AURIMERY GOMES CHERMONT CONHECIMENTOS SOBRE AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA DOR POR PEDIATRAS QUE ATUAM EM BELÉM ( PA) Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Mestre em Pediatria SÃO PAULO 2001 Chermont, Aurimery Gomes Conhecimentos sobre avaliação e tratamento da dor por pediatras que atuam na cidade de Belém (Pa) / Aurimery Gomes Chermont. -- São Paulo, 2002. xii, p.77 Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Título em Inglês: Pediatrician’s knowledge about sedation and analgesia in maternity hospitals in the city of Belém 1. Recém-nascidos. 2. Conhecimento. 3. Analgesia. 4. Sedação. iii ORIENTADORA PROF. DRA. RUTH GUINSBURG iv CO-ORIENTADORA PROF. DRA. RITA DE CÁSSIA XAVIER BALDA Trabalho realizado na Disciplina de Pediatria Neonatal do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina v UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DISCIPLINA DE PEDIATRIA NEONATAL DO DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA Chefe do Departamento: Ulysses Fagundes Neto Coordenador do Curso de Pós-Graduação: Benjamin Israel Kopelman vi Aurimery Gomes Chermont CONHECIMENTOS SOBRE AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA DOR POR PEDIATRAS QUE ATUAM EM BELÉM (PA) Presidente da banca: Prof. Dra. Ruth Guinsburg BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Clery Bernardi Gallaci Profa. Dra. Mavilde L. G. Pedreira Prof. Dr. Benjamin Israel Kopelman Aprovada em: ____/____/____ vii Dedicatória A minha querida mãe ÁUREA, grande mulher batalhadora, grande amiga e de uma firmeza como poucos, que tudo fez para realização profissional dos filhos sendo a força que nos mantém unidos. Meu carinho, amor eterno e meu agradecimento pela confiança, incentivo e cumplicidade em todos os momentos de nossa jornada nesta vida. vii Aos meus amados e abençoados filhos Rodolpho e Amanda pelo amor, carinho, compreensão, parceria e ajuda na realização deste trabalho. Ao meu marido Armando Chermont, presente em todos os momentos, pelo seu incentivo, apoio, cumplicidade, paciência, compreensão e amor sem limites, principalmente durante a realização de mais um desafio como este. viii Ao meu irmão Antonio Pedro, minhas cunhadas Rosane, Teka, e meus queridos sobrinhos, Raphaella, Thiago, Neto e Caio pelo carinho, incentivo e alegria de poder conviver com vocês. Aos meus sobrinhos Gustavo e Alexandra Chermont pela maravilhosa acolhida e ajuda durante minha permanência em São Paulo. ix Agradecimentos À Prof. Dra Ruth Guinsburg, obrigado pela orientação deste trabalho, apoio e paciência recebidos durante todo esse tempo da pesquisa. À Prof. Dra. Rita de Cássia Balda, meu agradecimento pela inestimável colaboração neste trabalho, pela paciência e ensino que muito contribuíram para o meu aprendizado na jornada deste mestrado. Ao Prof Dr Benjamin Israel Koppelman, pelo carinho, atenção e estímulo durante a realização deste projeto. x Aos meus sócios pela “paciência” e "compreensão" nos momentos em que estive ausente de minhas obrigações na clínica. À Prof. Dra Eliete Araújo nossa Chefe de Departamento pela sua contribuição na minha formação acadêmica e que muito me incentivou na elaboração deste trabalho. À Prof Dra Edna, Rosana e Patrícia pelo carinho que me receberam e colaboração na elaboração das planilhas e empréstimo da sala de pediatria para realização das correções durante minhas passagens por São Paulo. Ao Ernesto pela orientação, horas a fio na elaboração e construção das planilhas em epi info e Excel. Ao Prof. Parente e pela criteriosa orientação e análise estatística dos resultados. Ao Nilton, Ana, Teresinha, do departamento de pediatria da UFPa pela ajuda durante todos estes anos de convívio. À Stela e Padrini pela calorosa acolhida em São Paulo, nos orientando e pela atenção e ajuda na edição deste estudo. À minha querida amiga Dra. Vânia Brilhante pela acolhida em São Paulo, pela disponibilidade e colaboração e ajuda sem a qual não conseguiria ultrapassar mais esse obstáculo. Ao Sr Nonato e Ednilza pelo auxílio na realização das entrevistas, e pela eterna disponibilidade sem a qual eu não teria conseguido completar esta pesquisa. Aos médicos pediatras e residentes da disciplina de pediatria da cidade de Belém que carinhosamente colaboraram participando da pesquisa. Ao Leonardo pelos e-mails e formatações que foram imprescindíveis no decorrer deste trabalho. A todos aqueles que contribuíram de forma direta ou indireta para a realização desta pesquisa. xi Resumo RESUMO O objetivo desse estudo prospectivo foi analisar os conhecimentos dos pediatras que atuam com pacientes neonatais, no município de Belém (PA), em relação à avaliação e ao tratamento da dor do recém-nascido, observando também se existem diferenças entre os médicos que trabalham exclusivamente em berçário e aqueles que atuam em unidades de terapia intensiva. O universo potencial desse estudo transversal foi de 110 pediatras que trabalhavam, nos anos de 1990 a 2000, nas sete unidades de terapia intensiva e nos 14 berçários existentes na cidade de Belém, sendo que seis recusaram-se a participar. Portanto, 104 pediatras constituíram a casuística da presente pesquisa. Todos os 104 médicos responderam a um questionário, na presença da pesquisadora, com questões a respeito do perfil do entrevistado e perguntas quanto a métodos de avaliação da dor, indicações para o alívio da dor e opções para analgesia no período neonatal. Dentre os resultados obtidos, observa-se que 100% dos médicos acreditam que o recém-nascido sente dor, mas apenas um terço deles diz conhecer alguma escala para avaliação da dor nessa faixa etária. A maioria dos entrevistados refere perceber a presença de dor no recém-nascido por meio de parâmetros comportamentais, como choro e a mímica facial. O choro foi preferido pela maior parte dos pediatras entrevistados como a melhor opção para avaliar a dor do recém-nascido a termo; a mímica facial para avaliar a dor do prematuro e a freqüência cardíaca para avaliar a dor do neonato em ventiloterapia. Embora 100% dos pediatras entrevistados acreditem que a dor do recém-nascido deva ser tratada por questões éticas e humanitárias, menos de 10% referem usar analgesia para punções venosas e capilares; 30 a 40% dizem empregar analgesia para punções lombares, dissecções venosas, drenagens de tórax e ventilação mecânica. Menos da metade dos entrevistados refere aplicar medidas para o alívio da dor no pós-operatório de cirurgia abdominal. Em relação ao medicamento mais utilizado para analgesia, 60% citou o opióide e cerca de 30% o midazolam. Os médicos que trabalhavam com recém-nascidos criticamente doentes mostraram um maior conhecimento a respeito das escalas de dor, porém não citaram a sua aplicação com freqüência expressiva para a avaliação da dor de neonatos a termo, prematuros e de recém-nascidos em ventilação mecânica. Poucos pediatras, independentemente se intensivistas ou não, referiram usar medidas para o alívio da dor em procedimentos realizados no período neonatal. Também não houve diferenças significantes entre os pediatras classificados de acordo com o local de trabalho com relação aos medicamentos empregados preferencialmente para o alívio da dor neonatal. Conclui-se, diante dos resultados que demonstram um conhecimento esparso a respeito da avaliação e alívio da dor no período neonatal, que há necessidade de reciclagens e atualização no tema por parte dos pediatras que atuam com recém-nascidos doentes em nosso meio. Sumário SUMÁRIO Dedicatória Agradecimentos Resumo 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 01 1.1. Importância ..............................................................................................................................01 1.2. Epidemiologia da dor ...............................................................................................................02 1.3. Causas do subtratamento da dor...............................................................................................08 1.3.1. A dificuldade de avaliar a dor ......................................................................................09 1.3.2. Conhecimentos e atitudes médicas a respeito de dor no recém-nascido ......................13 2. OBJETIVOS ..................................................................................................................... 20 3. METODOLOGIA ............................................................................................................ 21 3.1. Casuística e Método .................................................................................................................21 4. RESULTADOS ................................................................................................................... 26 5. DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 33 6. CONCLUSÕES .................................................................................................................. 55 7 - SUMMARY ...................................................................................................................... 58 8 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 59 9 - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.................................................................................. 77 ANEXOS Introdução 1 INTRODUÇÃO 1.1 Importância A dor é tão antiga quanto a humanidade e há razões para acreditar que seja inerente a qualquer forma de vida que possua consciência (Fülop-Miller1, 1938). A máxima do lema da rotina médica é "primeiramente, não causar dor”, no entanto a prática nos mostra ser comum o subtratamento dos pacientes mais vulneráveis, como recém-nascidos e lactentes préverbais, por parte dos profissionais de saúde, permitindo que essas crianças, muitas vezes, experimentem uma dor potencialmente evitável (Walco, 1994; Anand, 1997). O manejo apropriado da dor em qualquer faixa etária, especialmente a neonatal, permanece ainda hoje como um dos desafios mais importantes para os profissionais de saúde, porque mesmo quando conhecedores de que o recém-nascido, inclusive o prematuro, é capaz de sentir dor e de que os procedimentos invasivos realizados nas unidades de terapia intensiva causam dor, ainda assim apresentam grande resistência para aplicar as medidas para o seu alívio (Beyer, 1989; Bonica, 1991; Chamberlain, 1991; King, 1991; Fitzgerald, 1998; Guinsburg, 1999). Essas questões críticas foram estudadas por Schetcher (1989), que observou ser a causa primária desse subtratamento a dificuldade inerente à não verbalização de um fenômeno subjetivo, ou seja, a dificuldade de quantificar e qualificar as experiências dolorosas dos recémnascidos. No final do século XX e início do século XXI, ainda é difícil para a equipe de saúde entender a extensão do desconforto dos pacientes que não verbalizam a sua dor (Beyer, 1989; Chamberlain, 1991; Stevens, 1991; Fitzgerald, 1998). Até meados da década de 80, aceitava-se que os neonatos seriam incapazes de processar a percepção da dor da mesma forma que o adulto, devido à imaturidade do sistema nervoso central (Jacox, 1979; Levine, 1982; McGrath, 1987; Marshall, 1989; Schechter, 1989; Truog, 1989; Arellano, 1994; Friedrichs, 1993; Downes, 1994; Bell, 1995; Porter, 1997; Franck, 1998; Howard, 1998; Miyake, 1998; Porter, 1998; Stevens, 1998; Fitzgerald, 1998). No entanto, estudos em fetos humanos e primatas (Anand, Carr, 1989) indicam que o sistema nervoso fetal está suficientemente maduro para a nocicepção ao redor da 24ª semana de gestação. A nocicepção é a percepção, pelo sistema nervoso, da lesão tecidual e do estímulo doloroso por ela 1 Füllop-Miller,R. Triumph over pain (1938) apud Bonica JJ. History of pain concepts and pain therapy. Mount Sinai J Med 1991; 58:191-201. provocado, não envolvendo os componentes afetivos ou emocionais da dor. O fenômeno doloroso pode ser dividido em quatro processos: transdução, transmissão, modulação e percepção (Golianu, 2000). A transdução constitui-se no processo através do qual o estímulo nocivo é transformado em sinais elétricos para o nervo sensorial e transmitido para a medula espinal. A transmissão refere-se à propagação do impulso no interior do sistema nervoso sensorial por fibras aferentes primárias, que fazem sinapse nos neurônios de segunda ordem na lâmina do corno dorsal da medula espinal, projetando feixes ascendentes para o tronco cerebral, para o tálamo e para o córtex. A modulação denota a alteração da informação nociceptiva por mecanismos endógenos e ocorre por interação entre os interneurônios da medula e os impulsos descendentes, predominantemente inibitórios, originados no tálamo, tronco cerebral e córtex. A percepção reflete o efeito da informação nociceptiva no quadro psicológico existente. A percepção é a experiência física e emocional da dor, sabendo-se que essa experiência pode ter a sua estrutura perceptual alterada após o estímulo doloroso. Todos os pré-requisitos anatômicos, fisiológicos e bioquímicos para a transdução, transmissão, modulação e percepção da dor estão presentes no recém-nascido, mesmo no neonato pré-termo (Casey, 1982; Anand, Hickey, 1987; Fitzgerald, 1991; Bell, 1995a; Anand & Craig, 1996a; Miyake, 1998; Golianu, 2000). Com isso em mente, Anand e Craig (1996a) propõem que a dor seja um fenômeno inerente à vida, expressa por todos os organismos com sistema nervoso. As alterações comportamentais causadas pela dor são a forma infantil de reportá-la, não devendo ser descartadas como medidas da dor (Anand & Craig, 1996a; Anand, 1997; Anand, 1999a; Anand, 2000b). 1.2 Epidemiologia da dor Segundo Lucey (1990), as unidades de terapia intensiva neonatal são ambientes frios e barulhentos, cheio de pessoas estranhas manipulando aparelhos (Chamberlain, 1991). Os neonatos indefesos não conseguem comunicar adequadamente o seu desconforto e a sua dor. O resultado do ambiente e dos procedimentos impostos ao recém-nascido é o desequilíbrio dos mecanismos de homeostase, com conseqüências graves para a sua evolução clínica a curto, médio e longo prazo (Anand, Hickey, 1987; Miyake, 1998). 2 Ironicamente, nas mãos dos médicos do século XX, nascer tornou-se mais doloroso, devido à maior preocupação com a doença do que com o estresse e o desconforto do bebê (Chamberlain, 1991). Por volta de 1950, o nascimento hospitalar transformou-se em rotina para a maioria dos americanos, o que foi também adotado por outros países. O nascimento em hospitais levou a uma diminuição importante da mortalidade acompanhada, porém, por uma série de rotinas dolorosas. As fontes de dor e desconforto ao nascer podem incluir, entre outras: trauma de couro cabeludo por monitorização eletrônica, retirada de amostras de sangue durante o parto, extração por fórcipe, desorientação espacial do bebê, temperatura da sala 10 a 20 graus abaixo da temperatura uterina, luzes fortes, barulho, injeção de vitaminas, medicação nos olhos, movimentos de lavar (algumas vezes com água não aquecida) e enxugar de forma áspera, súbita separação da mãe e acomodação em berçário cheio de bebês chorando (Chamberlain, 1991). Prematuros e neonatos muito doentes enfrentam a dor na tentativa de completar seu tempo de gestação fora do útero ou de serem tratados de suas doenças, durante sua estadia na unidade de terapia intensiva (Perlman, 1983; Marshall, 1989; Chamberlain, 1991). A dor é presença constante na vida desses bebês, que estão, muitas vezes, amarrados ou imobilizados, enquanto cânulas traqueais, sondas de aspiração, sondas para gavagem, acessos venosos e outros dispositivos são inseridos em seu organismo (Marshall, 1989). Sua pele delicada é facilmente lesada pelo álcool utilizado para assepsia ou quando os adesivos dos monitores são retirados (Peadbody, 1985; Harrison2, 1990). A necessidade de interação da mãe com o seu bebê é apenas parcialmente satisfeita devido à impossibilidade de carregá-lo, amamentá-lo ao seio e aconchegálo (Ludington-Hoe, Golant, 1993). O número de procedimentos invasivos aumenta dramaticamente em prematuros abaixo de 30 semanas de idade gestacional, pois tais procedimentos são um reflexo da gravidade clínica e da duração da doença do recém-nascido. Porter (1998) refere a realização de três procedimentos invasivos a cada hora em neonatos, durante a fase de maior instabilidade clínica. Em outra pesquisa foram observados cerca de nove procedimentos invasivos a cada semana, em recém-nascidos mais estáveis (Johnston et al, 1997). Barker e Rutter (1995) encontraram uma média de 61 procedimentos invasivos em cada neonato, da admissão à alta hospitalar. Outro estudo longitudinal avaliou 144 bebês e revelou que, da admissão à alta da terapia intensiva, os pacientes foram submetidos a aproximadamente 7000 procedimentos, dos quais 6000 foram 2 Harrison H. The dark side of a miracle (1990) apud Chamberlain DB. Second International Symposium on Circumcision 2001. 3 punções de calcanhar, sendo que, em apenas 3% dos procedimentos, realizou-se alguma medida analgésica específica (Porter, 1989). Barker e Rutter, em 1995, estudando 54 neonatos admitidos na terapia intensiva, observaram a realização de mais de 3000 procedimentos potencialmente dolorosos durante três meses de internação, sendo 74% dos procedimentos em recém-nascidos abaixo de 31 semanas. Somente um prematuro com 23 semanas de idade gestacional e 560 gramas de peso ao nascer foi submetido a 488 procedimentos dolorosos. A punção do calcanhar foi o procedimento mais freqüentemente realizado nesse grupo de pacientes, o que ocorreu em 56% da população estudada, seguida da aspiração traqueal em 26% e da inserção de cateter periférico em 8%. Segundo os autores, embora os procedimentos invasivos sejam necessários, inevitáveis e façam parte da rotina para o tratamento de recém-nascidos doentes, torna-se imperioso repensar a necessidade de adequação dos mesmos, modificando-os ou utilizando a analgesia necessária para minimizar o estresse e a dor dos pacientes a eles submetidos (Barker, Rutter, 1995; Porter, 1998). Long e Porter (1989) observaram que recém-nascidos admitidos em unidade de terapia intensiva recebem cerca de 50 a 132 manipulações a cada dia, incluindo desde a intubação e a drenagem torácica até os cuidados rotineiros de enfermagem, como aspiração traqueal, limpeza do bebê e troca de saco coletor de urina (Porter, 1989). Já, em nosso meio, a freqüência de procedimentos dolorosos realizados pela equipe médica e de enfermagem em recém-nascidos, de acordo com levantamento feito na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital São Paulo – Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP – EPM) entre os anos de 1996 a 2000, variou de acordo com a idade gestacional, observando-se que, em média, foram submetidos à punção capilar 70% dos prematuros e 32% dos nascidos a termo, à punção arterial 38% dos prematuros e 11% dos neonatos a termo, à punção venosa 77% dos prematuros e 27% dos nascidos a termo, à intubação traqueal 32% dos prematuros e 6% dos pacientes a termo e à drenagem torácica 4% dos prematuros e 1% dos nascidos a termo (Balda, 2001). Nessa mesma instituição, Castro (2001) observa, nos 157 pacientes em ventilação mecânica nascidos nos anos de 1995 a 1997, a realização de, em média, 20 punções arteriais, venosas e capilares nas primeiras 72 horas de vida, recebendo cada neonato cerca de oito a dez eventos dolorosos ao dia. Eland (1977) demonstrou, em procedimentos cirúrgicos similares realizados em 25 crianças e em 18 adultos, uma enorme diferença em relação ao uso de analgésicos no pósoperatório, com a utilização de apenas 24 doses de analgésicos nas crianças, contrastando com 671 doses nos pacientes adultos. Fato semelhante foi detectado na revisão dos prontuários de 60 4 pacientes pediátricos em pós-operatório, dos quais apenas duas crianças receberam alguma medicação para o alívio da dor (Beyer, 1983). No ano seguinte, o mesmo autor (Beyer, 1984) comparou um grupo de 50 crianças e 50 adultos submetidos à cirurgia cardíaca e observou que os adultos receberam duas vezes mais analgesia do que as crianças, com uma proporção de 70% e 30% respectivamente para adultos e crianças, de prescrição de medicação para o alívio da dor no pós-operatório. O uso de analgesia para os procedimentos realizados no recém-nascido em unidade de terapia intensiva ainda é muito pequeno, quer seja no Brasil ou na América do Norte. Franck (1986) estudou 142 unidades de terapia intensiva americanas e analisou as respostas de 64 enfermeiras, que possuíam experiência média de nove anos de terapia intensiva. Dessas enfermeiras 59% acreditavam que o recém-nascido não sente dor de maneira semelhante ao adulto; 77% declararam que as medicações para a dor eram pouco utilizadas em recém-nascidos; 95% relataram a agitação do neonato como um problema comum em terapia intensiva e 40% declararam que nenhuma medicação era usada para diminuir agitação de bebês com doença pulmonar crônica. As principais indicações para o tratamento da dor, nos recém-nascidos admitidos nessas 142 unidades, foram: pós-operatório (71% das unidades), falha de intervenções não farmacológicas (70% das unidades), estado terminal da doença (56% das unidades) e, em menos de um terço das unidades neonatais, a analgesia era indicada para a realização de procedimentos invasivos não cirúrgicos. Fernandez e Rees (1994), avaliaram a analgesia utilizada para procedimentos dolorosos em 30 unidades de terapia intensiva neonatais no