1 INFLUÊNCIA DA IDADE DA MATRIZ PESADA E DO TEMPO DE ARMAZENAMENTO SOBRE A ECLODIBILIDADE DOS OVOS FÉRTEIS Autores: Bruno Henrique Rabelo Dias1; Thaís Moreira Tavares1; Francilane Rodrigues Gomes2; Letícia Gomes Magnano Caldeira3; André Luiz Costa Machado4; Leonardo José Camargos Lara5; Josiane Tavares de Abreu6 1- Estudante do Curso de Medicina Veterinária da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Unidade Betim. 2 – Gerente de produção. Rivelli Alimentos. 3 – Doutoranda em Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal, EV/ UFMG. 4 – Responsável Técnico. Granja Brasília. Mestre em Zootecnia, EV/UFMG. 5 – Professor Associado do Departamento de Zootecnia, EV/UFMG. 6 - Professora Adjunto Pontifícia Universidade Católica Unidade Betim O rendimento da produção de pintinhos e a qualidade dos mesmos é dependente de diversos fatores, incluindo os parâmetros físicos durante a incubação (umidade, temperatura e ventilação) como também, anterior a esta etapa (período e parâmetros usados no armazenamento dos ovos férteis), além da influência da idade das matrizes pesadas e a qualidade dos ovos. As características físico-químicas dos ovos são modificadas em função destas variáveis, culminando na necessidade de tratamentos diferentes entre esses ovos a fim de obter o melhor rendimento de produção de cada lote (Quevedo, 2009). Atualmente um dos problemas enfrentados em incubatórios tem sido o de ajustar a janela de nascimento das aves associada a maior taxa de eclosão. Alguns dos fatores envolvidos nestes parâmetros são aqueles trabalhados no período de armazenamento dos ovos férteis, como temperatura, umidade, ventilação, tempo e pré-aquecimento dos ovos, como também aqueles relacionados a característica dos ovos férteis, principalmente quanto a condutância da casca, fator diretamente influenciado pela idade da matriz. A viabilidade do embrião também pode ser comprometida durante a incubação decorrente dos parâmetros usados na mesma, incluindo as diferenças destes índices (principalmente temperatura, mas também de umidade e ventilação) existentes dentro das máquinas de incubação e posteriormente nas de nascimento (Gigli et al, 2009). Entretanto, estes fatores não serão abordados nessa revisão por constituírem outro tema extremamente amplo e que necessitaria de outros trabalhos de revisão para contemplar as suas variáveis. 2 Efeitos da idade da matriz na eclodibilidade dos ovos O rendimento de incubação e a qualidade dos pintos de um dia é dependente dentre outros fatores da idade da matriz, que por sua vez, influencia o peso do ovo, havendo correlação positiva entre o aumento do peso e tamanho dos ovos com o aumento da idade das matrizes. Os pesos dos pintinhos recém eclodidos como também de seus sacos vitelinos, oriundos de matrizes mais velhas (acima de 50 sem.), acompanharam o aumento do peso desses ovos, sendo maiores e mais pesados que os pintinhos de um dia de idade oriundos de matrizes mais novas (Almeida et al., 2008; Barbosa et al., 2008; Rocha et al., 2008; Rosa et al., 2002). Rosa et al. (2002), Elibol et al. (2002) e Zakaria et al. (2005), constataram, independente da linhagem avaliada (Cobb500 e Ross308) e das condições de estocagem e incubação realizados nos experimentos, uma eclodibilidade dos ovos totais maior em ovos provenientes de lotes de matrizes mais novas (31 a 39 sem.) em comparação aos de matrizes mais velhas (52 a 63 sem.). Segundo Rosa et al. (2002) este achado foi devido a redução da qualidade da casca e ao aumento do tamanho dos ovos à medida que as matrizes envelheceram. Reis et al. (1997) e Rocha et al. (2008) relataram também menor taxa de eclosão de ovos férteis de lotes mais