INSTITUIÇÕES NA INTEGRAÇÃO DA AMERICA DO SUL: A ORGANIZAÇÃO DO TRATADO DE COOPERAÇÃO AMAZÔNICA - OTCA NA ESTRATÉGIA DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA NO GOVERNO LULA. Hanan Severo Mohamad Abu Salem1; Issa Ibrahim Berchin2; Dr. Rogério Santos da Costa3 (orientador) INTRODUÇÃO A Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), sediada em Brasília, foi institucionalizada em 2002, decorrente do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), firmado em 1978 por oito países, quais são: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. A proposta de firmar o TCA e a OTCA foram iniciativas da diplomacia brasileira. O objetivo do tratado é assegurar a soberania dos Estados que fazem fronteira amazônica sobre a região, frente às ameaças de internacionalização desta. Os Estados amazônicos comprometeram-se em empregar o desenvolvimento harmônico da bacia amazônica, proteger ambientalmente região, garantir o desenvolvimento sustentável, promover o bem-estar da população local e assegurar a soberania dos Estados. O TCA passa por três fases que correspondem à fase defensivo-protecionista (1978 a 1989), caracterizada pela defesa das soberanias nacionais sobre a região Amazônica e por não permitir a intervenção internacional em assuntos locais, essa fase foi prejudicada pelas situações políticas internas vivenciadas pelos Estados da região; em seguida tem-se a fase de incentivo e fortalecimento político (de 1989 a 1994), marcada pela ideia de aplicação do desenvolvimento sustentável e pela captação de recursos para o financiamento de projetos, incluindo investimento de outras regiões; e a fase de amadurecimento institucional (1994 a 2002) caracterizada pela instauração da Secretaria Permanente e a transição para uma organização internacional, a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). 1 Graduanda em Relações Internacionais da Unisul, bolsista PIBIC – CNPq, [email protected]. Graduando em Relações Internacionais da Unisul, participação como voluntário nesta pesquisa, [email protected]. 3 Professor da Unisul, Coordenador do GIPART, [email protected] . 2 -1- A fim de assegurar a presença do Estado brasileiro na região amazônica, o exército brasileiro está presente na região em duas frentes, no Programa Calha Norte (PCN) e no Sistema de Vigilância Amazônico (SIVAN). O PCN trata de povoar as fronteiras amazônicas, afirmando a presença do Estado brasileiro na região. O SIVAN assume o papel de monitorar as áreas fronteiriças. De certa forma, estes projetos podem estar “competindo” com a OTCA, no tocante à atenção e autonomia da Política Externa Brasileira – PEB, para com ela. Um importante passo durante o Governo Lula foi a criação de uma Agenda Estratégica para a OTCA, que foi de 2004 a 2012, e que teve como objetivo aumentar a credibilidade da Organização. Discute-se, então, o desenvolvimento de uma nova polarização na America do Sul, a Zona Amazônica, que completaria a Região Andina e o Cone Sul, fato que colocaria a OTCA em uma posição estratégica, servindo de pólo de atração dos países do norte da America do Sul para uma integração Sul-Americana mais completa e eficiente. Diante desta situação estratégica, optou-se por verificar em que medida a Política Externa do Governo Lula colocou a OTCA como instrumento fundamental deste processo. Neste sentido, o governo Lula (2003-2010) reveste-se de importante significado, haja vista o impulso significativo dado neste período para a integração regional sulamericana. Assim, entender qual a posição da OTCA nesta estratégia sulamericana do Governo Lula foi a questão central desta pesquisa. PALAVAS-CHAVE OTCA – Organização do Tratado de Cooperação Amazônica; Política Externa Brasileira; Integração Regional; OBJETIVOS O objetivo desta pesquisa foi identificar a estratégia institucional que a Política Externa brasileira tem imprimido nas iniciativas de estruturação da OTCA durante o governo Lula. MÉTODOS O objeto desta pesquisa foi a Política Externa brasileira para as iniciativas de estruturação da OTCA do ponto de vista institucional. Dentro deste objeto, foi feita uma -2- coleta e análise das ações desta Política Externa relacionado ao tema Instituições na Integração da América do Sul. A delimitação temporal