• • • • • • • • • TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO Teoria dos Pólos de Crescimento - PERROUX, F. A . Teorias da Base de Exportação - NORTH, D.C. Teoria do Desenvolvimento Desigual - MYRDAL, G. Teoria das Etapas do Desenvolvimento - Rostow. O Modelo de Desenvolvimento Econômico com oferta ilimitada de mão de obra – Lewis, A. A Teoria do Grande Impulso (Big Push) – Rosenstein – Rodan; O Círculo Vicioso da Pobreza - Nurkse, R.; Os efeitos de encadeamento e o caráter desequlibrado do processo de desenvolvimento (desigual) – Hirschman, A.; Teoria do Desenvolvimento – Schumpeter, A. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL No período pós-II Guerra, a problemática regional discutida por diversos teóricos influenciou fortemente o planejamento econômico regional nos países periféricos, especialmente na América Latina. O processo de desenvolvimento econômico não ocorre de maneira igual e simultânea em toda a parte. É um processo bastante irregular e desigual no espaço , fortalecendo áreas/regiões mais dinâmicas e que apresentam maior potencial decrescimento. Desenvolvimento econômico desiquilibrado – atuação do Estado no processo de desenvolvimento ( políticas de desenvolvimento regional) O processo de determinação da renda urbana (desenvolvimento econômico desigual) é a expressão e a causa do movimento do capital no espaço (concentração do capital na economia capitalista). O processo de crescimento se manifesta em pontos ou pólos com intensidades diferentes. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL • Teoria dos Pólos de Crescimento François Perroux (19 de dezembro de 1903 a 2 de junho de 1987) foi um economista francês. Foi Professor do Collège de France, depois de ensinar na Universidade de Lyon e na Universidade de Paris. Ele elaborou sua teoria dos pólos de crescimento em 1955, quando estudou a concentração industrial na França, em torno de Paris, e na Alemanha, ao longo do Vale do Ruhr (Perroux, 1977). Jacques Boudeville Raoul, nascido em 1919, é um economista francês e seguidor de Perroux. Ele se especializou em economia dos territórios. Teoria dos Pólos de Crescimento: François Perroux e Jacques R. Boudeville A noção de espaço - descarta o conceito de espaço euclidiano e utiliza o conceito matemático de espaço abstrato, sendo este mais adequado para analisar as interrelações econômicas. Desta forma existiriam tantos espaços econômicos quantos fossem os fenômenos econômicos estudados. Espaço vulgar (ou geonômico) é o local onde situam os meios materiais e pessoais (local de funcionamento de uma atividade produtiva) Teoria dos Pólos de Crescimento: François Perroux e Jacques R. Boudeville Três espaços econômicos: 1) Espaço definido como conteúdo de um plano, sendo este o conjunto das relações estabelecidas entre a empresa, seus fornecedores de input (matérias-primas, mão-de-obra, capital) e seus compradores de output (intermediários e finais). Este plano é mutável no tempo, independe de seu espaço vulgar e é instável, o que dificulta sua representação cartográfica; Teoria dos Pólos de Crescimento: François Perroux e Jacques R. Boudeville Três espaços econômicos: 2) Espaço definido como campo de forças, constituído por centros (pólos ou sedes) de emanação de forças centrífugas e recepção de forças centrípetas. A empresa atrai ao seu espaço vulgar homens e coisas (elementos econômicos) ou afasta-os dele, determinando sua zona de influência econômica. Teoria dos Pólos de Crescimento: François Perroux e Jacques R. Boudeville Três espaços econômicos: 3) Espaço definido como conjunto homogêneo. As relações de homogeneidade dizem respeito às unidades e sua estrutura ou às relações entre estas unidades. Quaisquer que sejam as coordenadas no espaço vulgar, as empresas localizam se no mesmo espaço econômico. A determinação dos espaços econômicos é bastante complexa, pois “o espaço da economia nacional não é o território da nação, mas o domínio abrangido pelos planos econômicos do governo e dos indivíduos” (PERROUX, 1967, p.158). Teoria dos Pólos de Crescimento: François Perroux e Jacques R. Boudeville O processo de crescimento irregular: “o crescimento não surge em toda parte ao mesmo tempo; manifesta-se com intensidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento; propaga-se, segundo vias diferentes e com efeitos finais variáveis, no conjunto da economia” (PERROUX, 1967, p. 164). • Crescimento desigual consiste no aparecimento e desaparecimento de indústrias e em taxas de crescimento diferenciadas para as diversas indústrias no decorrer do tempo. • O aparecimento de uma indústria nova (ou grupos de indústrias) que produz efeitos de propagação na economia através de preços, fluxos e antecipações desempenha o papel da indústria motriz no complexo de indústrias e no crescimento dos pólos de desenvolvimento.’ Indústrias motrizes são aquelas que “mais cedo do que as outras, desenvolvem-se segundo formas que são as da grande indústria moderna” (PERROUX, 1967, p. 166), cujas taxas de crescimento do seu próprio produto são mais elevadas do que a taxa média de crescimento do produto industrial e do produto da economia nacional durante determinados períodos. Estas indústrias exercem ações específicas sobre outras indústrias e sobre a economia como um todo, pois seu lucro é função não apenas de seu volume de produção e de compra de serviços, mas também do volume de produção e compra de serviços de outras empresas, ou seja, as firmas estão ligadas pelo preço e pela tecnologia, o que caracteriza economias externas e evidencia a importância das interrelações industriais. O processo de crescimento econômico compreende três elementos na sua análise: 1) Indústria-chave. A Indústria, denominada MOTRIZ, tem a propriedade de, mediante o aumento do seu volume de produção e de compra de serviços produtivos, aumentar o volume de produção e compra de serviços de outra(s) indústria(s) as quais são chamadas de indústria MOVIDA. 2) Regime não concorrencial. Combinação de forças oligopolísticas responsáveis por elevar a produtividade da indústria implicando acumulação de capital superior àquela que resultaria de uma indústria sujeita a um regime maior de concorrência e por consequencia gerando um crescimento econômico instável e desequilibrado entre as regiões. 3) Concentração territorial do complexo (num pólo industrial complexo geograficamente concentrado e em crescimento, registram-se efeitos de intensificação das atividades econômicas devido à proximidade e a concentração urbana: diversificação do consumo, necessidades coletivas de moradia, transportes e serviços públicos, rendas de localização, etc., pois o pólo transforma seu meio geográfico imediato). O pólo de desenvolvimento é uma unidade econômica motriz ou um conjunto formado por várias dessas unidades que exercem efeitos de expansão, para cima e para baixo, sobre outras unidades que com ela estão em relação. Para Perroux a noção de pólo só tem valor a partir do momento em que se torna instrumento de análise e meio de ação de política, ou seja, o mesmo só pode ser entendido como uma visão abstrata de espaço. A economia nacional apresenta-se como uma combinação de conjuntos relativamente ativos (indústrias motrizes, pólos de indústria e de atividades geograficamente concentradas) e de conjuntos relativamente passivos (indústrias movidas, regiões dependentes dos pólos geograficamente concentrados). • Desenvolvimento econômico – Pólos de desenvolvimento (estratégia fundamental) “A nação do século XX encontra nos pólos de desenvolvimento a sua força e o seu meio vital” (Perroux, 1967, p. 204). • A produção do pólo é tecnicamente necessária ao desenvolvimento nacional; do seu desempenho depende a vida da região, pois através de seus efeitos de complementaridade e concentração são estimuladas zonas de desenvolvimento. A importância da atuação do Estado no desenvolvimento de uma região segundo Perroux (1967, p. 213): As noções de espaço segundo Boudeville . O espaço seria uma realidade concreta, ao mesmo tempo, material e humana (relações existentes entre dois conjuntos, das atividades econômicas e dos lugares geográficos). Este espaço é mutável e distinto: 1) Espaço homogêneo caracteriza-se de acordo com sua maior ou menor uniformidade (ponto de vista econômico); 2) Espaço polarizado (interdependências e hierarquias das aglomerações urbanas); 3) Espaço programa/plano (centro de decisão e do objetivos da política de desenvolvimento regional). Crescimento econômico desigual ou irregular: Boudeville refere-se à necessidade de políticas econômicas para harmonizar o crescimento, enquanto Perroux considerava o plano de ação como sendo de unidades produtoras (a indústria motriz), apenas referindo-se a possibilidade dessa unidade ser estatal. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL Teoria da causação circular e cumulativa de Myrdal Gunnar Myrdal (Gustafs, 6 de Dezembro de 1898 — Estocolmo, 17 de Maio de 1987) foi um economista sueco socialista. Myrdal formou-se em Direito na Universidade de Estocolmo em 1923 onde se doutorou em Economia, em 1927. Estudou nos Estados Unidos, como bolsista da Fundação Rockefeller, em 1929-30, após o que se tornou professor associado no Instituto de Estudos Internacionais de Genebra, na Suíça. Foi professor de Economia Política (1933-50) e de Economia Internacional (1960-67) na Universidade de Estocolmo. Tornou-se Professor Emérito dessa universidade em 1967. Ganhador do prêmio Nobel de 1974 A teoria da causação cumulativa consiste em 4 teses que afirmam que o crescimento das economias regionais tenderiam a divergir ao longo do tempo. 1) A tese básica: conceito de efeitos de polarização ou regressivos de mudanças adversas “backwash effects”. Os efeitos de polarização “backwash effects” aumenta as disparidades regionais, por meio da migração seletiva dos fluxos de capitais das regiões periféricas para as regiões centrais; 2) O oposto ou tese excepcional: o conceito de efeitos propulsores (propagação) “spread effects”; 3) Tese relacionada ao escopo da análise (não somente fatores econômicos): a ideia da importância de fatores institucionais ; 4) A tese de implicações políticas. Os “efeitos de retroação” (backwash effects) são os resultados perversos que o desenvolvimento de uma região gera sobre as demais. Os “efeitos difusão” (spread effects) ou forças centrífugas levam ao transbordamento do impulso de desenvolvimento para as regiões atrasadas. Essas forças contrabalançariam, em parte, os efeitos de retroação, mas não seriam, por si só capazes de garantir um desenvolvimento regional mais equilibrado. Por isso Myrdal defende a intervenção pública (governo). Myrdal destaca a importância de Estados Nacionais integrados e da sociedade organizada, visto que intervenções públicas podem contrabalançar/neutralizar a lei de funcionamento do sistema de causação circular cumulativa, minimizando as disparidades entre as regiões. O Processo de Causação Circular Cumulativa causação circular e acumulativa: haveria mecanismos que, uma vez iniciados, seriam mutuamente reforçados pelas forças de mercado e conduziriam as regiões por caminhos divergentes. Surto de crescimento em uma determinada região por uma razão fortuita atração de recursos produtivos (trabalho, capital e espírito empreendedor) de outras regiões ampliação do mercado e novos empreendimentos gerando mais lucro e mais poupança e, em consequência, outra rodada de investimentos O Processo de Causação Circular Cumulativa Ocorre uma migração seletiva para as regiões mais ricas podendo reforçar ainda mais essa tendência de desigualdade. Os imigrantes são os mais empreendedores e capazes, ao passo que as regiões perdedoras tenderiam a reter os trabalhadores menos produtivos. Também em relação ao capital, o sistema bancário o fará fluir das regiões estagnadas para as regiões dinâmicas, ampliando a desigualdade regional. O Processo de Causação Circular Cumulativa Myrdal Investiga as disparidades econômicas existentes entre países, classificados em dois grupos: 1) Os países “desenvolvidos” (altos níveis de renda per capita, integração nacional e investimento – Europa Ocidental); 2) Os países “subdesenvolvidos” (níveis de renda per capita e índices de crescimento baixos - África e a América Latina). Há disparidades de crescimento dentro dos próprios países, nos desenvolvidos existem regiões estagnadas e nos subdesenvolvidos existem regiões prósperas. O Processo de Causação Circular Cumulativa Segundo Myrdal, a hipótese do equilíbrio estável da teoria econômica não é insuficiente para explicar complexidade do sistema econômico. A separação entre fatores econômicos e nãoeconômicos limita análise, pois estes últimos podem ser relevantes para a explicação do processo de crescimento. Myrdal usa sua teoria, baseada em um processo de causação circular cumulativa, para explicar a dinâmica econômica regional entre e dentro de países –, a qual afirma que o sistema econômico é eminentemente instável e desequilibrado. O Processo de Causação Circular Cumulativa O processo cumulativo