velhos (Avian com 48 a 50 sem. e Cobb com 43 sem.) decorrentes da maior mortalidade embrionária final (18 e 15 dias, respectivamente). Segundo Reis et al. (1997), o aumento da mortalidade embrionária final pode ser explicado por diferenças na qualidade do albúmen, em que os lotes de matrizes mais velhas (48 a 50 sem.) têm uma qualidade inicial de albúmen pior que os ovos de matrizes mais novas (32 a 34 sem.), provavelmente reduzindo ainda mais sua viscosidade após a estocagem dos ovos (16°C ou 21°C), devido a perda mais rápida de CO2 o que comprometeu a capacidade de tamponamento do ovo e conseqüente mudança do equilíbrio ácido base do embrião, resultando em aumento da morte embrionária. Segundo Rocha et al. (2008) a maior mortalidade a partir dos 15 dias de incubação pode ser explicada devido a maior dificuldade de perda de calor no final deste período pelos ovos mais pesados, pois o aumento do tamanho do ovo não foi acompanhado do aumento proporcional da condutância térmica. Considerando que a incubação é inteiramente um processo de transferência de calor, onde seu resultado é dependente da relação de diferenças entre a temperatura do embrião e a do ar na incubadora, presume-se que a queda na capacidade de perda de calor pelo ovo, gera um grande impacto no resultado final, devendo esse calor ser removido para manter a temperatura ideal do embrião. 3 Considerando que variações na qualidade da casca também podem afetar diretamente os resultados de incubação, uma forma indireta de se avaliar a mesma seria pela mensuração da gravidade específica do ovo, onde a densidade do mesmo está relacionada com a espessura da casca. Aves entre 35 e 55 semanas de idade produzem ovos com maiores densidades (1075 a 1090), relacionadas aos maiores índices de eclosão. Já aves mais velhas, com idade superior a 56 semanas, produzem uma proporção maior de ovos com cascas de menor densidade (< 1074), conferindo-lhes piores índices de eclosão. De acordo com Tullett (1990) citado em Tanure (2008), o tamanho e a distribuição dos poros da casca também sofrem variações de acordo com a idade da matriz, o que também altera a condutância da casca. Essa menor resistência ou integridade da casca dos ovos de matrizes mais velhas (espessura mais fina, maior porosidade) está relacionada também à maior contaminação dos embriões e a maiores perdas de peso no período de incubação. A composição química dos ovos também é afetada com a progressão da idade da matriz. Segundo Maiorka et al. (2003), pintinhos oriundos de matrizes em início de produção tenderam a apresentar desenvolvimento inferior daqueles oriundos das matrizes mais velhas, pois seus ovos continham menor quantidade de albúmen e gema e maior densidade do albúmen. O albúmen denso atuaria como uma barreira para evaporação e difusão de água e gases entre o interior do ovo e o meio ambiente da incubadora, provavelmente dificultando a obtenção de oxigênio pelo embrião, o que atrasaria seu desenvolvimento, e reduziria sua eclodibilidade. A qualidade do albúmen (avaliada pela sua altura e pH) varia com a idade das matrizes. Com o avançar da idade, os índices indicadores de qualidade decrescem, e a desnaturação durante o armazenamento é acentuada (Lapão et. al, 1999). Segundo Meijerhof (1994), citado por Lapão et al. (1999), uma explicação para a idade do lote afetar o pH do albúmen é a maior condutância da casca do ovo de matrizes mais velhas que permite uma maior perda de CO2 pelos ovos. A altura do albúmen (7.74mm versus 6.28mm) foi maior em ovos de matrizes jovens (32 sem.) que em matrizes velhas (59 sem.), e também em ovos frescos (7.74mm) que em ovos estocados por 1 dia (7.14mm), 4 dias (6.18mm) e 