ETIOPATOGÊNESE GERAL DAS LESÕES Profa. Andréa Souza Agentes agressivos ou etiológicos: Qualquer agente que determine reações anormais na célula, podendo levar à perda da capacidade de compensação e gerar alterações bioquímicas, fisiológicas e morfológicas. A lesão bioquímica precede a lesão morfológica e fisiológica Classificação dos agentes agressivos: Endógenos ou intrínsecos Internos – próprio organismo Exógenos ou extrínsecos Externos – meio ambiente Causas endógenas ou intrísecas: Modificações no genoma, na hereditariedade e na embriogênese Erros metabólicos inatos Disfunções imunológicas (autoimunidade; hipersensibilidades; imunossupressão) Distúrbios circulatórios Disendocrinias Distúrbios nervosos e psíquicos Envelhecimento Causas exógenas ou extrínsecas: Agentes físicos Agentes biológicos ou infeccionsos Agentes acelulares: Prions (<5 nm); viroides (<5 nm); virus (20-200 nm) Procariotos: clamídias, micoplasmas, rickettsias, bactérias Eucariotos: fungos, protozoários, helmintos, artrópodes Agentes químicos Temperatura; eletricidade; radiações; sons e ultrasons; magnetismo, gravidade e pressão Inorgânicos: Ácidos, bases, metais pesados Orgânicos: Toxinas, venenos, organo-sintéticos Desvios nutricionais Os ambientes (físico, psíquico e social) em que o indivíduo se insere são muito importantes para o estabelecimento da doença: Pobreza – desnutrição Desemprego – distúrbios emocionais Saneamento básico – distúrbios gastrointestinais (cólera) Meio ambiente - dengue Modo de ação dos agentes agressivos: Direta Sobre alvos do organismo: vias metábólicas, enzimas, proteínas, componentes celulares Indireta Fornecimento de oxigênio Mecanismos de produção e inativação de radicais livres Respostas adaptativas locais ou sistêmicas Causas gerais das lesões: Hipóxia e anóxia Radicais livres Resposta imune Resposta localizada: reação inflamatória Resposta sistêmica: reação de fase aguda 1. Hipóxia e anóxia: HIPÓXIA: Redução do fornecimento de oxigênio às células ANÓXIA: Interrupção do fornecimento de oxigênio às células Redução do fluxo sangüíneo Parada do fluxo sangüíneo OLIGOEMIA DEGENERAÇÃO OU MORTEISQUEMIA CELULAR HIPÓXIA ANÓXIA INTENSIDADE – DURAÇÃO - SUSCEPTIBILIDADE Hipóxia – causa modificações metabólicas progressivas Diminui a síntese de ATP Aumenta ADP e AMP Estimula a respiração anaeróbica Altera a permeabilidade da MP aumento de ácido lático – diminuição de pH intracelular Aumenta a concentração de água e Na+ Diminuição da síntese celular Condensação da cromatina e diminuição da transcrição Cessada a hipóxia Lesão REVERSÍVEL Persiste a hipóxia Lesão IRREVERSÍVEL MORTE CELULAR Lesão induzida por reperfusão após uma isquemia: Formação de radicais livres de oxigênio com a participação de xantina oxidase e/ou por leucócitos na parede dos vasos Maior captação de cálcio pelas células anóxias Choque osmótico – tumefação súbita da célula e ruptura da membrana 2. Radicais livres: Moléculas muito reativas Apresentam um elétron desemparelhado no orbital externo Podem iniciar reações em cadeia que levam à formação de novos radicais amplifica a capacidade de produzir lesões Podem atuar como reguladores de atividades celulares ativação de enzimas, fatores de transcrição, controle de receptores celulares Sistemas anti-oxidantes A SUPERÓXIDO DISMUTASE elimina os radicais superóxido convertendo-os em peróxido de hidrogênio. O peróxido de hidrogênio produzido por esta reação pode ser metabolizado por duas outras enzimas: CATALASE: converte peróxido de hidrogênio em oxigênio molecular e água. PEROXIDASE: converte peróxido de hidrogênio em água. A enzima SUPERÓXIDO DISMUTASE está presente em todos os aeróbios e ausente nos anaeróbios Consiste na explicação para a intolerância dos anaeróbios ao oxigênio Causas gerais das lesões 4. SISTEMA IMUNOLÓGICO Resposta imunológica pode defender o organismo e, ao mesmo tempo, causar lesões RESPOSTA HUMORAL RESPOSTA CELULAR 4.1.Resposta humoral Bloqueio ou estimulação de uma função celular Formação de complexos Ag-Ac e fixação de complemento, estimulando a liberação de citocinas (inflamação) Citotoxidade celular dependente de anticorpos linfócitos, macrófagos, neutrófilos reconhecem a porção Fc de Ac e lesam a célula – doenças virais 4.2.Resposta celular Células citotóxicas reconhecem Ag, no contexto de MHC-I e destroem as células Induzir a apoptose Ativação de fagócitos que liberam enzimas, radicais livres e outras substâncias capazes de lesar células ou componentes do interstício Causas gerais das lesões 5. RESPOSTAS LOCALIZADAS: Objetivo: tentar conter ou eliminar o agressor, ou ainda, a ele se adaptar Resposta inespecífica (independe do agente agressor REAÇÃO INFLAMATÓRIA Causas gerais das lesões 6. RESPOSTAS SISTÊMICAS Consiste em um conjunto de respostas caracterizado por mudança no padrão de síntese de proteínas do fígado efeito metabólico decorrente da liberação de hormônios da supra-renal e da hipófise Alterações no centro termorregulador (febre) e centro do apetite Modulação da sensação dolorosa Modificações na resposta imune REAÇÃO DE FASE AGUDA Modificações na síntese proteíca: Proteínas reacionais de fase aguda: São secretadas no sangue em quantidade aumentada ou diminuída pelos hepatócitos em reposta a um trauma, inflamação ou doença. Podem servir como inibidores ou mediadores nos processos inflamatórios Algumas têm sido utilizadas para diagnosticar e acompanhar o curso de doenças ou como marcadores tumorais (Ex: Proteína C Reativa) Proteína C reativa 1930 (Tillet e Francis): precipita o polissacarídio C de Pneumococcus Não é anticorpo, mas, quando complexada a patógenos, fixa complemento, opsonina para macrófagos, liga-se NK Valores normais: 0,5-0,9 mg/dL Proteína C reativa – aumento: Às vezes precede sintomas e febre Elevação em 6-8 h pós-estímulo: pico entre 24-72 horas Aumento exgerado (1000X) depende da intensidade do estímulo: infarto do miocárdio ou grandes traumas Valores elevados persistentes: mau prognóstico Retorna ao normal: espontaneamente após a fase aguda, devido ao uso de corticóide e anti-inflamatórios Outras proteínas de fase aguda: α-1-antitripsina (inibidor de proteases) Cerulosplasmina (remoção de radicais livres) Ferritina (reduz o ferro sérico – ação antimicrobiana) Haptoglobina (opsonizante – remoção de restos celulares) Alterações metabólicas: Adrenalina liberada após agressões: estimula a glicogenólise (aumento da glicemia) inibe a liberação de insulina e aumenta a liberação de glucagon (ilhotas de Langerhans) Favorece a lipólise (liberação de ácidos graxos) incrementa o trabalho cardíaco e produz vaso-dilatação periférica Alterações metabólicas: Glicocorticóides (hormônios esteróides): favorece o aumento da glicemia: Ativação do catabolismo protéico (aumenta o N urinário) – intenso no tecido muscular Aumenta a gliconeogênese (a partir de aa) Alterações no centro termorregulador: Provocadas pela ação de pirógenos (endógenos ou exógenos) Febre: síndrome clínica caracterizada por sensação de frio, tremores, hipertermia, taquicardia, seguidos de sudorese e diurese no período de resolução Febre: SERVE DE AVISO PAPEL ANTI-INFECCIOSO impede crescimento / inativa bactérias, vírus e fungos diminui produção de fatores virulentos aumenta a produção de fatores de defesa potência o efeito dos antibióticos Alterações do apetite e sono Provocadas por ação de citocinas sobre o SNC: Inibição do apetite – perda de peso Insônia e irritabilidade Sinais inespecíficos de doenças inflamatórias e infecciosas: Provocadas por ação de