pode ocorrer nas duas direções, positiva e negativa, e o mesmo, se não regulado tende a aumentar as disparidades entre regiões. Não há uma tendência automática das forças econômicas em direção a um ponto de equilíbrio (equilíbrio estável). O ciclo vicioso explica como um processo se torna circular e cumulativo, no qual um fator negativo é ao mesmo tempo causa e efeito de outros fatores negativos: “O conceito implica, obviamente, uma constelação circular de forças que tendem a actuar e reagir uns sobre os outros, de tal maneira a manter um país pobre num estado de pobreza” (MYRDAL, 1957, p.11) O Processo de Causação Circular Cumulativa A Teoria da Causação Circular Cumulativa analisa as interrelações causais de um sistema social enquanto o mesmo se movimenta sobre a influência de questões exógenas Esta teoria identifica os fatores que influenciam o processo de causação circular cumulativa, quantificando como os mesmos fatores interagem e influenciam uns aos outros e como são influenciados por fatores exógenos. Os fatores exógenos movem o sistema continuadamente, ao mudarem a estrutura das forças dentro do próprio sistema, justificando assim a intervenção pública. O Processo de Causação Circular Cumulativa Processo de causação circular explica uma infinidade de relações sociais - por exemplo - a perda de uma indústria em determinada região desemprego e diminuição da renda e da demanda do setor e das demais atividades da região (processo de causação circular cumulativa em um ciclo vicioso ) Se não houver mudanças exógenas nesta localidade, a mesma se tornará cada vez menos atrativa, de tal forma que seus fatores de produção (capital e trabalho) migrarão em busca de novas oportunidades, provocando uma nova diminuição da renda e da demanda local. O Processo de Causação Circular Cumulativa Segundo Myrdal se as forças de mercado não forem controladas por uma política intervencionista, a tendência à concentração espacial das atividades econômicas e culturais em determinadas localidades deixa o resto do país relativamente estagnado. Os efeitos regressivos ou de polarização “backwash effects” aumentam as disparidades regionais por meio da migração seletiva dos fluxos de capitais (vazamento de poupança das regiões periféricas) para as regiões ricas e avançadas. O Processo de Causação Circular Cumulativa .O processo de causação circular pode ser desencadeado por vários fatores que não são considerados na análise das forças de mercado (sistema de transportes, a qualidade do ensino e da saúde pública, etc). Mudanças adversas nestes fatores, originadas fora da região, são consideradas “backwash effects”. Os efeitos propulsores “spread effects” agem em direção contrária aos “backwash effects”. Representam ganhos obtidos pelas regiões estagnadas por meio do fornecimento de bens de consumo e/ou matérias-primas para a região em expansão, bem como os transbordamentos de novas tecnologias. O Processo de Causação Circular Cumulativa O processo cumulativo explica a causa da diminuição das disparidades regionais nos países desenvolvidos e o aumento da mesma nos países subdesenvolvidos: Quanto maior o nível de desenvolvimento econômico de um país, maiores os “spread effects” e mais facilmente os “backwash effects” são neutralizados. Nas regiões pobres ocorre o contrário, o baixo nível de desenvolvimento minimiza os “spread effects” justamente pela existência de grandes disparidades, ou seja, estas representam um dos maiores impedimentos para o progresso. Os “spread effects” são função do próprio nível de desenvolvimento e, portanto, são mais elevados nos países ricos. O Processo de Causação Circular Cumulativa O Estado deve agir, por meio de políticas públicas de forma mais ativa, para inibir a tendência concentradora do processo cumulativo. O propósito principal da política governamental deve ser estimular os “spread effects” entre regiões e ocupações. Mas esta intervenção não deve considerar apenas questões econômicas (mercado), mas também sociais de tal forma a garantir o desenvolvimento nacional. TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL Os efeitos de encadeamentos de Hirschman Albert Otto Hirschman (nasceu em 7 de Abril de 1915) é um influente economista que escreveu vários livros sobre economia política. Sua maior contribuição foi na área de desenvolvimento econômico, enfatizando o crescimento desequilibrado entre os países. O seu livro A estratégia do desenvolvimento econômico deu grandes contribuições ao desenvolvimento regional. Desenvolvimento Desigual e Transmissão Interregional do Crescimento Segundo Hirschman, o crescimento econômico seria alcançado por meio de uma sequência de desajustes. Os desequilíbrios seriam a forma de as economias (ou regiões) periféricas potencializem seus recursos escassos. Nos termos do próprio Hirschman (1958, p. 36), “... As desigualdades internacionais e interregionais de crescimento são condição inevitável e concomitante do próprio processo de crescimento”. Hirschman discute a questão regional usando os conceitos de efeitos para frente (forward linkages) e para trás (backward linkages). Desenvolvimento Desigual e Transmissão Interregional do Crescimento Os efeitos para trás são a forma encontrada por Hirschman (1958) para expressar as externalidades decorrentes da implantação de indústrias, que, ao aumentarem a demanda de insumos no setor a montante (para trás ou para nascente) , viabilizariam suas escalas mínimas de produção na região determinada. Os efeitos para frente, por sua vez, resultariam da oferta de insumos, que tornaria viáveis os setores que se posicionassem a jusante (para a frente ou para poente). Desenvolvimento Desigual e Transmissão Interregional do Crescimento sob a ótica de Albert O. Hirschman O objetivo do estudo elaborado por Hirschman (1958) é analisar o processo de desenvolvimento econômico e como o mesmo pode ser transmitido de uma região (ou país) para outra. A teoria focada na dinâmica essencial do progresso de desenvolvimento econômico, considerando que este não ocorre simultaneamente em toda parte e que tende a se concentrar espacialmente em torno do ponto onde se inicia, o que é fundamental para uma análise estratégica do mesmo (estratégia do desenvolvimento econômico). Desenvolvimento Desigual e Transmissão Interregional do Crescimento sob a ótica de Albert O. Hirschman O planejamento do desenvolvimento deve consistir no estabelecimento de estratégias sequenciais, considerando que a utilização dos recursos tem impactos diferenciados sobre os estoques disponíveis, conduzindo a formação de capital complementar em outras atividades de acordo com a capacidade de aprendizado local. O problema do crescimento econômico não é a escassez de recursos mas a incapacidade de dinamizá-los. O diagnóstico do crescimento econômico tem uma característica especial: ele não está preocupado com a falta de um ou mesmo de vários fatores ou elementos (capital, educação etc) que devem ser combinados com outros elementos para produzir o desenvolvimento econômico, mas com a eficiência em combiná-los no processo produtivo. Nosso diagnóstico: os países falham em tirar vantagens do seu desenvolvimento potencial por razões extremamente relacionadas às mudanças ( image of change), acham dificil tomar decisões necessárias para o desenvolvimento em números e velocidades requeridos (corretos) [Hirschiman, 1958]. A escassez de determinados fatores ou prérequisitos da produção deve ser interpretada como uma manifestação da deficiência na organização do país. Assim, Hirschman defende mecanismos de intervenção para efetivar as oportunidades de investimento locais. Para ele, o desenvolvimento é resultado da capacidade de investir, que depende dos setores mais modernos da economia e do empreendedorismo local. Hirschman discorda que o desenvolvimento ocorre simultaneamente em muitas atividades. Na realidade, o desenvolvimento ocorre como uma cadeia de desequilíbrios durante longo período de tempo, cuja simultaneidade é apenas parcial. O crescimento inicia-se nos setores líderes e transfere-se para os seguintes (satélites) de forma irregular/desequilibrada (conceito de investimento induzido). As decisões de investimento (ranking de preferências de projetos de acordo com o retorno social dos mesmos) tornam-se a principal questão da teoria sobre o desenvolvimento elaborada por Hirschman e principal objeto de política econômica. A seqüência de escolha de projetos é um importante aspecto do processo de desenvolvimento e evidencia que investimentos isolados obtêm sucesso apenas durante determinado período. A determinação da sequência ótima dos projetos de investimentos requerer a diferenciação de projetos baseados em atividades básicas (infraestrutura, educação etc) e a atividades produtivas (primária, secundária e terciária). A sequência ideal entre projetos de investimento deve obter uma combinação entre estes tipos de investimento que maximize o retorno das atividades produtivas e minimize os custos envolvidos, já que os recursos são escassos. O investimento deve priorizar o setor chave da economia, o qual tem efeitos de encadeamentos (ligação) para trás e para frente no processo produtiva acima da média (grau de interdependência entre setores). Os efeitos de encadeamento para trás “backward linkage effects” são os relacionados à compra de insumo (inputs) de outras atividades, e os efeito de encadeamento para frente “forward linkage effects” são aqueles relacionados ao fornecimento de inputs para outras atividades. A indústria chave (mestre) pode induzir o surgimento de várias outras, chamadas indústrias satélites. A falta de interdependência setorial e, consequentemente, os baixos linkage effects, constituem uma das principais características das economias subdesenvolvidas e dominadas por atividades tradicionais (têxtil, alimentos, calçados etc). A adoção de políticas intervencionistas (tarifas, subsídios, etc.) de estímulos ao desenvolvimento de indústrias mestres nos países subdesenvolvidos é necessária para que estes setores chave maximizem os linkage effects. Para completar sua análise, Hirschman discute como o crescimento é transmitido de uma região (ou país) para outra (o processo de desenvolvimento implica inevitavelmente em diferenças nos níveis de crescimento regionais e internacionais). Os investimentos devem ser concentrados no ponto de crescimento inicial durante determinado período, o que auxilia a consolidação do crescimento econômico. Duas regiões: Norte, desenvolvida, e Sul, subdesenvolvida. O crescimento do Norte tem uma série de implicações sobre o Sul, algumas favoráveis (efeitos de encadeamentos compras do Sul - economias são complementares) outras desfavoráveis(aumento da competitividade e do poder de barganha do Norte, além da migração seletiva). Mas mesmo com os efeitos desfavoráveis, o Sul pode crescer a partir da expansão do Norte. Comparando a transmissão do crescimento entre países e entre regiões, Hirschman destaca que no âmbito internacional a transmissão é muito mais suave devido aos próprios obstáculos existentes entre Estados Nacionais (legislação, cultura, língua, religião, etc.). TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO REGIONAL A Teoria da Base de Exportação Douglass C. North Douglass Cecil North (Cambridge, 5 de Novembro de 1920) é um economista estadunidense. Historiador econômico e ganhador do prêmio Nobel Douglass North (1955). A Teoria da Base de Exportação A Teoria da Base de Exportação foi elaborada por North na década de 50 devido às inadequações, segundo o mesmo, das teorias da localização e do crescimento regional para explicar a dinâmica da economia norte americana, que não correspondia à sequência de estágios de desenvolvimento. Este autor contesta que o desenvolvimento regional teria ocorrido em etapas sucessivas: regiões agrícolas autossuficientes, especialização do comércio entre as regiões em decorrência da redução dos custos de transporte, e alcançariam, com os retornos decrescentes no setor primário e o aumento da população, a industrialização e a especialização dessas atividades secundárias. North argumenta que essa sequência de desenvolvimento regional talvez se aplique ao caso da Europa, mas não se aplicaria a outras experiências, como a das Américas. Ele observa-se uma baixa capacidade de explicação das teorias clássica de localização sobre a dinâmica regional. De acordo com North, a história econômica do Pacífico Noroeste dos EUA, cujo desenvolvimento foi baseado na produção e exportação de três produtos principais (trigo, farinha e madeira). A taxa de crescimento esteve diretamente relacionada às exportações básicas. Todo o desenvolvimento da região dependeu desde o início de sua capacidade de produzir artigos exportáveis. North desenvolveu então o conceito de base de exportação para designar coletivamente os produtos exportáveis de uma região, quer primários, secundários ou terciários. Essa exportação refletia uma vantagem comparativa nos custos relativos da produção da região, e, tais regiões cresciam em torno desta