INFORMÁTICA APLICADA AO ENSINO: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA Reginaldo Carneiro – PPGE/UFSCar - [email protected] Introdução A disciplina Informática Aplicada ao Ensino foi cursada pelo autor deste trabalho no segundo semestre de 2004. Ela faz parte da grade curricular do curso de Licenciatura plena em Matemática, da Universidade Federal de São Carlos, e é oferecida no último semestre do curso (8º período). Essa disciplina foi implantada no ano de 2001, quando da mudança curricular que aconteceu no ano anterior, com o intuito de preparar os futuros professores para a utilização das tecnologias na sua prática docente. É um curso1 de quatro créditos, que totalizam sessenta horas/aula, sendo de quatro horas semanais a duração de cada aula. Tem como objetivos: a) Investigar novas tecnologias de comunicação aplicadas à educação matemática. b) Provocar a mudança de postura didática do professor face às ferramentas tecnológicas de apoio e ao sincronismo com o mundo atual. Discutiremos, no presente relato, as potencialidades e limites de uma disciplina como essa, num curso de formação de professores de Matemática. Formação Inicial e Tecnologias da Informação e Comunicação Com a inserção das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) nas escolas, a função docente ganha novas dimensões, pois o professor passa a ser: Um explorador capaz de perceber o que lhe pode interessar, e de aprender, por si só ou em conjunto com os colegas mais próximos, a tirar partido das respectivas potencialidades. Tal como o aluno, o professor acaba por ter de estar sempre a aprender. Desse modo, aproxima-se dos seus alunos. Deixa de ser a autoridade incontestada do saber para passar a ser, muitas vezes, aquele que menos sabe, o que está longe de constituir 1 Dados retirados do plano de ensino da disciplina. 2 uma modificação menor do seu papel profissional (PONTE, 2000, p. 76). Esse novo cenário que se compõe, faz-nos refletir sobre a formação inicial dos professores, local apropriado para um primeiro contato com as TIC’s, de forma a permitir discussão e reflexão sobre suas potencialidades e limites. Sendo assim, aos futuros professores devem ser proporcionados ambientes que os coloquem em contato e permitam-lhes refletir sobre a utilização das TIC’s na sala de aula, em situações de ensino-aprendizagem, e não apenas dar-lhes conhecimentos técnicos. As instituições de formação inicial têm forte responsabilidade no desenvolvimento dos professores, para que estejam abertos à mudança, tenham gosto pela aprendizagem contínua e receptividade à inovação pedagógica. Aprender a usar, com critério e criticamente, as tecnologias, incluindo a capacidade de aprender a lidar com novos softwares e equipamentos, é parte fundamental na preparação do futuro professor (PONTE e SERRAZINA, 2001). Segundo Oliveira, Ponte e Varandas (2003, p. 162), os cursos de formação inicial devem desenvolver nos professores diversas competências. Assim, para que os docentes utilizem as TIC’s no processo de ensino-aprendizagem é fundamental que eles saibam: Usar softwares utilitários (processador de textos, planilhas de cálculo, etc.); Usar e avaliar software educativo; Integrar as TIC’s em situações de ensino e aprendizagem; Enquadrar as TIC’s num novo paradigma do conhecimento e aprendizagem; Conhecer as implicações sociais e éticas das TIC’s. Para que essas competências sejam desenvolvidas pelos professores, exige-se reformulação das metodologias de ensino e o redimensionamento de suas práticas pedagógicas, permitindo ampliação, fortalecendo experiências de aplicação das mesmas no processo de ensino-aprendizagem e adequando os recursos tecnológicos como ferramentas pedagógicas (MERCADO, 1999). De acordo com Ponte (2000, p. 77), o professor tem que modificar profundamente “sua forma dominante de agir: de (re)transmissores de conteúdos, passam a ser co-aprendentes com os seus alunos, com os seus colegas, com outros actores educativos e com elementos da comunidade em geral”. 