Canadá, em especial para o manejo de neonatos no pós-operatório, na dor relacionada a procedimentos não cirúrgicos e em doenças associadas com dor. Eles observaram que 85% das unidades utilizavam opióides para a dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca ou de cirurgias maiores; 35% das unidades não empregavam rotineiramente analgesia para o pós-operatório de pequenas cirurgias; 79% não aplicavam anestesia local para a realização da punção lombar e 56% também não faziam uso de medidas para o alívio da dor durante a inserção de dreno de tórax. Cerca de 60% das unidades pesquisadas usavam analgésicos em doses subterapêuticas. Johnston (1997), estudou 14 unidades de terapia intensiva com 239 recémnascidos internados. Um total de 2.134 procedimentos invasivos foi realizado no período do estudo. Em 129 procedimentos, os pacientes estavam recebendo analgesia por outras razões que não o procedimento. Dezesseis pacientes foram submetidos à cirurgia durante o período da pesquisa e outros 14 foram operados quatro dias antes. Desses 30 neonatos, 50% receberam 5 anestesia ou analgesia no pós-operatório. Não foi realizada nenhuma terapêutica para o alivio da dor nos outros procedimentos. No pós-operatório, o opióide foi a medicação mais utilizada, no entanto, a analgesia com ou sem opióide raramente foi administrada quando os procedimentos foram invasivos, mas não cirúrgicos (Johnston, 1997). Nilofer (2000) pesquisou 86 unidades de terapia intensiva neonatal no Reino Unido com o objetivo de avaliar o uso de analgesia para procedimentos invasivos e potencialmente dolorosos, obtendo os seguintes resultados: Durante a inserção de acesso venoso periférico, 93% das unidades não utilizavam analgesia; Durante a realização de punção venosa, 95,3% das unidades não utilizavam analgesia; Durante a inserção de cateteres centrais, 89,5% das unidades não utilizavam analgesia; Durante a realização de punção lombar, 73,3% das unidades não utilizavam analgesia; Durante a inserção de dreno de tórax, 8,1% das unidades não utilizavam a analgesia. Os achados demonstram que a analgesia ainda é pouco utilizada para procedimentos potencialmente dolorosos nas unidades de terapia intensiva. Castro (2001) evidenciou um aumento progressivo do uso de analgésicos opióides em recém-nascidos sob ventilação mecânica, internados na unidade neonatal do Hospital São Paulo –UNIFESP-EPM, nos anos 1995 a 1997. Mesmo nesse hospital, onde há treinamento para o reconhecimento da dor no recém-nascido, a decisão para o uso de analgesia foi baseada no peso ao nascer mais elevado e na gravidade do quadro respiratório dos bebês, não sendo levadas em consideração as escalas para a avaliação da dor nem a freqüência de exposição a procedimentos dolorosos. As pesquisas indicam que o subtratamento da dor determina a ativação de respostas fisiológicas ao estímulo doloroso, manifestadas através de mudanças adversas significativas em múltiplos órgãos e sistemas, incluindo o cardiovascular (aumento da freqüência cardíaca e pressão arterial), o respiratório (aumento do consumo de oxigênio, queda na saturação de oxigênio e alteração na relação entre ventilação e perfusão) e ainda a diminuição da pressão intracraniana (Durand et al, 1986; Stevens, Johnston, 1991; Stevens, Johnston, 1993), além da diminuição da motilidade gástrica, retenção de hormônio anti-diurético e hipercoagulabilidade (Anand, 1985a; Anand, 1990b; Fitzgerald & Anand, 1993; Johnston, Stevens, 1996; Anand, 1999a; Larsson, 1999; Anand, 2000a; Golianu, 2000;). Tais alterações podem ser observadas em resposta a estímulos dolorosos agudos variados, como a venopunção, a aspiração traqueal, a inserção de sondas para gavagem, a ventilação mecânica, entre outros, ocasionando o aumento 6 da vulnerabilidade dos recém-nascidos, principalmente dos prematuros (Anand, 1993; Pokela, 1994a; Pokela, 1994b; Anand, 1998; Goldschneider, 1998; Taddio, 1999). Quando essas alterações são estudadas em crianças submetidas à cirurgia cardíaca, demonstra-se que elas poderiam ser significativamente atenuadas com o uso de analgesia e anestesia adequada no pósoperatório, reduzindo complicações como sepse, acidose metabólica, coagulação intravascular disseminada e morte (Corff, 1995). As alterações hormonais no recém-nascido, após o estímulo doloroso, foram descritas por inúmeros pesquisadores através da dosagem sangüínea de glicocorticóides e catecolaminas, observando-se a elevação dos níveis hormonais (Gunnar, 1981; Grunau, 1998). A redução dessa resposta endócrino-metabólica de estresse pode ser obtida após a utilização de analgesia efetiva (Greisen, 1985; Anand, 1988; Franck, 1989; Marshall, 1989). As respostas comportamentais à dor também vêm sendo evidenciadas em recém-nascidos, destacando-se o choro, o reflexo de retirada do membro após punção, a modificação da mímica facial, a irritabilidade, a alteração do sono e a dificuldade de interação do bebê com a sua mãe, entre outras (Porter, 1989; Ecofey, 1998). Os efeitos cumulativos das agressões fisiológicas e comportamentais causadas por punções venosas, aspiração traqueal, punções capilares, procedimentos de enfermagem e ventilação mecânica determinam ainda a predisposição do neonato prematuro às lesões neurológicas, tais como hemorragias peri e intraventriculares (Anand, 1985a; Pokela, 1994b; Guinsburg, 1998; Anand, 1999b; Whitfield, 2000; Grunau, 2001;). Essa observação foi sugerida por Anand (1999b), em estudo multicêntrico, no qual pacientes que receberam baixas doses de morfina em infusão contínua apresentaram menor incidência de óbito ou de hemorragias peri e intraventriculares graves, comparados àqueles que receberam placebo ou diazepínico endovenoso. Ainda, se faz importante relatar que recentes achados sugerem que a exposição repetida a estímulos dolorosos no período neonatal transforma a natureza da experiência de dor e a sua expressão mais tarde na infância e, talvez, na vida adulta (Grunau 1994a; Grunau 1994c; Gurnnar, 1995; Taddio, 1995b). Baseado nas informações dos pais, prematuros com idade corrigida de 18 meses e expostos a múltiplos estímulos nocivos durante a sua permanência na unidade de terapia intensiva neonatal demonstravam baixo limiar a estímulos dolorosos, comparados a crianças de 18 meses nascidas a termo (Grunau, 1994a). Crianças entre quatro a cinco anos de idade com peso ao nascer abaixo de 1000 gramas, comparados a recém-nascidos a termo, mostraram maior somatização e outras alterações comportamentais (Grunau, 1994b). 7 Ainda, em crianças de oito a dez anos de idade que haviam sido prematuras abaixo de 1000 gramas ou bebês a termo, observou-se resposta emocional de maior intensidade nos exprematuros confrontados com desenhos de situações de dor (Grunau, 1998b). Outros estudos de seguimento de recém-nascidos prematuros submetidos a múltiplos procedimentos dolorosos revelam, na fase escolar, um aumento na incidência de sintomas não ligados à dor, como diminuição na resposta afetiva, déficit neurológico e do desenvolvimento, dificuldade de adaptação social e problemas cognitivos e de aprendizado (Anand, 2000a). Dessa forma, as reações fisiológicas, comportamentais e hormonais à dor são evidentes não somente em recém-nascidos a termo, como também em prematuros (Fitzgerald, 1991; Craig, 1993; Chen, 2000), com repercussão a curto, médio e longo prazo, indicando a necessidade do alívio da dor em pacientes dessa faixa etária expostos a múltiplos procedimentos dolorosos. 1.3 Causas do subtratamento da dor Se, por um lado, a dor é um mecanismo de defesa fundamental para qualquer espécie viva contra as agressões externas (McGrath, Craig, 1989), é também um sinal de alerta que desencadeia diversas reações fisiológicas, biológicas, comportamentais e hormonais. Essas respostas têm como objetivo evitar ou revidar as agressões recebidas. Na medida em que os recém-nascidos não podem evitar ou revidar as “agressões dolorosas” que, muitas vezes, os mantêm vivos, torna-se importante o alívio da dor e a atenuação dessas respostas, para minimizar as repercussões do fenômeno doloroso (Anand, 1990a). A dor neonatal tem sido historicamente subtratada por várias razões que incluem a complexidade de perceber a dor em pacientes pré ou não verbais (Anand, 1996; Jacob, 1999), o desconhecimento da fisiologia, e da fisiopatologia da dor, assim como da farmacologia dos analgésicos (Franck, 1989; Arellano, 1994; Anand, 1994; Bell, 1995a; Stevens, 1996; Hadjistavropoulos, 1997; Porter, 1997; Howard, 1998; Whitfield, 2000), o medo dos efeitos colaterais dos agentes farmacológicos utilizados, o treinamento inadequado da equipe de saúde e o desconhecimento dos profissionais de saúde em relação aos avanços científicos na área de dor (Guinsburg, 1993; Stevens, 1996; Hester, 1998; Porter, 1998). O pouco conhecimento a respeito da dor, por parte dos profissionais de saúde, é indicado por Rana (1987), que realizou uma 8 revisão da literatura em dez livros textos de pediatria americanos mais comumente utilizados e observou que a dor era um tópico ignorado, pois nas 15000 páginas pesquisadas, encontrou apenas três páginas e meia dedicadas à dor. O fato de a expressão de desprazer do recém-nascido não se encaixar dentro da definição estrita de dor, formulada para pacientes verbais, contribui para a dificuldade em reconhecer e tratar a dor de lactentes e neonatos (Anand, Craig, 1996a). Dentre as muitas concepções errôneas que contribuíram e contribuem para o subtratamento da dor do recémnascido destacam-se: os recém-nascidos e lactentes pré-verbais não sentem dor, apenas expressam ansiedade em situações que podem parecer dolorosas; a dor, caso sentida, não é recordada; a dor, por ser subjetiva, não pode ser medida de forma confiável; a exposição a opióides predispõe as crianças a se tornarem dependentes na vida adulta; o risco de depressão respiratória ultrapassa a importância do alívio da dor; a administração de uma medicação que alivia a dor provoca dor; o esforço e os gastos requeridos para aliviar a dor não são justificados pelos resultados (Jacox, 1979; Franck, 1989; McGrath, 1989; Goldman, 1991; Schechter, 1993; Arellano, 1994; Anand, 1994; Bell, 1995a; Espinosa, 1997; Hadjistavropoulos, 1997; Porter, 1997; Howard, 1998; Whitfield, 2000). Tentaremos abordar a seguir dois tópicos que, sem dúvida, permeiam essas concepções errôneas: a dificuldade de avaliar a dor do recém-nascido e o conhecimento e atitude médica frente à dor nessa faixa etária. 1.3.1 A dificuldade de avaliar a dor: Embora a comunidade médico-científica aceite, atualmente, que o recém-nascido é capaz de sentir dor (Anand, 1989; Fitzgerald, 1989; Fernandez, Rees, 1994;) e responder ao estímulo nociceptivo através de várias modificações fisiológicas e comportamentais (Casey, 1982; Anand, 1987; Franck, 1989; Fitzgerald, 1993; Pasero, 1995; Bhatt-Metha, 1996; Espinosa, 1997; Anand, 1997), observa-se, de maneira geral, a pouca utilização da analgesia nas unidades de terapia intensiva neonatal e em berçários (Schechter, 1989; Zelter, 1990; Porter, 1999). Esse lapso entre o conhecimento científico e a conduta prática clínica deve-se, talvez de modo mais importante, à dificuldade de avaliação e mensuração da dor no lactente pré-verbal (Guinsburg, 1997). Alguns dirão que a medição da dor é subjetiva e, portanto, não científica. Todavia, esse argumento confunde a subjetividade daquele que sofre a dor com a subjetividade daquele que a 9 mede. Com efeito, a subjetividade daquele que sofre não é discutível, pois a dor é, por natureza, subjetiva. Na faixa etária pediátrica e neonatal, pelo fato dos pacientes serem pré-verbais e se encontrarem em diferentes fases do desenvolvimento cognitivo, existem muitas dúvidas quanto à interpretação e avaliação das respostas à dor, dificultando o atendimento adequado à criança. Assim sendo, torna-se fundamental saber avaliar adequadamente a presença de dor para evitar o seu subtratamento e realizar uma abordagem terapêutica correta (Craig, 1993; Bell, 1995b; Stevens, Johnston, 1995; Grunau, 1997; Franck, Lawhon, 1998a; McGrath, 1998). As normas publicadas pelo Departamento de Serviço de Saúde Humana dos EUA e pela Agência de Pesquisas e Políticas em Saúde enfatizam a importância da precisão na avaliação da dor, sendo essa avaliação, no período neonatal realizada por meio de três aspectos básicos: mudanças fisiológicas, hormonais e comportamentais em resposta à dor (Bhatt-Metha, 1996; Franck, 1997; Finley, 1998). Os parâmetros fisiológicos são rotineiramente monitorados em neonatos doentes, incluindo técnicas variadas que analisam as respostas resultantes da ativação do sistema nervoso simpático após um procedimento potencialmente doloroso (McGrath, 1987; Beyer, 1989; Franck, 1989; Marshall, 1989; Porter, 1989; Arellano, 1994; McGrath, 1998a; Stevens, 1998; Sweet & McGrath, 1998). Os mais citados na literatura incluem: medidas da freqüência cardíaca (Clifton, 1968; Rawings, 1980; Holve, 1983; Field, Goldson, 1984; Owens, Todt, 1984; Johnston, 1986; Anand, 1987; Yaster, 1987; Durand, 1989; Mudge, Younger, 1989; Arnett, 1990; Izard, 1991; Marchette, 1991; Benini, 1993; Craig, 1993; McIntosh, 1994; Moustogiannis, 1994; Stevens, Johnston, 1994; Johnston, 1995; Sweet & McGrath, 1998), freqüência respiratória (Williamson, Williamson, 1983; Field, Goldson, 1984; Craig, 1993; McIntosh, 1993; Weathrstone, 1993; Howard, 1994; McIntosh, 1994; Stevens, 1995; Sweet, McGrath, 1998;), pressão arterial (Durand, 1989; Anand, 1990 a; Marchette, 1991; Stevens & Johnston, 1995), pressão intracraniana (Durand, 1989; Stevens, Johnston, 1994; Johnston, 1995; Stevens, 1995), saturação de oxigênio (Maxell, 1987; Arnett, 1990; Benini, 1993; Stevens, Johnston, 1994a), pressão transcutânea de oxigênio (Rawlings, 1980; Morrow, 1990; Marchette, 1991; Morrow, 1991; Porter, 1991), pressão transcutânea de dióxido de carbono (Porter, 1991; Craig, 1993; McIntosh, 1993), tônus vagal (Porter, 1988; Porter, 1989; Arendt, 1991; Gunnar, 1995; Sweet, McGrath, 1998), sudorese palmar (Anand, 1987; Rutter, 1985; Stevens, 1995) e mensuração dos hormônios de estresse e de suas repercussões metabólicas (Talbert, 1976; Anand, 1985b; Anand 1987; McGrath, 1987). Muito embora esses parâmetros sejam objetivos e sensíveis para avaliar a 10 dor na prática clínica, eles não são específicos. Mudanças após um estímulo desagradável doloroso ou não são similares (Larsson, 1999) e, em prematuros doentes, a manipulação mínima e não dolorosa também pode causar mudanças fisiológicas agudas (Speidel 3, 1978). Dessa forma, as medidas fisiológicas de dor não devem ser usadas de forma isolada para decidir se o recém-nascido apresenta dor e se há necessidade do uso de analgésicos (Anand, 1987; Goldman, 1991; Stevens, 1995; Guinsburg, 1997). Para a avaliação comportamental da dor os parâmetros mais estudados são a resposta motora à dor (incluindo as alterações do tônus muscular e os movimentos corporais), a mímica facial, o choro e o padrão de sono e vigília. Essas respostas refletem a totalidade da experiência dolorosa após o estímulo nociceptivo, incluindo os aspectos sensoriais e emocionais intrínsecos à dor, além de diferenças individuais na expressão dessas respostas (McGrath, Craig, 1989). A resposta motora do recém-nascido diante do estímulo doloroso é demonstrada pela rigidez do tórax, movimentos de flexão e extensão das extremidades (Johnston, Strada, 1986). As alterações da mímica facial constituem uma das respostas comportamentais fundamentais após o estímulo doloroso (Craig, 1995; McGrath, 1998a), com uma série de movimentos específicos: fronte saliente, fenda palpebral estreitada, sulco nasolabial aprofundado, lábios entreabertos, boca estirada no sentido vertical ou horizontal, língua tensa e tremor do queixo (Craig, 1987; Craig, Grunau, 1988; Grunau, 1990). O choro, como resposta a um estímulo nociceptivo apresenta uma fase expiratória mais prolongada, a tonalidade é mais aguda, há perda do padrão melódico e aumento de sua duração. Porém, apesar de ser a reação comportamental mais freqüentemente associada à dor, cerca de 50% dos bebês não choram quando submetidos a um estímulo doloroso (Grunau, 1990; Johnston, 1993; Stevens, 1995). Com relação ao padrão de sono e vigília, foi demonstrado que, após a circuncisão sem anestesia, o neonato permanece um tempo maior dormindo em sono não-REM, quando comparado a pacientes de mesma idade não circuncidados (Gunnar, 1985). Todas essas respostas são de grande importância por serem específicas e por representarem a expressão do fenômeno doloroso como um todo, incluindo as respostas afetivas e emocionais (Dinwiddie, 1979; Ekman 1979; Owens, 1984; Johnson, Strada, 1986; Anand, 1987; Grunau, Craig, 1987; McGrath, 1987; Craig, 1988; Fitzgerald, 1988; Beyer, 1989; McGrath, 1989; Porter, 1989; Fuller, 1991; Hadjistavropoulos, 1994; Stevens, 1994; Craig, 1995; Johnston, 1995; Guinsburg, 1997; Craig, 1998; Abu-Saad, 1998b; McGrath, 1998a; Larsson, 1999; Johnston, 1999a; Chen, 2000). 3 Speidel BD, 1978 apud Porter F. Pain in newborn. Clin Perinatol 1989; 16: 549-563. 11 Na tentativa de dispor de métodos relativamente objetivos para a avaliação da dor, no contexto da subjetividade do fenômeno doloroso, foram elaboradas, nos últimos anos, escalas multidimensionais. Com elas, tenta-se utilizar simultaneamente parâmetros fisiológicos (medidas objetivas) e comportamentais (medidas subjetivas) a fim de se obter maiores informações a respeito das respostas individuais à dor e de suas possíveis interações com o ambiente (Attia, 1987a; Guinsburg, 1996; Stevens, 1996; Blauer, 1998; Stevens, 1998). Dentre as inúmeras escalas de avaliação de dor para o recém nascido, destacam-se: NFCS (Neonatal Facial Coding System) – Sistema de Codificação Facial Neonatal. Essa escala unidimensional analisa as expressões faciais do neonato frente à dor (Grunau & Craig, 1987; Grunau, 1990). É amplamente utilizada em pesquisa, sendo aceita e válida para avaliar procedimentos potencialmente dolorosos agudos. Trata-se de medida sensível e específica para analisar a dor de pacientes pré-verbais (Guinsburg, 1995; Stevens, Franck, 1995; Stevens, 1995; Taddio, 1995b; Guinsburg, 1997; Craig, 1998; Grunnau, 1998a; Pereira, 1999). NIPS (Neonatal Infant Pain Scale) – Escala de Avaliação de Dor no Recém Nascido. Foi desenvolvida por Lawrence et al (1993), que se baseou na escala de dor do Children’s Hospital of Eastern Ontário – CHEOPS (McGrath et al., 1985). É composta por cinco parâmetros comportamentais e um indicador fisiológico, avaliados antes, durante e após procedimentos invasivos agudos em recém-nascidos a termo e pré-termo. Esta escala permite a mensuração da resposta do neonato aos procedimentos potencialmente dolorosos à beira do leito (Guinsburg, 1997; Blauer, 1998; Pereira, 1999). CRIES (Crying, Requires O2 for Saturation above 90%, Increased Vital Signs, Expression and Sleepleness) – Escore para avaliação da Dor Pós- Operatória do Recém-Nascido. Foi desenvolvido por Krechel e Bildner (1995) para avaliar a dor no pós-operatório de recémnascidos a termo e prematuros, com idade gestacional entre 32 e 60 semanas. É uma escala prática, porém a sua validade ainda não está bem estabelecida. PIPP (Premature Infant Pain Profile) – Perfil de Dor do Prematuro. Foi desenvolvido por Stevens e Johnston em 1996 para avaliar a dor aguda de recém-nascidos pré-termos. É um instrumento válido sensível e específico para a avaliação da dor após procedimentos agudos em prematuros (Stevens, 1998). O reconhecimento das respostas comportamentais e fisiológicas representa um desafio para a equipe de saúde. Através da correta interpretação da gama de respostas apresentadas pelo recém-nascido frente a um estímulo nociceptivo, os profissionais de saúde 12 podem aprimorar o tratamento da dor nos bebês doentes e prematuros, a fim de melhorar a sua sobrevida e minimizar o estresse e a dor tão presentes no ambiente da terapia intensiva (Craig, 1998; Howard, 1998). 