 Mª Luisa Santos – sócia nº 2865 Conceição Nogueira – sócia nº 2427 Apoio: Empresa – Francisco Fonseca Rua Padre Manuel Bernardes, 38 4435 Rio Tinto Móvel: 916 130 152 e Telf: 309 923 805 31 32 Boletim Esclerose Múltipla D elegação do Porto Participação na III Feira de Artesanato A Delegação Distrital do Porto esteve presente dia 10 e 11 de Julho, na III Feira de Artesanato que se realizou na Praceta da Concórdia em S. Mamede Infesta. Esta iniciativa partiu do Grupo Cultural, Desportivo e Recreativo Realidade e da Cooperativa Construção Realidade. Contou com o apoio da Câmara Municipal de Matosinhos e da Junta de Freguesia de S. Mamede Infesta. A instituição teve a oportunidade de divulgar a doença e o trabalho que desenvolve essencialmente os fantásticos trabalhinhos realizados pelas utentes das Actividades recreativas e de lazer. Durante estes dois dias, estiveram cerca de 15 entidades presentes, onde não faltou muita animação (dança do ventre, rancho folclórico, música e demonstração de karaté). A SPEM agradece às entidades organizadoras a oportunidade que nos deram em estar presente nesta iniciativa. Voltamos à praia! Como estava um dia quente e o sol forte, levamos bastantes guarda-sóis, muita água e protector solar. O almoço ficou ao critério de cada um. Uns preferiram ir ao bar, outros optaram pelo tradicional piquenique. Foi um dia fantástico que começou com o sol a espreitar e terminou quando o mesmo fugiu… A 20 de Julho a Delegação Distrital do Porto levou novamente os utentes que frequentam as Actividades Lúdicas e Recreativas e a Terapia de Grupo a praia do Marreco em Lavra (Matosinhos). Uma vez que já tínhamos lá estado em Junho e ficou a promessa de regressarmos, decidimos cumprir piedosamente o prometido, mas desta vez desfrutamos do cheiro do mar e do toque da areia o dia todo! Esperamos repetir novamente a experiencia quando o Verão e o calor decidirem regressar! Boletim Esclerose Múltipla D elegação do Porto Mobilidade saudável Do dia 16 ao dia 19 de Setembro decorreu a Semana Europeia da Mobilidade, organizada pela Câmara Municipal do Porto. Durante a semana decorreram várias acções e actividades abrangendo várias temáticas: Segurança Rodoviária, Bike Day, Festa da Mobilidade, Mobilidade Saudável, As Crianças e a Mobilidade entre outras. A delegação marcou a sua presença no dia 19 num stand, com outras entidades da área da saúde. O principal objectivo deste evento foi divulgar a EM e a SPEM. Durante a iniciativa, decorreram vários rastreios e acções de prevenção. Serviço de Psicologia Clínica mais completo O serviço de Psicologia Clínica da delegação do Porto está agora mais completo com um horário mais alargado. O novo horário de terça a sexta-feira, das 15h00 às 20h00, está distribuido da seguinte forma: • Terça-feira – 15h00 às 16h30 – Terapia de grupo (portadores masculinos) – 16h30 às 20h00 – Consulta individual • Quarta-feira – 15h00 às 20h00 – Consulta Individual • Quinta-feira – 15h00 às 20h00 – Consulta Individual • Sexta-feira – 15h00 às 16h30 – Terapia de grupo (portadores femininos – quinzenal) – 16h30 às 18h30 – Consulta Individual – 18h30 às 20h00 – Terapia de grupo (familiares/cuidadores – quinzenal) Pode entrar em contacto com a delegação para agendar o seu atendimento ou esclarecer alguma dúvida com os contactos telefónicos 229 548 216, 938 232 958, 964 203 336, ou pelos emails [email protected], [email protected], ou [email protected]. D elegação de Leiria A Delegação de Leiria agradece A NeoCor, conhecida firma de decoração de nosso reconhecimento pelo espírito de solida- diversos apoios para a montagem das exposi- Tomás, agradecendo todas as atenções que Turquel, tem vindo a prestar à nossa Delegação ções que levamos a efeito. Aqui expressamos o riedade da sua proprietária, Sra. D. Natália tem dispensado ao nosso trabalho. 33 34 Boletim Esclerose Múltipla D elegação de Viseu Notícias Algum visível desgaste nalguns dos membros da Delegação e elementos habitualmente activos em todas as iniciativas – não necessária ou exclusivamente motivado pela acção na SPEM – leva-nos a reconhecer que 2010, que entra na recta final, sofreu de alguma falta de vitalidade. Alunos e professores da Escola Emídio Navarro – Viseu – atentos à abordagem feita pelos nossos associados sidente e colaboradores deixamos o nosso reconhecimento, teve lugar, integrando as actividades das festas da cidade, uma acção de divulgação da SPEM e da E.M. com oportunidade de venda de alguns artigos que nos foram oferecidos ou confeccionados por associadas e amigos. 