O ingresso do texto oral em sala de aula_ editado

Propaganda
O ingresso do texto oral em sala de aula1
Desconforto causado aos professores de língua portuguesa.
Avanços na LDB, 1996 e nos PCN, 1998, apontando para um ensino inclusivo, democrático e de qualidade.
Tratamentos iguais para o ensino da escrita e da fala.
Da visão grafocêntrica a uma outra abordagem no ensino.
Contribuição da escola na supervalorização da escrita em detrimento da fala.
O uso da escrita vinculado a uma postura ideológica de grupos dominantes em determinados momentos históricos.
O que dizem os PCN acerca da produção do texto oral e da variação Iinguística?
Transição de um paradigma de base gramatical para o de base linguística.
Principais propostas dos PCN.
Observação e análise da oralidade.
Transcrição de áudio em sala sob supervisão do professor, analisando suas especificidades e as estratégias de sua
construção (repetição, correção, parafraseamento, parentetização, referenciação) e os fenômenos intrínsecos da
oralidade (hesitação e interrupção).
O trabalho que parte da fala para chegar à escrita.
Retextualização.
O trabalho especificamente com a variação Iinguística.
O Professor deve partir de trabalhos realizados na sala e não de exemplos prontos, por exemplo, do livro didático.
1 Crescitelli, M. C. Reis, A. S. O ingresso do texto oral em sala de aula (pp. 29-39). In: ELIAS, V.M. (org.) Ensino de língua portuguesa: oralidade, escrita e
leitura. São Paulo: Contexto, 2011.
Em síntese, neste artigo, as autoras recorrem a documentos como a LDB, os PCN´s entre outros
referenciais para analisar cronologicamente o ingresso do texto oral na sala de aula, observando os principais
entraves desse processo e os avanços alcançados.
É inegável que a LDB de 1996 e os PCN, 1998, sinalizavam para um ensino inclusivo, democrático, de
qualidade e buscavam tratamentos iguais para o ensino de escrita e da fala na sala de aula. No entanto, a
transição de um paradigma científico para outro (de base gramatical para o de base linguística) colocou os
professores de Língua portuguesa numa situação muito desconfortável com respeito a ‘o que ensinar’, ‘como
ensinar, ’ para ‘quem ensinar e, até mesmo ‘para quê ensinar’(Castilho, 2012:13).
A escrita sempre ocupou uma posição de destaque na escola, já que é por meio dela que se realiza a
alfabetização, deixando a oralidade apenas para atividades específicas como os textos que recriam as falas
coloquiais. Essa supremacia da escrita em detrimento da oralidade desconsidera a língua em sua integridade,
privilegiando-se apenas uma das modalidades constitutivas da língua. Essa supervalorização da escrita na
escola e na sociedade de modo geral vincula-se a uma postura ideológica de grupos dominantes com o objetivo
de perpetuar-se no poder.
Os PCN, ao se referirem ao ensino de língua portuguesa, contudo, ao ensino do texto e da variação
linguística, propõem que o conteúdo seja articulado em torno de dois eixos básicos: o dos usos da língua oral e
escrita e o da língua e a linguagem. Sua fundamentação teórica é sempre linguística, “uso-reflexão-uso”.
Crescitelli e Reis sintetizam as principais propostas dos PCN:

o texto - oral e escrito – deve ser a unidade básica para o ensino de língua materna;

a atividade de ensino da língua deve concentra-se na produção de textos orais e escritos na escuta de
textos orais e compreensão de textos escritos em seus mais diversos aspectos e gêneros;

a língua tem de ser compreendida em seu aspecto interlocutivo ou dialógico, quando se trata da
produção de textos orais,

a variação linguística deve ser apresentada de modo claro e objetivo;
(...)

A escola deve assumir para si a tarefa de promover a aprendizagem de procedimentos apropriados de
fala e de escuta de textos orais em contextos públicos dos mais variados.
Para que a escola de fato ensine Língua Portuguesa como postulam os PCN, é necessário, antes de tudo,
que o professor domine pressupostos teóricos e metodológicos que lhe permitam repensar o ensino de
Língua materna considerando as noções de variação e mudança.
No tocante à análise da produção do texto oral em sala de aula, há três perspectivas a saber: a da
observação e análise da oralidade; a do trabalho que parte da fala para se chegar à escrita, processo de
retextualização e, por fim, a do trabalho especificamente com a variação linguística entre muitas
possibilidades. A primeira consiste na gravação de áudio e transcrição da fala, de modo que a gravação o
transforma em um recorte da fala; a segunda perspectiva trata-se da retextualização, que consiste em
transformar uma transcrição de um texto falado em um texto escrito; e a terceira, por sua vez, trata-se do
estudo das variações linguísticas, por exemplo, que ocorrem no interior da própria sala de aula que tem
como função principal reduzir o preconceito linguístico e apresentar as diversas possibilidades da língua.
Diante do artigo analisado, percebe-se que progredimos no que diz respeito ao ensino do texto oral na
sala de aula, porém, ainda há muitos entraves como a falta de pressupostos teóricos metodológicos que
possibilitem o professor realizar um trabalho mais significativo, priorizando o ensino da língua em uso e de
forma reflexiva.
Download