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TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO
Teoria dos Pólos de Crescimento - PERROUX, F. A .
Teorias da Base de Exportação - NORTH, D.C.
Teoria do Desenvolvimento Desigual - MYRDAL, G.
Teoria das Etapas do Desenvolvimento - Rostow.
O Modelo de Desenvolvimento Econômico com oferta
ilimitada de mão de obra – Lewis, A.
A Teoria do Grande Impulso (Big Push) – Rosenstein –
Rodan;
O Círculo Vicioso da Pobreza - Nurkse, R.;
Os efeitos de encadeamento e o caráter desequlibrado
do processo de desenvolvimento (desigual) –
Hirschman, A.;
Teoria do Desenvolvimento – Schumpeter, A.
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
No período pós-II Guerra, a problemática regional discutida por
diversos teóricos influenciou fortemente o planejamento
econômico regional nos países periféricos, especialmente na
América Latina.
O processo de desenvolvimento econômico não ocorre de
maneira igual e simultânea em toda a parte. É um processo
bastante irregular e desigual no espaço , fortalecendo
áreas/regiões mais dinâmicas e que apresentam maior
potencial decrescimento.
Desenvolvimento econômico desiquilibrado – atuação do Estado
no processo de desenvolvimento ( políticas de
desenvolvimento regional) O processo de determinação da
renda urbana (desenvolvimento econômico desigual) é a
expressão e a causa do movimento do capital no espaço
(concentração do capital na economia capitalista). O processo
de crescimento se manifesta em pontos ou pólos com
intensidades diferentes.
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
• Teoria dos Pólos de Crescimento
François Perroux (19 de dezembro de 1903 a 2 de
junho de 1987) foi um economista francês. Foi
Professor do Collège de France, depois de ensinar
na Universidade de Lyon e na Universidade de
Paris. Ele elaborou sua teoria dos pólos de
crescimento em 1955, quando estudou a
concentração industrial na França, em torno de
Paris, e na Alemanha, ao longo do Vale do Ruhr
(Perroux, 1977).
Jacques Boudeville Raoul, nascido em 1919, é um
economista francês e seguidor de Perroux. Ele se
especializou em economia dos territórios.
Teoria dos Pólos de Crescimento: François
Perroux e Jacques R. Boudeville
A noção de espaço - descarta o conceito de
espaço euclidiano e utiliza o conceito
matemático de espaço abstrato, sendo este
mais adequado para analisar as interrelações
econômicas. Desta forma existiriam tantos
espaços econômicos quantos fossem os
fenômenos econômicos estudados.
Espaço vulgar (ou geonômico) é o local onde
situam os meios materiais e pessoais (local de
funcionamento de uma atividade produtiva)
Teoria dos Pólos de Crescimento: François
Perroux e Jacques R. Boudeville
Três espaços econômicos:
1) Espaço definido como conteúdo de um plano,
sendo este o conjunto das relações estabelecidas
entre a empresa, seus fornecedores de input
(matérias-primas, mão-de-obra, capital) e seus
compradores de output (intermediários e finais).
Este plano é mutável no tempo, independe de seu
espaço vulgar e é instável, o que dificulta sua
representação cartográfica;
Teoria dos Pólos de Crescimento: François
Perroux e Jacques R. Boudeville
Três espaços econômicos:
2) Espaço definido como campo de forças,
constituído por centros (pólos ou sedes) de
emanação de forças centrífugas e recepção de
forças centrípetas.
A empresa atrai ao seu espaço vulgar homens e
coisas (elementos econômicos) ou afasta-os
dele, determinando sua zona de influência
econômica.
Teoria dos Pólos de Crescimento: François
Perroux e Jacques R. Boudeville
Três espaços econômicos:
3) Espaço definido como conjunto homogêneo. As
relações de homogeneidade dizem respeito às
unidades e sua estrutura ou às relações entre estas
unidades. Quaisquer que sejam as coordenadas no
espaço vulgar, as empresas localizam se no mesmo
espaço econômico.
A determinação dos espaços econômicos é bastante
complexa, pois “o espaço da economia nacional não
é o território da nação, mas o domínio abrangido
pelos planos econômicos do governo e dos
indivíduos” (PERROUX, 1967, p.158).
Teoria dos Pólos de Crescimento: François
Perroux e Jacques R. Boudeville
O processo de crescimento irregular: “o crescimento não surge
em toda parte ao mesmo tempo; manifesta-se com
intensidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento;
propaga-se, segundo vias diferentes e com efeitos finais
variáveis, no conjunto da economia” (PERROUX, 1967, p. 164).
• Crescimento desigual consiste no aparecimento e
desaparecimento de indústrias e em taxas de crescimento
diferenciadas para as diversas indústrias no decorrer do
tempo.
• O aparecimento de uma indústria nova (ou grupos de
indústrias) que produz efeitos de propagação na economia
através de preços, fluxos e antecipações desempenha o papel
da indústria motriz no complexo de indústrias e no
crescimento dos pólos de desenvolvimento.’
Indústrias motrizes são aquelas que “mais cedo
do que as outras, desenvolvem-se segundo
formas que são as da grande indústria moderna”
(PERROUX, 1967, p. 166), cujas taxas de
crescimento do seu próprio produto são mais
elevadas do que a taxa média de crescimento do
produto industrial e do produto da economia
nacional durante determinados períodos.
Estas indústrias exercem ações específicas sobre
outras indústrias e sobre a economia como um
todo, pois seu lucro é função não apenas de seu
volume de produção e de compra de serviços,
mas também do volume de produção e compra
de serviços de outras empresas, ou seja, as
firmas estão ligadas pelo preço e pela
tecnologia, o que caracteriza economias
externas e evidencia a importância das
interrelações industriais.
O processo de crescimento econômico
compreende três elementos na sua análise:
1) Indústria-chave. A Indústria, denominada MOTRIZ,
tem a propriedade de, mediante o aumento do seu
volume de produção e de compra de serviços
produtivos, aumentar o volume de produção e
compra de serviços de outra(s) indústria(s) as quais
são chamadas de indústria MOVIDA.
2) Regime não concorrencial. Combinação de forças
oligopolísticas
responsáveis
por
elevar
a
produtividade da indústria implicando acumulação
de capital superior àquela que resultaria de uma
indústria sujeita a um regime maior de concorrência
e por consequencia gerando um crescimento
econômico instável e desequilibrado entre as
regiões.
3) Concentração territorial do complexo (num
pólo industrial complexo geograficamente
concentrado e em crescimento, registram-se
efeitos de intensificação das atividades
econômicas devido à proximidade e a
concentração
urbana:
diversificação
do
consumo, necessidades coletivas de moradia,
transportes e serviços públicos, rendas de
localização, etc., pois o pólo transforma seu meio
geográfico imediato).
O pólo de desenvolvimento é uma unidade
econômica motriz ou um conjunto formado por
várias dessas unidades que exercem efeitos de
expansão, para cima e para baixo, sobre outras
unidades que com ela estão em relação.
Para Perroux a noção de pólo só tem valor a partir do
momento em que se torna instrumento de análise e
meio de ação de política, ou seja, o mesmo só pode
ser entendido como uma visão abstrata de espaço.
A economia nacional apresenta-se como uma
combinação de conjuntos relativamente ativos
(indústrias motrizes, pólos de indústria e de
atividades geograficamente concentradas) e de
conjuntos relativamente passivos (indústrias
movidas, regiões dependentes dos pólos
geograficamente concentrados).
•
Desenvolvimento econômico – Pólos de
desenvolvimento (estratégia fundamental) “A
nação do século XX encontra nos pólos de
desenvolvimento a sua força e o seu meio vital”
(Perroux, 1967, p. 204).
• A produção do pólo é tecnicamente necessária
ao desenvolvimento nacional; do seu
desempenho depende a vida da região, pois
através de seus efeitos de complementaridade e
concentração são estimuladas zonas de
desenvolvimento.
A importância da atuação do Estado no
desenvolvimento de uma região segundo Perroux
(1967, p. 213):
As noções de espaço segundo Boudeville .
O espaço seria uma realidade concreta, ao mesmo
tempo, material e humana (relações existentes
entre dois conjuntos, das atividades econômicas e
dos lugares geográficos).
Este espaço é mutável e distinto:
1) Espaço homogêneo caracteriza-se de acordo com
sua maior ou menor uniformidade (ponto de vista
econômico);
2) Espaço polarizado (interdependências e hierarquias
das aglomerações urbanas);
3) Espaço programa/plano (centro de decisão e do
objetivos da política de desenvolvimento regional).
Crescimento econômico desigual ou irregular:
Boudeville refere-se à necessidade de políticas
econômicas para harmonizar o crescimento,
enquanto Perroux considerava o plano de ação
como sendo de unidades produtoras (a indústria
motriz), apenas referindo-se a possibilidade
dessa unidade ser estatal.
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Teoria da causação circular e cumulativa de Myrdal
Gunnar Myrdal (Gustafs, 6 de Dezembro de 1898 —
Estocolmo, 17 de Maio de 1987) foi um economista
sueco socialista.
Myrdal formou-se em Direito na Universidade de
Estocolmo em 1923 onde se doutorou em
Economia, em 1927. Estudou nos Estados Unidos,
como bolsista da Fundação Rockefeller, em 1929-30,
após o que se tornou professor associado no
Instituto de Estudos Internacionais de Genebra, na
Suíça. Foi professor de Economia Política (1933-50)
e de Economia Internacional (1960-67) na
Universidade de Estocolmo. Tornou-se Professor
Emérito dessa universidade em 1967.
Ganhador do prêmio Nobel de 1974
A teoria da causação cumulativa consiste em 4 teses
que afirmam que o crescimento das economias
regionais tenderiam a divergir ao longo do tempo.
1) A tese básica: conceito de efeitos de polarização ou
regressivos de mudanças adversas “backwash
effects”. Os efeitos de polarização “backwash
effects” aumenta as disparidades regionais, por meio
da migração seletiva dos fluxos de capitais das
regiões periféricas para as regiões centrais;
2) O oposto ou tese excepcional: o conceito de efeitos
propulsores (propagação) “spread effects”;
3) Tese relacionada ao escopo da análise (não somente
fatores econômicos): a ideia da importância de
fatores institucionais ;
4) A tese de implicações políticas.
Os “efeitos de retroação” (backwash effects) são os
resultados perversos que o desenvolvimento de uma
região gera sobre as demais.
Os “efeitos difusão” (spread effects) ou forças centrífugas
levam
ao
transbordamento
do
impulso
de
desenvolvimento para as regiões atrasadas. Essas forças
contrabalançariam, em parte, os efeitos de retroação, mas
não seriam, por si só capazes de garantir um
desenvolvimento regional mais equilibrado. Por isso
Myrdal defende a intervenção pública (governo).
Myrdal destaca a importância de Estados Nacionais
integrados e da sociedade organizada, visto que
intervenções públicas podem contrabalançar/neutralizar a
lei de funcionamento do sistema de causação circular
cumulativa, minimizando as disparidades entre as regiões.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
causação circular e acumulativa: haveria
mecanismos que, uma vez iniciados, seriam
mutuamente reforçados pelas forças de
mercado e conduziriam as regiões por caminhos
divergentes.
Surto de crescimento em uma determinada região
por uma razão fortuita atração de recursos
produtivos (trabalho, capital e espírito
empreendedor) de outras regiões
ampliação
do mercado e novos empreendimentos gerando
mais lucro e mais poupança e, em
consequência, outra rodada de investimentos
O Processo de Causação Circular Cumulativa
Ocorre uma migração seletiva para as regiões mais
ricas podendo reforçar ainda mais essa tendência
de desigualdade.
Os imigrantes são os mais empreendedores e
capazes, ao
passo que as regiões perdedoras tenderiam a reter
os trabalhadores menos produtivos.
Também em relação ao capital, o sistema bancário
o fará fluir das regiões estagnadas para as regiões
dinâmicas, ampliando a desigualdade regional.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
Myrdal Investiga as disparidades econômicas
existentes entre países, classificados em dois
grupos:
1) Os países “desenvolvidos” (altos níveis de renda per
capita, integração nacional e investimento – Europa
Ocidental);
2) Os países “subdesenvolvidos” (níveis de renda per
capita e índices de crescimento baixos - África e a
América Latina).
Há disparidades de crescimento dentro dos próprios
países, nos desenvolvidos existem regiões
estagnadas e nos subdesenvolvidos existem regiões
prósperas.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
Segundo Myrdal, a hipótese do equilíbrio estável da
teoria econômica não é insuficiente para explicar
complexidade do sistema econômico.
A separação entre fatores econômicos e nãoeconômicos limita análise, pois estes últimos podem
ser relevantes para a explicação do processo de
crescimento.