3 – Julgando não abusar da finalidade deste espaço no Boletim, na expectativa de que o alerta chegue a quem, habitualmente, não participa nos encontros e actividades, mas o recebe, permitimo-nos deixar um apelo a cada um da maioria dos mais de 70 associados da Delegação e respectivos familiares e amigos – que até agora dela se têm alheado, seguramente, por razões válidas – para que se comprometam mais. Contudo, por impulso inicial externo à coordenação da delegação, sua mera cooperação administrativa, mas com o empenho e dinamismo dos participantes, a Delegação mostrou-se: 1 – Em Maio, na Escola Emídio Navarro, em Viseu, a partir de inicial contacto de uma das turmas que pretendeu integrar no seu projecto área Escola uma abordagem à Esclerose Múltipla. Com a participação de uma Terapeuta que voluntariamente tem colaborado com a Delegação e 4 associados portadores de E. M, foi apresentado um relato sobre a E.M e, na primeira pessoa, como é viver com E.M. No final do relato, em cerca de 1h30m, com a presença de dezenas de alunos e professores, foram colocadas diversas questões. Foi muito positiva a manifestação de agrado dos presentes, tendo sido sublinhada a ausência de tabus. 2 – Mais recentemente, nos dias 4 e 5 de Setembro, – por especial iniciativa de um dos nossos associados – com a colaboração da Câmara Municipal de Mangualde a cujo Pre- Associados e Terapeuta Catarina – Na Escola Emídio Navarro – Viseu O comprometimento deve passar por contributo com ideias exequíveis, disponibilidade mental e, obviamente temporal quanto baste, para integrarem o elenco da Delegação – a carecer de renovação – e/ou equipas que assumam diferentes valências de funcionamento, na perspectiva de um real serviço solidário. O ideal é que a Delegação não continue a limitar-se a angariar alguns fundos e mostrar o logótipo da SPEM nalguns eventos ou espaços, com distribuição de material sobre a instituição e a Esclerose Múltipla. Boletim Esclerose Múltipla Tipo de Intervenções Serviços prestados pela SEDE – 3º Trimestre de 2010 JULHO Utentes Atendimentos 6 6 20 24 4 7 30 37 Apoio Jurídico Serviço Social Serviço de Psicologia Sub-totais Consultas de MFR Fisioterapia Terapia Ocupacional Terapia da Fala Sub-totais Totais 8 31 16 11 66 96 9 194 55 61 319 356 AGOSTO Utentes Atendimento 0 0 29 34 0 0 29 34 SETEMBRO Utentes Atendimento 17 17 22 31 4 7 43 55 UNIDADE DE NEUROREABILITAÇÃO 0 18 11 8 37 66 0 83 25 28 136 170 8 31 19 12 70 113 8 200 120 66 394 449 TOTAIS Utentes Atendimento 23 23 71 89 8 14 102 126 16 80 46 31 173 275 Serviços prestados pela Delegação de Leiria – 3º Trimestre de 2010 Tipo de Intervenções JULHO Utentes Atendimentos 10 15 7 9 17 24 Serviço Social Serviço de Psicologia Totais AGOSTO Utentes Atendimento 0 0 0 0 0 0 SETEMBRO Utentes Atendimento 6 12 11 15 17 27 17 477 200 155 849 975 TOTAIS Utentes Atendimento 16 27 18 24 34 51 Serviços prestados pela Delegação do Porto – 3º Trimestre de 2010 Tipo de Intervenções JULHO Utentes Atendimentos 10 10 19 27 Serviço Social Serviço de Psicologia 17 8 54 Totais 34 12 83 AGOSTO Utentes Atendimento 6 6 14 20 SETEMBRO Utentes Atendimento 23 31 23 36 Terapia de Grupo Portadores 0 0 Terapia de Grupo Familiares 0 20 0 26 TOTAIS Utentes Atendimento 39 47 56 83 19 38 36 72 7 72 10 115 15 146 22 224 Movimento de Sócios – 3º Trimestre 2010 Increveram-se Sairam 53 6 Ficha Técnica Propriedade e Edição: Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla Contribuinte Nº: 501 789 880 Director: Jorge David R. Silva Conselho Editorial: Departamento de Informação da SPEM Pré-Impressão: Impacto Gráfico, Lda. Impressão: Duocor, Lda. Estrada Nacional 10, Km 140.1, Armazém F – 1 2695-066 Bobadela Depósito Legal: N.º 89.088/95 ISB: N.º 0873-1500-NROCS – N.º 119275 Tiragem: 3200 Exemplares Periocidade: Trimestral Preço de Capa: 1€ Distribuição gratuita a sócios e técnicos de saúde Número Avulso SOCIEDADE PORTUGUESA DE ESCLEROSE MÚLTIPLA Rua Zófimo Pedroso, 66 – 1950-291 Lisboa Tel.: 21 865 04 80 • Fax: 21 865 04 89 E-mail: [email protected] • www.spem.org 35