Psicologia Aplicada à Fisioterapia

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Psicologia Aplicada à Fisioterapia- PAF
Título : A Relação Fisioterapeuta, Paciente e sua Doença
A RELAÇÃO FISIOTERAPEUTA, PACIENTE E SUA DOENÇA
Estar tecnicamente preparado não é o suficiente para que o profissional se relacione bem com o
seu paciente. A técnica é importante, fundamental para que os resultados sejam positivos, mas
toda a técnica será insuficiente se o relacionamento entre o fisioterapeuta e o paciente não for
adequada.
Considerando que o trabalho do fisioterapeuta exige o tocar, podemos afirmar que apesar da
ética e dos cuidados que o profissional usa para este tipo de procedimento, o toque pode
desencadear reações negativas no paciente, pois a relação que o sujeito tem consigo mesmo irá
refletir neste momento.
Não é possível estabelecer o sucesso do tratamento, sem antes conhecer o diagnóstico as causas
que levaram o indivíduo para o tratamento [curativo ou paliativo]; conhecer as expectativas do
paciente, seu grau de ansiedade e avaliar que tipo de relação o paciente tem consigo mesmo e o
vínculo irá estabelecer com o profissional e a equipe que o atende. Não podemos ignorar que o
paciente ao enfrentar o sofrimento físico, conseqüentemente também outras dimensões suas
estão sendo atingidas (psíco/emocional/social/cognitivo)
É necessário que se estabeleça uma relação de confiança e ajuda - mútua entre o fisioterapeuta e
o paciente, para que o ideal do tratamento seja conseguido. Durante todas as etapas até a
recuperação do paciente, a convivência deve servir para estreitar o vínculo e fortalecer a
confiança entre o fisioterapeuta e seu paciente.
TRANSFERÊNCIA E CONTRA-TRANSFERÊNCIA
Transferência – Sempre que uma pessoa se relaciona, seja com uma ou com mais pessoas,
encontra a oportunidade de falar de si, de assuntos diversos e também, de expressar os seus
sentimentos. A fala será compreendida de modo claro, embora possa haver diferentes
interpretações. Mas os sentimentos são subjetivos e sempre serão interpretados de modo
particular, único, por aquele que ouve, correspondendo ou não ao sentimento expresso pelo
outro.
Em se tratando da relação entre profissional-paciente, sempre vamos encontrar situações em que
o paciente deposita no profissional os seus sentimentos. E tais sentimentos podem ser de
confiança ou desconfiança, medo, desespero, negação, indiferença, enfim, um número sem fim
de sentir. Cada paciente será único e embora a técnica utilizada pelo fisioterapeuta possa ser a
mesma, a forma de expressão de tais sentimentos será diferente. Toda vez que o paciente
entrega ao fisioterapeuta os seus sentimentos, seus medos, suas fantasias, não apenas divide
com ele o que é seu, mas está também, transferindo para o profissional as suas emoções.
Contra-transferência - Toda vez que o profissional usa o processo descrito anteriormente,
passando aquilo que é seu, no sentido de emoções, sentimentos, para o paciente, está
processando inversamente. Tal situação deve ser evitada. É importante que o fisioterapeuta
esteja atento e tome todo cuidado para evitar que isso ocorra, pois será desagradável para
ambos. O paciente não é uma pessoa preparada para entender tal situação e o tratamento tende a
ficar prejudicado, caminhando para o fracasso.
FORMANDO VÍNCULO
O sucesso das relações entre as pessoas depende do entrosamento entre elas e isso só é possível
se houver um vínculo que garanta o entendimento e a comunicação. Em se tratando do
profissional-paciente, isso é essencial porque a formação de um vínculo consistente dará ao
paciente segurança com relação aos procedimentos que o fisioterapeuta irá realizar. Há uma
tendência de abandono do tratamento, caso o paciente não sinta confiança no profissional, e isso
independe da técnica e da competência do fisioterapeuta.
O primeiro vínculo que o ser humano estabelece em sua vida, é quando ao nascer é recebido por
alguém que além de acolhê-lo, o protege e cuida para que ele possa sobreviver. Segundo alguns
estudiosos do comportamento, todos os vínculos que são estabelecidos no decorrer da vida,
estão baseados nesta primeira experiência, nesta vivência primitiva.
AVALIAÇÃO DO PACIENTE: a avaliação tem início a partir do ingresso inicial do paciente
para o tratamento devendo se estender ao longo da reabilitação. É essencial que o fisioterapeuta
compreenda os processos patológicos, terminologia médica, diagnósticos diferenciais que
empregam exames laboratoriais, outros exames diagnósticos e manejo médico, inclusive
farmacológico. Assim, a avaliação é fundamental do tratamento, sem a qual sucessos e fracassos
perdem seu valor como experiências de aprendizagem.
A entrevista inicial é utilizada para se obter informações a respeito do paciente:
- Queixas primárias; história da enfermidade ou lesão; estilo de vida anterior ao problema;
metas; expectativas pessoais; motivações; conhecimento do problema médico;
- Informações pertinentes aos ambientes residencial e profissional
- Ouvir cuidadosamente o que o paciente diz com atenção as funções mentais e físicas;
- Estabelecer uma comunicação efetiva e de confiança mútua.