Myrdal usa sua teoria, baseada em um processo de
causação circular cumulativa, para explicar a
dinâmica econômica regional entre e dentro de
países –, a qual afirma que o sistema econômico é
eminentemente instável e desequilibrado.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
O processo cumulativo pode ocorrer nas duas
direções, positiva e negativa, e o mesmo, se não
regulado tende a aumentar as disparidades entre
regiões. Não há uma tendência automática das
forças econômicas em direção a um ponto de
equilíbrio (equilíbrio estável).
O ciclo vicioso explica como um processo se torna
circular e cumulativo, no qual um fator negativo é
ao mesmo tempo causa e efeito de outros fatores
negativos: “O conceito implica, obviamente, uma
constelação circular de forças que tendem a
actuar e reagir uns sobre os outros, de tal
maneira a manter um país pobre num estado de
pobreza” (MYRDAL, 1957, p.11)
O Processo de Causação Circular Cumulativa
A Teoria da Causação Circular Cumulativa analisa as
interrelações causais de um sistema social enquanto
o mesmo se movimenta sobre a influência de
questões exógenas
Esta teoria identifica os fatores que influenciam o
processo de causação circular cumulativa,
quantificando como os mesmos fatores interagem e
influenciam uns aos outros e como são influenciados
por fatores exógenos.
Os
fatores
exógenos
movem
o
sistema
continuadamente, ao mudarem a estrutura das
forças dentro do próprio sistema, justificando assim
a intervenção pública.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
Processo de causação circular explica uma
infinidade de relações sociais - por exemplo - a
perda de uma indústria em determinada região
desemprego e diminuição da renda e da
demanda do setor e das demais atividades da
região (processo de causação circular cumulativa
em um ciclo vicioso )
Se não houver mudanças exógenas nesta
localidade, a mesma se tornará cada vez menos
atrativa, de tal forma que seus fatores de
produção (capital e trabalho) migrarão em busca
de novas oportunidades, provocando uma nova
diminuição da renda e da demanda local.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
Segundo Myrdal se as forças de mercado não
forem
controladas
por
uma
política
intervencionista, a tendência à concentração
espacial das atividades econômicas e culturais
em determinadas localidades deixa o resto do
país relativamente estagnado.
Os efeitos regressivos ou de polarização “backwash
effects” aumentam as disparidades regionais por
meio da migração seletiva dos fluxos de capitais
(vazamento de poupança das regiões periféricas)
para as regiões ricas e avançadas.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
.O processo de causação circular pode ser
desencadeado por vários fatores que não são
considerados na análise das forças de mercado
(sistema de transportes, a qualidade do ensino e da
saúde pública, etc). Mudanças adversas nestes
fatores, originadas fora da região, são consideradas
“backwash effects”.
Os efeitos propulsores “spread effects” agem em
direção contrária aos “backwash effects”.
Representam ganhos obtidos pelas regiões
estagnadas por meio do fornecimento de bens de
consumo e/ou matérias-primas para a região em
expansão, bem como os transbordamentos de
novas tecnologias.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
O processo cumulativo explica a causa da diminuição
das disparidades regionais nos países desenvolvidos
e o aumento da mesma nos países
subdesenvolvidos: Quanto maior o nível de
desenvolvimento econômico de um país, maiores os
“spread effects” e mais facilmente os “backwash
effects” são neutralizados. Nas regiões pobres ocorre
o contrário, o baixo nível de desenvolvimento
minimiza os “spread effects” justamente pela
existência de grandes disparidades, ou seja, estas
representam um dos maiores impedimentos para o
progresso. Os “spread effects” são função do próprio
nível de desenvolvimento e, portanto, são mais
elevados nos países ricos.
O Processo de Causação Circular Cumulativa
O Estado deve agir, por meio de políticas públicas
de forma mais ativa, para inibir a tendência
concentradora do processo cumulativo.
O propósito principal da política governamental
deve ser estimular os “spread effects” entre
regiões e ocupações. Mas esta intervenção não
deve considerar apenas questões econômicas
(mercado), mas também sociais de tal forma a
garantir o desenvolvimento nacional.
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
Os efeitos de encadeamentos de Hirschman
Albert Otto Hirschman (nasceu em 7 de Abril de
1915) é um influente economista que escreveu
vários livros sobre economia política. Sua maior
contribuição foi na área de desenvolvimento
econômico,
enfatizando
o
crescimento
desequilibrado entre os países.
O seu livro A estratégia do desenvolvimento
econômico deu grandes contribuições ao
desenvolvimento regional.
Desenvolvimento
Desigual
e
Transmissão
Interregional do Crescimento
Segundo Hirschman, o crescimento econômico seria
alcançado por meio de uma sequência de
desajustes. Os desequilíbrios seriam a forma de as
economias (ou regiões) periféricas potencializem
seus recursos escassos.
Nos termos do próprio Hirschman (1958, p. 36), “... As
desigualdades internacionais e interregionais de
crescimento são condição inevitável e concomitante
do próprio processo de crescimento”.
Hirschman discute a questão regional usando os
conceitos de efeitos para frente (forward linkages) e
para trás (backward linkages).
Desenvolvimento
Desigual
e
Transmissão
Interregional do Crescimento
Os efeitos para trás são a forma encontrada por
Hirschman
(1958)
para
expressar
as
externalidades decorrentes da implantação de
indústrias, que, ao aumentarem a demanda de
insumos no setor a montante (para trás ou para
nascente) , viabilizariam suas escalas mínimas de
produção na região determinada.
Os efeitos para frente, por sua vez, resultariam da
oferta de insumos, que tornaria viáveis os setores
que se posicionassem a jusante (para a frente ou
para poente).
Desenvolvimento
Desigual
e
Transmissão
Interregional do Crescimento sob a ótica de Albert
O. Hirschman
O objetivo do estudo elaborado por Hirschman (1958)
é analisar o processo de desenvolvimento
econômico e como o mesmo pode ser transmitido
de uma região (ou país) para outra.
A teoria focada na dinâmica essencial do progresso de
desenvolvimento econômico, considerando que este
não ocorre simultaneamente em toda parte e que
tende a se concentrar espacialmente em torno do
ponto onde se inicia, o que é fundamental para uma
análise estratégica do mesmo (estratégia do
desenvolvimento econômico).
Desenvolvimento Desigual e Transmissão Interregional do Crescimento sob a ótica de Albert
O. Hirschman
O planejamento do desenvolvimento deve
consistir no estabelecimento de estratégias
sequenciais, considerando que a utilização dos
recursos tem impactos diferenciados sobre os
estoques disponíveis, conduzindo a formação de
capital complementar em outras atividades de
acordo com a capacidade de aprendizado local.
O problema do crescimento econômico não é a
escassez de recursos mas a incapacidade de
dinamizá-los.
O diagnóstico do crescimento econômico tem uma
característica especial: ele não está preocupado com
a falta de um ou mesmo de vários fatores ou
elementos (capital, educação etc) que devem ser
combinados com outros elementos para produzir o
desenvolvimento econômico, mas com a eficiência
em combiná-los no processo produtivo.
Nosso diagnóstico: os países falham em tirar vantagens
do seu desenvolvimento potencial por razões
extremamente relacionadas às mudanças ( image of
change), acham dificil tomar decisões necessárias
para o desenvolvimento em números e velocidades
requeridos (corretos) [Hirschiman, 1958].
A escassez de determinados fatores ou prérequisitos da produção deve ser interpretada
como uma manifestação da deficiência na
organização do país. Assim, Hirschman defende
mecanismos de intervenção para efetivar as
oportunidades de investimento locais.
Para ele, o desenvolvimento é resultado da
capacidade de investir, que depende dos setores
mais modernos da economia e do
empreendedorismo local.
Hirschman discorda que o desenvolvimento ocorre
simultaneamente em muitas atividades. Na realidade, o
desenvolvimento ocorre como uma cadeia de
desequilíbrios durante longo período de tempo, cuja
simultaneidade é apenas parcial. O crescimento inicia-se
nos setores líderes e transfere-se para os seguintes
(satélites) de forma irregular/desequilibrada (conceito de
investimento induzido).
As decisões de investimento (ranking de preferências de
projetos de acordo com o retorno social dos mesmos)
tornam-se a principal questão da teoria sobre o
desenvolvimento elaborada por Hirschman e principal
objeto de política econômica. A seqüência de escolha de
projetos é um importante aspecto do processo de
desenvolvimento e evidencia que investimentos isolados
obtêm sucesso apenas durante determinado período.
A determinação da sequência ótima dos projetos
de investimentos requerer a diferenciação de
projetos baseados em atividades básicas
(infraestrutura, educação etc) e a atividades
produtivas (primária, secundária e terciária).
A sequência ideal entre projetos de investimento
deve obter uma combinação entre estes tipos de
investimento que maximize o retorno das
atividades produtivas e minimize os custos
envolvidos, já que os recursos são escassos.
O investimento deve priorizar o setor chave da
economia, o qual tem efeitos de encadeamentos
(ligação) para trás e para frente no processo
produtiva
acima
da
média
(grau
de
interdependência entre setores).
Os efeitos de encadeamento para trás “backward
linkage effects” são os relacionados à compra de
insumo (inputs) de outras atividades, e os efeito de
encadeamento para frente “forward linkage effects”
são aqueles relacionados ao fornecimento de inputs
para outras atividades.
A indústria chave (mestre) pode induzir o surgimento
de várias outras, chamadas indústrias satélites.
A
falta de interdependência setorial e,
consequentemente, os baixos linkage effects,
constituem uma das principais características das
economias subdesenvolvidas e dominadas por
atividades tradicionais (têxtil, alimentos, calçados
etc).
A adoção de políticas intervencionistas (tarifas,
subsídios, etc.) de estímulos ao desenvolvimento
de
indústrias
mestres
nos
países
subdesenvolvidos é necessária para que estes
setores chave maximizem os linkage effects.
Para completar sua análise, Hirschman discute como o
crescimento é transmitido de uma região (ou país) para
outra (o processo de desenvolvimento implica
inevitavelmente em diferenças nos níveis de crescimento
regionais e internacionais).
Os investimentos devem ser concentrados no ponto de
crescimento inicial durante determinado período, o que
auxilia a consolidação do crescimento econômico. Duas
regiões: Norte, desenvolvida, e Sul, subdesenvolvida.
O crescimento do Norte tem uma série de implicações sobre
o Sul, algumas favoráveis (efeitos de encadeamentos compras do Sul - economias são complementares) outras
desfavoráveis(aumento da competitividade e do poder de
barganha do Norte, além da migração seletiva). Mas
mesmo com os efeitos desfavoráveis, o Sul pode crescer a
partir da expansão do Norte.
Comparando a transmissão do crescimento entre
países e entre regiões, Hirschman destaca que
no âmbito internacional a transmissão é muito
mais suave devido aos próprios obstáculos
existentes entre Estados Nacionais (legislação,
cultura, língua, religião, etc.).
TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL
A Teoria da Base de Exportação Douglass C. North
Douglass Cecil North (Cambridge, 5 de Novembro
de 1920) é um economista estadunidense.
Historiador econômico e ganhador do prêmio
Nobel Douglass North (1955).
A Teoria da Base de Exportação
A Teoria da Base de Exportação foi elaborada por
North na década de 50 devido às inadequações,
segundo o mesmo, das teorias da localização e do
crescimento regional para explicar a dinâmica da
economia norte americana, que não correspondia à
sequência de estágios de desenvolvimento. Este
autor contesta que o desenvolvimento regional teria
ocorrido em etapas sucessivas: regiões agrícolas
autossuficientes, especialização do comércio entre
as regiões em decorrência da redução dos custos de
transporte, e alcançariam, com os retornos
decrescentes no setor primário e o aumento da
população, a industrialização e a especialização
dessas atividades secundárias.
North argumenta que essa sequência de
desenvolvimento regional talvez se aplique ao caso
da Europa, mas não se aplicaria a outras
experiências, como a das Américas.
Ele observa-se uma baixa capacidade de explicação
das teorias clássica de localização sobre a dinâmica
regional.
De acordo com North, a história econômica do Pacífico
Noroeste dos EUA, cujo desenvolvimento foi
baseado na produção e exportação de três produtos
principais (trigo, farinha e madeira).
A taxa de crescimento esteve diretamente relacionada
às exportações básicas. Todo o desenvolvimento da
região dependeu desde o início de sua capacidade
de produzir artigos exportáveis.
North desenvolveu então o conceito de base de
exportação para designar coletivamente os
produtos exportáveis de uma região, quer
primários, secundários ou terciários. Essa
exportação refletia uma vantagem comparativa nos
custos relativos da produção da região, e, tais
regiões cresciam em torno desta base gerando
economias externas.
A base de exportação desempenha assim papel
fundamental na conformação da economia de uma
região e em seus níveis de renda absoluta e per
capita e, consequentemente, na determinação da
quantidade de atividades locais, secundárias e
terciárias.
North descreve o desenvolvimento regional a partir do
surgimento de uma atividade de exportação
baseada em fatores locacionais específicos.