base gerando economias externas. A base de exportação desempenha assim papel fundamental na conformação da economia de uma região e em seus níveis de renda absoluta e per capita e, consequentemente, na determinação da quantidade de atividades locais, secundárias e terciárias. North descreve o desenvolvimento regional a partir do surgimento de uma atividade de exportação baseada em fatores locacionais específicos. As atividades ligadas a esse setor são chamadas de base exportadora, cujos efeitos sobre a economia local são também indiretos. A atividade de exportação induz, dessa forma, o surgimento de polos de distribuição e cidades, nas quais começam a se desenvolver atividades de processamento industrial e serviços associados ao produto de exportação. A diversificação setorial para North é o resultado do sucesso das atividades de base e não o resultado do esgotamento do setor primário. Críticas à teoria da base exportadora de North Argumentos de Tiebout (1958): 1) Essa teoria depende da delimitação da região. Se a região expande seus limites, aquilo que é considerado exportação passa a ser um componente interno à região e não da base; 2) North ignorou a possibilidade de que uma melhor alocação de fatores poderia levar, inclusive, a uma redução das exportações; 3) A teoria da base não chega a ser uma teoria de desenvolvimento, sendo, na melhor das hipóteses, uma teoria da determinação da renda no curto prazo que mostra uma relação causal entre as atividades exportadoras e a atividade total de uma região. Críticas à teoria da base exportadora de North Quatro anos após a publicação de seu trabalho clássico, North (1959) revê seus argumentos e questiona a exportação de produtos agrícolas como uma forma inequívoca de alavancar o desenvolvimento regional. North afirma que, caso a atividade primária seja baseada em grandes propriedades, seus efeitos econômicos sobre a região serão limitados. Perfis de demanda concentrados levariam, de um lado, à produção de bens de subsistência para os mais pobres e, de outro, à importação de bens de consumo de luxo para a elite. (Economia dual de Celso Furtado). A produção de manufaturados ficaria restrita e a região teria seu crescimento abortado mais cedo ou mais tarde, quando retornos decrescentes surgissem na atividade principal. Dualismo econômico ou estrutural é caracterizado por sistemas econômicos nos quais obsersava-se a coexistência de setores pré-capitalistas e capitalistas. Economia dual, dividida em dois setores: o moderno (setor capitalista) e o arcaico ou tradicional (setor précapitalista). O setor moderno, voltado à exportação, e o arcaico, representado pela produção de subsistência e por outras atividades econômicas voltadas a atender o setor exportador. O setor moderno exportador apresenta pouca capacidade de induzir internamente a diversificação das estruturas econômicas, sendo responsável, quando muito, pela possibilidade de desenvolvimento de atividades acessórias – inclusive industriais – de características tradicionais e com baixa produtividade. Os conceitos de base de exportação, de economias externas são desenvolvidas por Jane Jacobs na sua teoria sobre o crescimento econômico das cidades. As próprias cidades possibilitam o avanço das mais variadas atividades, inclusive agrícolas, devido às facilidades, inovações e especializações existentes nas mesmas. Segundo Jacobs (1969), para crescer é essencial exportar e produzir internamente bens e serviços para a atividade exportadora e o mercado local. Uma cidade (região ou país) cresce através de um processo de diversificação e diferenciação gradual de sua economia, estimulado por um trabalho exportador (inicialmente recursos naturais, artesanato, etc.) e uma produção voltada para o mercado interno. No decorrer do processo de crescimento econômico, através da adição de novo trabalho na economia, é essencial que os produtos internos passem a ser exportados e que novos produtos sejam criados para o mercado interno. Ou seja, adicionar novo trabalho é fundamental para criar e recriar economias. Economias que não criam novas atividades e novos tipos de bens e serviços não conseguem se desenvolver, pois é somente assim que o trabalho se diversifica e se expande. Para a economia desenvolver é essencial o crescimento do produto e a adição de trabalho em diferentes períodos de tempo, ou seja, para prosperar é preciso inovar (adicionar trabalho) e diversificar (substituir por trabalho local atividades antes importadas) continuadamente. O efeito multiplicador das exportações - gera renda, estimula o emprego local e viabiliza o aumento das importações. O efeito multiplicador das importações à medida que as cidades crescem e apreendem o modo de produção de determinados produtos, elas substituem importações, desde que economicamente viáveis, com novo trabalho local. A substituição de importações é a chave para o processo de crescimento da cidade. A “decolagem” como alternativa para o crescimento econômico Walt. W. Rostow é de nacionalidade norte-americana e nasceu em Nova York em 7 de outubro de 1916. Graduou-se em História Econômica na Universidade de Yale, em 1936. Após dois anos obteve o doutorado pela mesma instituição. Rostow teve importante papel no governo norte-americano, ao participar da “estratégia Truman”, inédito e vigoroso programa de apoio ao desenvolvimento de países atrasados, conhecido como Programa Ponto IV. Vale acrescentar que Rostow teve uma participação muito ativa entre o trabalho acadêmico e de policy marker. Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se digladiava com a União Soviética (URSS) na chamada Guerra Fria. O governo Truman (1945-1953) instituiu o programa Ponto IV, estabelecendo o primeiro acordo efetivo de aliança entre os países latino-americanos e os Estados Unidos. O objetivo central do Programa é a exportação de tecnologia agrícola e treinamento de pesquisadores para a América Latina. Neste mesmo período, do lado dos países latino-americanos era clara a insatisfação com os Estados Unidos por ter formulado o Plano Marshall para a Europa, reivindicando um programa semelhante. Os Estados Unidos temendo que o comunismo avançasse na América Latina formulou o Programa Ponto IV. Uma das principais influências recebida por Rostow foi do professor Kuznets acerca do método de abordagem do desenvolvimento aplicando a análise setorial e sub-setorial. Para Kuznets (1986[1966]), o crescimento econômico está investido pela utilização das variáveis da renda per capita da população, em paralelo com o crescimento demográfico. Logo, se há um crescimento demográfico maior do que a renda per capita, haverá baixo desempenho econômico. A metodologia utilizada por Kuznets é determinada pelos dados quantitativos. Para o teórico, o crescimento dos dados econômicos no setor agrícola, no setor industrial e no setor de serviços no produto nacional bruto dos países (PIB) contribui para o crescimento da economia. O crescimento econômico para Kuznets diz respeito ao avanço tecnológico em uma economia, o que estimula a demanda por novos produtos industriais, ao mesmo tempo em que é verificado a redução na demanda por produtos agrícolas nestes países. Obras de referência de Rostow: • Etapas do desenvolvimento econômico, um manifesto não comunista, publicada originalmente em 1960; • O Processo de Crescimento Econômico, publicada em 1952; • A decolagem para o crescimento autosustentado, publicado em 1956. Para Rostow a conjuntura econômica e política após a Segunda Guerra Mundial revela que os principais entraves para a análise moderna da renda são a inflação, o desemprego e o perigoso avanço comunista em direção aos chamados países de terceiro mundo. Nessa ocasião, foi requisitada pelo presidente Truman a ajuda de Rostow na formulação de estratégias para executar políticas desenvolvimentistas em países em atraso econômico. Neste período o teórico dividia-se entre a sua atuação na academia e a atividade política, ocupando diversos cargos no governo americano A tese de Rostow está fortemente vinculada à questão do crescimento econômico sob as circunstâncias de pobreza e atraso econômico em um país em condições de decolagem, a exemplo das principais potências da Europa e outras grandes potências mundiais (GrãBretanha, França, Itália, Alemanha, Estados Unidos, Japão) antes de alcançarem o desenvolvimento econômico. A ferramenta metodológica utilizada por Rostow para medir o grau de desenvolvimento econômico dos países é a “decolagem”. Assim, o conceito de decolagem parte de três condições inter-relacionadas: 1) incremento na taxa de investimento produtivo; 2) desenvolvimento de um ou dois setores manufaturados básicos; 3) aproveitamento dos impulsos expansionistas do setor moderno vindo de fora, de modo que o acompanhe internamente. O conceito de desenvolvimento econômico para Rostow é caracterizado por seis fatores: 1) o nível de produção de uma economia é resultante do volume da força de trabalho, do seu estoque de capital (poupança) e do seu acervo de conhecimentos aplicados; 2) a taxa de crescimento da economia depende da variação da força de trabalho, da poupança e do conhecimento tecnológico; 3) as taxas de variações dependem da interação de rendimentos técnicos e da efetividade das seguintes proposições em instituições econômicas, sociais e políticas da sociedade: propensão de aplicar a ciência na economia; propensão de aceitar as inovações; propensão de obter progressos materiais; propensão ao consumo; propensão a ter filhos; 4) As transformações são chamadas de propensões e são previstas a longo prazo pelas forças econômicas, sociais e políticas, que determinam a estrutura social, as instituições e a política efetiva da sociedade. 5) as propensões que estão vinculadas às decisões econômicas devem ser avaliadas além destas proposições econômicas; 6) caso aconteça uma desaceleração na economia, ele pode influenciar negativamente na qualidade da força de trabalho nas indústrias extrativas e nos investimentos no setor agrícola e industrial. O desenvolvimento econômico na concepção de Rostow compreende três fases: um período longo (um século), onde são reunidas as precondições para a decolagem; a decolagem propriamente dita (definida em uma ou duas décadas); e um período prolongado no qual o crescimento se torna relativamente automático. Afirma Rostow que é preciso passar pelas três fases para estabelecer a decolagem em um país atrasado economicamente. A PRIMEIRA FASE reúne as precondições para a decolagem, da sociedade tradicional que possui a sua economia ancorada na produção agrícola. A ideia de progresso econômico tem o seu lócus na elite estabelecida no poder. Diante do desejo de progresso econômico são mobilizados novos empreendedores, que estão interessados em movimentar as poupanças e se arriscar na busca pelo lucro. Para atender a esta demanda, as instituições surgem com capacidade para mobilizar capital e conceder os empréstimos. O capital básico é expandido principalmente em transportes e comunicações e daí surgem modernas empresas manufatureiras, interessadas em substituir as importações. Todas essas atividades acontecem em sociedades tradicionais com uma base limitada, as técnicas tradicionais utilizadas por estas sociedades são de baixa produtividade. Justamente por isso, há uma rigidez na estrutura social (cito como exemplo a base social do feudalismo) e as instituições estão presas aos valores retrógrados. Na segunda fase, não há transformação dos valores tradicionais (sociedades feudais) pelas pré-condições para a “decolagem”. É na terceira fase que a etapa de decolagem é alcançada e a economia entra no ciclo do progresso econômico sustentado. Na decolagem, o capital per capita aumenta conforme a economia amadurece, a taxa de crescimento é mantida pela inserção de novos setores na economia, não dependendo das indústrias que providenciaram inicialmente a decolagem, as atividades rurais decrescem e o setor industrial é inserido no comércio internacional. A sociedade passa a se readequar perante os novos valores e as exigências impostas pelo novo método de produção. Nos anos 40, aumentou o número de países que disponibilizaram dados sobre a renda nacional. A coleta destes dados proporcionou formular estimativas fundamentadas sobre a poupança e os investimentos. A análise destes dados permitiu Rostow agrupar em quatro tipos as nações “subdesenvolvidas”. Somente é possível um país atrasado economicamente ingressar no desenvolvimento econômico após passar pelas cinco etapas do desenvolvimento, propostas por Rostow: a primeira fase é a sociedade tradicional; seguida pela fase das pré-condições para o arranco; o arranco é a terceira fase; posteriormente, é a fase da maturidade e finalmente a fase da era do consumo. *Na fase da maturidade concilia o avanço da indústria de base para a indústria pautada em produzir produtos que demandam mais tecnologia. Esta fase é posterior a fase de decolagem, diferenciada pelo avanço no campo da tecnologia. Na concepção de Rostow o desenvolvimento econômico abrange as forças sociais, econômicas e políticas. A implicação das forças econômicas é pela via da industrialização e o envolvimento das forças sociais parte do aumento na produtividade, que proporciona o aumento nos investimentos que serão invertidos no recrutamento de mão-de-obra, o que proporciona o crescimento auto-sustentado através da elevação da renda per capita. Para Rostow (1967[1952]) a tradicional teoria econômica neoclássica não é capaz de formular diretrizes para o desenvolvimento dos países atrasados economicamente. Justifica o teórico que a teoria neoclássica foi formulada para atender as flutuações econômicas e resoluções de curto prazo nas economias desenvolvidas. As questões que estão vinculadas ao desenvolvimento econômico podem agrupar-se, como os temas tratadas na Primeira Parte deste livro, em três grandes epígrafes: os determinantes do crescimento de capital, e (capítulos 4 a 6) a composição apropriada dos investimentos corrente. Naturalmente, estão incluídos também, como a análise formal, os elementos qualitativos vinculados a população e o capital. A crescente literatura sobre os problemas práticos do desenvolvimento econômico revela uma consciência dos determinantes fundamentais da população e do crescimento de capital e da influencia que a este respeito exerce o marco social e político (ROSTOW, 1967, p. 230). A passagem das pré-condições para a fase de decolagem é subdividida em duas direções. A primeira direção são os países da Europa, Ásia, África e Oriente Médio, o que implica em modificações na estrutura social, no sistema político e nas técnicas de produção. A segunda direção são os países que nasceram “livres” como os Estados Unidos, a Nova Zelândia, a Austrália e o Canadá. Estes países compartilham algumas características similares e usufruem de abundância em recursos naturais permitindo que deslanche a introdução do progresso e a aceleração do processo de transição. Diferentemente dos países da Europa, que iniciaram a sua marcha para o desenvolvimento pela sociedade tradicional (feudalismo), nas sociedades “livres” o processo de desenvolvimento começa pela fase das pré-condições para a decolagem, ou seja, não há perda de tempo para passar da etapa da sociedade feudal para a etapa das pré-condições de decolagem. Nas sociedades “livres” a passagem para a etapa de decolagem é mais rápido que em outras sociedades, o processo de industrialização é considerado a força motriz capaz de acelerar (queimar etapas) a passagem para as próximas etapas do desenvolvimento, proposto por Rostow. Dessa forma, nestas sociedades há melhores condições para instalar estradas de ferro, portos, rodovias, se inserir no comércio internacional e substituir o modo de produção rudimentar (agricultura) pela industrialização. Para Rostow (1967[1952]) a “decolagem” significa a passagem de uma economia predominantemente agrícola para a industrialização. Para introduzir a “decolagem” em países atrasados economicamente, Rostow recomenda o investimento em vários setores da economia, como o fator que pode alterar os ciclos econômicos. “O processo de decolagem pode ser definido como um aumento do volume e produtividade da inversão em uma sociedade, aumento de tal natureza que dele deriva um aumento sustentado pela renda real per capita. Com adesão a este modelo, o aumento pode ter conseqüência de um movimento provido de rendimentos ou de propensões” (ROSTOW, 1967, p. 103). Adverte Rostow: a “decolagem” de cada sociedade obedece a um período de maturação diferente. A inversão realizada de modo planejado pelo Estado em um setor estratégico (ou setor chave) na economia é capaz de proporcionar crescimento, de modo que influencie e até proporcione o crescimento em outros setores da economia. Com efeito, Rostow (1961[1960]) pondera a importância do Estado Nacional na passagem da fase das precondições para a fase da “decolagem” em uma economia. Para realizar esta passagem é preciso que uma nova elite ocupe o poder, no lugar da tradicional elite (composta por latifundiários), para ter condições de construir uma sociedade industrial moderna. O nacionalismo reativo é um fator importante para a saída da estagnação econômica, recusando a colonização de outros países. Para uma economia atrasada chegar à fase de decolagem é preciso reunir investimento em capital social fixo. O governo tem papel prioritário nesta tarefa, pois somente com elevado acúmulo de capital é possível impulsionar uma boa arrancada econômica. Caso exista insuficiência de capital interno para os investimentos nos setores estratégicos, durante o processo de “decolagem”, são recomendados investimentos estrangeiros, para dar o impulso inicial para a decolagem e mobilizar produtivamente a poupança interna, o que proporciona uma alta taxa de poupança marginal. Na transição da sociedade tradicional para a sociedade industrial moderna o setor agrícola deve passar pela revolução agrícola. O aumento da produtividade agrícola acompanha a demanda dos centros-urbanos, ao proporcionar a oferta de alimentos equivalente à demanda, o que ajuda a ampliar o mercado interno e disponibiliza mais recursos financeiros para o setor moderno. O impulso para a decolagem também pode derivar de uma revolução política, cujas conseqüências estejam vinculadas ao “equilíbrio do poder social e dos valores reais, o caráter das instituições econômicas, a distribuição de renda, o padrão de investimentos e a proporção das inovações potenciais deveras aplicadas” (ROSTOW, 1961[1960], p. 56). A geração de inovação tecnológica é outro impulso para decolagem, o que resulta no rearranjo da cadeia produtiva. A geração de inovação tecnológica contribui para o aperfeiçoamento da alta produtividade do setor industrial aliada ao baixo custo na produção e que despertará a produtividade em outros setores da economia, através da demanda gerada, respaldada pela elite empresarial no reinvestimento em proporção muito elevada dos lucros em novos empreendimentos. O processo de “decolagem” para Rostow (1961[1960]) está associado à produção de um produto chave na economia*. Dessa forma, o sinônimo da “decolagem” para Rostow é o de uma revolução industrial, pois introjeta modificações nos métodos de produção. *No caso da Inglaterra, produtora de tecidos, o parque industrial surgiu da necessidade da produção em grande escala do produto. Outro caso expressivo é o surgimento da ferrovia, o que resultou em modernas indústrias carboníferas, siderúrgicas e de engenharia. Na fase da “marcha para a maturidade” é aplicada na sociedade todos os recursos da tecnologia moderna estabelecidos pela industrialização em setores mais diferenciados. Segundo Rostow, é na produção de aço, de modernos navios, de produtos químicos, na eletricidade e nos produtos da atual máquina-ferramenta que a indústria é elevada a um piso de maior complexidade, em comparação com a indústria da fase de decolagem. A marcha para a maturidade exige a aplicação da tecnologia na sua produtividade. São enumerados por Rostow três fatores que se desdobram na fase de maturidade: a força de trabalho foi modificada (quanto a sua composição, salário real e aptidões), a massa de trabalhadores transita do trabalho agrário para os empregos em escritórios e nas indústrias; há a transição de aristocratas produtores de algodão para eficientes administradores profissionais da máquina altamente burocrática; existe, ainda, o protesto da população contra os custos da marcha para a maturidade. Afirma Rostow que os Estados Unidos foi o primeiro país a ingressar na era do consumo de massa. Na última fase, consumo de massa, segundo Rostow, houve o surgimento de uma nova classe média, com o deslocamento dos agricultores para os centros urbanos, em busca de postos de trabalhos nas indústrias, na construção civil, nos transportes. A era do técnico profissional e do operário especializado havia chegado, o que marcou o amadurecimento das sociedades. A era do consumo afetou fortemente as mudanças nos hábitos dos consumidores norte americanos. “Automóveis, casas de moradia familiar, estradas, utensílios domésticos duráveis, grandes mercados para alimentos de qualidade superior – tudo isso encerra boa parte da transformação da sociedade norteamericana do decênio de 1920, uma transformação que sustentou o surto dessa década e alterou todo o estilo de vida de um continente, penetrando até nos costumes do namoro” (ROSTOW, 1961, p. 109). A assertiva anterior explica que os efeitos da transformação que ocorrem na transição de uma economia tradicional para uma economia industrial moderna geram consequências para as forças sociais da sociedade. Nesse sentido, Rostow coloca que a quinta etapa (a do consumo em massa) modifica o perfil do consumo na sociedade. A proposta de Rostow (1967[1952]) para os países alcançaram o crescimento econômico consiste nos seguintes fatores: (a) condições de organização econômica para o progresso; (b) manejar a tecnologia; (c) possuir infraestrutura para receber as inovações tecnológicas; (d) capacidade para formar capital nacional e ter fontes para o financiamento do desenvolvimento. Nos países atrasados existe a tendência para o crescimento demográfico, o que implica na atuação do Estado para se organizar perante a demanda desta população. O Estado deve articular a inserção dos países atrasados no comércio internacional, bem como, quando necessário, realizar pedidos de ajuda de capital estrangeiro. A gaiola de ferro do “círculo vicioso da pobreza” Ragnar Nurkse (1907-1959) nasceu na Estônia, onde se formou nas Universidades de Tartu (Estônia) e de Edimburgo (Reino Unido), nesta última, obteve o grau em economia, em 1932. Desempenhou importante papel na contribuição para as áreas da economia internacional, das finanças internacionais e do desenvolvimento econômico. Nos anos de 1932 a 1934, Nurkse trabalhou em Viena, onde publicou artigos e conheceu economistas da escola austríaca como Haberler, Mises, Hayek, Machlup, Morgenstern, entre outros. Na Liga das Nações, entre os anos de 1934 e 1945, Nurkse esteve envolvido com diversas publicações do órgão, entre as mais importantes o anuário Monetary Review, a The Review of World Trade e World Economic Surveys. A partir de 1945, tornou-se professor da Universidade de Columbia (Nova Iorque). Em 1958 e 1959, foi estudar desenvolvimento econômico em Genebra, onde faleceu subitamente. A maioria de seus últimos trabalhos sobre os problemas do desenvolvimento econômico e o comércio internacional resultou das suas conferências nas cidades do Cairo, Istambul, Rio de Janeiro, Cingapura e Estocolmo, assim como seus cursos em Columbia, destacando a obra, Problemas de Formação de Capital em Países Subdesenvolvidos, publicada originalmente em 1953. A obra, Problemas de Formação de Capital em Países Subdesenvolvidos trabalhada na dissertação reflete as contribuições de Nurkse sobre a questão do subdesenvolvimento em países pobres. Ragnar Nurkse recebeu forte influência no campo do crescimento econômico de Paul N. Rosenstein-Rodan e Colin Clark. No campo da teoria do comércio internacional, as teses de Hans Singer e Raúl Prebisch foram referências para Nurkse. A tese de Duesenberry sobre a temática do consumo e poupança também exerceu influência no conceito de “efeito de demonstração” aplicada por Nurkse em seu diagnóstico sobre países subdesenvolvidos. No contexto do pós-guerra, os Estados Unidos formulam políticas econômicas para a reconstrução da Europa e do Japão, assumindo, junto com as agências internacionais de desenvolvimento econômico essa reconstrução como prioridade das políticas de desenvolvimento econômico para os países arrasados pela guerra mundial. Ragnar Nurkse esteve à frente da Liga das Nações do Comércio, onde participou ativamente da formulação das políticas de reconstrução para a Europa neste período. O tema geral da formação de capital é, sobretudo, um problema do desenvolvimento em países economicamente atrasados, ou subdesenvolvidos, estes se encontram com deficiência de capital em relação à população e recursos naturais quando comparadas aos países desenvolvidos. Explica Nurkse que o desenvolvimento econômico está condicionado pelas peculiaridades humanas, atitudes sociais e políticas e acidentes históricos. Ou seja, o capital é para o progresso condição necessária, mas não suficiente. “A “formação de capital” processa-se quando a sociedade não aplica toda a sua atividade produtiva corrente em necessidades e desejos de consumo imediato, mas dirige uma parte dela à criação de bens de produção: utensílios e instrumentos, máquinas e facilidades de transporte, projetos e equipamentos – todas as diferentes modalidades de capital real, que podem aumentar grandemente a eficácia do esforço produtivo. O termo é algumas vezes usado abrangendo tanto o capital humano como o material” (NURKSE, 1957, p. 4). Nos países chamados por Nurkse de subdesenvolvidos, verifica-se uma tendência do consumidor consumir mais do que a sua renda per capita lhe permite, o que lhe dificulta poupar capital. Este fenômeno é chamado por Nurkse de “efeito de demonstração”, que significa a adesão do indivíduo do país subdesenvolvido ao padrão de consumo praticado nos países desenvolvidos. A tese de Nurkse mostra que nos países subdesenvolvidos uma das principais dificuldades é a formação de capital, quais são os métodos utilizados por Nurkse para empreender esta análise? O recurso empregado pelo autor é mensurado pela renda nacional, conforme atesta a tabela a seguir. O que chama a atenção é o primeiro grupo de países, com 18% da população mundial e com 67% da renda mundial, composto pelos Estados Unidos, o Canadá, a Europa Ocidental, a Austrália e a Nova Zelândia. Por sua vez, o segundo grupo é composto por uma pequena classe média incluindo a Argentina, o Uruguai, a África do Sul, Israel e alguns países da Europa Ocidental, especialmente a Rússia. De outro lado, o último grupo é o de menor renda, corresponde a 2/3 da população mundial e recebe menos de 1/6 da renda mundial. Este grupo é composto pela maior parte dos países da Ásia, da África, do sudoeste da Europa e da América Latina. Os países chamados de atrasados por Nurkse representam 2/3 da população mundial. A atração dos padrões de consumo nos países adiantados exerce influência em diferentes classes sociais nas áreas subdesenvolvidas. No entanto, esta influência não se restringe apenas à elite dos países subdesenvolvidos. O “efeito de demonstração” tem uma abrangência maior na população, incluindo os grupos de renda mais baixa, graças aos meios de comunicação em massa. O bloqueio do desenvolvimento pela pequenez do mercado interno em países subdesenvolvidos O problema fundamental do subdesenvolvimento para Nurkse é a dificuldade de um país em formar capital. O “círculo vicioso da pobreza”, tratado pelo teórico é considerado um dos principais obstáculos que condicionam a procura de capital e o seu uso no processo produtivo. O significado deste conceito é exposto a seguir: “Implica ele numa constelação circular de forcas, tendendo a agir e reagir uma sobre a outra de tal modo a conservar um país pobre em estado de pobreza. Não é difícil imaginar exemplos típicos destas constelações circulares: um homem pobre não tem o bastante para comer; sendo subalimentado, sua saúde é fraca; sendo fisicamente fraco, a sua capacidade de trabalho é baixa, o que significa que ele é pobre, o que, por sua vez, quer dizer que não tem o bastante para comer; e assim por diante. Tal situação, transporta para o plano mais largo de um país, pode ser resumida nesta proposição simplória: um país é pobre porque é pobre” (NURKSE, 1957, P.8). O círculo vicioso da pobreza é utilizado por Nurkse para apontar que nessas relações circulares existe dificuldade de acumulação de capital em países economicamente atrasados. A oferta de capital está correlacionada pela habilidade e propensão para poupar. Por sua vez, a procura de capital é determinada pelos incentivos para investir. Na concepção de Nurkse o círculo vicioso da pobreza existe em ambos os lados (da oferta de capital e da procura) do problema da formação de capital nas áreas subdesenvolvidas. A dificuldade em acumular capital nos países subdesenvolvidos é balizada pela oferta de capital (resultado da habilidade e propensão para poupar) e pela procura por capital (depende do incentivo para investir). “Do lado da oferta, há pequena capacidade de poupar, resultante do baixo nível da renda real. A renda real baixa é o reflexo de baixa produtividade, que, por sua vez, é devida em grande parte à falta de capital. A falta de capital é o resultado da pequena capacidade de poupar e, assim, o círculo se completa” (NURKSE, 1957, p. 8). Nos países subdesenvolvidos o “círculo vicioso da pobreza” atua no sentido mais amplo do termo exposto por Nurkse em citação anterior, de maneira que, se é reduzido o orçamento para investir em produtividade, é proveniente da baixa renda dos indivíduos, que repercute em reduzida procura por produtos, o que bloqueia a alta produtividade (NURKSE, 1957[1953]). Para Nurkse a pequenez do mercado interno é um obstáculo para o desenvolvimento de um país, pois inibe o estímulo para inversão de capital. O principal determinante para dimensionar o tamanho do mercado interno é o nível da produtividade, ou seja, se é reduzido o mercado interno não há necessidade de produção em larga escala, o que descarta a necessidade de equipamentos para acelerar a produção. O incentivo para investir é limitado pelo tamanho do mercado (Nurkse, 1957[1953], p. 28). A inelasticidade da demanda por produtos em conjunto com os baixos níveis de renda real dificulta o investimento em formas técnicas de equipamento de capital. Nurkse enfatiza três fatores que condicionam a baixa demanda de capital em países de renda baixa: demanda inelástica de consumo; é arriscado investir em equipamentos produtivos; há descontinuidades técnicas que resultam na falta de empreendimentos, pela falta de confiança do empresário. Para Nurkse a produtividade física técnica de capital somente pode ser encorajada caso seja aplicado o crescimento equilibrado. Este tipo de crescimento consiste na ampliação do tamanho do mercado interno, por meio de incentivos aos investimentos em todos os setores da economia. Afirma Nurkse (1957[1953]) que os determinantes do tamanho do mercado nos países subdesenvolvidos estão associados à deficiência da demanda do mercado, o que induz os baixos incentivos para o investimento privado. Muitos dos países subdesenvolvidos sofrem de inflação, é reduzido o suprimento, por conta da baixa produtividade, o que é causado pela falta de capital. O limitado tamanho do mercado interno nos países subdesenvolvidos limita o volume de investimento estrangeiro e o uso da poupança doméstica. O tamanho do mercado interno está fortemente vinculado ao volume do comércio internacional. Países agrícolas ocupam papel marginal no comércio internacional, devido a sua baixa capacidade de produtividade e consequente baixo poder de compra real. Embora a entrada de investimentos estrangeiros nos países subdesenvolvidos seja considerada por Nurkse como uma fonte para acumulação de capital, nestes países os investimentos estrangeiros são focados na exploração de atividades primárias, o que reforça a estrutura nos países subdesenvolvidos. Em 1949, foi diagnosticado por Nurkse que o destino dos investimentos americanos para indústrias extrativas estava distribuído em 59% nos países subdesenvolvidos, e 23% nos países desenvolvidos. A relação é invertida quando analisados os investimentos em manufaturas, em 59% nos países desenvolvidos e 22% nos países subdesenvolvidos. Nurkse considera a crítica feita por Singer em relação ao “tipo” tradicional de investimento estrangeiro nos países subdesenvolvidos, quando é frisada a importância do mercado interno para estimular os investimentos. Para Nurkse o objetivo do capital estrangeiro em países subdesenvolvidos é maximizar a exploração de matérias-primas. O investimento de capital estrangeiro em países subdesenvolvidos pode ser considerado benéfico somente sob o monitoramento de uma agência governamental, avaliando e investindo o capital estrangeiro em setores deficientes desta economia. • É identificado por Nurkse dois tipos de países que encontram problemas para a formação de capital: os “superpopulados”; e os “subpopulados”. O principal problema nas regiões “superpopuladas” é a concentração populacional em regiões rurais, em paralelo com as atividades econômicas especializadas na produção de matérias-primas. O subemprego crônico na agricultura associado ao desperdício de trabalho (considerada a fonte de riqueza) implica na não formação do capital, chamado por Nurkse de “desemprego disfarçado”. “O têrmo desemprego disfarçado não se aplica ao salário do trabalho. Designa uma condição de emprego de famílias em comunidades agrárias. Designa uma condição de emprego de família em comunidades agrárias. Uma série de pessoas trabalha em fazendas ou pequenos lotes agrícolas, sustentando-se de uma parte da renda real da sua família e virtualmente não contribuindo para a produção. Não há neste caso possibilidade de identificação pessoal, ao contrário do que acontece no desemprego industrial. Nos países industriais, o desemprego é um desperdício de recursos visível a todos e que, talvez por esse motivo, tenha atraído mais atenção. Numa economia agrária de região superpopulada não podemos apontar para qualquer pessoa e dizer que ela seja um desempregado disfarçado. Toda a população pode estar ocupada e ninguém se pode considerar vadio. Ainda assim, permanece o fato de que uma determinada porção da mão de obra empregada na terra, poderia ser dispensada, sem que houvesse qualquer alteração no volume da produção” (NURKSE, 1957, P. 39). Segundo Nurkse (1957[1953]) o “desemprego disfarçado” é um fenômeno de massa inserido em economia agrária superpovoadas, permanecendo oculta a poupança. A poupança oculta é a quantia de trabalho de um indivíduo que acumula para além das suas horas de trabalho em relação à baixa produtividade de outro trabalhador, considerada mão-de-obra excedente. Então, a renda da poupança oculta vai ser direcionada à mão-de-obra excedente a fim de custear a sua sobrevivência. O segundo grupo de países possui escassez de população e sofre de baixa produtividade de produtos agrícolas. Propõe Nurkse para aumentar a produtividade à melhoria de técnicas e métodos de produção agrícola. Nesse sentido, nos países com baixa população e especializados na agricultura existe a escassez de capital. De acordo com Nurkse o desequilíbrio na balança de pagamentos em países subdesenvolvidos é resultado da dificuldade de formar poupança. O principal obstáculo para a formação de poupança em países subdesenvolvidos é o “efeito de demonstração”. Denomina Nurkse que o “efeito de demonstração” é manifestado em países subdesenvolvidos quando os indivíduos entram em contato com formas de consumo superiores. O novo padrão de consumo dos indivíduos dos países subdesenvolvidos implica em novos desejos e a propensão para consumir se eleva. O consumo na massa da população é ditado pelo lançamento de novos produtos no mercado. O principal agente responsável pela constante produção de novos produtos é a inovação tecnológica. Tradicionalmente os produtos gerados pela tecnologia originam-se nos países desenvolvidos e são importados pelos países subdesenvolvidos. O impacto da forma superior de consumo na vida dos indivíduos dos países subdesenvolvidos implica em transformações no seu cotidiano, o usufruto das mercadorias passa a ser o ingrediente para a própria satisfação dos indivíduos. Os argumentos lançados por Nurkse acerca da questão do consumismo desenfreado dos indivíduos nos países subdesenvolvidos caminham na mesma direção que as formulações teóricas de Raul Prebisch*. Para Nurkse a baixa poupança é consequência do baixo nível de renda real e da alta propensão ao consumismo, devido à sedução irradiada pelas formas superiores de consumo. * Lembramos que os fatores que ajudam a explicar a debilidade periférica, de acordo com Prebisch (1964) podem estar relacionados com o fenômeno “deterioração dos termos de troca”. Ele analisou esse fenômeno, ao comparar o preço de exportação dos bens primários (produzidos por economias periféricas) com os preços dos bens industrializados (produzidos nos países centrais). Prebisch constatou que, a longo prazo, os preços dos primeiros tendem a reduzir-se com maior velocidade que os dos segundos. Uma das causas levantadas pela CEPAL para explicar esta tendência é a diferença da produtividade da mão-deobra entre os setores primário e secundário. A deterioração dos termos de troca se manifesta através das flutuações cíclicas da economia mundial, característica do capitalismo, prejudicando o desenvolvimento das economias especializadas na produção de bens primários. A atuação do empresário (criador de inovações) nos países subdesenvolvidos é considerada por Nurkse importante. A dinâmica no mercado interno em países subdesenvolvidos é providenciada pelas inovações tecnológicas, produzidas pelos empresários, o que proporciona a abertura de novos mercados. O crescimento equilibrado é incentivado pela ampliação do mercado interno em paralelo com o aumento dos investimentos dos empresários (no mercado interno). O equilíbrio estacionário do subdesenvolvimento é desfeito quando o investimento é aplicado em diferentes ramos da produção, o que conduz a dilatação do mercado total. Anteriormente, foi colocado que o investimento é limitado pelo tamanho do mercado interno, da mesma forma, o investimento internacional depende desta condição. Assim, para que o investimento estrangeiro nos países subdesenvolvidos seja benéfico é indicado por Nurkse a necessidade de uma agência reguladora, para qualificar a entrada de investimentos estrangeiros. O desemprego disfarçado em países subdesenvolvidos deve ser enfrentado através da transferência do excesso da mão-de-obra (nas atividades agrárias) para os projetos de capital, tais como, as irrigações, os esgotos, as estradas, as ferrovias, as casas, as fábricas. Então, surge a questão: de que forma estes projetos de capital serão financiados? Ou, qual fonte irá gerar os salários para as pessoas que estiverem nesta espécie de trabalho? Aponta Nurkse como alternativa a poupança voluntária normal, ou aumentar o fluxo de capital estrangeiro, bem como dar condições de subsistência para os indivíduos transferidos das atividades agrárias para os novos projetos de investimentos. É proposto por Nurkse como alternativa para a formação de capital em países com escassez de mão-de-obra o aperfeiçoamento das técnicas de produção agrícola e o implemento da indústria para a formação de capital e o desenvolvimento do processo de industrialização. Em síntese, os países com escassez da população devem melhorar as técnicas na agricultura, liberando a mão-de-obra para projetos de formação de capital. As condições mínimas de trabalho para os operários é o aumento da taxa de poupança, essencial para arcar com o nível de subsistência. Enfim, Nurkse ressalta que a formação de capital não é possível sem medidas que priorizem a poupança doméstica, impostas por políticas fiscais, monetárias e pelas restrições à importação de bens de consumo. A propensão a poupar é um determinante crucial para o crescimento, conjuntamente com o papel que as finanças assumem em face ao problema de formação de capitais nos países subdesenvolvidos. Nurkse acredita que o círculo vicioso da pobreza pode ser quebrado caso exista uma ação coletiva através das finanças públicas. O Modelo de Desenvolvimento Econômico com Oferta Ilimitada de mão de obra – Arthur Lewis Arthur Lewis inicia sua obra “O Desenvolvimento Econômico com Oferta Ilimitada de Mão-de-obra” chamando a atenção para o fato desta ter sido escrita na tradição clássica. Segundo ele, “Os clássicos, de Smith a Marx, supuseram ou aceitaram que se verificava uma oferta ilimitada de mão-de-obra a salários de subsistência. A seguir, perguntavam de que modo aumenta a produção com o decorrer do tempo, e encontraram a resposta na acumulação de capital, explicada pela análise da distribuição de renda. Assim, os sistemas clássicos determinavam simultaneamente a distribuição e o crescimento da mesma (...) O propósito deste artigo é, portanto, descobrir o que se pode aproveitar do marco clássico para resolver os problemas da distribuição, acumulação e crescimento.” (Lewis, 1969, p. 406-407) A justificativa de Lewis para a utilização da teoria clássica como base é a de que o modelo neoclássico se aplicaria somente às economias em que o problema econômico fosse o da escassez de mãode-obra e em que o crescimento fosse dado como garantido. Para ele esse não era o caso das economias subdesenvolvidas, pois nestas parecia prevalecer uma oferta ilimitada de mão-de-obra e a expansão econômica não era garantida O primeiro ponto apresentado por Lewis é a definição do conceito de oferta ilimitada de mãode-obra. “Pode-se dizer, primeiramente, que há ilimitada oferta de trabalho nos países onde a população é tão numerosa em relação ao capital e recursos naturais, que existem amplos setores da economia em que a produtividade marginal do trabalho é ínfima, nula ou mesmo negativa.” (LEWIS, 1969, p. 408). Para Lewis, este tipo de trabalho é, na verdade, o que alguns autores chamaram de desemprego "disfarçado", que pode existir não somente nas atividades rurais, como, por exemplo, um número excessivo de familiares no cultivo da terra, mas também nas atividades urbanas, como, por exemplo, carregadores de porto, carregadores de malas, biscateiros, vendedores ambulantes, entre outros. Estas ocupações apresentam, em geral, um número de pessoas muito maior do que o necessário e a produção deste setor não é afetada negativamente se o número de trabalhadores for reduzido. Lewis busca justificar porque essas pessoas conseguem emprego mesmo com uma produtividade próxima de zero, ou seja, porque os patrões pagam salários que excedem a produtividade marginal. Segundo ele, nos países subdesenvolvidos, existiria um tipo de código de comportamento ético em que as pessoas ofereceriam o máximo de trabalho possível, ao mesmo tempo em que seria motivo de prestígio social para o patrão contar com o maior número possível de empregados. Lewis ressalta que para se considerar que existe oferta ilimitada de mão de obra, não seria necessário que o trabalho tivesse produtividade marginal nula ou ínfima, bastaria que a oferta de trabalho excedesse a demanda ao nível de salário vigente na economia, no caso, ao nível de subsistência. Em outras palavras, bastaria que a produtividade marginal do trabalho de pleno emprego fosse menor que o salário de subsistência. Para analisar o caso em que novos empregos poderiam ser oferecidos no setor capitalista ao salário de subsistência, Lewis inclui, além das já citadas, outras duas classes de desempregados na sua lista. A primeira é a das esposas e filhas, representando a mão de obra feminina. Com a transferência destas do trabalho doméstico para as fábricas ou manufaturas, sua produção elevar-se-ia consideravelmente, visto que a maioria das coisas que as mulheres produzem em casa podem ser produzidas de forma melhor e mais barata, devido aos benefícios da produção em grande escala e da utilização de máquinas e instrumentos. A segunda fonte de trabalho para a expansão da industria seria o crescimento da população. Lewis argumenta que se não há provas de que o desenvolvimento eleve a taxa de natalidade, não há dúvidas de que ele reduza a taxa de mortalidade consideravelmente. Assim, nas palavras de Lewis, “Visto que o desenvolvimento tem efeito tão rápido e seguro sobre a taxa de mortalidade, enquanto seu efeito sobre a taxa de natalidade é incerto ou retardado, podemos concluir que seu efeito imediato é originar um aumento demográfico (...) Desta forma (...) o efeito do desenvolvimento econômico será gerar aumento da oferta de trabalho” (Lewis, 1969, pg. 411) Uma observação importante sobre a oferta ilimitada de mão de obra é que esta se restringe ao trabalho não qualificado. Poderia, sim, existir escassez de mão de obra qualificada nas economias subdesenvolvidas, mas apenas por um curto período de tempo, uma vez que a mão de obra não qualificada poderia ser treinada a qualquer momento, pelos capitalistas ou pelo governo, durante o processo de desenvolvimento. Seria, portanto, apenas um “estrangulamento temporário” não chegando ser um ponto de estrangulamento da produção como o capital e os recursos naturais. Agora, passemos ao modelo teórico propriamente dito. Lewis faz uso de um sistema dual de produção, no qual a economia dos países subdesenvolvidos poderia ser dividida em um setor capitalista e um setor de subsistência. O setor capitalista poderia ser visto como sendo composto por várias ilhas em um mar de subsistência e seria definido como "(...) a parte da economia que utiliza capital reproduzível e que retribui aos capitalistas pelo uso deste." (Lewis,1969, p. 413). O setor de subsistência seria, portanto, o setor que não utiliza capital reproduzível, e seu produto per capta por hora trabalhada seria menor do que no setor capitalista pois não seria frutificado pelo capital. Os salários do setor capitalista seriam determinados pelos rendimentos do setor de subsistência, ou, nas palavras de Lewis, “o salário que o setor capitalista em expansão é obrigado a pagar é determinado pelo que se pode ganhar fora deste setor” (Lewis, 1969, p. 415). O salário de subsistência seria definido através de uma convenção acerca do mínimo necessário para subsistir ou determinado pela produtividade no setor de subsistência. O salário no setor capitalista corresponderia a, aproximadamente, 30% a mais do que o salário do setor de subsistência. Essa diferença se deveria ao maior custo de vida inerente ao setor capitalista, refletindo, assim, o nível de subsistência dos trabalhadores deste setor. A dinâmica do setor capitalista da economia se daria da seguinte forma: o capitalista contrataria trabalhadores até o ponto em que a produtividade marginal do trabalho, que no setor capitalista seria decrescente, se igualasse ao salário do setor capitalista. A partir desse ponto, os trabalhadores seriam relegados ao setor de subsistência. A figura abaixo mostra, graficamente, como é definida a quantidade de trabalhadores empregados no setor capitalista. A quantidade de trabalhadores empregados no setor capitalista será definida pela interseção da curva de produtividade marginal, NR , com o nível de salário do setor capitalista, representado pela reta W . Assim, serão empregados M trabalhadores no setor capitalista e o restante dos trabalhadores, além de M , serão “empregados” no setor de subsistência e receberão o salário S . O excedente do setor capitalista é representado pela área NPW e os salários pelo retângulo OWMP . Para Lewis, o processo de expansão da economia como um todo se daria através do reinvestimento do excedente do setor capitalista no próprio setor. Quanto mais capital fosse investido, mais trabalhadores poderiam migrar do setor de subsistência para o setor capitalista. Esse movimento faria com que o produto per capta da economia como um todo aumentasse, pois, visto que a produtividade de um trabalhador no setor de subsistência é mais baixa, a simples passagem deste para o setor capitalista faria aumentar o produto total da economia. O processo continuaria até que desaparecesse o excedente de mão de obra. A figura abaixo demonstra o processo de acumulação,supondo que a produtividade do trabalho no setor capitalista aumenta com o crescimento do estoque de capital. É importante ressaltar que, no modelo de Lewis, o processo de acumulação de capital e o progresso técnico caminham juntos. O autor afirma que “deveria ser possível, teoricamente, distinguir entre o aumento de capital e o aumento dos conhecimentos técnicos, mas isto na prática não é nem possível nem necessário para fins de nossa análise” (LEWIS, 1969, p. 419). Podemos ver que conforme o excedente, inicialmente WN1 P1 , é reinvestido, a quantidade de capital fixo aumenta, deslocando a curva de produtividade marginal para cima até o nível N2 R2 . Assim, tanto o emprego quanto o excedente do setor capitalista aumentam, e este ultimo, novamente reinvestido, desloca mais uma vez a curva de produtividade marginal. Este processo continua até acabar com a oferta ilimitada de mão de obra. Pela forma como Lewis descreve o processo de acumulação de capital, fica evidente que, para o autor, a determinação da renda é dada pela Lei de Say, ou seja, é a poupança que determina o investimento, e não o contrário. As economias subdesenvolvidas cresceriam menos porque a poupança potencial máxima nestas economias seria limitada, o que limitaria o investimento e, consequentemente, o crescimento do produto potencial. Uma vez que os salários são constantes, o processo de deslocamento de trabalhadores do setor de subsistência para o setor capitalista, e a subsequente e continua elevação da produtividade deste setor, aumentaria os lucros, e consequentemente, a poupança potencial. Essa maior poupança seria capaz de acelerar o crescimento econômico, e acabaria eliminando o excedente estrutural de mão de obra. Voltemos à questão central em Lewis: “o problema central do desenvolvimento econômico é a compreensão do processo pelo qual uma comunidade que anteriormente não poupava nem investia mais que 4 ou 5% de sua renda nacional, ou ainda menos, transforma-se numa economia em que a poupança voluntária se situa por volta de 12 ou 15% da renda nacional ou mais. Este é o problema central porque a questão principal do desenvolvimento econômico é a rápida acumulação de capital. (Lewis, 1969, p. 422) Para Lewis, nenhum processo de desenvolvimento econômico poderia ser explicado sem que se tivesse em vista e se pudesse explicar o aumento relativo da poupança em relação à renda nacional. A poupança agregada em uma economia fechada e sem governo é definida como a renda menos o consumo, e depende da propensão marginal a poupar. Lewis considera que, para entender porque a poupança agregada aumenta, seria necessário focar-se apenas nos 10% da população mais rica, pois, em sua visão, o restante da população não conseguiria poupar uma parte significativa da sua renda. Segundo Lewis, “praticamente toda a poupança provém daqueles que têm lucros ou rendas” (LEWIS, 1969, p. 423). Mas porque os 10% mais ricos passam a poupar mais? Segundo Lewis, o motivo poderia ser que estes passam a consumir menos, mas em seguida afirma que não existe evidencia de que, nos momentos em que ocorrem as revoluções industriais, haja diminuição de seu consumo pessoal. A explicação mais plausível, para o autor, é que se poupa mais por que há mais o que se poupar. Segundo Lewis, haveria três pontos básicos para explicar por que os países subdesenvolvidos poupam tão pouco: 1º) O primeiro seria o fato de o setor capitalista ser muito pequeno nesses países, o que inviabilizaria o mecanismo de poupança através dos lucros; 2º) O segundo ponto seria a desigualdade de renda inerente ao processo de desenvolvimento econômico, que deveria ser sempre em favor dos lucros capitalistas e não em favor da renda da terra, como parecia ser em muitos dos países subdesenvolvidos. O último ponto, e mais importante, se refere à necessidade da existência de uma classe capitalista, ausente nas economias subdesenvolvidas. Lewis define esta classe como “um grupo de homens que pensam em termos de investimento produtivo de capital” e afirma que “o motivo pelo qual uma sociedade desenvolve uma classe capitalista é muito difícil de ser encontrado, não havendo, provavelmente, uma resposta geral” (LEWIS, 1969, pg. 425 e 426). Assim, podemos considerar que para Lewis, a propensão marginal a poupar, depende somente da propensão a poupar dos capitalistas, que é constante ao longo do tempo. Desta forma, a investigação deve se dar em torno das circunstâncias em que aumenta a participação dos lucros na renda nacional. Segundo Lewis, o excedente capitalista e a renda dos próprios capitalistas iriam aumentando como proporção da renda nacional, pois à medida que setor capitalista se expandisse e o trabalho fosse sendo transferido para o setor capitalista, a renda do setor de subsistência e os salários dos trabalhadores do setor capitalista se manteriam constantes no processo, dada a existência de oferta ilimitada de mão de obra. Dessa forma, enquanto uma parte do excedente fosse reinvestida em capacidade produtiva, os lucros sempre aumentariam em relação à renda nacional. Vamos definir agora a taxa de crescimento do produto potencial. O aumento absoluto do produto potencial vai depender do nível de investimento líquido e da relação capital-produto. Logo, o crescimento vai depender negativamente da relação capital-produto (ou positivamente da produtividade do capital) e positivamente da proporção do investimento em relação ao produto potencial. Como no modelo de Lewis vale a “Lei de Say” a proporção do produto potencial que é de fato investida é idêntica e determinada pela proporção do produto que é poupada Desta forma, podemos ver que a taxa de crescimento da economia é dada pela razão entre a taxa de poupança e a relação capital-produto. Desta forma, o crescimento da economia seria sempre estimulado por uma alta parcela do lucros pois uma grande parte da renda estaria indo para a classe que poupa e automaticamente investe mais. Lewis apresenta uma outra forma de criação de capital que não o reinvestimento dos lucros do processo produtivo, qual seja, o aumento líquido da oferta de dinheiro, principalmente através do crédito bancário. Lewis supõe que o excedente de trabalho poderia ser utilizado para a produção de bens de capital sem que houvesse prejuízo na produção de bens de consumo. O investimento em capital através de dinheiro novo teria como primeiro efeito o aumento de preços na economia, já que a produção de bens de consumo se manteria constante e o meio circulante para compras aumentaria entre os trabalhadores recém empregados no investimento. Neste momento, ocorreria uma queda, temporária, nos salários reais da economia. Em um segundo momento, apareceriam os frutos da produção dos novos bens de capital e os preços recuariam. Esse processo inflacionário de financiamento de investimento terminaria quando os lucros dos capitalistas fossem grandes o suficiente para financiar a nova taxa de investimento na economia, não mais necessitando da expansão monetária. A expansão de crédito teria, portanto, o papel de acelerar o aumento de capital. A renda real de subsistência média diminuiria apenas temporariamente, enquanto o novo capital não se tornasse capacidade produtiva e fizesse os preços voltarem ao seu nível anterior. Este fenômeno estaria ligado ao caráter dual do investimento, que em um primeiro momento eleva a demanda agregada, mas depois gera capacidade produtiva. Nas palavras de Lewis, “A inflação com finalidade de formação de capital é autodestrutiva. Os preços começam a aumentar, mas são mais cedo ou mais tarde superados por uma produção maior e podem, em última análise, acabar abaixo do que se encontravam no início.” (LEWIS, 1969, p. 431). Cabe observar que este fenômeno, no modelo de Lewis, ocorre apenas no curto prazo, não havendo um equilíbrio de longo prazo em que os salários reais fossem inferiores ao nível de subsistência. Lewis chama atenção para o fato de que “este processo não corresponde à ‘poupança forçada’ no sentido usual deste termo (...) em nosso modelo (...) verifica-se uma redistribuição forcada do consumo, mas não uma poupança forçada” (Lewis 1969, p. 430). Lewis ainda trata do papel do governo no processo de desenvolvimento, e como este afeta o processo de acumulação de capital. O governo poderia se utilizar, da mesma forma que foi exposta anteriormente, do expediente inflacionário para promover a formação de capital novo. Depois de apresentados o papel da inflação e do governo no processo de acumulação, Lewis volta sua atenção para o final do processo de desenvolvimento. De acordo com o modelo exposto até o momento, uma economia com salário real constante, oferta de mão-de-obra ilimitada e que reinveste seu excedente na formação de capital irá crescer até o ponto em que o trabalho se torne um fator escasso. No entanto, o fim desse processo pode ser precipitado pelo aumento dos salários reais, que fariam com que o excedente, e conseqüentemente, o investimento se reduzissem. Algumas considerações: Lewis destaca que os pontos cruciais do processo de desenvolvimento são justamente o seu início e o seu fim, o qual corresponderia a um declínio secular. Com relação ao início do processo, o autor ressalta as dificuldades que podem surgir quando se observa uma concentração de esforços em apenas um setor da economia. Para Lewis, os diversos setores deveriam crescer de maneira relacionada, caso contrário, não poderiam crescer, pois a inovação em determinado setor acabaria sendo freada. Por conta das deficiências do mercado interno presentes nos estágios iniciais de desenvolvimento e dos próprios efeitos sobre a demanda em outros setores, explica Lewis que, em geral, a produção para exportação acaba sendo o ponto de inflexão que impulsionava a economia em direção ao progresso. Contudo, a excessiva concentração no setor exportador pode ser prejudicial, sobretudo pelos efeitos deletérios sobre os termos de troca. Nos estágios superiores de desenvolvimento, o papel de dinamizador passaria do setor externo ao setor interno, tornando-se esse o principal sustentáculo do progresso econômico. Assim, para que fosse bem sucedido o pontapé inicial do progresso, para Lewis: “nos programas de desenvolvimento, todos os setores da economia devem crescer simultaneamente, para manter o equilíbrio adequado entre a agricultura e a indústria, e entre a produção para o mercado interno e a produção para exportação.” Quanto ao declínio secular, Lewis destaca uma série de armadilhas em que poderiam cair as nações, em virtude do próprio processo de desenvolvimento, dentre elas, o esgotamento dos recursos naturais, uma invertida desfavorável (ao investimento de capital) da distribuição de renda e o próprio esgotamento das inovações. Destaca-se que após um prolongado período de desenvolvimento, segue-se necessariamente um crescimento mais lento, a estagnação ou mesmo a franca decadência. O financiamento externo desempenha papel importante na medida em que as nações ainda em processo de desenvolvimento dificilmente satisfariam a sua necessidade de capital só com recursos internos, mesmo porque os programas de desenvolvimento requerem a importação de bens de capital. No entanto, observa Lewis que, a menos que as nações atrasadas, receptoras de capitais, transformem esse capital em um aumento de produtividade das mercadorias consumidas internamente, não haveria impacto sobre os salários reais. Além disso há que se observar que o influxo de capital dos países desenvolvidos aos países subdesenvolvidos também estaria sujeito a empecilhos pois “[...] a migração de capital se detém não só pelo fato de que se apresentam continuamente novas oportunidades para investir nos países desenvolvidos, como pelas deficiências em países subdesenvolvidos.” A explicação para tal seria a emergência do círculo vicioso da carência de capital, o que se assemelha ao círculo vicioso da pobreza, uma vez que a produtividade de determinado investimento depende dos investimentos anteriormente realizados. Segundo Lewis, no contexto das nações subdesenvolvidas, como os problemas de mercado e os altos custos iniciais de novos setores de atividade constituem importantes empecilhos à industrialização desses países, se não forem adotadas medidas diferenciadas, tal como políticas protecionistas, “[...] o hiato entre estes e as nações industriais continuaria a ampliar-se pela simples razão do impulso dado pela especialização.” Por isso, também o papel dos governos nas nações atrasadas seria tão estratégico para estimular o desenvolvimento. Entretanto, pondera o autor que não se trata de privilegiar a ação do Estado ou da iniciativa privada, mas sim “verificar qual a contribuição mais adequada de cada um.” Essa discussão remete à discussão do Estado vis-àvis o papel do mercado, cuja implicação indica justamente que deveria haver um balanceamento entre essas duas esferas enquanto direcionadores do desenvolvimento. Segundo Lewis, no contexto dos países subdesenvolvidos, ao Estado caberia o papel mais importante de direcionador de forças para superar o subdesenvolvimento. Nas palavras de Lewis, “O governo não deve gastar nem pouco nem muito; nem controlar muito nem pouco; nem tomar iniciativas demais, nem de menos; não deve desencorajar os estrangeiros, nem cair-lhes nas mãos; não deve permitir a exploração de classes, e assim por diante.” (Lewis, 1955, p.533) SCHUMPETER 4. O pós-fordismo e as novas teorias da firma e tecnologia Os ciclos longos de crescimento econômico • Nikolai Kondratieff (1925) foi pioneiro no estudo das ondas largas ao estudar o comportamento histórico dos preços de commodities com base na análise de séries cronológicas de preços no atacado, de 1790 a 1920, nos Estados Unidos e no Reino Unido. • Ele observou que, em períodos de crescimento econômico, os preços das matérias primas e insumos, cuja oferta é inerentemente inelástica em curto prazo, tendiam a subir rapidamente, enquanto que o inverso ocorria em épocas de crise. Paulo Tigre, Gestão da Inovação Schumpeter e os ciclos longos • Schumpeter atribuiu a ocorrência dos ciclos de Kondratieff ao processo de difusão de grandes inovações na economia mundial. Ele associou os períodos de prosperidade à fase de rápida difusão de inovações chaves no sistema produtivo, a exemplo da máquina a vapor e da eletricidade. O sucesso de empresários inovadores na introdução de novos produtos e processos proporcionariam uma onda de otimismo diante das perspectivas de grandes lucros. • Ao reproduzir as inovações bem-sucedidas, empresários imitadores realizariam investimentos produtivos e criariam novos empregos favorecendo o crescimento econômico. Paulo Tigre, Gestão da Inovação Ciclos longos de desenvolvimento • Schumpeter associou os períodos de prosperidade à fase de rápida difusão de inovações chaves no sistema produtivo. As oportunidades de lucros “supranormais” despertaria o espírito animal do empreendedor, levando-o a investir capital, contratar RH e assim estimular o crescimento econômico A fase de declínio econômico • O boom terminaria dando espaço à depressão que se iniciaria quando o potencial de exploração das novas tecnologias se esgotasse. À medida que as inovações se difundem e seu consumo se generaliza, há uma tendência de redução das margens de lucro e geração de capacidade ociosa. • Consequentemente, os empresários reduziriam a produção, interromperiam investimentos e passariam a reduzir custos e a demitir mão-de-obra levando a economia a uma fase de recessão. Características da infra-estrutura dominante Ondas C&T e educação Transporte e Com. Energia 1 – Primeira Revolução Aprender-fazendo, Canais, estrada de Roda d’Água Industrial (1780-1830) carroças. (moinhos) sociedades cientificas 2 – Segunda revolução Engenheiros mecânicos Estrada de ferro, industrial (1830-1880) e civis Energia a vapor telégrafo. 3 - Idade da Eletricidade P&D Industrial, química Ferrovias (aço) e (1880-1930) e eletricidade, laborat. telefone 4. Idade da produção P&D industrial e Rodovias e radio Petróleo em massa (fordismo) educação em larga 1930-1980 escala. 5. Idade da Rede de dados, Redes Redes convergentes Petróleo e Gás microeletrônica ( ?) globais de P&D; de telecomunicações Treinamento contínuo em multimídia 6. Tecnologias Biotecnologia, genética, Telemática, ambientais, saúde nanotecnologia Fonte: Freeman, 1997 teletrabalho Eletricidade Energia renovável O processo de destruição criadora em ondas longas de transição Exaustão do paradigma prevalecente Pressão econômica e social para mudança busca Novo potencial tecnológico Construção de um novo paradigma Inércia do velho quadro sócio-institucional Difusão do novo senso comum Construção do novo quadro sócio-institucional Recuperação do crescimento econômico Uso do novo potencial tecnológico Fonte: Carlota Perez O paradigma das tecnologias da informação • O último quartil do século XX vivenciou o início de uma nova revolução tecnológica, protagonizada pelas tecnologias da informação e da comunicação (TIC). • Ao contrario do fordismo que é intensivo no uso de energia e materiais, a nova onda de destruição criadora é intensiva em informação e conhecimento. Marcos do esgotamento do fordismo e advento do novo paradigma 1. Aumento nos preços do petróleo, a partir da crise de 1973, que mostrou que o modelo de crescimento baseado no consumo crescente de materiais e energia barata não era sustentável. 2. Esgotamento do modelo fordista de produção, baseado na exploração excessiva dos princípios da padronização e divisão do trabalho. 3. Onda de inovações iniciada com a invenção do transistor no final da década de 1940 que desencadeou, nos 60 anos seguintes, uma série de inovações subsequentes tanto tecnológicas quanto organizacionais. O esgotamento do fordismo e as crises do petróleo • As sucessivas crises do petróleo interromperam um longo ciclo de crescimento e provocou uma crise do paradigma produtivo intensivo em energia e materiais. Esgotamento do modelo fordista de produção • O modelo baseado na exploração excessiva dos princípios da padronização e divisão do trabalho foram questionados pela rigidez e incapacidade de responder as novas características do mercado global. A origem da microeletrônica • O transistor foi inventado nos Laboratórios da Bell Telephone em 1948. É considerado uma das maiores descobertas ou invenções da história moderna, tendo tornado possível a revolução dos computadores e equipamentos eletrônicos. • A chave da importância do transistor na sociedade moderna é sua possibilidade de ser produzido em enormes quantidades usando técnicas simples, resultando preços irrisórios O transistor é um componente eletrônico que começou a popularizar-se na década de 1950, tendo sido o principal responsável pela revolução da eletrônica na década de 1960. São utilizados principalmente como amplificadores e interruptores de sinais elétricos. O termo vem de transfer resistor (resistor/resistência de transferência), como era conhecido pelos seus inventores. Fator – chave do novo paradigma • O transistor é considerado por muitos uma das maiores descobertas ou invenções da história moderna, tendo tornado possível a revolução dos computadores e equipamentos eletrônicos. • A chave da importância do transistor na sociedade moderna é sua possibilidade de ser produzido em enormes quantidades usando técnicas simples, resultando em preços irrisórios • Na medida que sua tecnologia evoluiu de forma exponencial, passou a ser aplicado em um número crescente de industrias e serviços. A difusão do Nos anos 50/60 os transistores bipolares passaram a ser incorporados a diversas transistor aplicações, tais como aparelhos auditivos, seguidos rapidamente por rádios transistorizados. A indústria norte-americana não adotou imediatamente o transistor nos equipamentos eletrônicos de consumo, preferindo continuar a usar as válvulas cuja tecnologia era amplamente dominada. Foi através de produtos japoneses, notadamente os rádios portáteis fabricados pela Sony, que o transistor passou a ser adotado em escala mundial. Um circuito integrado, também conhecido por chip, é um dispositivo microeletrônico que consiste de muitos transistores e outros componentes interligados capazes de desempenhar muitas funções. Suas dimensões são extremamente reduzidas, os componentes são formados em pastilhas de material semicondutor. A importância da integração está no baixo custo e alto desempenho, além do tamanho reduzido dos circuitos aliado à alta confiabilidade e estabilidade de funcionamento. Uma vez que os componentes são formados ao invés de montados, a resistência mecânica destes permitiu montagens cada vez mais robustas a choques e impactos mecânicos, permitindo a concepção de portabilidade dos dispositivos eletrônicos. Evolução tecnológica dos circuitos integrados Processador Ano lançamento Frequência Número de transistores Intel 8008 1972 0,2 MHz 3500 Intel 80286 1982 Até 12 MHz 134.000 Pentium 4 2002 Até 3000 MHz 55.000.000 • A microeletrônica serviu como base técnica para a imbricação das tecnologias de informática, telecomunicações, optoeletrônica, software e broadcasting e suas múltiplas aplicações que retroalimentam o processo inovativo. • Esta “revolução em miniatura” caracteriza uma trajetória de inovações associada à aplicação das TIC a produtos, processos e servicos. Impactos do novo paradigma sobre o mundo do trabalho Fordismo • Trabalho fragmentado e padronizado • Low-trust/low-discretion majority employed in manufacturing sector/blue collar jobs. • Little on the job training required for most jobs. • Small managerial and professional elite. • Fairly predictable labour market histories • • • • • • Pós-Fordismo Especializacao flexível, trabalhadores polivalentes. High-trust/high-discretion majority employed in service sector/white collar jobs. Regular on the job training, greater demand for knowledge workers. Growing managerial and professional service/class. Unpredictable labour market histories due to technological change and increased economic uncertainty. Impactos econômicos e organizacionais • Nova estrutura industrial: “wintelismo” (Windows + Intel) • Aumento do conteúdo informacional: ciclos de vida dos produtos cada vez mais curtos. • Economias de velocidade: a redução do tempo necessário para completar um processo permite transformar custos fixos elevados em baixos custos unitários. Impactos do novo paradigma sobre a economia e os mercados Fordismo Pós-fordismo • Mercados nacionais protegidos • Produção em massa de produtos padronizados • Organizações burocráticas hierarquizadas • Competição pela plena utilização da capacidade instalada e cortes de custos • Competição Global • Sistemas flexíveis de produção/pequenos mercados de nicho • Estruturas organizacionais flexíveis e horizontais • Competição pela inovação, diversificação e subcontratação. Esgotamento do fordismo e as novas práticas de produção O Japão liderou a nova trajetória de inovações organizacionais voltadas para: – redução de desperdícios – aumento da qualidade, – cooperação intra e interindustrial – uso intensivo de informação e conhecimento. Origem das teorias econômicas evolucionistas ou neoschumpeterianas • Chris Freeman resgata o estudo dos ciclos econômicos de Schumpeter, mostrando como a difusão de inovações está no centro dos movimentos cíclicos da economia mundial. • Nelson e Winter (1982) iniciaram uma linha de investigações, apoiada em Schumpeter, Simon, Penrose e Marris e em conceitos transpostos da biologia evolucionista, visando incorporar a questão tecnológica das teorias da firma. • Neo-schumpeterianos e evolucionistas Charles Darwin: “Não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente; mas sim, o que melhor se adapta às mudanças.” • A competitividade de uma empresa em uma atividade particular é definida como um conjunto de competências tecnológicas diferenciadas, de ativos complementares e de rotinas. • Tais competências são geralmente tácitas e não transferíveis, conferindo à firma um caráter único e diferenciado. • A competitividade de uma empresa em uma atividade particular é definida pelos evolucionistas como um conjunto de competências tecnológicas diferenciadas, de ativos complementares e de rotinas. Tais competências são geralmente tácitas e não transferíveis, conferindo à firma um caráter único e diferenciado. A evolução da firma depende da transformação das competências secundárias em centrais, à medida que surgem oportunidades tecnológica Diferenças entre as teorias evolucionistas neoclássicas e das teorias da organização industrial 1) Consideram que dinâmica econômica é baseada em inovações em produtos, processos e nas formas de organização da produção. 2) descartam o princípio de racionalidade invariante (ou substantiva) dos agentes econômicos. 3) rejeita qualquer tipo de equilíbrio de mercado, conforme proposto pela teoria neoclássica, na medida em que não é possível alcançá-lo em ambiente coletivo de flutuações de agentes individuais com rotinas e capacitações distintas. Paradigma Estrutura, Conduta e Desempenho • Tem origem na obra de Joe Bain como ferramenta básica de análise que argumenta que o desempenho é resultado da conduta das firmas, que por sua vez é determinada pelas características da estrutura de mercado • A Estrutura descreve as características e composição dos mercados e indústrias na economia, ou seja, refere-se ao grau de concentração, e das condições básicas deoferta e demanda. • Conduta refere-se ao comportamento das firmas no mercado e busca responder como se estabelecem os preços. • Desempenho busca avaliar se as operações das firmas Críticas ao paradigma E-C-D • Schumpeter criticou a excessiva preocupação dos economistas contemporâneos com a estrutura dos mercados – concorrência e oligopólio: A busca de posições monopólicas não é considerada em si uma prática danosa à concorrência, mas o seu móvel principal. • Implicações para as políticas de concorrência: A cadeia de causalidade entre estrutura da industria, a conduta da empresa e o desempenho econômico, que passou a admitir a influência mútua dos fatores: O desempenho, assim como a conduta, também influencia a estrutura de mercado. Abernathy e Utterback (1975) • A evolução tecnológica causa um padrão particular de evolução da firma e da estrutura da indústria. Nos estágios iniciais de uma indústria, firmas tendem a ser pequenas e a entrada no mercado relativamente fácil, refletindo a diversidade de tecnologias empregadas e sua rápida mudança. • Contudo, quando um padrão dominante emerge, e processos de produção especializados são desenvolvidos, barreiras à entrada começam a crescer e aumentam a escala e o capital necessários para produzir competitivamente. Modelo de inovação processo e produto de Abernathy -Utterback • Fluid phase: Antes da emergência de um padrão ou projeto dominante há pouco P&D orientado para melhorar o processo produtivo, porque o projeto do produto é instável e o mercado para cada produto é pequeno. • Transitional phase Um padrão dominante emerge na, e processos de produção especializados são desenvolvidos aumentando a escala e o capital necessários para produzir competitivamente. Aprendizado Cumulativo • Processo no qual a repetição e a experimentação faz com que, ao longo do tempo, as tarefas sejam efetuadas de forma mais rápida e melhor e que as novas oportunidades operacionais sejam efetivamente experimentadas. • A aprendizagem é cumulativa e coletiva (no âmbito da firma) e depende fundamentalmente de rotinas organizacionais codificadas ou tácitas. A Visão Neo-Institucionalista da Tecnologia • Aspectos institucionais afetam o comportamento econômico North (1990), atribui o desenvolvimento das nações à natureza de suas instituições. As instituições de hoje guardam fortes conexões com as de ontem; daí a importância da trajetória institucional ou path dependency. • Nenhum arranjo institucional pode ser definido como “ótimo”, pois eles são frutos de contingências culturais e políticas típicas de cada país. Em alguns países as instituições se desenvolveram de forma a favorecer o progresso econômico, enquanto em outros países não. O ambiente institucional determina as oportunidades de lucro, direcionando as decisões e o processo de acumulação de conhecimentos das organizações, gerando trajetórias virtuosas ou viciosas. Velhos Institucionalistas: A Escola Americana • A Escola Institucionalista surgiu no final do século XIX nos Estados Unidos por meio de Thorstein Veblen, John Commons e Wesley Mitchell e foi muito influenciada pela Escolas Historicistas alemã e inglesa. • Eles criticaram as teorias econômicas neoclássicas e principalmente os apologistas que dominavam a cena americana, que teriam pretensões universalistas sobre o funcionamento das “leis” econômicas. • Os Institucionalistas argumentavam que o mundo econômico não era imutável e sim condicionado pela influencia de uma história em constante mutação que afeta o indivíduo, as instituições e a sociedade que o cerca. Consideram que o mundo econômico é afetado por fatores históricos, sociais e institucionais que limitam as teorias sobre o seu funcionamento. Novos Institucionalistas • A Nova Escola Institucionalista se refere as correntes de pensamento que procuram explicar instituições políticas, sociais e econômicas tais como governo, leis, mercados, firmas, convenções sociais, família, etc. a partir da teoria econômica neoclássica. • Os novos institucionalistas são influenciados pela Escola de Chicago e usam a economia neoclássica para explicar áreas sociais normalmente consideradas fora da esfera econômica. Por isso, podem ser vistos como a antítese da velha Escola Institucionalista Americana que procura aplicar os princípios de outras ciências sociais na economia.