AGENTES TÓXICOS NATURALMENTE PRESENTES EM ALIMENTOS OXALATOS & SAPONINAS Lourdes Masson/Maria Ivone Barbosa Oxalatos Carambola (família das Oxalidácea, espécie Averrhoa carambola). • Definição – Sais resultantes de reações químicas do ácido oxálico associado ao • Na+ ou K+, formando sais hidrossolúveis, ou • Ca2+ formando sais insolúveis em água. Ácido oxálico Lourdes Masson 2 Oxalatos • Estrutura química: Oxalato de sódio Ácido oxálico Oxalato de cálcio Lourdes Masson Solúvel: cátions monovalentes Insolúvel: cátions bivalentes 3 Oxalatos • Tipo alimento • Tipo de espécie • Época de colheita Alimento Espécie Espinafre Universal Outras (mg/100g) 400-600 700-900 Soja Verdene Williams (mg/100g) 670 1480 (Espinafre - Cultivar verão=740mg/100g outono= 560mg/100g) • Ano de colheita L95-1573 (1998)=19,5 mg/g L95-1573 (1999)= 20,3 mg/g OBS.: O cozimento dos alimentos em água reduz em grande parte os oxalatos solúveis, porém os insolúveis permanecem no vegetal. Lourdes Masson 4 Oxalatos Alimento Concentração (g oxalato/100g) Espinafre 0,571 Ruibarbo 0,537 Cacau em pó 0,385 Soja 1,480 Beterraba 0,072 Carambola 0,500 Lourdes Masson 5 Oxalatos Alimentos processados Porção (g) Oxalato (mg/porção) Soja 28 392 Bebida soja 85 336 Tofu 85 116 Leite soja 240 518 Farinha soja 28 57,77 Molho soja 28 3,1 Fonte: Americam Dietetic Association: 10 mg oxalato/porção (Al- Wash et al. (2005)) Lourdes Masson 6 Oxalatos Alimento Porção Oxalatos (mg)/porção Folhas beterraba cozida ½ copo 916 Ruibarbo vapor ½ copo 860 Quiabo cozido 8-9 unidades 146 Chocolate 30 g 91 Beterraba cozida ½ copo 675 Gérmem de trigo 2 colheres 107 Fonte: http://www.endonutri.med.br/portal/tabartendocrino0004.asp Lourdes Masson 7 Oxalatos • Ingestão, metabolização e excreção – oxalatos da dieta • absorção pelo trato digestório => 2- 6% – não são metabolizados – excretados pela urina em até 24h • degradação pelas microflora intestinal excreção pelas fezes => restante Lourdes Masson e 8 Oxalatos • Origem dos oxalatos encontrados na urina – dieta • cerca de 10-20% do total – síntese endógena • a partir de aminoácidos e ácido ascórbico (cerca de 80% do total produzido pelo fígado) – secreção renal Lourdes Masson 9 Oxalatos • Implicações: 1. Os oxalatos são absorvidos no intestino e se combinam com o Ca2+ na corrente sanguínea => cristais insolúveis se acumulam nos rins, bexiga e uretra => irritação, inflamação, hematúria e dor. Lourdes Masson 10 Cristais- Oxalato de cálcio Cristais de oxalato de cálcio Lourdes Masson 11 Uric Acid Brushite Carbonate Apatite Calcium Oxalate Monohydrate deposited over Silica Silica (Canine) Struvite Uric Acid Calcium Oxalate Monohydrate Tipos de pedras nos rins Oxalatos Stuvite with staple Calcium Oxalate Monohydrate with superficial Dihydrate Calcium Oxalate Monohydrate Calcium Oxalate Dihydrate Calcium Oxalate Monohydrate (coated with Triamterene) Xanthine Brushite Struvite (Ferret) A formação de um cálculo no trato urinário é um fenômeno bastante complexo que envolve várias etapas: supersaturação urinária, cristalização, agregação dos cristais e adesão deste agregado ao urotélio formando um nicho para a adesão de novos cristais e, conseqüentemente, crescimento dos cálculos. Fonte: Tricalcium Phosphate & Apatites Lourdes Masson Calcium Carbonate Uric Acid Dihydrate Struvite (Feline) Kidney Stone Photographs 12 Oxalatos • Libert & Franceschi, 1987 – Dose letal de oxalato => 2-30 g • Holmes et al., 2001 – Ingestão de 150-250 mg de oxalatos => 40-50% oxalatos na urina Lourdes Masson 13 Oxalatos 2. Intoxicação aguda: (3 fases) 1ª : ingestão de cerca de 1g de oxalato => “corrosão”da língua e do trato digestório => ardor, dor, náusea e vômito. 