As atividades ligadas a esse setor são chamadas de
base exportadora, cujos efeitos sobre a economia
local são também indiretos. A atividade de
exportação induz, dessa forma, o surgimento de
polos de distribuição e cidades, nas quais começam
a se desenvolver atividades de processamento
industrial e serviços associados ao produto de
exportação. A diversificação setorial para North é o
resultado do sucesso das atividades de base e não o
resultado do esgotamento do setor primário.
Críticas à teoria da base exportadora de North
Argumentos de Tiebout (1958):
1) Essa teoria depende da delimitação da região. Se a
região expande seus limites, aquilo que é
considerado exportação passa a ser um
componente interno à região e não da base;
2) North ignorou a possibilidade de que uma melhor
alocação de fatores poderia levar, inclusive, a uma
redução das exportações;
3) A teoria da base não chega a ser uma teoria de
desenvolvimento, sendo, na melhor das hipóteses,
uma teoria da determinação da renda no curto
prazo que mostra uma relação causal entre as
atividades exportadoras e a atividade total de uma
região.
Críticas à teoria da base exportadora de North
Quatro anos após a publicação de seu trabalho clássico, North
(1959) revê seus argumentos e questiona a exportação de
produtos agrícolas como uma forma inequívoca de
alavancar o desenvolvimento regional.
North afirma que, caso a atividade primária seja baseada em
grandes propriedades, seus efeitos econômicos sobre a
região serão limitados. Perfis de demanda concentrados
levariam, de um lado, à produção de bens de subsistência
para os mais pobres e, de outro, à importação de bens de
consumo de luxo para a elite. (Economia dual de Celso
Furtado).
A produção de manufaturados ficaria restrita e a região teria
seu crescimento abortado mais cedo ou mais tarde,
quando retornos decrescentes surgissem na atividade
principal.
Dualismo econômico ou estrutural é caracterizado por
sistemas econômicos nos quais obsersava-se a
coexistência de setores pré-capitalistas e capitalistas.
Economia dual, dividida em dois setores: o moderno (setor
capitalista) e o arcaico ou tradicional (setor précapitalista).
O setor moderno, voltado à exportação, e o arcaico,
representado pela produção de subsistência e por outras
atividades econômicas voltadas a atender o setor
exportador.
O setor moderno exportador apresenta pouca capacidade de
induzir internamente a diversificação das estruturas
econômicas, sendo responsável, quando muito, pela
possibilidade de desenvolvimento de atividades
acessórias – inclusive industriais – de características
tradicionais e com baixa produtividade.
Os conceitos de base de exportação, de economias
externas são desenvolvidas por Jane Jacobs na
sua teoria sobre o crescimento econômico das
cidades.
As próprias cidades possibilitam o avanço das mais
variadas atividades, inclusive agrícolas, devido às
facilidades,
inovações
e
especializações
existentes nas mesmas.
Segundo Jacobs (1969), para crescer é essencial
exportar e produzir internamente bens e serviços
para a atividade exportadora e o mercado local.
Uma cidade (região ou país) cresce através de um
processo de diversificação e diferenciação
gradual de sua economia, estimulado por um
trabalho exportador (inicialmente recursos
naturais, artesanato, etc.) e uma produção
voltada para o mercado interno.
No decorrer do processo de crescimento
econômico, através da adição de novo trabalho
na economia, é essencial que os produtos
internos passem a ser exportados e que novos
produtos sejam criados para o mercado interno.
Ou seja, adicionar novo trabalho é fundamental
para criar e recriar economias.
Economias que não criam novas atividades e novos tipos de
bens e serviços não conseguem se desenvolver, pois é
somente assim que o trabalho se diversifica e se expande.
Para a economia desenvolver é essencial o crescimento do
produto e a adição de trabalho em diferentes períodos de
tempo, ou seja, para prosperar é preciso inovar (adicionar
trabalho) e diversificar (substituir por trabalho local
atividades antes importadas) continuadamente.
O efeito multiplicador das exportações - gera renda,
estimula o emprego local e viabiliza o aumento das
importações.
O efeito multiplicador das importações à medida que as
cidades crescem e apreendem o modo de produção de
determinados produtos, elas substituem importações,
desde que economicamente viáveis, com novo trabalho
local. A substituição de importações é a chave para o
processo de crescimento da cidade.
A “decolagem” como alternativa para o crescimento
econômico
Walt. W. Rostow é de nacionalidade norte-americana e
nasceu em Nova York em 7 de outubro de 1916.
Graduou-se em História Econômica na Universidade
de Yale, em 1936. Após dois anos obteve o
doutorado pela mesma instituição. Rostow teve
importante papel no governo norte-americano, ao
participar da “estratégia Truman”, inédito e vigoroso
programa de apoio ao desenvolvimento de países
atrasados, conhecido como Programa Ponto IV. Vale
acrescentar que Rostow teve uma participação muito
ativa entre o trabalho acadêmico e de policy marker.
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se
digladiava com a União Soviética (URSS) na chamada
Guerra Fria. O governo Truman (1945-1953) instituiu o
programa Ponto IV, estabelecendo o primeiro acordo
efetivo de aliança entre os países latino-americanos e
os Estados Unidos. O objetivo central do Programa é a
exportação de tecnologia agrícola e treinamento de
pesquisadores para a América Latina. Neste mesmo
período, do lado dos países latino-americanos era clara
a insatisfação com os Estados Unidos por ter formulado
o Plano Marshall para a Europa, reivindicando um
programa semelhante. Os Estados Unidos temendo
que o comunismo avançasse na América Latina
formulou o Programa Ponto IV.
Uma das principais influências recebida por
Rostow foi do professor Kuznets acerca do
método de abordagem do desenvolvimento
aplicando a análise setorial e sub-setorial.
Para Kuznets (1986[1966]), o crescimento econômico está
investido pela utilização das variáveis da renda per capita
da população, em paralelo com o crescimento demográfico.
Logo, se há um crescimento demográfico maior do que a
renda per capita, haverá baixo desempenho econômico. A
metodologia utilizada por Kuznets é determinada pelos
dados quantitativos. Para o teórico, o crescimento dos
dados econômicos no setor agrícola, no setor industrial e
no setor de serviços no produto nacional bruto dos países
(PIB) contribui para o crescimento da economia. O
crescimento econômico para Kuznets diz respeito ao
avanço tecnológico em uma economia, o que estimula a
demanda por novos produtos industriais, ao mesmo tempo
em que é verificado a redução na demanda por produtos
agrícolas nestes países.
Obras de referência de Rostow:
• Etapas do desenvolvimento econômico, um
manifesto
não
comunista,
publicada
originalmente em 1960;
• O Processo de Crescimento Econômico,
publicada em 1952;
• A decolagem para o crescimento autosustentado, publicado em 1956.
Para Rostow a conjuntura econômica e política após a
Segunda Guerra Mundial revela que os principais
entraves para a análise moderna da renda são a
inflação, o desemprego e o perigoso avanço
comunista em direção aos chamados países de
terceiro mundo.
Nessa ocasião, foi requisitada pelo presidente Truman a
ajuda de Rostow na formulação de estratégias para
executar políticas desenvolvimentistas em países em
atraso econômico. Neste período o teórico dividia-se
entre a sua atuação na academia e a atividade
política, ocupando diversos cargos no governo
americano
A tese de Rostow está fortemente vinculada à
questão do crescimento econômico sob as
circunstâncias de pobreza e atraso econômico
em um país em condições de decolagem, a
exemplo das principais potências da Europa e
outras grandes potências mundiais (GrãBretanha, França, Itália, Alemanha, Estados
Unidos, Japão) antes de alcançarem o
desenvolvimento econômico.
A ferramenta metodológica utilizada por Rostow
para medir o grau de desenvolvimento
econômico dos países é a “decolagem”. Assim, o
conceito de decolagem parte de três condições
inter-relacionadas:
1) incremento na taxa de investimento produtivo;
2) desenvolvimento de um ou dois setores
manufaturados básicos;
3) aproveitamento dos impulsos expansionistas do
setor moderno vindo de fora, de modo que o
acompanhe internamente.
O conceito de desenvolvimento econômico para
Rostow é caracterizado por seis fatores:
1) o nível de produção de uma economia é
resultante do volume da força de trabalho, do
seu estoque de capital (poupança) e do seu
acervo de conhecimentos aplicados;
2) a taxa de crescimento da economia depende
da variação da força de trabalho, da poupança
e do conhecimento tecnológico;
3) as taxas de variações dependem da interação de
rendimentos técnicos e da efetividade das
seguintes proposições em instituições econômicas,
sociais e políticas da sociedade: propensão de
aplicar a ciência na economia; propensão de
aceitar as inovações; propensão de obter
progressos materiais; propensão ao consumo;
propensão a ter filhos;
4) As transformações são chamadas de propensões e
são previstas a longo prazo pelas forças
econômicas, sociais e políticas, que determinam a
estrutura social, as instituições e a política efetiva
da sociedade.
5) as propensões que estão vinculadas às
decisões econômicas devem ser avaliadas
além destas proposições econômicas;
6) caso aconteça uma desaceleração na
economia, ele pode influenciar negativamente
na qualidade da força de trabalho nas
indústrias extrativas e nos investimentos no
setor agrícola e industrial.
O desenvolvimento econômico na concepção de
Rostow compreende três fases: um período
longo (um século), onde são reunidas as
precondições para a decolagem; a decolagem
propriamente dita (definida em uma ou duas
décadas); e um período prolongado no qual o
crescimento
se
torna
relativamente
automático. Afirma Rostow que é preciso
passar pelas três fases para estabelecer a
decolagem
em
um
país
atrasado
economicamente.
A PRIMEIRA FASE reúne as precondições para a
decolagem, da sociedade tradicional que possui a sua
economia ancorada na produção agrícola. A ideia de
progresso econômico tem o seu lócus na elite
estabelecida no poder. Diante do desejo de progresso
econômico são mobilizados novos empreendedores,
que estão interessados em movimentar as poupanças e
se arriscar na busca pelo lucro. Para atender a esta
demanda, as instituições surgem com capacidade para
mobilizar capital e conceder os empréstimos. O capital
básico é expandido principalmente em transportes e
comunicações e daí surgem modernas empresas
manufatureiras, interessadas em substituir as
importações.
Todas essas atividades acontecem em
sociedades tradicionais com uma base
limitada, as técnicas tradicionais utilizadas por
estas sociedades são de baixa produtividade.
Justamente por isso, há uma rigidez na
estrutura social (cito como exemplo a base
social do feudalismo) e as instituições estão
presas aos valores retrógrados.
Na segunda fase, não há transformação dos valores
tradicionais (sociedades feudais) pelas pré-condições
para a “decolagem”. É na terceira fase que a etapa de
decolagem é alcançada e a economia entra no ciclo do
progresso econômico sustentado. Na decolagem, o
capital per capita aumenta conforme a economia
amadurece, a taxa de crescimento é mantida pela
inserção de novos setores na economia, não
dependendo das indústrias que providenciaram
inicialmente a decolagem, as atividades rurais
decrescem e o setor industrial é inserido no comércio
internacional. A sociedade passa a se readequar
perante os novos valores e as exigências impostas pelo
novo método de produção.
Nos anos 40, aumentou o número de países que
disponibilizaram dados sobre a renda
nacional. A coleta destes dados proporcionou
formular estimativas fundamentadas sobre a
poupança e os investimentos. A análise destes
dados permitiu Rostow agrupar em quatro
tipos as nações “subdesenvolvidas”.
Somente é possível um país atrasado
economicamente
ingressar
no
desenvolvimento econômico após passar
pelas cinco etapas do desenvolvimento,
propostas por Rostow: a primeira fase é a
sociedade tradicional; seguida pela fase das
pré-condições para o arranco; o arranco é a
terceira fase; posteriormente, é a fase da
maturidade e finalmente a fase da era do
consumo.
*Na fase da maturidade concilia o avanço da indústria de base para a
indústria pautada em produzir produtos que demandam mais
tecnologia. Esta fase é posterior a fase de decolagem, diferenciada
pelo avanço no campo da tecnologia.
Na concepção de Rostow o desenvolvimento
econômico abrange as forças sociais,
econômicas e políticas. A implicação das
forças econômicas é pela via da
industrialização e o envolvimento das forças
sociais parte do aumento na produtividade,
que
proporciona
o
aumento
nos
investimentos que serão invertidos no
recrutamento de mão-de-obra, o que
proporciona o crescimento auto-sustentado
através da elevação da renda per capita.
Para Rostow (1967[1952]) a tradicional teoria
econômica neoclássica não é capaz de
formular diretrizes para o desenvolvimento
dos países atrasados economicamente.
Justifica o teórico que a teoria neoclássica foi
formulada para atender as flutuações
econômicas e resoluções de curto prazo nas
economias desenvolvidas.