1.3.2 Conhecimentos e atitudes médicas a respeito da dor no recém-nascido Como vimos anteriormente, a abordagem diagnóstica e terapêutica de uma criança gravemente enferma, seja no setor de emergência ou na unidade de terapia intensiva, é quase sempre invasiva e dolorosa. Procedimentos, como punções dos mais variados sítios, cateterismos vasculares, intubação traqueal, sondagem vesical, etc., são freqüentemente realizados, levando o paciente à agitação, à ansiedade, ao estresse e à dor (Miyake, 1998). Para uma atenuação desses fenômenos, é preciso que os profissionais de saúde estejam atentos e atualizados quanto às opções existentes em termos de avaliação e tratamento do fenômeno doloroso no período neonatal. Nesse sentido, é interessante observar os poucos dados existentes na literatura a respeito do conhecimento e das atitudes médicas quanto à dor no período neonatal. Owens (1984), analisando os médicos que rotineiramente realizam procedimentos invasivos, inferiu que eles possuíam sensibilidade diminuída em relação aos sentimentos do paciente devido a uma reestruturação cognitiva, o que os tornava menos atentos às respostas subjetivas de dor e estresse expressas pelos pacientes e reduzia seu interesse quanto ao alívio desses fenômenos. Hodkings (1985) realizou um estudo com médicos e pacientes adultos para comparar a percepção de ambos, através da escala analógica visual, frente ao estímulo doloroso agudo. O autor sugere que os pacientes parecem aceitar melhor a dor quando seus médicos são capazes de prever e conversar a respeito da possível intensidade da dor nos procedimentos que serão feitos. Em outro estudo, quando se comparou pacientes adultos e médicos em relação à intensidade da dor sentida pelo paciente, os médicos tenderam a dar escores mais baixos do que os pacientes, durante procedimentos dolorosos (Forrest, 1989) Singer (1999) avaliou a habilidade de médicos americanos de predizer as experiências dolorosas de 50.000 pacientes adultos, no ano de 1997, atendidos no setor de emergência e submetidos a procedimentos invasivos diagnósticos ou terapêuticos (total de 1.171 procedimentos). Os procedimentos dolorosos mais comumente realizados foram: sondagem 13 nasogástrica, incisão ou drenagem de abcessos, redução de fraturas e cateterismo vesical. De modo geral, o autor verificou que o uso de anestesia local antes da realização de procedimentos dolorosos foi baixa, ainda que os doentes tivessem assinalado através da escala visual a preferência pelo uso de anestésicos caso um procedimento similar fosse necessário no futuro. Um fato surpreendente, neste estudo, foi o relato de que grande parte dos pacientes não achava ser necessário o uso da anestesia previamente ao procedimento, mesmo assinalando ser o procedimento em questão doloroso. Tal discrepância poderia ser resultado da racionalização de que a dor é inerente ao tratamento. A outra hipótese se relaciona à brevidade do procedimento, permitindo a tolerância à dor por um período curto. Dessa forma, Singer, concluiu que a habilidade de médicos e pacientes em relação à avaliação da intensidade do procedimento doloroso é semelhante, sugerindo que ambos tendem a concordar quanto à valorização de procedimentos mais dolorosos. Se, para o paciente adulto que verbaliza a dor, há discordâncias entre médicos e pacientes quanto à necessidade de analgesia, para o neonato, que ainda não fala, a situação é mais complicada. O recém-nascido que necessita de cuidados hospitalares depende sobremaneira da sensibilidade, capacidade de percepção e conhecimento dos profissionais de saúde para que sua dor possa ser aliviada. Franck (1989) e Schechter (1989) reforçam a idéia de que os profissionais de saúde possuem pouco conhecimento a respeito da capacidade de nocicepção dos recém-nascidos a termo e dos prematuros. Além disso, falhas no tratamento da dor podem se associar à falta de comunicação entre os componentes da equipe médica e de enfermagem e à dificuldade de avaliar a dor nestes bebês. Schechter (1989), estudando médicos americanos, relatou que 25% dos cirurgiões entrevistados acreditavam que o neonato sente menos dor do que um adulto em situações clínicas semelhantes, contrastando com apenas 6% dos pediatras entrevistados. Apesar da diferença de conhecimento entre pediatras e cirurgiões, a atitude prática é a mesma, pois ambos utilizavam pouca ou nenhuma analgesia para a realização de procedimentos potencialmente dolorosos. Outros estudos apontam para o mesmo descompasso entre a teoria e prática no alívio da dor de crianças doentes por parte dos médicos (Lander, 1990; Prkachin, Craig, 1995). Purcell-Jones e colaboradores (1988) realizaram um questionário para avaliar as atitudes de médicos anestesiologistas pediátricos do Reino Unido e Irlanda com respeito à percepção da dor, sua avaliação e a prática do uso de opióides ou anestesia regional em recémnascidos e lactentes com idade inferior a um ano. O resultado obtido em relação aos neonatos foi 14 de que 20% dos anestesiologistas tinham dúvidas ou não aceitavam que bebês fossem capazes de sentir dor, enquanto 100% deles acreditavam que as crianças maiores têm capacidade de nocicepção. Ainda assim, os 80% dos médicos que acreditavam na capacidade do recém-nascido sentir dor apresentavam relutância em utilizar medidas farmacológicas para o alívio da dor em recém-nascidos no pós-operatório. DeLima (1996) estudou a mudança nas atitudes e práticas dos mesmos membros da sociedade de anestesia, por meio de questionário semelhante ao empregado em 1988. A maioria dos anestesistas, dessa vez, referiu que qualquer neonato ou lactente sente dor, diferentemente do que pensavam em 1988. A utilização de opióides para a analgesia do recém-nascido em pós-operatório foi referida por 92% dos médicos, comparados a 18% em 1988. Para as cirurgias de pequeno porte, 99% dos anestesistas utilizaram técnicas anestésicas locais, comparados a 27% dos anestesistas em 1988. No caso dos bebês prematuros, apenas 75% dos anestesistas utilizavam opióide para cirurgias maiores, embora a anestesia local fora utilizada de forma regular por 87% dos anestesistas. Franck (1987) sugere que os médicos, em geral, tendem a utilizar medidas para a avaliação da dor por eles consideradas mais objetivas, como a freqüência cardíaca e respiratória, a saturação de oxigênio e a pressão arterial, as quais são capazes de mensurar o fenômeno doloroso de forma pontual, abstendo-se da avaliação comportamental. Os médicos delegam a avaliação comportamental à equipe de enfermagem. Tohill e McMorrow (1990), ao avaliarem 17 unidades de terapia intensiva neonatais, constataram que 100% dos médicos e enfermeiras entrevistados afirmavam que o recém-nascido é capaz de sentir dor, porém, não foi observado prioridade para o alívio da mesma. Em apenas duas unidades existiam rotinas escritas para o tratamento da dor do neonato. Procedimentos sabidamente dolorosos, como drenagem torácica, punção lombar e intubação traqueal, não eram precedidos de medicação analgésica ou sedativa em 30 a 90% dos recémnascidos. Em mais de 75% dos bebês com diagnóstico de enterocolite necrosante, os analgésicos não constavam da prescrição. Havia, ainda, o relato de que, mesmo quando prescritos, os analgésicos não eram administrados pela enfermagem. Foram analisadas também 31 unidades de terapia intensiva neonatais e 38 pediátricas, nos Estados Unidos e Canadá, com relação à utilização de medidas analgésicas durante procedimentos invasivos, sendo verificado o emprego reduzido dessas medidas nos seguintes procedimentos: cateterização venosa periférica, punção suprapúbica, cateterização uretral e venopunção, em ambos os tipos de unidades. A freqüência do uso de analgesia para obtenção de acesso arterial, aspiração de medula óssea, inserção de cateteres centrais, drenagem 15 torácica, punção lombar e paracentese mostrou-se significantemente maior nas unidades pediátricas do que nas neonatais (Bauchner et al., 1992). Pesquisa realizada com 352 neonatologistas americanos com título de especialista mostra que todos acreditam que os recém-nascidos, até mesmo os mais prematuros, sentem dor e todos referem utilizar agentes farmacológicos para seu alívio, embora a comprovação do uso de tais agentes na prática, na situação de pós-operatório, seja variável (McLaughlin, 1993). Porter e colaboradores estudaram as atitudes de 374 profissionais de saúde frente a dor, relatando que 90% dos médicos e enfermeiras acreditavam que recém-nascidos sentem tanto ou mais dor do que adultos. Nove dentre 12 procedimentos habitualmente realizados no recém-nascido foram relatados por esse grupo de profissionais como muito ou moderadamente dolorosos. Todavia, não foram aplicadas medidas terapêuticas farmacológicas, ambientais ou comportamentais antes, durante ou após procedimentos como circuncisão e drenagem torácica, considerados como muito dolorosos (Porter, 1997; Larsson, 1999). Hester (1998) fez uma interessante descrição sobre a “ilusão da certeza”, onde a equipe de saúde afirma conhecer o nível de dor do paciente baseando-se no tipo de doença ou no procedimento realizado, sem utilizar parâmetros para medi-la. Isto ocorre apesar das pesquisas demonstrarem que a utilização de medidas multidimensionais, consideradas padrão de avaliação da dor, resultam em mensuração mais fidedigna da dor na criança (Chen, 2000). Porter (1999) analisou as respostas de 135 neonatos frente a procedimentos médicos e de enfermagem em função da intensidade e extensão dos procedimentos, das características do recém-nascido, como idade gestacional e pós-conceptual, e por meio da avaliação subjetiva da dor por parte do clínico. A conclusão da autora foi que, de modo similar ao encontrado em adultos, os recém-nascidos conseguem amplificar suas respostas fisiológicas e comportamentais após o aumento da quantidade de procedimentos dolorosos invasivos. A avaliação da dor dos recém-nascidos após procedimentos dolorosos, realizada pelos profissionais de saúde, baseou-se no incremento da freqüência cardíaca. Ou seja, os profissionais de saúde parecem associar a presença de dor apenas às alterações fisiológicas desencadeadas pelo estímulo doloroso. Balda e colaboradores (2000) tentaram determinar se adultos (pais e profissionais de saúde) poderiam reconhecer, de modo universal, as expressões faciais de dor no recémnascido a termo. Eles concluíram que, apesar da expressão facial representar um instrumento efetivo de comunicação, o grupo dos profissionais de saúde alcançou um nível menor de reconhecimento de expressões faciais de dor, comparado com o grupo de pais. Não bastasse a 16 dificuldade inerente à avaliação de um fenômeno subjetivo em um paciente que não fala, numerosos fatores ligados às características do profissional que observa a dor e do paciente que sente a dor podem interferir nessa avaliação, contribuindo para o seu subtratamento na faixa etária neonatal. Pesquisas demonstram haver diferenças na percepção da dor de acordo com o sexo do observador, indicando que mulheres decodificariam melhor a dor de pacientes não verbais do que homens (Carr, 1997; Hall, 1999). Tal afirmativa é contestada por Bartfield (1997), que não encontrou nenhuma influência do sexo do profissional de saúde na decisão de iniciar a analgesia do paciente. Balda (2001) observou que as mulheres parecem reconhecer menos a face de dor de recém-nascidos a termo do que os homens. Mason (1981) estudou a influência de fatores como idade e grau de instrução, observando que estes não alteravam a inferência sobre a presença da dor nos pacientes adultos e pediátricos. Porém, quanto maior a experiência clínica dos profissionais, menor a exatidão na avaliação da dor dos referidos pacientes. Outros ensaios clínicos em relação ao grau de instrução, conhecimento teórico e a experiência profissional não encontraram influência desses parâmetros na interpretação da enfermagem a respeito da dor do paciente (Dudley, 1984). Lander (1990) também não observou nenhuma influência da idade do observador como fator de interferência na avaliação da dor. Outros pesquisadores, no entanto, notaram que, quanto maior o grau de instrução dos profissionais de saúde e maior a sua experiência profissional, maior era a sua capacidade de subestimar a dor do paciente (Mason, 1981; Zalon, 1993; Prkachin, 1995). Outros estudos, ainda, contrariam o achado anterior e relatam que médicos e enfermeiras com maior conhecimento teórico e experiência profissional diagnosticam melhor a dor de seus pacientes (Halfens, 1990). Oates (1995) aplicou um questionário em médicos e enfermeiras. Tal questionário (GHQ-40) visava avaliar as atitudes de 45 neonatologistas e 291 enfermeiras intensivistas australianas em relação ao estresse, ambiente de trabalho, relacionamento e cuidados com o paciente criticamente doente. Do total, 78% dos médicos e 66% de enfermeiras responderam ao questionário. Cerca de 80% dos médicos e 38% das enfermeiras acreditavam priorizar o alívio da dor na sua prática clínica; 100% dos médicos relatavam que as decisões sobre os pacientes críticos eram tomadas em conjunto com a enfermagem, mas apenas em 39% das enfermeiras concordavam com tal afirmativa. Além disso, observou-se que o estresse vivenciado por esse grupo de profissionais afetava sobremaneira a sua vida pessoal. 17 A ênfase dada à experiência pessoal ou familiar com a dor como fator para aumentar a sensibilidade por parte do observador para diagnosticar a dor em recém-nascidos é também relatada por Porter e colaboradores (1997). Segundo esses autores, os médicos com experiências pessoais dolorosas avaliam a dor do neonato com maior atenção e precisão, procurando minimizar o sofrimento com um tratamento adequado e preciso. O currículo médico deveria priorizar o ensino do estudante sobre o manejo, as atitudes e o tratamento da dor dos pacientes. Nesse sentido, é interessante relatar um estudo em que os estudantes de medicina foram avaliados por meio de um questionário antes e após um treinamento teórico e prático sobre dor. Observou-se, com esse treinamento uma mudança radical com relação à visão, ao manejo, às atitudes e ao tratamento da dor por parte dos alunos (Wilson, 1992). Sem dúvida, uma das barreiras para o adequado manejo da dor é a falta de conhecimento sobre o assunto, fato confirmado por outro estudo recente com aluno de medicina do primeiro e último ano (Weinstein, 2000b). Existe também um grande dilema entre médicos generalistas com relação à decisão de prescrever analgésicos aos pacientes em cuidados primários versus o excesso de prescrições sem indicações formais, demonstrando a necessidade de programas de educação continuada dos profissionais de saúde em relação ao uso de analgésicos, especialmente opióides (Bendten, 1999). Weinstein (2000a) também observa fobia, por parte dos profissionais de saúde, em relação à prescrição de opióides e uma visão negativa desses profissionais quanto ao paciente com dor crônica. Nordholm (1980) nota que o biótipo do paciente também influencia o julgamento da equipe de saúde, sugerindo que indivíduos com aparência física atraente são avaliados mais favoravelmente do que aqueles menos atraentes. O biótipo debilitado e não atrativo do paciente adulto pode transformar o julgamento da dor desses pacientes por parte da equipe que os atende (Hadjistavropoulos, 1990). No recém-nascido o tipo físico debilitado parece determinar um aumento do número de manipulações por parte da equipe de enfermagem (Maloni, 1986). Entretanto, LaChapelle (1999) não evidencia interferência do tipo físico do paciente na avaliação da mímica facial de dor, por observadores não treinados, de indivíduos com desordens intelectuais. Pode-se, portanto, notar que um dos maiores problemas para o tratamento adequado da dor no recém-nascido refere-se à utilização dos conhecimentos científicos a respeito da presença, do diagnóstico e do tratamento da dor na prática diária, dos profissionais de saúde (Lander, 1990). Além disso, a incorporação desses conhecimentos depende sobremaneira de uma 18 série de fatores subjetivos que podem alterar para mais ou para menos a habilidade do profissional de reconhecer e tratar a dor do paciente pré-verbal. Com isso em mente, o estudo que segue tenta analisar a visão de pediatras, em nosso meio, em relação à presença, avaliação e tratamento da dor no recém-nascido. 19 2 OBJETIVOS De uma forma genérica o presente estudo teve como objetivo analisar as atitudes dos pediatras que atuam com pacientes neonatais, no município de Belém (PA), frente à dor e à analgesia do recém-nascido. Em relação aos objetivos específicos, este estudo visou: 1- Verificar se os pediatras do município de Belém (PA), que trabalham com pacientes da faixa etária neonatal: A- Acreditam que o recém-nascido sente dor; B- Percebem que o recém-nascido está com dor e se há diferenças em relação ao método empregado para a avaliação de dor por estes profissionais para o neonato a termo, para prematuros e para pacientes intubados, sob ventilação mecânica; C- Aplicam alguma medida analgésica diante de procedimentos dolorosos realizados rotineiramente em berçários e unidades de terapia intensiva neonatal, como punção venosa, lombar e de calcanhar, dissecções venosas, inserção de drenos torácicos e ventilação mecânica. 2- Observar se existem diferenças de atitude e conhecimento a respeito da dor do recém-nascido entre os médicos que trabalham exclusivamente em berçário ou em unidades de terapia intensiva com relação a: A- Acreditar que o recém-nascido sente dor; B- Perceber se o neonato está com dor e se esses profissionais fazem diferenças quanto ao método empregado para a avaliar a dor do neonato a termo, do prematuro e dos pacientes intubados, sob ventilação mecânica; C- Aplicar algum método analgésico diante de procedimentos dolorosos realizados rotineiramente em berçários e unidades de terapia intensiva neonatal, como punção venosa, lombar e de calcanhar, dissecções venosas, inserção de drenos torácicos e ventilação mecânica. 3 METODOLOGIA 3.1. Casuística e Método O protocolo do presente estudo seguiu as diretrizes e normas de pesquisa em seres humanos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital São Paulo –UNFESP - EPM. Trata-se de um estudo transversal, realizado no período de novembro de 1999 a julho de 2001, nas sete unidades de terapia intensiva existentes no município de Belém (PA) e nos 14 berçários das maternidades do mesmo município (ANEXO 1). Para a concretização dos objetivos foram cumpridas as seguintes etapas: 1- Seleção das UTI neonatais e dos berçários das maternidades do município de Belém; 2- Solicitação da lista dos médicos componentes do corpo clínico cuja atuação estava ligada aos recém-nascidos; 3- Contato por telefone com todos os médicos selecionados a fim de agendar dia e hora para responder o questionário; O único critério de inclusão dos pediatras no estudo foi a atuação profissional com recém nascidos em UTI neonatal ou pediátrica/neonatal e/ou em berçários, independentemente do tempo de formado e da habilitação em neonatologia. Assim o universo potencial de entrevistados era de 110 pediatras que preenchiam o critério de inclusão, sendo que seis recusaram-se a ser entrevistados e 104 pediatras constituíram a casuística da presente pesquisa. Os 104 entrevistados foram divididos em três grupos de acordo com seu trabalho com pacientes criticamente doentes ou não. Os três grupos foram definidos da seguinte maneira: Pediatras que só trabalhava com pacientes criticamente doentes (n= 16): todos os pediatras que trabalhavam em terapia intensiva (neonatal ou pediátrica e neonatal). Pediatras que não trabalhavam com pacientes criticamente doentes (n=28): todos os pediatras que trabalhavam exclusivamente nos berçários das maternidades selecionadas, berçários esses sem estrutura para o atendimento de recém nascidos criticamente doentes. 21 Pediatras que trabalhavam com recém nascidos saudáveis e doentes (n=60): todos os trabalhavam em terapia intensiva (neonatal ou pediátrica e neonatal) e também em berçários de médio e baixo risco das maternidades selecionadas. Foram excluídos do estudo aqueles pediatras que trabalhavam apenas em ambulatório ou em clínicas particulares e os que atendiam a neonatos apenas na sala de parto, de maneira rotineira ou eventual. Uma vez selecionado os pediatras a serem entrevistados e tendo estes concordados em participar da pesquisa agendava-se hora e local da entrevista e esclarecia-se os objetivos da pesquisa, na época agendada, o questionário era entregue ao entrevistado, que tinha um período de 60 minutos para respondê-lo, sempre na presença da pesquisadora ou de um indivíduo previamente treinado para as entrevistas. O questionário era então recolhido e lido para verificar se todas as respostas estavam adequadamente preenchidas. Os seis indivíduos que não concordaram em participar da pesquisa alegaram como motivo a falta de tempo. As entrevistas foram realizadas entre novembro de 1999 a agosto de 2001. Nestas entrevistas, foram abordados os dados pessoais, crenças em relação à presença de dor no recém-nascido e métodos de avaliação de dor e analgesia no período neonatal (ANEXO2): 1- Dados demográficos Idade expressa em anos até o dia da entrevista; Sexo do entrevistado: classificado como masculino e feminino Estado civil, definido como: casados incluindo indivíduos com parceiro fixo ou em comunhão consensual e não casados incluindo os indivíduos solteiros e outros, que engloba os separados não judicialmente, os desquitados, os divorciados e os viúvos; Religião, classificada em católica e não católica (evangélica, espírita, oriental, outras e ausente), sempre baseando-se no relato espontâneo do entrevistado. Caso o entrevistado afirmasse pertencer a algum grupo religioso, foi indagado se o mesmo era ou não praticante, deixando-se o conceito de praticante a cargo do entrevistado; Filhos, foi perguntado se o indivíduo tinha ou não filhos e, diante de resposta afirmativa, foi solicitado ao entrevistado detalhar o número e a idade de cada um dos filhos; Pais vivos, foi indagado se o indivíduo possuía ou não pais vivos e nesse caso foi indagado a causa morte e há quanto tempo a mesma ocorreu; 22 2- Dados profissionais; Graduação em medicina: foi indagado o local e o ano de início e término do curso; Especialização em pediatria, incluindo o local, o período de especialização e o tipo de especialização (estágio, residência). Foi questionado também se o entrevistado possuía título de especialista em pediatria (TEP), conferido pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Habilitação em neonatologia, incluindo o local, o período em que foi realizado a habilitação e o tipo de habilitação (estágio, residência). Sendo questionado também se o entrevistado possuía título de especialista em neonatologia (TEN), conferido pela Sociedade Brasileira de Pediatria; Local onde trabalha e, neste caso, detalhou-se se em hospital público, privado ou em ambos; UTI neonatal e/ou mista, berçário ou em ambos. No caso do entrevistado realizar atendimento em berçário, este indicava se era diarista, plantonista ou se atendia esporadicamente a pacientes particulares; No caso do indivíduo pesquisado trabalhar em terapia intensiva neonatal ou mista (neonatal e pediátrica), o entrevistado indicava se era diarista ou plantonista. 