ADILVO ANDREAZZA ASPECTOS DE GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE ALTO IMPACTO NA ORIGEM DE TRANSTORNOS MENTAIS: UMA REVISÃO. Blumenau 2011 ADILVO ANDREAZZA ASPECTOS DE GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE ALTO IMPACTO NA ORIGEM DE TRANSTORNOS MENTAIS: UMA REVISÃO. Monografia apresentada no 26º Curso de Ergonomia aplicada ao Trabalho como pré-requisito parcial para obtenção do título de Consultor em Ergonomia pela Ergo Ltda. Orientador: Prof. Dr. Hudson de Araújo Couto _____________________________________ Prof. Dr. Hudson de Araújo Couto (Orientador) Ergo Ltda Blumenau 2011 RESUMO O presente trabalho tem como finalidade, via revisão breve de literatura, apresentar estudo conceitual da organização do trabalho capaz de causar impacto na saúde dos trabalhadores em seu aspecto mental. O adoecimento tem caráter holístico e sua dicotomização nos aspectos físico ou psíquico, por exemplo, pode dificultar a análise e ações corretivas podem se mostrar ineficazes. As melhorias no ambiente, na organização do trabalho e dos fatores psicossociais no trabalho têm o intuito de privilegiar a pessoa humana, trazendo ganhos a toda a Organização. O presente trabalho permeia o território de análise do adoecimento físico e mental, com estudo da dor que permeia estes adoecimentos, incluindo-se a problemática do estresse e assédio moral, relacionados ao ambiente ocupacional e tratados de forma integrada. Para atuar no ambiente de trabalho é necessário fazer diagnóstico organizacional para estudar intervenções eficazes e, para isso, alguns instrumentos para pesquisa organizacional são sugeridos. Têm estes o objetivo de detectar possíveis disfunções organizacionais que podem estar na gênese ou potencialmente relacionadas com transtornos de saúde (mental). Os atores, Médicos do trabalho, Psicólogo organizacional e Assistente social, têm um papel importante no diagnóstico para viabilizar práticas que favoreçam a saúde dos trabalhadores, visto que iniciativas coletivas são economicamente mais interessantes do que a remediação dos efeitos de eventuais transtornos mentais. A Empresa que assim age mostra-se socialmente comprometida com a integridade de seus maiores valores, o capital intelectual de seus trabalhadores. 1 INTRODUÇÃO O trabalho ocupa a maior parte do tempo de atividade do ser humano. Ele propicia a base da sobrevivência, do desenvolvimento, mas também pode como causalidade, ser originário de sofrimento, adoecimento. A falta dele também. Peiró (1993) afirma que o trabalho é uma atividade humana, individual e coletiva, que requer uma série de contribuições (esforço, tempo, aptidões, habilidades, etc.) as quais os indivíduos desenvolvem esperando, em troca, compensações, não só econômicas e materiais, mas também psicológicas e sociais, que contribuam para satisfazer suas necessidades. As pessoas, em seu trabalho, buscam a satisfação de necessidades biológicas, de segurança, re relação social, de auto estima e de auto-realização Peiró, J.M. Desencadeantes Del Estrés Laboral. Salamanca: Endema, 1993 Para Laurell e Noriega, (1989) é resultado de esforço, de dispêndio de energia física e mental, produz bens e serviços. Além de satisfazer as necessidades individuais e o bem-estar pessoal, contribui para a manutenção e para o desenvolvimento da sociedade. Laurell, A.C.; Noriega, M. Processo de produção e saúde: trabalho e desgaste operário. São Paulo: Hucitec, 1989. No estudo do adoecimento no trabalho ou a ele relacionado, muitas teorias foram criadas para explicar este fenômeno. Algumas se apresentam descritas neste trabalho, sem querer aprofundar-se na sua temática, pois foge ao escopo do mesmo. O processo saúde-doença é também construído no trabalho, uma vez que possibilita reafirmar a auto-estima, desenvolver habilidades, expressar as emoções e a personalidade, tornando-se também espaço de construção da história individual e da identidade social (Dejours, 1987) Dejours C. A loucura do Trabalho: estudo da psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez/Oboré, 1987. Os estudos apontam que a organização do trabalho pode estar na gênese do adoecimento, particularmente psíquico, que associado a condições de trabalho, como aquelas ergonomicamente inadequadas, podem causar adoecimento epidêmico, muitas vezes reforçado por questões sociais. De acordo com Dejours (1987) o trabalho humano possui duplo caráter: por um lado, é fonte de realização, satisfação, prazer, estruturando e conformando o processo de identidade dos sujeitos; por outro, pode também se transformar em elemento patogênico, tornando-se nocivo à saúde. No ambiente de trabalho, os processos de desgaste do corpo são determinados em boa parte pelo tipo de atividade e pela forma como esta está organizada. O ambiente de trabalho pode (...) provocar enfermidades ocupacionais, comprometendo a saúde física e mental (...). Assim, é importante conhecer a dinâmica da produção do desgaste gerado em cada situação de trabalho para viabilizar as medidas de prevenção necessárias (Mendes, 1995). Mendes, R. Patologia do Trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995. Ressalte-se que uma das dificuldades das investigações na área de transtornos mentais e trabalho é o estabelecimento da relação de casualidade entre as doenças e a atividade laboral, ou seja, correlacionar as alterações psíquicas e do comportamento ao trabalho, com toda a implicação para o homem e para as organizações. Outra dificuldade é identificar as situações laborais que estejam favorecendo o aparecimento ou o agravamento dessas doenças (Silva et al., 2009). Silva, G.G.J et al. Considerações sobre o transtorno depressivo no trabalho. Ver.Bras Saúde Ocup., São Paulo, v. 34, n. 119, 2009. Cabe inferir que a história de vida e de trabalho pode, em conjunto, desencadear ou potencializar as alterações mentais já existentes no trabalhador. De todo o modo, isso não exime a empresa de tratar o tema com responsabilidade porquanto, mesmo não estabelecido o nexo com o trabalho, a produtividade e o afastamento mais prolongado em comparação a outras doenças, já influem negativamente nos resultados esperados pela gestão do negocio. Assim, a empresa tem de responder as demandas relacionadas ao adoecimento porque, nos afastamentos concedidos pelo INSS há estabelecimento de nexo entre o trabalho e o agravo quando se verificar nexo técnico epidemiológico entre a atividade da empresa (CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas) e a entidade mórbida motivadora da incapacidade, elencada na Classificação Internacional de Doenças (CID), conforme disposto no Decreto 6.042, de 12 de fevereiro de 2007. Para complementar, o nexo técnico previdenciário poderá ser de natureza causal ou não, havendo três espécies, de acordo com o instituído na IN INSS 31/2008, DOU de 11/09/2008: I - nexo técnico profissional ou do trabalho, fundamentado nas associações entre patologias e exposições constantes das listas A e B do anexo II do Decreto nº 3.048/99; II - nexo técnico por doença equiparada a acidente de trabalho ou nexo técnico individual, decorrente de acidentes de trabalho típicos ou de trajeto, bem como de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele relacionado diretamente, nos termos do § 2º do art. 20 da Lei nº 8.213/91; [grifo nosso] III - nexo técnico epidemiológico previdenciário, aplicável quando houver significância estatística da associação entre o código da Classificação Internacional de Doenças - CID, e o da Classificação Nacional de Atividade Econômica - CNAE, na parte inserida pelo Decreto nº 6.042/07, na lista B do anexo II do Decreto nº 3.048/99. [grifo nosso] A doença, de certa forma, penaliza todos. Investir de forma eficaz, com diagnóstico organizacional em saúde, reduz custos na esfera trabalhista, aumenta a rentabilidade da empresa e reduz os gastos pessoais do trabalhador com o adoecimento, além do sofrimento que o mesmo fica sujeito quando doente. Em relação ao adoecimento, muitas doenças provenientes do trabalho têm tratamento médico convencional ineficaz, se o posto de trabalho, a organização do trabalho, as relações interpessoais não passarem por avaliação e tratamento. “A saúde do trabalhador ganha importância na medida em que a ocorrência de acidentes ou de doenças, além de apresentar uma diminuição da produtividade e dos custos adicionais e produção pode prejudicar a imagem da empresa no mercado” (Scopinho, 2004). Scopinho, R.A. Controle social do trabalho no setor sucroalcoleiro: reflexões sobre o comportamento das empresas, do Estado e dos movimentos sociais organizados. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 7, n.4, dez/2004. Transformações no mundo do trabalho têm merecido alusões recorrentes entre estudiosos e pesquisadores do assunto. Novas formas, e inovadoras, de organização do trabalho são implementadas, novas tecnologias são criadas, empregos desaparecem e outros novos surgem decorrentes do desenvolvimento técnico - cientifico próprio da atualidade Enquanto uns ficam sem emprego, sem trabalho, outros vivem na informalidade ou “ganham a vida” em subempregos, tantos outros sofrem pelo fato de terem de trabalhar excessivamente, seja por opção, seja por necessidade ou por obrigação organizacional, por exemplo, com horas extras. O trabalho, e não é de hoje, tem um importante lugar na sociedade. É através dele que a humanidade alcançou alto índice de desenvolvimento econômico e tecnológico, mas não necessariamente suficiente no quesito qualidade de vida e índices de desenvolvimento humano. O trabalho pode gerar “bem estar”, apesar das limitações conceituais e de significação do termo, mas também sofrimento, que pode se manifestar na condição de transtorno de saúde ou doença, ou não. Pesquisas de estudiosos da temática “saúde/sofrimento/transtorno/doença e trabalho” mostram, com mínima variabilidade, que as razões citadas pelos trabalhadores para que se mantenham em atividade são o relacionamento interpessoal que o trabalho proporciona, o sentimento de vinculação que traz, o sentimento de ter alguma “ocupação”, impedimento do tédio ou para ter um objetivo na vida, além de outras, denotam o lado positivo que o trabalho traz ao ser humano. Dita de outro modo, o trabalho representa um valor importante, exerce influencia importante sobre a motivação dos trabalhadores e sobre sua satisfação e produtividade, também o contrário incide, motivando estudos acerca da motivação desta perturbação da saúde. A satisfação no trabalho tem nas condições salário justo e aceitável, estabilidade, vantagens apropriadas, a segurança, a saúde, processos adequados e também variedade e desafios, aprendizagem continua, margem de manobra, autonomia, reconhecimento e apoio, um futuro desejável, contribuição social que faz sentido como elementos norteadores. A resposta dos por quês o trabalho pode adoecer motivaram a construção de teorias psicológicas, as mais diversas, mas que parecem estabelecer como pano de fundo a confluência de dois aspectos implicados no adoecimento (mental): a susceptibilidade individual e a organização do trabalho, esta como geradora de sofrimento. Mas não há unanimidade. O trabalhador necessita se auto-realizar, se desafiar e, ser desafiado, buscar respostas e solucionar problemas: isso o motiva e o faz se sentir-se parte integrante, uma peça integrante e necessária à corporação. Quantas empresas investem nesta necessidade, e não pensam na motivação como sendo um escoamento de dinheiro sem lastro? Chamam palestrantes, dão bônus, mas não vão ao ponto principal, a organização do trabalho. A organização do trabalho, ao atingir o indivíduo, modifica a sua maneira de enfrentar os riscos e traz efeitos sobre a saúde ainda não perfeitamente conhecidos ou dimensionados. É objetivo de o presente trabalho lançar luz sobre o tema organização do trabalho, adoecimento e adoecimento mental e propor instrumentos para detectar pontos de ruptura, no dizer de Couto. De posse dos resultados da investigação, a medicina do trabalho, a psicologia organizacional e a empresa poderão propor soluções de acordo com as demandas. Demandas estas que devem ser buscadas, não quando o problema se instala, mas quando indícios indiretos se apresentam como, por exemplo, o absenteísmo e o presenteísmo, além da produtividade individual e coletiva. As queixas de saúde são pouco apreendidas pelos serviços médicos das empresas, porque, muitas vezes, dizem respeito aos efeitos da corrida tecnológica e à falta de tempo para dar conta das metas e dos prazos. O motivo de tal falta de apreensão são o desconhecimento da forma de apresentação dos sintomas ou dos “sinais” apresentados individualmente, quando a busca da medicalização parece trazer alivio ao sofrimento (mental ou físico ou decorrente de somatização) de algo que pode estar no local de trabalho (área) na forma da organização, hierarquia, controle de metas , prazos, gerando sintomatologia de transtorno física e mentalmente, sem que critérios diagnósticos sejam preenchidos para a doenças suspeita. Como se trata estresse ocupacional? Como se trata depressão no trabalho? Com psicofármacos? Haverá melhora se os fatores desencadeadores ou agravadores persistirem no ambiente de trabalho? Não há como evitar o adoecimento de forma absoluta, mas há como reduzir. Monitorando o ambiente de trabalho, avaliando e reavaliando aspectos da organização do trabalho que podem ou potencialmente podem adoecer. Como dito por Couto e outros autores o trabalho tanto pode adoecer quando não, a organização do trabalho é mediadora da condução deste caminho. A proposta do trabalho é oferecer instrumentos, que se utilizados de forma adequada, poderão oferecer respostas e diagnóstico organizacional para tomada de decisão pelos atores envolvidos, além de oferecer subsídios para promover ações preventivas que reduzam o impacto (negativo) da organização do trabalho e de fatores psicossociais sobre os trabalhadores. Conforme aponta Dejours (1987) o trabalho prazeroso é aquele em que cabe ao trabalhador uma parte importante da concepção. Para completar, pode-se dizer que a viabilização de práticas que favorecem a saúde, de intervenção coletiva, é economicamente mais interessante do que a remediar os efeitos de eventuais transtornos mentais e que a ação neta direção mostra que o comprometimento da Organização com o “bem estar” de seus trabalhadores torna-se um valor social e eticamente responsável. 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Definir os principais aspectos de disfunções organizacionais que podem estar na gênese de sofrimento ou no desencadeamento de transtornos mentais 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Definir aspectos a serem acompanhados pela Medicina do Trabalho e pela Psicologia Organizacional por ocasião das revisões periódicas de saúde. Sugerir instrumentos de pesquisa organizacional que possam ser utilizados para monitorar as práticas problemáticas das áreas ou locais de trabalho. Identificar fatores da organização do trabalho que etiologicamente podem estar implicados no adoecimento mental. Identificar fatores psicossociais envolvidos na gênese ou desencadeamento de transtornos de saúde mental. Avaliar a inter-relação existente o adoecimento por transtornos na esfera física traduzidos por dor (crônica) e os transtornos mentais, representados pela depressão. Sugerir intervenções, de ordem geral, para reduzir o impacto de fatores de organização do trabalho e psicossociais no trabalho na origem do adoecimento. Estudar casos epidêmicos de LER/DORT e os fatores correlacionados: biomecânicos, organizacionais e psicossociais no trabalho. SUMÁRIO Falta 1. O TRABALHO, O ADOECIMENTO E A ORGANIZAÇAO DO TRABALHO 1.1 CONCEITO DE SAÚDE A Organização Mundial da Saúde define saúde “como o completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (WHO, 1998). Essa definição, até avançada para a época, é, no momento, irreal, ultrapassada e unilateral afirma Segre (1997) em artigo onde discute o “Conceito de Saúde”. E continua, afirmando que “a definição de saúde da OMS está ultrapassada por que ainda faz destaque entre o físico, o mental e o social. Mesmo a expressão “medicina psicossomática”, encontra-se superada, eis que, graças à vivência psicanalítica, percebe-se a inexistência de uma clivagem entre mente e soma, sendo o social também inter-agente, de forma nem sempre muito clara, com os dois aspectos mencionados”. Segre, Marco & Ferraz, Flávio Carvalho, O conceito de saúde. Rev. Saúde Pública, 31 (5) : 538-42, 1997. A definição em epigrafe também sofre crítica de Cardoso (2001), o qual afirma que o fator problemático presente na definição da OMS, como na definição de muitos autores e organizações, é o idealismo, contento palavras como ‘perfeito’, ‘pleno’, ‘completo’ que parecem denotar que, para se ‘ter saúde (mental)’, deveriam as pessoas ‘não ter problemas’, serem ‘normais’. Normalidade como bem-estar, continua o autor, mesmo definido pela OMS e aceito até os dias de hoje, é um conceito criticável, por ser vasto e impreciso, pois ‘bem-estar’ é algo difícil de definir objetivamente. É utópico conseguir-se este bem-estar e, portanto, poucas seriam as pessoas consideradas ‘saudáveis’ Dejours (1994) afirma que o bem estar do individuo depende de um livre funcionamento e articulação no trabalho, ou seja, que o sujeito deve estar harmonizado com as atividades realizadas para conseguir o prazer que propicia a diminuição da carga psíquica despendidas nelas. Para Gomes (2009) a saúde encontra-se vinculada a condição social humana, ao direito ao trabalho, à moradia, à educação, à alimentação e ao lazer. É uma espécie de sistema orgânico, ou seja, quando existem harmonia e equilíbrio funcional os diversos sistemas e aparelhos não dão sinal de irregularidade. Segundo Rojas (1974), não é fácil definir o que é saúde e estabelecer limite onde começa a enfermidade. Isso porque saúde e enfermidade são duas circunstancias entre as quais o individuo flutua o tempo todo, duas situações estreitamente ligadas por conexões recíprocas. A saúde, assim, perpassa a interação entre as áreas físicas, mentais e sociais. Os aspectos psicossociais da saúde do trabalhador e a organização do trabalho, enquanto etiologicamente fator de saúde e adoecimento mental, terá ênfase no delineamento do presente trabalho. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), os objetivos da “Saúde no Trabalho”, incluem em seu amplo espectro “... o prolongamento da expectativa de vida e minimização da incidência da incapacidade, de doença, de dor e do desconforto, até o melhoramento das habilidades em relação a sexo e idade, incluindo a preservação das capacidades de reserva e dos mecanismos de adaptação, a provisão de realização pessoal, fazendo com que pessoas sejam sujeitos criativos; o melhoramento da capacidade mental e física e da adaptabilidade a situações novas e mudanças das circunstâncias de trabalho e de vida...” (WHO, 1975). De acordo ainda com a mesma Entidade, a “(...) saúde pode ser lesada não apenas pela presença de fatores agressivos (fatores de risco), algumas vezes denominados ‘sobrecarga’, (...), mas também pela ausência ou deficiência de fatores ambientais, às vezes denominada ‘subcarga’, (...). Embora pouco seja conhecido sobre estas condições, a avaliação de saúde deveria considerar tanto a sobrecarga quanto a subcarga nas atividades de trabalho. Contudo deve ser admitido que até o momento pouco se conhece em relação aos efeitos das subcargas sobre a saúde...” (WHO, 1975) É pertinente, à guisa de reflexão, colocar o questionamento de Segre (1997) acerca do conceito de saúde: “se não se poderá dizer que saúde é um estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade?” (grifo do autor). 1.2 O TRABALHO E O ADOECIMENTO Desde as épocas mais remotas o homem faz, de forma racional ou não, o manejo da natureza, tirando dela alimento e vestuário. Ele tem a capacidade de transformar a natureza para seu próprio bem-estar, sendo único ser vivo que consegue formular a idéia antes de sua concretização, não seguindo, portanto, uma programação da espécie. Com engenhosidade passou a construir ferramentas para servir de extensão de seu corpo. Quando se apropria da natureza e a transforma, pela utilização de utensílios ou ferramentas, o homem está produzindo um trabalho (Katz, 1995). Dito de outro modo, “pelo trabalho o homem transforma a natureza, ajustandoa às suas necessidades” (Saviani, 2003). E aprofunda o tema (Saviani, 2003), o educador e filósofo, perguntando: “o que é o homem?” E responde: “Ora, o que define a existência humana, o que caracteriza a realidade humana é exatamente o trabalho. O homem se constitui como tal à medida que necessita produzir continuamente sua própria existência. É o que diferencia o homem dos animais: os animais têm sua existência garantida pela natureza e, por conseqüência, eles se adaptam à natureza. O homem tem de fazer o contrário: ele se constitui no momento em que necessita adaptar a natureza a si, não sendo mais suficiente adaptar-se à natureza. Ajustar a natureza às necessidades, às finalidades humanas, é o que se faz pelo trabalho. Trabalhar não é outra coisa senão agir sobre a natureza e transformála. Essa ação transformadora sobre a natureza é guiada por objetivos. Este é outro elemento diferenciador da ação humana. Os animais também agem, também exercem uma atividade, mas essas atividades não são guiadas por objetivos. Eles não antecipam mentalmente o que vão fazer, mas o homem sim”. E conclui Saviani (2003): “todo trabalho humano envolve a concomitância do exercício dos membros, das mãos, e do exercício mental, intelectual”. Dutra (1997) fala da “valorização do trabalho como condição humana; como formador do homem; como elemento de coesão entre os homens; como elemento mediador da relação entre homem e sociedade e entre homem e natureza; como atividade produtiva; como fonte de riqueza, abundância e progresso; como fonte de conhecimento do bem e do mal”. Esse mesmo trabalho, fonte de também sentimentos contraditórios, também pode significar opressão e escravidão, e torna-se necessário entender melhor quais são as forças que emergem dele ou para ele e que o afastaram de seu conteúdo inicial (Seligmann-Silva, 1990). No decorrer do tempo, com as mudanças nas relações trabalhistas, “percebese que o senso de dever e toda a carga valorativa atribuída ao trabalho se modificaram, ao mesmo tempo em que o trabalho foi perdendo seu conteúdo e se empobrecendo, tornando-se, na maioria das vezes, mecânico e rotineiro. Por conseguinte, a busca de satisfação foi sendo substituída pelo comércio da força de trabalho” (da Silva, 2000). A complexidade do processo de trabalho busca alternativas de novas formas de articular seus elementos, especialmente a ação coletiva dos homens entre si, é denominada por Souza (citado por da Silva, 2000) de organização do processo de trabalho [grifo nosso]. O produto (objeto) do trabalho agrega um valor relacionado à incorporação de energias e trabalhos. Todavia, a energia despendida pelo trabalhador não o adoece, se ele executa sua atividade com liberdade, autonomia e criatividade, no tempo que considera necessário para sua concretização. Não é atributo de o trabalho em si ser nocivo ou perigoso. O que pode torná-lo nocivo ou perigoso é a forma como se dispõe a organização do trabalho. No dizer de DEJOURS (1988) “mesmo as más condições de trabalho são, no conjunto, menos terríveis do que uma organização de trabalho rígida e imutável”. A palavra trabalho está longe de ter conceito unânime e, de acordo com Codo (1997), ela possui duplo significado em alguns idiomas – aparece como açãoesforço e também como moléstia-fadiga (sofrimento). O conhecimento de que o trabalho adoece é milenar. A própria origem da palavra trabalho encerra sua dupla condição como atividade que envolve sofrimento e realização, já que a palavra latina trapalium denomina um instrumento de três peças que era utilizado tanto como instrumento agrícola como instrumento de tortura (Ramminger, 2002). Tatiana Ramminger. A saúde mental do trabalhador em saúde mental: um estudo com trabalhadores de um hospital psiquiátrico. Bol. da Saúde, v. 16, n. 1, 2002 v 111. O mesmo autor (Codo, 2009) também apresenta a dupla condição do trabalho: enquanto realizador de produtos capazes de atender às necessidades humanas e enquanto relação necessária à sobrevivência no modo de produção atual, no qual o trabalho tem de ser vinculado ao retorno salarial. O trabalho, conforme conceituado por Codo (2006) é considerado atividade humana por excelência, entendida como o modelo pelo qual transmitimos significado à natureza, à identidade, sendo o mesmo um dos elementos essenciais na construção da identidade. “É universal, desde os primórdios da História, o conhecimento sobre as formas de adoecer, de sofrer ou de morrer por causa do trabalho. Como experiência pessoal, sofrer ou adoecer são vivencias fortemente subjetivas, eventualmente perceptíveis aos sentidos dos outros” (Mendes, 2005). A patologia do trabalho, no dizer de Mendes (2005), emerge da própria etimologia, ou seja, é estudo (logos) do sofrimento, dano ou agravo (pathos) à saúde, causado, desencadeado, agravado pelo trabalho ou com ele relacionado [grifo nosso] O Sofrimento traz à tona a idéia dor física, angústia, aflição, amargura, infortúnio, desastre e agravo; Agravo dá idéia de prejuízo ou dano e Dano significa estrago, deteriorização, danificação. Com a significação destes três termos está construído o espectro do pathos, o espectro da patologia do trabalho (Mendes 2005). Outra forma de pathos, pouco conhecida ou valorizada pela medicina, até por seu forte matiz subjetivo é o “incômodo”. [grifo nosso] A patologia do trabalho (...) lida com relativa desenvoltura com os danos do ruído sobre a audição, ou com os efeitos fisiológicos do frio ou calor, bem como a imensa gama de danos provocados pelas substâncias químicas (...). Contudo, “no território subjetivo do “incômodo”, a medicina, defronta-se com grandes dificuldades” (Kjellberg, Smith, citados por Mendes ( 2005)). Zielhuis & Wibowo (citados por Mendes, 2005) colocam que “frequentemente se faz distinção entre efeitos ‘somáticos’ e ‘incômodo’, estes são então considerados subjetivos e altamente dependentes do comportamento e percepção humanos”. Zielhuis & Wibowo afirmam que a distinção entre “somático” e “incômodo” deveria ser rejeitada, pois: a) os trabalhadores não respondem como um sujeito dicotomizado, mas como pessoas unas e inteiras; b) o incômodo percebido pode ser identificado a avaliado tão objetivamente quanto sintomas e sinais somáticos – pelo menos em nível de grupo – através de questionários validados; (...); c) os incômodos percebidos diminuem a qualidade de vida, tanto para trabalhadores como para a população geral. Assim, o trabalho quando executado sob certas condições pode levar ao adoecimento, portanto ser nocivo ou perigoso, mas também apresenta aspectos positivos: “como essencialidade do ser humano o trabalho permitiu o desenvolvimento e a transformação da humanidade; até nas condições mais precárias, o trabalho pode cumprir com essa essencialidade” (Betancourt, in Mendes, 2005.) “O desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais e emotivas surge ao realizar uma atividade, ao dominar um meio de trabalho determinado, ao relacionar-se com seus companheiros, ao transformar o objeto em produto, ao oferecer um serviço”, complementa Betancourt. (citado por Mendes, 2005) De igual maneira Mendes (2005), citando o mesmo autor, Betancourt, afirma que nas pessoas não existem somente manifestações que refletem problemas de saúde. Ao contrário, múltiplas qualidades, capacidades e valores do ser humano expressam-se no trabalho e na vida extra-laboral constituindo-se nas “manifestações positivas”. Assim, capacidade física para o trabalho, desenvolvimento muscular, níveis altos de rendimento cardiopulmonar, habilidades e destrezas, capacidade de realizar as atividades sem dificuldade são algumas das expressões positivas que se deve tomar em conta, para sua promoção. Para Couto (2007), o trabalho pode gerar tanto uma ótima saúde mental quanto um adoecimento mental, tendo criado um modelo para análise dos elementos que podem induzir ao estado de saúde ou doença. Esta visão aparentemente contraditória tem sentido quando se observa que a personalidade e as concepções de trabalho e de vida influem nesta direcionalidade. A personalidade do individuo também age sobre a possibilidade de aparecimento de sintomas físicos e mentais atribuídos ao stress. Em uma determinada situação, as pessoas podem agir de forma diferenciada, devido a características peculiares de suas personalidades (Oliveira, 2003). Oliveira, Vilma Beatriz Teixeira Croco de. Stress ocupacional em uma amostra de professores do ensino médio da rede particular de ensino. [Dissertação]. Orientadora Marta Vieira Vilela. Universidade Católica Dom Bosco. Campo Grande, 2003. Friedman MD & Rosenman, RH. The interview Method of Assessment of the Coronary-Prone Behavior Pattern.In: Personality, Elevated Blood Pressure, and Essential Hypertension. [S.i] Hemisphere Publishing Corporation, 1992. Fazendo um personalidades parêntese, proposta apresenta-se por Friedman abaixo e a categorização Rosenman (1992), de para complementar a assertiva de interação do perfil de personalidade e a propensão de causar adoecimento: a) O tipo A1 seria aquele mais propenso ao stress; compreende pessoas excessivamente impacientes, explosivas, apressadas, competitivas, ansiosas, perfeccionistas, que possuem uma maneira vigorosa de andar, falam com tom de voz alto e levam um ritmo celerado, geralmente com expressão de vigor e energia, têm sempre um aperto de mão firme, sentindo-se culpadas quando descansam ou relaxam. b) O tipo A2 é aquele individuo que por demandas externas adquiriu traços característicos do Tipo A1, demonstrando algum vigor e energia, porém sem excessos. O volume de sua voz pode variar de acordo com as situações, em algumas circunstâncias pode interromper uma conversa para fazer suas colocações, é explosivo em algumas circunstâncias, às vezes apresentando olhar e aperto de mão firmes e decididos. c) O tipo B refere-se a indivíduos que não sentem necessidade de impressionar terceiros, falam com voz suave, podem permanecer em silêncio por longos períodos de tempo, sendo capazes de trabalhar sem agitação, relaxam sem sentimento de culpa e não padecem de impaciência ou do senso de urgência, sendo assim, menos propensos ao stress. d) O tipo X não pode ser considerado um tipo puro de personalidade, pois apresenta igualmente características do Tipo A e do Tipo B. De acordo com Friedman e Rosenman (1992), cerca de 10% ou menos da população apresenta este tipo de personalidade. Continuando... Refere também Dejours (2004) que “trabalhar não é somente produzir; é também transformar a si mesmo e, no melhor dos casos, é uma ocasião oferecida à subjetividade para se testar, até mesmo para realizar-se”. DEJOURS, C. Avant-propos para a edição brasileira. In: LANCMAN, S.; SNELWAR, L. I. Christophe Dejours: Da psicopatologia à psicodinâmica do trabalho. Rio de Janeiro: Fiocruz; Brasília: Paralelo, 2000. SAVIANI, Dermeval. 2003. O choque teórico da politecnia. Trabalho, Educação e Saúde, v. 1, n. 1, p. 131-152. Para completar pode-se afirmar que uma série de aspectos, da situação de trabalho e extra trabalho, podem atuar no desencadeamento de adoecimento mental (e transtornos não psíquicos), tornando-se importante observar como estes vários aspectos se inter-relacionam. Para estabelecer se o trabalho adoece o que não é tarefa simples, uma vez que envolve história de vida e de trabalho, propugna-se fundamentalmente conhecer a descrição detalhada da situação de trabalho, quanto ao ambiente, à organização e à percepção da influência do trabalho no processo de adoecer. A seguir, procurar-se-á lançar alguma luz sobre estas questões, uma vez que, conforme Glina e Rocha (2000) alguns elementos funcionam como desencadeantes do processo de adoecimento psíquico no trabalho, e que serão objeto de discussão, quais sejam: a) O trabalho desprovido de significação ou não reconhecido; b) A falta de controle do tempo do trabalho (jornadas longas, turnos alternados ou noturnos etc.); c) A exigência de altos níveis de atenção e concentração para a realização das tarefas; d) As intoxicações ocupacionais (especialmente metais pesados e solventes); e) Os acidentes de trabalho e a falta de trabalho. GLINA, D. M. R.; ROCHA, L. E. Prevenção para a saúde mental no trabalho. Saúde mental no trabalho: desafios e soluções. São Paulo: VK, 2000. p. 53- 82 1.3 O TRABALHO NOCIVO OU PERIGOSO Restringindo-se, mesmo com limitações, ao aspecto do binômio saúde-doença mental, mesmo patente que o homem não é dicotômico, exceto quando o é assim tomado para fins de estudo, a sequência a seguir assim o fará para melhor entendimento da saúde física e da saúde mental. Em seu estudo sobre as “lesões por esforços repetitivos” (LER) ou ”distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho”, (DORT), Couto (2000) desenvolveu um modelo explicativo causal, o qual incorpora a interação dinâmica entre “fatores biomecânicos” e um grupo de quatro outras variáveis por ele identificadas como: “organismo tenso”, “predisposição individual”, “realidade social” e “eventos desencadeantes” (Mendes, in Mendes, 2005) implicados no adoecimento no trabalho. FALTA DESENHO DO MODELO EXPLICATIVO De forma análoga, Rocha e Ferreira (2000) também desenvolveram um modelo teórico de inter-relações entre o que denominam “fatores de risco” ocupacionais e os mecanismos etiopatogênicos e fisiopatológicos das formas mais freqüentes de manifestação clínica dor DORT/LER. Em seu modelo são listados “fatores macroconjunturais” (em nível de sociedade), “fatores macroestruturais” (em nível de empresa), “fatores microestruturais” (em nível de departamento) e “fatores individuais” (na forma de hábitos ligados ou não ao trabalho, psicoemocionais, antecedentes mórbidos, biológicos e de personalidade). Que se associam aos fenômenos de adoecimento por LER/DORT. Ainda, no Modelo (Rocha e Ferreira, 2000) são descritos os mecanismos etiopatogênicos (carga muscular estática, dinâmica e carga mental) e mecanismos fisiopatológicos (que irão se desenvolver se ocorre o que denominaram de “superação da capacidade de adaptação”). Pergunta Mendes: “o que são estas “outras variáveis” do modelo de Couto (2000) ou estes tantos “outros fatores” do modelo de Rocha e Ferreira Jr (2000) – principalmente os “fatores individuais” - senão determinantes da maior ou menor vulnerabilidade dos trabalhadores aos assim chamados ”fatores biomecânicos”, que por muito tempo serviram para explicar a origem das LER/DORT?” Ele mesmo responde: na verdade, estas observações feitas a propósito do problema de LER/DORT estendem-se a todos os problemas de patologia do trabalho. [grifo nosso]. Escapa aos objetivos do presente trabalho o aprofundamento das questões da vulnerabilidade enquanto conceito, tanto quanto do aprofundamento da discussão dos modelos em epigrafe citados, mas “as outras variáveis”, no dizer de Mendes, serão tratadas a posteriori quando da abordagem dos transtornos ou doenças mentais no trabalho ou dos “incômodos”, como já referidos. Cabe reforçar, por fim, que o ser humano não pode ser tomado como parte, ele interage, sofre influências de toda a ordem e, portanto, pode manter sua condição de saúde ou adoecer física e mentalmente. A ênfase será a do adoecimento mental e a da discussão de instrumentos de pesquisa de screening para abordar e atuar preventivamente em saúde mental na Organização, mas não se pode olvidar que há interação entre adoecimento mental e o osteomuscular, podendo o primeiro precipitar o segundo e vice versa, como já comprovado por pesquisadores. 1.4 A ORGANIZAÇAO DO TRABALHO E ADOECIMENTO Seligmann-Silva (in Mendes, 2005) afirma que “o trabalho representa uma importante instância na patogenia, do desencadeamento e na evolução de distúrbios psíquicos” E complementa que “o estudo das situações de trabalho oferece importantes elementos ao entendimento da constituição dos agravos mentais relacionados ao trabalho”. Estas situações são descritas pela autora como sendo as condições concretas do ambiente de trabalho em que o trabalho é executado e a organização do trabalho.[grifo nosso] As condições físicas químicas e biológicas vinculadas à execução do trabalho – há muito reconhecidas na vertente orgânica da patogenia de numerosas doenças – também interferem nos processos mentais e, portanto, nas dinâmicas relacionadas à saúde mental. Estas ações podem ocorrer quer pela via neuropsíquica, quer pela psicossocial e, com frequência, conjuntamente pelas duas vias. E ainda coloca Seligmann-Silva (2005) que ”os estudos em Saúde Mental no Trabalho tem encontrado na organização do trabalho a fonte preponderante dos agravos psíquicos relacionados com o trabalho” [grifo nosso] Mesmo óbvio o prejuízo individual, organizacional e social, documento da OIT (2000) em relação a doença mental, preceitua que os empregados sofrem desânimo, cansaço, ansiedade, estresse, perda de interesse e inclusive o desemprego, com o agravante, em alguns casos, do inevitável estigma que está associado a doença mental. O mesmo documento (OIT, 2000) diz que para os empregadores, os custos se traduzem em termos de baixa produtividade, diminuição de benefícios, altas taxas de rotatividade e maiores custos de seleção e formação de pessoal substituto. Para os governos, os custos incluem gastos com atenção sanitária, pagos por seguros e perda de renda em nível nacional (tradução livre). Dejours (1992) afirma que o trabalho nem sempre possibilita realização profissional. Pode, ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão. Para Abrahão, Torres & Costa (2004), o trabalho é o elemento fundamental da existência humana, podendo contribuir para o bem-estar ou, para a manifestação de sintomas que afetam a saúde. A organização do trabalho é considerada como mediadora desse processo. Quando o trabalho puder ser escolhido ou organizado de forma mais livre há minimização da vivência do conflito e ele se torna um espaço para descarga psíquica e alívio da tensão. No entanto, se o processo é cerceado há acúmulo de tensão, que pode ter repercussões sobre o corpo, e causar as chamadas reações somáticas (Dejours, Abdoucheli & Jayet, 1994). Dejours apud Jaques (2003) aponta que a repercussão do processo do trabalho sobre a saúde do trabalhador deriva tanto das condições de trabalho quanto da organização do trabalho. Os aspectos referentes às condições físicas, químicas e biológicas do ambiente de trabalho refletem no físico do trabalhador; os que dizem respeito à divisão técnica e social do trabalho, como hierarquia, controle, ritmo, estilo gerencial, repercutem sobre sua saúde psíquica causando-lhe sofrimento, doenças físicas e mentais. Pertinente se faz citar Mendes (2005) quando caracteriza “patogênese do trabalho” como o “estudo dos mecanismos de produção da doença, neste caso, das ‘doenças relacionadas com o trabalho’, ou seja, o estudo de como, de que modo o trabalho pode produzir doença ou sofrimento” Mendes (2005) coloca que “o estudo da patogênese do trabalho parte da patogênese geral, ou seja, do estudo dos mecanismos gerais de produção da doença. Uma vez adotado o conceito de “doença relacionada ao trabalho” e, por extensão, a classificação proposta por Richard Schilling, para caracterizar a natureza do nexo de causa e efeito entre doença e trabalho, percebe-se que a patogênese do trabalho poderia ser vista sob, pelo menos, três diferentes ângulos: 1. Patogênese do trabalho como estudo dos mecanismos de produção da doença “específica” do trabalho (Grupo I de Schilling), em que o trabalho é considerado causa necessária. Corresponde fundamentalmente à patogênese das “doenças profissionais”, senso estrito, mas cujos processos patológicos podem assemelhar-se muito a doenças tidas como comuns ou aparentemente “não-relacionadas com o trabalho”. São exemplos: a Intoxicação por chumbo, a silicose, a asbestose e doenças legalmente reconhecidas. 2. Patogênese do trabalho como estudo dos mecanismos de produção da doença “não específica” do trabalho (Grupo II de Schilling), em que o trabalho constitui um “fator de risco” contributivo ou aditivo, na etiologia multifatorial. Este grande grupo de “doenças relacionadas ao trabalho” são doenças aparentemente “comuns”, onde evidências epidemiológicas – mais do que clinicas – mostram ou um aumento da frequência, ou uma precocidade na incidência, ou um aumento na gravidade, ou a combinação de duas ou três destas características, em determinados grupos ocupacionais. Constituem exemplos: a doença coronariana, a hipertensão arterial, doenças do aparelho locomotor, câncer e varizes de membros inferiores. 3. Patogênese do trabalho como estudo dos mecanismos de produção da doença “não específica” do trabalho (Grupo III de Schilling), em que o trabalho pode desencadear ou agravar condições pré-existentes ou latentes. A compreensão dos mecanismos de produção, ou melhor, do desencadeamento e/ou agravamento da doença, tem uma importância duplamente relevante. De um lado, o estudo da patogênese do trabalho poderia ajudar a entender os mecanismos gerais de produção da doença (não relacionados ao trabalho); de outro, observações obtidas no estudo da patogênese geral poderiam, por analogia, ou por extensão, ser úteis para ampliar a compreensão da patogênese do trabalho e, por extensão prática, ser úteis à prevenção e ao manejo destas “doenças relacionadas com o trabalho”. São, portanto, interfaces, fronteiras ou territórios comuns que precisam ser mais bem conhecidas pela medicina do trabalho. Compõem exemplos: as doenças psíquicas, as dermatites de contato alérgicas, asma, bronquite crônica e as do sistema imune e endócrino. Entre os agravos específicos estão incluídas as doenças profissionais, para as quais se considera que o trabalho ou as condições em que ele é realizado constituem causa direta. A relação causal ou nexo causal é direto e imediato. A eliminação do agente causal, por medidas de controle ou substituição, pode assegurar a prevenção, ou seja, sua eliminação ou erradicação. Esse grupo de agravos, Schilling I, tem, também, uma conceituação legal no âmbito do SAT da Previdência Social e sua ocorrência deve ser notificada segundo regulamentação na esfera da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho (Ministério da Saúde do Brasil, 2001) Os outros dois grupos, Schilling II e III, são formados por doenças consideradas de etiologia múltipla, ou causadas por múltiplos fatores de risco. Nessas doenças comuns, o trabalho poderia ser entendido como um fator de risco, ou seja, um atributo ou uma exposição que está associada com uma probabilidade aumentada de ocorrência de uma doença, não necessariamente um fator causal (Last, 1995). Portanto, a caracterização etiológica ou nexo causal será essencialmente de natureza epidemiológica, seja pela observação de um excesso de freqüência em determinados grupos ocupacionais ou profissões, seja pela ampliação quantitativa ou qualitativa do espectro de determinantes causais, que podem ser mais bem conhecidos a partir do estudo dos ambientes e das condições de trabalho. A eliminação desses fatores de risco reduz a incidência ou modifica o curso evolutivo da doença ou agravo à saúde (Ministério da Saúde do Brasil, 2001) E é no campo “do grupo III de Schilling” que o presente trabalho, sem pretender elucidar as interfaces, fronteiras ou território, segundo Mendes, desenvolve-se para apresentar instrumentos que auxiliem a Medicina do Trabalho e as Organizações a fazer diagnóstico situacional e atuar de forma precoce para correção das disfunções no trabalho e evitar ou minimizar o adoecimento “relacionado ao trabalho”. De acordo, ainda, com Mendes (2005) a compreensão da patogênese do trabalho – estudo dos mecanismos de desenvolvimento da doença relacionada ao trabalho – tem como propósitos principais: Entender como se produz a doença para detectá-la o mais precocemente possível; [grifo nosso]. Entender como se produz a doença para tratá-la corretamente, se assim for possível [grifo nosso] e Entender como se produz a doença para prevenir sua ocorrência. [grifo nosso] Assim, de acordo com Mendes (2005), combinam-se, portanto, os propósitos da “prevenção primária” e da “prevenção secundária”, como se faz ou se deveria fazer na boa medicina do trabalho. Ao tratar dos principais mecanismos “de agressão” na patogênese do trabalho, Mendes (2005) faz a pergunta: como o trabalho pode tornar-se nocivo ou perigoso? Ou, o que torna o trabalho uma “carga”, uma causa de sofrimento ou uma causa de “desgaste” ou uma causa de doença ou mesmo de morte?. [grifo nosso] E responde: a) Da observação de que a natureza ou qualidade do trabalho pode ser intrinsecamente nociva ou perigosa. Em outros termos, existem processos de trabalho que são, per se, nocivos ou perigosos como: a) Meios de trabalho inadequados, desconfortáveis, nocivos ou perigosos (tecnologias, máquinas, ferramentas, veículos, postos de trabalho); b) Objetos de trabalho intrinsecamente nocivos ou perigosos (matéria prima tóxica, periculosa, explosiva); c) Ambientes de trabalho desconfortáveis, incômodo, nocivos ou perigosos (ruído, calor e frio excessivos, confinados, pouco iluminados); d) Condições de trabalho: fatores sociotécnicos e organizacionais do processo de produção (organização e conteúdo do trabalho, duração e configuração do tempo, sistema de remuneração, ergonomia, modo de gestão da força de trabalho, estilo de gestão, sistemas e níveis de hierarquia, serviços sociais e assistenciais para o bem estar). b) Surge da observação de que o trabalho pode induzir ou obrigar a que os que o realizam, façam-no em condições que se tornam adversas, nocivas ou perigosas, não necessariamente por sua natureza ou qualidade, mas por sua quantidade. Se excessivamente elevada (como exposição concentrações elevadas de substancias químicas, níveis elevados de pressão sonora, cargas físicas excessivas) causa dano à saúde; se excessivamente baixa ou insuficiente, (monotonia no trabalho, trabalho em ambientes confinados, com muito pouca luz) da mesma forma é danosa à saúde. A “dose” ou “quantidade” no sentido estrito. No campo da explicação da patogênese causada por “condições de risco” de natureza química, física ou biológica há associação entre “exposição” (ou “dose”) e “resposta” (ou “efeito”) expressa nas curvas de “dose-efeito” ou “dose-dependente”, tem como exemplos a toxicologia ocupacional, o ruído e agentes teratogênicos com “limites de tolerância permitidos”ou “limites de tolerância”, nem sempre seguros. Conceito ampliado de dose. Inúmeros processos de trabalho, não necessariamente nocivos ou perigosos em si, podem tornar-se prejudiciais à saúde. A intensidade dos gestos de trabalho ou da utilização dos meios de trabalho ou a duração das jornadas diária, semanais, mensais, anuais, ou seja, “carga de trabalho”, seja físico, mental e psíquico. Estas atividades tornam-se prejudiciais quando tiverem de ser feitas em determinada intensidade (ritmo e velocidade), ou por tempo demasiadamente longo, levando à fatigabilidade. A fadiga, numa dimensão fisiológica e localizada é denominada fadiga muscular, mas de forma ampliada é o de fadiga psíquica, fadiga nervosa, fadiga crônica ou, simplesmente de fadiga geral, cujas causas podem ser a monotonia, a intensidade e duração do trabalho físico ou mental, o meio ambiente (ruído, luz), causas mentais (responsabilidades, aborrecimentos e conflitos) e doenças e dor nutrição. O burnout (Síndrome de Esgotamento Profissional) entra nesse campo, e será tratado adiante em detalhes neste trabalho. c) Surge da observação de que a nocividade do trabalho pode não ser dele próprio, ou das atividades que o conformam, mas determinada ou agravada pela duração ou pela configuração do “tempo de trabalho”, entendido “tempo de trabalho” nas mais distintas acepções. “Duração” no sentido de tempo acumulado e “configuração” no sentido de sua distribuição. São exemplos: a duração da jornada diária, semanal; trabalho precoce; licenças remuneradas; trabalho noturno e em turnos; horas extras; idade máxima de permanência na atividade; pausas para recuperação de fadiga. d) Como extensão para o ambiente domiciliar ou familiar, para a comunidade circunvizinha, para o meio ambiente. São exemplos: a “exposição ocupacional indireta”, como tem ocorrido com asbesto, chumbo, mercúrio, agrotóxicos, radiação atômica. e) Observada quando criada ou agravada pela imposição econômica ou tecnológica de exercê-lo em condições ambientais especiais, artificiais ou desfavoráveis à vida humana. São exemplos: o trabalho em ambientes hipo ou hiperbáricos, em altas e baixas temperaturas, em altas velocidades, em ambiente confinado e artificialmente aclimatado. Sobre saúde mental e trabalho, Glina (2001) infere que os modelos de explicação das relações entre saúde mental e trabalho apresentam duas correntes principais, sobre as quais se delineia a discussão da saúde/transtorno/doença versus trabalho. São elas: a) A psicopatologia do trabalho – denominada psicodinâmica do trabalho a partir dos estudos efetuados por Dejours – e b) A que contempla os estudos que tratam da relação entre estresse e trabalho. Conforme Glina e Rocha (2000), o estresse não é uma doença, mas uma tentativa de adaptação e não está relacionado apenas ao trabalho, mas ao cotidiano de vida experimentado pelo sujeito. Ressaltam, no entanto, que a importância conferida ao trabalho se deve a sua relevância neste cotidiano, transformando-o em um dos principais fatores desencadeante do estresse. Ao analisar a inter-relação entre saúde mental e trabalho, Dejours (1986) acentua o papel da organização do trabalho no que tange aos efeitos negativos ou positivos que aquela possa exercer sobre o funcionamento psíquico e à vida mental do trabalhador. Do ponto de vista da Ergonomia, a análise da organização do trabalho deve levar em conta a organização do trabalho prescrita (formalizada pela empresa) e a organização do trabalho real (o modo operatório dos trabalhadores). Dejours (1999), assim, recoloca o tema confrontante entre trabalho prescrito e trabalho real, afirmando que “nenhuma empresa, pode evitar o grande problema da defasagem entre a organização do trabalho prescrito e a organização do trabalho real, seja qual for o grau de refinamento das prescrições e dos métodos de trabalho”. É impossível, numa situação real, prever tudo antecipadamente. Se todos os trabalhadores de uma empresa se esforçassem para cumprir à risca todas as instruções que lhes são dadas por seus superiores, não haveria produção. “Uma fábrica (...) só funciona quando os trabalhadores, por conta própria, (...) se antecipam, sem que lhes tenham explicitamente ordenado, a incidentes de toda a sorte. (...) o processo de trabalho só funciona quando os trabalhadores beneficiam a organização do trabalho com a mobilização de suas inteligências, individual e coletivamente, (...) que só é possível à margem dos procedimentos, cometendo infrações dos regulamentos e das ordens. (...) é preciso não apenas dar mostras de inteligência para suprimir a defasagem entre a organização do trabalho prescrita e a organização do trabalho real, mas também admitir que, (...) essa inteligência só pode ser usada semiclandestinamente” (Dejours, 1999). O trabalho prescrito nos é demonstrado através da observação direta de manuais, normas e requerimentos, além de contatos diretos com supervisores e chefias. Esta é a referência do trabalho, pois é seu objetivo original. Entretanto, para conhecer o trabalho real – aquele que é efetivamente realizado pelos trabalhadores –, é necessário conhecê-lo, enquanto é executado. É fundamental tornar claro, neste ponto de vista, que existem componentes fundamentais para as diferenças observadas entre o prescrito e o real: falta de conhecimento sobre o trabalhador e seu sistema de regulação em nível cognitivo e falta de estudos sobre a previsão e priorização de falhas nos sistemas prescritos que se deseja implantar. Nenhuma atividade pode ser considerada sempre igual. Constantemente, os trabalhadores estão concentrados para reduzir o índice mínimo de erros, como também vão tomando micro decisões, que buscam regular o sistema diante de realidades não prescritas. Da mesma forma, diante de um ritmo intenso de tarefas a serem executadas, o trabalhador vai impondo um limite à produção desenfreada, procurando manipular habilmente o fator tempo durante a jornada legal de trabalho (Freire, 1998; Silva, 1999) Segundo Dejours, o descompasso entre as duas favoreceria o aparecimento do sofrimento mental, uma vez que levaria o trabalhador à necessidade de transgredir para poder executar a tarefa Fala também o autor que trabalho também “é criação do novo, do inédito. Ajustar a organização prescrita do trabalho exige a disponibilidade da iniciativa, da inventividade, da criatividade (...)” (Dejours, 2004). A segunda corrente de análise dedicada à inter-relação saúde mental e trabalho é a que privilegia a relação entre estresse e trabalho. No âmbito desta vertente, observa-se a preocupação com a determinação dos fatores potencialmente estressantes em uma situação de trabalho. A situação saudável de trabalho seria a que permitisse o desenvolvimento do indivíduo, alternando exigências e períodos de repouso com o controle do trabalhador sobre o processo de trabalho. Dejours conceitua organização do trabalho como a divisão das tarefas e a divisão dos homens. Segundo Morrone e Mendes (2003) a divisão do trabalho ou divisão de tarefas compreende o modo operatório prescrito para a execução das tarefas: o conteúdo da tarefa; a divisão dos homens abrange a estrutura hierárquica, de comando, controle e de relação entre os membros das equipes de trabalho, as relações socioprofissionais. Dejours (1987), citado por Morrene e Mendes (2003), adotando o posicionamento de uma análise crítica, aponta como indicadores para organização do trabalho características atreladas às idéias concebidas pela Administração Científica do Trabalho, a qual estabelece como princípios: 1. O trabalho parcelar e fragmentado, decomposto em atividades específicas e simplificadas, 2. O controle do tempo de execução e dos movimentos fisicos dos trabalhadores, 3. O rigor na separação entre elaboração e execução do sistema produtivo, com a transferência da dimensão intelectual do trabalho para esferas gerenciais, e 4. A estrutura hierarquizada, em que a verticalização assinala uma forte disciplina. Nesta perspectiva, a divisão das tarefas foi abordada por características como a fragmentação das operações, a repetitividade, a monotonia, a incapacidade de gerar uma visão integrada da produção e de estabelecer sentido e significado ao trabalho. Por sua vez, a divisão dos homens foi considerada relativamente a características relacionadas com a verticalização das relações socioprofissionais: distanciamento e adoção de técnicas de disciplinamento próprias à exploração da força de trabalho pelas estruturas hierárquicas, e atomização do grupo de trabalhadores, pela homogeneização das condições de existência e conseqüente processo de personalização do grupo de trabalho (Morrone e Mendes, 2003) MORRONE, Carla Faria; MENDES, Ana Magnólia. A resignificação do sofrimento psíquico no trabalho informal. Rev. Psicol., Organ. Trab., Florianópolis, v. 3, n. 2, dez. 2003. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S198466572003000200005&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 jul. 2011. Dejours et al. (1994) acentuam o fato de que “a relação entre a organização do trabalho e o ser humano encontra-se em constante movimento” e de forma similar pode-se entender, segundo Uchoa e Vidal (1994), que a saúde e a doença não podem ser entendidas como sendo física ou mental, ou ainda como biológica ou psicossocial, afastando-se do dualismo cartesiano entre corpo e espírito, que tem sido precursor das concepções biomédicas do corpo humano. Assim, no desenvolvimento das concepções a seguir apresentadas, o conceito de organização do trabalho, fatores psicossociais, saúde e doença constituemse em conceitos multidimensionais, contrapondo-se à dicotomização cartesiana. Uchôa, Elizabeth and Vidal, Jean Michel. Antropologia médica: elementos conceituais e metodológicos para uma abordagem da saúde e da doença, Cad. Saúde Pública, vol. 10, n. 4, PP. 497-504, 1994. 2. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: ALGUMAS REFERÊNCIAS 2.1 AS REFERÊNCIAS DE MENDES De acordo com Mendes (Mendes, 2005), a Organização do Trabalho se concretiza a partir de decisões empresariais que são construídas e que decorrem de dois tipos de concepção ou representação mental: A concepção dos dirigentes que entendem e interpretam a Organização (Empresa), isto é, a Entidade em seu todo, da qual faz parte a organização do trabalho. Ou seja, qual o modelo que pauta os modos de administrá-la? Diferentes imagens podem ser podem ser captadas ou entendidas como “máquina” (sistema fechado) ou como “organismo” (sistema aberto, em intercâmbio com o ambiente) ou como “sistema político” (de dominação) ou como “cultura” (capaz de criar a realidade social) ou ainda outras. “Estruturas e modos de administrá-las corresponderão a estas visões”, segundo Morgan (1996). A concepção dominante na Organização a respeito do empregado, que certamente estará em correspondência àquela assumida pela Organização para si mesma. “Supõe-se um espécie de coerência: em uma máquina, há engrenagens e peças; em um organismo, unidades vivas (corpos estritamente biológicos); em uma cultura, valores (e desvalores – quando mutilam a integridade que corresponde à essência humana), que fundamentam concepções, sentimentos e ações” Os principais aspectos da Organização do Trabalho que interessam a Saúde Mental no Trabalho estarão segundo Mendes, 2005, “sempre relacionados com o modelo de trabalhador concebido pela empresa, o qual por sua vez corresponde ao modelo pelo qual ela é concebida, o modo como ela é visualizada por seus dirigentes”. Dentre os aspectos do trabalho que se tornaram categorias de análise para o entendimento da Organização do Trabalho e Saúde Mental no Trabalho são a estruturação hierárquica, o controle, a divisão das atividades, a estrutura temporal do trabalho, as relações intergrupais e interpessoais [grifo nosso]. 2.2 AS REFERÊNCIAS DE COUTO Couto define Organização do Trabalho como “todo o conjunto de ações feitas pelo gestor e pelos facilitadores para que a prescrição de trabalho (planos e metas) ditada pela direção da organização seja cumprida”. Pergunta Couto: O que é organizar o trabalho? Didaticamente responde “é tudo aquilo que se faz para que, na hora da produção de determinado bem ou na realização de determinado serviço, todos os componentes estejam presentes na medida adequada”. Os componentes a que se refere o autor envolvem a matéria prima, o equipamento, a tecnologia, a logística de movimentação tanto de matéria prima quanto do produto acabado e o trabalho humano, quando o mesmo existe. No quesito de trabalho humano, ou melhor, na quantidade de trabalho humano, há que se estabelecer a prescrição e que pode ser tolerado e bem desenvolvido. Este é o desafio da ergonomia: conhecer o ser humano, suas habilidades, suas potencialidades e limitações no trabalho e, assim, estabelecer, na organização do trabalho ou dos postos de trabalho, limites compatíveis com tal capacidade, pois o ser humano tem seu ponto ótimo de atuação e, se sobrecarregado, responderá de forma a provocar desgaste físico e ou mental. Conhecer o ser humano, suas habilidades, suas potencialidades e limitações no trabalho e, assim, estabelecer, na organização do trabalho ou dos postos de trabalho, limites compatíveis com tal capacidade é o desafio básico da Ergonomia. Como qualquer máquina, o ser humano tem seu ponto ótimo de atuação e, se sobrecarregado, sentirá o impacto da mesma e poderá se desgastar, conclui. Este desgaste potencialmente pode provocar transtornos de saúde que não guardam separação clara entre o adoecimento físico e mental, levando-se a afirmar que o que passar a existir é uma exuberância de sintomas mais para o lado da saúde/doença orgânica ou da saúde/transtorno mental. De todo o modo, o adoecimento deve proporcionar adoção de providências eficazes, seja em nível administrativo através das áreas de Recursos Humanos, na atuação para correção das disfunções organizacionais e ou da área de Medicina do Trabalho, na atuação no re-equilíbrio da saúde e na melhoria das condições de trabalho que impeçam o desencadeamento de novos casos e/ou agravamento dos existentes, privilegiando a aspecto da prevenção. Instrumentos de pesquisa pessoal/organizacional podem ser importantes para detecção de disfunções organizacionais, gerando dados para programar ações dos atores envolvidos. Couto (2007), enfatiza que um “problema ergonômico pode ser agravado por fatores de organização do trabalho, quando infere que “qualquer que se seja o negócio ou atividade, organiza-se o trabalho com “1T” e “7M”, expressos pelos iniciais dos termos Tecnologia, Máquinas, Manutenção, Matéria prima, Material, Método, Meio ambiente e Mão de obra”. Uma falha em qualquer um dos pontos (acima) pode acarretar sobrecarga ao trabalhador, “resultando em um problema de natureza ergonômica que não existiria caso a organização do trabalho estivesse correta” (Couto, 2007). Afirmou, ainda, que com enorme frequência as organizações adotam objetivos altamente desafiadores de forma pouco racional, sem considerar as condições para que eles sejam atingidos, também com consequente sobrecarga. Couto (20060 apresentou à comunidade científica uma ferramenta quantitativa denominada Método TOR-TOM que pretende fazer a “Avaliação Ergonômica e (da) Organização do Trabalho”, a qual estabelece parâmetros para a prescrição de trabalho considerando-se a capacidade e os limites do trabalhador, ou seja, trabalho em estreita relação com produtividade, conforto e segurança. Nesse instrumento, além da abordagem da Carga Física, especialmente em atividades laborativas envolvendo os membros superiores em trabalhos de exigência ergonômica, o autor considera o fator Carga Mental como parâmetro a ser avaliado e pontuado, atestando assim ser o fator carga mental um interveniente importante na Ergonomia, fator este presente “onde quer que processos de experiência e comportamento ocorram”. Couto (2007) discorre que “a carga mental deve ser distinguida da carga cognitiva do Trabalho: nesta última, ocorre a abrangência somente de aspectos cognitivos e informacionais, enquanto a carga mental, além dos aspectos cognitivos, há também aspectos psíquicos envolvidos”. A Carga Mental tratada no Manual de Avaliação Ergonômica e Organização do Trabalho, “Método TOR-TOM” (Couto e col, 2006) pode ser avaliada através de indicadores fisiológicos, questionários de auto-avaliação e atribuição de “tarefa sombra”. O questionário, objeto de estudo neste trabalho, denominado por Couto de “Roteiro para Entrevista Semi-estruturada para avaliação dos Fatores de Organização do Trabalho” tem o objetivo de levantar disfunções existentes na organização do trabalho. Em sua tese de doutoramento (2000), no capitulo (6) “Formulação de um Modelo de Origem das LER/DORT nas Organizações” (Couto, 2000), ao abordar a fragilidade do modelo biomecânico versus modelo multicausal na explicação do fenômeno LER/DORT para as organizações, textualmente diz que “adianta pouco falar de fatores de organização do trabalho, se não se identificar quais são eles; adianta pouco usar a visão dialética de se questionar as técnicas gerenciais instituídas (...) se não se determinar em que pontos aconteceu a sobrecarga; da mesma forma, adianta pouco falar da existência de fatores psicossociais (...) se eles não forem identificados”. [grifo nosso] No Modelo Causal de Origem das LER/DORT nas Organizações de Couto (2000) coloca como ponto nevrálgico a questão da racionalidade prescritiva e da racionalidade operatória como fulcro na origem de transtornos no trabalho decorrentes de sobrecarga física, cognitiva, mental e tensional. Por definição, conforme Couto (2000): a) A sobrecarga física ocorre quando a “intensidade do trabalho físico cobrada dos trabalhadores está acima do que é razoável suportar”. A Ergonomia tem conseguido definir os limites de atuação do ser humano, de modo a não desenvolver sobrecarga. b) A sobrecarga cognitiva ocorre quando “a carga de empenho intelectual que o individuo tem que usar na sua atividade está acima do considerado razoável”. A Ergonomia ainda não conseguiu determinar prescrições coletivas de limites pois há o interveniente denominado fator variabilidade individual, de difícil caracterização em termos de padronização. c) A sobrecarga mental ocorre quando “a intensidade ou a duração dos processos mentais, principalmente ligados à vigília e à atenção ultrapassam os limites normalmente conhecidos para o ser humano”. d) A sobrecarga tensional ocorre quando “a situação em que se exige da pessoa um nível de tensão excessivo”. No dizer de Couto “sua ocorrência é freqüentíssima nas organizações” citando como desencadeadores de tensão os prazos urgentes, muitos prazos, limites apertados de tempo, compromissos de entrega assumidos de forma apertada, critérios de produtividade forçados e velocidade dos processos produtivos; algumas vezes essa tensão é inerente ao processo do trabalho, (...) tal como ocorre com algumas profissões. Cabe como complemento, registrar a indagação de Couto (2000): “na existência de sobrecarga (física, cognitiva, mental ou tensional) o trabalhador necessariamente irá ficar fragilizado ou adoecer? E responde, categórico: “não, desde que existam mecanismos de regulação eficazes”. E completa: “assim, na presença de sobrecarga (...) e na inexistência ou ineficácia dos mecanismos de regulação, o individuo desenvolve alto nível de tensão por fatores do próprio trabalho, por fatores ligados à organização do trabalho, por fatores psicossociais no trabalho e finalmente, por fatores de contexto (relacionados ou não ao trabalho)”. Couto (2000), em breve complementação, apresenta os elementos intrínsecos citados a cada fator (ver parágrafo anterior): a) Tensão excessiva por fatores do próprio trabalho é representada pelo alto nível de cognição e trabalho de alta densidade. b) Tensão excessiva por fatores relacionados a disfunções na organização do trabalho é provocada por falta de pessoal, falta de material, encomenda extra, urgência e emergências, retrabalho, tempo padrão apertado, posição estrangulada, desrespeito aos limites ditados pela Engenharia e empirismo na velocidade da linha de produção. c) Tensão excessiva por fatores ligados à realidade psicossocial do ambiente de trabalho é decorrente de pressão desarrazoável de produção, sistema “espalha brasa”, relações humanas inadequadas, esquemas muito rígidos, chefia insegura ou incapaz, chefia não representativa dos interesses do pessoal da área, incoerências no trato de assuntos de pessoal, protecionismo e correlação inadequada entre capacidade-responsabilidade e salário. d) Fatores tensionadores relacionados ao contexto são derivados de desemprego estrutural, dificuldades pessoais em relação às exigências de subsistência e aspectos culturais de inadaptação. Comentários??? Finais. (PÁGINA 216 DE ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO) 2.3 AS REFERÊNCIAS DA NORMA REGULAMENTADORA 17 A abordagem da Organização do Trabalho, segundo a NR-17, inclui a análise ergonômica, em cujo escopo deve ser considerada a adaptabilidade das condições de trabalho ás características psicofisiológicas dos trabalhadores. Como condições de trabalho são citados os aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho [grifo nosso]. Assim, a organização do trabalho deve levar em consideração, de acordo com a citada norma legal, no mínimo: a) AS NORMAS DE PRODUÇÃO São todas as normas, escritas ou não, explícitas ou implícitas, que o trabalhador deve seguir para realizar a tarefa. Aqui se incluem desde o horário de trabalho (se diurno ou noturno, a duração e a freqüência dos intervalos ou pausas), a descrição da qualidade desejada do produto, passando pela utilização do mobiliário e dos equipamentos disponíveis. As normas têm de ser coerentes e a falta delas pode ser ansiogênica porque o trabalhador que tem de criar os modos de atingir os objetivos da tarefa. b) O MODO OPERATÓRIO O modo operatório, ou melhor, os modos operatórios variam de acordo com as modificações da matéria-prima, do estado dos equipamentos e das próprias condições psicofisiológicas dos trabalhadores. Ele designa as atividades ou operações que devem ser executadas para se atingir o resultado final desejado, o objetivo da tarefa. Ele pode ser prescrito (ditado pela empresa) ou real (o modo particular adotado pelo trabalhador para fazer face à variabilidade acima mencionada). Uma análise ergonômica coloca em evidência os vários modos operatórios possíveis (prescritos e reais). Uma organização do trabalho mais flexível é aquela que permite que os trabalhadores desenvolvam os modos operatórios mais adequados seja ao seu estado interno ou às peculiaridades da matériaprima ou das ferramentas. Só assim é possível que os trabalhadores integrem a variabilidade e atinjam os objetivos da tarefa. Aumentar os graus de liberdade significa permitir que haja vários modos operatórios possíveis e que possam ser adotados em situações diferentes (inclusive aquelas resultantes de variações do estado corporal). Concluindo, nem sempre se pode tudo prever. Mesmo as normas de qualidade podem não ser claras, assim como os meios de atingi-las, fato que leva o trabalhador a um estado constante de incerteza. Este estado pode ser agravado quando as exigências de qualidade se superpõem àquelas de quantidade. c) A EXIGÊNCIA DE TEMPO Expressa o quanto deve ser produzido em um determinado tempo Toda atividade humana se desenvolve dentro de um quadro temporal: em um momento dado (horários), durante um certo tempo (duração da jornada), com uma certa rapidez, em uma certa freqüência e com uma certa regularidade (velocidade, cadência, ritmo) (Daniellou et al., 1989). A capacidade produtiva (rendimento) de um mesmo indivíduo pode variar ao longo do tempo (ao longo de um mesmo dia, semana, mês, ano e ao longo dos anos = variação intra-individual), assim como variar entre um indivíduo e outro (variação inter-individual). Objetivos podem ser fixados, mas é imprescindível que haja margens de liberdade para que o trabalhador possa gerenciar seu tempo. É a única maneira de evitar que entre em esgotamento (físico) ou estresse emocional. A determinação do conteúdo de tempo A determinação do conteúdo do tempo permite evidenciar o quanto de tempo se gasta para realizar uma subtarefa ou cada uma das atividades necessárias à tarefa. Em análises ergonômicas, ela permite também reestruturar tarefas ou redesenhar o arranjo físico. d) O RITMO DE TRABALHO Há que se fazer uma distinção entre o ritmo e a cadência: enquanto a primeira tem um aspecto quantitativo, refere-se à velocidade dos movimentos que se repetem em uma dada unidade de tempo, enquanto o ritmo adquire um aspecto qualitativo, ou seja, é a maneira como as cadências são ajustadas ou arranjadas. O ritmo, assim, pode ser livre (quando o indivíduo tem autonomia para determinar sua própria cadência) ou imposto (por uma máquina, pela esteira da linha de montagem e até por incentivos à produção) . A distinção entre ritmo e cadência é importante para se avaliar a carga de trabalho. e) O CONTEÚDO DAS TAREFAS. O conteúdo das tarefas designa o modo como o trabalhador percebe as condições de seu trabalho: estimulante, socialmente importante, monótono ou aquém de suas capacidades. Pode ser estimulante se envolve uma certa criatividade, se há uma variedade de atividades, se há questões a se resolver e se elas solicitam o interesse do trabalhador. Mas é importante lembrar que nem sempre uma variedade muito grande de tarefas é necessariamente estimulante. A maior ou menor riqueza do conteúdo das tarefas passa também pela avaliação do trabalhador e depende das suas aspirações na vida, bem como, das suas motivações para o trabalho. 3. A PSICODINÂMICA DO TRABALHO, O SOFRIMENTO MENTAL E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Uma abordagem sobre o sofrimento psíquico quando do estudo do adoecimento mental no trabalho, sem fazer referências às contribuições, mesmo que superficiais, à denominada “Teoria Psicodinâmica do Trabalho”, do psiquiatra francês Christophe Dejours, torna-se mandatória. Brant & Minayo-Gomez (2004) descrevem em artigo original, que “as investigações no campo trabalho-saúde, inicialmente, obedeciam a um modelo teórico causal, com vista a encontrar evidências entre doenças mentais e trabalho. Essas observações, por sua vez, não trouxeram os resultados esperados pelos psicopatologistas: destacar e caracterizar a doença mental específica originária da organização do trabalho” (Dejours, 1994). E continuam afirmando que “diante do fracasso dos modelos teóricos da psicofisiologia pavloviana e da patologia do trabalho para demonstrar a correlação entre trabalho e doença mental, uma “nova psicopatologia do trabalho” começou a se delinear na França. Para o psiquiatra francês Dejours, um dos seus mentores, esse novo modelo foi possível a partir do momento em que a normalidade foi considerada “enigma”, tornando-se objeto de estudo (Brant & Minayo-Gomez, 2004). Para Rodrigues (2006) a normalidade é considerada um enigma na nova dinâmica da Psicopatologia do Trabalho, pois, a maioria dos trabalhadores não consegue preservar um equilíbrio psíquico e manter-se na normalidade, a exceção passou a ser a regra, ou seja, a regra hoje é o sofrimento e não a normalidade. A partir dessa constatação, as investigações na área da Psicopatologia do Trabalho centram-se, não mais na direção das doenças mentais, mas, nas estratégias elaboradas pelos trabalhadores para enfrentarem, mentalmente, a situação de trabalho. A partir desse novo paradigma, Dejours (1994) define a normalidade como o equilíbrio psíquico entre constrangimento do trabalho desestabilizante ou patogênico e defesas psíquicas. Naquela década de 80, Dejours concebia o sofrimento como a vivência subjetiva intermediária entre doença mental e o conforto (ou bem-estar) psíquico. Sob esse ângulo, o sofrimento implica, sobretudo, um estado de luta do sujeito contra as forças (ligadas à organização do trabalho) que o empurram em direção à doença mental. Segundo esta concepção, o sofrimento, até então representado como essencialmente negativo, favorecedor da doença, passou a adquirir uma nova significação que abarcava elementos patogênicos e criativos (Dejours, 1994). De acordo com os autores Brant & Minayo-Gomez (2004), o grande mérito de Dejours, ao considerar a significação e o sentido do sofrimento como dimensões essenciais no entendimento da relação saúde-trabalho, foi colocarse à escuta do trabalhador para compreender o que lhe ocorria. Assim, a fala do trabalhador passou a configurar um privilegiado instrumento de pesquisa e de intervenção (Uchida, 1996). Ao dar voz aos trabalhadores, constatou-se que, entre eles, a doença é geralmente associada à preguiça, vagabundagem ou malandragem. Diante da adversidade, esses trabalhadores tentam dominar a doença de alguma maneira. Partindo desse princípio, Dejours (1992) elaborou o conceito de “ideologia defensiva”, como construção social que possibilita dominar e tentar fazer desaparecer da consciência o sofrimento. É possível constatar, em maior ou menor grau, tanto na psicopatologia do trabalho quanto na psicodinâmica – que buscou investigar as defesas contra a doença – a existência de uma transformação do sofrimento em adoecimento. Segundo a teoria dejouriana, o adoecimento pode acontecer devido a uma “retenção da energia pulsional” por uma situação de trabalho que impede a descarga adequada da carga psíquica. A transformação do sofrimento em adoecimento pode ser compreendida através do longo percurso do “poder disciplinar” que foi aperfeiçoado como uma nova técnica de gestão dos homens. A partir do século 18, procurou-se investigar de que maneira os gestos são feitos, qual o mais eficaz, rápido e mais ajustado, conforme descrição de Foucault (1979). Na gestão do trabalho pós-industrial, a disciplina como técnica de exercício do poder tem por função não mais controlar os gestos e os corpos, mas o pensamento, a criação e as manifestações do sofrimento. Os mecanismos de gestão disciplinar do corpo, que exigiam uma acirrada vigilância de olhares sobre os trabalhadores, nas primeiras décadas do século XX, tornaram-se incompatíveis com a moderna organização. Na contemporaneidade, já não faz sentido que o indivíduo seja observado e cronometrado regularmente. No entanto, a necessidade de controlar parece exigir medidas disciplinares cada vez mais refinadas. A ênfase da proposta dejouriana recai no privilégio concedido ao estudo da normalidade sobre a patologia o que, inclusive, ensejou a substituição da expressão psocopatologia do trabalho por psicodinâmica do trabalho para minimizar a importância aos aspectos psicopatológicos (...) (Jacques, 2003). O campo da psicodinâmica do trabalho, conforme Dejours citado por Merlo (2002),é o campo do sofrimento e do conteúdo, da significação e das formas desse sofrimento no âmbito do infrapatológico ou do pré-patológico. [grifo nosso] Tem por referências os conceitos ergonômicos de trabalho prescrito e trabalho real, priorizando aspectos relacionados à organização do trabalho (como ritmo, jornada, hierarquia, responsabilidade, controle, (...). As intervenções propostas se voltam para a coletividade de trabalho (e não indivíduos isoladamente) e para aspectos da organização do trabalho a que os indivíduos estão submetidos. Introduz o conceito de “sofrimento psíquico (como) uma vivência subjetiva intermediária entre a doença mental descompensada e o conforto (ou bemestar) psíquico” (Dejours & Abdouchely, 1994) que suscita a utilização de “estratégias coletivamente”. defensivas, construídas, organizadas e gerenciadas Utiliza o conceito de sublimação como um instrumento de compreensão das situações de trabalho (MERLO, 2002). Jacques, Maria da Graça Corrêa. Abordagens teórico-metodológicas em saúde/doença mental & trabalho. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Psicologia & Sociedade; 15 (1): 97-116; jan./jun.2003 O sofrimento não se apresenta de uma maneira uníssona, no pensamento de Dejours (1993); eles estão associados a fatores históricos, laborativos e àqueles favoráveis ou não para a vida do trabalhador, relacionados à própria vida humana e ao trabalho. São discriminados como: a) Sofrimento singular (dimensão diacrônica): é herdado da história psíquica de cada indivíduo; b) Sofrimento atual (dimensão sincrônica): ocorre quando há o reencontro do sujeito com o trabalho; c) Sofrimento criativo: quando o sujeito produz soluções favoráveis para sua vida, especialmente, para sua saúde; e d) Sofrimento patogênico: é ao contrário do sofrimento criativo, ou seja, quando o indivíduo produz soluções desfavoráveis para sua vida e que estão relacionados à sua saúde RODRIGUES, Patrícia Ferreira, ALVARO, Alex Leandro Teixeira & RONDINA, Regina. Sofrimento no Trabalho na Visão de Dejours. Revista Científica Eletrônica De Psicologia – ISSN: 1806-0625. Editora FAEF. Ano IV – Número 7 – Novembro de 2006. A psicodinâmica do trabalho recusa as análises baseadas na previsão de causas de doenças a partir de determinadas ocupações. Alguns autores (Codo, 2004; Jaques, 2003; Vasques-Menezes, 2004 citados por Vasconcelos, 2008) discordam de Dejours quando afirma que não se poderia fazer relação direta entre uma ocupação profissional e o surgimento de uma doença. Na perspectiva de Codo (2004) alguns eventos aumentam a probabilidade de ocorrerem manifestações psicopatológicas. Além das condições de trabalho, as pesquisas também mostraram que pressões eram decorrentes da organização do trabalho (divisão das tarefas, repetição, cadência, hierarquia, comando, controle). Para Dejours (1992), as condições de trabalho têm como alvo o corpo, enquanto que a organização do trabalho atinge o funcionamento psíquico. [grifo nosso]. O Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde (Brasil, 2001) informa que os transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho são resultado de contextos de trabalho em interação com o corpo e o aparato psíquico dos trabalhadores e apresenta os contextos geradores de sofrimento: 1. A falta de trabalho ou a ameaça de perda de emprego; 2. O trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não reconhecido; 3. Situações de fracassos, acidente de trabalho ou mudança na posição hierárquica; 4. Ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea, manifestação de insatisfações e sugestões dos trabalhadores em relação à organização; 5. Fatores relacionados ao tempo, o ritmo e o turno de trabalho; 6. Jornadas longas de trabalho, ritmos intensos ou monótonos, submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas; 7. Pressão por produtividade; 9. Níveis altos de concentração somada com o nível de pressão exercido pela organização do trabalho e 10. A vivência de acidentes de trabalho traumáticos. A melhoria das condições de trabalho e da saúde ocupacional através do estudo da ergonomia, um estudo que críticos apresentam como utilizado pela Organização como defesa jurídica, é parcial, porque "a intervenção ergonômica não atinge a situação de trabalho em profundidade, pois, ela permanece aquém da organização do trabalho" (Dejours, 1992). Entretanto, Dejours (1992) afirma que não é simples prever os efeitos de uma "melhoria objetiva" das condições de trabalho e, por esse motivo, torna-se importante a escuta da "vivência subjetiva coletiva" dos trabalhadores. Ferreira e Mendes, citados por Barros e Mendes (2003) definem o sofrimento como uma vivência intensa e duradoura, na maioria das vezes inconsciente, de experiências dolorosas como angústia, medo e insegurança, oriundas do conflito entre necessidades de gratificação do indivíduo e restrição no ambiente de trabalho. O grande mérito de Dejours, ao considerar a significação e o sentido do sofrimento como dimensões essenciais no entendimento da relação saúdetrabalho, foi colocar-se à escuta do trabalhador para compreender o que lhe ocorria. Assim, a fala do trabalhador passou a configurar um privilegiado instrumento de pesquisa e de intervenção (Uchida, 1996). De acordo com Brant e Minayo-Gomes (2004) ao dar voz aos trabalhadores, constatou-se que, entre eles, a doença é geralmente associada à preguiça, vagabundagem ou malandragem. Diante da adversidade, esses trabalhadores tentam dominar a doença de alguma maneira. Partindo desse princípio, Dejours (1992) elaborou o conceito de “ideologia defensiva”, como construção social que possibilita dominar e tentar fazer desaparecer da consciência o sofrimento. ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DO SOFRIMENTO PSÍQUICO Faltar ao trabalho, de acordo com Santos, (2004) em decorrência do adoecimento não se constitui em alternativa reconhecida coletivamente. É cultivada no ambiente organizacional a ideologia de que a falta, por motivo de saúde, implica uma série de questões morais, como por exemplo, ser indolente, preguiçoso, vagabundo, não gostar de trabalhar. Nesse sentido, mesmo estando doente dentro de um nível de suportabilidade, a opção de alguns trabalhadores é por estar no posto de trabalho. A adversidade faz com que os trabalhadores criem alguns mecanismos coletivos de defesa. Um deles é sinalizado por Dejours (1992) como um sistema de ideologias defensivas que visam manter à distância o risco de afastamento do trabalho. As ideologias defensivas têm como objetivos: 1. Ter a função de conter, mascarar, ou ocultar uma ansiedade; 2. Funcionar como mecanismo de defesa elaborado por um gupo social particular especificamente; 3. Ser dirigida a um risco real a não intrapsíquico; 4. Ser operatória, devendo-se obter a participação de todos os interessados, e o que não contribui é excluído; 5. Ser funcional quando ditada de uma coerência que depende de certos arranjos relativamente rígidos frente à realidade; 6. Ter caráter vital, necessário e obrigatório porque substituem os mecanismos de defesas individuais, tornando-a coletiva. Dejours (1987) também salienta que, para os trabalhadores darem conta do prescrito, corresponder às expectativas da organização e não adoecerem, eles utilizam estratégias de enfrentamento contra o sofrimento, tais como conformismo, individualismo, negação de perigo, agressividade, passividade, entre outras. Dejours e col. (1994) definem as estratégias defensivas coletivas como o mecanismo pelo qual o trabalhador busca modificar, transformar e minimizar sua percepção da realidade que o faz sofrer. Esse processo é estritamente mental, pois geralmente não modifica a realidade de pressão patogênica imposta pela organização do trabalho. Para Mendes et al. (2003) as estratégias para enfrentar as pressões psicológicas do trabalho podem tornar-se um objetivo em si mesmo, o que leva o trabalhador a um processo de alienação, bloqueando qualquer tentativa de transformação da realidade, estabilizando-se no desencorajamento e na resignação diante de uma situação que só gera sofrimento. BARROS, Paloma Castro da Rocha; MENDES, Ana Magnólia Bezerra. Sofrimento psíquico no trabalho e estratégias defensivas dos operários terceirizados da construção civil. PsicoUSF, Itatiba, v. 8, n. 1, jun. 2003 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S141382712003000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 22 jul. 2011. Santos, Gideon Borges dos. A fênix renasce das cinzas: o que professores e professoras fazem para enfrentar as adversidades do cotidiano escolar. [Dissertação de Mestrado]. Orientador Miguel Angel Garcia Bordas. Universidade Federal da Bahia, 2004. Outra estratégia para enfrentar o sofrimento é a mobilização coletiva, que permite a transformação das situações geradoras de sofrimento em situações geradoras de prazer. Essa estratégia tem fundamento teórico nos estudos de Dejours (1994, 1999, 2000) sobre mobilização subjetiva, definida como um processo caracterizado pelo uso dos recursos psicológicos do trabalhador e pelo espaço público de discussões sobre o trabalho. A utilização desses recursos depende da dinâmica contribuição-retribuição simbólica que pressupõe o reconhecimento da competência do trabalhador pelos seus pares e pela hierarquia. A mobilização subjetiva permite a transformação do sofrimento a partir de uma operação simbólica: o resgate do sentido do trabalho. Este sentido depende de outro: do coletivo de trabalho. O coletivo é construído com base em regras que não são apenas técnicas, o que é denominado de coletivo de regras. Tais regras organizam as relações entre as pessoas e têm uma dimensão ética que remete à noção do que é justo ou injusto, não constituindo normas ou esquemas de regulação. Elas reportam-se também sobre os valores, pelo julgamento da estética e da beleza (qualidade) do trabalho. (Mendes et al., 2003) Dejours (1994) enfatiza dois elementos para a mobilização subjetiva: a inteligência astuciosa e a cooperação enquanto condições para o coletivo de trabalho. A inteligência ajuda o trabalhador a resistir ao que é prescrito. Com isso, ele adquire uma invenção própria e usa a sua capacidade de imaginação e desenvolve um saber fazer particular, mesmo que não domine a tecnologia. Para que se estabeleça essa cooperação, é necessário haver a discussão das competências dentro de um registro ético e de comunicação. Esse espaço decorre de uma conquista dos trabalhadores e passa pela formulação de uma consciência de classe, mas também pode ser facilitado pela empresa. Os trabalhadores mobilizam suas inteligências e recursos disponíveis na busca de soluções criativas para tornar a atividade desenvolvida prazerosa e, ao mesmo tempo, obter resultados positivos no exercício dessa atividade. Ou também se mobilizam no sentido de preservar sua integridade física e psíquica, endurecendo-se afetivamente, não se sensibilizando com os problemas surgidos no trabalho, não se sentindo responsáveis por eles, não se mobilizando em buscar soluções, mas se defendendo de um ambiente que o agride. Dejours vai referendar a primeira situação como sendo sofrimento criativo, ou seja, estratégias de enfrentamento para buscar satisfação na atividade realizada, e a segunda como sendo sofrimento patogênico, ou seja, estratégias de defesa para náo se desgastar poupando energia e náo se desestruturar física e psiquicamente. Nas palavras de Dejours (1996): “às vezes, em sua luta contra o sofrimento, o sujeito chega a elaborar soluções originais que (...) são, em geral, favoráveis simultaneamente à produção e à saúde: caracterizamos esse sofrimento denominando-o sofrimento criativo. Ao contrário, nessa luta contra o sofrimento, o sujeito pode chegar a soluções desfavoráveis à produção e desfavoráveis também à sua saúde. O sofrimento então qualificado como sofrimento patogênico. [grifos do autor]. Pode-se afirmar que as estratégias de defesa são positivas à medida que protegem o sujeito contra o sofrimento causado pelas situações de trabalho geradoras de conflito, mantendo assim o equilíbrio psíquico e evitando o adoecimento. Em contrapartida, essas defesas tornam-se negativas quando alienam o indivíduo, imobilizando-o (Barros e Mendes, 2003). Dejours (1996) fala também “de sofrimento no trabalho atravessado pela dimensão temporal e espacial”, entendendo que “as estratégias de enfrentamento às adversidades do contexto do trabalho não se resume ao próprio ambiente de trabalho; o individuo, a todo o tempo, seja no espaço doméstico, seja no espaço de lazer está arquitetando formas de elaboração dessas estratégias” (Santos, 2004). Mendes, A.M.; Paz, V.C. & Barros, P.C.R. Estratégias de enfrentamento do sofrimento no trabalho bancário. Revista de Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, v.3, n. 1, p. 59-72, 2003. No dizer de Santos (2004), quando os indivíduos criam estratégias de enfrentamento às adversidades, espera-se que seu esforço seja reconhecido socialmente. E finaliza, quando o reconhecimento não ocorre, instala-se um sofrimento psíquico que, ao longo do tempo, pode se tornar um fator de desgaste crônico, com conseqüências como decréscimo na motivação pela atividade realizada, ocasionando uma profunda crise de identidade profissional. 4. DISFUNÇÕES ORGANIZACIONAIS E FATORES PSICOSSOCIAIS NO ADOECIMENTO POR TRANSTORNOS OSTEOMUSCULARES Em estudos realizados em Empresas com altas taxas de ocorrência de LER/DORT, Couto (2000), em sua Tese de Doutorado afirmou que “quando se começou a estudar com mais profundidade as lesões de membros superiores relacionadas ao trabalho, pôde evidenciar a existência de fatores contributivos, seja de natureza pessoal, seja de natureza social ou organizacional”. Mendes (2005) já reconhecia “estas e outras variáveis” como fatores adjuvantes na ocorrência, epidêmica, diga-se, de LER/DORT. Nos denominados fatores pessoais Couto (2000) cita uma série de estudos de autores onde fatores de natureza física, pessoal, social, e outros problemas de saúde geral, redução de força e baixo limiar de aptidão, além de condições de gênero, que estão relacionados com o desenvolvimento de lesões osteomusculares. Na questão da personalidade, e sua propensão para as lesões, é enfático: “não há entre os estudiosos do assunto qualquer dúvida de que algumas características de personalidade influenciam positivamente no aparecimento de lesões (personalidade tensa, senso de ampla responsabilidade sobre tudo, insegurança) e que outros fatores, ao contrário, podem contribuir para tornar a pessoa mais calma e, assim, diminuir a propensão para as lesões” Como fatores de organização do trabalho, o autor cita como importantes a falta de variedade das tarefas, a ausência de pausas (tempo de recuperação de fadiga, seu termo correlato mais adequado e atual), e a velocidade do trabalho como envolvidos na ocorrência de adoecimento. Destaca ainda o autor que há evidências de que fatores psicossociais estejam implicados no desencadeamento das lesões, como a pressão no trabalho (“não há dúvida da relação entre este fator e a ocorrência de lesões”) e falta de autonomia. Considerações sumárias são encontradas abaixo acerca da temática, sob o prisma da organização do trabalho e fatores psicossociais nos casos estudados por Couto em 2000 e comentados em livro publicado posteriormente (Couto, 2007). CASO 1: DA FÁBRICA DE COMPONENTES PARA REFRIGERADORES. Couto (2000) realizou estudo em duas fábricas de um mesmo parque fabril, que produziam um mesmo componente para refrigeradores, a segunda construída para expansão da produção com vistas a para fazer frente ao aumento de demanda do produto no mercado mundial. Esta segunda (nova) fábrica apresentou alta incidência de LER/DORT. Na contratação de pessoal a preferência pela escolaridade mais elevada foi adotada com a finalidade de integrar estes trabalhadores ao sistema de trabalho denominado “célula energizada”, na qual cada trabalhador seria responsável por um aspecto do trabalho e o time teria a responsabilidade pelo todo. O perfil ainda incluía habilidade para manufatura multifuncional, para funções de controle agregadas pelo operador, capacidade para autogerencimento, senso de propriedade sobre a atividade e o trabalho em equipe. Os novos trabalhadores passavam também por um treinamento prévio (teórico e prático) na fábrica antiga, por seis meses. No estudo de caso, o pesquisador utilizou o check-list proposto por Couto (1996), de dados secundários, entrevistas com trabalhadores e questionários de Krausz e Cooper. Fatores de natureza biomecânica Análises biomecânicas dos postos de trabalho das duas fábricas mostraram dois terços dos postos com risco significativo de acordo com o check-list. Couto à época afirmou que “a incidência diferente na ocorrência de queixas de LER/DORT entre as duas não deve ter sido devida a diferenças biomecânicas entre elas”. Análise dos Fatores de Organização do Trabalho A produtividade na fábrica de baixa incidência de LER/DORT era significativamente maior que na nova fábrica. A baixa produtividade na nova fábrica, associada ao incremento no processo de retrabalho, resultando “em tensão e em excesso de horas extras”, foi fator importante na gênese da epidemia de adoecimento, segundo Couto, Couto cita as razões da realidade em relação à organização do trabalho, que de forma indiscutível teve implicação direta no adoecimento: a) População nova para o tipo de função; pouco treinada e de pouca experiência, com alta incidência de erros e retrabalho; b) Baixa produtividade, própria de trabalhadores pouco acostumados ao processo produtivo; c) Aumento da produção e recuperação da produção não efetivada anteriormente ocorreu à custa do aumento de horas extras; d) Presença de fator biomecânico desfavorável em mais de 2/3 dos postos de trabalho nas duas áreas estavam presentes, como fator sinérgico no desenvolvimento de LER/DORT. e) Ocorrência de “fator carga extra de trabalho” como papel prevalente na precipitação das queixas (de LER/DORT). Os dados secundários confirmaram “dificuldades operacionais” na área de alta incidência de LER/DORT traduzidos por baixos índices de produtividade individual e alto índice de retrabalho comparativamente à fábrica de baixa incidência de adoecimento. Uma população trabalhadora nova para o tipo de função, de pouca experiência e tendo que fazer a produção prevista, teve alta taxa de erros e de retrabalho, que associadas à baixa produtividade e às tentativas de aumento e recuperação da produção à custa de horas extras, foram fatores determinantes, de natureza organizacional, na explicação da alta incidência de LER/DORT na nova fábrica. Com fator biomecânico desfavorável a carga extra de trabalho teve papel adicional preponderante na ocorrência de queixas, conclui Couto. Análise dos Fatores de Natureza Psicossocial No estudo dos fatores de natureza psicossocial, Couto verificou que “apesar da satisfação prevalente nas áreas, um pouco menor, é verdade, na área de alta incidência de acometimento de LER/DORT, a insatisfação com o estilo da supervisão atingiu patamares superiores a 1/3 do total, juntamente com alto grau de tensão provocado pelo estabelecimento de metas de produção sem um estudo capaz de suportar o aumento de ritmo implantado na área de incidência elevada”. Em relação ao papel dos fatores psicossociais na origem de alta incidência de LER/DORT, COUTO descreve: a) Trabalhadores de pouca experiência com área industrial e com alto nível de expectativa com trabalho em célula de grande autonomia; b) Nível de escolaridade alto para atividades que exigiam habilidade fina em trabalho repetitivo e manual, associado ao não esclarecimento quanto ao tipo de trabalho, gerando frustração. c) Preparo insuficiente com a autonomia e ter de cumprir produção, os trabalhadores tiveram baixa produtividade, muitos erros e retrabalho; d) Na falha da proposta inicial (células com autonomia e baixa produção) adotou-se a volta do sistema tradicional de supervisão direta da produção; e) Frustração dos trabalhadores causando ressentimentos quanto forma de tratamento dispensado no modelo gerencial tradicional. Comentários. O grau de expectativa de vida, nível de escolaridade compatível com as reais exigências do trabalho, treinamento eficaz para trabalhar em sistemas baseados em autonomia de grupo, experiências mal sucedidas de repercussões negativas e retrocesso na proposta (inicial) de trabalho enriquecido são elementos que potencialmente levam a frustração. “Tenso, o organismo tornou-se mais propenso para as lesões, que eram favorecidas pelas condições ergonomicamente desfavoráveis da área de trabalho”, escreve Couto. Ademais, a relação entre frustrações e lesões (...) é conhecida da fisiopatologia das doenças psicossomáticas (Schindler, citado por Couto, 2000) e tais eventos podem ter desempenhado papel adicional no desencadeamento das queixas álgicas. CASO 2: DA FÁBRICA DE PRODUTO INTERMEDIÁRIO DE MANUFATURADO O caso se reporta a produção do componente em uma fábrica, posteriormente desativada, cuja produção foi transferida para outra, em cidade distinta. Na primeira a incidência de LER/DORT era baixa, e na segunda alta, com o mesmo tipo de trabalho, as mesmas máquinas e idênticos postos de trabalho aos da unidade de origem. Na pesquisa foram utilizadas análises dos postos de trabalho, análise dos movimentos dos membros superiores, eletromiografia de superfície, entrevistas com trabalhadores e chefias e aplicação de questionários de Krausz e Cooper. Análise dos Fatores de Organização do Trabalho Os problemas detectados por COUTO (2000), na perspectiva da organização do trabalho, estão relacionados abaixo: a) Subestimação da complexidade do processo produtivo; b) A gerência da nova unidade carecia de experiência com esse tipo de produto; c) Intervalo de tempo escasso para adquirir conhecimento de como era feito o trabalho; d) Supervisor de área com alta qualificação técnica, mas sem experiência de chefia de pessoas; e) Pouco tempo de contato com a fábrica “antiga” com subestimação da complexidade do processo; A responsabilidade pelo treinamento foi de profissional contratado na cidade onde se instalou a “nova” fábrica, sem critérios definidos para seleção, não tendo sidos aplicados testes de aptidão psicomotora e sem implantação de processo de treinamento tipo “assistido”. Comentários. Acerca do processo de (não) treinamento, a fala de um trabalhador, citada por Couto (2000) é auto-explicativa para o fato do significado de “sutileza do treinamento”: “É interessante, quando você vai ensinar a alguém; senta-se junto do trabalhador, é diferente de uma pessoa que vem dar aula e vai embora; não é simplesmente pegar o método e passar; todas as dificuldades precisam ser acompanhadas; todo e qualquer erro que aconteça durante a produção tem que ser solucionado no começo; depois fica mais difícil corrigir; é necessário conhecer profundamente cada detalhe do método e corrigir se estiver fazendo errado”. O autor relaciona os fatores da organização do trabalho que se traduziram em altos índices de adoecimento: a) Transferiu-se a unidade de produção sem considerar adequadamente a necessidade de treinamento técnico do pessoal em tarefas de alta exigência psicomotora; b) Desenvolveu-se alto nível de tensão entre os operadores, potencializada pelas chefias por não possuírem respostas técnicas da falta de qualidade do produto; c) Originou-se alto nível de tensão (de fatores psicossociais) relacionado à cobrança de resultados. Análise de Fatores de Natureza Psicossocial O encaminhamento administrativo na transferência da unidade fabril provocou problemas operacionais que fluíram para a alta exigência psíquica e tensão. Problemas operacionais geraram tensão de relacionamento e queda da motivação, conforme Couto, pelos seguintes fatores: a) O relacionamento entre as pessoas era visto de forma predominantemente apoiadora e aberta por menos da metade dos operadores da unidade de alta incidência de adoecimento; b) A comunicação descrita como satisfatória e boa foi indicada por menos de um terço dos operadores da unidade problemática; c) O estilo de liderança visto como consultivo e participativo era percebido por menos da metade dos operadores, sendo que as decisões eram percebidas como desordenadas e centralizadas; d) O clima na unidade de alta incidência de LER/DORT era percebido pelos operadores como caótico, sentindo-se insegurança, insatisfação e baixo grau de motivação (pouco mais de um terço o considerava “não existente” ou “baixo”) Comentários. “Os problemas de organização do trabalho e os consequentes maus resultados, no entanto, foram deteriorando o ambiente psicossocial. É muito difícil manter o equilíbrio emocional inclusive para pensar quando se está premido pelos resultados e pela cobrança superior” A pressão forte e desordenada para obtenção de resultados, como consequência dos problemas de organização do trabalho, instalou um ciclo vicioso da pressão pelo resultado-tensão-incapacidade-mais pressão, reforçado ainda mais pelo sentimento de fracasso (muito rejeito, pouca produção), pelo tempo “estrangulado” em certas funções e pela sobrecarga causada por falta de pessoal (demissões, afastamento por doença). Comentário: Há necessidade de reflexão sob o ponto de vista da organização do trabalho, especialmente sobre a condição técnica e humana para a obtenção de resultados, considerados a exigências de trabalho, capacitação, treinamento, tempo, cronograma, prazos, padrão de qualidade. O nível de tensão excessivo, originando sobrecarga, tem sido relacionado a ocorrência de queixas dolorosas e que prejudica os movimentos; O ciclo “pressão pelo resultado-tensão-incapacidade-mais pressão” pode desencadear sintomas clássicos de estresse e fadiga, e também, e mais comumente, entre os operadores na alta incidência de queixas de dor em membros superiores, potencializada (a dor) pelo “fenômeno tensão no trabalho” e em decorrência de “estados de ansiedade”. CASO 3: LOJAS DE HIPERMERCADO O estudo teve como objetivo avaliar “um número crescente de queixas de dores em membros superiores entre operadores de caixas, em geral diagnosticadas como tendinites e tenossinovites” em duas lojas de uma mesma rede de hipermercado, sendo uma de baixa e outra de alta incidência de LER/DORT. O aumento exponencial dos casos, além do comprometimento da saúde dos funcionários, causou problemas de gerenciamento administrativo devido aos afastamentos e aproveitamento dos trabalhadores adoecidos em atividades de menor sobrecarga, porém este recurso chegou a seu limite por não existir funções compatíveis com mais novas ocorrências. Para o estudo foram utilizados os seguintes recursos: reuniões, entrevistas semi-estruturadas, pesquisa de dados secundários, questionários de Krausz e Cooper, análise biomecânica dos postos de trabalho e entrevista com os profissionais de medicina ocupacional. Exigências físicas e psíquicas, além de exigências psicológicas próprias da função, estavam presentes. Como exigências físicas podem ser nomeadas: a) Fator repetitividade (que pode ser agravado por fatores biomecânicos), b) Força excessiva (manuseio de produtos muito pesados), c) Postura incorreta (precipitada pelo mobiliário), d) Jornada de trabalho prolongada (nos turnos de fechamento da loja), e) Multiplicidade de funções (pesagem e embalagem de produtos). Como exigências psicológicas inerentes encontradas, citam-se: a) Lidar com numerário (diferenças de caixa), b) Lidar com produtos de pesagem no caixa (digitação de códigos), c) Lidar com pessoas (clientes desarrazoáveis, d) Conduta preconizada desautorizada pelo supervisor, e) Lidar com problemas na passagem das compras (falha de sistema, produto fora das especificações). Couto ainda apresenta as exigências psicológicas, chamadas pelo autor de desnecessárias, como: a) Critérios de produtividade apertados, b) Número insuficiente de pessoal e tensão entre pessoal e chefias, por diversos motivos. Os postos de trabalho, nas duas lojas eram de concepção uniforme como reprodutividade de um padrão da própria rede. Assim, as exigências ergonômicas eram similares. Análise dos Fatores de Organização do Trabalho Estes fatores foram estudados a partir de dados secundários e demonstraram: a) Ser a carga de trabalho fator importante na gênese de novos casos, uma vez que “aconteceu uma correlação linear entre o número de registros (de itens) por dia e o número de queixas” com coeficiente de correlação (r de Pearson) de 0,72 e grau de certeza de 99% (p<0,01) (ver item d, abaixo); b) A prática de horas extras. No caso em comento este fato não foi considerado determinante de sobrecarga. Segundo Couto (2000) “considera-se, empiricamente, que a execução de mais de 8 horas extras por mês é um indicativo de sobrecarga”; c) Que o horário de trabalho e a “revisão de horário” projetado “de cima para baixo” para adequar o pessoal de atendimento de “frente de loja” às necessidades da demanda, com redução de efetivo foi fator contributivo para a sobrecarga funcional (visando a eliminação de filas e não prevendo pausas para necessidades pessoais; d) Controle individual de produtividade baseado no número de ações por unidade de tempo, sem o devido tempo de recuperação de fadiga foi etiologicamente elemento criador de tensão, uma vez que este controle não era tomado como indicador, mas como um objetivo em si, além de ser usado como parâmetro para demissão. Análise dos Fatores de Natureza Psicossocial As pessoas da loja de baixa incidência de transtornos osteomusculares tinham visão da realidade psicossocial muito melhor que as da loja de alta incidência, exceto nos aspectos canais de comunicação e tomada de decisão, conforme questionário de Krausz. Os demais aspectos correspondem à relação entre pessoas, padrões de relacionamento, relações entre grupos, comunicação, estilos de liderança, planejamento, solução de problemas, trabalho em equipe, clima de área de trabalho e motivação, que como citado eram vistos de forma mais negativa na loja onde havia alta incidência de LER/DORT. Quanto ao fator satisfação no trabalho, em síntese, havia baixo índice de respostas indicando satisfação com o trabalho, além de predomínio de aspectos relacionados à realidade psicossocial para a loja de alta incidência de LER/DORT. Comentários. A loja de alta incidência de LER/DORT tinha mobiliário biomecanicamente pior que a da outra loja, como fator contributivo negativo. Este fator, associado à redução de pessoal, pressão para vendas e para qualidade de atendimento, faturamento, controle de produtividade e afastamentos pelo INSS aumentavam a sobrecarga funcional. Na de baixa incidência, mais nova e sem a redução de pessoal, como ocorrido na outra loja, boa parte da pressão para cobrança de produtividade era amortecida pela gerência. Há que se dizer que a produtuvidade, mesmo com o amortecimento da pressão pela chefia, era a mais alta das cinco unidades da rede. Apesar da avaliação predominantemente de insatisfação com a avaliação de seus esforços, o grau de motivação, a cobrança, as oportunidades oferecidas para atingir aspirações, o volume de trabalho e de muita insatisfação com o salário, mostrava-se muito satisfeitos com o relacionamento com outras pessoas e com a estrutura organizacional da loja. [grifo nosso]. A GUISA DE CONCLUSÃO Os estudos em epigrafe, demonstram que o adoecimento é multicausal, que envolve os aspectos físico e mental, de forma inter-relacional, que o ambiente e a organização do trabalho, em especial, que os fatores psicossociais e que fatores de ordem individual são desencadeadores de transtornos de saúde quando disfuncionais. 5. DESCRIÇÃO DE ALGUNS TRANSTORNOS MENTAIS DE OCORRÊNCIA NO TRABALHO. 5.1 TRANSTORNO DEPRESSIVO NO TRABALHO “Da mesma forma que a repressão sexual no início do século passado levou Freud a dar voz (e escuta) à histeria, a paranóia ficou marcada como o transtorno pós-guerra e, agora, a depressão aparece como o sintoma da contemporaneidade, caracterizada pela rápida e fulminante desestabilização dos modos de viver, incluindo os modos de trabalhar”, é o modo como Ramminger (2002) posiciona a doença depressiva num sequencial de eventos históricos relacionados à saúde mental. O conceito leigo de depressão pode ser descrito como um conjunto de condições associadas à tristeza que afetam significativamente a vida das pessoas acometidas (Teng & Cezar, 2010). Dessa forma, abrange uma vasta gama de apresentações que devem ser avaliadas em seu contexto biopsicossocial (Patten et al., 2009), podendo variar como uma condição de tristeza leve e transitória associada a algum fator estressor, desde, por exemplo, uma pequena frustração profissional ou sentimental até os quadros gravemente incapacitantes e de alto risco de morbidade e ou mortalidade por suicídio. Apesar dos enormes avanços científicos que abrangem estudos genéticos, neurobiológicos, psicossociais, sociológicos, econômicos e terapêuticos, os transtornos depressivos ainda são um desafio para a Psiquiatria e a Medicina, gerando um grande ônus para a sociedade e para os indivíduos afetados (Teng & Cezar, 2010). Isso ocorre por perda de dias de trabalho e queda na produtividade (Kessler et al., 2003 Stewart et al., 2003), na piora da qualidade de vida (Murray e Lopez, 1997), além do grave sofrimento psíquico e físico que pode levar à má evolução de doenças clínicas concomitantes (Moussavi et al., 2007 Teng et al., 2005) e até a morte por suicídio (Teng et al., 2005). Todas essas consequências têm suas dimensões ampliadas pela alta prevalência da depressão, que acomete em média 16% da população em alguma fase da vida (Waraich et al., 2004). É unanimidade que a depressão é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. No Brasil, a depressão está associada a mais dias perdidos de trabalho (Simon et al., 2002), pior funcionamento no trabalho (Fleck et al., 2002) e é a maior causa de afastamento do trabalho. Os critérios diagnósticos mais comumente empregados são os descritos no Código Internacional de Doenças (CID-10) (OMS, 2003), definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o sistema diagnóstico do DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV-TR, 2003). De acordo com a CID-10, tem-se: a) Em nível de episódios, tem-se o “Episódio Depressivo”, assim definido: “Nos episódios típicos de cada um dos três graus de depressão: leve, moderado ou grave, o paciente apresenta um rebaixamento do humor, redução da energia e diminuição da atividade. Existe alteração da capacidade de experimentar o prazer, perda de interesse, diminuição da capacidade de concentração, associadas em geral à fadiga importante, mesmo após um esforço mínimo. Observam-se em geral problemas do sono e diminuição do apetite. Existe quase sempre uma diminuição da auto-estima e da autoconfiança e freqüentemente idéias de culpabilidade e ou de indignidade, mesmo nas formas leves. O humor depressivo varia pouco de dia para dia ou segundo as circunstâncias e pode se acompanhar de sintomas ditos “somáticos”, por exemplo perda de interesse ou prazer, despertar matinal precoce, várias horas antes da hora habitual de despertar, agravamento matinal da depressão, lentidão psicomotora importante, agitação, perda de apetite, perda de peso e perda da libido. O número e a gravidade dos sintomas permitem determinar três graus de um episódio depressivo: leve, moderado e grave” CID_10, XXXX) b) Em nível de transtornos, tem-se o “Transtorno Depressivo Recorrente”assim definido: “Transtorno caracterizado pela ocorrência repetida de episódios depressivos correspondentes à descrição de um episódio depressivo na ausência de todo antecedente de episódios independentes de exaltação de humor e de aumento de energia (mania). O transtorno pode, contudo, comportar breves episódios caracterizados por um ligeiro aumento de humor e da atividade (hipomania), sucedendo imediatamente a um episódio depressivo, e por vezes precipitados por um tratamento antidepressivo. As formas mais graves do transtorno depressivo recorrente apresentam numerosos pontos comuns com os conceitos anteriores da depressão maníaco-depressiva, melancolia, depressão vital e depressão endógena. O primeiro episódio pode ocorrer em qualquer idade, da infância à senilidade, sendo que o início pode ser agudo ou insidioso e a duração variável de algumas semanas a alguns meses. O risco de ocorrência de um episódio maníaco não pode jamais ser completamente descartado em um paciente com um transtorno depressivo recorrente, qualquer que seja o número de episódios depressivos apresentados. Em caso de ocorrência de um episódio maníaco, o diagnóstico deve ser alterado pelo de transtorno afetivo bipolar” (CID-10, XXXX). A Organização Mundial da Saúde já sinalizava em 1996 que a depressão seria a principal causa de perda de trabalho no mundo, projetando que, antes do ano de 2020, ela aparecerá como a principal causa da incapacitação de trabalhadores para o trabalho (Harnois, 1996). Os trabalhadores, de modo geral, são submetidos a uma série de fatores de risco ocupacionais. Rocha (2003 apud Mendes; Cruz, 2004) destaca que frustrações e experiências angustiantes vividas no trabalho podem desencadear, dentre outros, sintomas depressivos. Seligmann-Silva (1995) descreve que as síndromes depressivas podem ter sua patogenia, desencadeamento e evolução nitidamente associados às vivências do trabalho, podendo a depressão manifestar-se em quadros agudos ou crônicos típicos (tristeza, vivências de perda ou fracasso e falta de esperança). No entanto, os quadros depressivos associados ao trabalho muitas vezes não são típicos; revelam-se de forma mais sutil, apresentando como principal manifestação o desânimo diante da vida e do futuro. Com base no referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho de Dejours (1992), aponta-se que quadros de depressão ocupacional tendem a estar associados com a percepção do trabalhador de que ele não tem o reconhecimento de pessoas ou grupos que integram suas relações sócioprofissionais, fenômeno que gera ambiguidade psicológica, pois o trabalho não se mostra mais como possibilidade de realizar seus desejos e de ser referendado por colegas e superiores. Oportuno citar Evans (1996), quando afirma que “uma tendência social muito marcante é a busca da autonomia. As pessoas querem se sentir independentes, autônomas; querem ter o controle de suas vidas, distanciandose do poder impessoal, que representa autoridade”. O Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (BRASIL, 2001) aponta “fatores de risco de natureza ocupacional conhecida” para a depressão. Entre eles aparecem decepções sucessivas em situações de trabalho frustrantes, as perdas acumuladas ao longo de anos de trabalho, perda do posto de trabalho e demissão. Entretanto, alguns episódios depressivos estão associados à exposição ocupacional a certas substâncias químicas, como por exemplo solventes orgânicos neurotóxicos, o que não constitui como tema de abordagem do presente trabalho, mas que devem ser considerados no momento do atendimento médico assistencial ou ocupacional como diagnóstico diferencial do episódio ou transtorno possivelmente associado a disfunções da organizacionais ou psicossociais. Para Mendes e Cruz (2004) a depressão ocupacional atesta a ineficácia das possíveis mediações utilizadas pelo trabalhador para se conservar saudável e afugentar o adoecimento no trabalho. Isso se dá por tais mediações dependerem mais das condições objetivas de trabalho do que de características individuais do perfil psicológico de cada trabalhador. Essas condições, portanto, impossibilita, muitas vezes, a subjetivação dos indivíduos e do coletivo, a realização profissional, o desenvolvimento da identidade, podendo gerar frustração e a presença da depressão ocupacional (Mendes; Cruz, 2004). Como proposto por Seligmann-Silva (1995) e ratificado por Rocha e Glima (2000), os quadros depressivos associados ao trabalho apresentam-se de formas mais sutis, com sintomatologia branda dificilmente diagnosticada e tantas vezes mascarada por alcoolismo, acidentes de trabalho e crises somáticas. A expressão depressão essencial foi proposta por Marty (1996/1993, citado por Rocha, 2007) e utilizada por Dejours (1984). Seu principal elemento denunciador refere-se a um embotamento afetivo. Há o desenvolvimento de uma anestesia psíquica, desaparecimento do prazer em todas as instâncias e robotização dos comportamentos, “não existindo sintomas de ansiedade, tristeza e vivências de perda” (Rocha e Glima, 2000, Seligmann-Silva, In Mendes, R., 1995) A depressão essencial, segundo Dejours (1984), pode advir “do longo contato do trabalhador com uma atividade repetitiva, monótona e taylorizada” A DORT (...) por se tratar de doença profissional, caracterizada essencialmente, mas não necessariamente, por atividade repetitiva, demanda entendimento do contexto de trabalho ao qual estavam submetidos os trabalhadores. “Neste sentido, a psicodinâmica do trabalho é pertinente ao considerar o caráter ocupacional da moléstia que causa sofrimento peculiar relacionado ao trabalho e à possibilidade de perda precoce da capacidade laborativa” (Rocha, 2007) Esta sintomatologia depressiva define-se pela falta: apagamento, em toda a escala, da dinâmica mental (deslocamentos, condensações, introjeções, projeções, identificações, vida fantasmática e onírica); (...) o fenômeno é comparável ao da morte, onde a energia vital se perde sem compensação. A depressão essencial decorreria de acontecimentos traumáticos; sua duração variável, de horas a meses, colocaria o sujeito em posição particularmente vulnerável ao adoecimento. (Casetto, 2006) CASETTO, Sidnei José. Sobre a importância de adoecer: uma visão em perspectiva da psicossomática psicanalítica no século XX. Psyche (Sao Paulo) [online]. 2006, vol.10, n.17, pp. 121-142. ISSN 1415-1138 Os quadros depressivos relacionados ao trabalho podem ter dois formatos segundo alguns autores: configuram-se como síndromes de insensibilidade, caso em que remetem à depressão essencial, ou como síndromes depressivas que se manifestam em quadros agudos ou típicos (Rocha e Glina, 2000, Segigmann-Silva, In Mendes, 1995) Enquanto doença ocupacional, a delimitação do quadro depressivo ainda pode subdividir-se em situacional e estrutural (Mendes; Cruz, 2004). Por meio da investigação científica caso a caso, pode-se distinguir os subtipos, condicionando o diagnóstico ao fato do trabalho ter atuado como colaborador ou desencadeador do quadro depressivo. No primeiro, a atividade laboral “meramente” contribuiria com a formulação patológica. Já no segundo, o próprio trabalho “desata o nó” para a manifestação dos sintomas depressivos no trabalhador. O “controle” detido pelo trabalhador acerca de seu estado emocional é o principal diferencial para que se faça a distinção diagnóstica entre um estado mais grave ou mais leve de depressão. No âmbito do trabalho, a depressão situacional tem por característica marcante a transitoriedade dos sintomas, bem como a aptidão que o trabalhador desenvolve para confrontar e eventualmente superar o estado depressivo, sendo considerada, portanto, leve. Na contramão dessa possível superação, o quadro grave, típico da depressão estrutural, está atrelado à perda de controle sobre si, vivenciada pelo trabalhador (Mendes; Cruz, 2004) O quadro se intensifica devido a sérios comprometimentos na integridade física, psíquica e social do sujeito gravemente deprimido (Mendes; Cruz, 2004). O empregado acometido por depressão poderá apresentar, segundo Timms (2006), elevada taxa de erros nas tarefas, dificuldade de concentração, incapacidade de delegar tarefas, lentidão, execução das atividades com intenso sofrimento psíquico, atrasos em compromissos, entre outros. O tratamento e outras condutas para a depressão, de acordo com o Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (BRASIL, 2001), dependem da gravidade e da especificidade de cada caso, podendo envolver psicoterapia, tratamento farmacológico, dependendo da gravidade do caso, e intervenções psicossociais. Como prevenção, propõe a vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde do trabalhador. Para tal, requer ação integrada e articulada entre os setores de trabalho, com suporte de equipe multiprofissional e interdisciplinar. Essas equipes devem estar capacitadas para o trato e o suporte ao sofrimento psíquico, aos aspectos sociais e para intervenção no ambiente de trabalho. Por certo há necessidade de ajuda de outrem para que o indivíduo enfrente o quadro depressivo em seu estado mais grave. Nessas ocasiões, é preciso que profissionais especializados estejam preparados para realizar a devida leitura psíquica do indivíduo que sofre desse mal, atentando para possíveis sinalizadores típicos de outros transtornos, tais como manifestações de pânico e fobias resistentes a mudanças no contexto de trabalho – e que por isso demandam intervenções específicas para sua remoção. Com efeito, transtornos depressivos graves demandam intervenção especializada, mas torna-se imprescindível buscar elementos da organização do trabalho, disfuncionalidades mais especificamente, seja através de relatos de história clínica, anamnese, ou instrumento de pesquisa organizacional que possa, ou não, evidenciar ambiente de trabalho favorável ao adoecimento mental. Como instrumentos para rastreamento de Depressão e/ou Transtornos Mentais Comuns pode ser utilizado o SRQ-20, de caráter auto-aplicado, apresentado em parte especifica deste trabalho e para detecção de Depressão pode-se utilizar o Inventário de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory (BDI)), um dos instrumentos mais usados, tanto na clínica quanto em pesquisa para avaliar sintomas depressivos (Gorestein & Andrade, 1988) Cunha, J.A. Manual da versão em português das Escalas Beck. Casa do Psicólogo, São Paulo, 2001. Gorestein, Clarice & Andrade, Laura. Inventário de depressão de Beck: propriedades psicométricas da versão em português. Edição Especial. Rev. Psiq. Clin., vol 25 n 5, set/out/1998. Beck, A.T.; Steer, R.A. & Garbin, M.G. – Psychometric Properties of the Beck Depression Inventory: Twenty-Five Years of Evaluation. Clinical Psychology Review 8:77-100,1988. Beck, A.T.; Ward, C.H.; Mendelson, M.; Mock, J. & Erbaugh, G. – An Inventory for Measuring Depression. Archives of General Psychiatry 4:53-63,1961. Gotlib, I.H. – Depression and General Psychopathology in University Students. Journal of Abnormal Psychology 93:19-30,1984. Oliver, J.M. & Simmons, M.E. – Depression as Measured by the DSM-III and Beck Depression Inventory in an Unselected Adult Population. Journal of Consulting and Clinical Psychology 52:892-898,1984. Louks, J.; Hayne, C. & Smith, J. – Replicated Factor Structure of the Beck Depression Inventory. Journal of Nervous and Mental Disease 177:473-479,1989. Kendall, P.C.; Hollon, S.D.; Beck, A.T.; Hammen, C.I. & Ingram, R. E. – Issues and Recommendations Regarding Use of the Beck Depression Inventory. Cognitive Therapy and Research 11:89-299,1987. Tanaka-Matsumi, J. & Kameoka, V.A. – Reliabilities and Concurrent Validities of Popular Self-Report Measures of Depression, Anxiety, and Social Desirability. Journal of Consulting and Clinical Psychology 54:328-333,1986. Outros instrumentos de aplicabilidade individual, por médico não psiquiatra, no momento da consulta médica, assistencial ou ocupacional, estão disponíveis o “Teste das duas questões” e a “Escala de Goldemberg”, abaixo apresentados. TESTE DAS DUAS QUESTÕES: Anderson (2000) apresentou, baseado em outros autores, perguntas para rastreamento de depressão, conforme citado por Fleck et al, 2003): Teste de duas questões, conforme Whooley (1997): 1. Durante o último mês você se sentiu incomodado por estar para baixo, deprimido ou sem esperança? 2. Durante o último mês você se sentiu incomodado por ter pouco interesse ou prazer para fazer as coisas? Resposta Sim para as duas (2) questões apresentam sensibilidade de 96% e especificidade de 57% ESCALA DE GOLDEMBERG: Escala de Goldberg para detecção de depressão (Goldberg, 1988): 1. Você vem tendo pouca energia? 2. Você vem tendo perda de interesses? 3. Você vem tendo perda de confiança em você mesmo? 4. Você tem sentido sem esperança? (Se Sim para qualquer uma, continue…) 5. Você vem tendo dificuldade para concentrar-se? 6. Você vem tendo perda de peso (devido a pouco apetite)? 7. Você tem acordado cedo? 8. Você vem se sentindo mais devagar? 9. Você tende a se sentir pior de manhã? Resposta Sim para três ou mais perguntas equivale a uma sensibilidade de 85% e especificidade de 90%. Como já citado no corpo do capítulo, o tratamento individual depende da gravidade e das peculiaridades atinente a cada caso, coordenado por médico do trabalho com auxilio, se necessário, de psiquiatra para tratamento farmacológico. No coletivo, a ação, por equipe multiprofissional e interdisciplinar, deve envolver o ambiente, as condições e a organização do trabalho para reduzir a nocividade. 2 SÍNDROME DE BURNOUT OU ESTAFA PROFISSIONAL O burnout pode ser considerado um grande problema no mundo profissional da atualidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998). Foi Freudenberger (1974) que criou a expressão staff burnout para descrever uma síndrome composta por exaustão, desilusão e isolamento em trabalhadores da saúde mental. O burnout foi reconhecido como um risco ocupacional para profissões que envolvem cuidados com saúde, educação e serviços humanos (Golembiewski, 1999; Maslach, 1998; Murofuse et al., 2005 apud Trigo et al., 2007). Vários estudos têm demonstrado que o Burnout incide principalmente sobre os profissionais de ajuda, que prestam assistência ou são responsáveis pelo desenvolvimento ou cuidado de outros (Benevides-Pereira, 2002). Os estressores ocupacionais, tratados em pormenores adiante, quando persistentes, podem levar à Síndrome de Burnout, que é considerada por França e Rodrigues (1997) como uma resposta emocional a situações de estresse crônico em função de relações intensas em situações de trabalho com outras pessoas. Biehl (2009) descreve um modelo que relaciona seis áreas de vida no trabalho com burnou,t dos autores Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), contendo: 1. Carga de trabalho - sobrecarga excessiva de demandas que esvaziam a energia do indivíduo; 2. Controle - relacionado à ineficácia ou à falta de realização pessoal, o indivíduo é subjugado no nível de responsabilidade que possui; 3. Recompensa - ausência de recompensas apropriadas pelo trabalho executado (monetárias ou sociais); 4. Comunidade – perda da conexão com os colegas de trabalho, não há compartilhamento de elogios e humor com as pessoas de que gostam e a quem respeitam, e os conflitos não são resolvidos; 5. Justiça – quando a justiça não é percebida, e não há senso de respeito para confirmar o valor da pessoa, perde-se o senso de comunidade; e 6. Valores – constrangimento em fazer coisas, no trabalho, consideradas pouco éticas, contrapondo os próprios valores. Conclui assim Biehl (2009) que Burnout surge, enfim, da cronificação de problemas mal resolvidos entre as pessoas e o trabalho. Para Reinhold (2002) a síndrome burnout compreende cinco fases para completar o processo de exaurir-se, e chegar ao alto burnout: 1. Fase do idealismo – quando o sujeito está entusiasmado e sua vida profissional está tomada pelo trabalho; 2. Fase do realismo – surgem percepções reais ao individuo sobre suas aspirações e seus ideais, favorecendo a prospecção dos sentimentos de frustração, em que o profissional experiencia recompensas insuficientes aos seus esforços, ao menos percebe assim, e, ao defrontar-se se com isso, sente a sensação de incompetência; 3. Fase da estagnação e frustração – nesta etapa, o vigor inicial esmaece e transforma-se em fadiga crônica, surgem os primeiros sintomas de irritabilidade e de luta-fuga com as atividades; 4. Fase da apatia/burnout – a auto-estima do profissional fica corroída, o individuo sente-se deprimido de modo geral, neste momento a vida no trabalho perde o sentido; 5. Fase do Fenômeno da Fênix – correspondente à metáfora do “renascer das cinzas”, situação que nem sempre ocorre, pois já na quarta fase a maioria dos profissionais abandona a profissão, tomando medidas, como a aposentadoria, ou buscando estratégias/mecanismos de enfrentamento para lidar com os efeitos da síndrome. Gil-Monte e Peiró (1997) apontam que a síndrome ocorre em função das demandas impostas pela própria pessoa sobre a atividade laboral. Para Covolan (1996) burnout provém de causas situacionais e sociais específicas à vivencia do indivíduo, suscetíveis a influencias e variações conforme as circunstancias da vida contemporânea do sujeito. Reinhold (2002) destaca a síndrome como conseqüência da união de fatores internos (vulnerabilidade biológicas e psicológicas) com externos (ambiente de trabalho). Castillo e Ramirez (2001), citados por Reinhold (2002), apresentam hipóteses de causas do burnout, enfatizando que elas se submetem a influências ambientais e diferenças individuais de afrontamento para repercutir na síndrome: estresse, expectativas frustradas no desenvolvimento da carreira profissional, precárias condições econômicas, baixo estimulo no trabalho e para o trabalho e sobrecarga laboral. Malagris (2004) e Reinhold (2002) citam que os autores caracterizam burnout como um processo dinâmico, de progresso gradual e acumulativo, capaz de corroer a relação do profissional com seu trabalho, diminuindo a energia e a disposição do indivíduo em sua vida de modo geral, afastando-o basicamente de todas as suas atividades anteriormente tidas como triviais. Reinhold, H. H. (2002). Burnout. In: M. E. N. Lipp, O stress do professor (pp. 63-80). Campinas: Papirus. Gil-Monte, P. & Peiró, J. M. (1997). Desgaste psíquico en el trabajo: El Síndrome de Quemarse. Madrid: Editorial Síntesis. Covolan, M.A. (1996). Stress ocupacional do psicólogo clínico: seus sintomas suas fontes e as estratégias para controlá-lo. In: M. Lipp (org), Pesquisas sobre estresse no Brasil: saúde, ocupações e grupos de risco. (pp. 225- 240). Campinas: Papirus Castillo Ramírez, S. (2001). El Síndrome de “Burn Out” o Síndrome de agotamiento profesional. Medicina Legal Costa Rica, 17 (2), 11- 14. Malagris, L. E. N. (2004). Burnout: o profissional em chamas. In: F. Nunes Sobrinho, I Nassalla (Orgs.). Pedagogia Institucional: fatores humanos nas organizações (pp. 196-213). Rio de Janeiro: ZIT Editores. Maslach, C., Schaufeli, W. B., & Leiter, M. P. (2001). Job burnout. Annual Review Psychology, 52, 397-422. Biehl, Kátia Andrade. Burnout em psicólogos / Kátia Andrade. Tese.(Doutorado em Psicologia) - PUCRS. Orientador: Maria Lucia Tiellet Nunes. – Porto Alegre, 2009. De acordo com Carlotto e Gobbi (1999), a definição de Burnout mais utilizada e aceita na comunidade científica é a fundamentada na perspectiva socialpsicológica. Nesta, ela é entendida como um processo constituído por três dimensões: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DE) e Baixa Realização Profissional (RP) (Maslach & Jackson, 1981). A Exaustão Emocional é caracterizada pela falta ou carência de energia, entusiasmo e por sentimento de esgotamento de recursos. Os trabalhadores acreditam que já não têm condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas como faziam antes (Rosa e Carlotto, 2005). A Despersonalização faz com que o profissional passe a tratar os clientes, colegas e a organização como objetos, de maneira que pode desenvolver insensibilidade emocional (Rosa e Carlotto, 2005). A baixa Realização Profissional revela-se por uma tendência do trabalhador em se auto-avaliar de forma negativa. As pessoas sentem-se infelizes com elas próprias e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional (Rosa e Carlotto, 2005). Vieira (2010) afirma que a psicóloga social Christina Maslach (e colaboradores), pesquisando trabalhadores dos setores de serviços/cuidados (os chamados human services), também dá o nome de burnout a um fenômeno semelhante, definindo-o como uma “síndrome psicológica em reação a estressores interpessoais crônicos no trabalho” e identificando nele três componentes principais (Maslach; Schaufelli; Leiter, 2001): • Exaustão emocional: caracterizada por cansaço extremo e sensação de não ter energia para enfrentar o dia de trabalho; • Despersonalização: adoção de atitude de insensibilidade ou hostilidade em relação às pessoas que devem receber o serviço/cuidado; • Perda da realização pessoal: sentimentos de incompetência e de frustração pessoal e profissional. Vieira, Isabela. Conceito(s) de burnout: questões atuais da pesquisa e a contribuição da clínica* Concept(s) on burnout – current themes in research and the contribution of clinical practice. Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 35 (122): 269-276, 2010 No Brasil o Decreto 3.048/99, em seu Anexo II, com redação dada pelo Decreto 6957/09, trata dos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho (Grupo V da CID 10) cita a "Sensação de Estar Acabado" ("Síndrome de Burnout", "Síndrome do Esgotamento Profissional") como sinônimos do burnout, que, com código CID10 Z73.0 – Esgotamento, tendo sido citados como agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional: 1. Ritmo de trabalho penoso (Z56.3) e 2. Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho (Z56.6). Vieira em ensaio publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (2010) apresenta definição de burnout, em revisão de literatura, “como uma reação negativa ao estresse crônico no trabalho” (Shirom, 2003; Honkonen et al., 2006; Ahola et al., 2006a). Vieira (2010) reforça que burnout trata-se de uma condição crônica (Shirom, 2003), determinada principalmente por fatores da organização do trabalho, tais como sobrecarga, falta de autonomia e de suporte social para a realização das tarefas (Maslach; Schaufeli; Leiter, 2001; Schaufeli; Enzmann, 1998). A chamada reestruturação produtiva e as demissões em massa são apontadas como fatores de risco (Kalimo, 2000) e que traços de personalidade teriam menor peso para o desencadeamento do quadro (Maslach; Schaufeli; Leiter, 2001). O burnout está ainda associado a consequências negativas, dentre as quais: a) Para a Empresa e sociedade: Absenteísmo, queda de produtividade (Parker; Kulik, 1995) e aposentadoria precoce (Weber; Weltle; Lederer, 2005); b) Para a saúde física: Aumento do risco cardiovascular (Honkonen et al., 2006; Melamed et al., 2006a), alterações fisiológicas e metabólicas como desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenais (Grossi et al., 2005), diabetes tipo 2 (Melamed et al., 2006a), elevação de lipídios séricos (Shirom et al., 1997) e alterações do sistema imune (Lehrman et al., 1999), além de distúrbios musculoesqueléticos (Honkonen et al., 2006); c) Para a saúde mental: Associação com ansiedade e, em especial, depressão (Maslach; Schaufeli; Leiter, 2001; Ahola et al., 2005), além de abuso de álcool (Ahola et al., 2006b). De acordo com Vieira (2010) a prevalência do burnout varia em função da população estudada e da metodologia utilizada, oscilando entre aproximadamente 10% a taxas superiores a 30% (Weber; Jaekel-Reinhard, 2000). Em estudos com amostras representativas da população geral ativa, a taxa de burnout variou entre 5% e 7% (Kalimo, 2000; Hallsten, 2005). A maior parte dos trabalhos publicados utiliza a definição de burnout proposta por Maslach (...)”, FATORES DE RISCO Para a enumeração dos fatores de risco para o desenvolvimento do burnout, são levadas em consideração quatro dimensões: a organização, o indivíduo, o trabalho e a sociedade (World Health Organization, 1998). As dimensões, conforme a WHO/OMS (1998), e seus fatores de risco para desenvolvimento do burnout e suas consequências apresentam-se listados ipsis litteris de Trigo et al., 2007 nas tabelas das “dimensões”, de 1 a 5. DIMENSÃO ORGANIZAÇÃO (ÍNDICES SUPERIORES DE BURNOUT) Tabela 1. Fatores organizacionais associados a índices superiores da síndrome de burnout e suas possíveis conseqüências. Fator Características Burocracia (excesso de normas) Impede a autonomia, a participação criativa e, portanto, a tomada de decisões. As atividades são realizadas lentamente, demandando muito tempo e muita energia por parte da equipe e/ou individuo na sua manutenção. Exemplos: tempo preenchimento gasto de no formulários, relatórios, participação em reuniões administrativas. (Maslach e Leiter, Vega) Falta de autonomia (impossibilidade Impossibilita a liberdade de ação e de tomar decisões sem ter de independência profissionais (Maslach e consultar ou obter autorização de Leiter, outrem) Schaufelli) Normas institucionais rígidas Impedem que o trabalhador atinja a Gil-Monte, Kurowski, e autonomia e o sentir-se no controle de suas tarefas (Maslach e Leiter, Vega, Carlotto) Mudanças organizacionais Provocam insegurança, predispondo o frequentes (alterações freqüentes de funcionário a erros (Maslach e Leiter, regras e normas) Carlotto) Falta de confiança, respeito e consideração entre os membros de Provoca um clima social prejudicial (Maslach, Vega, Gil-Monte, Schaufeli) uma equipe. Comunicação ineficiente. Provoca distorções e lentificação na disseminação da informação (Maslach e Leiter, Vega, Gil-Monte, Schaufeli) Impossibilidade carreira, de de ascender melhorar na sua remuneração, de reconhecimento de seu trabalho, ambiente físico incluindo calor, excessivos entre e outras. seus frio ou e Pode provocar grande desestimulo no trabalhador (Maslach e Leiter, Kurowski) O riscos, ruídos iluminação insuficiente, pouca higiene, alto risco tóxico e até de vida. Outros fatores: acúmulo de tarefas Geram sentimentos de ansiedade, por um mesmo individuo, convívio medo e impotência (Maslach e Leiter, com colegas afetados pela síndrome Vega, Kurowski) (Schaufeli) DIMENSÃO INDIVÍDUO (ÍNDICES INFERIORES DE BURNOUT) Nesta dimensão são apresentadas as características próprias do indivíduo que podem estar associadas a índices menores de burnout. Tabela 2. Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices inferiores da síndrome de burnout. Fator Características Tipo de personalidade com Envolvem-se em tudo o que fazem; acreditam características resistentes possuir domínio da situação; encaram as ao estresse ou hardness situações com otimismo e como oportunidade (Maslach at al., Schaufeli e de Enzmann) Mendes, Moreno-Jiménez, Sörderfeldt et al.) aprendizagem (Antonovsky, Kobasa, Lócus de controle interno Responsabilizam-se pelos sucessos de sua própria vida, sendo estes encarados como conseqüentes às suas habilidades e seus esforços (Maslach et al., Schaufeli e Ernzmann, Antonovsky, Kobasa, Mendes, Moreno-Jiménez, Sörderfeldt et al.) Auto estima, autoconfiança, auto eficácia (Maslach et al., Schaufeli e Enzmann, GilMonte, Codo) DIMENSÃO INDIVÍDUO (ÍNDICES SUPERIORES DE BURNOUT) Na presente dimensão, as características próprias do indivíduo que predispõem a índices menores de burnout estão listadas abaixo. Tabela 3. Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices superiores da síndrome de burnout. Fator Características Padrão de personalidade Indivíduos competitivos, esforçados, impacientes, com excessivas necessidades de controle das situações, dificuldade em tolerar frustações (Antonovsky, Kobasa, Kurowski, Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Nagy e Davis, Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al.) Lócus externo de controle Consideram que suas possibilidades e acontecimentos de vida são conseqüentes à capacidade de outros, à sorte ou ao destino (Antonovsky, Kobasa, Kurowski, Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al.) Superenvolvimento Sujeitos empáticos, sensíveis, humanos, com dedicação profissional, altruístas, obsessivos, entusiastas, suscetíveis a se identificarem com os demais (Gil-Monte, Meis et al.) Indivíduos pessimistas Costumam destacar os aspectos negativos, prevêem insucesso, sofrendo por antecipação (Antonovsky, Mendes, Moreno-Jiménez et al., Sörderfeldt et al.) Indivíduos São bastante exigentes consigo mesmos e com os perfeccionistas outros, não tolerando erros e dificilmente se satisfazendo com os resultados das tarefas realizadas (Antonovsky, Kobasa, Mendes, MorenoJiménez et al., Sörderfeldt et al.) Indivíduos com grande Podem deixar de ser realistas, tendo grandes expectativa e idealismo chances de se decepcionarem. Se associados ao em relação à profissão. otimismo, pode levar a baixos índices de burnout. (Antonovsky, Kobasa, Indivíduos controladores. Indivíduos passivos. Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al., Kirk, Carlotto, Codo, Meis at al.). São inseguros, preocupam-se excessivamente, têm dificuldade em delegar tarefas e trabalhar em grupo (Firth). Mantém-se na defensiva e tendem a evitação diante das dificuldades (Antonovsky, Kobasa, Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al.) Gênero As mulheres apresentam maior pontuação em exaustão emocional; os homens em despersonalização (Burke) Nível educacional Indivíduos com nível mais elevado (Maslach et al.) Estado civil Maior risco em solteiros, viúvos ou divorciados (Maslach, Nagy e Davis, Raquepaw) ou o oposto (Ross e Russsel, Schaufeli) DIMENSÃO TRABALHO (ÍNDICES SUPERIORES DE BURNOUT) Em relação aos fatores de risco relacionados ao trabalho, alguns associados à síndrome de burnout são citados a seguir. Tabela 4. Fatores laborais (características do trabalho) associados a índices superiores da síndrome de burnout. Fator Características Sobrecarga Quantidade ou qualidade excessiva de demandas que ultrapassam a capacidade de desempenho, por insuficiência técnica, de tempo, de infra-estrutura organizacional (Kurowski, Maslach et al., Schaufeli, Schaufeli e Enzmann, Vega). Pressão no principalmente, trabalho o propicia, aparecimento de exaustão emocional (Maslach et al., Vega, Carlotto) Baixo nível de controle das Provocam pouca ou nenhuma satisfação do atividades ou acontecimentos no trabalhador sobre seu trabalho (Kurowski, próprio Maslach et al., Schaufeli, Vega, Gil-Monte). trabalho; baixa participação nas decisões sobre mudanças organizacionais. Expectativas profissionais Indivíduos com discrepâncias entre suas expectativas profissional de e aspectos desenvolvimento reais trabalho (Vega, Carlotto, Peiró) de seu Sentimentos de injustiça e de Podem ser conseqüentes a carga de iniqüidade nas relações laborais. trabalho, salários desiguais para o mesmo cargo, ascensão de colega sem merecimento (Maslach, Peiró, Maslachh e Leiter) Trabalhos por turnos ou noturno Chega a afetar trabalhadores, cerca de acarretando 20% dos transtornos físicos e psicológicos (Peiró) Mais propensos: os que precisam efetuar mudanças em períodos de tempo, a cada 2 ou 3 dias, passando alternadamente do período diurno para o noturno e vice-versa (Peiró) Precário suporte organizacional Provocam pensamentos de não poder e contar relacionamento conflituoso entre colegas com ninguém; sentem-se desamparados, carentes de orientação, desrespeitados. Quadro piora na presença de indivíduos competitivos, distantes, excessivamente críticos ou preguiçosos (Kurowski, Maslach et al.Schaufeli, Schaufeli e Enzmann, Vega, Carlotto, Gil-Monte, Maslach e Leiter) Tipo de ocupação É maior em relação aos cuidadores em geral (Vega, Maslach e Jackson). Relação mais próxima e intensa Exemplos: do trabalhador com as pessoas mentais, Aids, Alzheimer (Vega, Peiró, Gil- a Monte, Maslach e Leiter) que deve atender; responsabilidade sobre a vida de outrem. cuidadores de deficientes Conflitos de papel Papel: conjnto de funções, expectativas e condutas que uma pessoa deve desempenhar em seu trabalho. Conflito de papel: embate entre informações e expectativas do trabalhador sobre seu desempenho em um determinado cargo ou função na instituição (Kurowski, Maslach et al., Schaufeli, Vega, Gil-Monte) Ambigüidade de papel Ambigüidade de papel: normas, direitos, métodos e objetivos pouco delimitados ou claros por parte da organização (Kurowski, Maslach et al., Schaufeli, Vega, Gil-Monte) DIMENSÃO SOCIEDADE (ÍNDICES SUPERIORES DE BURNOUT) Os fatores sociais associados à síndrome de burnout são apresentados na sequência. Tabela 5. Fatores sociais associados a índices superiores da síndrome de burnout. Fator Características Falta de suporte social Impede o individuo de contar com colegas, amigos de e familiar confiança e familiares (Constable e Russel, Maslach e Leiter, Maslach e Leiter) Manutenção do O prestigio em sobrecarga d e trabalho e, consequentemente, pouco baixa tempo para descanso e lazer, para atualização salarial que envolve profissional, levando-o a insatisfação a à insegurança determinada profissão nas social oposição à individuo busca atividades vários empregos, desempenhadas surgindo (Constable e Russsel, Russel, Maslach e Leiter, Maslach e Leiter) Valores culturais e normas Podem incrementar ou não o impacto dos agentes estressores no desencadeamento do burnout (Constable e Russsel, Russel, Maslach e Leiter, Maslach e Leiter) CONSEQÜÊNCIAS DO BURNOUT CONSEQUÊNCIAS PARA A ORGANIZAÇÃO A instituição tem um aumento em seus gastos (tempo, dinheiro) com a consequente rotatividade de funcionários acometidos pelo burnout, assim como com o absenteísmo destes (Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001; World Health Organization, 1998). Segundo Maslach e Leiter (1997) “os indivíduos que estão neste processo de desgaste estão sujeitos a largar o emprego, tanto psicológica quanto fisicamente. Eles investem menos tempo e energia no trabalho, fazendo somente o que é absolutamente necessário e faltam com mais freqüência. Além de trabalharem menos, não trabalham tão bem. Trabalho de alta qualidade requer tempo e esforço, compromisso e criatividade, mas o indivíduo desgastado já não está disposto a oferecer isso espontaneamente. A queda na qualidade e na quantidade de trabalho produzido é o resultado profissional do desgaste". CONSEQUÊNCIAS PARA O INDIVÍDUO O indivíduo pode apresentar fadiga constante e progressiva; dores musculares ou osteomusculares (na nuca e ombros; na região das colunas cervical e lombar); distúrbios do sono; cefaléias, enxaquecas; perturbações gastrointestinais (gastrites até úlceras); imunodeficiência com resfriados ou gripes constantes, com afecções na pele (pruridos, alergias, queda de cabelo, aumento de cabelos brancos); transtornos cardiovasculares (hipertensão arterial, infartos, entre outros); distúrbios do sistema respiratório (suspiros profundos, bronquite, asma); disfunções sexuais (diminuição do desejo sexual, dispareunia/anorgasmia em mulheres, ejaculação precoce ou impotência nos homens); alterações menstruais nas mulheres (Araújo et al., 1998; Cherniss, 1980b; Dejours, 1992; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; Lerman et al., 1999; Melamed et al., 1999; Nakamura et al., 1999; Pruessner et al., 1999; Silvany et al., 2000; World Health Organization, 1998). Em relação ao psiquismo, pode apresentar: falta de concentração; alterações de memória (evocativa e de fixação); lentificação do pensamento; sentimento de solidão; impaciência; sentimento de impotência; labilidade emocional; baixa auto-estima; desânimo (Araújo et al., 1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; Goetzel et al., 2002; Silvany et al., 2000). Pode ocorrer o surgimento de agressividade, dificuldade para relaxar e aceitar mudanças; perda de iniciativa; consumo de substâncias (álcool, café, fumo, tranqüilizantes, substâncias ilícitas); comportamento de alto risco até suicídio (Araújo et al., 1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; 2002; Murofuse et al., 2005; Silvany, 2000). CONSEQUÊNCIAS PARA O TRABALHO Ocorre diminuição na qualidade do trabalho por mau atendimento, procedimentos equivocados, negligência e imprudência (Dejours, 1992; Freudenberger, 1974; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Murofuse et al., 2005). A predisposição a acidentes aumenta devido a faltas de atenção e concentração (Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997). O abandono psicológico e físico do trabalho pelo indivíduo acometido por burnout leva a prejuízos de tempo e dinheiro para o próprio indivíduo e para a instituição que tem sua produção comprometida (Constable e Russell, 1986; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001; Ross e Russel, 1989; Schaufeli, 1999c). Para que seja possível, por exemplo, o estabelecimento de relações terapêuticas entre o profissional e o paciente, a prevenção ao estresse e burnout está entre as principais recomendações feitas pelo National Guideline Clearinghouse às organizações (National Guideline Clearinghouse, 2006; Registered Nurses Association of Ontario (RNAO), 2002; Registered Nurses Association of Ontario (RNAO), 2006). CONSEQUÊNCIAS PARA A SOCIEDADE O indivíduo acometido por burnout pode provocar distanciamento dos familiares, até filhos e cônjuge (Constable e Russell, 1986; Dejours, 1992; Ross Russel, 1989). Já os clientes mal atendidos arcam com prejuízos emocionais, físicos e financeiros que podem se estender aos seus familiares e até ao seu ambiente de trabalho (Dejours, 1992; Maslach e Leiter, 1997). CONCLUSÃO A prevalência do burnout ainda é incerta, mas dados apontam acometimento significativo que justifica mais estudos a respeito dessa patologia com fatores de risco multifatoriais (indivíduo, trabalho, organização). Pode-se apresentar em comorbidade com algumas doenças psiquiátricas ou até desencadeá-las, como burnout seguido por transtorno depressivo. Entretanto, não se encontraram estudos que avaliassem, por entrevistas estruturadas, as taxas de comorbidade entre essas duas condições e possíveis relações causais. As conseqüências do burnout têm efeitos negativos para a organização, para o indivíduo e sua profissão (Goetzel et al., 2002; Moreno-Jimenez, 2000; Murofuse et al., 2005; Schaufeli, 1999b). De acordo com Biehl (2009), além de melhor definir a síndrome de burnout nas últimas décadas, os pesquisadores se dedicaram a desenvolver instrumentos de verificação do nível de estresse e burnout de trabalhadores. Dentre eles, destaca-se o Maslach Burnout Inventary. Ainda de acordo com a autora (Biehl, 2009), os estudos que repercutiram no desenvolvimento do Maslach Burnout Inventary - MBI (Maslach & Jackson, 1981a, Maslach & Jackson, 1981b) - demarcaram, de forma consistente, a Síndrome de burnout. O MBI unificou as medidas que abarcavam o estresse crônico e fez emergir as três dimensões de burnout mais utilizadas na literatura revisada: esgotamento emocional, despersonalização e falta de sentimentos de realização pessoal. O MBI - Maslach Burnout Inventory está descrito em outra seção do presente trabalho: “INSTRUMENTOS DE PESQUISA ORGANIZACIONAL”. Além dele há o Teste “Sinais Gerais Indicativos de Burnout” proposto por Reinhold (2002). 5.3 ASSÉDIO MORAL Há consenso entre estudiosos que o assédio moral seja tão antigo quanto a própria atividade laboral, mas sua caracterização e conceituação são bem mais recentes. A relação entre empregado e empregador, juridicamente, já configura uma relação conflituosa. Além da questão do relacionamento interpessoal com o empregador ou com seus prepostos há a questão da hierarquia, do poder de comando, com explicitação do fenômeno em função do acirramento da concorrência global, do surgimento de novas tecnologias que visam maximizar lucros e minimizar despesas e reduzir o risco de fracasso do negócio. Não cabe aqui discorrer acerca dos desdobramentos relativos à reparação do assédio moral, cuja competência de processo e julgamento cabe à Justiça do Trabalho. As ações praticadas pelo autor do abuso de direito ou cometimento de ato ilícito tem fundamento no Código Civil. A Consolidação das Leis do Trabalho prevê que o empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo ou quando ato lesivo da honra e boa fama for praticada pelo empregador ou seu preposto contra ele ou pessoas de sua família. O tema da reparação por danos morais tem seu fulcro na Constituição Federal de 1988, em função do destaque que foi dado à honra e à dignidade da pessoa humana. (Art. 1º, inciso III diz: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...); III – a dignidade da pessoa humana”. Apesar de já haver sido definida pela jurisprudência, a Emenda Constitucional nº 45/04 ratifica que, o fórum para julgamento das lides trabalhistas relacionadas com o dano moral é a Justiça do Trabalho. (Art. 114 – (Compete à (...) processar e julgar: (...); VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho). No tocante à responsabilidade civil, as ações praticadas pelo autor do assédio configuram abuso de direito, ato ilícito. Segundo o (art. 187) Código Civil, “comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social e pela boa-fé”. A reparação por danos morais pode-se dar, também, pela atuação de seus prepostos, mesmo que a instituição não esteja diretamente ligada às ações praticadas e relacionadas com o assédio moral ou mesmo que estas ações tenham sido cometidas sem o conhecimento prévio da instituição, ela poderá ser responsabilizada. De acordo com o (art. 1175) Código Civil, “o preponente responde com o gerente pelos atos que este pratique em seu próprio nome, mas à conta daquele”. A Consolidação das Leis do Trabalho (art. 483) apresenta que: “O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: (...); b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; (...); e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama” A Declaração Universal dos Direitos Humanos reza que (art. XII) “ninguém será sujeito (...) a ataques à sua honra e reputação”. O assédio moral, portanto, é um problema social que tem merecido discussões de vários setores da sociedade, especialmente entre profissionais da área jurídica, da psicologia e da medicina. Embora exista em todas as relações sociais, desde os primórdios da humanidade, esse tipo de ação passou a ser motivo de estudo e preocupação com a saúde, principalmente, a partir da obra de Hirigoyen, a qual detectou que cada vez mais, na competitividade do mercado, pode-se observar esse fenômeno e constatar seus efeitos deletérios sobre a saúde. De acordo com Marie-France Hirigoyen assédio moral no trabalho é: “toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou a integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho.” O fenômeno, assédio moral, embora histórico, se intensifica nas atuais mudanças do sistema produtivo e da gestão: “o modo como o trabalho está organizado e é gerido favorecem relações violentas”; o imperativo da flexibilidade é relacionado à proliferação de “regras incertas, mutáveis, promessas não cumpridas, reconhecimentos negados, punições arbitrárias, exigências de submissão de uns e arrogância de outros” (Freitas et al. 2008). Os autores ainda apresentam definição conceitual epistemológico quanto político. Afirmam que “o assédio moral é uma conduta abusiva, intencional, freqüente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho e que visa diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional” (Freitas et al., 2008) Para Sena, Juíza do Trabalho de Minas Gerais, citada por Armada (2008), o assédio moral tem sua objetividade. Diz no proferimento de decisão que “o assédio ocorre pelo abuso do direito do empregador de exercer o seu poder diretivo ou disciplinar: as medidas empregadas têm por único objetivo deteriorar, intencionalmente, as condições em que o trabalhador desenvolve o seu trabalho, numa desenfreada busca para atingir os objetivos empresariais” (in ARMADA, 2006) Florindo (1999) afirma que o empregado, subordinado juridicamente ao empregador, tem mais possibilidade do que qualquer outro de ser moralmente atingido, em razão dessa própria hierarquia interna em que se submete à sua direção, o qual o vê, na maioria das vezes, como alguém submisso às suas ordens, de forma arbitrária. Alkimin (2007) atenta para se tomar o devido cuidado para não confundir assédio moral com outros termos como o stress ou quando surgem sentimentos de humilhação pela hierarquia de trabalho. No assédio moral sobressai-se a figura do individualismo, da arrogância que são atitudes totalmente inadequadas e envolvem a relação de poder englobando a intenção de ofender, humilhar, constranger, diminuir o trabalhador no exercício de suas funções. Os fenômenos comumente confundidos com o assédio moral são: (1) stress profissional; (2) situações conflituosas; (3) gestão por injúria; (4) agressões pontuais; e (5) más condições de trabalho. Os tipos de assédio moral estão abaixo definidos: TIPOLOGIA Assédio DEFINIÇÃO Moral Esse tipo de assédio é feito pelo empregador contra seu Vertical subordinado. A expressão “empregador” também Descendente compreende outros tipos de superiores. Acontece quando algum superior hierárquico se sente ameaçado por algum funcionário que possa apresentar um desempenho melhor. Prolifera-se dentro da empresa quando a organização permite que algum indivíduo haja de maneira tirânica ou até perversa com seus subordinados. Assédio Horizontal Moral O assédio moral horizontal é aquele que ocorre entre colegas de trabalho. Ocorre muitas vezes por conflitos de relacionamentos e convivência, por discriminação de qualquer tipo ou, ainda, por pura competitividade, que muitas vezes é estimulada por superiores Assédio Moral É aquele tipo de assédio feito por um ou vários empregados Vertical contra seu superior hierárquico. Geralmente acontece por Ascendente tratar-se de superior hierárquico que abusa de seu poder de mando agindo de maneira autoritária e soberba para com os funcionários, mas também acontece quando determinado gestor não consegue administrar e manter o domínio dos empregados, não conseguindo impor respeito perante eles. Assim, com o intuito de livrar-se de tal chefia o(s) empregado(s) assedia(m) seu superior. Tipologia do assédio moral. Fonte: Adaptado de Hirigoyen (2005). O assediador pode ser uma pessoa, ou um grupo de pessoas, que se utiliza de mecanismos perversos para sua ação de assédio. É um indivíduo narcisista que ataca a autoestima do outro, transferindo-lhe a dor e as contradições que não admite em si mesmo. Assim, para esclarecimento da questão são apontadas algumas circunstâncias ou situações comuns que podem acontecer nos ambientes de trabalho: Uma agressão verbal isolada poderá ser injuriosa, caluniosa, mas não poderá ser entendida como assédio moral. Um ambiente de trabalho competitivo, característica da maioria das empresas, só será entendido como assédio moral quando personificar metas extremamente rigorosas, chegando ao ponto de sua obtenção ser considerada inviável ou impossível. Em ambientes de trabalho deficientes ou até inadequados quanto às condições de trabalho (risco ergonômico, físico, químico, especificamente) pode-se caracterizar assédio moral quando afetarem um ou mais em detrimento dos demais, ou seja, quando estiverem presentes aspectos discriminatórios. No caso da presença de estresse e conflito, cada vez mais presentes no ambiente organizacional, sozinhos, também não podem ser apurados como determinantes do assédio moral. Ou seja, os fatos quando se desenvolvem isolada e pontualmente, não configuram o assédio moral; acontecendo em conjunto e/ou sistematicamente, abrem espaço para a sua configuração. Heins Leymann (citado por Alkimin, 2007) apresenta cinco grandes grupos de conduta do agente assediador. Estas condutas, verificadas em grupo ou isoladamente, determinam a ocorrência do assédio moral: a) Atividades de assédio para reduzir as possibilidades da vítima de se comunicar adequadamente com os outros, incluído o próprio assediador; b) Atividades de assédio para evitar que a vítima tenha a possibilidade de manter contatos sociais; c) Atividades de assédio dirigidas a desacreditar ou impedir a vítima de manter sua reputação pessoal ou profissional; d) Atividades de assédio dirigidas a reduzir a ocupação da vítima e sua empregabilidade mediante o descrédito profissional; e) Atividades de assédio que afetam a saúde física ou psíquica da vítima. Pereira (2007) caracteriza o assediador em razão do contato existente com diversos sujeitos e ambientes, de acordo com o que se pode observar a seguir: SUJEITO CARACTERÍSTICA DA AÇÃO DO ASSEDIADOR Vítima O assediador não discute o problema e sequer admite que ele exista. Apresenta comportamentos imprevisíveis. Sempre culpa a vítima, como forma de desviar sua atenção. Algumas vezes pode até mudar de tática, fingindo que finalmente irá escutar a vítima sendo que, no final, essa atitude é só mais uma manobra para manipulá-la. Empresa Apresenta-se sempre como um funcionário amável e pró-ativo perante seus diretores; aparece como o tipo de funcionário que “mostra resultados”. Ele se apresenta como uma pessoa solucionadora, mesmo que suas soluções sejam aplicadas de forma impensada Contato com Ao seu redor sempre estão às pessoas com mais poder e o Social influência. Mostra-se sempre cheio de boas intenções e qualidades que acabam por encantar as pessoas ao seu redor Contato com O assediador geralmente conhece o espaço e as pessoas que outros o compõem. Em geral, capta as fragilidades dos funcionários, Funcionários seus anseios e suas necessidades e acaba usando isso em favor de si mesmo. O assediador não mostra empatia por ninguém; ele apenas se aproxima, caso seja necessário para a conquista de seus objetivos. Sujeito versus Características da ação do assediador. Fonte: Adaptado de Pereira (2007). Conforme Alkimin (2007), o estudo da conduta do assediador pode ser resumido pelos dados levantados por Heinz Leymann, que foi o precursor dos estudos acerca do assédio moral. Tais condutas podem ser resumidas em cinco importantes grupos: 1) Deterioração proposital das condições de trabalho; 2) Isolamento; 3) Recusa de comunicação direta; 4) Atentado contra a dignidade; 5) Ataque direto à saúde da vítima com violência. As vítimas geralmente são aquelas pessoas que reagem a uma atitude autoritária, resistem às pressões. São considerados funcionários perfeccionistas, dedicados e capazes de se doarem completamente ao seu trabalho. Na definição de Hirigoyen (2005), o perfil traçado do assediado é geralmente caracterizado como de uma pessoa plena em vitalidade, mas que teme a desaprovação e tem uma tendência a se culpar. A vítima é considerada aquela que leva o agressor a sentir-se ameaçado, seja no cargo ou na posição perante o grupo. A vítima normalmente uma pessoa dotada de responsabilidade, de nível de conhecimento superior aos demais, com uma elevada auto-estima e que acredita plenamente nas pessoas que a cercam. Conforme Hirigoyen (2005), a conduta negativa dos colaboradores significa relações desumanas e aéticas que perduram por um período de tempo. Essas condutas não precisam ser necessariamente explícitas, podendo se manifestar de forma velada. O período mínimo para que essas condutas sejam classificadas como assédio moral é de seis meses. Para Brito (2007), o assédio moral visa a criar um ambiente hostil, desestabilizando a vítima com o medo, principalmente, da perda do emprego, tornando-o dócil e menos reinvindicativo. A vítima passa a ser isolada pelo grupo e frequentemente hostilizada, ridicularizada, inferiorizada e desacreditada. O medo de perder o emprego e a vergonha das humilhações adicionadas à competitividade excessiva faz com que o grupo rompa laços afetivos e sociais com a vítima Em suma: um ato isolado não é assédio moral. Ele pressupõe: a) Repetição sistemática b) Intencionalidade (forçar o outro a abrir mão do emprego) c) Direcionalidade (uma pessoa do grupo é escolhida como bode expiatório) d) Temporalidade (durante a jornada, por dias e meses) e) Degradação deliberada das condições de trabalho Segundo Barreto (2004), citado por Botelho (2008) o assédio moral causa efeitos diversos e a vários níveis: 1. Sociedade A sociedade é afetada pelos elevados custos com hospitalizações, medicamentos e incapacidade (permanente ou temporária) para o trabalho. 2. Organização Nas organizações os custos resultam pelo absenteísmo e baixa produtividade, além daqueles necessários para melhorar o ambiente de trabalho, a falta de motivação do pessoal e redução de rentabilidade. 3. Indivíduo Nos indivíduos, segundo Hirigoyen (2002), o assédio moral tem conseqüências físicas e psicológicas com sintomas semelhantes aos do stress, da ansiedade, da depressão e ainda perturbações psicossomáticas. PREVENÇÃO Na prevenção dos efeitos nefastos do assédio moral, como refere Hirigoyen (2002), é importante que a Empresa institua: a) Atribuição de responsabilidades à organização laboral na prevenção do assédio moral; b) Definição de estratégias de prevenção com regras éticas;Cobrança de exemplo de modos de funcionamento claros, através dos métodos de gestão; c) Um bom ambiente de trabalho, com respeito às falas dos trabalhadores, de forma aberta. Um papel relevante pode ser adotado por quem sofre o assédio moral, devendo o assediado: a) Manter postura ética perante o assédio moral; b) Estar atento e resistir, manter a sua auto-estima; c) Criar laços de inter-ajuda e solidariedade com os colegas; d) Procurar um interlocutor dentro da organização que possa atuar na situação; e) Procurar apoio jurídico e médico em caso de necessidade. CONCLUSÃO O assédio moral não é novo no mundo do trabalho. É tão velho quanto o próprio trabalho, dirigido contra a dignidade e a integridade psíquica ou física de uma pessoa, não sem conseqüências graves ao ser humano, das interrelações humanas e de custos, por isso deve ser firmemente combatido e, conforme Botelho (2008), “é na falta dos valores éticos e morais que se desenvolve o fenômeno do assédio moral” Freitas (2007) questiona: é possível prevenir ou eliminar a ocorrência de assédio? A nossa resposta é sim. No entanto, são necessárias a coragem e a vontade política das chefias (inclusive no primeiro escalão) em reconhecer a possibilidade de ocorrência, ou seja, admitir que essas coisas podem acontecer não apenas com os vizinhos e concorrentes. Reconhecida a possibilidade, a organização deve mostrar disposição em apurar, coibir, punir os responsáveis sem exceções, o que implica criar instrumentos de controle e assumir explicitamente que não existem pessoas intocáveis quando se trata de melhorar o comportamento organizacional e as condições do ambiente de trabalho. Ora, quando uma organização enuncia em alto e bom-tom a sua posição sobre este tema e age com coerência, mostra que as pessoas podem confiar que serão tratadas igualitariamente, como seres humanos que merecem respeito, independentemente do cargo que ocupem. E continua Freitas (2007): “De pouco vale um sistema que apure práticas de assédio e depois as deixe sem respostas exemplares ou que esses mecanismos sejam operados por pessoas que não desfrutam de credibilidade junto aos indivíduos e grupos da organização. Nesse, como em outros casos do comportamento organizacional, a experiência passada valida a seriedade e explicita a justiça com que as questões delicadas costumam ser tratadas”. Ao fecharmos os olhos a esta questão endossamos um comportamento que fere o mais sagrado de todos os nossos direitos: o de ser tratado como um ser humano. Este argumento deveria ser o bastante, mas o assédio moral é tanto uma questão moral como econômica e social. É um crime, e como tal deve ser prevenido e evitado (Freitas, 2007). Freitas, Maria Ester de. Quem Paga a Conta do Assédio Moral no Trabalho? RAE-eletrônica, FGV-EAESP, v. 6, n. 1, Art. 5, jan./jun. 2007 Botelho, Maria Ascenção de Souza. ASSÉDIO MORAL: A LUZ DA BIOÉTICA. Londrina, PR, 2008. Acessível em 28/06/2011 em http://www.bioeticapr.org.br/upload/biblioteca/asceno.doc. HIRIGOYE, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000 5.4 ESTRESSE OCUPACIONAL O interesse pelo estudo do estresse no trabalho, de acordo com Reis (2010) tem sido crescente na literatura científica, particularmente nos últimos anos. Uma razão para o aumento de pesquisas sobre esse tema está nas repercussões das condições e da organização do trabalho na saúde e no bemestar dos empregados e, em consequência, no funcionamento e na efetividade das organizações. Na economia, o impacto negativo dessa variável tem sido estimado com base na suposição e nos achados de que trabalhadores estressados diminuem seu desempenho e aumentam os custos das organizações com problemas de saúde, com o aumento do absenteísmo, da rotatividade e do número de acidentes no local de trabalho. Couto et al., (2007) afirmam que nos seres humanos, o estresse é um processo psicológico complexo e a compreensão dos eventos estressantes é afetada por variáveis cognitivas, afetivas e relações sociais. Não é a situação em si nem a resposta individual que definem isoladamente o estresse. As percepções do indivíduo diante de uma nova situação estressante são decisivas para a sua caracterização. E continuam os autores (Couto et. al., 2007): Na questão laborativa, o estresse sempre representa uma situação avaliada como negativa, sendo o resultado da incapacidade de lidar com as fontes de pressão no trabalho ou uma defasagem entre as demandas e a capacidade de responder a elas. O estresse, quando exagerado, provoca problemas de ordem física e mental, resultando numa insatisfação do trabalhador, comprometendo a atividade do indivíduo e o sucesso da empresa. (grifo dos autores) A competição das Organizações para conquista de clientes e mercados também advém com o treinamento e manutenção do recurso mais importante neste campo competitivo que é talento humano. Os trabalhadores têm que adquirir novas competências e habilidades, além de formas diferenciadas de produzir e relacionar-se com o trabalho, associando-se o importante valor pela saúde. Todos esses aspectos estão diretamente relacionados à qualidade de vida do ser humano e suas motivações, o que reflete diretamente e indiretamente nos níveis individuais e globais de produtividade (Sauter, 2005). Couto (1987) e Cooper (1988) mostraram em seus estudos que os principais sintomas de estresse estão relacionados às seguintes manifestações: nervosismo; irritabilidade sem motivos aparentes; perda e/ou oscilação do sendo de humor; ansiedade; angústia; indisposição gástrica e/ou dor no estomago diante de exigências emocionais; períodos de depressão; fadiga; dor nos músculos do pescoço e ombros sob tensão; e insônia. Zille (2005), em estudo com gerentes, encontrou como principais sintomas para os casos de indivíduos que apresentaram quadros de estresse: fadiga, dor nos músculos do pescoço e ombros, nervosismo acentuado, insônia, ansiedade e falta ou excesso de apetite. Couto, Hudson de Araújo, Herkenhoff, Fernando Luiz Vieira, Lima, Eliudem Galvão Estresse ocupacional e hipertensão arterial sistêmica. Rev Bras Hipertens vol.14(2): 112-115, 2007 Clinicamente, o portador de estresse irá evidenciar em maior ou menor grau os seguintes sintomas: nervosismo, irritabilidade fácil, ímpetos de raiva, dor na musculatura cervical e nos ombros, cefaléia por tensão, alterações do sono, fadiga, dor precordial, palpitações, ansiedade, angústia, períodos de depressão e indisposição gástrica ou epigastralgia. O número dos sintomas apresentados e sua intensidade costumam ser paralelos à intensidade dos fatores estressantes vividos pelo indivíduo (Couto et al., 2007) Afirmam Couto e outros que “o estresse desenvolve-se na medida em que ocorre uma desproporção entre as exigências do cotidiano e a estrutura do indivíduo para lidar com elas”. Nessa dimensão o estresse pode ser considerado um obstáculo, uma vez que poderá interceptar e desviar o fluxo de energia, gerando assim, uma ruptura no equilíbrio pessoal. A vida acelerada dos dias atuais, principalmente nos grandes centros urbanos, contribui com um grande número de fatores capazes de interferirem nesse equilíbrio, que é considerado de fundamental importância para a saúde das pessoas (Pereira, 2010). O estresse vem sendo considerado um problema generalizado, afetando os trabalhadores, a organização e a sociedade como um todo, que pode ser minimizado ou até mesmo evitado, por meio de ações na ambiência ocupacional. Os problemas de saúde mental, entre eles o estresse, estão entre as causas mais importantes que contribuem para o aparecimento de diversas doenças e disfunções entre a população de trabalhadores, tendo como conseqüências além dos distúrbios relacionados à saúde, custos crescentes e significativos que afetam as organizações e do estado como um todo (Levi, 2003, 2005). Estresse não é considerado, em si, doença ou quadro nosológico distinto, porém uma fonte potencialmente causadora de distúrbios emocionais, como informa a Classificação Internacional de Doenças da OMS (versão 10), na qual o verbete é citado no capítulo V (Transtornos Mentais e Comportamentais), grupo F40-F48 (Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o estresse e transtornos somatoformes) (Couto et al., 2007). CONCEITOS E TIPOLOGIAS DO ESTRESSE Pereira (2010) informa que o estresse se manifesta de duas formas: o distresse, ou estresse da derrota, que é o estresse da forma como o conhecemos em seu lado negativo; e o eustresse, considerado o estresse positivo. O eustresse, da mesma forma que o distresse, representa uma reação do corpo a um estímulo externo, só que nesse caso na forma de superação e prazer. Os dois termos são empregados de maneira distinta – eustresse e distresse – para distinguir as conseqüências positivas e negativas do estresse para a vida do indivíduo, muito embora, do ponto de vista fisiológico, essas duas formas de reação sejam exatamente iguais. O eustresse é o estresse da superação, realização, do triunfo e do contentamento. (...) O eustresse (...) é uma parte natural da superação eficaz de desafios, como por exemplo, os de um perigo eminente e de um trabalho profissional desafiador. Dessa forma, o eustresse é considerado o estresse da vitória (SELYE, 1956, in Pereira, 2010). Outra importante diferenciação entre os tipos de estresse refere-se ao estresse de sobrecarga e ao estresse de monotonia. Quando a estrutura psíquica do indivíduo se torna incapaz de suportar as excessivas exigências psíquicas do meio por um longo período de tempo, fazendo com que o desempenho no trabalho seja reduzido, diz-se que está sob estresse de sobrecarga. Já na situação inversa, em que o indivíduo está submetido a um nível de exigência muito inferior ao que a sua estrutura psíquica demanda, poderá ocorrer outro tipo de estresse, caracterizado como estresse de monotonia (SELYE, 1974). Outros conceitos também são apresentados pela literatura, como os de Couto (1987) e de Simonton et al. (1987), que consideram o estresse um estado em que ocorre um desgaste anormal do organismo humano, ocasionando redução em sua capacidade de trabalho, provocada pela incapacidade prolongada de o indivíduo tolerar e superar as exigências psíquicas da vida ou de adaptar-se a elas. O desgaste do organismo humano é causado por uma tensão crônica, característica da vida moderna. Para esses autores, as pessoas mais vulneráveis ao estresse são aquelas que não conseguem se descontrair, relaxar, mesmo que o desejam. Para (Couto et al., 2007) estresse é um quadro caracterizado por desgaste anormal e/ou redução da capacidade de trabalho, ocasionado basicamente por uma desproporção prolongada entre o grau de tensão a que o indivíduo está exposto e a capacidade de suportá-lo. Couto (1987) diferencia dois tipos de estresse: o agudo e o crônico. Quando perdura por um período maior – três ou mais semanas – o estresse é caracterizado como crônico, podendo causar um efeito deletério maior sobre a saúde do indivíduo. Por outro lado, quando se apresenta de forma mais breve, caracteriza-se como estresse agudo. Couto (1987) ao abordar o estresse, nas suas fases aguda e crônica, diz que “(...) um evento profundamente desagradável, uma agressão verbal ou enfrentar uma discussão séria com exaltação de ânimos podem originar no organismo uma reação de stress; conforme sua duração, este stress será agudo se durar, por exemplo, uma a duas semanas, e será crônico se o estado de inadaptação perdurar por mais tempo”. Rio (1995) apresenta o mesmo entendimento de Couto, observando que “o estresse crônico persiste por mais tempo, sem meios que o desativem eficientemente. Já o estresse agudo dura momentos, horas ou, mesmo, poucos dias e depois se dissipa”. Segundo Couto (1987), o estresse também pode ser categorizado em função das exigências do meio sobre a estrutura psíquica dos indivíduos. Quando as demandas do ambiente exigem mais do que a estrutura psíquica é capaz de suportar, evidencia-se o estresse de sobrecarga, definido com um conjunto de responsabilidades acima da competência intelectual, psicológica e física do indivíduo e ambientes de trabalho permanentemente conflituosos e tensos. De outro lado, há a possibilidade de ocorrência de um estresse de monotonia, em que a estrutura psíquica do indivíduo é pouco estimulada pelas exigências do meio, como pode ser o caso de aposentadoria precoce trabalho pouco desafiante e monótono e relacionamentos interpessoais empobrecido, dentre outras circunstâncias Na visão de Robbins (2009) três conjuntos de fatores atuam como fontes potencias de estresse, dividindo em três categorias de estressadores (sic) potenciais: ambiental, organizacional e individual. “Se elas se tornam estresse real ou não depende de diferenças individuais, como experiência no cargo e personalidade”. O autor afirma ainda que os sintomas do estresse no indivíduo possam surgir como resultados fisiológicos, psicológicos e comportamentais. Compreendem-se por fatores ambientais as incertezas advindas das esferas econômica, política e tecnológica, principalmente aquelas oriundas de mudanças nos ciclos dos negócios. Por fatores organizacionais compreendem-se as pressões para evitar erros ou completar tarefas num período limitado de tempo, sobrecarga de trabalho e chefe insensível e exigente. Robbins (2007) classifica esses fatores em torno de exigências por demandas de tarefas, demandas de papéis e demandas interpessoais. Por “demandas de tarefa”, compreendem-se os fatores relacionados ao trabalho das pessoas, ou seja, o conjunto de características físicas, de condições de trabalho e de qualificações esperadas para a realização do cargo. Couto (1987) observa que algumas empresas estimulam um ambiente tenso, inseguro ou de medo como forma de aumentar a produtividade porém facilmente tende-se a exagerar quanto ao nível de tensão imposta e a capacidade produtiva cai. “O grau de tensão deve ser dosado no sentido de não ocasionar uma ruptura do equilíbrio”. Por demandas de “papéis”, compreendem as pressões sofridas pelo trabalhador em função do papel que desempenha na organização e as expectativas advindas do cargo. Couto (1987) aponta este aspecto como caracterizando o estresse da “responsabilidade excessiva versus à capacidade do executante”. Quando há uma maior exigência de um trabalhador do que seu tempo ou suas qualificações permitem, assim a sobrecarga é vivenciada. Ainda segundo Couto, “quando a tarefa é de maior responsabilidade ou quando a empresa exige resultados além da capacidade do indivíduo podem aparecer uma série de sintomas psicossomáticos caracterizando o estresse da responsabilidade excessiva em relação a capacidade do indivíduo”. As “demandas interpessoais” são aquelas estabelecidas entre as pessoas na organização. Couto (1987 defende que “as relações interpessoais difíceis com chefes, colegas, subordinados e parentes costumam ser uma fonte importante de sobrecarga e estresse”. Relacionamentos com pessoas difíceis, muitas vezes, com características de personalidade obsessiva compulsiva e, até mesmo, com patologias graves desordem comportamental constitui fonte de tensão excessiva no ambiente profissional, podendo precipitar quadros importantes de estresse no trabalho Finalmente, os “fatores individuais” presentes nos quadros de estresse possivelmente podem ser atribuídos às situações ligadas aos âmbitos familiar e econômico, bem como a dificuldades de relacionamentos, diferenças individuais, problemas conjugais, disciplina das crianças e características de personalidade. Matos (2010), citando Robbins (2007), assenta que alguns indivíduos prosperam em situações de estresse, enquanto outros são esmagados por elas. O que vai diferenciar os indivíduos em sua relação com o estresse é a percepção da realidade e o contexto no qual está inserido. Ainda segundo Matos (2010), o autor, coloca que a percepção é o modo segundo o qual o indivíduo constrói em si a representação e o conhecimento que possui das coisas, pessoas e situações. E conclui Matos (2010), “a maneira como o individuo percebe os eventos advindos do meio em que está inserido podem, gerar ou não o estresse” MODELOS EXPLICATIVOS SOBRE O ESTRESSE OCUPACIONAL A literatura aponta três principais abordagens do estresse ocupacional, que, segundo Zille (2005), podem ser consideradas “complementares e interligadas”. A primeira é a abordagem biológica, com ênfase na fisiologia do estresse que aponta o sentido que lhe dá a medicina: “o estresse é essencialmente o grau de desgaste no corpo” A segunda abordagem é a “psicológica”, que corresponde aos processos afetivos, emocionais e intelectuais, do indivíduo, isto é, vida mental, o seu afeto e o jeito de se relacionar com as outras pessoas e com o mundo a sua volta. A abordagem psicológica é subdividida em cinco vertentes: psicossomática, interacionista, behaviorista, psicopatologia do trabalho e social. A terceira é a sociológica, que está relacionada à compreensão das diversas variáveis que se estabelecem no contexto da sociedade Por fim, para melhor entendimento há que se referir aos fatores estressores que Zens (1994) aponta como sendo os principais no trabalho: a) A sobrecarga quantitativa de trabalho (muito para fazer); b) A sobrecarga qualitativa (trabalho sem criatividade); c) Conflito de papéis (ser superior e subordinado ao mesmo tempo) e d) Incapacidade de decidir o próprio trabalho. Esta temática tem discussão aprofundada na sequência. ZENS,C. Occupational medicine. Philadelphia: Lippincott-Raven, 1994. MODELO EXPLICATIVO DE COUTO Para Couto (1987), o modelo básico de origem do estresse é formado pelo contexto do indivíduo, os agentes estressantes no trabalho e por sua vulnerabilidade. A superposição dos dois primeiros elementos, juntos ou separados, associados à vulnerabilidade do indivíduo, pode resultar em quadro de estresse (FALTA FIGURA DO MODELO MODELO DINÂMICO DO ESTRESSE OCUPACIONAL Segundo Mendes (2000), um estudo de grande relevância na literatura de estresse e que serviu de referência teórica para o desenvolvimento de seu próprio estudo foi apresentado por Cooper; Cooper; Aeker (1988). A autora afirma que neste modelo a idéia de estresse e de seus efeitos sobre as pessoas foi desenvolvida a partir de diferentes perspectivas ligadas à percepção e a reação do indivíduo aos diversos acontecimentos ao seu redor. Este recurso metodológico tem-se revelado eficaz na identificação dos quadros de estresse vinculados a questões tipicamente estruturais dos contextos ocupacionais (Mendes, 2000). O modelo em referência apresentou as bases necessárias para o desenvolvimento de um instrumento capaz de diagnosticar os níveis de estresse ocupacional, denominado Occupational Stress Indicator (OSI), o qual identifica os fatores de pressão e as estratégias de combate ao estresse adotado pelos indivíduos. (FALTA FIGURA DO MODELO MODELO DE TENSÃO DO TRABALHO DE KARASEK Outra visão sobre o estresse pode ser encontrada no modelo exigênciacontrole proposto por Baker e Karasek em 1979. Aos dois eixos deste modelo, em 2000, foi incluído um terceiro fator, relacionado aos efeitos benéficos do suporte social no local de trabalho. (Limongi-França; Rodrigues, 2005). O modelo enfatiza a interação entre as demandas e os controles na causa do estresse, evidenciando iniciativas no ambiente de trabalho e as possibilidades individuais ou ajustes no ambiente pessoal. (FALTA FIGURA DO MODELO MODELO EXPLICATIVO DO ESTRESSE DE MARILDA LIPP O modelo de Lipp decorre de pesquisas no Laboratório de Stress da PucCampinas, utilizando-se do ISS – Inventário de Sintoma de Estresse fundamentado no modelo trifásico proposto por Selye em 1956. Seu modelo quadrifásico identificou uma outra fase do estresse, designada de “quaseexaustão” que fica entre a fase de resistência e a fase “exaustão”. O ISSL permite um diagnóstico da presença ou não de estresse no indivíduo, a fase do estresse em que se encontra e qual a predominância da sintomatologia, se na área física ou psicológica (somático ou psicológico (FALTA FIGURA DO MODELO French, citado por Pereira (2010) contribuiu no sentido da compreensão do estresse decorrente das situações de trabalho, o que é denominado pelo autor como estresse ocupacional. Trata-se de uma reação do indivíduo ao seu ambiente de trabalho, que, de alguma forma, o atinge. Essas ameaças podem ser entendidas como agentes estressores que caracterizam uma relação pouco produtiva entre a estrutura do indivíduo e o seu ambiente ocupacional, demonstrando que excessivas mudanças estão sendo direcionadas ao trabalhador e que ele não está devidamente preparado, do ponto de vista psicológico, para internalizá-las de forma positiva. Do ponto de vista fisiológico, o estresse é responsável por provocar nos indivíduos alterações de modo a preparar o organismo para enfrentar e/ou superar as fontes de pressão excessivas as quais está submetido. Quando não há um equilíbrio do organismo em relação às pressões psíquicas do meio e a estrutura psíquica do individuo, instala-se um quadro de estresse. O sistema nervoso e o sistema endócrino são de fundamental importância na mediação desse processo, pois realizam a integração e coordenação entre os diversos órgãos e sistemas do corpo humano. Indivíduos sujeitos a situações adversas reagem, por estimulação do sistema límbico, com a produção aumentada do hormônio adenocorticotrópico (ACTH), produzido no hipotálamo e secretado pela glândula hipófise. Este hormônio, após atingir a corrente sanguínea, irá estimular o córtex (região periférica) da glândula adrenal a produzir glicocorticóides, em especial o cortisol. Isso resulta em alguns efeitos no organismo como a mobilização aumentada de glicose, proteínas e lipídios a partir de suas reservas celulares, tornando-os disponíveis para a geração de energia (Guyton e Hall, 2006). Destaca-se também a atuação do sistema nervoso autônomo (SNA) que, segundo Guyton e Hall (2006), é responsável pelo controle da maioria das funções viscerais do organismo como, por exemplo, pressão arterial, sudorese e temperatura corporal. Efeitos fisiológicos como aumento do fluxo sanguíneo no cérebro e nos músculos, permitindo um melhor raciocínio e respostas musculares mais rápidas; elevação da pressão sangüínea; dilatação das pupilas, proporcionado aumento do campo e da acuidade visual; aumento das taxas de metabolismo celular do corpo; elevação da concentração de glicose no sangue; e aumento da freqüência cardíaca e respiratória, proporcionado melhoria na oxigenação do sangue, o que torna mais eficaz o e desempenho de diversos órgãos do corpo são reações que correspondem à resposta simpática do organismo e visa fornecer uma ativação extra ao corpo, afim de que haja uma melhor preparação do organismo para enfrentar e/ou adaptar-se às fontes de pressão excessiva ao qual está sendo submetido. Esses efeitos geram nos indivíduos, do ponto de vista comportamental, aumento da excitabilidade, agressividade e sensibilidade; ou seja, o organismo fica preparado para enfrentar as ameaças a ele direcionadas. Segundo Couto (1987), de forma errônea e numa linguagem popular corrente, essas reações são confundidas com estresse, chegando até mesmo a ser denominadas com este nome. O estresse não é, entretanto, essa reação em que o organismo busca a adaptação, mais sim uma decorrência deste estado, caso a adaptação e o equilíbrio psíquico não ocorra, afirma o autor. CONCLUSÃO Recomenda-se aos profissionais de gestão de pessoas e da área de saúde, que estejam vigilantes aos primeiros sinais de tensão excessiva entre os trabalhadores. Para que o ambiente de trabalho mantenha-se em equilíbrio, é importante também identificar e controlar as práticas sabidamente obsessivocompulsivas, que, muitas vezes são, até mesmo, incentivadas pelas organizações. (Pereira, 2010) Para a OIT (Genebra 1984), os fatores psicossociais no trabalho consistem, por um lado, em interações entre o trabalho, seu ambiente, a satisfação no trabalho e as condições de sua organização; e, por outro, em capacidades do trabalhador, suas necessidades, sua cultura e sua situação pessoal fora do trabalho; o que afinal, através de percepções e experiências, pode influir na saúde e no rendimento e na satisfação no trabalho. "O estresse é o resultante da percepção entre a discordância entre as exigências da tarefa e os recursos pessoais para cumprir ditas exigências. Uma pessoa pode sentir esta discordância como desafio e, em conseqüência, reagir dedicando-se à tarefa. Pelo contrário, se a discordância é percebida como ameaçadora, então o trabalhador enfrentar-se-á a uma situação estressante negativa, que pode conduzi-lo a evitar a tarefa" (Seeger & Van Elderen, 1996,). Figueroa et al., de modo oportuno colocam que as doenças ocupacionais, mentais e físicas, refletem, em termos monetários, o custo oculto do estresse no trabalho, se não se procura criar o âmbito de trabalho propício para o bemestar e para a produtividade. Spielberger e Reheiser (1994) afirmam textualmente: "O estresse no local de trabalho resulta em custos muito elevados para indivíduos, organizações empresárias e a sociedade em geral, pelos seus efeitos deletéreos sobre a produtividade, absenteísmo, absentismo, saúde e bem-estar". Cox e Ferguson (1994) argumentam que o efeito global do ambiente de trabalho está sustentado por uma complexa interação entre fatores físicos, psicossociais e organizacionais, com uma via final comum em termos da psicofisiologia individual de cada trabalhador. O estresse tem uma influência importante na sociedade atual, onde o mercado de trabalho competitivo vive-se a era dos cartões de crédito e dos gastos excessivos, levando o trabalhador a deixar de existir para passar a sobreviver. As mudanças sociais ocorrem de forma acelerada, exige-se ser capaz de fazer, de cumprir, de não deixar de fazer, de manter-se trabalhando. Os efeitos dessas mudanças provocam respostas no corpo humano: instala-se no indivíduo uma necessidade de adaptação. O estresse é algo fundamental para a existência humana, mas quando percebido em excesso deve-se para minimizar momentos conflitantes que podem ocorrer no ambiente de trabalho. Cabe ressaltar que não é escopo de este trabalho aprofundar o estudo dos modelos em epigrafe, mas ressaltar a escolha do MODELO DINÂMICO DO ESTRESSE OCUPACIONAL para apresentar, como instrumento para investigação de estresse no trabalho o Questionário de Cooper do OSI Occupational Stress Indicator, especificamente para avaliar o grau de satisfação pessoal e de satisfação em relação ao trabalho. O MODELO EXPLICATIVO DE COUTO está parcialmente contemplado no Instrumento denominado “Entrevista Semi-Estruturada de Acompanhamento Pessoal”, adiante apresentada. 6. INSTRUMENTOS DE PESQUISA ORGANIZACIONAL A abordagem multicausal do adoecer, que leva em conta a interação entre fatores patogênicos, destacando a importância dos fatores ambientais, configura uma evolução dos métodos científicos para investigação da saúde (Albrecht, 1979) Nesse âmbito, os estudos sobre estresse e a saúde mental dos trabalhadores têm ganhado relevo na comunidade científica. Observa-se o crescimento acentuado de estudos voltados à avaliação dos aspectos relacionados à organização do trabalho e suas repercussões sobre a saúde do trabalhador (Seligmann-Silva, 1994) Abordar o tema saúde/adoecimento mental no ambiente de trabalho envolve diversas nuances como interesses e pontos de vista nem sempre convergentes. O estabelecimento de uma causalidade entre esses fatores também é uma questão polêmica e envolve aspectos éticos, política previdenciária e políticas da Organização. Glina et al. (2001) apontam o estabelecimento de nexo causal entre adoecimento e situação de trabalho como uma questão complexa, visto que isso envolve idiossincrasias e características individuais, assim como história de vida e de trabalho enquanto fatores influenciadores, configurando-se um processo específico para cada indivíduo. Os autores defendem ser fundamental para o nexo causal entre o agravo que acomete o trabalhador e o trabalho a descrição detalhada da situação de trabalho, envolvendo o ambiente, a organização e a percepção da influência do trabalho no processo de adoecer. Inicialmente, é de fundamental importância que os profissionais da área da Saúde Mental e Trabalho resgatem, de fato, o trabalho como categoria transversal imprescindível na vida humana para poder compreender o homem em sua complexa rede de relacionamentos entre a subjetividade e a objetividade. Afastar-se da tendência de privilegiar quaisquer dessas dimensões para efeito de análise é outra atitude necessária. É possível, por meio da análise e da compreensão das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores (dimensões objetivas) e do resgate da história vivida (dimensões subjetivas), trazer à tona as questões do homem no seu contexto de trabalho. Silva et al. (2009) referem que o resgate das situações concretas de trabalho pode ser feito pela Análise Ergonômica do Trabalho (para compreender o espaço real do trabalho) e pela Psicossociologia do Trabalho (para compreender a subjetividade dos trabalhadores), enquanto disciplinas que podem auxiliar no processo de compreensão das experiências subjetivas, intersubjetivas e objetivas dos trabalhadores. Para o processo de angariar informações, podem-se utilizar todos os instrumentos disponíveis, tais como questionários, entrevistas, observações, além de consultas ao ambulatório médico da organização, dados estatísticos existentes na literatura, contato com sindicatos da categoria, órgãos que cuidam da saúde do trabalhador etc. (Silva et al., 2009) Alguns instrumentos para coleta de informações no ambiente corporativo com a finalidade de abordar o problema da saúde mental no trabalho estão descritos adiante. 6.1 SELF-REPORTING QUESTIONNAIRE (SRQ-20) O instrumento de screening – o Self Reporting Questionnaire O Self Reporting Questionnaire (SRQ-20) foi desenvolvido por Harding et al. (1980) e validado por uma série de estudos internacionais conduzidos pela Organização Mundial da Saúde,com sensibilidade variando de 62,9% a 90% e especificidade, de 44% a 95% (WHO, 1993). Estudos apontam para um desempenho aceitável do SRQ-20 em avaliar os transtornos mentais comuns, ao destacar que, apesar da natureza múltipla dos transtornos emocionais, o instrumento demonstrou habilidade em identificar fatores que, juntos, denotam características indispensáveis para o rastreamento da saúde mental em âmbito ocupacional (Santos, Araújo & Oliveira, 2009) [grifo nosso]. O Self-Report Questionnaire é um instrumento (...) que permite fazer o rastreamento de distúrbios psiquiátricos menores (depressão, ansiedade, distúrbios somatoformes e neurastenia), mais do que estabelecer categorias diagnósticas como na Classificação Internacional de Doenças-10 (CID-10) e Diagnostic and Statistical Manual-IV (DSM-IV) (Mari, 1986). Os transtornos mentais comuns (TMC) – expressão criada por Goldberg & Huxley (1992) para descrever “transtornos comumente encontradas na população e que sinalizam uma interrupção do funcionamento normal” consistem em sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas. (Ludermi, 2000) O SRQ-20, desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), foi validado no Brasil por Mari e Willians. Consiste de 20 itens auto-aplicáveis com escore zero ou 1 (um) relacionados aos sintomas neuróticos, em que o escore zero indica que o sintoma esteve ausente nos últimos 30 dias e o escore 1, que esteve presente. Um escore total e obtido pela soma dos pontos (De Marco, 1986) Os pontos de corte estabelecidos para caracterizar a presença de distúrbios psiquiátricos menores foram distintos para os sexos – 6 para os homens e 7 para as mulheres (Costa, 2002), indicando que todo escore superior a 6 / 7 é considerado caso, o que indica a presença de sintomas psiquiátricos menores. Importante citar a conclusão de Mari et al.(1987) quanto ao valor do SRQ-20 na clínica: (..) “é, inclusive, superior ao próprio exame clínico realizado por médicos generalistas”. O questionário do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) apresenta itens distribuídos por quatro grupos de sintomas e suas respectivas questões, conforme segue: a) Humor depressivo-ansioso Sente-se nervoso, tenso ou preocupado? Assusta-se com facilidade? Sente-se triste ultimamente? Você chora mais do que de costume? b) Sintomas somáticos Tem dores de cabeça freqüentemente? Você dorme mal? Você sente desconforto estomacal? Você tem má digestão? Você tem falta de apetite? Tem tremores nas mãos? c) Decréscimo de energia vital Você se cansa-se com facilidade? Tem dificuldade em tomar decisão? Tem dificuldades de ter satisfação em suas tarefas? O seu trabalho traz sofrimento? Sente-se cansado todo o tempo? Tem dificuldade de pensar claramente? d) Pensamentos depressivos Sente-se incapaz de desempenhar papel útil em sua vida? Tem perdido o interesse pelas coisas? Tem pensado em dar fim à sua vida? Sente-se inútil em sua vida? O SRQ-20 está disponível para aplicação prática em “Anexos”, neste trabalho. 6.2 MALASH BURNOUT INVENTORY (MBI) O Inventário de Burnout de Maslach (MBI) foi projetado para avaliar a Síndrome de Burnout em trabalhadores. O termo burnout foi utilizado primeiramente por Freudenberger, médico psicanalista que descreveu este fenômeno como um sentimento de fracasso e exaustão causado por um excessivo desgaste de energia e recursos. Freudenberger complementou seus estudos em 1975 e 1977, incluindo em sua definição comportamentos de fadiga, depressão, irritabilidade, aborrecimento, sobrecarga de trabalho, rigidez e inflexibilidade (Freudenberger, 1974; França, 1987; Perlman & Hartman, 1982). De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), quase todos os estudos indicam que a conceituação de burnout emerge como uma síndrome psicossocial oriunda de uma resposta crônica aos estressores interpessoais no trabalho. O instrumento mais utilizado para avaliar burnout, independentemente das características ocupacionais da amostra e de sua origem, segundo Gil-Monte e Peiró (1999), é o MBI - Maslach Burnout Inventory, elaborado por Christina Maslach e Susan Jackson em 1978. Sua construção inicial partiu de duas dimensões, exaustão emocional e despersonalização, sendo que a terceira dimensão, realização profissional, surgiu após estudo desenvolvido com centenas de pessoas de uma ampla gama de profissionais (Maslach, 1993). Possuía originalmente 47 itens e atualmente, na versão traduzida e adaptada por Lautert (1995), é auto-aplicado e totaliza 22 itens. FRANCO, Gianfábio Pimentel; BARROS, Alba Lúcia Bottura Leite de; NOGUEIRA-MARTINS, Luiz Antônio and ZEITOUN, Sandra Salloum. Burnout em residentes de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP [online]. 2011, vol.45, n.1, pp. 12-18. ISSN 0080-6234. De acordo com Franco et al. (2011) “o MBI é composto de 22 itens, divididos em três sub-escalas, nas quais altas pontuações em Exaustão Emocional e Despersonalização e baixas pontuações em Incompetência ou Falta de Realização Profissional refletem um nível de Burnout. As questões do instrumento utilizam pontuações de escala do tipo Likert onde zero (nunca) a quatro (todo dia) que somadas apresentam um escore global”. E continuam os autores que “as sub-escalas determinam: o Desgaste ou Exaustão Emocional (EE): avalia os sentimentos do indivíduo com relação ao trabalho - caracterizada como sobrecarga emocional. É o traço inicial do Burnout, assinalado por manifestações psíquicas e físicas com reduzida capacidade de produção laboral; o Despersonalização ou Desumanização (DE): esta é a característica específica da Síndrome, percebida por insensibilidade e desumanização no atendimento. Tratam clientes e colegas com frieza e indiferença; o Sentimento de Incompetência (IC) ou Falta de Realização Profissional (RP): baixa eficiência e produtividade no trabalho”. O presente MBI está estruturado com pontuação de 1 (um) a 5 (cinco), também usado por Tamayo (1997) na adaptação brasileira do instrumento, pois foi verificado que os sujeitos apresentavam dificuldade em responder muitos itens devido à especificidade dos critérios da escala original. O MBI avalia três dimensões do burnout: a exaustão emocional e a despersonalização, considerados fatores negativos, e a realização pessoal, a qual, quando presente, é capaz de atenuar o burnout sentido pela pessoa (Reinhold, 2004) De acordo com Reinhold (2004) o índice geral de burnout pode ser calculado pela fórmula: EE + DP + (RP máxima – RP). Reinhold, Helga Hinkenickel. O sentido da vida: prevenção de stress e burnout do professpor. Tese (doutorado). Orientadora: Marilda Emmanuel Novaes Lipp. Campinas: PUC-Campinas, 2004 O mesmo tipo de categorias de freqüência utilizadas na versão americana (Maslach & Jackson,1986) está sendo utilizada agora: 1. para nunca, 2. para algumas vezes ao ano, 3. para algumas vezes ao mês, 4. para indicar algumas vezes na semana e 5. para diariamente. Em sua primeira versão, o inventário avaliava a intensidade e a freqüência das respostas com uma escala de pontuação do tipo Likert, variando de 0 a 6, que na adaptação brasileira do instrumento foi validada para cinco categorias de frequência. Por fim, Carlotto & Câmara (2004) definem, em seu estudo de validação do MBI como aqui apresentado, que “a versão brasileira do MBI apresenta os requisitos necessários em termos de consistência interna e validade fatorial para ser amplamente utilizada na avaliação da síndrome de burnout em nossa realidade”. Cabem as seguintes observações acerca do Instrumento - MBI, na análise dos resultados da sua auto-aplicação, conforme salientam Carloto e Câmara (2004): a) Ele avalia a síndrome, não considerando os elementos antecedentes e as conseqüências de seu processo: b) Ele avalia como o trabalhador vivencia seu trabalho em termos de exaustão emocional, realização profissional e despersonalização, em índices de burnout de acordo com escores, e c) Ele avalia altos níveis de burnout se forem encontrados altos escores em exaustão emocional (EE) e despersonalização (DE) e baixos escores em realização profissional (RP). A matriz estrutural das dimensões de Burnout (MBI) e as questões relacionadas são apresentadas abaixo: a) Exaustão Emocional (EE) Sinto que meu trabalho está me desgastando. Quando termino minha jornada de trabalho sinto-me esgotado. Quando me levanto pela manhã e me deparo com outra jornada de trabalho, já me sinto esgotado. Sinto que estou trabalhando demais. Sinto-me frustrado com meu trabalho. Sinto-me como se estivesse no limite de minhas possibilidades. Sinto-me emocionalmente decepcionado com meu trabalho. Sinto que trabalhar todo o dia com pessoas me cansa. Sinto que trabalhar em contato direto com as pessoas me estressa. b) Realização profissional (RP) Sinto que estou exercendo influência positiva na vida das pessoas, através de meu trabalho. Creio que consigo muitas coisas valiosas nesse trabalho. Sinto que posso criar, com facilidade, um clima agradável em meu trabalho. No meu trabalho eu manejo com os problemas emocionais com muita calma. Sinto-me estimulado depois de haver trabalhado diretamente com quem tenho que atender. Sinto-me muito vigoroso no meu trabalho Sinto que trato com muita eficiência os problemas das pessoas as quais tenho que atender. Sinto que posso entender facilmente as pessoas que tenho que atender. c) Despersonalização (DE) Sinto que me tornei mais duro com as pessoas, desde que comecei este trabalho. Fico preocupado que este trabalho esteja me enrijecendo emocionalmente. Sinto que realmente não me importa o que ocorra com as pessoas as quais tenho que atender profissionalmente. Sinto que estou tratando algumas pessoas com as quais me relaciono no meu trabalho como se fossem objetos impessoais. Parece-me que os receptores do meu trabalho culpam-me por alguns de seus problemas. Em “Anexos” o MBI é apresentado já estruturado para aplicação na Pesquisa Organizacional da Síndrome de Burnout. SINAIS GERAIS INDICATIVOS DE BURNOUT O Teste “Sinais Gerais Indicativos de Burnout”, proposto por Reinhold (2002) como espécie de screening está incluído em “Anexos” para aplicação. Como ponto de corte cita a autora: “Se você perceber que no seu trabalho lhe faltam 9 ou mais dos aspectos (...) ou esses aspectos estão seriamente comprometidos, você pode ser um candidato em potencial para caminhar em direçao ao burnout”. (Reinhold, In O sentido da vida: prevenção do stress e burnout do professor, 2004). 6.3 ESCALA DE "SATISFAÇÃO NO TRABALHO" DO OSI - OCCUPATIONAL STRESS INDICATOR. Satisfação no trabalho é um fenômeno amplamente estudado e esse interesse decorre da influência que a mesmo pode exercer sobre o trabalhador, afetando sua saúde física e mental, atitudes, comportamento profissional, social, tanto com repercussões para a vida pessoal e familiar do indivíduo como para as organizações (Cura, 1994; Locke, 1976; Pérez-Ramos, 1980; Zalewska 1999a, 1999b). Os estudos sistematizados sobre satisfação no trabalho iniciaram-se na década de 30 (Klijn, 1998) e desde então têm despertado o interesse de profissionais de saúde e de pesquisadores das mais diversas áreas. Ainda não há consenso sobre conceitos nem sobre teorias ou modelos teóricos de satisfação no trabalho. Além disso, diferentes conceitos e definições para o mesmo construto têm gerado dificuldades e até mesmo falhas metodológicas em estudos sobre o tema (Cura, 1994; Pérez-Ramos, 1980). Apesar de relevante e freqüentemente mencionada, a relação entre satisfação no trabalho e saúde tem sido insuficientemente pesquisada e aplicada (Martinez, 2002). O conhecimento sistematizado sobre a maneira como se configuram e os resultados das relações entre satisfação e saúde são relevantes, tanto para auxiliar no estabelecimento de um consenso ou consolidar teorias sobre satisfação no trabalho, como, principalmente, para que estes conhecimentos sejam utilizados como subsídios na concepção, implementação e avaliação de medidas preventivas e corretivas no ambiente psicossocial no trabalho, visando a promoção e proteção da saúde do trabalhador. O ambiente psicossocial no trabalho engloba a organização do trabalho e as relações sociais de trabalho. Fatores psicossociais no trabalho são aqueles que se referem à interação entre e no meio ambiente de trabalho, conteúdo do trabalho, condições organizacionais e habilidades do trabalhador, necessidades, cultura, causas extra trabalho e de cunho pessoais, que podem, por meio de percepções e experiências, influenciar a saúde, o desempenho no trabalho e a satisfação no trabalho (Organização Internacional do Trabalho, 1984). A escala "Satisfação no Trabalho" do Occupational Stress Indicator (OSI) é um instrumento traduzido e validado para o português por Swan et al (1993). Ela possibilita a mensuração da satisfação com 22 aspectos psicossociais no trabalho por meio de escalas de Likert de seis pontos, indo de enorme insatisfação até enorme satisfação. Para avaliação da satisfação com cada aspecto do trabalho, as variáveis foram categorizadas em: a) Insatisfação (enorme insatisfação e muita insatisfação), b) Satisfação c) Intermediária (alguma insatisfação e alguma satisfação) e d) Satisfação (muita satisfação e enorme satisfação). O questionário é composto por 22 perguntas com 6 opções de resposta cada uma. Cada resposta recebe um valor, sendo o valor 1 (um) correspondente a “enorme insatisfação” e o valor 6 (seis) a “enorme satisfação”. Dessa forma o menor valor possível de ser obtido é 22 e o maior 132. Jorge & Glina et al. (2008) propuseram em um estudo sobre satisfação no trabalho como variável dependente a presença de insatisfação no trabalho, definida quando a soma dos valores das 22 questões resultou em valor igual ou inferior a 76. Em outro estudo, Martinez and Latorre (2006), citando Bussing A, Bissels T, Fuchs V & Perrar KM, além de Fraser TM., argumentam que “apenas uma minoria de trabalhadores declara sua insatisfação, o que pode levar a uma prevalência subestimada de insatisfação no trabalho. Mesmo em situações adversas com acidentes, condições de trabalho inadequadas, acentuada divisão do trabalho e altos índices de absenteísmo elevados níveis de satisfação podem ser observados. Arroba e James (1988) consideram as fontes de pressão ocupacional como sendo o estresse manifestado quando as pessoas estão trabalhando. Todavia, apontam também que nem sempre as fontes de pressão são oriundas diretamente do trabalho realizado ou decorrente de acontecimentos no trabalho. Fatores relacionados com as expectativas econômico-financeiras do indivíduo, com questões políticas ou com questões relacionadas a aspectos sociais ou culturais também devem ser consideradas como fontes de pressão sobre o indivíduo. Segundo Cooper, Sloan e Williams o estresse decorre de características negativas no ambiente percebidas pelo indivíduo, as quais são capazes de lhe trazerem conseqüências físicas ou mentais indesejáveis. Essas percepções são resultantes da incapacidade do indivíduo de combater por si só as fontes causadoras de estresse. (Moraes & Sícoli, 2004). Para Albrecht (1988, in Moraes & Sícoli, 2004), a produtividade é resultante da capacidade, interesse e competência do trabalhador, que se sente produtivo à medida que recebe a remuneração de acordo com o que faz e segundo a complexidade das tarefas exercidas. Se o trabalhador é exigido dentro de limites pessoais estabelecidos, ele vai reagir de acordo com a pressão recebida e desafios percebidos. O autor considera ainda que, para o equilíbrio entre o indivíduo e a organização, é necessário que as condições de produtividade sejam satisfeitas. Esse equilíbrio é considerado como uma zona de conforto que permite que o indivíduo funcione bem e satisfaça suas necessidades. As condições físicas do trabalho, o volume e variedade das tarefas, o nível de controle exercido e o status e desafios representados pelo trabalho executado desempenham um papel importante nesta zona de conforto. Esses fatores são fontes de pressão que geram os estresses ocupacionais, que é entendido, por este autor, como conseqüência da falta ou do excesso desses fatores, que podem comprometer o desempenho e provocar efeitos colaterais indesejáveis no indivíduo. Diz ainda Albrecht (1999), num ambiente de trabalho, se não houver certo grau de pressão, não haverá estímulo dos indivíduos para o trabalho ou para enfrentar desafios, superar obstáculos e produzir mais. Isso seria até benéfico, contribuindo para que as pessoas se tornem saudáveis, produtivas e satisfeitas com a organização em que atuam, exigindo cada vez mais esforço para alcançar os resultados esperados. Oliveira (1999) destaca que as empresas exigem cada vez mais dos empregados, em termos de utilização de todo o seu capital intelectual e total comprometimento com o trabalho. Mas não se comprometem com os indivíduos, exigindo que eles exercitem sua empregabilidade se quiserem manter seus empregos. Tais exigências podem vir a constituir-se fontes de pressão causadoras de estresse nos indivíduos. Para Cooper, Sloan e Williams (1988), os agentes estressores são comuns a todo trabalho ou ocupação, variando os tipos de agentes e a potência de sua manifestação de acordo com as características da organização em que o indivíduo atua e com a personalidade da própria pessoa. Seis categorias foram estabelecidas pelos autores para determinar as fontes de pressão potencialmente geradoras de estresse (Occupational Stress Indicator – OSI – COOPER et al. (1988)): a) Fatores Intrínsecos ao trabalho: volume de trabalho, surgimento de novas tecnologias, natureza e conteúdo das tarefas realizadas ou exigidas, ritmo de trabalho. b) Relacionados ao Papel Gerencial: nível de supervisão e controle sobre o trabalho. c) Fatores de Interrelacionamento: Apoio, disponibilidade para o outro, atitudes de isolamento, conflitos de personalidade. d) Relacionados ao Desenvolvimento da Carreira ou Realização: sistema de compensação, oportunidades de desenvolvimento e treinamento, reconhecimento e valorização do desempenho, perspectivas de melhoria ou promoção, segurança. e) Relacionados à Estrutura e Clima Organizacional: políticas e valores empresariais, nível de comunicação, recursos financeiros, clima de trabalho, características estruturais. f) Interface Casa/Trabalho: ocorrências externas ao trabalho, apoio familiar, afastamento ou aposentadoria, instabilidade ou insegurança familiar, conciliação ou conflito entre a carreira e a vida familiar. A respeito do instrumento OSI, Moraes (1994), o considera uma opção segura e viável de pesquisa, aliando estrategicamente praticidade e eficácia, já que se baseia em um modelo teórico validado internacionalmente, tendo se revestido de um caráter prático ao resgatar mais de 25 anos de pesquisas empíricas na área. O Questionário de COOPER, disponível em Couto (2000), que avalia o grau de satisfação pessoal ou de satisfação em relação em relação ao seu trabalho, é, na sua versão em português: 1. Comunicação e forma de fluxo de informações na empresa em que você trabalha. 2. Seu relacionamento com outras pessoas na empresa em que você trabalha. 3. O sentimento que você tem a respeito de como seus esforços são avaliados. 4. O conteúdo do trabalho que você faz. 5. O grau em que você se sente motivado por seu trabalho 6. Oportunidades pessoais em sua carreira atual. 7. O grau de segurança no seu emprego atual. 8. A extensão em que você se identifica com a imagem externa ou realizações de sua empresa. 9. O estilo de supervisão que seus superiores usam. 10. A forma pela qual mudanças e inovações são implementadas. 11. O tipo de tarefa e o trabalho em que você é cobrado. 12. O grau em que você sente que você pode crescer e se desenvolver em seu trabalho. 13. A forma pela qual os conflitos são resolvidos. 14. As oportunidades que seu trabalho lhe fornece no sentido de você atingir suas aspirações e ambições. 15. O seu grau de participação em decisões importantes. 16. O grau em que a organização absorve as potencialidades que você julga ter. 17. O grau de flexibilidade e de liberdade que você julga ter no seu trabalho. 18. O clima psicológico que predomina na empresa em que você trabalha. 19. Seu salário em relação à sua experiência e à responsabilidade que tem. 20. A estrutura organizacional da empresa em que você trabalha. 21. O volume de trabalho que você tem para desenvolver. 22. O grau em que você julga estar desenvolvendo suas potencialidades na empresa em que trabalha. 6.4 INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK ("BECK DEPRESSION INVENTORY" - BDI) De acordo com Gorestein e Andrade (1998) o Inventário de Depressão de Beck ("Beck Depression Inventory"; Beck et al., 1961; BDI) é provavelmente a medida de auto-avaliação de depressão mais amplamente usada tanto em pesquisa como em clínica Há várias propostas de diferentes pontos de corte para distinguir os níveis de depressão utilizando o BDI (Beck et al., 1961; Gotlib, 1984; Oliver e Simmons, 1984; Tanaka-Matsumi e Kameoka, 1986; Louks et al., 1989). De acordo com Beck et al (1988), a escolha do ponto de corte adequado depende da natureza da amostra e dos objetivos do estudo. Para amostras de pacientes com transtorno afetivo o "Center for Cognitive Therapy" (Beck et al., 1988) recomenda os seguintes pontos de corte: menor que 10 = sem depressão ou depressão mínima; de 10 a 18 = depressão, de leve a moderada; de 19 a 29 = depressão, de moderada a grave; de 30 a 63 = depressão grave. Kendall et al (1987) recomendam para população não diagnosticada que escores até 15 para subgrupo “sem depressão”; 16 a 20 para o subgrupo “disforia ou depressão leve”; 21 a 29 para o subgrupo “depressão mderada”e, 30 ou mais para “depressão grave”.. Essa escala revelou uma alta confiabilidade e boa validade quando comparada com o diagnóstico realizado por profissionais. Estudo confirmou a validade discriminante da versão em português do BDI, pela sua capacidade de diferenciar pacientes deprimidos de ansiosos e de sujeitos normais, oou seja, ele discrimina indivíduos normais de deprimidos e ansiosos (Gorenstein; Andrade, 1996; 1998). Cada categoria contém quatro alternativas que expressam níveis de gravidade dos sintomas depressivos. A pontuação para cada categoria varia de zero a três 0, 1, 2 e 3), (...), sendo zero a ausência de sintomas depressivos e, três, a presença dos mais intensos. Dessa forma, a pontuação mínima é 0 e a máxima é 63, porque no caso de o examinado ter marcado mais de uma opção, usa-se a afirmação com a avaliação mais alta e a soma dos escores dos itens individuais fornece um escore total, que corresponde à intensidade da depressão classificada com níveis mínimo, leve, moderada ou grave (Gorenstein; Andrade, 1998; cunha 2001; Maluf, 2002). O BDI e uma escala de auto-relato, composta por 21 itens, validada no Brasil por Cunha (2001) encontra-se disposta baixo: 1. 0 Não me sinto triste. 1 Eu me sinto triste. 2 Estou sempre triste e não consigo sair disso. 3 Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar. 2. 0 Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro. 1 Eu me sinto desanimado quanto ao futuro. 2 Acho que nada tenho a esperar. 3 Acho o futuro sem esperança e tenho a impressão de que as coisas não podem melhorar. 3. 0 Não me sinto um fracasso. 1 Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum. 2 Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que posso ver é um monte de fracassos. 3 Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso. 4. 0 Tenho tanto prazer em tudo como antes. 1 Não sinto mais prazer nas coisas como antes. 2 Não encontro um prazer real em mais nada. 3 Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo. 5. 0 Não me sinto especialmente culpado. 1 Eu me sinto culpado às vezes. 2 Eu me sinto culpado na maior parte do tempo. 3 Eu me sinto sempre culpado. 6. 0 Não acho que esteja sendo punido. 1 Acho que posso ser punido. 2 Creio que vou ser punido. 3 Acho que estou sendo punido. 7. 0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo. 1 Estou decepcionado comigo mesmo. 2 Estou enojado de mim. 3 Eu me odeio. 8. 0 Não me sinto de qualquer modo pior que os outros. 1 Sou crítico em relação a mim devido a minhas fraquezas ou meus erros. 2 Eu me culpo sempre por minhas falhas. 3 Eu me culpo por tudo de mal que acontece. 9. 0 Não tenho quaisquer idéias de me matar. 1 Tenho idéias de me matar, mas não as executaria. 2 Gostaria de me matar. 3 Eu me mataria se tivesse oportunidade. 10. 0 Não choro mais que o habitual. 1 Choro mais agora do que costumava. 2 Agora, choro o tempo todo. 3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo mesmo que o queira. 11. 0 Não sou mais irritado agora do que já fui. 1 Fico molestado ou irritado mais facilmente do que costumava. 2 Atualmente me sinto irritado o tempo todo. 3 Absolutamente não me irrito com as coisas que costumavam irritar-me. 12. 0 Não perdi o interesse nas outras pessoas. 1 Interesso-me menos do que costumava pelas outras pessoas. 2 Perdi a maior parte do meu interesse nas outras pessoas. 3 Perdi todo o meu interesse nas outras pessoas. 13. 0 Tomo decisões mais ou menos tão bem como em outra época. 1 Adio minhas decisões mais do que costumava. 2 Tenho maior dificuldade em tomar decisões do que antes. 3 Não consigo mais tomar decisões. 14. 0 Não sinto que minha aparência seja pior do que costumava ser. 1 Preocupo-me por estar parecendo velho ou sem atrativos. 2 Sinto que há mudanças permanentes em minha aparência que me fazem parecer sem atrativos. 3 Considero-me feio. 15. 0 Posso trabalhar mais ou menos tão bem quanto antes. 1 Preciso de um esforço extra para começar qualquer coisa. 2 Tenho de me esforçar muito até fazer qualquer coisa. 3 Não consigo fazer nenhum trabalho. 16. 0 Durmo tão bem quanto de hábito. 1 Não durmo tão bem quanto costumava. 2 Acordo uma ou duas horas mais cedo do que de hábito e tenho dificuldade para voltar a dormir. 3 Acordo várias horas mais cedo do que costumava e tenho dificuldade para voltar a dormir. 17. 0 Não fico mais cansado que de hábito. 1 Fico cansado com mais facilidade do que costumava. 2 Sinto-me cansado ao fazer quase qualquer coisa. 3 Estou cansado demais para fazer qualquer coisa. 18. 0 Meu apetite não está pior do que de hábito. 1 Meu apetite não é tão bom quanto costumava ser. 2 Meu apetite está muito pior agora. 3 Não tenho mais nenhum apetite. 19. 0 Não perdi muito peso, se é que perdi algum ultimamente. 1 Perdi mais de 2,5 Kg. 2 Perdi mais de 5,0 Kg. 3 Perdi mais de 7,5 Kg. Estou deliberadamente tentando perder peso, comendo menos: SIM ( ) NÃO ( ) 20. 0 Não me preocupo mais que o de hábito com minha saúde. 1 Preocupo-me com problemas físicos como dores e aflições ou perturbações no estômago ou prisão de ventre. 2 Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa que não isso. 3 Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não consigo pensar em outra coisa. 21. 0 Não tenho observado qualquer mudança recente em meu interesse sexual. 1 Estou menos interessado por sexo que costumava. 2 Estou bem menos interessado em sexo atualmente. 3 Perdi completamente o interesse por sexo. 6.5 INVENTÁRIO DE ANSIEDADE DE BECK. Inventário de Ansiedade Beck: Beck Anxiety Inventory (BAI) é uma escala de auto-relato que mede a intensidade dos sintomas de ansiedade, sendo composta por 21 itens. No Brasil, foi traduzido e validado por Cunha (2001). O Beck Anxiety Inventory)- BAI; (BECK; STEER, 1993) é uma escala sintomática,composta por 21 itens, com 4 opções de respostas: 0 = absolutamente não 1 = levemente 2 = moderadamente e 3 = gravemente. De acordo com Terra (2008) os sintomas de ansiedade pode ser classificados como mínimo (de 0 a 10 pontos), leve (de 11 a-19), moderado (20-30) e grave (31-63). A lista de sintomas comuns à ansiedade está abaixo, conforme apresentado por Fábio de Souza Terra em Tese de Doutorado (Terra, 2008). 1. Dormência ou formigamento 2. Sensação de calor 3. Tremores nas pernas 4. Incapaz de relaxar 5. Medo que aconteça o pior 6. Atordoado ou tonto 7. Palpitação ou aceleração do coração 8. Sem equilíbrio / Inseguro (a) 9. Aterrorizado (a) 10. Nervoso (a) 11. Sensação de sufocação 12. Tremores nas mãos 13. Trêmulo (a) 14. Medo de perder o controle 15. Dificuldade de respirar 16. Medo de morrer 17. Assustado (a) 18. Indigestão ou desconforto no abdômen 19. Sensação de desmaio 20. Rosto afogueado (rubor facial) 21. Suor (não devido ao calor) 6.6 MODELO BÁSICO DE ABORDAGEM DA QUESTÃO DA SAÚDE MENTAL NO TRABALHO (COUTO) DESCRIÇÃO O modelo, segundo Couto (2007), tem a “finalidade de abordar o trabalho, para definir se uma Organização está ou não envolvida na origem de transtornos mentais para seus trabalhadores”. O autor reconhece que o Modelo encontra limitações, e sua concepção segue a linha hermenêutica e o critério da intersubjetividade e da interdependência, para validação é feita pelos profissionais da área da saúde mental com vivência organizacional. Pode ser aceito ou rejeitado como formulação básica, afirma. O Modelo encontra-se, de acordo com Couto (2007), aberto a propostas de inclusão, modificação e exclusão de acordo com evidências da clinica médica e da psicologia organizacional. Couto (2007) estabeleceu no seu modelo as Zonas ou Fases pelas quais o trabalhador pode evoluir diametralmente para a saúde ou para o adoecimento mental, que se inter-relacionam com as Seis Dimensões que podem interferir na Saúde Mental do Trabalhador, sendo denominadas de: 1. Qualidade da gestão 2. