Síntese produzida pela consultora da Unesco para o PSF da Secretaria Estadual da Saúde Ieda Nascimento PALESTRA DA PROFA. DRA. MARIA CECÍLIA MINAYO AUDITÓRIO DA AMRIGS – 08 de AGOSTO de 2007 “Hoje, não podemos mais lidar com a VIOLÊNCIA da forma como teríamos feito há 20 ou 30 anos atrás. O mundo tem mudado consideravelmente. Temos meios que nos permitam aproximar deste fenômeno de uma nova ou renovada maneira?” (Michel Wienoka) A violência é um fenômeno social, mas, também, subjetivo. Está em todos nós. Porém, sempre pensamos que está no outro. A Violência é histórica. O máximo da violência na década de 60 era questão política. Cada local, pequeno, médio ou grande tem um tipo de construção social da violência. Visão científica - Violência em sua face atual Globalização – terrorismo, tráfico de armas, drogas e seres humanos – combinando dimensões planetárias, aspectos políticos e base local (muito lucrativo) – REDE Novas percepções e comportamentos em relação à violência Reestruturação produtiva (faz parte do processo de globalização, possibilitada pela revolução microeletrônica e comunicação) e declínio do movimento operário: faltam mecanismos de expressão de conflitos Subjetividade: perda e sobrecarga, excessos e falta de sentido na construção das experiências humanas e nas escolhas. Alto lucro financeiro: - petróleo - tráfico de drogas - tráfico de armas Se uma criança tiver a chance de desenvolver suas potencialidades, certamente, não escolherá o caminho das drogas. Vivemos um momento de transição, passando de uma sociedade industrial (onde o proletariado haveria de fazer a revolução) para uma mudança produzida em pequenos laboratórios. Agora, é necessária uma mudança de pensamento. O movimento operário, que foi típico da revolução industrial, agora sofre um declínio (sindicatos pelegos, defendendo interesses pessoais – 53%da força de trabalho não estão nos sindicatos). Falta na sociedade atual mecanismos para a expressão de conflitos. Há confusão entre conflito e violência. Ex: conflito de partidos; conflito entre pais e filhos. Todos os sociólogos trabalham o conflito como algo inerente à sociedade. E o conflito é positivo., pois mostra que existem idéias diferentes - expressão da pluralidade da sociedade. Se não tem conflito, significa que não tem expressão. O consenso nem sempre precisa estar presente. Como disse Nelson Rodrigues: “a unanimidade é burra”. Falta a expressão do conflito pela fala. Na sociedade industrial, a fábrica era o lugar do trabalho, da disciplina, da educação. Definia uma forma de pensar o mundo. Hoje, como 53% da população trabalhadora não têm este mecanismo de disciplina e educação, isto acarreta um peso para a subjetividade. A violência que estamos vivendo hoje não afeta todos do mesmo jeito. Há grupos que não encontram sentido na vida, não têm escolhas e não têm a sensação de pertencimento à sociedade. Quando tiram a vida de alguém por causa de um tênis, revelam que a vida não tem valor para eles. E, da mesma forma, pensam que não tem valor para o outro. Contrapontos positivos universais e brasileiros A era dos cidadãos (dos direitos individuais e sociais) A idéia do direito, antes de ser uma idéia social, ela é individual. A grande transformação deste momento é a exacerbação da individualidade. Há famílias simbióticas que não permitem esta independitização. Quanto mais trabalhamos no sentido da liberação da consciência, da individualidade (saída da simbiose), mais estaremos prevenindo a violência. Movimentos sociais crescem, se aprofundam, alguns são universalizantes Ampliação da consciência coletiva, corroborada em parte pela mídia Visão mais aguda e menos ideologizada da questão social Crescimento da consciência individual (pré-requisito para a cidadania) Movimentos marcantes do século XX: - ambientalista - feminista – mostrou para a humanidade que mais de 50% da mesma estava deixando de ser protagonista da História. Alguns elementos da Violência Social Brasileira Colonização e desenvolvimento Portugal enviou para o Brasil os degradados portugueses – não vieram mulheres no navio – estavam loucos para copular. Assim, na nossa origem, há um apagamento da mãe enquanto cultura, porque os portugueses queriam sexo e filhos com as índias. Hoje, no Brasil, falta pai para dar limite. Há um estudo de uma antropóloga em uma favela do Rio de Janeiro, mostrnado que a mulher está sempre à espera de um homem, criando filho de um, esperando filho de outro... Mito do povo pacífico Nascimento do país: fruto de um estupro: - orfandade de pai (filhos de escravas) e de mãe (vendidos) Exploração da força de trabalho e da cultura Ditaduras políticas Comportamento patriarcal e machista que perpetua abusos contra mulheres e crianças Discriminação, racismo, opressão e exploração do trabalho Ditadura militar – aprofundamento da cultura autoritária, alimentando coronelismos, patrimonialismos e clientelismos Corrupção e impunidade (marcada pela fraqueza das instituições) Configuração da Década de 80 em diante Crise econômica, sociedade urbana, conflitos e problemas sociais acirrados, violência social se expressa nas taxas de homicídio Crescimento da globalização – reestruturação produtiva – aumento da exclusão social Características pós-modernas – lógica da globalização; em conluio com a