1 1. INTRODUÇÃO A fonoaudiologia é uma profissão que atua em pesquisa, prevenção, avaliação e terapia fonoaudiológica (COMITÊ, 2003). É dividida em quatro grandes áreas de concentração: audição, linguagem, voz e motricidade oral. A última visa, sobretudo, desenvolver, habilitar e reabilitar as funções oromiofuncionais para propiciar estabilidade e equilíbrio do sistema estomatognático, priorizando a relação harmônica entre a forma e a função. O sistema estomatognático é composto por ossos, dentes, sistema vascular e nervoso, articulação temporomandibular, músculos e espaços vazios (MARCHESAN, 2007) que, interligados harmonicamente, realizam as funções estomatognáticas (respiração, sucção, deglutição mastigação e fonação). Dentre estas funções tem relevo a respiração por ser inata e necessária para a sobrevivência do ser humano. O modo respiratório fisiológico é realizado pelo nariz, este órgão está preparado para exercer suas funções de modo a conduzir o ar de forma adequada para o organismo. No entanto, a obstrução nasal leva a uma adaptação patológica para o modo respiratório bucal (CARVALHO, 2009). A etiologia da respiração oronasal1 na infância é dividida em congênita e adquirida, sendo congênitas a atresia de coanas e a hipoplasia externa das narinas. Nas causas adquiridas descrevem-se, entre outras, a hipertrofia de tonsilas faringeana e palatinas, palato ogival, hábito residual (hipotonia), má-oclusão e hábitos deletérios (RUBIN, 1980; FREJMAN, 1999; CARVALHO, 2009). Quando a respiração oronasal ocorre no período de crescimento e desenvolvimento, observa-se alteração na dinâmica corporal como um todo, pois as funções estão relacionadas a cada parte do complexo orofacial, que os transforma em um sistema dinâmico, por meio de atividades integradas. A alteração em uma parte deste complexo perturba o equilíbrio de todo o sistema orgânico (MORALES, 1999) e propicia modificação nas funções estomatognáticas, no crescimento e desenvolvimento crânio-facial, dentário e corporal, no periodonto e na saúde de modo geral, como a inapetência, a apnéia noturna, as otites de repetição, a alteração na leitura e escrita, o mau desempenho físico e de aprendizagem O termo mais encontrado na literatura é “respiração bucal”, porém nessa pesquisa será utilizado o termo “respiração oronasal” conforme preconizado pelo Comitê de Motricidade Orofacial da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, 2002/2003, por ser rara a obstrução nasal total. 1 2 (KRAKAUER, 1995; TESSITORE, 2008), sendo então denominado por Síndrome da Obstrução Respiratória (SOR), por Ricketts, em 19682. As alterações oromiofuncionais no portador de respiração oronasal mais encontradas em recentes pesquisas são: postura de lábios entreabertos e flácidos, lábio superior encurtado e inferior evertido, língua alargada e flácida, bochechas flácidas, mentual rígido, mastigação e deglutição alteradas (RODRIGUES, 2005; ANDRADE, 2005). Para analisar as alterações de musculatura e funções orofaciais é imprescindível a avaliação fonoaudiológica (JUNQUEIRA, 2004). Pode-se ainda somar a exames objetivos, fornecendo subsídios para pesquisa clínica, como a eletromiografia de superfície (EMG), a força de mordida e a performance mastigatória, utilizados para investigar a coordenação dos diversos músculos orofuncionais. As alterações crânios-faciais, dentárias e periodontais decorrentes da SOR mais freqüentes são: retrognatia mandibular, arco maxilar atrésico, dimensão longa da face, más-oclusões dentárias com maior prevalência de Classe II divisão 1 a de Angle, alterações oclusais verticais, dimensão craniofacial ântero-posterior diminuída; retrognatismo facial; incisivos superiores mais proclinados; mordida cruzada posterior associada a má-oclusão Classe II ou III de Angle; cáries, gengivites e periodontites crônicas (TALLGREN, 1976; MCNAMARA, 1981; VIG, 1998). Para analisar as alterações crânio-faciais, dentárias e periodontais é indispensável avaliação interdisciplinar odontológica, composta por: ortodontista ou ortopedista funcional dos maxilares e por clínicos gerais e periodontistas aptos a verificar alterações periodontais inerentes