1 Shirlei Schmulian Fonoaudióloga “DISSEMIA” Dificuldade em reconhecer sinais e sinalizações não verbais. Introdução A comunicação humana é uma área de investigação e de estudos muito complexa, é tanto um fenômeno quanto uma função social e profissional. Ela é processada através de dois níveis: o verbal e o não verbal. A comunicação não-verbal é a forma não discursiva que pode ser transmitida através de três suportes: o corpo, os objetos associados ao corpo e os produtos da habilidade humana. Investigações científicas têm evidenciado que a importância das palavras, em uma interação entre pessoas é apenas indireta. Resultados de diversos estudos demonstram que as relações interpessoais são mais influenciadas por canais de comunicação não-verbais do que verbais. Isto é indicativo que o discurso não-verbal assume relevância nos processos de comunicação humana1. A comunicação não-verbal é um processo importante, uma vez que nos comunicamos não apenas com as palavras, mas com todo o nosso corpo, e isso inclui: Gestos, posturas e movimentos do corpo; Face e movimentos dos olhos; Paralinguagem (tom de voz, pausas, velocidade da fala, etc.); Vestuário; Território (distância que mantemos das pessoas); Sinais não-verbais de dissimulação; Comunicação não-verbal com estrangeiro. 2 Cada um dos itens acima transmite mensagens sobre o que estamos comunicando, bem como sobre a comunicação da outra parte2. Em 1970 Ray Birdwhistel, professor da Universidade de Pennsylvania, concluiu que a relevância das palavras numa interação entre pessoas é apenas indireta. Pois grande parte da comunicação processa-se em nível inconsciente. Para ele, apenas 35% do significado social de uma conversa corresponde às palavras pronunciadas, os outros 65% seriam correspondentes aos canais de comunicação não verbal3. Logo, o indivíduo que não sabe decodificar mensagens não-verbais, perde 65% do que é comunicado, e também grande parte da comunicação . Em outro estudo, Albert Mehrabian , professor da Universidade da Califórnia , em Los Angeles, concluiu que a comunicação verbal (palavras) é responsável apenas por 7% da eficácia da comunicação, a comunicação para-verbal (tonalidade, intensidade e outras características da voz ) por 38% e a comunicação não-verbal (gestos e expressões) pelos 55% restantes3. Alguns psicólogos afirmam que os sinais não-verbais têm as funções específicas de regular e encadear as interações sociais e de expressar emoções e atitudes interpessoais4. O objetivo deste estudo é conhecer sobre a Dissemia, e suas repercussões na vida das crianças portadoras. Para isto, foram consultados livros concernentes ao assunto, bancos de dados e internet. Resultados: Em relação à dissemia, os resultados foram pouco eficazes, pois houve escassez de material sobre o assunto pesquisado. 3 Dissemia (do grego dys-, "dificuldade", e sêma, “sinal”). Dissemia (dis-sema-ia). Perturbação no uso dos símbolos da linguagem (kinghost dicionário da língua portuguesa). Nowicki and Duke, Psychology professors tem devotado sua carreira a estudos da comunicação não verbal, tentando achar maneiras de ajudar crianças que sofrem desta alteração. Eles publicaram o livro “Helping The Child Who Doesn’t Fit In” (Peachtree Publishers, 1992) e “Teaching Your Child the Language of Social Success” (Peachtree Publishers, 1996). Eles também desenvolveram um teste para avaliar a Dissemia, chamado Diagnostic Analysis of Nonverbal Accuracy (DANVA), que dá a capacidade da criança ler a expressão facial, postural e paralinguistica tipo: raiva, medo, tristeza e felicidade. Eles estimam que 1 em cada 10 crianças apresentam este tipo de problema, ou seja dificuldade em compreender a conversação não verbal5. Segundo Leila Boni Guerra6, em seu livro “A criança com dificuldade de aprendizagem”, Norwicki & Duke (1996) compartilharam as idéias de Johnson & Myklebust e cunharam o termo dissemia: dificuldade para utilizar e entender sinais e sinalizações não-verbais, para se referirem a este tipo de dificuldade. As crianças portadoras de dissemia têm dificuldade para comunicar as informações não-verbais através