8 dias (5.67mm) quando comparados dentro de uma mesma idade de matrizes (32 sem.), mas não foi possível estabelecer uma relação significativa da altura do albúmen com a idade da matriz. Segundo Alda (2003) essa melhor qualidade do albúmen dos ovos de aves mais jovens ajudaria a manter a distância entre o blastoderme e a casca por mais tempo. Quando os 4 ovos são armazenados, dependendo da qualidade do albúmen e do grau de liquefação, a gema pode flutuar para a parte superior do ovo, de tal forma que o blastoderme fique posicionado próximo da casca do ovo, podendo ocorrer desidratação do embrião ou início de contaminações bacterianas responsáveis também por mortes embrionárias. Efeitos da estocagem dos ovos relacionada com a idade das matrizes na sua eclodibilidade É conhecido que a duração do período de armazenamento dos ovos apresenta uma correlação inversa com a eclodibilidade, e, em termos de fase da mortalidade embrionária, quanto maior o período de armazenamento, maior a mortalidade precoce (Boleli, 2003) e maior volume de pintos de má qualidade, devido a perda de umidade inadequada, má cicatrização dos umbigos, penugem com aspecto pegajoso e maior janela de nascimento (Machado et al., 2010). Na verdade o armazenamento dos ovos férteis inicia-se na granja e finaliza quando os mesmos são incubados, não sendo desejáveis variações bruscas de temperatura em nenhum dos momentos intermediários a estes procedimentos (temperatura do ninho no galpão de produção, da sala de ovos na granja, do caminhão de transporte do ovo, da sala de ovos do incubatório e da área de pré-aquecimento). Fiuza et al. (2006), avaliaram os efeitos da velocidade da redução da temperatura ambiental sobre os ovos férteis de matrizes pesadas da linhagem Cobb, de 31 semanas de idade. Os ovos imediatamente levados à câmara fria (18,2 a 21ºC e UR de 72,8 a 76,8%) e após a coleta (tratamento A), apresentaram maior mortalidade embrionária inicial quando comparados com ovos que antes de serem submetidos a tais condições, permaneceram por 5 horas no galpão (tratamento B - 29,3 a 31ºC e UR entre 55 e 60,1%), mas foram estatisticamente semelhantes aos ovos que permaneceram por 10 horas no galpão antes do resfriamento (tratamento C 26 a 31,7ºC e UR entre 60,1 e 77%) (Tabela 1). Essa maior mortalidade embrionária (Tabela 1) foi explicada pelos autores pela maior velocidade da redução da temperatura interna dos ovos no tratamento A, que provavelmente continham embriões menores e mais sensíveis ao estresse de resfriamento que aqueles do tratamento B e C, já que o período de exposição a temperatura ambiente acima do ponto zero fisiológico foi consideravelmente inferior que o dos ovos destes tratamentos, não permitindo o aumento do número mínimo de células para o embrião se tornar viável, e 5 concluíram que o período de 5 horas de permanência dos ovos no galpão ou na sala de ovos após desinfecção é indicado para melhorar o rendimento de incubação. Tabela 1. Percentual de fertilidade, mortalidade embrionária, eclodibilidade total dos ovos incubados e eclodibilidade dos ovos férteis de acordo com os tratamentos Tratamentos Variáveis A B C CV Fertilidade 97,91 a 97,21 a 96,86 a 1,75 Mort. Embrionária inicial 6,98 b 4,07 a 5,35 a b 34,96 Mort. Embrionária final 3,14 a 2,91 a 2,44 a 69,62 Bicados viços e mortos 4,13 a 3,39 a 3,84 a 66,24 Mort.embrionária total 14,25 b 10,37 a 11,63 a 27,47 Eclodibilidade total 83,65 b 86,84 a 85,22 a b 3,85 Eclodibilidade dos ovos férteis 85,75 b 89,63 a 88,36 a b 3,99 Letras distintas na linha indicam diferenças entre os valores (P<0,05) pelo teste de Duncan. TA = ovos enviados imediatamente para sala fria; TB = ovos enviados