3 Nesse sentido, é necessário, ainda, que o professor tenha oportunidade de interagir com as TIC’s, de forma diversificada. Essa interação deve ocorrer em vários espaços, tais, como, na formação inicial e na formação continuada e nas próprias instituições escolares e, também, discutir questões relacionadas às transformações influenciadas por elas (PEREZ, 1999). Conseguir que os professores adquiram essas competências demanda transformações nos currículos dos cursos de formação, considerando que em algumas licenciaturas não se têm disciplinas com a intenção de colocar os futuros professores em contato com as TIC’s, para que possam analisar e refletir sobre as potencialidades e limites desses recursos em situações de aprendizagem; ou, ainda, as disciplinas fornecem, apenas, conhecimentos técnicos sobre os computadores e softwares. Como afirmam as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores (2001, p. 24), “ainda são raras as iniciativas no sentido de garantir que o futuro professor aprenda a usar, no exercício da docência, computador, calculadora, Internet e a lidar com programas e softwares educativos”. Em um estudo realizado por Reali e Simião (2002), as dificuldades enfrentadas por professores na utilização de recursos tecnológicos são atribuídas ao fato de não terem, em nenhum momento do curso de Licenciatura, uma disciplina que explore o uso das TIC’s ou discuta a aplicação do computador em situações práticas de ensino. Segundo Borba e Penteado (2001, p. 87), já há sinais evidentes: (…) que se o professor não tiver espaço para refletir sobre as mudanças que acarretam a presença da informática nos coletivos pensantes, eles tenderão a não utilizar essas mídias, ou a utilizála de maneira superficial, domesticando, portanto, essa mídia. Além disso, os professores formadores devem modificar suas concepções e crenças em relação as TIC’s, pois são eles que têm a responsabilidade de desenvolver, nos seus alunos, as competências já citadas. Se continuarem a ensinar da mesma forma que o fazem, sem essas tecnologias, ou ainda, do ponto de vista do paradigma instrucionista2, essa utilização não provocará nenhuma mudança na prática dos professores. Sendo assim, se os futuros professores utilizarem as TIC’s, assim farão Para Valente (1993), o paradigma instrucionista é uma maneira de informatizar os métodos tradicionais de instrução. 2 4 como elemento de motivação para aumentar o interesse dos alunos pelas aulas ou como elemento facilitador para realizar tarefas que podem ser feitas manualmente, e não como elemento de possibilidade, ou seja, para realizar tarefas que seriam difíceis de fazer de outro modo (CANAVARRO, 1993). Nesse contexto, a disciplina Informática Aplicada ao Ensino, tal como foi ministrada, pode ser um primeiro passo no sentido de possibilitar aos professores a utilização das TIC’s, em sua prática de sala de aula. No entanto, acreditamos que somente o curso de formação inicial não dá conta de fornecer todas as ferramentas necessárias para que os docentes utilizem as tecnologias, da melhor maneira possível, mas é um primeiro contato que pode ser de fundamental importância, dando ao professor condições de buscar novos conhecimentos sobre elas, em cursos de formação continuada, por exemplo. A disciplina A disciplina Informática Aplicada ao Ensino contou com vários momentos, incluindo discussão de textos e documentos oficiais sobre a inserção e a utilização das TIC’s na Educação; elaboração de aulas simuladas, envolvendo algum conhecimento matemático e essas ferramentas; contato com diferentes softwares para o ensino de Matemática; e construção de páginas para Internet, entre outros. Durante todo o curso da disciplina, foi utilizado um Sistema de Gerenciamento de Cursos chamado WEBCT, que é disponibilizado pela universidade para todos os cursos. Possibilita que o docente coloque na Internet uma página com um ambiente criado para os alunos matriculados na disciplina. Nesse ambiente, o professor pode colocar a ementa do curso, pode divulgar o calendário com as datas mais importantes, divulgar tarefas, exercícios e trabalhos, bem como deixar os resultados das avaliações, pode promover conversas eletrônicas entre os alunos e enviar mensagens para eles, entre outros. Nesse programa, toda semana o professor deixava alguma atividade para os licenciandos, como: escrever suas concepções e perspectivas sobre a utilização das tecnologias nas aulas de Matemática; fazer comentários sobre a aula simulada dos colegas, entre outras. É importante assinalar que esse software também permitia o acesso às atividades realizadas pelos colegas, o que possibilitava um ambiente de trocas de experiências e de opiniões. A participação na realização dessas atividades, assim como a pontualidade com relação ao prazo de entrega das mesmas, a originalidade dos comentários e perspectivas 5 expostas foram consideradas pelo professor como 40% da nota final do curso. O controle da pontualidade citado deve-se ao fato de que quando era colocada