à Síndrome. O mecanismo da doença periodontal envolve interações complexas entre produtos bacterianos, células do hospedeiro e fatores biológicos ativos localmente produzidos, incluindo mediadores químicos (inflamatórios) (LINS et al, 2007), cuja verificação é importante para monitorar a progressão da doença agregando dessa forma o farmacologista à equipe interdisciplinar na avaliação do portador de respiração oronasal. Assim, a precocidade no atendimento ao paciente com SOR, em fase de crescimento, é imprescindível para um bom prognóstico, pois regressões espontâneas destas deformidades podem ser alcançadas com a correção prematura Na Fonoaudiologia o termo mais difundido é “Síndrome do Respirador Oronasal”, já na Odontologia o mais usado é “Síndrome do Respirador Bucal”. Por ser uma pesquisa multidisciplinar, optou-se em utilizar “Síndrome da Obstrução Respiratória” descrita por Ricketts em 1968. 2 3 da respiração oronasal. Para tanto é, definitivamente, necessária a avaliação, diagnóstico e conduta interdisciplinar. Nesse contexto, a Ortopedia Funcional dos Maxilares propõe que sua aparatologia irá atuar bimaxilarmente, modificando, por indução ou imposição, a postura da mandíbula, assim propiciando o desenvolvimento da mesma. Além disso, ao estimular o desenvolvimento dento-ósseo-mandibular, proporciona a excitação neural adequada a articulações, músculos, periodonto, mucosa, periósteo e outras estruturas, visando harmonia estética da face e normalização funcional, ou seja, adequando o equilíbrio de todo o sistema estomatognático (AHUN,1884; SIMÕES, 2008). Considera-se de suma importância que fonoaudiólogos e profissionais afins interligados ao paciente respirador oronasal conheçam as efetivas interferências da aparatologia ortopédica no sistema estomatognático. Portanto, uma vez que a Ortopedia Funcional dos Maxilares promete adequar músculos, periodonto, mucosa, crescimento e postura mandibular e funções estomatognáticas, o presente estudo propõe analisar alterações no respirador oronasal antes e depois de dois tipos diferentes de tratamento ortopédico funcional, no intuito de comparar e constatar a real efetividade dessas aparatologias no reequilíbrio dos componentes morfológicos e funcionais orais. Na realidade brasileira, e principalmente a do Nordeste, tanto a Ortopedia Funcional dos Maxilares como a Fonoaudiologia ainda estão ao alcance de poucos. Não obstante, vêm ganhando espaço na Saúde Pública, porém com listas de espera infindáveis. A aparatologia utilizada na ortopedia funcional dos maxilares é mais viável para o sistema público de saúde em relação a ortodontia fixa, porquanto tem custo mais acessível e, principalmente, porque se trata de prevenção. O estudo da contribuição da ortopedia funcional no reequilíbrio das funções estomatognáticas poderá incorrer em diminuição do tempo de atendimento fonoaudiológico e áreas afins, possibilitando, assim, a intervenção precoce de uma fatia maior da população. Outrossim, trará valioso subsídio para melhor delimitação do âmbito de atuação dos diversos profissionais envolvidos na avaliação e no tratamento da Síndrome da Obstrução Respiratória. 4 2. OBJETIVOS GERAL: Estudar a efetividade do tratamento ortopédico funcional dos maxilares na homeostasia do sistema estomatognático em pacientes portadores de respiração oronasal por hipertrofia de tonsila faringeana, com palato atrésico e máoclusão Classe II divisão 1a de Angle. ESPECÍFICOS: o Mensurar dimensões do espaço nasofaringeano; o Avaliar reequilíbrio oromiofuncional; o Quantificar atividade elétrica de músculos masseter, temporal, orbicular oris e mentual; o Determinar performance mastigatória e força de mordida; o Mensurar crescimento maxilo-mandibular; o Quantificar biofilme bacteriano bucal e sangramento gengival; o Analisar composição de biofilme bacteriano bucal; o Mensurar marcadores inflamatórios em fluidos orais. 