As questões que estão vinculadas ao desenvolvimento
econômico podem agrupar-se, como os temas tratadas
na Primeira Parte deste livro, em três grandes
epígrafes: os determinantes do crescimento de capital,
e (capítulos 4 a 6) a composição apropriada dos
investimentos corrente. Naturalmente, estão incluídos
também, como a análise formal, os elementos
qualitativos vinculados a população e o capital. A
crescente literatura sobre os problemas práticos do
desenvolvimento econômico revela uma consciência
dos determinantes fundamentais da população e do
crescimento de capital e da influencia que a este
respeito exerce o marco social e político (ROSTOW,
1967, p. 230).
A passagem das pré-condições para a fase de
decolagem é subdividida em duas direções. A
primeira direção são os países da Europa, Ásia, África
e Oriente Médio, o que implica em modificações na
estrutura social, no sistema político e nas técnicas de
produção. A segunda direção são os países que
nasceram “livres” como os Estados Unidos, a Nova
Zelândia, a Austrália e o Canadá. Estes países
compartilham algumas características similares e
usufruem de abundância em recursos naturais
permitindo que deslanche a introdução do progresso
e a aceleração do processo de transição.
Diferentemente dos países da Europa, que
iniciaram
a
sua
marcha
para
o
desenvolvimento pela sociedade tradicional
(feudalismo), nas sociedades “livres” o
processo de desenvolvimento começa pela
fase das pré-condições para a decolagem, ou
seja, não há perda de tempo para passar da
etapa da sociedade feudal para a etapa das
pré-condições de decolagem.
Nas sociedades “livres” a passagem para a etapa
de decolagem é mais rápido que em outras
sociedades, o processo de industrialização é
considerado a força motriz capaz de acelerar
(queimar etapas) a passagem para as
próximas etapas do desenvolvimento,
proposto por Rostow. Dessa forma, nestas
sociedades há melhores condições para
instalar estradas de ferro, portos, rodovias, se
inserir no comércio internacional e substituir o
modo de produção rudimentar (agricultura)
pela industrialização.
Para Rostow (1967[1952]) a “decolagem” significa a
passagem de uma economia predominantemente
agrícola para a industrialização. Para introduzir a
“decolagem” em países atrasados economicamente,
Rostow recomenda o investimento em vários setores
da economia, como o fator que pode alterar os ciclos
econômicos.
“O processo de decolagem pode ser definido como um aumento do
volume e produtividade da inversão em uma sociedade, aumento
de tal natureza que dele deriva um aumento sustentado pela renda
real per capita. Com adesão a este modelo, o aumento pode ter
conseqüência de um movimento provido de rendimentos ou de
propensões” (ROSTOW, 1967, p. 103).
Adverte Rostow: a “decolagem” de cada
sociedade obedece a um período de
maturação diferente. A inversão realizada de
modo planejado pelo Estado em um setor
estratégico (ou setor chave) na economia é
capaz de proporcionar crescimento, de modo
que influencie e até proporcione o
crescimento em outros setores da economia.
Com efeito, Rostow (1961[1960]) pondera a
importância do Estado Nacional na passagem
da fase das precondições para a fase da
“decolagem” em uma economia. Para realizar
esta passagem é preciso que uma nova elite
ocupe o poder, no lugar da tradicional elite
(composta por latifundiários), para ter
condições de construir uma sociedade
industrial moderna. O nacionalismo reativo é
um fator importante para a saída da
estagnação
econômica,
recusando
a
colonização de outros países.
Para uma economia atrasada chegar à fase de
decolagem é preciso reunir investimento em capital
social fixo. O governo tem papel prioritário nesta
tarefa, pois somente com elevado acúmulo de capital
é possível impulsionar uma boa arrancada
econômica.
Caso exista insuficiência de capital interno para os
investimentos nos setores estratégicos, durante o
processo de “decolagem”, são recomendados
investimentos estrangeiros, para dar o impulso inicial
para a decolagem e mobilizar produtivamente a
poupança interna, o que proporciona uma alta taxa
de poupança marginal.
Na transição da sociedade tradicional para a
sociedade industrial moderna o setor agrícola
deve passar pela revolução agrícola. O
aumento
da
produtividade
agrícola
acompanha a demanda dos centros-urbanos,
ao proporcionar a oferta de alimentos
equivalente à demanda, o que ajuda a ampliar
o mercado interno e disponibiliza mais
recursos financeiros para o setor moderno.
O impulso para a decolagem também pode
derivar de uma revolução política, cujas
conseqüências estejam vinculadas
ao
“equilíbrio do poder social e dos valores reais,
o caráter das instituições econômicas, a
distribuição de renda, o padrão de
investimentos e a proporção das inovações
potenciais deveras aplicadas” (ROSTOW,
1961[1960], p. 56).
A geração de inovação tecnológica é outro
impulso para decolagem, o que resulta no
rearranjo da cadeia produtiva. A geração de
inovação tecnológica contribui para o
aperfeiçoamento da alta produtividade do
setor industrial aliada ao baixo custo na
produção e que despertará a produtividade
em outros setores da economia, através da
demanda gerada, respaldada pela elite
empresarial no reinvestimento em proporção
muito elevada dos lucros em novos
empreendimentos.
O processo de “decolagem” para Rostow
(1961[1960]) está associado à produção de
um produto chave na economia*. Dessa
forma, o sinônimo da “decolagem” para
Rostow é o de uma revolução industrial, pois
introjeta modificações nos métodos de
produção.
*No caso da Inglaterra, produtora de tecidos, o parque industrial
surgiu da necessidade da produção em grande escala do
produto. Outro caso expressivo é o surgimento da ferrovia, o
que resultou em modernas indústrias carboníferas,
siderúrgicas e de engenharia.
Na fase da “marcha para a maturidade” é aplicada
na sociedade todos os recursos da tecnologia
moderna estabelecidos pela industrialização em
setores mais diferenciados. Segundo Rostow, é na
produção de aço, de modernos navios, de
produtos químicos, na eletricidade e nos
produtos da atual máquina-ferramenta que a
indústria é elevada a um piso de maior
complexidade, em comparação com a indústria
da fase de decolagem. A marcha para a
maturidade exige a aplicação da tecnologia na
sua produtividade.
São enumerados por Rostow três fatores que se
desdobram na fase de maturidade: a força de
trabalho foi modificada (quanto a sua
composição, salário real e aptidões), a massa de
trabalhadores transita do trabalho agrário para
os empregos em escritórios e nas indústrias; há
a transição de aristocratas produtores de
algodão para eficientes administradores
profissionais da máquina altamente burocrática;
existe, ainda, o protesto da população contra os
custos da marcha para a maturidade.
Afirma Rostow que os Estados Unidos foi o primeiro
país a ingressar na era do consumo de massa. Na
última fase, consumo de massa, segundo Rostow,
houve o surgimento de uma nova classe média,
com o deslocamento dos agricultores para os
centros urbanos, em busca de postos de
trabalhos nas indústrias, na construção civil, nos
transportes. A era do técnico profissional e do
operário especializado havia chegado, o que
marcou o amadurecimento das sociedades. A era
do consumo afetou fortemente as mudanças nos
hábitos dos consumidores norte americanos.
“Automóveis, casas de moradia familiar,
estradas, utensílios domésticos duráveis,
grandes mercados para alimentos de
qualidade superior – tudo isso encerra boa
parte da transformação da sociedade norteamericana do decênio de 1920, uma
transformação que sustentou o surto dessa
década e alterou todo o estilo de vida de um
continente, penetrando até nos costumes do
namoro” (ROSTOW, 1961, p. 109).
A assertiva anterior explica que os efeitos da
transformação que ocorrem na transição de
uma economia tradicional para uma economia
industrial moderna geram consequências para
as forças sociais da sociedade. Nesse sentido,
Rostow coloca que a quinta etapa (a do
consumo em massa) modifica o perfil do
consumo na sociedade.
A proposta de Rostow (1967[1952]) para os
países alcançaram o crescimento econômico
consiste nos seguintes fatores:
(a) condições de organização econômica para o
progresso;
(b) manejar a tecnologia;
(c) possuir infraestrutura para receber as
inovações tecnológicas;
(d) capacidade para formar capital nacional e ter
fontes
para
o
financiamento
do
desenvolvimento.
Nos países atrasados existe a tendência para o
crescimento demográfico, o que implica na
atuação do Estado para se organizar perante a
demanda desta população. O Estado deve
articular a inserção dos países atrasados no
comércio internacional, bem como, quando
necessário, realizar pedidos de ajuda de
capital estrangeiro.
A gaiola de ferro do “círculo vicioso da pobreza”
Ragnar Nurkse (1907-1959) nasceu na Estônia, onde se
formou nas Universidades de Tartu (Estônia) e de
Edimburgo (Reino Unido), nesta última, obteve o grau em
economia, em 1932. Desempenhou importante papel na
contribuição para as áreas da economia internacional, das
finanças internacionais e do desenvolvimento econômico.
Nos anos de 1932 a 1934, Nurkse trabalhou em Viena, onde
publicou artigos e conheceu economistas da escola
austríaca como Haberler, Mises, Hayek, Machlup,
Morgenstern, entre outros. Na Liga das Nações, entre os
anos de 1934 e 1945, Nurkse esteve envolvido com diversas
publicações do órgão, entre as mais importantes o anuário
Monetary Review, a The Review of World Trade e World
Economic Surveys.
A partir de 1945, tornou-se professor da Universidade de
Columbia (Nova Iorque). Em 1958 e 1959, foi estudar
desenvolvimento econômico em Genebra, onde faleceu
subitamente. A maioria de seus últimos trabalhos sobre
os problemas do desenvolvimento econômico e o
comércio internacional resultou das suas conferências
nas cidades do Cairo, Istambul, Rio de Janeiro, Cingapura
e Estocolmo, assim como seus cursos em Columbia,
destacando a obra, Problemas de Formação de Capital
em Países Subdesenvolvidos, publicada originalmente em
1953. A obra, Problemas de Formação de Capital em
Países Subdesenvolvidos trabalhada na dissertação
reflete as contribuições de Nurkse sobre a questão do
subdesenvolvimento em países pobres.
Ragnar Nurkse recebeu forte influência no
campo do crescimento econômico de Paul N.
Rosenstein-Rodan e Colin Clark. No campo da
teoria do comércio internacional, as teses de
Hans Singer e Raúl Prebisch foram referências
para Nurkse. A tese de Duesenberry sobre a
temática do consumo e poupança também
exerceu influência no conceito de “efeito de
demonstração” aplicada por Nurkse em seu
diagnóstico sobre países subdesenvolvidos.
No contexto do pós-guerra, os Estados Unidos
formulam políticas econômicas para a
reconstrução da Europa e do Japão, assumindo,
junto com as agências internacionais de
desenvolvimento econômico essa reconstrução
como
prioridade
das
políticas
de
desenvolvimento econômico para os países
arrasados pela guerra mundial.
Ragnar Nurkse esteve à frente da Liga das Nações
do Comércio, onde participou ativamente da
formulação das políticas de reconstrução para a
Europa neste período.
O tema geral da formação de capital é, sobretudo,
um problema do desenvolvimento em países
economicamente
atrasados,
ou
subdesenvolvidos, estes se encontram com
deficiência de capital em relação à população e
recursos naturais quando comparadas aos
países desenvolvidos. Explica Nurkse que o
desenvolvimento econômico está condicionado
pelas peculiaridades humanas, atitudes sociais
e políticas e acidentes históricos. Ou seja, o
capital é para o progresso condição necessária,
mas não suficiente.
“A “formação de capital” processa-se quando a
sociedade não aplica toda a sua atividade
produtiva corrente em necessidades e desejos de
consumo imediato, mas dirige uma parte dela à
criação de bens de produção: utensílios e
instrumentos, máquinas e facilidades de
transporte, projetos e equipamentos – todas as
diferentes modalidades de capital real, que
podem aumentar grandemente a eficácia do
esforço produtivo. O termo é algumas vezes
usado abrangendo tanto o capital humano como
o material” (NURKSE, 1957, p. 4).
Nos países chamados por Nurkse de
subdesenvolvidos, verifica-se uma tendência
do consumidor consumir mais do que a sua
renda per capita lhe permite, o que lhe
dificulta poupar capital. Este fenômeno é
chamado por Nurkse de “efeito de
demonstração”, que significa a adesão do
indivíduo do país subdesenvolvido ao padrão
de
consumo
praticado
nos
países
desenvolvidos.
A tese de Nurkse mostra que nos países
subdesenvolvidos
uma
das
principais
dificuldades é a formação de capital, quais são
os métodos utilizados por Nurkse para
empreender esta análise? O recurso
empregado pelo autor é mensurado pela
renda nacional, conforme atesta a tabela a
seguir.