3- Dados sócio-econômicos: Renda per capita familiar no mês anterior ao questionário em reais obtido através da somatória das rendas mensais de cada membro da família em questão, dividido pelo número total de indivíduos residentes naquele núcleo; Classificação econômica de cada entrevistado, utilizando o novo Critério de Classificação Econômica Brasil (1997), definido pela Associação Nacional de Pesquisa, em concordância com a Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado (APIPEME/1992). Este critério de classificação define grandes classes econômicas e estima o poder de compra individual. Fazem parte deste critério de classificação econômica os seguintes tópicos: grau de instrução do chefe de família, posse e número de itens como carros, TV a cores, banheiros na residência, empregadas mensalistas, rádio, aspiradores de pó, máquinas de lavar roupas, geladeiras e freezers (ANEXO 3). Com a somatória dos pontos referentes a cada um dos tópicos especificados acima, definiu-se a que classe econômica o indivíduo pertencia, sendo as classes A1, A2, B1, B2,C, D, e E. 4- Experiência pessoal com dor: 23 Foi questionado se o entrevistado já foi hospitalizado. Em caso de resposta afirmativa, qual a data e o tipo de intervenção a que foi submetido; No caso de o entrevistado possuir filhos, se algum já foi submetido à cirurgia e, se afirmativo, quando ocorreu (data) e qual foi o tipo de intervenção cirúrgica; Se algum filho do entrevistado já esteve internado em terapia intensiva e, se afirmativo, quando ocorreu a internação (data) e qual o diagnóstico da internação. 5- Dados relativos à noção e experiência com a dor do recém-nascido: De acordo com a vivência pessoal e profissional do entrevistado, se ele achava que o recémnascido sente dor e, diante de uma resposta afirmativa ou negativa, foi solicitado que justificasse a resposta através de relato espontâneo. Em relação aos procedimentos potencialmente dolorosos realizados nos recém-nascidos nas Unidades de Terapia Intensiva ou em berçários como punção venosa, lombar e punção de calcanhar, qual a medicação e a dose utilizada pelo entrevistado. Durante as dissecções venosas e inserção de drenos torácicos, realizados pelo cirurgião pediátrico no município de Belém, foi questionado se o entrevistado prescrevia algum analgésico para o recém nascido e, em caso afirmativo, qual a dose utilizada; No caso do entrevistado trabalhar em terapia intensiva, se o mesmo prescrevia algum tipo de analgésico para o recém nascido em ventilação mecânica. Diante da resposta afirmativa, ele deveria responder qual a medicação utilizada e em que dose; Foi indagado de forma aberta ao entrevistado como este avaliava a dor no recém-nascido; Foi questionado, na opinião do entrevistado, qual o melhor parâmetro para verificar a presença de dor no recém-nascido a termo saudável, no prematuro e no neonato sob ventilação mecânica, podendo o mesmo escolher uma entre as opções: freqüência cardíaca, freqüência respiratória, pressão arterial, mímica facial e choro; Foi questionado ao entrevistado se o mesmo conhecia alguma escala para avaliação de dor no recém nascido e, caso afirmativo, o mesmo deveria descrever qual; O entrevistado deveria responder se achava importante diminuir a sensação de dor no recém nascido e, explicar o porque; Além disso, foi perguntado se, diante de um neonato intubado em pós-operatório de cirurgia abdominal, qual a preferência do entrevistado para a analgesia do paciente devendo este optar entre paracetamol, morfina, fentanil, dolantina ou midazolam; 24 Tentou-se definir quais são os principais temores dos médicos entrevistados em relação à prescrição de algum opióide no recém nascido dentre as seguintes opções: depressão respiratória, efeito hemodinâmico, tolerância, dependência, risco de adição ou outros fatores (neste último caso, o entrevistado deveria especificar qual o seu temor em relação ao uso de opióides no recém nascido); Finalmente, foi questionado ao entrevistado, de modo aberto, o que o mesmo entende por humanização em terapia intensiva neonatal. Tanto a pesquisadora como os indivíduos treinados elucidaram apenas as dúvidas em relação ao próprio questionário, não opinando ou comentando as opiniões expressas pelo entrevistado. O questionário foi anônimo, preservando-se assim a confidencialidade das informações prestadas. Após a entrevista dos 104 pediatras que preenchiam os critérios de inclusão, iniciou-se a apuração dos resultados. Apuração dos resultados e análise estatística A princípio realizou-se a análise descritiva de todas as variáveis estudadas. Para isso, descreveu-se as variáveis categóricas através de número e freqüência de eventos estudados e as variáveis numéricas através da média e desvio padrão. A comparação entre os grupos de profissionais que trabalhavam exclusivamente em UTI ou em berçário ou em UTI e berçário, para as variáveis categóricas, foi realizada através dos testes de Qui-quadrado e de sua partição, quando necessária. Para as variáveis numéricas, a comparação foi feita através da análise de variância ou de teste não paramétrico de KruskallWallis de acordo com a distribuição dos dados. Em todos estes testes o nível de rejeição da hipótese de nulidade foi fixado em 5% ou p 0,05. 25 4 RESULTADOS A população estudada constituiu-se de 104 médicos, dos quais 28 (27,0%) trabalhavam exclusivamente em berçário de baixo e médio risco, 16 (15,3%) trabalhavam apenas em unidades de terapia intensiva (neonatal ou pediátrica e neonatal) e 60 (57,7%) em ambos. Os principais dados demográficos dos 104 participantes encontram-se na TABELA 1. Observa-se que a média de idade da população estudada foi 35,4 anos. A idade mínima foi 23 e a máxima 54 anos. Do total de entrevistados, 98 (94,2%) eram do sexo feminino, 81 (77,9%) eram católicos e, destes, 80 (76,9%) praticavam a sua religião. Quanto ao estado civil, 62 (59,6%) eram casados e a média do número de filhos por indivíduo foi 1,3, variando de zero a quatro filhos. Para aqueles com filhos, a idade média do filho mais novo foi sete anos e seis meses, com o mínimo de quatro meses e o máximo de 21 anos. Ainda dos entrevistados com filhos, em média 0,8 filhos haviam sofrido alguma internação hospitalar, com variação de uma a duas internações. Do total de 135 filhos da população estudada, 26 haviam sido submetidos a algum procedimento cirúrgico e sete haviam estado internado em terapia intensiva em algum momento de suas vidas. Em relação à experiência do indivíduo com o sofrimento e a dor, observou-se que o número médio de hospitalizações anteriores do médico entrevistado foi 1,8, variando de zero a dez hospitalizações e que 76 dos 104 entrevistados sofreram alguma hospitalização anterior. Já, em relação aos pais dos médicos analisados, 80 (76,9%) possuíam pai vivo e, para 94 (90,4%), a mãe estava viva. Ou seja, cerca de 25% dos indivíduos haviam experimentado o sofrimento da perda de um dos pais. Segundo o critério de classificação econômica adotado no estudo, dos 104 neonatologistas entrevistados, 66 (63,4%) pertenciam à classe A (A1 e A2), 37 (35,5%) à classe B (B1 e B2) e apenas um (0,9%) à classe C, refletindo o alto poder econômico da população analisada. Este resultado pode ser verificado também através da renda per capita mensal dos 104 entrevistados. O seu valor médio foi de R$ 4.118,28, sendo o mínimo de R$ 600,00 e o máximo de R$ 13.000,00. Dos 104 entrevistados, 103 (99%) médicos eram formados no Pará e o tempo médio de formatura até a época da entrevista foi 12 anos, variando de dois a 27 anos. Do total, 96 (92,3%) possuíam especialização em pediatria, definida como tendo cursado um programa de residência médica em pediatria credenciada por, pelo menos, dois anos. Apenas 45 (43,3%) indivíduos possuíam o Título de Especialista em Pediatria (TEP), conferido pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Em relação à especialização em neonatologia, 22 (21,3%) possuíam tal especialização, definida como treinamento formal de pelo menos um ano em unidade neonatal universitária com programa formal de ensino em neonatologia e apenas nove (8,7%) possuíam o Título de Habilitação em Neonatologia (TEN), conferido pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Os dados demográficos dos 104 entrevistados classificados segundo o local de trabalho podem ser evidenciados na TABELA 2. Observou-se não haver diferença estatisticamente significante em relação à idade, sexo, religião, praticante de sua religião, estado civil, número de filhos, número de hospitalizações anteriores, pais vivos, classificação econômica, renda per capita mensal, tempo de formado em anos, especialização em pediatria e TEP, especialização em neonatologia e TEN. A única diferença entre os médicos classificados de acordo com o local de trabalho ocorreu na variável classe econômica: no grupo berçário 16 (57,1%) pertenciam à classe A; 11 (39,2%) à classe B e um (3,5%) pertencia à classe C; no grupo UTI exclusiva 13 (81,2%) pertenciam à classe A; três (18,7%) à classe B e, no grupo berçário e/ou terapia intensiva , 37 (62,0%) eram classe A e 23 (38,3%) classe B. Ou seja, o grupo de médicos que trabalhava em terapia intensiva exclusivamente apresentou um número maior de pertencentes à classe A (²: p= 0,0001) e o grupo de entrevistados que trabalhava apenas em berçário apresentou um número maior de indivíduos pertencentes à classe B (²: p=0,00007). A visão geral dos médicos em relação à dor e à analgesia no recém-nascido encontra-se na TABELA 3. De acordo com a vivência pessoal e profissional da população analisada, todos referiram achar que o recém-nascido sente dor. Quando indagado, de maneira aberta, como os entrevistados avaliavam a dor no neonato, apenas 35 (33,6%) dos profissionais conheciam alguma escala para a avaliação da dor no recém-nascido e a mais freqüentemente citada foi a NFCS (Sistema de Codificação Facial Neonatal), referida por 17 médicos. Os parâmetros para a avaliação da dor mais utilizados pelos entrevistados foram em ordem decrescente: choro por 82 (78,8%), mímica facial por 78 (75,5%) e parâmetros fisiológicos por 27 (26,0%) profissionais. Dos parâmetros fisiológicos, a freqüência cardíaca e respiratória e a queda da saturação de oxigênio foram lembrados por 22 médicos. Outros parâmetros, como apnéia e cianose, foram referidos por quatro (3,8%) entrevistados. Quando interrogado aos 104 entrevistados se eles achavam importante diminuir a dor do recém-nascido, houve unanimidade na resposta positiva. Foi, então, perguntado o motivo. Nessa ocasião, 44 (42,3%) responderam que era importante para reduzir o estresse do paciente, 25 (24,0%) para diminuir o sofrimento, 20 (19,2%) para melhorar o prognóstico neonatal e 12 27 (11,5%) referiram ser importante tratar a dor do recém-nascido por outros motivos. Dentre estes, os mais citados foram: “porque o neonato é um ser humano”, “porque o bebê possui terminações nervosas”, “porque a dor determina alterações comportamentais” e porque “é como se fosse em mim”. Finalmente, três (2,9%) médicos achavam importante diminuir a dor tanto para amenizar o sofrimento do paciente como para melhorar o seu prognóstico. Em relação à preferência dos entrevistados em termos de analgesia do paciente recém-nascido, 61 (58,7%) preferiam opióides, relatando o uso de fentanil e/ou morfina; 32 (30,8%) optaram por diazepínicos, em especial o midazolam; sete (6,7%) referiram empregar a associação opióide e diazepínico. Apenas quatro (3,8%) profissionais relatavam a escolha de outros analgésicos, sendo o paracetamol o mais citado por esses médicos. Quando indagado aos entrevistados se os mesmos indicavam a analgesia para recém-nascidos em ventilação mecânica, apenas 46 (44,2%) referiram fazer uso de analgesia nessa condição. Em relação à analgesia para o recém-nascido intubado e em pós-operatório de cirurgia abdominal, 68 (65,3%) da população estudada assinalava fazer uso da analgesia nessa circunstância. Os temores dos médicos entrevistados em relação à prescrição de opióides, referidos dentre opções pré-estabelecidas, foram: depressão respiratória por 68 (65,3%) profissionais, depressão respiratória acompanhada de outro efeito como hemodinâmico ou tolerância por 22 (21,1%), apenas o efeito hemodinâmico por seis (5,7%) e dependência física por cinco (4,8%). Dois (1,9%) médicos relataram temer a dependência física associada ao efeito hemodinâmico, quando do uso de opióides. O direcionamento da questão de métodos de avaliação da dor, em diferentes pacientes, com alternativas pré-estabelecidas, resultou nos dados expostos na TABELA 4. Com relação ao recém-nascido a termo, foi solicitado que o médico optasse pelo melhor parâmetro para verificar a dor. Nesse caso, 63 (60,6%) optaram pelo choro, seguido pela mímica facial por 35 (33,7%) médicos. Apenas seis (5,8%) profissionais escolheram algum parâmetro fisiológico como o melhor método de avaliação da dor no recém-nascido a termo. O mesmo questionamento foi efetuado para os 104 médicos em relação ao melhor parâmetro para verificar a dor em prematuros. Nesse caso, 53 (51,0%) optaram pela mímica facial, 28 (26,9%) preferiram a freqüência cardíaca, 17 (16,3%) o choro, quatro (3,8%) a freqüência respiratória e dois (1,9%) escolheram a pressão arterial como o melhor parâmetro para avaliar a dor no prematuro. Com relação à escolha do melhor parâmetro para avaliar o recém-nascido em ventilação mecânica, houve uma preferência de 54 (51,9%) médicos entrevistados pela freqüência cardíaca, 46 28 (44,2%) pediatras optaram pela mímica facial, apenas três (2,9%) escolheram a freqüência respiratória e um (1,0%) médico referiu a pressão arterial. Neste grupo, não houve a escolha do parâmetro choro. Quando se comparou o uso dos diversos parâmetros de avaliação da dor no recém-nascido a termo, no prematuro e no ventilado, observou-se que um percentual significantemente maior dos médicos optou pelo choro para o recém-nascido a termo (²: p <0,0001), pela mímica facial para o prematuro, (²: p<0,006) e pela freqüência cardíaca para o neonato ventilado (²: p<0,0001). Quanto à utilização de analgesia para procedimentos potencialmente dolorosos realizados nas unidades de terapia intensiva ou em berçários pelos 104 entrevistados, como punção venosa, punção lombar, punção capilar, dissecção venosa, drenagem torácica, ventilação mecânica e pós-operatório de cirurgia abdominal, os resultados podem ser evidenciados na TABELA 5. Observa-se que, para a punção capilar e venosa, que são os procedimentos mais comuns em terapia intensiva neonatal e em berçário, menos do que 10% dos profissionais referiram utilizar algum analgésico. Cerca de 30 a 40% dos médicos diziam realizar a analgesia para os seguintes procedimentos: punção lombar, dissecção venosa, drenagem torácica e no recém-nascido em ventilação mecânica. Aproximadamente um terço dos entrevistados responderam que não faziam uso de qualquer analgésico no pós-operatório imediato de cirurgia abdominal. Ao se classificar os médicos segundo o local de trabalho e analisar a sua visão frente à dor e à analgesia no recém-nascido, pode-se observar os resultados expostos na TABELA 6. Houve concordância geral, por parte de todos os entrevistados em responder que o recém-nascido sente dor. Quando se procurou observar diferenças entre os vários profissionais em relação à aplicação de métodos de avaliação da dor, observou-se que, independentemente do local de trabalho, menos de 50% dos profissionais referiram conhecer escalas de dor. Esse conhecimento e familiaridade com as escalas eram maiores para os médicos com atuação em terapia intensiva do que para aqueles sem atuação com pacientes criticamente doentes. Assim, 45% dos profissionais que trabalhavam em terapia intensiva e berçário e 31,3% dos que atuavam exclusivamente em terapia intensiva conheciam escalas de dor versus 17,8% daqueles que não atuavam em terapia intensiva (²: p=0,043). Com relação aos parâmetros de avaliação da dor, citados de forma espontânea pelos entrevistados, a mímica facial foi referida de maneira significantemente maior pelos médicos com atuação exclusiva ou não em terapia intensiva (berçário: 50%; UTI + berçário: 80%; UTI: 87,5% - ²: p=0,0047), de maneira semelhante à 29 observada para o padrão de conhecimento das escalas de dor. Já, o choro, para avaliar a dor do recém-nascido, foi mais citado pelos profissionais com atuação fora das unidades de terapia intensiva (berçário: 78,5%; UTI+berçário: 86,7% e UTI: 56,3% - ²: p=0,0261). Os parâmetros fisiológicos para a avaliação de dor foram referidos espontaneamente de modo semelhante pelos três grupos de estudo. A resposta dos entrevistados em relação à importância de diminuir a dor no recém-nascido foi igual, quando se comparou os médicos que trabalhavam em berçário, terapia intensiva ou em ambos. Notou-se que, para os três grupos de médicos, a preocupação geral com um tratamento humanitário do neonato predominou. Ao se estudar a preferência em relação aos medicamentos analgésicos, de acordo com o local de trabalho do médico, não houve diferença significante entre os grupos. No entanto, vale ressaltar a tendência dos pediatras sem atuação em terapia intensiva escolherem o diazepínico como a melhor opção para a analgesia neonatal: o diazepinico foi referido por 46,4% dos profissionais do grupo berçário; por 18,7% daqueles do grupo UTI exclusiva e por 25% dos pertencentes ao grupo UTI e berçário (²: p= 0,0708). Quando indagado aos entrevistados se os mesmos indicavam analgesia para recém-nascidos em ventilação mecânica, notou-se que os profissionais que trabalhavam em terapia intensiva referiam com maior freqüência o uso de analgésicos nessa circunstância do que os que trabalhavam exclusivamente em berçário (²: p=0,0029). Já, para a indicação de analgesia em pós-operatório de cirurgia abdominal, não houve diferença entre os grupos, embora metade a um quarto dos médicos de cada grupo referisse não utilizar analgesia nessa condição. Quanto aos temores dos médicos em relação à prescrição de opióides, escolhidos dentre opções pré-estabelecidas, observa-se que os profissionais com alguma atuação em terapia intensiva referiam maior temor em relação à depressão respiratória, comparados àqueles que não trabalhavam em terapia intensiva (²: p 0,0001). Ao se adicionar os dados referentes à citação de depressão respiratória isoladamente com aquelas citações acompanhadas por outros temores do uso de opióides, observa-se que 43% dos médicos de grupo berçário citaram o temor de dependência respiratória com o uso de opióides, comparados a 87% dos médicos pertencentes ao grupo UTI+berçário e a 100% dos pertencentes ao grupo UTI. Ao se direcionar a questão de métodos de avaliação da dor, em diferentes pacientes, com alternativas pré-estabelecidas, para os entrevistados classificados de acordo com o local de trabalho, foram observados os resultados descritos nas TABELAS 7, 8 e 9. Solicitouse que o entrevistado optasse pelo melhor parâmetro para verificar a dor no recém-nascido a 30 termo, no prematuro e no paciente em ventilação mecânica. Para pacientes enquadrados nessas categorias, as respostas obtidas não mostraram diferenças estatisticamente significantes entre os três grupos de pediatras classificados de acordo com o local de trabalho. Vale ressaltar que o choro foi o parâmetro mais citado para a avaliação da dor no recém-nascido a termo pelos profissionais com atuação fora da terapia intensiva (berçário e berçário+UTI), enquanto a mímica facial foi o mais referido pelo grupo de médicos com atuação exclusiva em terapia intensiva. Para o prematuro, os três grupos do estudo referiram como melhor parâmetro para avaliar a dor a mímica facial, ainda que cerca de 20 a 30% dos profissionais de cada grupo citassem como melhor parâmetro, nos neonatos pré-termo a freqüência cardíaca. Já para o paciente em ventilação mecânica, cerca de 50 a 60% dos pediatras com atuação em berçário (berçário e berçário+UTI) optaram pela freqüência cardíaca, enquanto 56% dos que atuavam exclusivamente em UTI preferiram a mímica facial. Quanto à utilização de analgesia para procedimentos potencialmente dolorosos realizados nas unidades de terapia intensiva ou em berçários, como punção venosa, lombar e capilar, dissecção venosa, drenagem torácica, ventilação mecânico e pós-operatório de cirurgia abdominal, pelos 104 entrevistados classificados segundo o local de trabalho, os mesmos podem ser analisados na TABELA 10. Em relação às punções venosas e capilar, freqüentemente utilizadas na rotina de berçários e de unidades de terapia intensiva neonatal, observa-se que a minoria dos profissionais de qualquer um dos três grupos referia realizar analgesia nesses procedimentos. Com relação à punção lombar, cerca de 70% dos profissionais, independentemente do seu local de trabalho, também não aplicavam qualquer técnica analgésica. Já, a utilização de analgesia para a dissecção venosa de recém-nascidos, foi referida com maior freqüência pelos profissionais com alguma atuação em terapia intensiva (berçário: 10,7%; UTI+berçário: 41,6%; UTI: 31,2 % - ²: p=0,0146), porém novamente verifica-se a tendência de analgesia para esse procedimento cirúrgico por menos de 50% dos profissionais de cada grupo. Quando se avaliou a escolha de analgesia para diminuir a dor do recém-nascido com indicação de drenagem torácica, o resultado foi semelhante ao citado para a dissecção venosa. Cerca de 4050% dos profissionais com atuação em terapia intensiva citavam aplicar analgesia durante a drenagem de tórax, versus 18% daqueles sem atuação em terapia intensiva (²: p=0,0314). Ao se estudar o uso de analgésicos para bebês submetidos à ventilação mecânica, observou-se que 56,7% dos pediatras pertencentes ao grupo UTI e berçário afirmavam realizar analgesia para o recém-nascido intubado e ventilado, comparados a 43,8% dos médicos que trabalhavam exclusivamente em UTI e a 18% daqueles com atuação em berçário. Essas diferenças foram 31 estatisticamente significantes (²: p= 0,0029). Assim para os procedimentos punção lombar, dissecção venosa, drenagem torácica e ventilação mecânica, os pediatras com alguma atuação em terapia intensiva referiam indicava alguma medida analgésica com maior freqüência. Apesar disso, cerca de metade desses mesmos profissionais não dizia utilizar qualquer analgesia para os quatro procedimentos citados. Finalmente, quando questionado aos entrevistados se realizavam analgesia para o recém-nascido em pós-operatório de cirurgia abdominal, os três grupos referiram padrão similar do ponto de vista estatístico quanto ao uso de analgesia. Ressalta-se, novamente, que 50-75% dos profissionais de cada grupo afirmavam não fazer uso de medicação para o alivio da dor para neonatos em pós-operatório imediato de cirurgia abdominal. 