3. MATERIAL E MÉTODO Trata-se de um ensaio-clínico randomizado, com coleta de dados prospectiva, sendo compreendido pelas seguintes etapas: 3.1. PROCESSO DE SELEÇÃO DE SUJEITOS: A seleção dos sujeitos para o presente estudo será realizada em um centro de tratamento Ortodôntico/Ortopédico, mediante a autorização do mesmo para o seu desenvolvimento. Então, o projeto será submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos. Inicialmente será realizada análise das documentações dos pacientes que darão início ao tratamento ortopédico, de onde serão selecionados aqueles que apresentarem os seguintes critérios de inclusão: 5 o curva puberal ascendente de crescimento, avaliada pela idade óssea do paciente por meio de radiografia carpal (mão e punho), e analisada conforme descrito por Marinho Filho3 (1985); o atresia maxilar, segundo laudo ortodôntico. o hipertrofia de tonsila faringeana, verificada por meio da mensuração do espaço nasofaringeano nas telerradiografias, pelo método descrito por Marinho (2002). Serão selecionadas radiografias cujo menor espaço entre o contorno da parede posterior da faringe e a parte posterior do palato mole, seja menor ou igual a 10 milímetros. o má-oclusão Classe II divisão 1a de Angle, segundo laudo ortodôntico. Depois dessa etapa de seleção serão realizados contatos via correio com os responsáveis pelos pacientes, por meio dos quais serão esclarecidas as intenções, os objetivos da pesquisa e solicitado o comparecimento no centro de tratamento, com data e horário pré-estipulado. Na data do encontro o responsável será orientado, de forma clara, quanto aos objetivos da pesquisa e da importância de sua participação até o seu termo final. Após o consentimento verbal, será lido, explicado e, ao final, solicitada assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Em seguida far-se-á o preenchimento da ficha de anamnese e ficha clínica com dados de identificação, histórico médico e dentário, dados antropométricos (peso e altura), e de hábitos bucais, conforme protocolo de avaliação miofuncional orofacial preconizado por Marchesan (2003). Serão adotados os seguintes critérios para exclusão dos pacientes da amostra: portadores de má formação congênita, retardo, alteração ou déficit de crescimento; discrepância de idades cronológica e óssea; presença de distúrbio de origem sistêmica, como distúrbios neurológicos, paralisia cerebral entre outros; identificação de hábitos parafuncionais atuais como sucção de mamadeira, chupeta, dedos, onicofagia e bruxismo; e utilização de medicamentos que possam interferir na atividade muscular, direta ou indiretamente, como anti-histamínicos, sedativos, xaropes e outras drogas que deprimem o Sistema Nervoso Central. Nos pacientes selecionados, serão então realizados exames clínicos iniciais fonoaudiológico e ortodôntico. Novos critérios de inclusão serão aplicados nesse momento, conforme segue: 3 MARINHO FILHO, A.V. Descrito em apostilas e preconizado, desde 1985, sendo divulgado em anais de congressos Nacionais e Internacionais, em cursos de graduação (UNESP - SJC), atualização, especialização e mestrado dos centros de estudos de São Paulo (APCD, ABEAC, CRA e ABEPO), Recife, Natal e Campina Grande (CEAO/PE, CEAO/RN e CEAO/PB). 6 o diagnóstico clínico de respiração oronasal para os pacientes de Classe II; o diagnóstico clínico de normalidade oromiofuncional para pacientes com normoclusão; o diagnóstico de normalidade dos tecidos bucais e peribucais, sendo aceito gengivite devido à predisponibilidade em pacientes respiradores oronasais, especialmente na região anterior superior. Todos os pacientes serão submetidos a avaliação fonoaudiológica oromiofuncional, determinação do padrão facial, análise eletromiográfica, prova da performance mastigatória e de força de mordida, bem como à quantificação e composição de biofilme bacteriano bucal e quantificação de nitrito e ânion superóxido de fluidos gengival e salivar, antes durante e no termino do tratamento ortopédico funcional. 3.2. AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA: A avaliação será realizada por um fonoaudiólogo que verificará as funções de motricidade oral e suas alterações ao longo do tratamento. As funções a serem avaliadas serão: respiração, mastigação e deglutição. A avaliação será composta por dados da anamnese já preenchida, análise dos órgãos fonoarticulatórios (aspectos morfológicos e postura, tonicidade e mobilidade) e avaliação das funções reflexo-vegetativas, conforme o Protocolo de Marchesan (2003). As avaliações morfológicas e posturais orais serão feitas pela observação clínica. Na oportunidade, os aspectos de tonicidade serão analisados por meio de palpação dos músculos, os quais serão categorizados em flácido, normal ou rígido. A mobilidade será avaliada solicitando que o paciente realize vibração de lábios e língua, categorizando em presente e ausente. Análise da respiração será iniciada com a verificação do posicionamento dos lábios, classificando-os em entreabertos, abertos e fechados. Em seguida o paciente será orientado a assoar o nariz para eliminar eventual mucosidade. Após a limpeza será colocado o espelho milimetrado de Altmann (1997) abaixo das narinas do paciente com o fim de verificar a aeração nasal, oportunidade em que será marcado o desenho do embaçado do ar expirado em um papel milimetrado, para futura comparação. Será determinada a área média do desenho de cada grupo e avaliada a recuperação da função, que será considerada tanto melhor quanto mais próxima de 1 for a razão entre a média do grupo controle e as médias de cada grupo teste. 7 Para a avaliação da mastigação será oferecido ao paciente um pão de queijo, do tipo coquetel, marca padronizada. Será considerada eficiente quando o paciente apresentar: corte do alimento com os incisivos centrais; presença de selamento labial durante a trituração alimentar, formação de bolo alimentar, ausência de hiperfunção mentoniana; ausência de ruído; mastigação bilateral alternada; predomínio de movimentos mandibulares horizontais; e, para finalizar, far-se-á palpação para constatar a presença de contração e simetria dos músculos masseter e temporal. Com o término da avaliação mastigatória, a deglutição do alimento dará início à avaliação da função deglutitória. Esta será considerada eficiente nos pacientes que apresentarem: pouca ou nenhuma participação da musculatura perioral; ponta da língua em papila incisal ou corpo apoiado no palato duro; ausência de projeção de cabeça; ruído; engasgo e interposição labial. O mesmo processo de avaliação se repetirá com a deglutição de água. Ademais, para obter dados quantitativos da análise morfológica dos órgãos fonoarticulatórios e para posterior comparação com a determinação do padrão facial cefalométrico, serão mensuradas distâncias da união de pontos antropométricos que oferecem dados consistentes à pesquisa, a saber: Sn (subnasal), Gn (gnático), Ch (cheilion) e Ex (canto externo dos olhos) conforme preconizado por Cattoni (2006). Assim, com a utilização do paquímetro digital será mensurada a distância entre dois pontos: distâncias entre Ex – Ch, cheilion e o canto externo do olho, e entre o GnSn, gnático e o subnasal. A primeira determina o tamanho do terço médio facial e será usada como base para analisar a segunda, que revela a medida do terço inferior. Ambas devem ter valores aproximados, porém se a segunda (Gn-Sn) for maior que a primeira (Ex-Ch), evidencia a tendência de crescimento vertical, tipo facial dólico. Por outro lado, se for menor que a primeira demonstra crescimento braquifacial. Ao final da avaliação fonoaudiológica será elaborado relatório sobre as funções avaliadas evidenciando como se encontra o equilíbrio oromiofuncional. Esse relatório será armazenado na ficha do paciente para posterior comparação com outros dados e com os relatórios subsequentes. 3.3. DETERMINAÇÃO DO PADRÃO FACIAL: O padrão facial de cada paciente será determinado de acordo com o índice de Siriwat e Jarabak (1985): Facial Height Ratio - FHR. Este índice é definido como a proporção entre a altura facial posterior [do ponto cefalométrico sela (S) ao ponto cefalométrico gônio (Go)] e 8 a altura facial anterior [do ponto cefalométrico Násio (N) ao ponto cefalométrico mentoniano (Me)] x 100, sendo menor que 59% para indivíduos dolicocefálicos, entre 59% e 63% mesocefálicos e maior que 64% braquicefálicos. 3.4. ANÁLISE DA FUNÇÃO MASTIGATÓRIA: FORÇA DE MORDIDA: para a realização desse exame, o voluntário receberá instruções para, durante a coleta, ficar sentado com a cabeça em posição relaxada, com o plano de Frankfurt paralelo ao solo. Dois transdutores de força, com capacidade de até 200 Kg e dimensões de 20 mm de diâmetro e 15 mm de espessura, serão posicionados bilateralmente entres os primeiros molares permanentes. O paciente será devidamente treinado, antes da coleta efetiva, para conseguir a correta realização da mordida sobre a célula de carga. Após a verificação do aprendizado, será então solicitado que o voluntário morda, com o máximo de força possível, sem causar desconforto, durante 05 segundos, incentivado por comando verbal do pesquisador. Esse procedimento será repetido 03 vezes, com intervalo de 30 segundos, aproximadamente, entre cada mordida. Para a análise dos dados obtidos, será considerada a média aritmética dos maiores valores obtidos nas três repetições. PERFORMANCE MASTIGATÓRIA: Esta será avaliada pela determinação da capacidade individual de fragmentação do alimento teste artificial denominado Optocal - silicona Optosil Bayer modificada – Optocal4. As amostras serão preparadas em moldes de placa de alumínio com perfurações arredondadas de 10 mm de diâmetro e 5 mm de altura. O Optocal será pressionado nas perfurações, por meio de pressão hidráulica padronizada. Depois de preparados, os tabletes serão colocados em um forno elétrico a 65ºC, por 16 horas, para garantir a polimerização. Cada voluntário receberá um tablete para realizar a mastigação, que será colocado na cavidade bucal e então solicitado que inicie a mastigação enquanto o investigador controlará visualmente o número de ciclos mastigatórios, solicitando que pare ao término de 12 ciclos (número suficiente para o paciente fragmentar o Optocal satisfatoriamente sem demonstrar vontade de deglutir ou cansaço). Em seguida será solicitada a devolução das partículas mastigadas em peneira de plástico coberta com um filtro de papel. O procedimento completo será repetido três vezes. 4 OPTOCAL - Silicona OPTOSIL 57%; Dentifrício 27%; Vaselina gel 3%; Gesso em pó 9%; Alginato em pó 4%; pasta catalisadora 18% (SLAGTER et al ., 1993) 9 A seguir, as partículas serão lavadas com água e detergente e, depois de secas, colocadas em uma série de 06 peneiras com aberturas de 4 mm diminuindo até 0,425 mm. Este conjunto de peneiras será levado a um vibrador por 20 minutos. As partículas retidas em cada peneira serão pesadas em uma balança analítica de alta precisão. Para a análise dos dados obtidos será considerada a porção mastigada que apresentar menor perda percentual entre os pesos inicial e final. O valor da performance mastigatória de cada paciente será calculado para a porção teste de acordo com o método descrito por Edlund e Lamm (1980). A fórmula utilizada será: R = 100 [1-(X+Y)/2T-X)], onde: X = média dos pesos obtidos nas três primeiras peneiras; Y = média dos pesos obtidos nas três últimas peneiras; T = peso total em gramas do material teste após a mastigação; R = porcentagem (variando de 0 a 100) da performance mastigatória, sendo tanto maior quanto melhor for a eficiência. ELETROMIOGRAFIA: será estudado o potencial elétrico da porção anterior do músculo temporal, da parte superficial do masseter, do feixe superior do orbicular oris e do músculo mentual, localizados por palpação. O exame será realizado no laboratório de Fisiologia da Universidade Federal de Sergipe, especificamente equipado para a coleta de dados eletromiográficos. Os pacientes serão posicionados sentados em cadeira com encosto vertical e sem apoio de cabeça, com membros superiores relaxados e os pés sobre um tapete de borracha, necessário segundo Rahal e Pierotti (2004). No intuito de garantir boa fixação dos eletrodos e evitar interferências, a pele do local de fixação será previamente limpa com álcool de cereais, após o que, os mesmos serão colocados com gel condutor e fita adesiva. O sinal eletromiográfico será captado nas seguintes situações: em repouso muscular durante 5 segundos; em contração voluntária máxima (concomitante à coleta de dados do exame de Força de Mordida); em mastigação habitual do material teste optocal (utilizado posteriormente para o exame de Performance Mastigatória); em mastigação habitual e deglutição de pão de queijo e em sucção com canudo e deglutição de água. Cada coleta será repetida três vezes. Para a realização da eletromiografia será utilizado eletromiógrafo Miotool de superfície, com 8 canais analógicos de entrada. Os eletrodos utilizados serão de captação de superfície modelo Double, descartáveis, com adesivo medicinal hipoalérgico, gel sólido aderente e contato bipolar de Ag/AgCl (prata/cloreto de prata). O software para coleta de dados fornece no domínio da amplitude, gráficos e 10 tabelas das médias móveis do traçado eletromiográfico bruto e do envoltório linear. Os dados de RMS (Root Mean Square), representada pela raiz quadrada da média dos quadrados da voltagem ao longo do ciclo serão utilizados normalizados pelo pico ou pela média do sinal coletado, considerando a normalização que apresentar menor coeficiente de variabilidade. O valor médio, das três repetições, de RMS (microvolts - V) encontrado será encaminhado para análise estatística. 3.5. ANÁLISE DE INDICADORES BUCAIS: A determinação dos índices de doenças bucais será realizada sob a supervisão de um cirurgião-dentista e os dentes-índices foram eleitos devido ao comprometimento dos mesmos em respiradores oronasais: face vestibular dos incisivos centrais e laterais superiores. Assim, serão pesquisados, nesses dentes: DETERMINAÇÃO FLUIDOS SALIVAR DA PRODUÇÃO DE E GENGIVAL: A ÂNION SUPERÓXIDO NOS produção de O2 por células polimorfonucleares (PMN) será estimada de acordo com McCord e Fridovich (1988). Anteriormente à coleta, o sujeito de pesquisa será orientado para que seja feito jejum de 12 horas, permanecendo neste período sem realizar higiene bucal, mecânica ou química. Para a coleta do fluido salivar, o paciente mastigará Parafilm a fim de estimular a produção de saliva que será coletada em um tubo estéril. Para proceder a coleta do fluido do sulco gengival, serão mergulhadas tiras pré-cortadas e padronizadas de papel-filtro quantitativo (Gramnex 389 faixa azul) no mesmo durante 60 segundos, com o menor traumatismo, desprezando as amostras com sangue, se houver. Posteriormente essas tiras serão imersas em tubos contendo água destilada autoclavada, agitadas em Vortex e armazenadas em freezer (-80ºC) para posterior análise. Alíquotas dessa solução e do fluido salivar serão incubadas com ferricitocromo c (80 M) durante 60 min a 37C, na presença e ausência de superóxido dismutase (SOD, 120 U/ml). A reação será interrompida após colocar as amostras em banho de água gelada e adicionando SOD (120 U/ml) às amostras que não continham. As absorbâncias serão lidas a 550 nm. A produção de O 2 (expresso como pmol/min) será calculada considerando um coeficiente de extinção de 29500 M-1cm-1 para o ferricitocromo c reduzido a 550 nm. QUANTIFICAÇÃO DE SANGRAMENTO GENGIVAL: determinado utilizando sonda periodontal, preconizada pela OMS, com a qual será realizada a sondagem 11 dos sulcos gengivais. Será verificada a porcentagem das faces que sangraram em relação ao quantitativo total sondado; 3.6. ÍNDICE DE CRESCIMENTO MAXILO-MANDIBULAR: Para mensurar o efetivo índice de crescimento maxilo-mandibular, inclinação e protrusão dos incisivos será utilizado o traçado cefalométrico pelo padrão USP (INTERLANDI, 1968), comparando os valores das grandezas antes e depois do tratamento ortopédico funcional. Portanto, serão estudados os ângulos SNA, SNB, ANB, 1.NA e ANL, e as grandezas cefalométricas Go-Gn, Go-Cd, Co-Gn e 1-NA. O ângulo SNB indica a posição da mandíbula em relação à base crânio; o SNA determina o posicionamento ântero-posterior da maxila em relação à base do crânio; o ANB indica o relacionamento entre a maxila e a mandíbula e, o ANL (nasolabial), indica proeminência nasal, auxiliando na avaliação da estética facial. Já o ângulo 1.NA e a distância 1-NA mostram, respectivamente, a inclinação e a protrusão dos incisivos superiores. As linhas Go-Gn, Go-Cd e Co-Gn revelam, respectivamente, o comprimento do corpo, ramo e comprimento efetivo da mandíbula; 3.7. PRÉ-TESTE: Dois pacientes, diferentes dos que irão participar da pesquisa, serão selecionados para realizar o estudo piloto com o propósito de verificar a adequação dos procedimentos e as possíveis dificuldades que possam vir a aparecer no decorrer da coleta dos dados. A reprodutibilidade das medidas será avaliada pela repetição dos procedimentos, nesses 2 pacientes 7 dias após o experimento inicial e o erro de Dahlberg será calculado entre as duas repetições. 