KRUPPA, Sônia. Compreendendo a realidade com o auxílio da Sociologia. In: ____ Sociologia da Educação. SP, Cortez Editora. P. 53/55. A Sociologia é uma ciência que, como outras Ciências Humanas, afirmou-se no século XIX, na tentativa de explicar a sociedade que surgiu com desenvolvimento do capitalismo, muitas vezes servindo para justificar esse sistema econômico, social e político. Sua contribuição é, portanto, fundamental para a compreensão dessa sociedade. A Sociologia, contudo, não se resume a um bloco único de explicação da realidade. Dependendo da posição que assumem na análise da sociedade, os pensadores da Sociologia diferem quanto ao papel que atribuem à educação, à cultura e à própria sociedade, possibilitando análises distintas da escola. É o que acontece com Durkheim e Marx, homens que pensaram os processos sociais e cujas obras fazem parte da história, revelando seus lados contraditórios. A Sociologia, através desses e de outros autores, faz parte da história da sociedade capitalista, ao mesmo tempo em que participa de sua explicação. Em particular, Durkheim e Marx explicam e analisam a sociedade capitalista a partir de pontos de vista não apenas diferentes, mas antagônicos. Como se verá, a harmonia proposta por Durkheim na análise da divisão do trabalho, contrasta com o caráter de oposição, de luta de classes, destacado por Marx na mesma divisão do trabalho. Verifica-se, assim, que a Sociologia, como qualquer ciência, não está acabada, não é dona de verdades, é parte do processo histórico, em constante refazer-se. As análises sociológicas não devem, portanto, cristalizar-se como verdades. Ao contrário, como em qualquer teoria, é preciso sua revisão constante. O pensamento de Durkheim tem sido usado para fundamentar as idéias conservadoras da sociedade, isto é, aquelas que defendem a manutenção da ordem social, tal como é posta pelo capitalismo. Já vimos que o liberalismo caminhou nessa direção. Assim, o pensamento de Durkheim tem sido, geralmente, usado em concordância com as idéias liberais. Ao contrário, a análise de Marx considera que a realidade é histórica. A mudança e a transformação social estão presentes em sua análise, que apanha as contradições do social. O pensamento marxista tem sido usado para fundamentar análises críticas da sociedade capitalista. As instituições sociais assumem posições diferentes em uma e outra análise. Em Durkheim, as instituições sociais, como a educação, servirão para conservar a sociedade, o que é positivo em si mesmo, pois, caso contrário, a sociedade não teria continuidade. Para Marx, as instituições estão montadas de forma a ocultar as relações sociais antagônicas entre capitalistas e proletariado, servindo com preponderância aos interesses capitalistas. A definição da alienação, como o ocultamento da exploração, decorrente das relações sociais estabelecidas pelo capitalismo, é fundamental na análise marxista das instituições sociais. Diríamos que, para Marx, a pergunta sobre a quem serve tal ou qual instituição, na forma predominante em que ela se apresenta, deveria ser respondida no início de toda análise institucional. O conhecimento dos papéis assumidos pelo conjunto das instituições na sociedade capitalista é fundamental para compreendê-la, uma vez que esta sociedade não se explica apenas a partir de atitudes ou de comportamentos restritos à esfera econômica, como já se indicou no texto relativo ao liberalismo. Como método de análise, em Marx haverá sempre a busca das relações conflituosas, contraditórias no interior e entre as instituições; em Durkheim o conflito e/ou a contradição será substituído por uma explicação preferencialmente harmônica das instituições e do social. A leitura desses autores deve ser feita de maneira crítica, comparativa, buscando com ela aprofundar a análise da escola escolhida e do país em que vivemos, marcado por contradições, como foi apontado no primeiro texto deste capítulo.