Neoliberalismo - a cara do capitalismo contemporâneo

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Neoliberalismo - a cara do capitalismo contemporâneo - e pós neoliberalismo
Emir Sader
O capitalismo passou por várias fases na sua história. Como reação à crise de 1929,
fechou-se o período de hegemonia liberal, sucedido por aquele do predomínio do
modelo keynesiano ou regulador. A crise deste levou ao renascimento do liberalismo,
sob nova roupagem que, por isso, se auto denominou de neoliberalismo.
Este impôs uma desregulamentação geral na economia, com o argumento de que a
economia havia deixado de crescer pelo excesso de normas, que frearia a capacidade do
capital de investir. Desregulamentar é privatizar, é abrir os mercados nacionais à
economia mundial, é promover o Estado mínimo, diminuindo os investimentos em
politicas sociais, em favor do mercado, é impor a precariedade nas relações de trabalho.
A desregulamentação levou a uma gigantesca transferência de capitais do setor
produtivo ao especulativo porque, livre de travas, o capital se dirigiu para o setor onde
tem mais lucros, com maior liquidez e menos tributação: o setor financeiro. Porque o
capital não está feito para produzir, mas para acumular. Se pode acumular mais na
especulação, se dirige para esse setor, que foi o que aconteceu em escala mundial.
O modelo neoliberal se tornou hegemônico em escala mundial, impondo as políticas de
livre comércio, de Estados mínimos, de globalização do mercado de trabalho para os
investimentos, entre outros aspectos. É uma nova fase do capitalismo, como foram as
fases de hegemonia liberal e keynesiana. Não se pode dizer que seja a última, porque
um sistema sempre encontra formas – mesmo que aprofundem suas contradições - se
outro sistema não surge como alternativa, com a força correspondente para superá-lo.
Mas é uma fase difícil de ser superada, porque a desregulação tem muitas dificuldades
para ser superada. Mesmo com a crise atual afetando diretamente os países do centro do
capitalismo, provocada pela falta de regulação do sistema financeiro, ainda assim pouco
ou quase nada foi feito para o controle do capital financeiro, justamente a origem da
crise. Como já se disse: Obama salvou os bancos, achando que os bancos salvariam a
economia dos EUA. Mas os bancos se salvaram às custas da economia norteamericana,
que
segue
em
crise.
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É difícil para o capitalismo desembaraçar-se do neoliberalismo, etapa que marca o final
de um ciclo desse sistema. A discussão que se coloca é de se o modelo chinês representa
vida útil e inteligência mais além do neoliberalismo ou do capitalismo. Se sua via de
mercado se vale do mercado para superar o capitalismo ou se o mercado o vincula de
obrigatória
e
estreita
ao
capitalismo.
O certo é que ser de esquerda hoje é de lutar contra o neoliberalismo, não apenas
resistindo a ele, mas sobretudo construindo alternativas a este modelo, allternativas que
projetem para além do capitalismo. O neoliberalismo promove um brutal processo de
mercantilização das coisas e das relações sociais. Tudo passa a ter preço, tudo pode ser
compra e vendido, tudo é reduzido a mercadoria, em um processo que tem no shopping
center
sua
utopia.
Nesse caso, lutar pela superação do neoliberalismo é desmercantilizar, restabelecer e
generalizar os direitos como acesso a bens e serviços, ao invés da luta selvagem no
mercado, de todos contra todos, para obtê-los às expensas dos outros. Generalizar a
condição do cidadão às expensas da generalização do consumidor. Do sujeito de direitos
e
não
do
dono
de
poder
aquisitivo.
Quanto mais se desmercantilizar, quanto mais se afirmar os direitos de todos, mais se
estará criando esfera pública, às expensas da esfera mercantil (que eles chamam de
privada). Essa pode ser a via de passagem do neoliberalismo como estágio do
capitalismo à sua superação, a uma era pós-capitalista. Mas hoje o que nos une a todos é
a luta por distintas formas de pós neoliberalismo - pela universailização dos direitos,
pela extensão da cidadania em todas suas formas – politica, econômica, social, cultural , pelo triunfo do Estado social contra o Estado mínimo, da esfera pública contra a esfera
mercantil.
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