2ª: combinação do oxalato com cálcio hipocalcemia => ação sobre SNC esqueléticos => colapso sérico => e músculos cardiovascular, redução coagulação sanguínea etc. 3ª: ação direta ácido oxálico ou deposição oxalato de cálcio nos túbulos renais => insuficiência renal Lourdes Masson 14 Oxalatos 3. Em casos de deficiência crônica de cálcio e ferro => redução da disponibilidade destes minerais 4. Irritação da pele e membranas => contato direto com plantas 5. Indivíduos do Nepal – inhame com sabor ácido => casos de inflamações e intoxicação (Bandhari & Kawabatha, 2005) Lourdes Masson 15 Oxalatos 6. Massey e cols., 1993 • [oxalato de cálcio na urina] x formação de cálculo renal é exponencial – risco de formar cálculo aumenta abruptamente quando a excreção urinária de oxalato excede 450μmol/dia (normal = 110-440 μmol/dia). – Hiperoxalúria (observada em 16-63% dos indivíduos com tendência à formação de cálculos renais) pode ser devido aos fatores: • alterações na flora intestinal, distúrbios gastrintestinais (doença intestinal inflamatória, doença celíaca, insuficiência pancreática) e aumento da síntese endógena. Lourdes Masson 16 Oxalatos 7. Influência da ingestão de cálcio na excreção urinária de oxalato – dieta pobre em cálcio (< 150 mg/dia) => maior absorção e excreção de oxalatos e vice-versa. • dieta rica em cálcio funciona como proteção contra a formação de cálculo renal. 8. Presença de fitatos na dieta pode aumentar a absorção de oxalatos, pois competem pela ligação com cálcio. Lourdes Masson 17 Oxalatos Efeito de processamento Alimento Componente Tratamento Redução Folhas de brócolis Ácido oxálico 10 minutos/fervura - 31 % Inhame (fatias) Oxalatos totais Assado (180 ºC/45 min) -6% 30 min/fervura Descarte da água - 53 % Dioscorea bulbifera Oxalatos totais Espinafre (Nova zelândia) Oxalatos totais 2minutos/fervura - 25 % Dioscorea bulbifera Inhame (fatias) Lourdes Masson 18 Oxalatos Efeito do processamento Oxalato (solúvel) Oxalato (insolúvel) Alimento* Cru Cozido Cru Cozido Espinafre 266,2 90,9 63,4 63,9 Brócolis 11,6 6,6 4,5 3,5 Ruibarbo 287,3 80,7 699,4 675,6 Cenoura 22,6 19,3 13 13 *Todos cozidos em água fervente em diferentes tempos Lourdes Masson 19 Oxalatos • Em Jaú (interior de SP) foi aprovada uma lei que obrigada todos os estabelecimentos a colocarem cartazes contendo informações sobre os perigos do consumo de carambola, tanto em sucos, fruta in natura ou polpa, para indivíduos com insuficiência renal. Os efeitos descritos estão associados a alta concentração do oxalato presente na fruta. Sabe-se que a mortalidade por intoxicação pela carambola em pacientes com Insuficiência Renal Crônica (IRC) pode chegar a 40% (Mendes, 2008). • Além da carambola, também devem ser evitados para estes pacientes: espinafre, castanha, chá, chocolate, beterraba, ruibarbo, morango e farelo de trigo (Massey e cols., 1993). Lourdes Masson 20 Saponinas em alimentos Saponinas ou Saponosídeos do latim : sapo = sabão Heterosídeos derivados tetracíclicos. dos triterpenos – Formam espuma abundante quando agitadas na água. • propriedade decorrente de sua estrutura química, na qual açúcares solúveis estão ligados a esteróides lipofílicos ou triterpênicos (Harbone & Baxter, 1995). Lourdes Masson 22 Saponinas • Outras propriedades: • possuem elevada solubilidade em água • agem sobre membranas, causando a desorganização das mesmas • complexam esteróides • são irritantes para as mucosas • têm sabor amargo e ácido Lourdes Masson 23 Saponinas • Aplicações gerais nas indústrias: – Alimentos • sopas, cervejas etc – Química • extintor de incêndio, detergentes – Cosméticos • xampu, loção capilar, dentifrícios – Farmacêutica • esteróides utilizados como anticoncepcionais ou em terapêutica (antiinflamatórios, andrógenos, estrógenos, progestágenos) são obtidos