abarcou os oito anos do Governo Lula, desde 2003 até 2010, período em que se processa e desenvolve uma maior ênfase na integração da América do Sul. Foram coletados documentos oficiais oriundos da Presidência da República do Brasil e do Corpo Diplomático brasileiro – o Itamaraty – em encontros de países da América do Sul, ordinários e extraordinários, e das instituições objetos específicos de pesquisa, como a OTCA, a CAN o Mercosul e a Aladi. Serão objetos específicos de pesquisa as ações da Política Externa brasileira. Neste específico será investigado o que a Política Externa brasileira tem privilegiado em termos de integração na América do Sul, consubstanciado em encontros, estudos e publicações do Itamaraty, remodelamento da estrutura interna deste órgão, e na efetiva concretização de convênios, acordos e tratados. A pesquisa será feita sempre privilegiando a construção analítica de um padrão de instituição de integração que aparece nestas ações da Política Externa brasileira referentes às iniciativas objeto de pesquisa. A pesquisa se deu em três etapas: revisão bibliográfica, coleta de dados e análise e cruzamento de dados com revisão da bibliografia. Os dados coletados foram sistematizados em forma de resumos a partir de palavras-chave, principalmente: OTCA; instituições de integração, integração na América do Sul, objetivos na integração, estratégia na integração e importância da integração. Após esta sistematização foi realizada técnica de cruzamento dos dados buscando apontar que modelo institucional das iniciativas objeto de pesquisa a partir da Política Externa brasileira. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Revisão da literatura evidenciou a existência de um grande interesse e dedicação de estudos sobre a integração regional de uma forma geral, com ênfases na américa do sul em particular, principalmente no período estudado. Fica evidente que há um consenso em que o Governo Lula imprime um ritmo maior e uma característica específica de negociar com todos os países em igualdade na integração sulamericana, que se deu, principalmente, pelas vertentes comercial, infra-estrutura e política. Avaliando a literatura sobre a Política Externa brasileira, é nítida uma convergência para o entendimento de que esta desviou-se do alinhamento Sul-Norte para um alinhamento Sul-Sul, o que dá relevância estratégica para a integração regional -3- na América do Sul. Por outro lado, ainda fica marcada a diplomacia dúbia entre o Universalismo Globalista de caráter liberal, por um lado, e o tratamento realista para com os parceiros regionais. O debate sobre instituições em processos de integração é relevante na literatura, mas ainda fica muito circunscrito à analises sobre a experiência da União Europeia, bem como a comparações a partir desta, como é o caso para a América do Sul, particularmente o Mercado Comum do Sul – Mercosul. No que diz respeito à integração na América do Sul, apesar do importante diferencial no período Lula em relação aos seus antecessores, em termos de quantidade, não há uma diferenciação do que já existia em termos de densidade institucional no processo decisório. Na análise da OTCA, foi possível verificar sua constante mudança e fortalecimento, tendo uma dinâmica institucional bastante sólida, apesar do reduzido recurso orçamentário. A instalação da Secretaria Geral, em 2002, e o Acordo de Sede, em 2006, dão as garantias de autonomia institucional para esta Organização Internacional. Da mesma forma, com a efetivação da sua institucionalidade os Estados membros também criaram a Agenda Estratégica, de 2004 a 2012, com objetivo de aumentar a credibilidade da organização. Com base nos documentos coletados e analisados, bem como de entrevistas realizadas, foi possível fazer um diagnóstico para o principal problema da pesquisa, qual seja, definir a estratégia institucional da PEB para a OTCA. Desta forma, para a OTCA é possível pensar que a diplomacia brasileira a auxilia e mantém, domina, impõe a agenda e o ritmo, e esteriliza qualquer indício de que possa ela ou o Brasil perder o controle sobre o espaço amazônico. Em relação à integração, ela é um ponto focal importante em termos da conexão norte da América do Sul, bem como no tratamento de temas sensíveis como