O que chama a atenção é o primeiro grupo de
países, com 18% da população mundial e com
67% da renda mundial, composto pelos
Estados Unidos, o Canadá, a Europa Ocidental,
a Austrália e a Nova Zelândia. Por sua vez, o
segundo grupo é composto por uma pequena
classe média incluindo a Argentina, o Uruguai,
a África do Sul, Israel e alguns países da
Europa Ocidental, especialmente a Rússia.
De outro lado, o último grupo é o de menor
renda, corresponde a 2/3 da população
mundial e recebe menos de 1/6 da renda
mundial. Este grupo é composto pela maior
parte dos países da Ásia, da África, do
sudoeste da Europa e da América Latina. Os
países chamados de atrasados por Nurkse
representam 2/3 da população mundial.
A atração dos padrões de consumo nos países
adiantados exerce influência em diferentes
classes sociais nas áreas subdesenvolvidas. No
entanto, esta influência não se restringe
apenas à elite dos países subdesenvolvidos. O
“efeito de demonstração” tem uma
abrangência maior na população, incluindo os
grupos de renda mais baixa, graças aos meios
de comunicação em massa.
O bloqueio do desenvolvimento pela pequenez
do
mercado
interno
em
países
subdesenvolvidos
O problema fundamental do subdesenvolvimento
para Nurkse é a dificuldade de um país em
formar capital. O “círculo vicioso da pobreza”,
tratado pelo teórico é considerado um dos
principais obstáculos que condicionam a
procura de capital e o seu uso no processo
produtivo. O significado deste conceito é
exposto a seguir:
“Implica ele numa constelação circular de forcas,
tendendo a agir e reagir uma sobre a outra de tal modo
a conservar um país pobre em estado de pobreza. Não
é difícil imaginar exemplos típicos destas constelações
circulares: um homem pobre não tem o bastante para
comer; sendo subalimentado, sua saúde é fraca; sendo
fisicamente fraco, a sua capacidade de trabalho é
baixa, o que significa que ele é pobre, o que, por sua
vez, quer dizer que não tem o bastante para comer; e
assim por diante. Tal situação, transporta para o plano
mais largo de um país, pode ser resumida nesta
proposição simplória: um país é pobre porque é pobre”
(NURKSE, 1957, P.8).
O círculo vicioso da pobreza é utilizado por Nurkse
para apontar que nessas relações circulares existe
dificuldade de acumulação de capital em países
economicamente atrasados. A oferta de capital
está correlacionada pela habilidade e propensão
para poupar. Por sua vez, a procura de capital é
determinada pelos incentivos para investir. Na
concepção de Nurkse o círculo vicioso da pobreza
existe em ambos os lados (da oferta de capital e
da procura) do problema da formação de capital
nas áreas subdesenvolvidas.
A dificuldade em acumular capital nos países
subdesenvolvidos é balizada pela oferta de
capital (resultado da habilidade e propensão
para poupar) e pela procura por capital
(depende do incentivo para investir).
“Do lado da oferta, há pequena capacidade de poupar,
resultante do baixo nível da renda real. A renda real baixa é o
reflexo de baixa produtividade, que, por sua vez, é devida em
grande parte à falta de capital. A falta de capital é o resultado
da pequena capacidade de poupar e, assim, o círculo se
completa” (NURKSE, 1957, p. 8).
Nos países subdesenvolvidos o “círculo vicioso
da pobreza” atua no sentido mais amplo do
termo exposto por Nurkse em citação anterior,
de maneira que, se é reduzido o orçamento
para investir em produtividade, é proveniente
da baixa renda dos indivíduos, que repercute
em reduzida procura por produtos, o que
bloqueia a alta produtividade (NURKSE,
1957[1953]).
Para Nurkse a pequenez do mercado interno é um
obstáculo para o desenvolvimento de um país,
pois inibe o estímulo para inversão de capital. O
principal determinante para dimensionar o
tamanho do mercado interno é o nível da
produtividade, ou seja, se é reduzido o mercado
interno não há necessidade de produção em larga
escala, o que descarta a necessidade de
equipamentos para acelerar a produção. O
incentivo para investir é limitado pelo tamanho
do mercado (Nurkse, 1957[1953], p. 28).
A inelasticidade da demanda por produtos em
conjunto com os baixos níveis de renda real
dificulta o investimento em formas técnicas de
equipamento de capital. Nurkse enfatiza três
fatores que condicionam a baixa demanda de
capital em países de renda baixa: demanda
inelástica de consumo; é arriscado investir em
equipamentos produtivos; há descontinuidades
técnicas que resultam na falta de
empreendimentos, pela falta de confiança do
empresário.
Para Nurkse a produtividade física técnica de
capital somente pode ser encorajada caso seja
aplicado o crescimento equilibrado. Este tipo
de crescimento consiste na ampliação do
tamanho do mercado interno, por meio de
incentivos aos investimentos em todos os
setores da economia.
Afirma
Nurkse
(1957[1953])
que
os
determinantes do tamanho do mercado nos
países subdesenvolvidos estão associados à
deficiência da demanda do mercado, o que
induz os baixos incentivos para o investimento
privado. Muitos dos países subdesenvolvidos
sofrem de inflação, é reduzido o suprimento,
por conta da baixa produtividade, o que é
causado pela falta de capital.
O limitado tamanho do mercado interno nos
países subdesenvolvidos limita o volume de
investimento estrangeiro e o uso da poupança
doméstica. O tamanho do mercado interno
está fortemente vinculado ao volume do
comércio internacional. Países agrícolas
ocupam papel marginal no comércio
internacional, devido a sua baixa capacidade
de produtividade e consequente baixo poder
de compra real.
Embora a entrada de investimentos estrangeiros nos
países subdesenvolvidos seja considerada por Nurkse
como uma fonte para acumulação de capital, nestes
países os investimentos estrangeiros são focados na
exploração de atividades primárias, o que reforça a
estrutura nos países subdesenvolvidos.
Em 1949, foi diagnosticado por Nurkse que o destino
dos investimentos americanos para indústrias
extrativas estava distribuído em 59% nos países
subdesenvolvidos, e 23% nos países desenvolvidos. A
relação é invertida quando analisados os
investimentos em manufaturas, em 59% nos países
desenvolvidos e 22% nos países subdesenvolvidos.
Nurkse considera a crítica feita por Singer em relação
ao “tipo” tradicional de investimento estrangeiro nos
países subdesenvolvidos, quando é frisada a
importância do mercado interno para estimular os
investimentos. Para Nurkse o objetivo do capital
estrangeiro em países subdesenvolvidos é maximizar
a exploração de matérias-primas. O investimento de
capital estrangeiro em países subdesenvolvidos pode
ser considerado benéfico somente sob o
monitoramento de uma agência governamental,
avaliando e investindo o capital estrangeiro em
setores deficientes desta economia.
• É identificado por Nurkse dois tipos de países que
encontram problemas para a formação de capital: os
“superpopulados”; e os “subpopulados”. O principal
problema nas regiões “superpopuladas” é a
concentração populacional em regiões rurais, em
paralelo com as atividades econômicas
especializadas na produção de matérias-primas. O
subemprego crônico na agricultura associado ao
desperdício de trabalho (considerada a fonte de
riqueza) implica na não formação do capital,
chamado por Nurkse de “desemprego disfarçado”.
“O têrmo desemprego disfarçado não se aplica ao salário do
trabalho. Designa uma condição de emprego de famílias em
comunidades agrárias. Designa uma condição de emprego de
família em comunidades agrárias. Uma série de pessoas trabalha
em fazendas ou pequenos lotes agrícolas, sustentando-se de uma
parte da renda real da sua família e virtualmente não contribuindo
para a produção. Não há neste caso possibilidade de identificação
pessoal, ao contrário do que acontece no desemprego industrial.
Nos países industriais, o desemprego é um desperdício de recursos
visível a todos e que, talvez por esse motivo, tenha atraído mais
atenção. Numa economia agrária de região superpopulada não
podemos apontar para qualquer pessoa e dizer que ela seja um
desempregado disfarçado. Toda a população pode estar ocupada e
ninguém se pode considerar vadio. Ainda assim, permanece o fato
de que uma determinada porção da mão de obra empregada na
terra, poderia ser dispensada, sem que houvesse qualquer
alteração no volume da produção” (NURKSE, 1957, P. 39).
Segundo Nurkse (1957[1953]) o “desemprego
disfarçado” é um fenômeno de massa inserido
em
economia
agrária
superpovoadas,
permanecendo oculta a poupança. A poupança
oculta é a quantia de trabalho de um indivíduo
que acumula para além das suas horas de
trabalho em relação à baixa produtividade de
outro trabalhador, considerada mão-de-obra
excedente. Então, a renda da poupança oculta vai
ser direcionada à mão-de-obra excedente a fim
de custear a sua sobrevivência.
O segundo grupo de países possui escassez de
população e sofre de baixa produtividade de
produtos agrícolas. Propõe Nurkse para
aumentar a produtividade à melhoria de
técnicas e métodos de produção agrícola.
Nesse sentido, nos países com baixa
população e especializados na agricultura
existe a escassez de capital.
De acordo com Nurkse o desequilíbrio na balança
de pagamentos em países subdesenvolvidos é
resultado da dificuldade de formar poupança. O
principal obstáculo para a formação de poupança
em países subdesenvolvidos é o “efeito de
demonstração”. Denomina Nurkse que o “efeito
de demonstração” é manifestado em países
subdesenvolvidos quando os indivíduos entram
em contato com formas de consumo superiores.
O novo padrão de consumo dos indivíduos dos
países subdesenvolvidos implica em novos
desejos e a propensão para consumir se eleva.
O consumo na massa da população é ditado pelo
lançamento de novos produtos no mercado. O
principal agente responsável pela constante
produção de novos produtos é a inovação
tecnológica. Tradicionalmente os produtos gerados
pela
tecnologia
originam-se
nos
países
desenvolvidos e são importados pelos países
subdesenvolvidos. O impacto da forma superior de
consumo na vida dos indivíduos dos países
subdesenvolvidos implica em transformações no
seu cotidiano, o usufruto das mercadorias passa a
ser o ingrediente para a própria satisfação dos
indivíduos.
Os argumentos lançados por Nurkse acerca da
questão do consumismo desenfreado dos
indivíduos nos países subdesenvolvidos
caminham na mesma direção que as
formulações teóricas de Raul Prebisch*. Para
Nurkse a baixa poupança é consequência do
baixo nível de renda real e da alta propensão
ao consumismo, devido à sedução irradiada
pelas formas superiores de consumo.
* Lembramos que os fatores que ajudam a explicar a debilidade
periférica, de acordo com Prebisch (1964) podem estar
relacionados com o fenômeno “deterioração dos termos de
troca”. Ele analisou esse fenômeno, ao comparar o preço de
exportação dos bens primários (produzidos por economias
periféricas) com os preços dos bens industrializados
(produzidos nos países centrais). Prebisch constatou que, a
longo prazo, os preços dos primeiros tendem a reduzir-se com
maior velocidade que os dos segundos. Uma das causas
levantadas pela CEPAL para explicar esta tendência é a
diferença da produtividade da mão-deobra entre os setores
primário e secundário. A deterioração dos termos de troca se
manifesta através das flutuações cíclicas da economia
mundial, característica do capitalismo, prejudicando o
desenvolvimento das economias especializadas na produção
de bens primários.
A atuação do empresário (criador de inovações) nos
países subdesenvolvidos é considerada por Nurkse
importante. A dinâmica no mercado interno em países
subdesenvolvidos é providenciada pelas inovações
tecnológicas, produzidas pelos empresários, o que
proporciona a abertura de novos mercados.
O crescimento equilibrado é incentivado pela ampliação
do mercado interno em paralelo com o aumento dos
investimentos dos empresários (no mercado interno).
O equilíbrio estacionário do subdesenvolvimento é
desfeito quando o investimento é aplicado em
diferentes ramos da produção, o que conduz a
dilatação do mercado total.
Anteriormente, foi colocado que o investimento
é limitado pelo tamanho do mercado interno,
da
mesma
forma,
o
investimento
internacional depende desta condição. Assim,
para que o investimento estrangeiro nos
países subdesenvolvidos seja benéfico é
indicado por Nurkse a necessidade de uma
agência reguladora, para qualificar a entrada
de investimentos estrangeiros.
O
desemprego
disfarçado
em
países
subdesenvolvidos deve ser enfrentado através
da transferência do excesso da mão-de-obra
(nas atividades agrárias) para os projetos de
capital, tais como, as irrigações, os esgotos, as
estradas, as ferrovias, as casas, as fábricas.
Então, surge a questão: de que forma estes
projetos de capital serão financiados? Ou,
qual fonte irá gerar os salários para as
pessoas que estiverem nesta espécie de
trabalho?
Aponta Nurkse como alternativa a poupança
voluntária normal, ou aumentar o fluxo de capital
estrangeiro, bem como dar condições de
subsistência para os indivíduos transferidos das
atividades agrárias para os novos projetos de
investimentos.