para sala fria após 5 hpras; TC = ovos enviados para sala fria após 10 horas. CV = coeficiente de variação. Fonte: Fiúza et al. (2006). Adaptado. O ovo fertilizado contém o embrião em sua fase inicial de desenvolvimento (prégástrula) ou no estágio inicial da gastrulação (Gonzales & Cesario, 2003), pois, no momento da postura, transformações celulares já ocorreram no trato reprodutivo da fêmea (Nascimento & Salle, 2003). A estocagem dos ovos férteis a temperaturas abaixo do zero fisiológico é feita com o objetivo principal de paralisar o desenvolvimento embrionário. Geralmente a estocagem é feita abaixo de 21°C. (Fasenko, 2007). O zero fisiológico foi reportado em duas temperaturas distintas por Edwards (1902) e Funk e Bielier (1944) citados em diversos trabalhos (Elibol et al., 2002; Fasenko et al., 2001; Reijrink et al., 2009; Schmidt et al., 2009; Tona et al., 2004) como 21°C e 28°C, respectivamente. Essa discrepância pode ser devido a diferentes requerimentos de temperaturas mínimas para diferentes tecidos embrionários (Fasenko, 2007). O bloqueio ou continuação da embriogênese, e seu êxito, vai depender das condições de temperatura e umidade as quais os ovos ficam expostos antes do armazenamento, da duração da exposição e, também, da temperatura do local de armazenamento (Boleli, 2003). Embora o desenvolvimento celular esteja praticamente parado durante o zero fisiológico, há um metabolismo celular ocorrendo, 6 mesmo que muito lento. Fasenko et al. (2002) avaliaram o metabolismo embrionário durante a estocagem dos ovos, e concluíram que aqueles estocados por 15 dias tiveram uma taxa de liberação de CO2 menor que os estocados por 4 dias, demonstrando que a estocagem por períodos longos não só têm um atraso no desenvolvimento embrionário, mas também têm o metabolismo alterado além do atraso no nascimento dos pintos. O CO2 ajudaria a manter a qualidade do ovo, pois mantém o diferencial de pH que auxilia no transporte de nutrientes para o embrião. O armazenamento dos ovos também pode alterar outros componentes do ovo, sendo verificado por Schmidt et al. (2002), um encolhimento da cutícula e diminuição de sua espessura, resultado do ressecamento e modificação química, culminando no aumento do número das rachaduras na superfície cuticular. Segundo Nascimento & Salle (2003) os ovos perdem peso devido a saída de vapor d'água e CO2, com concomitante aumento da câmara de ar, enquanto as propriedades físico-químicas do albúmen mudam, tornando-se mais claro, menos denso e com um pH mais elevado. Segundo Alda (2003), o pH do albúmen mais elevado não somente seria o responsável pela liquefação do mesmo como também por modificações da capacidade de proteção física e química do ovo contra microorganismos. pH acima de 8,0 inativaria enzimas antibacterianas e que estão em atividade após a postura (pH 7,6), mas em contrapartida também limitaria o crescimento bacteriano que ocorre na faixa de pH entre 6,5 a 7,5. De acordo com LAPÃO et al. (1999), as elevações do pH, a redução da altura absoluta e da viscosidade do albúmen, ocorreram principalmente durante os 4 primeiros dias de estocagem (pH 9,0). Independentemente da idade da matriz o pH aumentou durante o armazenamento (pH de 8,2 para 9,5 para ovos armazenados entre 0 e 8 dias a 16ºC e 78% UR). Com 4 dias estocagem o pH dos ovos de matrizes com 42, 54 e 59 semanas foram semelhantes e pouco maiores que o das matrizes com 32 semanas. Segundo os mesmos autores o efeito da idade da matriz sobre o pH do albúmen, parece estar relacionado com o estágio mais avançado de desenvolvimento embrionário de ovos oriundos de matrizes mais velhas. Elibol et al. (2002) avaliaram a eclodibilidade de