TRIBUNAL DO JÚRI: DRAMATIZAÇÃO DA VIDA ATRAVÉS DE COMPLEXOS JOGOS NARRATIVOS. AUTORA: ANA LÚCIA PARTORE SCHRITZMEYER. É notório no artigo, onde a autora aborda elementos que usou para a defesa de sua tese de doutorado, aduzindo que o júri pode ser comparado com um teatro, durante o correr das sessões de julgamento. Ela relata fatos importantes colhidos em 107 sessões de julgamentos , entre 1997 e 2001, onde percebe-se rituais complexos, mas da mesma forma lúdicos, praticados entre as partes, onde os sentimentos por vezes falam mais alto, o ódio, a pena, a emoção, a compaixão e indignação andam juntas com forças de expressões corporais, e atos e jogos narrativos. Ela aborda o tema, salientando que desde a muito tempo na Europa, a sociedade antiga no século XVII, já dramatizava a vida social, chegando a uma análise dos atos praticados nas sessões de julgamento, pelos promotores de justiça, defensores, e juízes, nesse contexto ela vai moldando entre sustentações orais, réplicas e tréplicas, o elenco das tramas dos julgamentos, que se fazem por jogos de palavras, atos, movimentos, entonação de voz, gesto de olhar etc. Para ampliar seus horizontes a autora busca e fundamenta o trabalho com depoimentos de advogados e defensores, promotores de justiça, juízes, jurados, estudantes de direito que acompanham as sessões entre outros. Chama atenção o depoimento de um dos advogados defensores, o qual salienta que dependendo do corpo de jurados, será a dramatização feita em plenário, pois são pessoas das mais diversas profissões, classes sociais, nível de escolaridade que podem compor o tribunal do júri, como jurados. De outra banda, em contrapartida, um dos jurados durante entrevista, concedida para a autora em sua pesquisa, declara que: “percebe que os defensores e promotores de justiça, falam e fazem certos atos, para impressionar, as vezes não é pelo assunto falado, mais pela maneira, pelo convencimento, diz que os jurados sabem quem é bom e quem é meio parado, uns até cansam e incomodam de tanto que gesticulam, e andam, mas só alguns acertam no ponto e falam de maneira que a gente entende, parece que adivinham o que estamos pensando...” No jogo cênico do Tribunal do Júri, as vitimas, testemunhas e réus são personagens reveladoras, que com gestos , palavras e olhares, definem o enredo da história, o perfil de quem mata e quem morre, é analisado pelos jurados, e o drama da história, contada e retratada pelos defensores e promotores, pesa no voto dos jurados, na hora do sim ou não dos quesitos.Em relato um jurado afirma que se coloca na pessoa que sofreu pelo fato, na família, que perde muitas vezes um familiar, nos pais que afirmam que o filho é inocente , são fatos sociais, que qualquer pessoa poderia enfrentar, são “dramas da vida” afirma . Depois em mais relatos interessantes, sobre o poder e o drama em plenário, recebe informações de pessoas comparando o juiz semelhante a Deus, na hora de fazer o julgamento, o promotor de justiça comparado, a um demônio, o advogado de defesa, um anjo da guarda, e os jurados pessoas boas, semelhantes aos santos, por fazerem um serviço bom para a sociedade Nesse jogo de poder, a ilusão teatral dos envolvidos, deixa em jogo a luta do bem contra e o mal, o certo e o errado, o perdão e a punição, a compreensão e a vingança, onde a justificação das teses apresentadas, que irá convencer o raciocínio dos jurados. Para o promotor de justiça o réu quase sempre será, um favelado, um miserável, conforme aborda a autora, sendo que usará sua dramática, para dizer que a vitima, não teve meios de se defender, que morreu, de forma inocente pelo tirano réu . Nesse contexto cênico- político, a platéia julga pelas togas dos magistrados e operadores do direito, possuírem saber elevado e superior para julgar, principalmente no Tribunal Paulista, onde a pesquisa foi realizada. Também na guerra de palavras entre defensores e promotores de justiça, e magistrados, ocorrem situações ridículas de insultos e xingamentos, como uma forma de monopolizar e chamar atenção dos jurados, como uma maneira de demonstrar que o operador do direito esta agindo certo, mas tendo sua moral abalada. O essencial do jogo dramático do júri reside na estratégia astuciosa e complexa de converter ameaças e convencer as pessoas, principalmente os jurados, uma espécie de melodrama, mesmo com fundo trágico, que possibilita desfechos interessantes, com base no poder que a lei assegura aos jurados, pela soberania das decisões do júri. Analisando ainda o depoimento de um estudante de direito que acompanhava uma sessão do Tribunal do Júri, notou-se que muito além de saber representar, os operadores do direito devem saber dominar as técnicas existentes em nosso ordenamento legal, para chegarem ao êxito do convencimento dos jurados, e ultrapassar as barreiras do palco do júri, porque muito além dos jurados serem escolhidos para fazer a justiça em nome da sociedade, sendo aplicadores da lei, representantes do povo, sendo uma missão social exercida por eles, expressando os reclames da sociedade. Concluindo o trabalho com base no pensamento da autora, os processos de competência do Tribunal do Júri, terão seus desfechos finais, condenatórios ou absolutórios, ligados com as encenações feitas durante as sessões de julgamentos, não deixando de ser uma espécie de teatro, em meu ponto de vista, concordando com a autora, mas esta natureza teatral ganha uma missão racional e antropológica de justiça, que tem como objetivo ajudar a julgar os dramas e fatos violentos praticados em nossa sociedade, já a muito tempo sendo usado por nosso ordenamento jurídico e processual penal, independente das manifestações e atos comparados como peças teatrais, o Tribunal do Júri, é essencial para a justiça e a ordem jurídica que rege nossas vidas, sendo uma solução para muitos dos problemas vinculados a criminalidade que enfrentamos hoje em dia .