O GERMINAL *O GERMINAL. PLANETA TERRA. ANO 2. Nº 29. 21 DE JUNHO DE 2009 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – NENHUM DIREITO RESERVADO: APENAS CITE A FONTE Editorial O Brasil tem as taxas mais altas de exploração sexual infantil e tráfico de pessoas da América Latina e, infelizmente, uma das maiores taxas do mundo. Vale destacar que em torno de um terço das vítimas são meninas entre 16 e 17 anos. Observamos que a Pesquisa Nacional sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes (PESTRAF) aponta que a maioria das rotas do tráfico de pessoas está no Norte (76) e no Nordeste (69) do país. Ao todo, são 241 rotas nacionais e internacionais, sendo 110 rotas de tráfico interno (78 interestaduais e 32 intermunicipais) e 131 externas. A pesquisa foi realizada em 2002 por diversas entidades civis e coordenada pelo Centro de Referência Estudo e Ações sobre Criança e Adolescente (CECRIA). Acrescentamos também que, embora tenha avançado, o enfrentamento ao tráfico de seres humanos no Brasil ainda possui grandes obstáculos, como a desinformação e o medo de denunciar os traficantes. Essa é a análise que a procuradora da República no Ceará, Dra. Nilce Rodrigues da Cunha, faz sobre a punição do crime no país. TRÁFICO DE PESSOAS: MAIS UM PROBLEMA A SER RESOLVIDO Segundo Cunha, o Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas divulgado em fevereiro deste ano pela Organização das Nações Unidas (ONU) - revela uma participação mais ativa dos governos no combate a esse crime. Em outubro de 2006, o governo brasileiro adotou a Política Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas; e a partir dos princípios da Política, adotou o Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em janeiro de 2008. A procuradora tem considerado o fenômeno da globalização como favorável e prejudicial à resolução do tráfico de pessoas: ela traz os benefícios da comunicação, porém, também traz as suas mazelas, como as organizações criminosas. Assim, o criminoso estrangeiro não precisa vir aqui pra aliciar mulheres. A procuradora também lembra que, na rede mafiosa, há criminosos tanto do país de origem como do de destino das vítimas e que, geralmente, o financiador é estrangeiro, mas os aliciadores são brasileiros. Às vezes, são ex-aliciadas que ganharam a confiança dos seus aliciadores. Elas apresentam uma “vantagem”, porque despertam confiança para as vítimas, por serem mulheres e terem conseguido suposto êxito. Neste percurso, estabelecemos que, após tornar-se, em 2003, signatários do Protocolo de Palermo celebrado pela ONU em 2000 -, o Código Penal brasileiro avançou em pontos como o gênero das vítimas e as fronteiras territoriais do tráfico de pessoas. Modificado em março de 2005, o Artigo 231 ampliou a abrangência das vítimas de “mulheres” para “pessoas”, além de qualificar o crime dentro do território nacional. Para Cunha, além dos avanços do Código Penal, outras normas devem estabelecer assistência do Estado às vítimas. Elas devem ser protegidas pra não se tornarem vítimas, recebendo informação, educação e saúde, entre outros direitos. Senão depois fica mais difícil sanar um problema no qual ele foi omisso antes. Em sua opinião, as vítimas são sempre vítimas, mesmo que elas migrem voluntariamente, porque ninguém com uma condição razoável vai se deixar traficar. Não existe tráfico de pessoas ricas. Além disso, as vítimas são invisíveis no país de origem e de destino. De origem, porque vivem no submundo, à margem da sociedade; de destino, porque são clandestinas. Enfim, para a procuradora, a maior arma contra o tráfico de pessoas é a informação: as vítimas precisam saber de seus direitos, a quem e como devem recorrer. São fabulosas propostas de emprego para pessoas, muitas vezes, analfabetas e sem formação profissional. Acerca disso, esclarecemos que em um país como o Brasil, em que há milhões de famintos, analfabetos e desempregados, não é de se estranhar que essas ações nefastas ocorram. Assim, em nossa opinião – que concorda com a da procuradora -, não é apenas com um trabalho de conscientização que esse problema será resolvido (ele é apenas uma medida de apoio), pois deve ser levado em consideração o fato de que as vítimas se submetem a isso para ter suas necessidades básicas atendidas; umas podem correr atrás de um sonho, mas a maioria busca subsistir. Assim, uma das possibilidades para a diminuição do tráfico de pessoas, estaria na distribuição de oportunidades iguais para a toda a população, e não apenas para uma pequena parcela, como vem acontecendo ao longo da história. • Se há algum problema social que sensibiliza você, entre em contato com “O Germinal” que abordaremos o assunto • **DIRETOR: C. G. LEME – JORNALISTA: R. W. APOLLONI - WWW.OGERMINAL.BLIG.IG.COM.BR – [email protected] – CIRCULAÇÃO: PELO MUNDO**