por hemisíntese a partir de fontes naturais (saponosídeos, fitosteróis, colesterol, ácidos biliares) Lourdes Masson 24 Saponinas • Defesa contra insetos e patógenos • Metabólitos secundário de plantas COMIGO-NINGUÉM-PODE Parte tóxica: todas as partes da planta. Sintomas: a ingestão e o contato podem causar sensação de queimação, edema (inchaço) de lábios, boca e língua, náuseas, vômitos, diarréia, salivação abundante, dificuldade de engolir e asfixia; o contato com os olhos pode provocar irritação e lesão da córnea. Princípio ativo: oxalato de cálcio, saponinas. Lourdes Masson 25 Saponinas Estrutura química Sapogenina (ou genina) Açúcar + AGLICONA = Saponina • glicose • galactose • ramnose • arabinose • xilose • etc. Lourdes Masson 26 Saponinas Classificação (de acordo com a sapogenina) saponinas esteroidais saponinas triterpênicas Saponinas • Esteroidais – possuem esqueleto com 27 C, num sistema tetracíclico – são menos distribuídas na natureza que as triterpênicas • Monocotiledôneas (Dioscoriáceas, Amarilidáceas, Liliáceas) • Dicotiledôneas (Solanáceas - alcalóides esteroidais) e • nos gêneros Strophantus e Digitalis (glicosídeos cardioativos) – apresentam grande importância farmacêutica • precursores para a síntese de compostos esteroidais (hormônios, contraceptivos, diuréticos etc.) – apresentam diversas variações estruturais Saponinas • triterpênicas – possuem esqueleto com 30 C, num sistema pentacíclico São divididas em 3 grupos principais Saponinas Classificação (de acordo com o açúcar) Lourdes Masson 30 Saponinas Alimentos Principal fonte: Legumes Legumes : Soyasapogenins (saponinas de soja) Lourdes Masson 31 Saponinas da soja Lourdes Masson 32 Saponinas • Soja – Teor varia de 0,5 a 0,6% – Possuem ação antioxidante, eliminando radicais livres. – Proteção contra a peroxidação dos lipídios. – Aumentam o fluxo sanguíneo na região cerebrocardial. – Aumentam a atividade das células NK (células exterminadoras naturais). – Aumentam a imunocompetência do organismo. – Inibem a proliferação das células de tumores (Rowlandsetal, 2002). SAPONINAS – alho e cebola Lourdes Masson 34 Saponinas No organismo 20% farinha soja (10 dias) Ratos Extrato lucerne (12 dias) O Apêndice vermiforme ou Apêndice cecal é uma pequena extensão tubular do ceco, a parte "cega" do intestino grosso ou cólon de muitos mamíferos Lourdes Masson o Não foram encontradas saponinas e sapogeninas sangue; oSaponinas : Açúcares/sapogeninas (Microflora do cecal) e enzimas da microflora não apresentaram especificidade Lucerne 35 Saponinas – Efeitos indesejáveis 1)Ensaios “in vitro” – Sistemas modelos • Ruptura (Lise) de eritrócitos e hemoglobinas •Complexação de saponinas de alfafa com Fe e Zn 2) Humanos: oIngestão 100 mg/dia (Vegetarianos) disponibilidade de Fe o Saponinas semente de alfafa : consumo 160g/dia anemia e pancitopenia (reversão após suspensão) Redução de eritrócitos, plaquetas e leucócitos Lourdes Masson 36 Saponinas Redução disponibilidade de minerais Alfafa: Redução dos teores plasmáticos de Zn e Fe Redução de teores plasmáticos de Fe Saponinas de farinha soja: Deficiência de Zn Lourdes Masson 37 Saponinas Efeito do processamento Termolábeis: Farinha de soja diluída em água % de degradação das saponinas de farinha de soja tempo 80ºC 100ºC 130ºC 10 -29 -38 -59 40 -39 -59 - 60 -53 -65 - Fonte: Tarade et al. (2006) Lourdes Masson 38 Saponinas • Ação tóxica – apesar de muito usadas na indústria farmacêutica, apresentam propriedades tóxicas aos seres humanos (Vickery & Vickery, 1981). • Sua ação lipofílica facilita a complexação das saponinas com esteróides, proteínas e fosfolipídeos das membranas celulares alterando a permeabilidade das mesmas, ou causando sua destruição (Schenkel et al., 2001).