32 5 DISCUSSÃO Embora o alívio da dor devesse ser o princípio cardinal da medicina e todos nós já vivenciamos alguma experiência dolorosa em algum período de nossas vidas, na prática o manejo da dor, principalmente na área pediátrica e em especial no recém-nascido, continua sendo desencorajador e ignorado. As justificativas encontradas para o não tratamento da dor no recém-nascido são: imaturidade neurológica, ausência de memória para dor, metabolização de analgésicos de forma diferente da dos adultos e efeitos colaterais das medicações analgésicas, como dependência e tolerância, entre outras. Ou seja, a atitude, os preconceitos e a falta de conhecimento dos profissionais de saúde a respeito da dor no recém-nascido permeiam o seu subtratamento nessa faixa etária. A curiosidade de confrontar os dados da literatura a respeito dos conhecimentos e atitudes dos profissionais de saúde quanto à dor no recém-nascido com o conhecimento dos médicos brasileiros, que atuam em berçários e unidades de terapia intensiva na cidade de Belém, justificou a iniciativa de tal pesquisa. Nesse sentido perguntou-se: Os pediatras do município de Belém acreditam que o recém-nascido sente dor? Como os pediatras percebem a dor do recém-nascido e qual o método empregado para avaliação da dor no neonato a termo, no prematuro e naqueles que estão em ventilação mecânica. Existem diferenças de avaliação da dor nesses pacientes? Os pediatras aplicam alguma medida analgésica diante de procedimentos dolorosos realizados rotineiramente em berçários e unidades de terapia intensiva? Existem diferenças de atitude e conhecimento a respeito da dor no recém-nascido entre os médicos que trabalham em berçário ou em unidades de terapia intensiva? Na tentativa de obter respostas aos objetivos propostos, aplicou-se um questionário que abrangeu 95% dos médicos pediatras que trabalham em maternidades e unidades de terapia intensiva neonatais do município de Belém do Pará. Sem dúvida, trata-se de uma amostra representativa do conhecimento e das atitudes médicas com relação à dor do recémnascido em termos dos pediatras que trabalham em Belém (PA). Seria também uma amostra representativa do pensamento do pediatra brasileiro? Deve-se entretanto, considerar o fato de o trabalho ser restrito a uma localidade pode fazer com que elementos da cultura local ou regional influenciem as respostas obtidas na pesquisa. Mas assim que confrontamos os dados demográficos obtidos com aqueles observados na pesquisa “Perfil do Pediatra Brasileiro”, realizada pela Sociedade Brasileira de Pediatria com 1700 pediatras, de um total de 31.824 existentes no Brasil, podemos observar que o perfil médio do entrevistado no nosso estudo é semelhante ao do pediatra brasileiro (Fiocruz/CFM-MS/PNUD, 1996). A presente pesquisa foi feita predominantemente com médicos jovens (idade média: 35,4 anos), mulheres (94,2%), católicos (78%) e praticantes. Cerca de 60% eram casados e apresentavam, em média, 1,3 filhos. Segundo a classificação econômica adotada no estudo, observou-se um percentual importante de indivíduos pertencentes à classe A (63%), 35% pertencentes à classe B e somente 1% à classe C, com uma renda per capita de R$ 4.118,28, ou seja, pesquisou-se uma população de alto poder aquisitivo. Quase a totalidade dos médicos entrevistados formou-se no Pará (99%) e o tempo médio da formatura até a época da entrevista foi 12 anos. Notou-se também que a maioria dos entrevistados possuía especialização em pediatria (92%), definida como ter cursado residência médica. Porém, menos da metade (43%) possuía título de especialista em pediatria (TEP). O percentual de médicos com especialização em neonatologia, definida como treinamento de pelo menos um ano em unidade de terapia intensiva universitária com programa formal de ensino em neonatologia, foi inferior a um quarto (21%) dos entrevistados e, deste total, só 9% era detentor do título de especialista em neonatologia (TEN). Quando comparamos esses dados com aqueles obtidos na pesquisa “Perfil do Pediatra Brasileiro” (Fiocruz/CFM-MS/PNUD, 1996), observamos, nesse perfil, que mais da metade do total (72%) da amostra dos médicos pediatras está concentrada nas regiões sul e sudeste e 60% do total está alocado nas capitais. A maioria dos pediatras é jovem (85%), com menos de 50 anos e mais da metade do total são mulheres (60%). De acordo com a instituição de graduação de origem, mais de três quintos do total de pediatras é proveniente de instituições de ensino universitário público e praticamente metade tem menos de 15 anos de formado, sendo que 75% já havia concluído ou estava concluindo a Residência Médica e 71% do total dos profissionais possui título de especialista em pediatria (TEP). Como especialidade principal escolhida por estes pediatras, a neonatologia foi predominante em 22% dos casos e a terapia intensiva em apenas 5%. A renda média obtida nas três atividades exercidas por essa amostra é de R$ 4.299,32. Cerca de 80% dos médicos trabalham no setor público e 54% trabalham no setor privado. Expressaram satisfação com a especialidade exercida 79% dos entrevistados, embora praticamente o mesmo percentual de pediatras achasse a profissão desgastante. Esses dados demonstram semelhança entre o perfil do pediatra entrevistado para a presente pesquisa e o do pediatra “médio” brasileiro. Isto nos faz supor que os dados aqui 34 encontrados em relação a atitudes e conhecimentos frente à dor do recém-nascido possam, provavelmente, ser estendidos para o pediatra brasileiro. Mas será que esse perfil do profissional que atua com o recém-nascido poderia interferir no tipo de resposta obtida? A literatura pode nos dar algumas indicações. A influência da idade do observador na percepção e na decisão de tratar a dor do neonato permanece controversa. Há indícios de que, quanto maior a idade do profissional, maior sua capacidade de reconhecimento da dor no paciente pré-verbal (Porter, 1997) ou, em outros estudos, menor a sua capacidade de reconhecimento (Dudley, Holm, 1984) ou, ainda, os pesquisadores descartam essa variável como exercendo qualquer influência na atitude frente à dor sentida ou expressa pelo recém-nascido (Mason, 1981; Burokas, 1985; Chonière, 1990; Lander, 1990; Margolius, 1995). Dados da literatura afirmam que as mulheres são mais fiéis na decodificação da dor expressa pelo recém-nascido (Ekman, Oster, 1979; Gálan, 1998; Hall, 1999; Sheffield, 2000; Raftery, 1995). Contrariamente a esta afirmativa, Buck (1974) notou que as mulheres podem ser mais expressivas em relação à dor, porém são menos precisas para identificar a expressão facial da dor de pacientes adultos. Balda (2001) observa, em nosso meio, que o fato de ser mulher pode dificultar o reconhecimento da dor no recém-nascido a termo. Em termos da religião, talvez, a religião cristã, com sua visão de que o sofrimento e a dor são importantes para a formação do caráter do indivíduo (Low, 1997), poderia influenciar na decisão de subtratar a dor no recémnascido por parte da equipe médica. No entanto, alguns estudos relatam que é a afinidade cultural e religiosa entre o médico e o paciente o fator principal que interferiria no julgamento da dor do referido paciente e não a religião propriamente dita (Davitz, 1967). Sentir dor não torna ninguém mais corajoso, não redime pecados nem ajuda no tratamento, podendo inclusive atrasar o restabelecimento da saúde e por si só pode levar a morte, é o que revela uma pesquisa recente sobre dor realizada em Londrina, no Paraná com 2000 pessoas de diferentes idades e classes sociais, na qual 63% dos entrevistados entre 18 e 60 anos sofrem de algum tipo de dor crônica e 29% das crianças entre sete e 14 anos queixam-se de dor constante (Buchalla, Poles, 2002). Embora alguns trabalhos não demonstrem qualquer influência do estado civil e da presença ou ausência de filhos no reconhecimento da dor expressa por indivíduos adultos e crianças mais velhas (Dudley, Holm, 1984; Burokas, 1985), seria lógico pensar que a presença de filhos com idade abaixo de um ano, assim como o fato do médico ter tido um filho submetido a algum procedimento cirúrgico ou internação em terapia intensiva poderia induzir a sensibilização desse profissional em relação à dor do recém-nascido (Burokas, 1985; Holden, 1988; Woodgate, 1996; Seymour, 1997; Taddio, 1997; McCarthy, 2000). Essa lógica de 35 pensamento foi contestada por Manne e colaboradores (1992), que notaram que a experiência dolorosa do filho poderia dessensibilizar os pais, pois internações repetidas ou estímulos dolorosos sucessivos determinariam um “acomodamento” por parte dos pais no julgamento dessa situação. No presente estudo, a experiência pessoal com a dor foi referida por praticamente 50% do total de médicos estudados, resultado esse extrapolado da referência a pelo menos duas hospitalizações prévias à entrevista. Alguns estudos indicam que essa experiência pessoal influenciaria o adulto a apresentar maior sensibilização para perceber a dor dos pacientes (Ekman, 1979; Bradshaw, 1986; Holm, 1989; Prkachin, Craig, 1995; Porter, 1997; Seymour, 1997). No entanto, 60% da população aqui entrevistada foi constituída de mulheres e uma parte das hospitalizações sofridas por tais mulheres esteve relacionada ao parto. O nascimento de um bebê não é, em geral, lembrado como uma experiência dolorosa e, dessa forma, poderia não facilitar a percepção do profissional para a dor no recém-nascido. Ainda com relação aos médicos analisados, cerca de 25% havia experimentado o sofrimento da perda de um dos pais. A sensação dolorosa da perda de um ente querido, principalmente pais ou filhos, nos faz supor que tal sofrimento poderia favorecer a percepção da dor no recém-nascido em berçário e/ou em terapia intensiva por parte desses médicos ou exercer uma ação exatamente contrária devido ao fenômeno conhecido como negação, determinando assim a não percepção da dor no neonato. Não foi encontrado, entretanto, qualquer ligação, na literatura científica, com relação à perda dos pais ou filhos do médico e a sua percepção da dor do neonato. Já em relação à variável sócio-econômica, Jacox (1979) referiu que, quanto maior foi o nível sócio-econômico das enfermeiras pesquisadas, menor a sua capacidade de inferir e interpretar a expressão de dor do paciente em questão. Kees4 em 1954 observou o contrário: pessoas de baixa classe sócio-econômica tenderiam a aceitar o estresse, a dor e a doença como eventos que fazem parte de suas vidas, diferentemente dos indivíduos com maiores posses, que tenderiam a reconhecer mais precocemente esses fatores e buscam ajuda profissional para solucionar o problema (Larson, 1984). Talvez, mais importante do que a idade, o sexo, o estado civil ou a religião do médico, seria a sua capacidade profissional e a sua experiência de vida no tocante à facilidade ou dificuldade de reconhecer e tratar a dor do recém-nascido. De acordo com alguns pesquisadores, quanto maior o grau de conhecimento teórico e a experiência profissional sobre dor, maior seria 4 Kees E (1954) apud McMahon M A, Miller P. Pain response: the influence of psycho-social-cultural factors. Nurs Forum 1978; 17:57-71. 36 a chance desse médico não reconhecer e subestimar a dor do paciente (Mason, 1981; Zalon, 1993; Prkachin, Craig, 1995). Outros estudos indicam que, quanto maior o grau de instrução, mais precisa seria a avaliação da dor e a preocupação de tratá-la adequadamente (Margolius, 1995; Salantera, 1999). Outros, ainda, relatam que, quanto maior o conhecimento teórico a respeito da fisiopatologia e dos métodos de avaliação da dor, mas não dos anos de prática clínica, maior seria a capacidade do observador de perceber a presença de dor no neonato. Entretanto, para outros pesquisadores, o conhecimento teórico mais aprofundado sobre a dor associado à maior experiência profissional seriam capazes de tornar esses médicos mais precisos para diagnosticar a dor nos bebês (Halfens, 1990). Em contrapartida, outros estudos não demonstraram que a interpretação da dor no recém-nascido sofra influência de qualquer um desses fatores (Dudley, 1984; Burokas, 1985). A discordância dos resultados dessas investigações poderia ser atribuída à variedade das características pessoais, sociais, culturais e psicológicas do profissional, cuja somatória alteraria de maneira imprecisa a capacidade de reconhecer a dor, dificultando a interpretação isolada de cada uma das variáveis. Dessa maneira, o perfil demográfico do pediatra entrevistado nessa pesquisa (TABELA 1) apresenta peculiaridades que podem interferir da maneira mais variada possível nos resultados obtidos, não sendo possível prever vieses por termos trabalhado com uma população de médicos jovens, mulheres, casadas, com filhos, de alto nível sócio econômico com alguma experiência própria com a dor, com experiência profissional e prática em pediatria, mas com especialização não formal em neonatologia. Nesse contexto, surge a pergunta: será que o médico que lida com recém-nascidos criticamente doentes fica mais sensibilizado ou dessensibilizado para perceber a dor do neonato? Ele conhece mais ou menos a respeito do tema? Segundo a literatura, médicos intensivistas seriam mais sensíveis em relação à presença de dor em seus pacientes do que os profissionais que atuam em outras áreas, como enfermarias, clínicas ou berçários (Porter, 1997). Outros estudos revelam que os médicos que atuam na área hospitalar adotam, com maior freqüência, medidas adequadas para avaliação da dor na criança do que aqueles que trabalham no setor ambulatorial (Galán, 1998). No entanto, Burokas (1985) não encontrou interferência de nenhum desses fatores na decisão de indicar medidas terapêuticas para o alívio da dor do paciente pediátrico ou neonatal, mas constatou sua influência em relação ao tipo e quantidade de analgésicos administrados para crianças. Quando classificamos os médicos entrevistados segundo o seu local de trabalho, observamos que 16% atuavam só em terapia intensiva, 28% apenas em berçário e 60% em 37 ambos. O perfil dos três grupos foi praticamente idêntico em relação aos dados demográficos (TABELA 2) e coincidente com os dados do “Perfil do Pediatra Brasileiro” (Fiocruz/CFMMS/PNUD, 1996). A única diferença entre os grupos estudados foi notada com relação ao critério de classificação econômica: os médicos que trabalhavam em terapia intensiva exclusivamente apresentaram um maior número de indivíduos pertencentes à classe A e, no grupo de médicos entrevistados que atuava apenas em berçário, havia um maior número de indivíduos pertencentes à classe B, talvez devido ao fato de que a terapia intensiva necessita de médicos mais qualificados e, consequentemente, com melhor remuneração em comparação aos que atuam apenas em berçário de médio e baixo risco. Dessa maneira, as possíveis diferenças encontradas entre os três grupos de estudo em relação à atitude e ao conhecimento do pediatra frente à dor do recém-nascido devem refletir a experiência pessoal do profissional e o tipo de paciente que o mesmo assiste e, não, refletirem diferenças de fatores demográficos que podem interferir na atitude do adulto frente à dor do recém-nascido. Tendo como base o perfil demográfico da população estudada, podemos partir para a análise das respostas em termos dos objetivos principais dessa pesquisa. Nessa amostra de pediatras, o que podemos perceber quanto à dor do recém-nascido? O resultado encontrado no presente estudo, a respeito da visão geral dos médicos em relação à dor no recém-nascido (TABELA 3), foi a unanimidade em achar que o paciente dessa faixa etária sente dor. Tal resultado indica uma mudança de paradigma quanto à presença de dor do neonato. Até a década de 70, o conceito prevalente entre pediatras e neonatologistas era de que o recém-nascido não sentia dor (McGraw, 1943; Beyer, 1989; Stevens, 1991; Chamberlain, 1991; Fitzgerald, 1998). A provável explicação para essa mudança de pensamento vem sendo atribuída às inúmeras pesquisas publicadas acerca do assunto, possibilitando um melhor conhecimento por parte dos profissionais de saúde a respeito da presença da dor no período neonatal, do desenvolvimento do sistema nociceptivo, das conseqüências da dor a curto, médio e longo prazo para o recém-nascido, além de recomendações formais sobre estratégias para o alívio da dor nessa faixa etária (Casey, 1982; Anand et al, 1985; Anand, 1987; Yaster, 1987; Berry, Gregory, 1987; Poland et al, 1987; Anand, 1988; McGrath, Johnston, 1988; Fitzgerald, 1988; Anand, 1989; Fitzgerald, 1989; Franck, 1989; Anand, 1990a; Anand, 1993; Fitzgerald, 1993; Fernandez, Rees, 1994; Fitzgerald, 1994; Pokela, 1994; Anand, 1995; Pasero, 1995; Anand, 1996a; Bhatt-Metha, 1996; Johnston, Stevens, 1996; Anand, 1997; Espinosa, 1997; Menon et al, 1998; Anand, 1999b; American Academy of Pediatrics, 2000). O resultado encontrado em nosso trabalho é referendado por outros estudos da literatura, como o de Purcell38 Jones (1988) e DeLima (1996). O primeiro, publicado em 1988, relata que, na época, apenas 80% dos anestesistas britânicos acreditavam que o recém-nascido sentia dor e somente 18% prescreviam medidas farmacológicas para o seu alívio no período pós-operatório. Já o segundo trabalho avaliou a mesma categoria de médicos quase dez anos depois e verificou que quase 100% dos anestesistas referia achar que qualquer neonato é capaz de sentir dor, sendo, dessa vez, a utilização de medicação analgésica para o recém-nascido em pós-operatório efetuada por 92% dos profissionais em questão. A diferença dos resultados revela uma mudança de atitude e prática por parte dos anestesistas do Reino Unido e Irlanda quanto à dor no recém-nascido. Outros estudos, como os de Porter (1997) e Larsson (1997), avaliam as atitudes de profissionais de saúde frente à dor e destacam que cerca de 90% dos médicos e das enfermeiras acreditam que recém-nascidos sentem tanto ou mais dor do que adultos. Dessa maneira, os pediatras analisados na presente pesquisa apresentam uma visão geral paralela à de profissionais de saúde de países desenvolvidos e ao “saber atual”, quando referem que o neonato é capaz de sentir dor. Mas, será que essa visão é diferente de acordo com o local de trabalho do médico entrevistado, ou seja, com a sua experiência profissional e seu contato diário com recémnascidos mais doentes e com mais dor? Observa-se (TABELA 6) que a visão geral dos pediatras de Belém a respeito da presença da dor no recém-nascido é a mesma, independentemente do local de trabalho. Em nosso estudo, todos os neonatologistas que trabalham em unidades de terapia intensiva e berçário acham que o recém-nascido sente dor. Embora a literatura sobre esse tema específico seja pobre, algumas pesquisas, como a de Galán (1998), indicam que médicos que trabalham com pacientes hospitalizados tendem a considerar ou pensar mais na dor de seus pacientes do que aqueles que trabalham em ambulatório. De qualquer maneira, em nossa investigação, todos os pediatras referiram achar que o recém-nascido sente dor. Pode ser que as especificidades derivadas do local de trabalho e do tipo de paciente atendido apareçam nas questões relativas às atitudes práticas e não nas considerações gerais sobre a presença ou a ausência de dor na faixa etária em questão. A pergunta conseqüente à constatação acima só pode ser a seguinte: o fato de 100% dos médicos entrevistados acharem que o recém-nascido sente dor implica que eles tenham conhecimento quanto à avaliação e ao tratamento da dor? No restante desse estudo tentaremos, portanto, verificar o conhecimento e a prática dos profissionais que lidam com o recém-nascido em Belém a respeito da avaliação da dor e da analgesia no período