citocinas (IL-1, IL-6, TNFα) sobre o SNC: FRAQUEZA MAL-ESTAR CANSAÇO LETARGIA DORES MUSCULARES E ARTICULARES ESTADO DE CHOQUE Modulação da sensação dolorosa: Provocada pela ação de endorfinas Aumenta o limiar de dor É evidente nos estados de agressão grave Queimaduras Traumas múltiplos Modulação da resposta imune: Se deve à ação de: Corticóides (reduz a atividade de linfócitos T) Adrenalina (diminui a proliferação de linfócitos) Substâncias imunossupressoras liberadas após agressões (prostaglandinas e citocinas) Citocinas que estimulam as atividades imunes (IL-1, IL-6, TNFσ Causas gerais das lesões 7. AGENTES FÍSICOS Força mecânica (lesões traumáticas) Abrasão (arrancamento de células da epiderme) Laceração (rasgo de tecidos) Contusão (impacto transmitido através da pele aos órgãos adjacentes) Incisão (corte – são mais extensos que profundos) Perfuração (são mais profundas que extensas) Fraturas (ruptura ou solução de continuidade de tecidos duros – ósseos ou cartilaginosos) Causas gerais das lesões Variações da pressão atmosférica Em condições hiperbáricas (Síndrome da descompressão) Os gases dissolvidos formam bolhas no sangue (êmbolos gasosos), tecidos (enfisema intersticial) e células Em condições hipobáricas (altitudes elevadas) Tensão de O2 baixa provoca hipóxia Vasoconstrição periférica Lesão endotelial – provocando edema (membros, face, pulmões e encéfalo) Taquipnéia Desidratação (baixa umidade do ar) Causas gerais das lesões Variações de temperatura Baixas temperaturas Vasoconstrição, oligoemia, hipóxia e lesões degenerativas Lesão endotelial (hipóxia) >> edema (aumento da permeabilidade vascular) Aumento da vasoconstrição, anóxia e necrose Desaparece o controle nervoso da vasomotricidade >> vasodilatação arteriolar e venular Congelamento de água no interior da célula >> desiquilíbrio eletrolítico >> altera funções vitais (respiração) e inativa macromoléculas Morte celular Hipotermia (< 35°C) – morte por falência cardio-respiratória Causas gerais das lesões Variações de temperatura Altas temperaturas (queimaduras) Edema (aumento da permeabilidade vascular) Vasodilatação Lesão direta da parede vascular >> hemorragia, trombose, isquemia e necrose Lesão direta da célula >> degeneração hidrópica (> 52°C) Morte celular – desnaturação protéica (> 55°C) Processos de cicatrização Hipertermia (> 40°C) Causas gerais das lesões Eletricidade Disfunção elétrica dos tecidos (miocárdio, mm. esqueléticos e tecido nervoso) Produção de calor Tipo de corrente (alternada é mais lesiva) Quantidade de corrente Trajeto da corrente Duração da agressão Superfície de contato (pequena = queimadura profunda; grande = não lesa a pele; morte por parada cardiorespiratória) Causas gerais das lesões Radiações Inalação ou ingestão Exposição com fins terapêuticos ou diagnósticos Contato acidental Bombas nucleares Mecanismos de lesão: Ação direta sobre macromoléculas Ação indireta – produção de radicais livres Tipos de lesão Agudas (degenerações até necrose), crônicas e tardias Alterações vasculares (edema, hemorragias e trombos) Causas gerais das lesões Ruídos (som) Distúbios de audição caracterizados por perda progressiva da capacidade de distinguir sons de frequência mais alta Causas gerais das lesões 8. AGENTES BIOLÓGICOS Microrganismos (vírus, bactérias e fungos) Parasitas (ectoparasitas, endoparasitas) Lesões celulares induzidas por vírus Lesões celulares induzidas por bactérias Causas gerais das lesões 9. AGENTES QUÍMICOS Substâncias tóxicas ou medicamentos Mecanismos: Ação direta sobre células ou interstício Transformações moleculares (degeneração ou morte celular) Modificações no genoma (efeito carcinogênico) Vida intra-uterina (efeito teratogênico) Ação indireta Indução de resposta imune humoral ou celular