legalidade; prosmicuidade entre legalidade-ilegalidade (agressões e abusos intrafamiliares e comunitários) A consciência coletiva brasileira começou a despertar para a violência a partir dos anos 80 (livro “amarelo” da Minayo – deve ter em bibliotecas). O tema da violência é um tema da modernidade. Na pós-modernidade, passa a ser um tema relevante e crucial. O crescimento do homicídio é o indicador mais importante da violência social. Da década de 80 até hoje, cresceu mais de 115%. Mais de 80% são cometidos por jovens. As Décadas de 80 e 90 são consideradas décadas perdidas em termos de crescimento econômico. Delinqüência pós-moderna – caráter altamente lucrativo dos crimes e organização em rede. A violência dramatiza causas: pouco investimento, pouca maternidade, pouca paternidade... Novas subjetividades – secularização, desvalorização das tradicionais e da autoridade familiar e comunitária. Tempos curtos. hierarquias Secularização – antes, culturalmente, a sociedade era católica, cristã. O crescimento da cultura evangélica revela pessoas que não estão agregadas a nada. Autoridade familiar – o pai falava para membros familiares indiferenciados – todos obedeciam. Hoje, os pais não sabem o que dizer. Autoridade comunitária – muitas vezes é o traficante. Tempos curtos – falta de plano de vida. É preciso trabalhar com os jovens para traçar o seu plano de vida, de acordo com a sua personalidade. Desencanto com a política e democracia. Mercado de trabalho no tráfico – crime inclui x mercado de trabalho exclui; postura autoritária e crucial. O mercado do tráfico inclui. 9 milhões de jovens não estudam e não trabalham (o mercado formal exclui, o tráfico acolhe). A consciência do jovem é muito imediatista. É melhor correr riscos e viver “bem”. Ideologia dominante: consumismo e hedonismo; individualismo; imediatismo. Tem uma violência que aparece e outra que fica subsumida, mas elas se comunicam, se articulam. As pessoas que mais lucram com a violência nunca vão aparecer. Aparece o menino que morreu – ‘bucha de canhão”. As famílias devam deixar os conflitos fluírem. Quando isto não acontece, termina em violência (ex: abuso sexual) Meninos de rua: - problemas econômicos em primeiro lugar - conflitos familiares “Por que ter medo se o futuro é a morte?” (frase pixada no muro da FIOCRUZ, no Rio, onde é cercada por favelas) Modelo ecológico da violência (OMS) “Todas as coisas são casadas e causadoras” A OMS, em 2002, assumiu que a violência é problema de saúde pública. Fatores biológicos: predisposição de cada indivíduo para ser vítima ou perpetrador da violência. Fatores relacionais, interações sociais com parceiros, família e vitimização/perpetração da violência. Fatores comunitários: influenciam a dinâmica da violência (locais de trabalho, escola e vizinhança; altos níveis de desemprego, tráfico de drogas e de armas; isolamento social). Fatores sociais mais amplos: normas culturais que justificam a violência; a forma de resolver conflitos; contexto de escolhas individuais; machismo e cultura adultocêntrica; normas que validam o uso abusivo da força pela polícia, normas que apóiam a corrupção e a impunidade; políticas que perpetuam desigualdades e violência estrutural. O machismo deve ser trabalhado de forma relacional. Não pode ser trabalhado somente com grupos de mulheres ou de homens. A desigualdade social está estagnada desde os anos 50. 30% da população “move” o país – os outros 70% ficam “pastando”. Fatores universais da cultura atual (fluidez dos mercados, das informações, do capital, fraqueza dos estados nacionais, etc). Entrada do tema da violência no setor saúde Início (anos 1960) pela infância Os pediatras começaram a perceber a violência e a fazer estudos sobre a “síndrome do bebê espancado”. Anos 70 – violência contra a mulher O movimento feminista identificou que 35% das mulheres que procuram os serviços de saúde sofrem de violência psicológica, física ou sexual. Além disto, tem outras manifestações: dor no estômago, nervosismo, etc. Anos 90 – ECA Há muita discussão sobre o ECA, mas deve ser lido como uma “bíblia”. Ano 2000 – violência contra o idoso Começou na Inglaterra, com a observação de que avós que apanhavam. Política da OPAS – 1994 “Não podemos deixar de olhar mais para o problema da violência”. OMS – 1997 MS - 2001 OMS – 2002 Enfrentamento da violência A violência precisa da multidisciplinaridade, intersetorialidade, interinstitucionalidadade. Nenhum grupo consegue trabalhar sozinho. É preciso trabalhar em REDE. Programas eficazes são aqueles mais compreensivos e continuados, que atuam sobre mais fatores de risco. Perspectiva da saúde Medidas de promoção/prevenção Medidas de atendimento/tratamento Medidas de recuperação/reabilitação o Existência de programas exitosos o Diversidade de experiências com objetivos similares o Multidisciplinaridade das equipes o Registros e análise estratégica dos dados o Investimentos em monitoramento e avaliação (todo projeto deve ter uma verba destinada ao monitoramento e avaliação. Monitorar é avaliar durante para melhorar o projeto) o Investimento em capacitação profissional o Importância do atendimento em REDE Avaliação por triangulação de métodos – CLAVES (educação de jovens para valores): o Implantação o Implementação o Resultados Compilação e digitação IMN, 09/08/07