de expressões faciais, posturas, gestos e ações. Essas crianças tentam se portar adequadamente e ter amigos mas, geralmente, não são bem sucedidas, permanecendo ignoradas ou rejeitadas por colegas e adultos em virtude de frequentemente quebrarem as regras de comunicação não-verbal como, por exemplo: Ficam muito perto de nós e nos tocam de maneiras inapropriadas; Riem muito alto ou em momento inapropriados; Fazem observações tolas ou embaraçosas; 4 Parecem não entender a mensagem ao lhes serem feitas alusões diretas, ou mesmo ao serem solictadas claramente para se comportarem diferentemente; Confundem ações amistosas com hostis, e vice-versa; Movem-se devagar, ou depressa demais, em direção a qualquer pessoa; Suas expressões faciais não correspondem ao que estão dizendo, ou ao que as outras pessoas estão dizendo; Sua aparência é significantemente fora de moda. Entretanto, embaixo desta aparência de “peixes fora d’agua” existem crianças inteligentes e bem intencionadas que se sentem aturdidas com a rejeição de seus pares e, repetidamente, falham em suas tentativas de fazer amigos duradouros. De acordo com a autora, a terapia deve proporcionar à criança dissêmica a aquisição de habilidades não-verbais indispensáveis para poder interagir adequadamente com os outros, sendo os conteúdos terapêuticos desenvolvidos através de habilidades verbais, ou seja, a terapia deve promover a aquisição de habilidades não-verbais através das verbais. Segundo o estudo “Transtorno Não-Verbal da Aprendizagem (TNVA)7”, as crianças portadoras de TNVA geralmente se apóiam nas habilidades verbais para a resolução de problemas de qualquer natureza, uma vez que tais habilidades encontram-se preservadas. Portanto, algumas recomendações que compõem o programa de tratamento são as seguintes: 1. Observe, de perto, o comportamento da criança, especialmente em situações novas e complexas. Preocupando-se em observar o que a criança faz e desconsiderar o que a criança diz. Exemplos. Observar o comportamento da criança durante brincadeiras com outras crianças; filmar tais interações ou os comportamentos solitários na sala de aula. 2. Uma vez que esteja estabelecido que o comportamento da criança não é adaptativo, particularmente em situações novas e complexas, o cuidador deve ser realista na avaliação do impacto das habilidades neuropsicológicas da criança 5 (linguagem e memória), bem como dos déficits (processamento visoespacial e visoconstrutivo). Na escola, por exemplo, deve-se ter em mente que a capacidade bem desenvolvida da criança no reconhecimento de palavras e nas habilidades de ortografar não é suficiente para que ela se beneficie dos diversos modos, formais ou informais, de instrução, especialmente naqueles assuntos que requerem habilidades visoespaciais, visoconstrutivas e de soluções não-verbais de problemas. 3. Sempre que possível, utilize uma abordagem de ensino verbal indutiva, ou seja, do singular para o geral. Deve-se ter em mente que a criança aprenderá melhor quando cada passo verbal é apresentado na seqüência correta, devido às dificuldades da criança na resolução de problemas e na organização perceptiva com materiais novos. A criança com TNVA, por um outro lado, tende a responder mais eficientemente a uma abordagem que seja lenta, repetitiva e altamente redundante. 4. Encoraje a criança a descrever detalhadamente eventos que acontecem em sua vida. Esta recomendação aplica-se não somente durante as sessões de ensino, mas também em qualquer situação na qual a criança não pareça entender completamente o seu comportamento ou o comportamento dos outros. Por exemplo, quando acontece um incidente no pátio da escola, no qual a criança encontra dificuldades interpessoais, o terapeuta deve pedir para a criança explicar detalhadamente os eventos que ocorreram e a sua percepção das causas do incidente e de seus efeitos. O cuidador deve encorajar a criança para focar nos aspectos relevantes da situação e apontar as irrelevâncias que surgiram. Através da discussão, a criança deve ser ajudada a tornarse consciente das discrepâncias entre as suas próprias percepções e as dos outros. 