a atividade no WEBCT, também se estipulava a data para a entrega e, por conta de limites do aplicativo, o horário era sempre às 23:55 horas, referente ao dia de entrega. Entretanto, a proposta da data era flexível, uma vez que em discussão com os alunos poderia ser modificada para possibilitar a participação de todos, caso alguém tivessem algum impedimento de realizar a atividade no período proposto inicialmente. Num primeiro momento da disciplina, foram discutidos textos que abordavam a temática da inserção e a utilização das tecnologias na Educação e nas aulas de Matemática. Para tanto, os alunos foram solicitados a procurarem, em sites da Internet, em livros, etc., textos que envolviam o assunto a ser debatido nas aulas. Também foi discutida a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para essa temática. As discussões, sempre muito ricas, com contribuições para o desenvolvimento dos futuros professores, eram feitas em sala de aula. Um dos motivos que possibilitou essa riqueza nos debates foi o fato de que estavam matriculados na disciplina alguns alunos que já lecionavam nos diversos níveis de ensino da Educação Básica e que, por conta desse contato com a sala de aula, expunham algumas de suas experiências profissionais. Nesse período de discussão dos textos, em uma atividade proposta pelo professor, que deveria ser realizada no WEBCT, os alunos tiveram que fazer comentários sobre a utilização das tecnologias nas aulas de Matemática. Outra atividade, que provavelmente surpreendeu todos os alunos, foi a elaboração de um poema sobre essa temática. Após esse momento inicial da disciplina, passamos a investigar alguns aplicativos, que podem ser utilizados para ensinar conteúdos matemáticos. O primeiro deles foi um “programa” desenvolvido pelo professor formador, através de macros3 no Excel, que se chama Tabuada Maluca. Numa planilha existe um tabuleiro no qual são apresentadas operações de multiplicação e o usuário deve escrever o resultado. Há um espaço, que marca os erros e acertos e que vai acrescentando, uma a uma, cada tentativa certa ou errada. Também existe um botão que mostra uma nova operação. Numa outra planilha estão as macros que permitem o funcionamento adequado da Tabuada Maluca. Macro é uma seqüência de comandos e funções armazenadas e que pode ser executada sempre que precisar executar a tarefa. 3 6 O professor explicou como construir esse tipo de “programa” e a função de cada linha de comando. Os alunos foram, então, solicitados a construir outro programa que envolvesse algum conteúdo matemático. Surgiram os mais diferentes conteúdos, como: adição, subtração, divisão, potenciação, radiciação, combinação simples, derivada e integral. Outro software explorado foi o Cabri Géomètre II, programa de geometria dinâmica que possibilita construções geométricas, sendo possível investigar e aprender, de forma dinâmica, as diversas propriedades intrínsecas à construção de figuras geométricas (MISKULIN, 1999). Foram abordados vários problemas matemáticos, que possibilitaram uma maior interação e conhecimento das ferramentas desse software. Esse tipo de programa é muito útil porque, diferentemente do anterior e dependendo da utilização que é feita pelo docente, pode proporcionar a investigação e a exploração de determinados conteúdos geométricos, facilitando e enriquecendo a aprendizagem do aluno. Também investigamos problemas com o Logo, software no qual, através de simples comandos, o usuário movimenta uma tartaruga. Muitos dos alunos não conheciam esse programa e, pelo manuseio, para solucionar as situações propostas, aprenderam alguns de seus comandos básicos e tiveram uma visão geral das suas potencialidades no ensino de geometria. O software de computação algébrica Maple V também foi abordado nessa disciplina. Esse aplicativo possui muitos recursos que incluem a resolução de equações, inequações, sistemas, operações com matrizes, cálculo de limites, derivadas e integrais, esboços de gráficos planos e tridimensionais, resolução de equações diferenciais, entre outros. Os alunos tiveram que resolver problemas de escoamento e fazer comentários no WEBCT. Aprendemos também um pouco sobre as calculadoras gráficas, manuseando a TI-92, da Texas Instruments. Nessa ferramenta utilizamos o Cabri Géomètre e também o software Derive4. Num outro momento da disciplina, os alunos apresentaram aulas simuladas, utilizando algumas das TIC’s e conteúdo matemático, em grupos de três alunos. O conteúdo e as tecnologias usadas foram