É proposto por Nurkse como alternativa para a
formação de capital em países com escassez de
mão-de-obra o aperfeiçoamento das técnicas de
produção agrícola e o implemento da indústria
para a formação de capital e o desenvolvimento
do processo de industrialização.
Em síntese, os países com escassez da
população devem melhorar as técnicas na
agricultura, liberando a mão-de-obra para
projetos de formação de capital. As condições
mínimas de trabalho para os operários é o
aumento da taxa de poupança, essencial para
arcar com o nível de subsistência.
Enfim, Nurkse ressalta que a formação de capital não
é possível sem medidas que priorizem a poupança
doméstica, impostas por políticas fiscais,
monetárias e pelas restrições à importação de bens
de consumo. A propensão a poupar é um
determinante crucial para o crescimento,
conjuntamente com o papel que as finanças
assumem em face ao problema de formação de
capitais nos países subdesenvolvidos. Nurkse
acredita que o círculo vicioso da pobreza pode ser
quebrado caso exista uma ação coletiva através das
finanças públicas.
O Modelo de Desenvolvimento Econômico
com Oferta Ilimitada de mão de obra –
Arthur Lewis
Arthur Lewis inicia sua obra “O Desenvolvimento
Econômico com Oferta Ilimitada de Mão-de-obra”
chamando a atenção para o fato desta ter sido
escrita na tradição clássica. Segundo ele,
“Os clássicos, de Smith a Marx, supuseram ou aceitaram que se
verificava uma oferta ilimitada de mão-de-obra a salários de
subsistência. A seguir, perguntavam de que modo aumenta a
produção com o decorrer do tempo, e encontraram a resposta
na acumulação de capital, explicada pela análise da distribuição
de renda. Assim, os sistemas clássicos determinavam
simultaneamente a distribuição e o crescimento da mesma (...)
O propósito deste artigo é, portanto, descobrir o que se pode
aproveitar do marco clássico para resolver os problemas da
distribuição, acumulação e crescimento.”
(Lewis, 1969, p. 406-407)
A justificativa de Lewis para a utilização da teoria
clássica como base é a de que o modelo neoclássico
se aplicaria somente às economias em que o
problema econômico fosse o da escassez de mãode-obra e em que o crescimento fosse dado como
garantido. Para ele esse não era o caso das
economias subdesenvolvidas, pois nestas parecia
prevalecer uma oferta ilimitada de mão-de-obra e a
expansão econômica não era garantida
O primeiro ponto apresentado por Lewis é a
definição do conceito de oferta ilimitada de mãode-obra.
“Pode-se dizer, primeiramente, que há ilimitada oferta
de trabalho nos países onde a população é tão
numerosa em relação ao capital e recursos naturais,
que existem amplos setores da economia em que a
produtividade marginal do trabalho é ínfima, nula ou
mesmo negativa.”
(LEWIS, 1969, p. 408).
Para Lewis, este tipo de trabalho é, na verdade, o
que alguns autores chamaram de desemprego
"disfarçado", que pode existir não somente nas
atividades rurais, como, por exemplo, um número
excessivo de familiares no cultivo da terra, mas
também nas atividades urbanas, como, por
exemplo, carregadores de porto, carregadores de
malas, biscateiros, vendedores ambulantes, entre
outros. Estas ocupações apresentam, em geral, um
número de pessoas muito maior do que o
necessário e a produção deste setor não é afetada
negativamente se o número de trabalhadores for
reduzido.
Lewis busca justificar porque essas pessoas
conseguem
emprego
mesmo
com
uma
produtividade próxima de zero, ou seja, porque os
patrões pagam salários que excedem a
produtividade marginal. Segundo ele, nos países
subdesenvolvidos, existiria um tipo de código de
comportamento ético em que as pessoas
ofereceriam o máximo de trabalho possível, ao
mesmo tempo em que seria motivo de prestígio
social para o patrão contar com o maior número
possível de empregados.
Lewis ressalta que para se considerar que existe
oferta ilimitada de mão de obra, não seria
necessário que o trabalho tivesse produtividade
marginal nula ou ínfima, bastaria que a oferta de
trabalho excedesse a demanda ao nível de salário
vigente na economia, no caso, ao nível de
subsistência. Em outras palavras, bastaria que a
produtividade marginal do trabalho de pleno
emprego fosse menor que o salário de subsistência.
Para analisar o caso em que novos empregos
poderiam ser oferecidos no setor capitalista ao
salário de subsistência, Lewis inclui, além das já
citadas, outras duas classes de desempregados na
sua lista. A primeira é a das esposas e filhas,
representando a mão de obra feminina. Com a
transferência destas do trabalho doméstico para as
fábricas ou manufaturas, sua produção elevar-se-ia
consideravelmente, visto que a maioria das coisas
que as mulheres produzem em casa podem ser
produzidas de forma melhor e mais barata, devido
aos benefícios da produção em grande escala e da
utilização de máquinas e instrumentos.
A segunda fonte de trabalho para a expansão da
industria seria o crescimento da população. Lewis
argumenta que se não há provas de que o
desenvolvimento eleve a taxa de natalidade, não há
dúvidas de que ele reduza a taxa de mortalidade
consideravelmente. Assim, nas palavras de Lewis,
“Visto que o desenvolvimento tem efeito tão rápido
e seguro sobre a taxa de mortalidade, enquanto seu
efeito sobre a taxa de natalidade é incerto ou
retardado, podemos concluir que seu efeito
imediato é originar um aumento demográfico (...)
Desta forma (...) o efeito do desenvolvimento
econômico será gerar aumento da oferta de
trabalho”
(Lewis, 1969, pg. 411)
Uma observação importante sobre a oferta
ilimitada de mão de obra é que esta se restringe ao
trabalho não qualificado. Poderia, sim, existir
escassez de mão de obra qualificada nas economias
subdesenvolvidas, mas apenas por um curto
período de tempo, uma vez que a mão de obra não
qualificada poderia ser treinada a qualquer
momento, pelos capitalistas ou pelo governo,
durante o processo de desenvolvimento. Seria,
portanto,
apenas
um
“estrangulamento
temporário” não chegando ser um ponto de
estrangulamento da produção como o capital e os
recursos naturais.
Agora, passemos ao modelo teórico propriamente
dito. Lewis faz uso de um sistema dual de
produção, no qual a economia dos países
subdesenvolvidos poderia
ser dividida em um
setor capitalista e um setor de subsistência.
O setor capitalista poderia ser visto como sendo
composto por várias ilhas em um mar de
subsistência e seria definido como "(...) a parte da
economia que utiliza capital reproduzível e que
retribui aos capitalistas pelo uso deste."
(Lewis,1969, p. 413). O setor de subsistência seria,
portanto, o setor que não utiliza capital
reproduzível, e seu produto per capta por hora
trabalhada seria menor do que no setor capitalista
pois não seria frutificado pelo capital.
Os salários do setor capitalista seriam determinados
pelos rendimentos do setor de subsistência, ou, nas
palavras de Lewis, “o salário que o setor capitalista
em expansão é obrigado a pagar é determinado
pelo que se pode ganhar fora deste setor” (Lewis,
1969, p. 415). O salário de subsistência seria
definido através de uma convenção acerca do
mínimo necessário para subsistir ou determinado
pela produtividade no setor de subsistência.
O salário no setor capitalista corresponderia a,
aproximadamente, 30% a mais do que o salário do
setor de subsistência. Essa diferença se deveria ao
maior custo de vida inerente ao setor capitalista,
refletindo, assim, o nível de subsistência dos
trabalhadores deste setor.
A dinâmica do setor capitalista da economia se
daria da seguinte forma: o capitalista contrataria
trabalhadores até o ponto em que a produtividade
marginal do trabalho, que no setor capitalista seria
decrescente, se igualasse ao salário do setor
capitalista. A partir desse ponto, os trabalhadores
seriam relegados ao setor de subsistência. A figura
abaixo mostra, graficamente, como é definida a
quantidade de trabalhadores empregados no setor
capitalista.
A quantidade de trabalhadores empregados no
setor capitalista será definida pela interseção da
curva de produtividade marginal, NR , com o nível
de salário do setor capitalista, representado pela
reta W . Assim, serão empregados M trabalhadores
no setor capitalista e o restante dos trabalhadores,
além de M , serão “empregados” no setor de
subsistência e receberão o salário S . O excedente
do setor capitalista é representado pela área NPW e
os salários pelo retângulo OWMP .
Para Lewis, o processo de expansão da economia
como um todo se daria através do reinvestimento
do excedente do setor capitalista no próprio setor.
Quanto mais capital fosse investido, mais
trabalhadores poderiam migrar do setor de
subsistência para o setor capitalista. Esse
movimento faria com que o produto per capta da
economia como um todo aumentasse, pois, visto
que a produtividade de um trabalhador no setor de
subsistência é mais baixa, a simples passagem deste
para o setor capitalista faria aumentar o produto
total da economia. O processo continuaria até que
desaparecesse o excedente de mão de obra.
A figura abaixo demonstra o processo de acumulação,supondo
que a produtividade do trabalho no setor capitalista aumenta com
o crescimento do estoque de capital.
É importante ressaltar que, no modelo de Lewis, o
processo de acumulação de capital e o progresso
técnico caminham juntos. O autor afirma que
“deveria ser possível, teoricamente, distinguir entre
o aumento de capital e o aumento dos
conhecimentos técnicos, mas isto na prática não é
nem possível nem necessário para fins de nossa
análise” (LEWIS, 1969, p. 419).
Podemos ver que conforme o excedente,
inicialmente WN1 P1 , é reinvestido, a quantidade
de capital fixo aumenta, deslocando a curva de
produtividade marginal para cima até o nível N2 R2
. Assim, tanto o emprego quanto o excedente do
setor capitalista aumentam, e este ultimo,
novamente reinvestido, desloca mais uma vez a
curva de produtividade marginal. Este processo
continua até acabar com a oferta ilimitada de mão
de obra.
Pela forma como Lewis descreve o processo de
acumulação de capital, fica evidente que, para o
autor, a determinação da renda é dada pela Lei de
Say, ou seja, é a poupança que determina o
investimento, e não o contrário. As economias
subdesenvolvidas cresceriam menos porque a
poupança potencial máxima nestas economias seria
limitada, o que limitaria o investimento e,
consequentemente, o crescimento do produto
potencial.
Uma vez que os salários são constantes, o processo
de deslocamento de trabalhadores do setor de
subsistência para o setor capitalista, e a
subsequente e continua elevação da produtividade
deste
setor,
aumentaria
os
lucros,
e
consequentemente, a poupança potencial. Essa
maior poupança seria capaz de acelerar o
crescimento econômico, e acabaria eliminando o
excedente estrutural de mão de obra.
Voltemos à questão central em Lewis:
“o problema central do desenvolvimento econômico
é a compreensão do processo pelo qual uma
comunidade que anteriormente não poupava nem
investia mais que 4 ou 5% de sua renda nacional, ou
ainda menos, transforma-se numa economia em
que a poupança voluntária se situa por volta de 12
ou 15% da renda nacional ou mais. Este é o
problema central porque a questão principal do
desenvolvimento econômico é a rápida acumulação
de capital. (Lewis, 1969, p. 422)
Para Lewis, nenhum processo de desenvolvimento
econômico poderia ser explicado sem que se tivesse
em vista e se pudesse explicar o aumento relativo
da poupança em relação à renda nacional. A
poupança agregada em uma economia fechada e
sem governo é definida como a renda menos o
consumo, e depende da propensão marginal a
poupar.
Lewis considera que, para entender porque a
poupança agregada aumenta, seria necessário
focar-se apenas nos 10% da população mais rica,
pois, em sua visão, o restante da população não
conseguiria poupar uma parte significativa da sua
renda. Segundo Lewis, “praticamente toda a
poupança provém daqueles que têm lucros ou
rendas” (LEWIS, 1969, p. 423).
Mas porque os 10% mais ricos passam a poupar
mais? Segundo Lewis, o motivo poderia ser que
estes passam a consumir menos, mas em seguida
afirma que não existe evidencia de que, nos
momentos em que ocorrem as revoluções
industriais, haja diminuição de seu consumo
pessoal. A explicação mais plausível, para o autor, é
que se poupa mais por que há mais o que se
poupar.
Segundo Lewis, haveria três pontos básicos para
explicar por que os países subdesenvolvidos
poupam tão pouco:
1º) O primeiro seria o fato de o setor capitalista ser
muito pequeno nesses países, o que inviabilizaria o
mecanismo de poupança através dos lucros;
2º) O segundo ponto seria a desigualdade de renda
inerente ao processo de desenvolvimento
econômico, que deveria ser sempre em favor dos
lucros capitalistas e não em favor da renda da terra,
como parecia ser em muitos dos países
subdesenvolvidos.