neonatal. Em relação à avaliação da dor, quando se perguntou aos entrevistados, de maneira aberta e sem alternativas pré-determinadas, como eles verificavam a dor de seus pacientes, as 39 respostas indicaram que somente um terço dos pediatras conhecia alguma escala para avaliação da dor (TABELA 3). Esse achado chama atenção, uma vez que as escalas para avaliação da dor no recém-nascido estão disponíveis desde o final da década de 80 e início de 90 (Dudley, 1984; Grunau, Craig, 1987; McGrath, 1987; Beyer, 1989; Jones, 1989; Choinière, 1990; Grunau et al., 1990; Craig, 1993; Zalon, 1993; Guinsburg, 1997; Abu-Saad, 1998a; Blauer, 1998; McGrath, 1998a; Craig, 1998; Stevens, 1998; Larsson, 1999; Buttner, 2000; Franck, 2000) e vêm sendo amplamente referidas e recomendadas para a avaliação da dor no lactente pré-verbal na literatura em geral (Craig, 1993; Guinsburg, 1997; Franck, 1998; Craig, 1998; Larsson, 1999; Grunau, 2001), assim como em revistas e livros em português (Guinsburg, 1994; Guinsburg, 1996; Guinsburg, 1997; Guinsburg, 1999; Santos, 2001), publicações essas de fácil acesso para a maior parte dos pediatras. No entanto, a minoria dos médicos entrevistados conhece essas escalas. Parece que o “saber geral” quanto à presença de dor nos recém-nascidos reflete um “ouvir falar”, mas não leitura e atualização específicas por parte dos entrevistados. Este achado é preocupante, pois, segundo Halfens (1990), o conhecimento teórico e a prática do dia a dia caminham par e passo e, certamente, são fatores decisivos para que o profissional de saúde tenha capacidade para decodificar e tratar o fenômeno da nocicepção. Se o médico aqui entrevistado não tem um conhecimento teórico um pouco mais específico acerca da avaliação da dor em lactentes préverbais, a sua prática quanto à analgesia pode ficar comprometida. Tohill e McMorrow (1990) estudaram médicos que trabalhavam em 17 unidades de terapia intensiva do Reino Unido. Esses profissionais afirmaram, com a mesma unanimidade observada em nosso trabalho, que o recémnascido é capaz de sentir dor, porém não deram prioridade para o alívio da mesma. Talvez, o problema esteja relacionado à formação básica do médico e a reciclagens teóricas e práticas falhas ou deficientes, como pode ser observado na pesquisa realizada por Galán e colaboradores (1998) com médicos pediatras espanhóis. Nesse estudo, 90% dos pediatras afirmavam ter recebido escassa ou nenhuma informação a respeito do manejo da dor em recém-nascidos e crianças maiores, dois terços dos médicos entrevistados desconheciam métodos de avaliação da dor e somente dois em cada dez pediatras empregavam algum método para avaliar a dor no recém-nascido e em crianças maiores em alguma ocasião. Recentemente, Castro (2001) constatou que não houve utilização das escalas para a avaliação da dor em 97 recém-nascidos em ventilação mecânica e em uso de opióides, embora o Sistema de Codificação Facial Neonatal e a Escala de Avaliação de Dor no Recém-Nascido estivessem sendo usados para pesquisa científica na unidade analisada e fossem explicados em aulas teóricas para os médicos assistentes da unidade por vários anos antes do início da pesquisa. Esses achados denotam novamente o lapso 40 entre o conhecimento da presença de dor no recém-nascido e a prática de avaliação e tratamento nas unidades de terapia intensiva neonatais, em nosso meio. Com relação ao conhecimento específico a respeito das escalas para a avaliação da dor do recém-nascido pela população aqui estudada, a mais freqüentemente citada foi o Sistema de Codificação Facial Neonatal, referido por 17 (16%) pediatras (ANEXO 8,9,10). De fato, o Sistema de Codificação Facial Neonatal é um instrumento de avaliação estudado e validado por inúmeros pesquisadores (Grunau, 1987; Grunau, 1990; Guinsburg, 1995a; Stevens, Franck, 1995; Stevens, 1995; Taddio, 1995; Guinsburg, 1997; Grunnau, 1998a; Craig, 1998; Pereira, 1999; Balda, 2000), sendo bem aceito por pais e enfermeiras, quando estes são solicitados a atuar como observadores na avaliação da dor do neonato (Wong, Baker, 1988). Talvez a freqüência com que o Sistema de Codificação Facial Neonatal seja citado nas publicações nacionais e internacionais (Craig, 1993; Guinsburg, 1994; Guinsburg, 1997; Craig, 1998; Grunau, 1998b; McGrath, 1998a; Larsson, 1999; Guinsburg, 2000a) explique porque alguns pediatras do Pará o conhecem. Mesmo assim, o fato de apenas uma minoria dos médicos, no presente estudo, conhecer alguma escala de avaliação da dor, indica que esses instrumentos de avaliação da resposta do recém-nascido ao estímulo nociceptivo não fazem parte da rotina das unidades onde trabalham e sinaliza para um descompasso entre “saber” e “fazer”, ou seja, entre achar que o recém-nascido sente dor e avaliar essa dor de forma adequada para poder tratá-la. Quando se perguntou, de forma aberta, que instrumento o pediatra usava para avaliar a dor do recém-nascido, a maioria (80%) referiu parâmetros comportamentais como o choro e a mímica facial (TABELA 3). Já, quando questionados, dentre opções de resposta prédeterminadas, que parâmetros eram empregados para avaliar a dor no recém-nascido a termo, no prematuro e naquele em ventilação mecânica (TABELA 4), observou-se, para o recém-nascido a termo, a referência ao choro por 63% dos pediatras entrevistados, seguido pela mímica facial, por 33,7% dos médicos. Em bebês prematuros, a metade (51%) dos pediatras optou pela mímica facial e 26,9% preferiram a freqüência cardíaca. Já a escolha do melhor parâmetro para avaliar a dor do recém-nascido em ventilação mecânica pelos neonatologistas em questão revelou que metade preferia (51,9%) a freqüência cardíaca e 44,2% a mímica facial. Dessa forma, a maioria dos entrevistados optou pelo choro para a avaliação da dor no recém-nascido a termo, pela mímica facial para o prematuro e pela freqüência cardíaca para o neonato ventilado. O choro, portanto, foi citado por grande parte dos profissionais entrevistados para a avaliação da dor no recém-nascido em geral e, especificamente, no neonato a termo. De fato, o choro é amplamente referido como índice de dor em bebês por profissionais de saúde, pais e 41 população leiga em geral (Porter, 1989; Runefors, 2000). No entanto, na prática, sua utilização é bastante questionável. McGrath (1998) demonstrou que mais de 50% dos bebês não choram quando submetidos a um estimulo nociceptivo significante, como a inserção de uma agulha. Além disso, o paciente tratado em terapia intensiva está geralmente intubado, o que impede a vocalização do choro. Mais ainda, embora seja possível diferenciar o choro de dor do choro de fome ou de outro desconforto, isso exige um adulto conhecedor do choro da criança em questão (mãe/pai) ou uma aparelhagem específica para decodificar tons e tempos da resposta vocal. Ou seja, na prática do tratamento neonatal, os profissionais de saúde, que cuidam de vários pacientes simultaneamente, não conseguem identificar o choro de dor e a aparelhagem para a verificação de características específicas do choro não está disponível. Dessa maneira, o choro não se constitui em um bom parâmetro para a avaliação da dor do neonato por profissionais de saúde. Em nosso trabalho, os médicos entrevistados parecem avaliar a dor de maneira intuitiva, através do choro, sem conhecer as dificuldades técnicas da aplicação desse parâmetro. Assim, nota-se um descompasso, novamente, entre saber ou achar que o recém-nascido tem dor e conhecer como avaliar essa dor para poder tratá-la. Além do choro, dois terços dos pediatras estudados citaram, de forma espontânea, a mímica facial para a avaliação da dor no recém-nascido, preferindo-a, em detrimento de outros parâmetros, para avaliar especificamente a dor do prematuro. Diferentemente do choro, esse resultado nos faz pensar que existe, entre esses médicos, alguma noção sobre o conhecimento de como avaliar a dor do recém-nascido. Grunau e Craig (1987) constataram que 88% dos observadores concordam que a mímica facial é uma resposta específica à dor em neonatos submetidos à punção capilar e avaliados através de imagens de vídeo. Jones (1989) e Howard (1998) observam que a equipe de enfermagem refere o choro, a mímica facial (caretas) e a agitação como os melhores indicadores de dor no recém-nascido. Hadjistavropoulos (1997) analisou estudantes de enfermagem, dos quais 71% responderam que a mímica facial foi um fator fundamental para determinar a presença de dor em 56 bebês submetidos à punção capilar para coleta de sangue. De fato, a expressão facial é um parâmetro freqüentemente utilizado para mensurar a dor do neonato e tem sido demonstrada sua efetividade, universalidade e confiabilidade como instrumento de avaliação da dor do paciente pré-verbal por vários pesquisadores (Ekman, 1987; Grunau et al., 1990; Guinsburg, 1994; Guinsburg, 1995; Prkachin, 1995; Guinsburg, 1996; Guinsburg, 1997b; Hadjistavropoulos et al., 1997; Craig, 1998; Grunau et al., 1998b; Johnston, 1998; Balda, 1999; Pereira, 1999; Balda, 2000; Guinsburg, 2000a), podendo ser reconhecida tanto por adultos treinados (Grunau et al., 1990; Grunau et al., 1998a), 42 como por adultos sem esse treinamento, mas que estão em contato direto com recém-nascidos, como médicos, enfermeiras e pais (Purcell-Jones et al., 1988; Jones, 1989; Howard, Thurber, 1998; McGrath et al., 1998b; Balda, 1999; Balda, 2000). Nesse contexto, os médicos entrevistados mostraram um descompasso menor entre “achar que tem dor” e “aliviar a dor”, ao preferirem empregar a mímica facial para avaliar a dor, especificamente em prematuros. Isso nos faz pensar que a informação e a atualização vêm chegando aos profissionais que atuam em diversas regiões do nosso país. Há uma mudança de conceito (o recém-nascido tem dor) e há referência a um instrumento mais adequado para a avaliação da dor (mímica facial). Essa reflexão reforça o valor da reeducação contínua da equipe de saúde para a incorporação prática de novos conceitos teóricos sobre fisiologia e fisiopatologia da nocicepção e farmacologia dos analgésicos, entre outras áreas. Só assim a prática da medicina condizente com o “estado da arte” pode ocorrer, o que inclui a avaliação e o tratamento da dor no período neonatal. De forma espontânea, uma minoria dos entrevistados optou por parâmetros fisiológicos para avaliar a dor do recém-nascido. Esse achado, por um lado, vai de encontro aos inúmeros estudos da literatura que mostram que os parâmetros fisiológicos devem ser utilizados como coadjuvantes para a avaliação da dor no lactente pré-verbal (McGrath, 1987; Stevens, 1995; Sweet, Anand, 1997; McGrath, 1998). Por outro lado, esse resultado vai contra a referência, na literatura, de que os médicos, diferentemente das enfermeiras, optam por parâmetros fisiológicos para a avaliação da dor, por serem tais parâmetros mais objetivos e menos sujeitos à necessidade de uma interação emocional do profissional com o seu paciente (Franck, 1989). No entanto, quando se perguntou, em nosso trabalho, o que o profissional de saúde preferia para avaliar a dor de pacientes intubados, dentre opções pré-estabelecidas, a preferência pelo parâmetro fisiológico, especialmente pela freqüência cardíaca, ressurgiu. Ou seja, nos pacientes mais doentes, submetidos a procedimentos dolorosos com maior freqüência e que precisam de uma avaliação criteriosa da dor, os médicos entrevistados escolheram um parâmetro pouco especifico e de difícil interpretação (a freqüência cardíaca), o que vem confirmar os dados obtidos por Franck (1989). Esse autor relata que a equipe médica tende, em geral, a utilizar a freqüência cardíaca, a freqüência respiratória, a saturação de oxigênio e a pressão arterial como medidas para avaliar a dor neonatal por serem mais objetivas e de fácil aferição e delegam a avaliação comportamental para a enfermagem, por acharem que as alterações do comportamento do bebê não são capazes de mensurar o fenômeno doloroso de forma precisa. Os parâmetros fisiológicos mais citados pelos médicos do Pará têm sido constantemente avaliados por vários estudos, destacando-se a freqüência cardíaca (Clifton, 1968; 43 Field, Goldson, 1984; Owens, Todt, 1984; Johnston, Strada, 1986; Anand, 1987; Yaster, 1987; Durand, 1989; Mudge, Younger, 1989; Arnett, 1990; Izard, 1991; Marchette, 1991; Benini, 1993; Craig, 1993; McIntosh, 1994; Moustogiannis, 1994; Stevens, Johnston, 1994; Johnston, 1995; Sweet, McGrath, 1998), a freqüência respiratória (Rawings, 1980; Williamson, Williamson, 1983; Field e Goldson, 1984; Mudge, Younger, 1989; Craig, 1993; McIntosh, 1993; Weathrstone, 1993; Howard, 1994; McIntosh, 1994; Stevens, 1995; Sweet, McGrath, 1998) e a saturação de oxigênio (Maxell, 1987; Arnett, 1990; Benini, 1993; Stevens, Johnston, 1994). Nesse contexto, torna-se importante ressaltar novamente a afirmativa feita por Anand (1997) de que qualquer parâmetro fisiológico isolado não é uma medida fidedigna para a avaliação da dor no neonato. Contudo, as medidas da freqüência cardíaca, da freqüência respiratória, da saturação de oxigênio e outras podem ser utilizadas como parte da avaliação da dor no neonato, quando os métodos fisiológicos e comportamentais são integrados nessa avaliação. A conclusão a que se chega, com relação ao modo de avaliação da dor no recémnascido empregado pelos médicos do estudo, é que além deles aplicarem o choro de forma intuitiva e a mímica facial de modo esparso nos neonatos, esses profissionais, ao se defrontarem com o recém-nascido criticamente doente e em ventilação mecânica, voltam a usar o parâmetro fisiológico isoladamente, o qual é pouco específico para avaliar a totalidade do fenômeno doloroso (McGrath, 1987; Stevens, 1995; Anand, 1997). Nesse sentido, volta a aparecer o descompasso entre o “saber” e o “fazer”, comprometendo a avaliação do recém-nascido com dor e, consequentemente, contribuindo para o seu subtratamento e para as conseqüências desse subtratamento a curto, médio e longo prazo. Tais dados vêm ratificar o que vários estudos também comprovaram: a avaliação e o tratamento da dor do recém-nascido ainda não estão incorporados à prática clínica diária nas unidades de terapia intensiva (Hodgkins, 1985; Franck, 1986; Porter, 1989; McLaughlin, 1993; Fernandez, Rees, 1994; Barker, Rutter, 1995; Johnston, 1997; Porter, 1998; Singer, 1999; Nilofer, 2000; Balda, 2001; Castro, 2001). Quando buscamos saber se existem diferenças nos instrumentos empregados para a avaliação do dor do recém-nascido por médicos que atuam com pacientes criticamente doentes ou com bebês normais, encontramos os resultados descritos nas TABELAS 6,7,8 e 9. Observase, na TABELA 6, que 30 a 40% dos intensivistas referiram conhecer as escalas para avaliação da dor versus 17% dos médicos que trabalhavam apenas em berçário. Esse resultado sugere que o médico intensivista possui mais conhecimentos sobre como avaliar a dor do neonato. Talvez, pelo fato desses pediatras estarem mais em contato com o recém-nascido que sofre procedimentos dolorosos ou que apresenta doenças dolorosas ou com maior risco de vida, os 44 profissionais que trabalham em terapia intensiva procurem atualizações a respeito da abordagem prática da dor no paciente incapaz de verbalizá-la ou procurem diminuir o lapso entre acreditar que o recém-nascido sente dor e a prática da avaliação e tratamento dessa dor. Pode ser, ainda, que o contato com o sofrimento dos pais dos bebês internados em terapia intensiva faça com que tais profissionais busquem, de forma mais ativa, métodos mais efetivos de avaliação da dor no paciente que ainda não pode verbalizá-la. Por outro lado, vários estudos indicam um distanciamento afetivo do médico que trabalha com pacientes gravemente enfermos (Jacox, 1979; Mason, 1981; Burokas, 1985; Choinière et al., 1990; Prkachin, Craig, 1995). Isso talvez explique a constatação seguinte: menos da metade dos intensivistas do presente estudo relataram conhecer alguma escala para a avaliação da dor do recém-nascido. Ou seja, apesar desse grupo de profissionais possuir um conhecimento melhor sobre como avaliar a dor do recém-nascido, na prática diária menos da metade deles usa tal avaliação, demonstrando novamente o descompasso entre o “saber” e o “fazer”, resultando no que deveríamos evitar: o subtratamento da dor do recém-nascido. Quando perguntamos, de maneira aberta, qual o parâmetro empregado pelos médicos que trabalhavam ou não em terapia intensiva para avaliar a dor do recém-nascido (TABELA 6), o choro foi citado por metade (56,3%) dos profissionais que atuavam em terapia intensiva exclusivamente e por cerca de 80% dos que trabalhavam somente em berçário. Em se tratando da mímica facial, esta foi relatada como o melhor parâmetro para avaliar a dor do neonato por quase 90% dos intensivistas, contrastando com a escolha de apenas metade dos médicos que atuavam em berçário. Ao serem questionados, agora de maneira fechada, qual o parâmetro empregado para avaliar a dor no recém-nascido a termo (TABELA 7), o choro foi o parâmetro citado por 43,8% dos profissionais com atuação em terapia intensiva, em comparação a 60% daqueles que trabalhavam apenas em berçário. Em relação à mímica facial, metade dos intensivistas, desta vez, preferiram a expressão facial para avaliar a dor do neonato a termo, em contraste com um terço dos berçaristas. Já no prematuro (TABELA 8) e no neonato em ventilação mecânica (TABELA 9), mais da metade dos intensivistas (56,3%) relataram usar a mímica facial como o parâmetro para avaliar a dor desses bebês, diferentemente dos profissionais atuantes em berçário, dos quais menos de 40% citaram esse parâmetro. Mesmo assim, do ponto de vista estatístico as diferenças quanto à escolha da expressão facial como parâmetro para a avaliação da dor por médicos intensivistas e berçaristas não foram significantes, quando se especificou o tipo de recém-nascido a ser avaliado. Ou seja, os dados encontrados indicam que os intensivistas utilizam, na prática, a mímica facial para verificar a presença de dor 45 do paciente neonatal de modo semelhante aos profissionais com atuação exclusiva em berçário. Porém, novamente, os pediatras intensivistas demonstraram ter “ouvido falar” mais sobre as escalas para avaliação da dor do neonato, referiram espontaneamente a expressão facial como parâmetro mais específico para essa avaliação e, ainda, os intensivistas tinham uma idéia melhor da dificuldade de empregar o choro para avaliar a dor do recém-nascido. Entretanto, a incorporação desse “ouvir falar” na prática diária é esparsa. Esses dados reforçam duas vertentes de conclusões: Há necessidade da incorporação de rotinas escritas de avaliação da dor nos berçários e unidades de terapia intensiva neonatal para que se concretize uma mudança da prática médica no que concerne à abordagem na dor do recém-nascido. A avaliação da dor é diferente de acordo com as características de quem a observa. Por exemplo, Balda (2001) mostra que características pessoais, profissionais e sócio-econômicas são fatores capazes de interferir no reconhecimento da expressão facial de dor no neonato. O presente estudo referenda esse achado quando mostra diferenças na abordagem da dor do recém-nascido de acordo com o local de trabalho do pediatra. Já, em relação ao tratamento, procurou-se saber, em primeiro lugar, porque os profissionais entrevistados achavam importante tratar a dor do recém-nascido. Quando essa questão foi colocada de maneira aberta, observou-se que a intuição e a missão geral da medicina de “fazer o bem” preponderaram, pois as respostas mais citadas foram: “porque diminui o estresse” (42,3%), “porque melhora o prognóstico” (19,2%) e “porque diminui sofrimento” (24%). Castro (2001), ao estudar 97 recém-nascidos em ventilação mecânica, observou que não havia qualquer anotação referente ao motivo pelo qual os neonatos submetidos à ventilação receberam analgesia e sugeriu que tal medicação pode ter sido prescrita de modo subjetivo. De novo, os dados dos vários estudos indicam um desconhecimento, por parte dos médicos, de que a dor repetitiva no período neonatal implica em aumento de morbidade e mortalidade, além das questões relativas à necessidade de cuidar do paciente de forma humanitária e ética. O subtratamento da dor do recém-nascido ficou bastante evidente no presente estudo quando se procurou saber, de modo específico, se os médicos avaliados realizavam analgesia para procedimentos comuns em unidades neonatais e que são sabidamente dolorosos (TABELA 5) como a punção venosa (Brown, 1987; Blass, 1991; Bauchner, 1992; Chonara, 1992; Barker, 1995; Golianu, 2000), a punção capilar (Brown, 1987; Blass, 1991; Bauchner, 1992; Chonara, 1992; Andrews, 1994; Barker, 1995; Ginsburg, 1997; Anand, 1999a; Balda, 1999; Johnston, 1999b; Balda, 2000; Golianu, 2000), a punção lombar (Bauchner, 1992; 46 Chonara, 1992; Golianu, 2000), a dissecção venosa (Bauchner, 1992; Chonara, 1992; Barker, 1995; Golianu, 2000), a drenagem torácica (Porter, 1997; Franck, 1998; Larsson, 1999; Golianu, 2000; Nilofer, 2000), a ventilação mecânica (Bauchner et al., 1992; Chonara, 1992; Barker, 1995; Guinsburg, 1998; Anand, 1999b; Golianu, 2000) e o pós-operatório imediato de cirurgia abdominal (Anand, 1987; Beasly, 1987; Berry, 1987; Anand, 1988; Campbell, 1989; Anand, 1990a; Asprey, 1994; Anand, 1996; Buttner, 2000;). No caso específico das punções venosas e capilares, que são procedimentos bastante freqüentes para o recém-nascido hospitalizado, menos