ovos em 4 lotes de matrizes da linhagem Ross 308, com idades de 30, 31, 52 e 53 semanas. Os ovos foram estocados por 3, 7 e 14 dias a 18°C e 75% UR. A eclodibilidade em ovos totais encontrada nos ovos oriundos de matrizes de 31 semanas foi de 88.3%, 85.5% e 80.9% para 3, 7 e 14 dias de estocagem, respectivamente. Para as matrizes de 52 semanas foi relatado um aumento na eclodibilidade dos 7 ovos quando estocados por 7 dias (68.5%) quando comparados aos estocados por 3 dias (63.7%), porém a eclodibilidade voltou a cair com o aumento do tempo de estocagem para 14 dias (59.9%). Concordando com estes resultados, Lapão et al. (1999) descreveram que em longos períodos de estocagem (8 dias a 16°C e 78% UR) os ovos de matrizes com 59 semanas de idade tiveram efeitos mais negativos (1.92% de redução na viabilidade por dia de estocagem) do que em ovos submetidos as mesmas condições de matrizes mais jovens com 32 semanas (0.82% de redução na viabilidade por dia de estocagem). Menores perdas foram verificadas por Reis et al. (1997) que avaliaram ovos de 2 lotes de matrizes Avian, com idades de 32 a 34 e de 48 a 50 semanas estocados por dois dias a 16°C e 79%UR. A eclodibilidade dos ovos férteis encontrada foi de 92.4% e 88.7% para os ovos de matrizes jovens e velhas, respectivamente. Reijrink et al. (2010) avaliaram a influência da qualidade do ar durante a estocagem dos ovos nas características dos mesmos, no desenvolvimento embrionário, na eclodibilidade e na qualidade dos pintos (matrizes Ross 308 com 38 semanas de idade). Estes autores relataram que um aumento na concentração de CO2 do ar onde é feita a estocagem dos ovos preveniria o aumento do pH e da redução da altura do albúmen. Com isso, o menor aumento do pH do albúmen pode ter um efeito positivo na viabilidade embrionária por ficar mais próximo do pH ótimo para o desenvolvimento embrionário, que está em torno de 7.9 a 8.4. De acordo com Fasenko et al. (2001) os efeitos da estocagem na eclodibilidade dos ovos quando o tempo de estocagem é prolongado depende do estágio de desenvolvimento em que o embrião se encontrará após essa estocagem, e antes da incubação. Embriões em estágios mais avançados de desenvolvimento são mais resistentes a uma estocagem mais prolongada que embriões menos desenvolvidos. Segundo Reijrink et al. (2009) quando termina a estocagem, os embriões completaram a formação do hipoblasto, e a migração celular e sua diferenciação é mínima. Estes embriões em estado mais avançado de desenvolvimento contêm mais células, e estão em um estado de maior quietude, o que provavelmente os confere maior resistência na estocagem prolongada. Os embriões menos desenvolvidos podem sofrer danos irreversíveis durante a estocagem, o que pode causar morte embrionária. O momento ótimo para estocagem dos ovos ocorreu quando o hipoblasto já estava formado, estando àqueles embriões menos ou mais desenvolvidos que este estágio mais sensível à estocagem prolongada. Complementando, Schmidt et al. (2002) e Machado et al. (2010) afirmaram que ovos estocados por períodos curtos, de 2 a 4 dias, não requereram manejo especial, mas para períodos 8 longos (acima de 4 dias) a utilização de sistemas de viragem dos ovos na sala de estocagem, idêntico aos das incubadoras, possibilitou melhoras na eclodibilidade. Perdas de 0,8% e 2,8% na eclodibilidade foram verificadas quando os ovos foram estocados por 5 a 10 dias, respectivamente, sem o uso da viragem. Segundo Elibol et al. (2002) a eclodibilidade dos ovos férteis foi melhorada quando virados 4 vezes por dia em comparação aos ovos que não foram virados. Este achado foi mais evidente em ovos de matrizes mais velhas (52 sem.), onde a