O último ponto, e mais importante, se refere à
necessidade da existência de uma classe capitalista,
ausente nas economias subdesenvolvidas. Lewis
define esta classe como “um grupo de homens que
pensam em termos de investimento produtivo de
capital” e afirma que “o motivo pelo qual uma
sociedade desenvolve uma classe capitalista é muito
difícil de ser encontrado, não havendo,
provavelmente, uma resposta geral”
(LEWIS, 1969, pg. 425 e 426).
Assim, podemos considerar que para Lewis, a
propensão marginal a poupar, depende somente da
propensão a poupar dos capitalistas, que é
constante ao longo do tempo. Desta forma, a
investigação deve se dar em torno das
circunstâncias em que aumenta a participação dos
lucros na renda nacional.
Segundo Lewis, o excedente capitalista e a renda
dos próprios capitalistas iriam aumentando como
proporção da renda nacional, pois à medida que
setor capitalista se expandisse e o trabalho fosse
sendo transferido para o setor capitalista, a renda
do setor de subsistência e os salários dos
trabalhadores do setor capitalista se manteriam
constantes no processo, dada a existência de oferta
ilimitada de mão de obra. Dessa forma, enquanto
uma parte do excedente fosse reinvestida em
capacidade
produtiva,
os
lucros
sempre
aumentariam em relação à renda nacional.
Vamos definir agora a taxa de crescimento do
produto potencial. O aumento absoluto do produto
potencial vai depender do nível de investimento
líquido e da relação capital-produto.
Logo, o crescimento vai depender negativamente da
relação capital-produto (ou positivamente da
produtividade do capital) e positivamente da
proporção do investimento em relação ao produto
potencial. Como no modelo de Lewis vale a “Lei de
Say” a proporção do produto potencial que é de
fato investida é idêntica e determinada pela
proporção do produto que é poupada
Desta forma, podemos ver que a taxa de
crescimento da economia é dada pela razão entre a
taxa de poupança e a relação capital-produto.
Desta forma, o crescimento da economia seria
sempre estimulado por uma alta parcela do lucros
pois uma grande parte da renda estaria indo para a
classe que poupa e automaticamente investe mais.
Lewis apresenta uma outra forma de criação de
capital que não o reinvestimento dos lucros do
processo produtivo, qual seja, o aumento líquido da
oferta de dinheiro, principalmente através do
crédito bancário.
Lewis supõe que o excedente de trabalho poderia
ser utilizado para a produção de bens de capital
sem que houvesse prejuízo na produção de bens de
consumo. O investimento em capital através de
dinheiro novo teria como primeiro efeito o aumento
de preços na economia, já que a produção de bens
de consumo se manteria constante e o meio
circulante para compras aumentaria entre os
trabalhadores recém empregados no investimento.
Neste momento, ocorreria uma queda, temporária,
nos salários reais da economia.
Em um segundo momento, apareceriam os frutos
da produção dos novos bens de capital e os preços
recuariam. Esse processo inflacionário de
financiamento de investimento terminaria quando
os lucros dos capitalistas fossem grandes o
suficiente para financiar a nova taxa de
investimento na economia, não mais necessitando
da expansão monetária. A expansão de crédito
teria, portanto, o papel de acelerar o aumento de
capital.
A renda real de subsistência média diminuiria
apenas temporariamente, enquanto o novo capital
não se tornasse capacidade produtiva e fizesse os
preços voltarem ao seu nível anterior. Este
fenômeno estaria ligado ao caráter dual do
investimento, que em um primeiro momento eleva
a demanda agregada, mas depois gera capacidade
produtiva.
Nas palavras de Lewis,
“A inflação com finalidade de formação de capital é
autodestrutiva. Os preços começam a aumentar,
mas são mais cedo ou mais tarde superados por
uma produção maior e podem, em última análise,
acabar abaixo do que se encontravam no início.”
(LEWIS, 1969, p. 431).
Cabe observar que este fenômeno, no modelo de
Lewis, ocorre apenas no curto prazo, não havendo
um equilíbrio de longo prazo em que os salários
reais fossem inferiores ao nível de subsistência.
Lewis chama atenção para o fato de que
“este processo não corresponde à ‘poupança
forçada’ no sentido usual deste termo (...) em nosso
modelo (...) verifica-se uma redistribuição forcada
do consumo, mas não uma poupança forçada”
(Lewis 1969, p. 430).
Lewis ainda trata do papel do governo no processo
de desenvolvimento, e como este afeta o processo
de acumulação de capital. O governo poderia se
utilizar, da mesma forma que foi exposta
anteriormente, do expediente inflacionário para
promover a formação de capital novo.
Depois de apresentados o papel da inflação e do
governo no processo de acumulação, Lewis volta
sua atenção para o final do processo de
desenvolvimento.
De acordo com o modelo exposto até o momento,
uma economia com salário real constante, oferta de
mão-de-obra ilimitada e que reinveste seu
excedente na formação de capital irá crescer até o
ponto em que o trabalho se torne um fator escasso.
No entanto, o fim desse processo pode ser
precipitado pelo aumento dos salários reais, que
fariam com que o excedente, e conseqüentemente,
o investimento se reduzissem.
Algumas considerações:
Lewis destaca que os pontos cruciais do processo de
desenvolvimento são justamente o seu início e o
seu fim, o qual corresponderia a um declínio
secular. Com relação ao início do processo, o autor
ressalta as dificuldades que podem surgir quando
se observa uma concentração de esforços em
apenas um setor da economia. Para Lewis, os
diversos setores deveriam crescer de maneira
relacionada, caso contrário, não poderiam crescer,
pois a inovação em determinado setor acabaria
sendo freada.
Por conta das deficiências do mercado interno
presentes nos estágios iniciais de desenvolvimento
e dos próprios efeitos sobre a demanda em outros
setores, explica Lewis que, em geral, a produção
para exportação acaba sendo o ponto de inflexão
que impulsionava a economia em direção ao
progresso. Contudo, a excessiva concentração no
setor exportador pode ser prejudicial, sobretudo
pelos efeitos deletérios sobre os termos de troca.
Nos estágios superiores de desenvolvimento, o
papel de dinamizador passaria do setor externo ao
setor interno, tornando-se esse o principal
sustentáculo do progresso econômico. Assim, para
que fosse bem sucedido o pontapé inicial do
progresso, para Lewis:
“nos programas de desenvolvimento, todos os
setores
da
economia
devem
crescer
simultaneamente, para manter o equilíbrio
adequado entre a agricultura e a indústria, e entre
a produção para o mercado interno e a produção
para exportação.”
Quanto ao declínio secular, Lewis destaca uma série
de armadilhas em que poderiam cair as nações, em
virtude do próprio processo de desenvolvimento,
dentre elas, o esgotamento dos recursos naturais,
uma invertida desfavorável (ao investimento de
capital) da distribuição de renda e o próprio
esgotamento das inovações. Destaca-se que após
um prolongado período de desenvolvimento,
segue-se necessariamente um crescimento mais
lento, a estagnação ou mesmo a franca decadência.
O financiamento externo desempenha papel
importante na medida em que as nações ainda em
processo
de
desenvolvimento
dificilmente
satisfariam a sua necessidade de capital só com
recursos internos, mesmo porque os programas de
desenvolvimento requerem a importação de bens
de capital. No entanto, observa Lewis que, a menos
que as nações atrasadas, receptoras de capitais,
transformem esse capital em um aumento de
produtividade das mercadorias consumidas
internamente, não haveria impacto sobre os
salários reais.
Além disso há que se observar que o influxo de
capital dos países desenvolvidos aos países
subdesenvolvidos também estaria sujeito a
empecilhos pois “[...] a migração de capital se
detém não só pelo fato de que se apresentam
continuamente novas oportunidades para investir
nos países desenvolvidos, como pelas deficiências
em países subdesenvolvidos.” A explicação para tal
seria a emergência do círculo vicioso da carência de
capital, o que se assemelha ao círculo vicioso da
pobreza, uma vez que a produtividade de
determinado
investimento
depende
dos
investimentos anteriormente realizados.
Segundo Lewis, no contexto das nações
subdesenvolvidas, como os problemas de mercado
e os altos custos iniciais de novos setores de
atividade constituem importantes empecilhos à
industrialização desses países, se não forem
adotadas medidas diferenciadas, tal como políticas
protecionistas, “[...] o hiato entre estes e as nações
industriais continuaria a ampliar-se pela simples
razão do impulso dado pela especialização.”
Por isso, também o papel dos governos nas nações
atrasadas seria tão estratégico para estimular o
desenvolvimento. Entretanto, pondera o autor que
não se trata de privilegiar a ação do Estado ou da
iniciativa privada, mas sim “verificar qual a
contribuição mais adequada de cada um.”
Essa discussão remete à discussão do Estado vis-àvis o papel do mercado, cuja implicação indica
justamente que deveria haver um balanceamento
entre essas duas esferas enquanto direcionadores
do desenvolvimento. Segundo Lewis, no contexto
dos países subdesenvolvidos, ao Estado caberia o
papel mais importante de direcionador de forças
para superar o subdesenvolvimento.
Nas palavras de Lewis,
“O governo não deve gastar nem pouco nem
muito; nem controlar muito nem pouco; nem
tomar iniciativas demais, nem de menos; não deve
desencorajar os estrangeiros, nem cair-lhes nas
mãos; não deve permitir a exploração de classes, e
assim por diante.” (Lewis, 1955, p.533)
SCHUMPETER
4. O pós-fordismo e as novas
teorias da firma e tecnologia
Os ciclos longos de
crescimento
econômico
• Nikolai Kondratieff (1925) foi pioneiro no estudo das
ondas largas ao estudar o comportamento histórico
dos preços de commodities com base na análise de
séries cronológicas de preços no atacado, de 1790 a
1920, nos Estados Unidos e no Reino Unido.
• Ele observou que, em períodos de crescimento
econômico, os preços das matérias primas e
insumos, cuja oferta é inerentemente inelástica em
curto prazo, tendiam a subir rapidamente, enquanto
que o inverso ocorria em épocas de crise.
Paulo Tigre, Gestão da Inovação
Schumpeter e os ciclos longos
• Schumpeter atribuiu a ocorrência dos ciclos de Kondratieff
ao processo de difusão de grandes inovações na economia
mundial. Ele associou os períodos de prosperidade à fase
de rápida difusão de inovações chaves no sistema
produtivo, a exemplo da máquina a vapor e da eletricidade.
O sucesso de empresários inovadores na introdução de
novos produtos e processos proporcionariam uma onda de
otimismo diante das perspectivas de grandes lucros.
• Ao reproduzir as inovações bem-sucedidas, empresários
imitadores realizariam investimentos produtivos e criariam
novos empregos favorecendo o crescimento econômico.
Paulo Tigre, Gestão da Inovação
Ciclos longos de desenvolvimento
• Schumpeter associou os períodos de prosperidade à fase de rápida
difusão de inovações chaves no sistema produtivo. As
oportunidades de lucros “supranormais” despertaria o espírito
animal do empreendedor, levando-o a investir capital, contratar RH
e assim estimular o crescimento econômico
A fase de declínio econômico
• O boom terminaria dando espaço à depressão que se
iniciaria quando o potencial de exploração das novas
tecnologias se esgotasse. À medida que as inovações se
difundem e seu consumo se generaliza, há uma
tendência de redução das margens de lucro e geração de
capacidade ociosa.
• Consequentemente, os empresários reduziriam a
produção, interromperiam investimentos e passariam a
reduzir custos e a demitir mão-de-obra levando a
economia a uma fase de recessão.
Características da infra-estrutura dominante
Ondas
C&T e educação
Transporte e Com.
Energia
1 – Primeira Revolução Aprender-fazendo,
Canais, estrada de
Roda d’Água
Industrial (1780-1830)
carroças.
(moinhos)
sociedades cientificas
2 – Segunda revolução Engenheiros mecânicos Estrada de ferro,
industrial (1830-1880)
e civis
Energia a vapor
telégrafo.
3 - Idade da Eletricidade P&D Industrial, química
Ferrovias (aço) e
(1880-1930)
e eletricidade, laborat.
telefone
4. Idade da produção
P&D industrial e
Rodovias e radio
Petróleo
em massa (fordismo)
educação em larga
1930-1980
escala.
5. Idade da
Rede de dados, Redes
Redes convergentes
Petróleo e Gás
microeletrônica ( ?)
globais de P&D;
de telecomunicações
Treinamento contínuo
em multimídia
6. Tecnologias
Biotecnologia, genética, Telemática,
ambientais, saúde
nanotecnologia
Fonte: Freeman, 1997
teletrabalho
Eletricidade
Energia renovável
O processo de destruição criadora em
ondas longas de transição
Exaustão do
paradigma
prevalecente
Pressão
econômica e social
para mudança
busca
Novo potencial
tecnológico
Construção de um
novo paradigma
Inércia do velho quadro
sócio-institucional
Difusão do novo senso comum
Construção do novo quadro sócio-institucional
Recuperação do crescimento econômico
Uso do novo potencial tecnológico
Fonte: Carlota Perez
O paradigma das tecnologias da
informação
• O último quartil do século XX vivenciou o
início de uma nova revolução tecnológica,
protagonizada pelas tecnologias da
informação e da comunicação (TIC).