Após ter reunido todas as informações preliminares, a determinação dos
procedimentos necessários pertinentes à avaliação pode ser realizada por meio de exames de
triagem. Estes permitem ao fisioterapeuta destacar com rapidez os dados dos sistemas corporais,
pela observação das áreas deficientes. Os exames exploratórios também indicam as áreas que
exigem avaliações mais aprofundadas.
Antes de cada tratamento, o paciente deve ser reavaliado utilizando-se marcadores
subjetivos e objetivos de forma a julgar a eficácia do trabalho fisioterápico, também para
determinar os efeitos do tratamento ou dos efeitos que outras atividades possam ter sobre os
sinais e sintomas do paciente. Durante todo processo de avaliação é essencial observar o
progresso a partir da perspectiva do paciente, assim como a partir dos achados físicos.
Avaliação objetiva: neste tipo de avaliação buscam-se anormalidades da função e para isso são
utilizados testes ativos, passivos, resistidos, neurológicos e especiais de todos os tecidos
envolvidos. Isto pode ser guiado pela história. O exame objetivo compromete-se com a
realização e registro objetivos dos sinais. Objetivos para:
- Reproduzir todos ou parte dos sintomas do paciente;
- Determinar o padrão, a qualidade, a amplitude, a resistência e a resposta à dor para cada
movimento;
- Identificar os fatores que predispuseram ou emergiram a partir da desordem;
- Obter sinais sobre os quais reavaliar a efetividade do tratamento, produzindo “asteriscos” ou
“marcadores” de reavaliação (Jull, 1994 apud Porter, 2005)
Avaliação subjetiva: deve incluir o nome e os dados pessoais do paciente, no caso dele estar
internado seu número de registro no hospital; o nome e a especialidade do médico que o
encaminhou.É essencial informações quanto ao desempenho ou não das atividades profissionais
no momento e as razões, no caso de incapacidade para lidar com as demandas físicas do
trabalho. Saber do paciente se a elevação, os movimentos repetitivos ou a manutenção de
posturas inapropriadas aumentam os sintomas. Identificar as atividades de lazer e os interesses
do paciente. Identificar o tempo que o paciente esteve fora do trabalho ou que foi incapaz de
participar em atividades físicas. Avaliar a progressão dos sintomas
A RELAÇÃO PACIENTE E SUA DOENÇA
Vivemos numa sociedade que valoriza o belo e o perfeito. Mas não é de hoje que
criamos e estabelecemos modelos a serem seguidos; ocorre que atualmente, a força da mídia
exerce cada vez mais pressão sobre os indivíduos, e atingir os padrões sociais se torna quase
inatingível para a maioria das pessoas. Num mundo que observamos girar ao redor
do saudável (englobando a beleza e a perfeição - física, mental, cognitiva e principalmente
econômica), observamos que a meta a ser atingida, a partir de tais padrões, está voltada quase
sempre para a “perfeição”.
Mas o que acontece quando a pessoa não consegue alcançar tais exigências? Como entender o
adoecer e a quebra na tentativa em busca desse ideal?
Alguns teóricos referem que o que perturba a harmonia do ser é um agente exterior que penetra
as defesas do corpo (ou da mente). Tal agente pode ser uma força física, que provoca
machucados, feridas, contusões, fraturas, etc.; uma substância química, por exemplo, um ácido,
um veneno, um gás letal, um líquido caústico; ou um germe, de origem de uma infecção; ou
ainda um trauma mental. A doença, de acordo com esta teoria, é a soma total do dano original e
das defesas corporais (ou mentais) mobilizadas contra ele. A fonte psicológica dessa teoria é a
crença – e a esperança – de que somos essencialmente “bons” e de que todo “mal” deve vir de
fora. Assim, o tratamento apropriado seria expulsar o “mal” da própria pessoa. Essa idéia é
primitiva e gerou inúmeras técnicas de magia e exorcismos, passando pelos “purgativos”, os
enemas (lavagens intestinais) e as flebotomias (método de sangria), a muitas e desnecessárias
operações cirúrgicas.
Ao longo dos tempos o homem busca entender sobre a natureza das enfermidades, não
apenas pelo seu valor e utilidade científica, mas também os determinantes psicológicos,
refletindo um aspecto ou outro da relação do homem com sua doença. A partir do pensamento
psicanalítico, o adoecer traz uma desorganização à vida do sujeito e essa etapa pode durar
alguns minutos ou um longo tempo. A pessoa retrai-se gradualmente do seu meio e primeiro
cria e logo desenvolve a doença em sua própria pessoaextraindo-a de si mesmo. Conhece-se mal
a natureza deste período, mas é um período de suma importância para o destino futura da
doença e do doente.