eclodibilidade dos ovos férteis passou de 85.9% para 88.7%, 82.2% para 85.8% e de 75.4% para 81.3% em ovos estocados por 3, 7 e 14 dias, respectivamente. Alguns autores relatam também como forma de melhorar a eclodibilidade, o préaquecimento dos ovos anteriormente ao armazenamento. Silva (2005) manteve ovos de matrizes Cobb (44 sem.) sob aquecimento a 37ºC durante 0, 6 e 12 horas, e posteriormente armazenou-os antes da incubação a 12ºC por 4, 9 e 14 dias. Os ovos aquecidos por 6 horas apresentaram menores taxas de mortalidade final quando comparados com aqueles não aquecidos e aquecidos por 12 horas. Os ovos armazenados por 4 dias tiveram menores taxas de mortalidade embrionária final que os estocados por 14 dias, sendo que as taxas dos ovos de 9 dias não diferiram estatisticamente dos outros tratamentos. Taxas normais de eclosão foram mantidas mesmo quando os ovos foram aquecidos por 6 horas e armazenados por 9 dias. (Tabela 2) Segundo outros autores (Fasenko et al., 2001; Schmidt et al., 2002) o procedimento de pré-aquecimento dos ovos (37,5 a 37,8ºC) só foi válido para ovos estocados por longos períodos (14 dias), e por no máximo 6 horas, não sendo obesrvada nenhuma vantagem quando a estocagem não ultrapassou 4 dias. Segundo estes autores, os embriões que completaram a formação do hipoblasto (incubação pré estocagem por 6 horas) e foram estocados por 14 dias tiveram uma vantagem de sobrevivência sobre os embriões que foram apenas estocados. Em contrapartida afirmam que o aquecimento diário dos ovos armazenados apresenta restrições do ponto de vista prático devido às dificuldades de manejo e custo operacional, sendo então o manejo mais adequado e prático, o pré aquecimento para ovos estocados acima de 7 dias, imediatamente após a postura. Tabela 2. Ocorrências de ovos inférteis, mortalidade embrionária inicial, mortalidade embrionária média e mortalidade embrionária final em ovos submetidos a diferentes tempos de aquecimento e de armazenamento. 9 Procedimentos Ovos Mortalidade Mortalidade Mortalidade Inférteis Embrionária Embrionária Embrionária Inicial Média Final Aquecimento (horas) (%) (%) (%) (%) 0 0,45 6,82 0,30 3,94 a 6 0,76 8,67 0,45 0,15 b 12 1,36 29,09 0,61 2,12 a Armazenamento (dias) (%) (%) (%) (%) 4 0,45 6,82 0,30 0,91 b 9 0,61 14,85 0,15 1,82 ab 15 1,51 22,91 0,91 3,84 a Médias seguidas de diferentes letras em cada coluna e dentro de cada fator diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). Fonte: Adaptado a partir de SILVA (2005) Considerações Finais As condições e tempo de estocagem, além da idade e linhagem das matrizes devem ser considerados para melhor ajuste das condições de armazenamento dos ovos. A literatura consultada chama atenção para outros fatores como período de produção, peso da galinha e do macho, freqüência de coleta dos ovos, nutrição das aves, genética, qualidade da casca do ovo e de outras características físico-química dos mesmos, além de outros parâmetros que podem interferir na eclodibilidade dos ovos. Sendo assim, o problema eclodibilidade numa empresa pode ser multifatorial, e todos esses pontos devem ser levados em consideração para a solução do mesmo. As referências www.avisite.com.br/cet bibliográficas e a íntegra do texto estão disponíveis em 10 Cuidados na taxa de renovação do ar e na circulação do ar entre ovos devem ser tomados tanto durante o armazenamento quanto na etapa de pré-aquecimento de forma que a temperatura seja uniforme em todos os pentes. 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALDA, T.R.B.L. Gerenciamento de incubatório. In: MACARI, M.; GONZALES, E. (Eds.) Manejo da incubação. 2.ed. 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