de 10% dos médicos referiram empregar alguma analgesia. Com relação à punção lombar e à dissecção venosa, em torno de 30% dos médicos se preocupavam em usar analgésicos. Cerca de 40% dos profissionais diziam usar analgesia para a drenagem torácica e para neonatos em ventilação mecânica. Apenas 68% do total de entrevistados afirmava prescrever analgésicos para o bebê em pós-operatório imediato de cirurgia abdominal. Há necessidade de ressaltar aqui que mesmo numa situação extrema como a de um pós-operatório de cirurgia abdominal, um terço dos médicos não referiam usar qualquer analgesia. A literatura vem confirmando, ao longo dos anos, a pouca utilização de analgesia nos diversos procedimentos invasivos e potencialmente dolorosos realizados em recém-nascidos. Os dados por nós encontrados são referendados por vários estudos. Schechter (1989), estudando médicos americanos, relatou que 25% dos cirurgiões entrevistados acreditavam que o neonato sente menos dor do que um adulto em situações clínicas semelhantes e que, apesar da diferença de conhecimento entre pediatras e cirurgiões quanto a acharem que o neonato sente ou não dor, a atitude prática era a mesma, ou seja, ambos utilizavam pouca ou nenhuma analgesia para procedimentos potencialmente dolorosos. Long e Porter (1989) relataram que recém-nascidos admitidos em unidade de terapia intensiva recebem cerca de 50 a 132 manipulações a cada dia, incluindo desde a intubação e a drenagem torácica até os cuidados rotineiros de enfermagem, como aspiração traqueal e limpeza do bebê (Porter, 1989). Durante esses procedimentos, pouca ou nenhuma analgesia era empregada. Ainda com relação à utilização de medidas analgésicas durante procedimentos invasivos em 31 unidades de terapia intensiva neonatais e em 38 pediátricas, nos Estados Unidos e Canadá, verificou-se o emprego reduzido dessas medidas nos seguintes procedimentos: punção suprapúbica, cateterização uretral e venopunção, em ambos os tipos de unidades. A freqüência do uso de analgesia para obtenção de acesso arterial, aspiração de medula óssea, inserção de cateteres centrais, drenagem torácica, punção lombar e paracentese mostrou-se significantemente maior nas unidades pediátricas do que nas neonatais (Bauchner et al., 1992). Fernandez e Rees (1994) demonstraram que o uso de analgesia em unidades de terapia intensiva canadenses para 47 procedimentos como drenagem torácica, punção lombar, inserção de cateter venoso central era raro. Já, Anand e colaboradores (1996b) avaliaram prospectivamente 109 unidades de terapia intensiva neonatal nos Estados Unidos e Canadá durante uma semana e 1068 recém-nascidos internados, dos quais apenas 283 (27%) receberam algum analgésico ou sedativo. Outro estudo sobre as atitudes de 374 profissionais de saúde frente à dor revelou que em nove, dentre 12 procedimentos habitualmente realizados no recém-nascido, apesar de considerados como muito ou moderadamente dolorosos pela equipe médica, não eram aplicadas medidas terapêuticas farmacológicas, ambientais ou comportamentais antes, durante ou após esses procedimentos, incluindo a circuncisão e a drenagem torácica (Larsson, 1999; Porter, 1997). Nilofer (2000) pesquisou 86 unidades de terapias intensivas no Reino Unido e observou que, em relação à inserção de acesso venoso periférico, 93% das unidades não usavam analgésicos. A maioria das unidades (95,3%) não fazia analgesia para a punção venosa; 89,5% não utilizavam analgesia para a inserção de cateteres centrais; 73,3% não faziam uso de analgésicos para a realização de punção lombar e 8,1% das unidades não empregavam medidas para o alivio da dor antes ou durante a inserção de dreno de tórax, demonstrando que a prevenção e o tratamento da dor em procedimentos potencialmente dolorosos nas unidades de terapia intensiva eram ocasionais. Já a pesquisa de Castro (2001) foi realizada de janeiro 1995 a junho de 1997 nos recém-nascidos submetidos à ventilação mecânica na unidade de terapia intensiva neonatal do Hospital São Paulo – UNIFESP-EPM. Dos 176 neonatos em ventilação mecânica no período, apenas 55% receberam uma ou mais doses de opióide durante a ventiloterapia. Nesse contexto, pode-se perceber que os médicos entrevistados em nossa pesquisa não diferiram em suas respostas dos dados encontrados na literatura. Os resultados confirmam novamente as conclusões de Porter (1999): há uma enorme lacuna entre a freqüência com que a equipe de saúde acredita que os analgésicos devam ser administrados ao paciente e a freqüência com que esses pacientes recebem de fato tal medicação após sofrerem estímulo sabidamente doloroso. Deve-se lembrar que a repetição das agressões causadas por punções venosas, aspiração traqueal, punções capilares, procedimentos de enfermagem e ventilação mecânica parecem predispor o neonato prematuro às lesões neurológicas, tais como hemorragias e leucomalácia (Anand 1993; Pokela, 1994a; Anand, 1999a; Grunau, 2001). Em estudo piloto multicêntrico, os pacientes que receberam baixas doses de morfina em infusão contínua apresentaram menor incidência de óbito ou de hemorragia ou leucomalácia, quando comparados àqueles que receberam placebo ou diazepínico endovenoso (Anand, 1999). Dessa forma, o descompasso entre o “saber” e o “fazer” 48 e talvez entre o “saber” e o “ouvir falar” por parte dos pediatras entrevistados parece ser a tônica dos resultados encontrados no presente trabalho. Ao investigarmos a preferência em relação aos medicamentos empregados para a analgesia do recém-nascido pelos nossos entrevistados, observamos uma predileção pelos opióides (fentanil e/ou morfina), referidos por 61% dos entrevistados, enquanto ao redor de 40% dos profissionais preferiram o diazepínico para o alívio da dor no período neonatal (TABELA 3). Devemos discutir esses dados sob dois prismas: a preferência por opióides por um lado e, por outro, a referência nada desprezível ao uso de diazepínicos para analgesia. Em, termos dos opióides, os nossos resultados são similares aos de vários estudos encontrados na literatura sobre o tratamento da dor no recém-nascido (Saarema, 1999; Jacob, 2000; Taddio, 2000). Fernandez & Rees (1994) relataram que 85% das 30 unidades de terapia intensiva neonatal norte-americanas estudadas utilizavam opióides para a dor no pós-operatório de cirurgia cardíaca e outras cirurgias maiores. Cerca de 35% das mesmas unidades neonatais não empregavam analgesia para o pós-operatório de cirurgias menores de rotina. Ainda nesse estudo, foi constatado que 60% das unidades faziam uso de analgésicos em doses subterapêuticas. Já Johnston (1997), analisando 14 unidades de terapia intensiva neonatais canadenses, observou que apenas 15% de 30 neonatos no pós-operatório receberam anestesia ou analgesia com opióides. Castro (2001) notou que somente para 55% dos bebês em ventilação mecânica foi indicada a analgesia, iniciada em média no dia seguinte ao início da ventilação mecânica, sendo o opióide de escolha o fentanil em dose contínua. Ainda nesse trabalho, a autora detectou sete bebês submetidos a procedimentos cirúrgicos durante o período de ventilação mecânica que não receberam qualquer dose de opióide na unidade de terapia intensiva. Com base nesses dados percebe-se que, quando o profissional da saúde decide tratar a dor do recémnascido, a preferência é pelo opióide. Esse achado provavelmente se deve ao fato de que os neonatos que mais recebem analgésicos são aqueles mais doentes (Castro, 2001) e os opióides são a mais importante arma para o tratamento da dor em pacientes gravemente enfermos. Além disso, os médicos, de maneira geral, estão mais familiarizados com a farmacologia e os efeitos adversos dos opióides do que de outros medicamentos analgésicos (Shannon, 1989; Anand, Arnold, 1994; Tyler, 1994; Anand, 1997; Miyake, 1998; Menon et al., 1998; Guinsburg, 1999; American Academy of Pediatrics, 2000; Whyte, 2000; Anand, 2001). Essa última observação fica mais clara quando se observa a resposta dos entrevistados em relação à questão dos seus temores diante da medicação opióide (TABELA 3). O presente estudo revelou que os temores dos médicos entrevistados em relação à prescrição de opióides, referidos dentre opções pré49 estabelecidas, foram assim distribuídos: depressão respiratória (65,3%), depressão respiratória acompanhada de outro efeito como o hemodinâmico ou a tolerância (21,1%), efeito hemodinâmico (5,7%) e dependência física (4,8%). O temor à dependência física associada ao efeito hemodinâmico foi relatado por apenas 1,9% dos profissionais. Ou seja, os médicos estavam conscientes de possíveis efeitos adversos do uso de analgésicos opióides no recémnascido. Nesse sentido, nossos resultados diferem de outros relatados na literatura americana, nos quais o principal medo e obstáculo para a prescrição de opióides em crianças é relacionado ao risco do uso abusivo ou dependência na vida futura. No trabalho de Weinstein (2000a), 40% de um total de 386 médicos americanos referiam ter medo de prescrever opióides. Um outro estudo, do mesmo autor, demonstrou que estudantes de medicina do primeiro ano hesitavam em prescrever opióides, além de terem receio, quando a droga era prescrita, de que o doente se tornasse dependente da medicação (Weinstein, 2000b). O mesmo temor foi encontrado em pesquisa com estudantes de medicina quanto ao emprego de opióides em pacientes internados (Wilson, 1992). Assim, a preferência em termos de analgesia e o temor quanto ao uso dessa medicação denotam algum grau de conhecimento, por parte dos médicos entrevistados, em relação às opções para o alívio da dor no neonato criticamente doente. Mas, novamente, uma certa lacuna entre o “saber” e o “ouvir falar” se faz notar quando observamos que mais de um terço dos nossos médicos preferiam empregar sedativos (diazepínicos) para a analgesia. Sabe-se que os sedativos são agentes farmacológicos que diminuem a atividade, a ansiedade, e a agitação dos pacientes, podendo levar à amnésia de eventos dolorosos ou não dolorosos, mas não reduzem a dor (Levene, 1992; Reiter, 1993; Kawakami, 1998; Wood, 1998; Guinsburg, 1999; American Academy of Pediatrics, 2000, Taddio & Ohlsson, 2000). Os sedativos não promovem analgesia e, diante de situações potencialmente dolorosas, há necessidade do emprego de um analgésico, em geral o opióide. Além disso, o prognóstico de recém-nascidos que recebem sedativos de forma prolongada é desconhecido, havendo indícios de que sua aplicação pode piorar o prognóstico de prematuros (Anand, 1999) ou provocar toxicidade neurológica nesses bebês (Reiter, 1993, Taddio, Ohlsson, 2000). Ou seja, a escolha do diazepínico para o alívio da dor por porção representativa dos entrevistados aqui estudados revela desconhecimento desses médicos do que é a dor e de como tratá-la. Ressalta-se, novamente, que os resultados indicam que os pediatras em nosso meio “ouviram falar” da presença da dor no recém-nascido, especialmente naquele criticamente doente, nos métodos de avaliação e alívio dessa dor, mas não “conhecem” bem o assunto. Há necessidade, sem dúvida, de um treinamento formal dos 50 profissionais que atuam com neonatos doentes em relação aos aspectos que envolvem a dor e suas conseqüências para esses pacientes. Diante dos resultados acima especificados, procuramos saber se havia diferenças em relação às questões ligadas ao tratamento da dor entre os profissionais que atuavam em terapia intensiva e aqueles que trabalhavam predominantemente com bebês normais, em berçários (TABELA 6). Nesse sentido, as respostas à pergunta “por que é importante tratar a dor do recém-nascido?” foram semelhantes entre os três grupos de profissionais entrevistados. A resposta mais citada pelos intensivistas (56,3%) foi que era importante tratar a dor do neonato para diminuir o estresse, sendo semelhante à resposta de 46,4% dos médicos que atuavam exclusivamente em berçário. A razão para que os médicos, independentemente do seu local de trabalho, considerassem importante tratar a dor do recém-nascido parece estar embasada em motivações subjetivas e intuitivas, indicando mais uma vez a presença do descompasso entre o “saber” e o “fazer”, ou seja, entre achar que recém-nascido sente dor e saber o motivo pelo qual devem tratar essa dor. Esse resultado é reforçado por Franck (1989), por Schechter (1989), por Anand (1999) e por Grunau (2000), os quais afirmam que os profissionais de saúde possuem pouco conhecimento a respeito da capacidade de nocicepção dos recém-nascidos a termo e dos prematuros e desconhecem que a dor repetida gera um aumento da morbidade e mortalidade. Quando se procurou saber, de modo específico, se os médicos avaliados de acordo com o local de trabalho realizavam algum tratamento para procedimentos dolorosos freqüentemente utilizados em berçários ou unidades de terapia intensiva, observou-se os resultados explicitados na TABELA 10. Menos de 10% dos profissionais que trabalhavam em qualquer local aplicavam alguma medida analgésica para a punção capilar. No que se refere à punção venosa, nenhum médico que atuava exclusivamente em berçário ou em terapia intensiva aplicava analgesia, embora 15% dos que trabalhavam em ambos os setores dissessem usar alguma medida para o alívio da dor. Esse achado, bastante peculiar, é difícil de ser explicado sem uma verificação, na prática, da conduta desses médicos diante das punções venosas. Em relação à punção lombar, cerca de 20 a 30% dos médicos independentemente do local de trabalho, diziam usar alguma medida analgésica. Tal fato reflete a resistência do médico em aplicar o analgésico local para a punção lombar por achar que a agulha para a infiltração dói tanto quanto a agulha para a punção (Porter, 1991). Já, em relação a procedimentos mais invasivos, como as dissecções venosas, a drenagem torácica e a ventilação mecânica, observa-se um perfil de respostas similar: significantemente mais médicos que atuavam com recém-nascidos criticamente doentes relatavam usar analgesia para esses procedimentos, comparados aos 51 profissionais que lidavam com neonatos saudáveis. Aqui, os números parecem mais animadores, pois os pediatras que lidam mais com a dor (atuam em terapia intensiva) parecem conhecer mais a necessidade de aliviar a dor de seus pacientes. Entretanto, quando se observa a porcentagem de médicos que refere usar analgésicos para esses procedimentos (dissecções/drenagem/ventilação), esse número gira ao redor de 50%. Ou seja, cerca de metade dos profissionais não acha ser necessário o alívio da dor para procedimentos sabidamente invasivos. É ainda bastante preocupante que, dentre os 50% que relataram usar analgesia, é de se esperar a existência de uma lacuna entre o que dizem fazer e o que realmente fazem, à semelhança do que já foi observado em outros estudos (Schechter, 1986; Lander, 1990; Prkachin, Craig, 1995). Essas considerações são ainda mais relevantes quando nos detemos nas respostas dos entrevistados em termos do uso de analgesia em uma situação sabidamente muito dolorosa: o pós-operatório de laparotomia exploradora. Somente 25 a 30% dos médicos que atuavam em terapia intensiva relataram empregar medidas para o tratamento da dor e 50% dos pediatras que trabalhavam com neonatos saudáveis (e que, portanto, não lidam com o recém-nascido em pós-operatório) diziam se preocupar com a analgesia nessa situação. É no mínimo intrigante tentar entender porque médicos que acham que o neonato tem dor (100% em nosso estudo) e acham importante tratar a dor por razões humanitárias (100% em nosso estudo), em sua maioria não referem usar analgesia para uma situação de pós-operatório na qual qualquer adulto receberia pelo menos uma dose de analgésico. Novamente Porter (1999) deve ser lembrado quanto à enorme diferença entre o “saber” e o “acreditar” que os analgésicos devam ser administrados ao bebê e a freqüência com que, de fato, a criança recebe tal analgesia. McLaughlin, ao avaliar 352 neonatologistas novaiorquinos quanto ao uso de analgesia no pós-operatório de bebês, detectou que, embora a maioria dos médicos achasse que o recém-nascido sentia dor da mesma forma que o adulto, os profissionais acreditavam ser perigosa a utilização de analgesia no pós-operatório de recémnascidos. De posse dos resultados aqui encontrados e após sua confrontação com os dados da literatura, nos parece necessário, para reverter a situação observada, que sejam realizados cursos teóricos na graduação, residência, especialização e pós-graduação, além de módulos de reciclagem da equipe de saúde a respeito de avaliação e tratamento da dor no período neonatal. Alguns trabalhos da literatura reforçam que, após a realização de cursos de treinamento com modelos variados, há maior exatidão na avaliação da dor e extinção de alguns mitos com relação à presença de dor e de seu tratamento em recém-nascidos (Wilson et al., 1992; Friedrichs et al., 1993; Francke et al., 1996; Weinstein et al ., 2000b). 52 Finalmente, quando os médicos avaliados de acordo com o local de trabalho foram questionados sobre a sua preferência em relação aos medicamentos empregados para analgesia do recém-nascido (TABELA 6), não houve diferença em relação à preferência por opióides: 50 a 70% dos três grupos analisados referiam preferir o opióide para a analgesia. Observa-se, quanto aos opióides, que os médicos que trabalhavam com neonatos criticamente doentes relataram um temor, em proporções muito expressivas, do efeito depressor respiratório do medicamento. Já, para os berçaristas, os medos em relação ao uso de opióides eram mais esparsos e diluídos entre as várias alternativas (TABELA 6). Nota-se aqui que o pediatra intensivista, que lida com o paciente que não pode ser extubado ou que precisa ser reintubado devido ao emprego de fentanil/morfina apresenta um medo mais “concreto” em relação ao uso rotineiro do opióide, ligado à sua prática profissional. De novo, chama a atenção a pouca referência dos entrevistados quanto ao medo de vício futuro ou dependência física, diferente do encontrado em outros estudos da literatura (Anand, 1994; Tyler, 1994; Bhatt-Metha, 1996; Franck, 1998; Suresh, Anand, 1998; Choe, 2000; Golianu et al., 2000; Stevens, 2000; Weinstein et al., 2000 a; Weinstein et al., 2000 b; Anand, 2001). Quanto aos diazepínicos, a impressão inicial quando se analisa a TABELA 6 é que os médicos que trabalhavam exclusivamente em berçário tenderam a referir mais o uso de diazepínicos para o alívio da dor do que aqueles que atuavam em terapia intensiva. Mas, ao estudarmos com mais profundidade os dados, percebe-se que cerca de 30% dos intensivistas diziam preferir o diazepínico isoladamente ou em conjunto com os opióides para o tratamento da dor versus 46% dos pediatras que não atuavam em terapia intensiva. Esses números, similares entre os grupos, indicam o desconhecimento por parte da população entrevistada da fisiologia e farmacologia dos diazepínicos, bem como de seus efeitos a longo prazo (Wood, 1998; Taddio, 2000). Tendo em vista os resultados obtidos, observou-se que os pediatras intensivistas parecem apresentar um conhecimento melhor do que aqueles que atuam somente em berçário, porém, ainda assim, possuem uma grande dificuldade para avaliar e tratar a dor do recém-nascido. É necessário investir mais na educação da equipe de saúde para que seja incorporada, na rotina do dia a dia desses profissionais, as escalas de avaliação da dor previamente validadas e os parâmetros de indicação de analgesia em situações e doenças sabidamente dolorosas, durante o período neonatal. Só através do treinamento para a avaliação da dor e a aquisição de conhecimentos a respeito de alternativas terapêuticas por parte dos profissionais de saúde, podese tentar evitar o subtratamento da dor ou a administração excessiva de analgesia no neonato. 53 Dessa forma, percebe-se que os pediatras que atuam com recém-nascidos em Belém (PA) e que, de certa forma, parecem representativos da população de pediatras brasileiros sabem que neonatos, especialmente os mais doentes, sentem dor e que é necessário tratar essa dor. Mas, há ainda uma lacuna enorme de conhecimentos para a incorporação prática desses conceitos. Os médicos aqui entrevistados não incorporaram em sua prática clínica os métodos de avaliação da dor para essa faixa etária nem as alternativas terapêuticas mais efetivas para o alívio dessa dor. Para preencher tal lacuna, parece importante o treinamento formal dos profissionais de saúde em todos os níveis de formação e a adoção de rotinas escritas nas unidades que cuidam de recém-nascidos quanto à avaliação da dor e à analgesia no período neonatal. 54 6 CONCLUSÃO De acordo com a metodologia empregada e os resultados obtidos no presente estudo, sobre os conhecimentos a respeito da avaliação e tratamento da dor de recém-nascidos por pediatras que atuam em unidades neonatais na cidade de Belém, pode-se concluir que: 1- 100% dos médicos entrevistados acreditam que o recém-nascido sente dor. 2- Apenas um terço dos entrevistados dizem conhecer alguma escala para a avaliação da dor no período neonatal. A maioria deles refere perceber a presença de dor no recém-nascido por meio de parâmetros comportamentais, como o choro e a mímica facial. O choro foi o preferido pela maior parte dos pediatras entrevistados como a melhor opção para avaliar a dor do recém-nascido a termo; a mímica facial para avaliar a dor do prematuro e a freqüência cardíaca para avaliar a dor do neonato em ventiloterapia. 