escolhidos pelos grupos e podiam, ou não, se referir ao que foi abordado nas aulas. Por isso, houve uma grande diversidade de temas, Programa de computação algébrica, com muitas funções, dentre elas: simplificação algébrica, construção de gráficos tridimensionais, cálculo de integrais, limites, derivadas, etc. 4 7 que foram tratados através de vários assuntos: código de barras (função); mosaicos (translação e rotação com o Cabri Géomètre); figuras geométricas (Logo); criptografia (função e matrizes); operadores lógicos e números binários (TCP/IP 5); geometria fractal (Logo); tabuada e sistema monetário (DOSVOX6). Sessenta por cento (60%) da nota final referiam-se às aulas simuladas, sendo que essa nota foi composta pela avaliação dos colegas (40% da nota) e do professor (60% da nota). Consideramos importante essa avaliação realizada pelos alunos, pois representa um momento de aprendizagem de elaboração e aplicação de critérios para fazerem suas próprias avaliações, o que aconteceria, com freqüência, ao se tornarem professores. Acreditamos que o contato com os softwares e as aulas simuladas foram dois dos momentos mais importantes, por terem possibilitado o contato de toda a turma com esses diversos aplicativos e formas de abordar os conteúdos que eram, até então, desconhecidos. Como última tarefa a ser realizada, na disciplina, os grupos que apresentaram as aulas simuladas tiveram de criar páginas para a Internet, nas quais deveriam constar as aulas dadas e mais informações sobre o assunto. Para realizarem essa atividade de elaboração de páginas para a Internet, foi necessário que muitos alunos aprendessem a utilizar os editores de páginas, como o FrontPage, ou a linguagem HTML7. Posteriormente, essas páginas foram disponibilizadas na Internet, podendo auxiliar outras pessoas interessadas nos assuntos que elas contêm, compartilhando, assim, as experiências que foram vividas na disciplina. Destacamos, também, que algumas das aulas, durante o semestre, foram virtuais, de acordo com o parágrafo 2º, artigo 1º, da Portaria 4059, de 10/12/2004, do Ministério da Educação, que permite que uma disciplina pode ser ofertada nessa modalidade, desde que não ultrapasse 20% da carga horária do curso. Nesses encontros virtuais, foram realizadas algumas atividades deixadas no WEBCT pelo professor. Algumas Considerações Protocolo de Controle de Transmissão e Protocolo de Internet – podem ser vistos como um grupo de camadas em que cada uma resolve um grupo de problemas de transmissão, fornecendo um serviço bem definido para os protocolos superiores. 6 Sistema para computadores que se comunica com o usuário através de síntese de voz, viabilizando o uso de PC por deficientes visuais. 7 Linguagem de programação com a qual se criam páginas para a Internet. 5 8 A grande variedade de atividades e de momentos da disciplina proporcionou aos alunos um leque de possibilidades e conhecimentos que poderão ajudá-los a utilizar as TIC’s, em suas práticas de sala de aula. A discussão e o debate dos textos sobre esse tema, ocorridos no decorrer da disciplina, levaram os futuros professores a refletirem e analisarem a importância das tecnologias no ensino de Matemática e, também, seus limites. Dessa maneira, o curso de formação inicial é um dos caminhos para proporcionar a formação de um professor crítico e que utiliza as ferramentas tecnológicas com critérios, não apenas por estar na moda, mas porque tem objetivos definidos e que podem ser alcançados com determinada TIC. Acreditamos que as competências, apontadas por Oliveira, Ponte e Varandas (2003), que precisam ser desenvolvidas nos professores, foram abordadas no desenvolvimento da disciplina. É importante destacar que o uso de planilhas de cálculo, processadores de textos, etc. não foi ensinado aos licenciandos nesse curso, pois, no primeiro ano da Licenciatura, existe uma disciplina chamada Computação Básica, que possui esse objetivo. Também apontamos que a investigação dos diversos aplicativos proporcionou aos alunos a utilização e avaliação de softwares educativos. Levando-se em conta que em um curso como esse não é possível abordar todos os programas educativos, em virtude do grande número deles, que existe no mercado. Nesse sentido, o professor formador optou por apresentar os mais conhecidos. Em algumas atividades realizadas no WEBCT, os futuros professores avaliaram esses programas, impulsionando-os a refletirem sobre como, quando e por que usar esses recursos. Outro ponto que é necessário assinalar