3.8. TRATAMENTO ORTOPÉDICO FUNCIONAL: Realizadas as etapas anteriormente descritas, os pacientes com má-oclusão serão submetidos à expansão rápida da maxila, conforme preconizado por HASS (1970), para corrigir atresia maxilar, imprescindível ao reequilíbrio oromiofuncional. Após a instalação do aparelho, os pacientes serão supervisionados semanalmente, durante um mês, para ativação do mesmo, obtendo, assim, ganho crescente de dimensões transversais, a ser mensurado com paquímetro digital pelas distâncias inter-caninas (ponta de cúspide) e inter-molares (pontas de cúspides mésio-vestibulares dos primeiros molares), conforme preconizado por Bishara et al (1997). Ao se conseguir a 12 sobrecorreção, será então respeitado o tempo mínimo de contensão (média de 3 meses) para então iniciar-se o tratamento das alterações ântero-posteriores maxilomandibulares. A partir de então, esses pacientes serão divididos randomicamente em 2 grupos, (n=15) de acordo com o tratamento preconizado, quais sejam, tratamento com aparelho Planas (SIMÕES, 2003) para um grupo e Guia Póstero Anterior Marinho's II - Guia-PAM II (MARINHO, Rodolfo, 1998) para o outro, selecionados por promoverem avanço mandibular. Acontecerão encontros mensais a fim de acompanhar o efetivo uso dos mesmos e as possíveis intercorrências. O paciente que relatar o desuso estará imediatamente excluído da pesquisa. O tratamento dos grupos GP e GPL e as análises da documentação ortodôntica serão realizadas no já citado centro de tratamento ortodôntico/ortopédico, sob responsabilidade de um único especialista com domínio nas técnicas propostas no projeto. Será estabelecido um terceiro grupo composto pelos 15 sujeitos com diagnóstico de normoclusão que serão submetidos às mesmas análises a fim de minimizar o viés da influência do crescimento crânio-facial e desenvolvimento oromiofuncional nas variáveis estudadas. Destarte, ficarão estabelecidos 2 grupos experimentais e 1 controle conforme sumarizado no quadro 01. Quadro 01: distribuição dos sujeitos nos grupos de pesquisa de acordo com o tratamento a ser ou não instituído (n=45) GRUPO PLANAS (GPL) GRUPO PAM II (GP) GRUPO CONTROLE NÚMERO DE SUJEITOS (n) 15 15 15 TIPO DE TRATAMENTO PLANAS GUIA PAM II Sem tratamento Seis e doze meses após o término do tratamento os sujeitos da pesquisa serão novamente avaliados de acordo com a metodologia prevista nos itens 4.2 a 4.6 e na mensuração do espaço nasofaringeano, com intuito de realizar proservação a fim de obter diagnóstico precoce de recidivas, caso haja. 4. ANÁLISE CÁLCULO DAS DIFERENÇAS PERCENTUAIS DAS VARIÁVEIS NAS DIFERENTES FASES DA PESQUISA: Valores obtidos nas análises descritas nos itens 4.2 a 4.6 e na mensuração do espaço nasofaringeano entre as fases da pesquisa, quais sejam, antes (t0), 4 (t1) e 10 (t2) meses após o início de tratamento, seguindo o exemplo da fórmula: % = (t1 – t0) x 100/ t0 13 ANÁLISE DE DADOS: As variáveis dispostas nos itens 4.1 a 4.6, 4.8 e na mensuração do espaço nasofaringeano serão comparadas dentro de cada grupo nos diferentes tempos de estudo, e entre os diferentes grupos por meio do teste ANOVA (com extensão Tukey) ou Wilcoxson (com extensão Dunn) conforme distribuição da normalidade dos dados, paramétrico ou não paramétrico, respectivamente. O grau de correlação entre as diversas variáveis será determinado pelo teste de Correlação de Pearson. As diferenças nas variáveis propostas entre gêneros masculino e feminino serão analisadas por meio do teste t de Student ou U de Mann-Whitney, conforme distribuição da normalidade dos dados, paramétrico ou não paramétrico, respectivamente. Para os testes de comparação de médias serão considerados significativos valores de p<0,05. Para o teste de correlação de Pearson será considerado tanto mais forte a correlação quanto mais próximo de 1 for o valor de r.