BALINT (1988) relaciona este período como uma criação artística; partindo do pensamento
psicanalítico, vê a doença como uma espécie de filho, neste caso um filho mau e malcriado, que
em lugar de trazer prazer é fonte de dor e aborrecimento para seu criador. De acordo com essa
teoria o “fator negativo” não tem a ver com o paciente, provém do exterior e é, no verdadeiro
sentido da expressão, um “corpo estranho”. Mas tanto nessa teoria como na anterior, a doença é
sempre algo negativo que ameaça com dores, privações e mesmo com destruição, a menos que
possa defender-se ou desembaraçar-se dele, por si mesmo ou com a ajuda médica ou do
profissional capaz de lhe socorrer.
A forma de enfrentamento do adoecer vai mudar de acordo com o tipo e a duração da doença
que o sujeito apresenta. Um dedo machucado ou um grave acesso de gripe pode ser atribuído a
algo “mau”, com origem do mundo exterior. Mas se o paciente apresenta periodicamente uma
lesão de menor importância, supomos que existe certa inclinação a sofrer acidentes; se apresenta
um número excessivo de infecção falamos de hipersensibilidade, condição alérgica, etc.
BALINT (1988) afirma que quanto mais prolongado o período de observação, mais se acentua a
impressão de que a doença é uma condição do paciente quase tão característica como a forma de
sua cabeça, sua altura ou a cor de seus olhos.
Esse mesmo autor coloca questões importantes para reflexão: qual é o fator primário, uma
enfermidade orgânica de caráter crônico ou certo tipo de personalidade? Esses dois fatores são
independentes entre si, interdependentes, ou um deles é causa e o outro efeito? E se é assim, que
papel corresponde a cada um? Pessoas irritadiças tem possibilidades de contrair úlceras, ou
essas tornam irritadiças as pessoas? Até pouco tempo atrás, entendia-se que toda doença crônica
determinava o desenvolvimento de uma “superestrutura neurótica”. A busca por essas questões
levou alguns pesquisadores à modificação do pensamento médico e graças a isso temos hoje a
Medicina Psicossomática*.
Para certas pessoas, ficar doente constitui rude golpe, para outras um bem-vindo
alívio. Há aqueles que, devido à gravidade de sua “deficiência fundamental”, acham a vida
muito difícil, que só obtêm escassas satisfações e, cuja economia mental ou biológica é precária
e instável. Para esses indivíduos, mesmo as doenças de menor importância são excessivas, a
vida é um fenômeno esgotador, que os frusta e deprime, e a enfermidade lhes oferece uma
oportunidade aceitável para retrair-se e “cuidar de si mesmos”. Seja um grave choque ou uma
bem-vinda justificativa para refugiar-se, a doença é sempre uma forma de vida. Isto é
especialmente certo no caso das enfermidades de certa duração, que dão tempo ao paciente para
que se adapte a ela. Essa adaptação não é o mesmo que “organização”, citado no início deste
texto. Aqui BALINT (1988) cita a doença como forma de vida.
Com base na psicanálise, o autor baseia sua discussão nos lucros primários e
secundárias da doença, pois nenhuma forma de vida pode subsistir sem certo grau de
gratificação. Isso significa reciprocamente que quando se pretende modificar uma determinada
forma de vida, é preciso utilizar uma força compulsiva ou oferecer gratificações mais aceitáveis
em lugar daquelas que a mudança impossibilitou. Diretamente, as gratificações podem ser
entendidas entre outras, como oportunidades que a doença oferece e que permitem ao paciente
se afastar das relações insatisfatórias ou frustantes. Outra oportunidade é a introversão, ou seja,
o indivíduo não só se aparta do meio, mas ao mesmo tempo se concentra firmemente em sua
própria pessoa; outra possibilidade é a de regressão ou formas infantis na conduta do paciente
podendo ser uma conseqüência da gravidade da doença, um caso extremo, como é o delírio
quando o paciente sofre de febre muito alta. A regressão pode constituir também uma tentativa
de autocura, o caso provável da temperatura elevada em certas infecções; talvez o paciente
regresse a um nível mais primitivo para buscar uma oportunidade de desenvolver-se em uma
direção diferente, evitando assim a que se tornou bloqueada pela enfermidade.
Um segundo grupo de gratificações que permite ao paciente submeter- se à doença ou
aceita-la como forma de vida é o dos lucros secundários. A doença do mesmo modo que
qualquer outra condição humana pode ser utilizada para obter algo que o indivíduo considera
útil ou valioso. O exemplo mais conhecido é o da neurose, além de outros. Embora de pouco
valor para quem observa de fora, são importantes para o paciente. Um exemplo dos benefícios
secundários é o paciente receber um tipo de atenção que em outras situações que não da doença
ele não encontra como: ser levado de táxi para o atendimento; ser o centro de certas agitações e
outras situações que fazem com que o paciente se sinta importante.
BIBLIOGRAFIA:
BALINT, Michael. O médico seu paciente e a doença.Rio de Janeiro: livraria Atheneu. 1988
(capítulo 19)
PORTER, Stuart B. Fisioterapia de Tidy. 13ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. (capítulos 1 e 2)
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