5. Ensine à criança estratégias apropriadas para lidar com situações problemáticas que ocorrem com periodicidade diária. Em vários casos, crianças com TNVA não conseguem desenvolver estratégias de resolução de problemas, de uma forma independente, porque elas não têm consciência das reais exigências da situação. Em outros casos, as crianças podem ser incapazes de desenvolver estratégias apropriadas, porque este tipo particular de tentativa requer competências neuropsicológicas básicas que a criança não desenvolveu. Mais uma vez, deve-se enfatizar que o erro mais freqüente cometido pelos cuidadores em tais situações é 6 superestimar as capacidades das crianças com TVNA a aprender e aplicar soluções adaptativas e técnicas de enfrentamento na resolução de problemas. 6. A criança pode não ser capaz de reconhecer que exista uma conexão causal entre pressionar o interruptor de luz e o acendimento da luz. A maioria das pessoas que não são familiarizadas com o TNVA não consegue reconhecer que tais relações devam ser muito bem explicitadas para que a criança com TNVA consiga aprender. 7. Ensine a criança a refinar e utilizar apropriadamente suas habilidades verbais. Tal como foi mostrado antes, é muito comum que crianças com TNVA utilizem de habilidades verbais muito mais frequentemente e para muito mais propósitos do que crianças normais. Por exemplo, elas podem fazer perguntas repetitivamente como fonte primária de colher informações sobre situações novas e complexas. Isto pode ser bastante inapropriado em algumas situações, especialmente em situações de natureza social, nas quais comportamentos não-verbais são muito mais importantes para a direção e o feedback. 8. O cuidador pode pedir que a criança observe interações sociais filmadas que contenham vários níveis de complexidade no que diz respeito à relações físicas e psicológicas de causa-e-efeito. 9. Uma criança com TNVA pode sorrir em momentos inapropriados, por exemplo, quando ela falha em uma tarefa. É importante procurar ensinar comportamentos nãoverbais mais apropriados, tendo em vista os conceitos introduzidos em associação com os refinamentos das habilidades expressivas verbais da criança. Sendo assim, ensinar a criança “o que dizer”, “como dizer” e “quando dizer” deve ser o foco de preocupação. Por exemplo, algumas crianças podem não saber como e quando traduzir seus sentimentos de uma maneira não-verbal. A utilização de figuras informativas, exercícios de imitação e outras técnicas e suportes concretos podem ser extremamente interessantes neste tipo de treinamento. Esse tipo de intervenção pode ajudar a criança a se atentar mais ao significado dos comportamentos não-verbais dos outros. Exemplo. O cuidador pode encorajar o desenvolvimento de mímica, limitando a comunicação entre ele e a criança, durante pequenos períodos do dia à formas nãoverbais. 7 Conclusão As crianças portadoras de Dissemia apresentam um baixo desempenho acadêmico e dificuldades nas habilidades sociais, visoespaciais, visoconstrutivas e motoras. Além de apresentarem dificuldades para se autoperceber, perceber o mundo a sua volta e relacionar-se com as outras pessoas, tornando-se muitas vezes inconvenientes, podendo ser excluídas do convívio social pelos colegas, e até mesmo pelos adultos. De acordo com a literatura consultada, a terapia fonoaudiológica tem como principal objetivo a estimulação da comunicação não-verbal, utilizando as habilidades verbais. 8 Referências Bibliográficas: 1. MESQUITA, Rosa Maria. COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL: RELEVÂNCIA NA ATUAÇÃO PROFISSIONAL 2.http://www.ethesis.inf.br/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=102 3. http://www.tj.ce.gov.br/esmec/pdf/comunicacao_nao_verbal.pdf 4. http://pt.wikipedia.org/wiki/Processo_de_comunica%C3%A7%C3%A3o 5. Journal of Genetic Psychology (Vol. 164, No. 1, pages 88–100). 6. Guerra, Leila Boni, “A criança com dificuldade de aprendizagem: considerações sobre ab teoria-modos de fazer. Rio de Janeiro, Enelivros,2002. 7. Chagas, Pedro Pinheiro, Transtorno não-verbal daprendizagem, abril, 2007