Comunicação poética resgata a cultura brasileira Por Clécia Oliveira* O Doutor em Comunicação pela UFRJ, Marcello Gabbay, defendeu tese sobre o carimbó da Ilha de Marajó (PA) como elemento de “comunicação poética”. Pesquisador e músico, o paraense trabalhou com a hipótese de que a canção popular ocupa o papel de principal dispositivo comunicacional no cenário brasileiro. Para ele, a manifestação artística é um meio eficaz de engajamento e valorização da própria cultura. Gabbay percebeu que as pessoas se expressam com intensidade por meio da linguagem musical, constituindo um meio de comunicação muito pertinente na região. E, apesar da relação forte com a TV e a internet, o destaque na audiência são as três rádios locais, visto que não há jornais em Marajó. Segundo ele, é difícil manter uma mídia como esta, pois o jornal é construído sob várias regras e ainda há muitos veículos concorrentes. Além disso, os meios de comunicação são majoritariamente de uma minoria de famílias, como políticos e grandes organizações de comunicação. De acordo com o pesquisador, a cultura literária europeia nos foi imposta, mas, principalmente a partir da Semana de Arte Moderna em 1922, a estética brasileira se impôs. Gabbay cita Villa-Lobos como responsável pelo surgimento de uma nova estética musical, em que o violão foi inserido nas salas de concerto, fazendo o popular acessar novos espaços. Observa ainda que a produção nacional abriu caminho para apreciarmos o que está próximo. Como exemplo, comenta que, na ilha paraense, a comunicação comunitária atua com base em uma produção comunicacional autoral. Apesar de local e menor, transforma realidades sociais, pois o veículo engaja-se ao lugar comunitário. Para ele, o Brasil é um país marcado pela oralidade. A canção popular em rodas de carimbó, por exemplo, se dá como experiência coletiva, sem estar presa a moldes formais e estruturais. A isso chama de comunicação poética, que acontece de maneira livre e orgânica, estimulando o imaginário dos participantes. Nesse contexto, o pesquisador diz que o engajamento político também está presente. Os praticantes da dança desejam, inclusive, acesso a políticas públicas. Ressalta que, no momento, estão pedindo que o carimbó se torne patrimônio cultural, constituindo também um modo de defender o território ideologicamente, a identidade do povo, a valorização da cultura. Enfatiza que o legado do imaginário classista europeu e a política coronelista não neutralizam a potência das manifestações culturais próprias do povo brasileiro. *Aluna do Ciclo Básico do Curso de Comunicação Social/ECO.