• Ao contrario do fordismo que é intensivo no
uso de energia e materiais, a nova onda de
destruição criadora é intensiva em informação
e conhecimento.
Marcos do esgotamento do fordismo e
advento do novo paradigma
1. Aumento nos preços do petróleo, a partir da crise
de 1973, que mostrou que o modelo de
crescimento baseado no consumo crescente de
materiais e energia barata não era sustentável.
2. Esgotamento do modelo fordista de produção,
baseado na exploração excessiva dos princípios da
padronização e divisão do trabalho.
3. Onda de inovações iniciada com a invenção do
transistor no final da década de 1940 que
desencadeou, nos 60 anos seguintes, uma série de
inovações subsequentes tanto tecnológicas quanto
organizacionais.
O esgotamento do fordismo e as crises do
petróleo
• As sucessivas crises do petróleo interromperam um longo ciclo de
crescimento e provocou uma crise do paradigma produtivo
intensivo em energia e materiais.
Esgotamento do modelo fordista de
produção
• O modelo baseado na
exploração excessiva dos
princípios da
padronização e divisão do
trabalho foram
questionados pela rigidez
e incapacidade de
responder as novas
características do
mercado global.
A origem da microeletrônica
• O transistor foi inventado nos Laboratórios da
Bell Telephone em 1948. É considerado uma
das maiores descobertas ou invenções da
história moderna, tendo tornado possível a
revolução dos computadores e equipamentos
eletrônicos.
• A chave da importância do transistor na
sociedade moderna é sua possibilidade de ser
produzido em enormes quantidades usando
técnicas simples, resultando preços irrisórios
O transistor é um componente
eletrônico que começou a
popularizar-se na década de 1950,
tendo sido o principal responsável
pela revolução da eletrônica na
década de 1960. São utilizados
principalmente como
amplificadores e interruptores de
sinais elétricos.
O termo vem de transfer resistor
(resistor/resistência de
transferência), como era conhecido
pelos seus inventores.
Fator – chave do novo paradigma
• O transistor é considerado por muitos uma das
maiores descobertas ou invenções da história
moderna, tendo tornado possível a revolução dos
computadores e equipamentos eletrônicos.
• A chave da importância do transistor na sociedade
moderna é sua possibilidade de ser produzido em
enormes quantidades usando técnicas simples,
resultando em preços irrisórios
• Na medida que sua tecnologia evoluiu de forma
exponencial, passou a ser aplicado em um número
crescente de industrias e serviços.
A difusão do
Nos anos 50/60 os transistores bipolares
passaram a ser incorporados a diversas transistor
aplicações, tais como aparelhos auditivos,
seguidos rapidamente por rádios
transistorizados.
A indústria norte-americana não adotou
imediatamente o transistor nos
equipamentos eletrônicos de consumo,
preferindo continuar a usar as válvulas cuja
tecnologia era amplamente dominada.
Foi através de produtos japoneses,
notadamente os rádios portáteis
fabricados pela Sony, que o transistor
passou a ser adotado em escala
mundial.
Um circuito integrado, também
conhecido por chip, é um dispositivo
microeletrônico que consiste de muitos
transistores e outros componentes
interligados capazes de desempenhar
muitas funções. Suas dimensões são
extremamente reduzidas, os
componentes são formados em pastilhas
de material semicondutor.
A importância da integração está no baixo custo e alto
desempenho, além do tamanho reduzido dos circuitos aliado à alta
confiabilidade e estabilidade de funcionamento. Uma vez que os
componentes são formados ao invés de montados, a resistência
mecânica destes permitiu montagens cada vez mais robustas a
choques e impactos mecânicos, permitindo a concepção de
portabilidade dos dispositivos eletrônicos.
Evolução tecnológica dos circuitos
integrados
Processador
Ano lançamento
Frequência
Número de
transistores
Intel 8008
1972
0,2 MHz
3500
Intel 80286
1982
Até 12 MHz
134.000
Pentium 4
2002
Até 3000 MHz
55.000.000
• A microeletrônica serviu como
base técnica para a imbricação
das tecnologias de
informática,
telecomunicações,
optoeletrônica, software e
broadcasting e suas múltiplas
aplicações que retroalimentam o processo
inovativo.
• Esta “revolução em miniatura”
caracteriza uma trajetória de
inovações associada à
aplicação das TIC a produtos,
processos e servicos.
Impactos do novo paradigma sobre o
mundo do trabalho
Fordismo
• Trabalho fragmentado e
padronizado
• Low-trust/low-discretion
majority employed in
manufacturing sector/blue
collar jobs.
• Little on the job training
required for most jobs.
• Small managerial and
professional elite.
• Fairly predictable labour market
histories
•
•
•
•
•
•
Pós-Fordismo
Especializacao flexível,
trabalhadores polivalentes.
High-trust/high-discretion
majority employed in service
sector/white collar jobs.
Regular on the job training,
greater demand for knowledge
workers.
Growing managerial and
professional service/class.
Unpredictable labour market
histories due to technological
change and increased economic
uncertainty.
Impactos econômicos e
organizacionais
• Nova estrutura industrial: “wintelismo” (Windows +
Intel)
• Aumento do conteúdo informacional: ciclos de vida
dos produtos cada vez mais curtos.
• Economias de velocidade: a redução do tempo
necessário para completar um processo permite
transformar custos fixos elevados em baixos custos
unitários.
Impactos do novo paradigma sobre a
economia e os mercados
Fordismo
Pós-fordismo
• Mercados nacionais protegidos
• Produção em massa de
produtos padronizados
• Organizações burocráticas
hierarquizadas
• Competição pela plena
utilização da capacidade
instalada e cortes de custos
• Competição Global
• Sistemas flexíveis de
produção/pequenos mercados
de nicho
• Estruturas organizacionais
flexíveis e horizontais
• Competição pela inovação,
diversificação e subcontratação.
Esgotamento do fordismo e as
novas práticas de produção
O Japão liderou a nova trajetória de
inovações organizacionais voltadas
para:
– redução de desperdícios
– aumento da qualidade,
– cooperação intra e interindustrial
– uso intensivo de informação e
conhecimento.
Origem das teorias econômicas
evolucionistas ou neoschumpeterianas
• Chris Freeman resgata o estudo dos ciclos
econômicos de Schumpeter, mostrando como
a difusão de inovações está no centro dos
movimentos cíclicos da economia mundial.
• Nelson e Winter (1982) iniciaram uma linha de
investigações, apoiada em Schumpeter,
Simon, Penrose e Marris e em conceitos
transpostos da biologia evolucionista, visando
incorporar a questão tecnológica das teorias
da firma.
•
Neo-schumpeterianos e
evolucionistas
Charles Darwin: “Não é o mais forte da espécie que
sobrevive, nem o mais inteligente; mas sim, o que
melhor se adapta às mudanças.”
• A competitividade de uma empresa em uma
atividade particular é definida como um conjunto de
competências tecnológicas diferenciadas, de ativos
complementares e de rotinas.
• Tais competências são geralmente tácitas e não
transferíveis, conferindo à firma um caráter único e
diferenciado.
• A competitividade de uma empresa em
uma atividade particular é definida pelos
evolucionistas como um conjunto de
competências tecnológicas diferenciadas,
de ativos complementares e de rotinas.
Tais competências são geralmente tácitas e
não transferíveis, conferindo à firma um
caráter único e diferenciado. A evolução da
firma depende da transformação das
competências secundárias em centrais, à
medida que surgem oportunidades
tecnológica
Diferenças entre as teorias evolucionistas
neoclássicas e das teorias da organização
industrial
1) Consideram que dinâmica econômica é baseada em
inovações em produtos, processos e nas formas de
organização da produção.
2) descartam o princípio de racionalidade invariante
(ou substantiva) dos agentes econômicos.
3) rejeita qualquer tipo de equilíbrio de mercado,
conforme proposto pela teoria neoclássica, na
medida em que não é possível alcançá-lo em
ambiente coletivo de flutuações de agentes
individuais com rotinas e capacitações distintas.
Paradigma Estrutura, Conduta e Desempenho
• Tem origem na obra de Joe Bain como ferramenta básica
de análise que argumenta que o desempenho é
resultado da conduta das firmas, que por sua vez é
determinada pelas características da estrutura de
mercado
• A Estrutura descreve as características e composição dos
mercados e indústrias na economia, ou seja, refere-se ao
grau de concentração, e das condições básicas deoferta e
demanda.
• Conduta refere-se ao comportamento das firmas no
mercado e busca responder como se estabelecem os
preços.
• Desempenho busca avaliar se as operações das firmas
Críticas ao paradigma E-C-D
• Schumpeter criticou a excessiva preocupação dos
economistas contemporâneos com a estrutura dos
mercados – concorrência e oligopólio: A busca de
posições monopólicas não é considerada em si uma
prática danosa à concorrência, mas o seu móvel
principal.
• Implicações para as políticas de concorrência: A cadeia
de causalidade entre estrutura da industria, a conduta
da empresa e o desempenho econômico, que passou a
admitir a influência mútua dos fatores: O desempenho,
assim como a conduta, também influencia a estrutura
de mercado.
Abernathy e Utterback (1975)
• A evolução tecnológica causa um padrão particular
de evolução da firma e da estrutura da indústria. Nos
estágios iniciais de uma indústria, firmas tendem a
ser pequenas e a entrada no mercado relativamente
fácil, refletindo a diversidade de tecnologias
empregadas e sua rápida mudança.
• Contudo, quando um padrão dominante emerge, e
processos de produção especializados são
desenvolvidos, barreiras à entrada começam a
crescer e aumentam a escala e o capital necessários
para produzir competitivamente.
Modelo
de
inovação
processo e
produto
de
Abernathy
-Utterback
• Fluid phase: Antes da emergência de um padrão ou projeto
dominante há pouco P&D orientado para melhorar o processo
produtivo, porque o projeto do produto é instável e o mercado para
cada produto é pequeno.
• Transitional phase Um padrão dominante emerge na, e processos de
produção especializados são desenvolvidos aumentando a escala e o
capital necessários para produzir competitivamente.
Aprendizado Cumulativo
• Processo no qual a repetição e a
experimentação faz com que, ao longo do
tempo, as tarefas sejam efetuadas de forma
mais rápida e melhor e que as novas
oportunidades operacionais sejam
efetivamente experimentadas.
• A aprendizagem é cumulativa e coletiva (no
âmbito da firma) e depende
fundamentalmente de rotinas organizacionais
codificadas ou tácitas.
A Visão Neo-Institucionalista da Tecnologia
• Aspectos institucionais afetam o comportamento econômico
North (1990), atribui o desenvolvimento das nações à
natureza de suas instituições. As instituições de hoje guardam
fortes conexões com as de ontem; daí a importância da
trajetória institucional ou path dependency.
• Nenhum arranjo institucional pode ser definido como
“ótimo”, pois eles são frutos de contingências culturais e
políticas típicas de cada país. Em alguns países as instituições
se desenvolveram de forma a favorecer o progresso
econômico, enquanto em outros países não. O ambiente
institucional determina as oportunidades de lucro,
direcionando as decisões e o processo de acumulação de
conhecimentos das organizações, gerando trajetórias
virtuosas ou viciosas.
Velhos Institucionalistas: A Escola Americana
• A Escola Institucionalista surgiu no final do século XIX nos
Estados Unidos por meio de Thorstein Veblen, John Commons e
Wesley Mitchell e foi muito influenciada pela Escolas Historicistas
alemã e inglesa.
• Eles criticaram as teorias econômicas neoclássicas e
principalmente os apologistas que dominavam a cena americana,
que teriam pretensões universalistas sobre o funcionamento das
“leis” econômicas.
• Os Institucionalistas argumentavam que o mundo econômico
não era imutável e sim condicionado pela influencia de uma
história em constante mutação que afeta o indivíduo, as
instituições e a sociedade que o cerca. Consideram que o mundo
econômico é afetado por fatores históricos, sociais e institucionais
que limitam as teorias sobre o seu funcionamento.
Novos Institucionalistas
• A Nova Escola Institucionalista se refere as correntes de
pensamento que procuram explicar instituições
políticas, sociais e econômicas tais como governo, leis,
mercados, firmas, convenções sociais, família, etc. a
partir da teoria econômica neoclássica.
• Os novos institucionalistas são influenciados pela Escola
de Chicago e usam a economia neoclássica para explicar
áreas sociais normalmente consideradas fora da esfera
econômica. Por isso, podem ser vistos como a antítese
da velha Escola Institucionalista Americana que procura
aplicar os princípios de outras ciências sociais na
economia.
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