3- Embora 100% dos pediatras entrevistados acreditem que a dor do recém-nascido deva ser tratada por questões éticas e humanitárias, menos de 10% referem usar analgesia para punções venosas e capilares; 30 a 40% dizem empregar analgesia para a punção lombar, a dissecção venosa, a drenagem de tórax e a ventilação mecânica e menos da metade dos entrevistados diz não aplicar medidas para o alívio da dor no pós-operatório de cirurgia abdominal. Em relação ao medicamento mais utilizado para a analgesia, 60% referiu o opióide e cerca de 30% o midazolam. 4- Os médicos que trabalhavam com recém-nascidos criticamente doentes mostraram um maior conhecimento a respeito das escalas de dor, porém não citaram a sua aplicação com freqüência expressiva para a avaliação da dor de neonatos a termo, prematuros e de recémnascidos em ventilação mecânica. A minoria dos pediatras, independentemente se intensivista ou não, referiu usar medidas para o alívio da dor em procedimentos comumente realizados no período neonatal. Também não houve diferença significante entre os pediatras, classificados de acordo com o local de trabalho, com relação medicamentos empregados preferencialmente para o alívio da dor neonatal. Diante desses achados, percebe-se a necessidade de atualização e reciclagem dos médicos que cuidam de recém-nascidos em unidades de terapia intensiva e em berçários quanto à avaliação e ao tratamento da dor nessa faixa etária. Além disso, é preciso incorporar à prática dessas unidades, por meio da disponibilidade de rotinas escritas, as opções existentes para melhor avaliar e tratar a dor de cada paciente neonatal, de acordo com as suas particularidades clínicas. Só assim, os bebês, especialmente os criticamente doentes, poderão ter mais chance de sobreviver sem as sérias conseqüências a curto, médio e longo prazo do subtratamento da dor no período neonatal. 56 Summary 57 SUMMARY The objective of this prospective study was to analyze the knowledge of pediatricians who work with neonatal patients in the municipality of Belém (PA), in relation to the evaluation and treatment of pain in newborns. The study also aimed to observe whether differences exist between the doctors working exclusively in infant wards and those acting within intensive care units. The potential total population for this cross-sectional study was the 110 pediatricians who were, in the year 2000, working in the seven intensive care units and 14 infant wards that exist in the city of Belém. Of these pediatricians, six refused to participate. Thus, 104 pediatricians formed the sample for the present study. All of them answered a questionnaire in the presence of the researcher that consisted of questions regarding the interviewee’s profile and open and closed questions regarding pain evaluation methods, indications for pain relief and analgesia options during the neonatal period. From among the results obtained, we can highlight that 100% of the doctors believed that newborns feel pain, but only one-third of them said that they knew of any scale for the evaluation of pain within this age group. The majority of the interviewees perceived the presence of pain in newborns by means of behavioral parameters such as crying and facial activity. Crying was preferred by the majority of the pediatricians interviewed as the best option for evaluating pain in full-term newborns; facial activity for evaluating pain in premature infants; and cardiac frequency for evaluating pain in neonates under ventilation therapy. Although 100% of the pediatricians interviewed believed that pain in newborns ought to be treated because of the ethical and humanitarian concerns, less than 10% reported using analgesia for venous and capillary puncture, while 30 to 40% said that they used analgesia for lumbar puncture, venous dissection, thorax drainage and mechanical ventilation. Less than half of those interviewed reported applying postoperative pain relief measures following abdominal surgery. With regard to the medication most utilized for analgesia, 60% cited opioids and around 30% midazolam. The doctors working with critically ill newborns showed greater knowledge regarding pain scales, although they did not make significantly frequent reference to their application in the evaluation of pain among full-term or premature neonates, or among newborns on mechanical ventilation. Few pediatricians, independent of whether working in intensive care or not, mentioned using pain relief measures in procedures performed during the neonatal period. There was also no significant difference between the pediatricians when classified according to place of work, in relation to the medications preferentially employed in neonatal pain relief. It was concluded that, in the light of the results demonstrating sparse knowledge regarding the evaluation and alleviation of pain during the neonatal period, there is a need for refreshing and updating such knowledge among pediatricians who work with sick newborns within the setting of this study. 58 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abu-Saad HH. 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Declaro que li as informações acima sobre a pesquisa que me sinto perfeitamente esclarecido(a) sobre o conteúdo da mesma. Desta forma, por minha livre e espontânea vontade aceito participar da pesquisa respondendo ao questionário. Belém; ____/____/____ _____________________________ Assinatura do profissional ANEXO 3 - INFORMATIVO AOS MÉDICOS E TERMO DE CONSENTIMENTO Sr.(a) médico(a) __________________________________________________ Durante os cuidados prestados pela equipe médica e de enfermagem ao recémnascido, cuidados esses responsáveis em grande parte pela crescente queda de mortalidade neonatal, questiona-se quantas vezes houve a preocupação com a dor do recém-nascido? Se a dor no recém-nascido é tratada de forma adequada ou subtratada? Se a não verbalização do recémnascido dificulta a nossa avaliação? Baseando-se nestas questões estamos trabalhando na tese de mestrado “Conhecimento sobre sedação e analgesia em recém-nascidos por pediatras que atuam nas maternidades na cidade de Belém-Pará”, com o objetivo de avaliar o grau de conhecimento sobre dor no recém-nascido entre os pediatras e intensivistas que lidam com pacientes dessa faixa etária, na cidade de Belém. Nesse sentido, solicitamos sua colaboração para responder o questionário anexo, procurando ser o mais fiel possível nestas informações, pois delas dependerão o sucesso do nosso trabalho. Será garantido total sigilo quanto às informações, prestadas de forma totalmente anônima, em qualquer publicação e divulgação desse estudo. Agradecemos a sua participação ______________________________________ AURIMERY GOMES CHERMONT Autora do trabalho ANEXO 4 - INSTITUIÇÕES ONDE SERÃO APLICADOS OS QUESTIONÁRIOS AOS PROFISSIONAIS MÉDICOS QUE LIDAM DIRETAMENTE COM RECÉM NASCIDO: A. Instituições que possuem maternidade, terapia intensiva neonatal e pediátrica e ambulatório geral de pediatria: - Instituto Saúde da Criança - Instituto Saúde da Mulher - Hospital Maternidade Clínica do Bebê - Instituto Materno Infantil - Instituto Materno Infantil Mamaray - Hospital da Aeronáutica de Belém - Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará - Hospital Adventista de Belém - Hospital da Beneficiência Portuguesa B. Instituições que possuem apenas maternidades e berçário: - Maternidade do povo - Hospital Samaritano - Maternidade Santa Barbara - Hospital Geral de Belém - Clínica Roumiê - Hospital Naval de Belém - Hospital Guadalupe - Hospital Amazônia - Hospital Anchieta - Hospital São Marcos - Maternidade Modelo - Hospital São Luís ANEXO 5 - QUESTIONÁRIO DADOS GERAIS 01 - Idade (anos completos) ____________ 03 - Religião _________________ 2 – Sexo: M( ) F( ) Praticante? _______________________ 04 - Estado civil __________________ 05 –Você já foi hospitalizado? N ( ) Quantas vezes? ___________ S( ) Quando? (data) _____ / _____/ ____ Porque? ____________________________________________________________ 06- Tem filhos ? N ( ) S ( ) Quantos ? __________________________________ Idade de cada um deles ______________ 07- Algum filho foi submetido a cirurgia? N ( ) S ( ) Quando?(data) _____/_____/____ Qual ?(tipo de cirurgia) ___________________ 08 - Algum filho ficou internado em UTI ? N ( ) S ( ) Quando ? (data) _____________ Por que ? ________________________________________________________________ 09 – Seu pai é vivo? S ( ) N ( ). Caso sua resposta seja negativa responda. Causa mortis ____________________________________________ Local de falecimento _______________________________________ Ano do falecimento ________________________________________ 10- Sua mãe é viva? S ( ) N ( ). Caso sua resposta seja negativa responda. Causa mortis _____________________________________________ Local de falecimento ________________________________________ Ano do falecimento ________________________________________ 11- Assinalar com um X o correspondente a sua situação: Não Tem Televisão em cores Rádio Banheiro Automóvel Empregada mensalista Aspirador de pó Máquina de lavar Videocassete Geladeira Freezer (aparelho independente ou Parte da geladeira duplex) Tem 1 Tem 2 Tem 3 Tem 4 ou + GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA _________________________________ 12- Renda familiar ( somatória das rendas de todos os indivíduos que trabalham no núcleo familiar, dividida pelo número de pessoas deste núcleo) R$ ______________________________ DADOS PROFISSIONAIS 13 – Graduação em Medicina: Local _______________________________________________ Início (ano) ______________ Término (ano) ________________ 14 – Especialização em Pediatria: N ( ) S ( ) Início (ano) ___________ Término (ano) ________________ Local: _________________________________ 15- Especialização em Neonatologia: N ( ) Início (ano) ____________ TEP? N ( ) S( ) S( ) Término (ano) ________________ Local: __________________________________ TEN? N ( ) S( ) 16- Local onde trabalha : ________________________________________________________ 17 - Você recepciona recém-nascido na sala de parto ? 18 - Você trabalha em berçário ? ( ) Não ( N( ) S( ) ) Diarista ( ) Plantonista ( ) Atende esporadicamente pacientes particulares. 19 - Você trabalha em UTI neonatal exclusiva ? ( ) Não ( ) Diarista ( ) Plantonista 20 - Você trabalha em UTI mista pediatria/neonatal ? ( ) Não ( ) Diarista ( ) Plantonista DADOS ESPECÍFICOS 21 - Na sua visão , o RN sente dor ? N ( ) S ( ) Porque ? _______________________________ _____________________________________________________________________________ 22 - Durante a punção venosa no recém-nascido você utiliza algum procedimento ou alguma medicação para analgesia? N( ) S( ) Qual? _______________________________ Dose? __________________________________ 23 - Durante a punção lombar no recém-nascido você utiliza algum procedimento ou alguma medicação para analgesia? N ( ) S ( ) Qual? _______________________________ Dose ? __________________________________ 24 - Durante a punção de calcanhar (Dextro), você utiliza algum procedimento ou alguma medicação para analgesia do recém-nascido? N ( ) S ( ) Qual ? _______________________________ Dose ? _________________________________ 25- Nas dissecções venosas em geral realizadas pelo cirurgião pediátrico, no recém nascido você prescreve algum analgésico? N( ) S( ) Qual? _______________________________ Dose? __________________________________ 26- Na colocação de dreno torácico no recém-nascido realizado pelo cirurgião pediátrico, você se usa algum analgésico? N ( ) S ( ) Qual? _______________________________ Dose? __________________________________ 27 - Na UTI neonatal você utiliza alguma medicação para a dor no recém-nascido enquanto ele se encontra em ventilação mecânica? N ( ) S ( ) Qual ?______________________________ Dose? ____________________________________ 28 - Como você percebe que o recém-nascido está com dor? _____________________________ 29 - No recém-nascido a termo saudável, na sua opinião, qual o melhor parâmetro para verificar a presença de dor? ( ) freqüência cardíaca ( ) mímica facial ( ) freqüência respiratória ( ) choro ( ) pressão arterial 30 - No recém-nascido prematuro, na sua opinião, qual o melhor parâmetro para verificar a presença de dor? ( ) freqüência cardíaca ( ) mímica facial ( ) freqüência respiratória ( ) choro ( ) pressão arterial 31 - No recém-nascido intubado e sob ventilação mecânica, na sua opinião, qual o melhor parâmetro para verificar a presença de dor? ( ) freqüência cardíaca ( ) mímica facial ( ) freqüência respiratória ( ) choro 32 - Você conhece alguma escala para a avaliação de dor no RN? ( ) pressão arterial N( ) S( ) Qual ? _______________________________________________________________________ 33- Você acha importante diminuir a dor no RN? N ( ) S ( ) Porque ? _________________ _____________________________________________________________________________ 34 –Se você está diante de um recém-nascido no pós operatório imediato de uma cirurgia abdominal, ainda em ventilação mecânica e necessitando de suporte hemodinâmico, qual a sua preferência em termos de analgesia? ( ) paracetamol ( ) morfina ( ) fentanyl ( ) dolantina ( ) midazolam 35 - Quais são seus maiores medos quando você prescreve morfina ou fentanyl para o recém nascido ? ( ) depressão respiratória ( ) efeito hemodinâmico ( ) tolerância ( ) dependência ( ) risco de adição ( ) outros. Quais? __________________________________________________________ 36 - O que é humanização em UTI para você ? ______________________________________ ANEXO 6 - CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (ANEP, 1997) POSSE DE ITENS Não Tem Tem 1 2 3 4 ou + Televisão em cores 0 2 3 4 5 Rádio 0 1 2 3 4 Banheiro 0 2 3 4 4 Automóvel 0 2 4 5 5 Empregada mensalista 0 2 4 4 4 Aspirador de pó 0 1 1 1 1 Máquina de lavar 0 1 1 1 1 Videocassete 0 2 2 2 2 Geladeira 0 2 2 2 2 Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex) 0 1 1 1 1 GRAU DE INSTRUÇÃO DO CHEFE DE FAMÍLIA Analfabeto / Primário incompleto 0 Primário completo / Ginasial incompleto 1 Ginasial completo / Colegial incompleto 2 Colegial completo / Superior incompleto 3 Superior completo 5 ESTRATIFICAÇÃO EM CLASSES DE ACORDO COM O CRITÉRIO BRASIL Classe Pontos A1 30-34 A2 25-29 B1 21-24 B2 17-20 C 11-16 D 6-10 E 0-5 ANEXO 7 TABELA 1 - CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DOS 104 ENTREVISTADOS Idade em anos (x dp) 35,4 7,2 n (%) feminino 98 (94,2) n (%) católicos 81 (77,9) n (%) praticantes 80 (76,9) nº filhos (x dp) 1,3 1,1 n (%) casados 62 (59,6) n (%) com pai vivo 31 (38,8) n (%) com mãe viva 41 (43,6) Tempo de formado em anos (x dp) 12,0 6,5 n (%) com especialização em pediatria 96 (92,3) n (%) possui TEP 45 (43,3) n (%) com especialização em neonatologia 22 (21,3) n (%) possui TEN Renda em reais (x dp) 9 (8,7) 4118 2686 C. Sócio Econômica n (%) classe A1+A2 n (%) classe B1+B2 n (%) classe C 66 (63,4) 37 (35,5) 1 (0,9) nº de hospitalizações anteriores (x dp) 1,8 1,9 Trabalha em berçário n (%) 28 (27,0) Trabalha em UTI n (%) 16 (15,3) Trabalha em UTI+ berçário n (%) 60 (57,7) ANEXO 8 TABELA 2 - CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS DOS 104 ENTREVISTADOS DE ACORDO COM O LOCAL DE TRABALHO BERÇÁRIO (n=28) UTI (n=16) UTI + BERÇÁRIO (n=60) P Idade em anos (x dp) 37.4 9,6 36,3 5,6 34,3 6,2 0,22** n (%) feminino 26 (92,8) 15 (94,0) 57 (95,0) 0,91* n (%) católicos 22 (78,6) 12 (75,0) 47 (78,3) 0,95* n (%) praticantes 24 (86,0) 12 (75,0) 44 (73,3) 0,43* nº filhos (x dp) 1,7 1,2 1,3 1,3 1,1 1,0 0,25*** n (%) casados 19 (68,0) 10 (62,5) 33 (55,0) 0,50* n (%) com pai vivo 19 (68,0) 13 (81,2) 48 (80,0) 0,40* n (%) com mãe viva 25 (89,2) 15 (94,0) 54 (90,0) 0,87* Tempo de formado em anos (x dp) 13,5 8,6 12,1 5,6 11,1 5,4 0,29*** n (%) com especialização em pediatria 25 (89,2) 15 (94,0) 56 (93,3) 0,78* n (%) com TEP 10 (35,7) 8 (50,0) 27 (45,0) 0,60* n (%) com especialização em neonatologia 4 (14,2) 6 (37,5) 12 (20,0) 0,18* n (%) com TEN 1 (3,6) 2 (12,5) 6 (10,0) 0,50* 3683 2637 4350 2663 4254 2583 0,60*** 16 (57,1) 12 (42,7) 13 (81,2) 3 (18,7) 37 (62,0) 23 (38,3) 0,0004* 0,0004* Renda em reais (x dp) C. Sócio econômica n (%) classe A1+A2 n (%) classe B1+B2+C nº de hospitalizações anteriores (x dp) * Qui quadrado 1,9 2,1 2,5 2,7 1,6 1,5 ** KRUSKAL-WALLIS 0,65* *** ANOVA ANEXO 9 TABELA 3 – AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA DOR NO RECÉM-NASCIDO, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS N % RN SENTE DOR? SIM 104 100,0 COMO AVALIA A DOR? CONHECE ESCALA DE DOR MÍMICA FACIAL CHORO MOVIMENTAÇÃO CORPORAL PARÂMETRO FISIOLÓGICO OUTROS 35 78 82 14 27 4 33,6 75,5 78,8 13,5 26,0 3,8 20 19,2 25 24,0 03 44 2,9 42,3 OUTROS MOTIVOS 12 11,5 DROGA USADA NA ANALGESIA OPIÓIDE DIAZEPÍNICO OPIÓIDE+DIAZEPÍNICO OUTROS 61 32 07 04 58,7 30,8 6,7 3,8 FAZ ANALGESIA EM IMV 46 44,2 FAZ ANALGESIA EM PO CIR. ABDOMINAL 68 65,3 MEDOS DO USO DE OPIÓIDES DEPRESSÃO RESPIRATÓRIA EFEITO HEMODINÂMICO 68 65,3 06 5,7 TOLERÂNCIA 01 0,9 DEPENDÊNCIA 05 4,8 22 21,1 02 1,9 POR QUE TRATA A DOR? PQ MELHORA PROGNÓSTICO PQ DIMINUI SOFRIMENTO PQ DIMINUI SOFRIMENTO PROGNÓSTICO PQ DIMINUI ESTRESSE DEPRESSÃO RESPIRATÓRIA + 1 DAS CITADAS ACIMA DEPENDÊNCIA + EFEITO HEMODINÂMICO E MELHORA ANEXO 10 TABELA 4 - MELHOR PARÂMETRO PARA AVALIAR A DOR, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS, NOS RECÉM-NASCIDOS A TERMO (RNT), NOS PREMATUROS (RNPT) E NAQUELES EM VENTILAÇÃO MECÂNICA (RN IMV) RNT % RNPT % RN IMV % FC 4 3,8 28 26,9 54 51,9 P 0,0001 FR 1 1,0 4 3,8 3 2,9 NA PA 1 1,0 2 1,9 1 1,0 CHORO 63 60,6 17 16,3 - - NA 0,0001 MÍMICA FACIAL 35 33,7 53 51,0 46 44,2 0,006 TOTAL NA = TESTE 104 100,0 104 100,0 104 100,0 - NÃO APLICÁVEL TABELA 5 - UTILIZAÇÃO DE ANALGESIA NO RECÉM-NASCIDO, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS, DURANTE SETE DIFERENTES PROCEDIMENTOS SIM % PUNÇÃO VENOSA 9 8,7 PUNÇÃO LOMBAR 29 27,9 PUNÇÃO CAPILAR 5 4,8 DISSECÇÃO VENOSA 33 31,7 DRENAGEM TORÁCICA 40 38,5 VENTILAÇÃO MECÂNICA 46 44,2 PO IMEDIATO ABDOMINAL 68 65,3 CIRURGIA ANEXO 11 TABELA 6 – AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA DOR NO RECÉM-NASCIDO, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS, CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O LOCAL DE TRABALHO UTI + BERÇÁRIO UTI BERÇÁRIO (n=16) (n=28) P (n=60) RN SENTE DOR? 28 (100%) 16 05 14 22 04 06 03 (17,8%) (50,0%) (78,5%) (14,3%) (21,4%) (10,7%) 05 14 09 01 01 (31,3%) (87,5%) (56,3%) (6,2%) ((6,2%) - PQ MELHORA PROGNÓSTICO 03 (10,7%) 02 (12,5%) PQ DIMINUI SOFRIMENTO PQ DIMINUI SOFRIMENTO E MELHORA PROGNÓSTICO 09 (32,1%) 02 PQ DIMINUI STRESS 13 (46,4%) OUTROS MOTIVOS 03 14 13 SIM (100%) 60 (100%) 1,00 (45,0%) (80,0%) (86,7%) (15,0%) (15,0%) (1,7%) 0,0430 0,0047 0,0261 0,6529 0,4029 NA 15 (25,0%) 0,2166 (12,5%) 14 (23,3%) 0,3345 01 09 (6,3%) (56,3%) 02 22 (3,3%) (37,0%) NA 0,3244 (10,7%) 02 (12,5%) 07 (12,0%) 0,9831 10 3 2 1 (62,5%) (18,7%) (12,5%) (6,3%) 40 15 3 2 (66,7%) (25,0%) (5,0%) (3,3%) 0,3250 0,0708 NA NA COMO AVALIA A DOR? CONHECE ESCALA DE DOR MÍMICA FACIAL CHORO MOVIMENTAÇÃO PARÂMETRO FISIOLÓGICO OUTROS 27 48 52 09 09 01 POR QUE TRATA DOR? DROGA USADA NA ANALGESIA OUTROS 1 (50,0%) (46,4%) (3,6%) FAZ ANALGESIA EM IMV 5 (17,9%) 7 (43,8%) 34 (57,0%) 0,0029 14 (50,0%) 12 (75,0%) 42 (70,0%) 0,1258 DEPRESSÃO RESPIRATÓRIA 7 (25,0%) 14 (87,5%) 37 (62,0%) 0,0001 EFEITO HEMODINÂMICO 2 (7,1%) 1 (6,3%) 3 (5,0%) NA - 1 (1,7%) NA OPIÓIDE DIAZEPÍNICO OPIÓIDE+DIAZEPÍNICO FAZ ANALGESIA EM PO CIR. ABDOMINAL MEDOS DO USO DE OPIÓIDES - TOLERÂNCIA DEPENDÊNCIA DEPRESSÃO RESPIRATÓRIA + 1 DAS CITADAS ACIMA DEPENDÊNCIA + EFEITO HEMODINÂMICO NA = TESTE NÃO APLICÁVEL 1 (3,5%) 1 (6,3%) 3 (5,0%) NA 5 (18,0%) 2 (12,5%) 15 (25,0%) 0,4885 1 (3,6%) - 1 (1,7%) NA ANEXO 12 TABELA 7 – MELHOR PARÂMETRO PARA AVALIAR A DOR NO RECÉMNASCIDO A TERMO, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O LOCAL DE TRABALHO UTI + BERÇÁRIO (n=60) UTI (n=16) BERÇÁRIO (n=28) FC 2 (6,3%) 1 (6,3%) FR 1 (3,6%) PA 1 (3,6%) CHORO 17 (60,7%) 7 (43,8%) MÍMICA 7 (25,0%) NA = Qui-quadrado não aplicável 8 (50,0%) 1 P (1,7%) NA - - NA - - NA 39 (65,0%) 0,3029 20 (33,3%) 0,2397 TABELA 8 - MELHOR PARÂMETRO PARA AVALIAR DOR NO PREMATURO, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O LOCAL DE TRABALHO FC 6 (21,4%) FR 3 PA CHORO UTI + BERÇÁRIO (n=60) UTI (n=16) BERÇÁRIO (n=28) 5 P (31,3%) 17 (28,3%) 0,7252 (10,7%) - 1 (1,7%) NA 1 (3,6%) - 1 (1,7%) NA 8 (28,6%) 2 (12,5%) 7 (11,7%) 0,1228 MÍMICA 10 (35,7%) NA = Qui-quadrado não aplicável 9 (56,3%) 34 (56,7%) 0,1682 TABELA 9 - MELHOR PARÂMETRO PARA AVALIAR DOR NO RECÉM-NASCIDO EM VENTILAÇÃO MECÂNICA, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O LOCAL DE TRABALHO UTI + BERÇÁRIO (n=60) UTI (n=16) BERÇÁRIO (n=28) FC 14 (50,0%) 6 (37,5%) 34 FR 2 (7,1%) 1 (6,3%) - NA PA 1 (3,6%) - - NA - - - NA (56,3%) 26 CHORO MÍMICA 11 (39,3%) NA = Qui-quadrado não aplicável 9 (56,7%) P (43,3%) 0,3837 0,5395 ANEXO 13 TABELA 10 - UTILIZAÇÃO DE ANALGESIA NO RECÉM-NASCIDO EM SETE DIFERENTES PROCEDIMENTOS, SEGUNDO OS 104 ENTREVISTADOS CLASSIFICADOS DE ACORDO COM O LOCAL DE TRABALHO BERÇÁRIO (n=28) N % UTI (n=16) N % UTI + BERÇÁRIO (n=60) N % p PUNÇÃO VENOSA - - - - 9 15,0 0,0269 PUNÇÃO LOMBAR 5 18,0 4 25,0 20 33,3 0,3084 PUNÇÃO CAPILAR 1 3,6 - - 4 6,7 0,5079 DISSECÇÃO VENOSA 3 10,7 5 31,2 25 41,6 0,0146 DRENAGEM TORÁCICA 5 18,0 7 43,8 28 46,7 0,0314 VENTILAÇÃO MECÂNICA 5 18,0 7 43,8 34 56,7 0,0029 PÓ CIRURGIA ABDOMINAL 14 50,0 4 25,0 18 30,0 0,1257