o plano Colômbia, mas está longe de ser uma peça estratégica ativa numa ação de integração brasileira no subcontinente, até onde pudemos perceber. Percebe-se, na análise dos documentos coletados, que a Diplomacia procura desvincular da atividade da OTCA qualquer menção às ideias de “governança” compartilhada da Amazônia, e que reflete diretamente na capacidade de alavancagem de recursos, parceiros e projetos de desenvolvimento sócio-econômico. Para uma organização e um Tratado que tem vital importância para os recursos naturais e meio ambiente, esta postura da diplomacia brasileira pode representar atraso na definição de ações de desenvolvimento sustentável para toda a região amazônica. -4- CONCLUSÕES O estudo elaborado sobre a OTCA durante o Governo Lula revela uma marginalização da organização frente ao potencial que ela poderia ter. Apesar da integração sul-americana caminhar lentamente, o governo Lula trabalhou nesta direção, ouve progresso nas iniciativas de integração e cooperação econômica, social e de infraestrutura na América do Sul como um todo. No entanto o potencial da OTCA não foi explorado ao máximo neste governo sendo, por vezes, marginalizada. É possível vislumbrar duas perspectivas ou hipóteses para esta postura: por um lado, existe uma continuidade na linha de ação da PEB focada na busca de Autonomia, o que inclui um distanciamento muito grande das diretrizes de governo e da sociedade, bem como um grau de corporativismo bastante elevado. Por outro, é possível que a região amazônica seja alvo das ações da PEB via Ministério da Defesa, deixando esvaziadas as funções da OTCA no que diz respeito a busca de desenvolvimento sustentável da região. Tanto uma como outra hipóteses constituem-se elementos de pesquisas futuras para suas validações científicas. REFERÊNCIAS CASTRO, B.T.C. de. O potencial da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) e os desafios para sua concretização. Belém, p. 47-55, 2011. Disponível em: <http://www.unama.br/editoraunama/download/latosensu/REVISTA_LATO_E_SENS U2011_V12_Nov2012.pdf> Acesso em 21 de agosto de 2012. COSTA, Rogério Santos da. A América do Sul do Brasil : a integração e suas instituições na estratégia brasileira no governo Lula. Porto Alegre, PPG em Ciência Política - UFRGS, 2010 (Tese de Doutorado). Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/54096 . Acesso em 21 de agosto de 2012. DAMASCENO, J.P.T.; SILVA JÚNIOR, L.O.; FRANÇA M.G.. Integração regional e desenvolvimento sustentável: O desafio do Tratado de Cooperação Amazônica. Goiânia, p. 1-10, 2011, Disponível em: <http://nupeat.iesa.ufg.br/uploads/52/original_11__Integra____o_regional_e_desenvolv imento.pdf> Acesso em 21 de agosto de 2012. DECLARACIÓN DE LA II REUNIÓN DE LOS PRESIDENTES DE LOS PAÍSES AMAZÓNICOS (Manaos, Brasil 10 y 11 de febrero de 1992) <http://www.otca.org.br/portal/admin/_upload/presidentes/II_REUNION_PRESIDENT ES_ESP.pdf> Acesso em 21 de agosto de 2012. DECLARACIÓN DE MANAOS DE LA I REUNIÓN DE LOS PRESIDENTES DE LOS PAÍSES AMAZÓNICOS (Manaus, Brasil 6 de mayo de 1989) <http://www.otca.org.br/portal/admin/_upload/presidentes/I_REUNION_PRESIDENT -5- ES_ESP.pdf> Acesso em 21 de agosto de 2012. FRAKLIN, Cleber Batalha. Segurança Regional e os desafios para a Organização do Tratado de Cooperação Amazônico – OTCA. Belém, P. 2-11, 2008. Disponível em: <http://www3.ufpa.br/naea/siteNaea35/anais/html/geraCapa/FINAL/GT8-278-129720081125224119.pdf> Acesso em 21 de agosto de 2012. FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO. Repertório de política externa: Posições do Brasil. Brasília, p. 47-50, 2007. Disponível em: <http://www.funag.gov.br/biblioteca/dmdocuments/0388.pdf> Acesso em 21 de agosto de 2012. Itamaraty. América do Sul. Organização do Tratado de Cooperação Amazônica. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas/balanco-de-politica-externa-20032010/1.1.4-america-do-sul-otca> Acesso em 21 de agosto de 2012. JÚNIOR, Haroldo Ramanzini. 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FOMENTO O trabalho teve a concessão de Bolsa pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), bem como fez parte de uma pesquisa mais ampla financiada pelo CNPQ, no âmbito do Edital 07_11 CHSSA, Coordenado pelo orientador. -6-