refere-se às aulas simuladas. Elas serviram para integrar as TIC’s em situações de ensino-aprendizagem, sendo que, após a apresentação, os colegas e o docente davam sugestões e faziam críticas, ensejando a melhoria das mesmas, implicando no enriquecimento das aprendizagens. Em relação à mudança de paradigma de conhecimento e aprendizagem, a disciplina forneceu meios para os professores buscarem novos conhecimentos, ou seja, eles devem estar sempre em constante aprendizado. Fica claro, quando Ponte (2000) expõe que tanto o professor quanto o aluno devem estar em constante aprendizagem, afinal, o aluno, muitas vezes, sabe mais do que os docentes, o que não faz mais com que o professor seja o detentor do conhecimento – não apenas em relação às TIC’s –, porque, em uma aula com esses recursos, podem surgir dúvidas de conteúdo que ele não 9 saiba esclarexer. Ainda, segundo esse autor, os professores deixam de ser (re)transmissores do conhecimento para serem co-apreendentes, junto com seus alunos. Dessa forma, essas competências apontadas vêm ao encontro dos objetivos da disciplina, que pensamos terem sido alcançados. Como já apontado, não acreditamos que um curso de formação inicial, muito menos uma disciplina de um semestre, dê conta de preparar os professores para a utilização das TIC’s em sala de aula. Entretanto, como relatado em alguns estudos (REALI e SIMIÃO, 2002; BORBA e PENTEADO, 2001), se os docentes não tiverem oportunidades de discutirem e explorarem as tecnologias, eles, dificilmente, as utilizarão em sua prática docente. Embora a disciplina possua algumas lacunas, que precisam ser superadas, acreditamos que ela pode trazer significativas contribuições para a formação de professores que ensinam Matemática. Uma crítica que fazemos à disciplina é o fato de que alguns softwares abordados, como o Maple V, que é um aplicativo de alto custo e em inglês, portanto, sendo mais utilizado em cursos superiores, é de difícil utilização pelos alunos e de aquisição pelas escolas. Sendo assim, esse programa poderia ter sido substituído por algum outro mais indicado aos objetivos de preparação do professor de Matemática, para atuar na Educação Básica. Um exemplo é o Graphmatica, um software para resolução de equação, que possibilita representar graficamente funções cartesianas Com relação à Tabuada Maluca, a crítica que fazemos é que esse tipo de programa apenas será utilizado como um elemento de motivação ou facilitação, porque vai transferir para o computador uma tarefa que pode ser realizada manualmente, não provocando uma verdadeira inovação na prática de sala de aula (CANAVARRO, 1993). Enfatizamos que outros aspectos poderiam ter sido abordados na disciplina, como a utilização das calculadoras simples, em sala de aula, não apenas para conferir resultados de operações aritméticas, mas para levantar e verificar hipóteses, descobrir padrões, trabalhar seqüências numéricas etc. A calculadora pode ser usada em vários momentos, para permitir abordagens mais reais de situações-problema e o desenvolvimento de outras capacidades, tais, como: estimativas, aproximações, controle de resultados etc. O trabalho com grandezas e medidas também pode permitir ao aluno a exploração de cálculos aproximados, usando estimativa, arredondamento e mostrando, desse modo, outra face da Matemática, que não a da exatidão. 10 Esse recurso, embora pareça consolidado, ainda encontra muitos obstáculos na sala de aula. Ainda hoje encontramos professores que são contra sua utilização nas aulas de Matemática, alegando que dificultarão a aprendizagem dos estudantes. Contudo, acreditamos que essa disciplina, dentro dos seus limites, foi de grande importância para a formação e o desenvolvimento dos futuros professores, porque mostrou o caminho para a busca de novos conhecimentos. Esperamos que não se acomodem com os conhecimentos que possuem e busquem aperfeiçoá-los, proporcionando melhorias no processo de ensino-aprendizagem. Referências Bibliográficas BORBA, Marcelo C.; PENTEADO, Mirian G. Informática e Educação Matemática. Coleção Tendências em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica. Brasília: CNE, Parecer CNE/CP 9 de 08/05/2001. CANAVARRO. Ana P. Concepções e práticas de professores de Matemática: três estudos de casos. 1993. Dissertação (Mestrado em Educação). Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa, Lisboa, 1994. MERCADO, Luís P. L. Formação continuada de professores e novas tecnologias. 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