DISGRAFIA - TRANSTORNO DE APRENDIZAGEM EVOLUÇÃO DA ESCRITA A escrita é a base da nossa civilização, pois, é um fato social, que se identifica com os avanços da humanidade. Basta imaginarmos as enormes transformações que ocorrem no desenvolvimento cultural das crianças em consequência do domínio do processo de linguagem escrita e da capacidade de ler, para que nos tornemos cientes de tudo que os gênios da humanidade criaram no mundo da escrita (VYGOTSKY, 1998, p. 154). Com base na assertiva de Vygotsky, afirma-se que a escrita e a leitura trazem para o individuo consequências e influencias sócioculturais resultando em um novo modo de viver na sociedade e de se inserir na cultura. O desenvolvimento da linguagem escrita nas crianças se da [...] pelo deslocamento do desenho de coisas para o desenho de palavras [...]. Na verdade, o segredo do ensino da linguagem escrita é preparar e organizar adequadamente essa transição natural. Uma vez que ela e atingida, a criança passa a dominar o principio da linguagem escrita, e resta então, simplesmente, aperfeiçoar esse método (VYGOTSKY, 1998, p. 153). Percebe-se, portanto, que a escrita tem um papel fundamental na relação do desenvolvimento cultural da criança, sendo preciso ensinar a linguagem escrita de modo interessante e contextualizada, se preocupando com as necessidades do aluno. A linguagem escrita é diferente da linguagem falada, na qual a criança pode desenvolver por si própria, a escrita, requer um treinamento, em que são necessários o esforço e a atenção, tanto por parte do aluno como também do professor, este necessita ter conhecimento a respeito do processo de aprendizagem e suas dificuldades, podendo dessa forma intervir para facilitar, estimular e favorecer a aquisição da escrita. A construção da linguagem escrita é um processo evolutivo, pois, envolve acúmulos graduais de mudanças de uma forma para outra e, às vezes, está relacionada ao desenvolvimento e limites da criança, ela apresenta fases ou níveis, pelos quais, no seu desenvolvimento vai construir a relação do seu pensamento com a linguagem escrita. A escrita é fruto de uma aquisição possível a partir de um certo grau de desenvolvimento intelectual, motor e afetivo associado ao aprendizado socializado de seu código, quando e onde a escola tem papel fundamental. Escrever não é somente um modo de fixar nossos pensamentos e idéias, é a forma mais privilegiada de registro e comunicação na escola, apesar de todo o aparato tecnológico disponível. NÍVEIS DA ESCRITA A criança tem uma consciência muito imperfeita dos sons que pronuncia, não tendo consciência das operações mentais que executa. Quando escreve, ela tem de tomar consciência e reproduzi-la em símbolos alfabéticos, que tem de ser memorizados e estudados de antemão (VYGOTSKY, 1998, p.131). Sendo assim, o desenvolvimento da aprendizagem da leitura e da escrita deve ter como base o nível em que a criança se encontra. É importante considerar que a criança já possui um aprendizado ou conhecimento prévio, e o professor deve ter clareza dos níveis de escrita. Segundo Ferreiro e Teberosky (1999) a criança, quando esta no início do seu processo de alfabetização, não espera se deparar com todas as linguagens escritas em um contexto. No entanto, para a criança, a linguagem escrita (texto) serve para provar ou demonstrar a linguagem falada. Portanto a evolução da escrita passa por etapas, assim descritas por Ferreiro: NÍVEL PRÉ- SILÁBICO: A escrita não possui nenhum tipo de relação entre grafias e sons: - O grafismo primitivo - Se caracteriza por uma escrita onde predominam as garatujas e/ ou pseudo-letras. - Escrita sem controle de quantidade – A criança escreve ocupando toda a largura da folha ou do espaço destinado à escrita. - A escrita unigráfica – A criança utiliza somente uma letra para representar a palavra. - Escrita Fixa – A mesma série de letras numa mesma ordem serve para diferenciar nomes, predomínio de grafias convencionais. - Quantidade variável- Repertório fixo/parcial - Algumas letras aparecem na mesma ordem e lugar, outras letras de forma diferente. Varia a quantidade de letras para cada palavra. - Quantidade constante com repertorio variável- Quantidade constante para todas as escritas. Porém, usa-se o recurso da diferenciação quantitativa: as letras mudam ou muda a ordem das letras. - Quantidade variável com repertorio variável – Expressam máxima diferenciação controlada para diferenciar uma escrita de outra. - Quantidade e repertório variáveis, presença de valor sonoro início e/ou fim - Variedade na quantidade e no repertório de letras. A criança preocupa-se em utilizar letras que correspondem ao som inicial e/ou final. NÍVEL SILÁBICO - Nesse nível a criança tenta representar grafia e unidade sonora, escreve uma letra para cada sílaba, podendo ocorrer uma variação e uma exigência de quantidade mínima de letras para representar uma palavra: - Sem valor sonoro convencional - A criança escreve uma letra para representar a sílaba sem se preocupar com o valor sonoro correspondente. - Iniciando uma correspondência sonora - A criança escreve uma letra para cada sílaba e começa a utilizar letras que correspondem ao som da sílaba. - Com valor sonoro - A criança escreve uma letra para cada sílaba, utilizando letras que correspondem ao som da sílaba: às vezes usa só uma vogal, e outras vezes, consoantes e vogais. - Silábico em conflito ou hipótese falsa necessária - Momentos de conflito cognitivo relacionado à quantidade mínima de letras e a contradição entre a interpretação silábica e as escritas alfabéticas que tem sempre mais letras. Acrescenta letras e dá a impressão que regrediu para o pré-silábico. - Silábica – alfabética - A criança, ora escreve uma letra para representar a sílaba, ora escreve a sílaba completa. Dificuldade é mais visível nas sílabas complexas. - Alfabética/Alfabetizado - A criança já compreende o sistema de escrita faltando apenas apropriar-se das convenções ortográficas: principalmente nas sílabas complexas. É importante avaliar o nível da aquisição da escrita em que a criança se encontra, tendo como base as produções escritas. O professor, através desses níveis irá acompanhar o desenvolvimento da criança, propondo ou provocando alguns desequilíbrios durante o trabalho com a linguagem escrita, a fim, de avaliar seus progressos no processo de ensino/aprendizagem de crianças que apresentam ou não dificuldades de aprendizagem. Durante o processo escolar, algumas crianças podem apresentar algumas dificuldades em aprender algo. Porém, algumas podem ser superadas e outras não. As dificuldades de aprendizagem podem ser identificadas através de diferentes critérios, que levam a definir o que poderia ser considerado como dificuldades. De acordo com Vygotsky (2001) pode-se concluir que dificuldades de aprendizagem são um distúrbio psicológico que causam problemas a crianças, quando elas se encontram no início do processo de alfabetização. Uma das dificuldades de aprendizagem é a disgrafia, onde a criança é vítima de transtornos que provém ora do plano motor, ora do plano perceptivo, ora do plano simbólico. A dificuldade de integração visual-motora dificulta a transmissão de informações visuais ao sistema motor. “A criança vê o que quer escrever, mas não consegue idealizar o plano motor”. Algumas crianças com disgrafia possuem também uma disortografia amontoando letras para esconder os erros ortográficos. Mas não são todos disgráficos que possuem disortografia. Portanto a disgrafia e um distúrbio funcional, que afeta a fluidez, forma, qualidade ou significado da escrita, podendo ser definida como a principal dificuldade da escrita manual. É considerada como uma falha durante desenvolvimento ou da aquisição da escrita. o processo de Na escola as crianças disgráficas apresentam dificuldades no processo de aquisição do grafismo da escrita, por não estarem prontas para isso. Elas não têm possibilidades de dominar os instrumentos e movimentos através da interiorização de suas sensações corporais. É necessário que as crianças adquiram certo desenvolvimento ao nível de: - Coordenação visuo-motora para que se possam realizar os movimentos finos e precisos que exigem o desenho gráfico das letras; - Da linguagem, para compreender o paralelismo entre o simbolismo da linguagem oral e da linguagem escrita; - Da percepção que possibilita a discriminação e a realização dos caracteres numa situação espacial determinada; cada letra dentro da palavra, das palavras na linha e no conjunto da folha de papel, assim como o sentido direcional de cada grafismo e da escrita em geral. CARCATERÍSTICAS DE CRIANÇAS COM DISGRAFIA: - Lentidão na escrita; - Letra ilegível; - Escrita desorganizada; - Traços irregulares: ou muito fortes que chegam a marcar o papel ou muito leves; - Desorganização geral na folha por não possuir orientação espacial; - Desorganização do texto, pois não observam a margem parando muito antes ou ultrapassando. Quando este último acontece, tende a amontoar letras na borda da folha; - Desorganização das letras: letras retocadas, hastes mal feitas, atrofiadas, omissão de letras, palavras, números, formas distorcidas, movimentos contrários à escrita (um S ao invés do 5 por exemplo); - Desorganização das formas: tamanho muito pequeno ou muito grande, escrita alongada ou comprida; - O espaço que dá entre as linhas, palavras e letras são irregulares; - Liga as letras de forma inadequada e com espaçamento irregular; -Troca de letras que se parecem sonoramente; -Confusões, adições, omissões, junções, inversões ou fragmentações de sílabas; - Traços pouco precisos e incontrolados; - Grafismos não diferenciados nem na forma nem no tamanho; O disgráfico não apresenta características isoladas, mas um conjunto de algumas destas citadas acima. Ciasca (1994) relata dois tipos de disgrafia: dislexica e caligráfica (ou motora). - DISGRAFIA DISLÉXICA: É caracterizada pela alteração simbólica da escrita, possui omissão de letras, sílabas e palavras; há confusão de letras com sons semelhantes; inversão ou transposição da ordem das sílabas, invenção de palavras; há uma agregação de letras e sílabas; possui uma união ou separação indevida de sílabas, palavras ou letras. - DISGRAFIA CALIGRÁFICA OU MOTORA: Se caracteriza por afetar a forma das letras e a qualidade da escrita, porém, não afeta a simbolização da escrita, se refere às alterações na forma e tamanho das letras e espaçamento irregular (nas palavras, entre as palavras e entre as linhas) possui inclinação defeituosa entre palavras e linhas, alterações na ligação entre as letras; pressão excessiva na escrita; alteração na direção das curvaturas e alterações tônico-posturais da criança. COMO AUXILIAR A CRIANÇA COM DISGRAFIA É necessário que o professor propicie atividades de forma que as crianças se apropriem de algumas noções como: esquema corporal, percepção visual e auditiva, lateralidade, estruturação espacial, orientação temporal, para que possam melhor compreender o processo de aquisição da linguagem escrita. Tais como: - Propiciar tarefas que impliquem o uso das mãos e dos dedos; - Recortar desenhos e figuras, a fazer colagens e picotar; - Contornar figuras, pintar dentro de limites, ligar pontos, seguir um tracejado; - Deixar a criança expressar-se livremente no papel, sem corrigir nem julgar os resultados. - Estimular a memória visual através de quadros com letras do alfabeto, números, famílias silábicas; - Desenvolver atividades de psicomotricidade em geral; - Construir objetos com materiais concretos; - Uso de instrumentos musicais; - Prática de esportes; - Videogame, que obriga a se esforçar ao máximo, tanto na concentração quanto na parte de equilíbrio, - Uso de computador; - Aparafusar, conectar pequenos fios, enrolar fios, montar e desmontar objetos, etc; - Passar o dedo em letras moldadas com barbante, pular corda, amarelinha, jogar biloquê montar jogos de quebra-cabeças, caminhar sobre corda, e sobre letras traçadas no chão, etc; - Desenvolver atividades pictográficas: diferentes técnicas de pintura, desenho e modelagem; - Promover situações em que a criança utilize a escrita (ex.: escrever pequenos recados, fazer convites e postais); - Uso de caderno de caligrafia, porém de forma não exaustiva; - Evitar o uso de canetas vermelhas na correção dos cadernos e provas; - Assinalar com pequenas marcas os erros ortográficos e solicitar que o aluno procure a grafia correta em um dicionário, ou em um fichário de palavras, em que o grupo de crianças da sala de aula, pode montar no decorrer do ano; - Na avaliação escolar dar mais ênfase à expressão oral; - A criança deve saber o que fez e porque precisa corrigir; - Conscientizar o aluno de seu problema e reforçar-lo forma positiva, sempre que conseguir realizar uma conquista; -Entender que crianças com disortografia apresentam necessidades de tempo maior para realizar as tarefas escritas; Vários exercícios podem ser realizados em parceria com outros professores (Educação Física, Arte, por exemplo), para o desenvolvimento das habilidades motoras, do esquema corporal, das percepções.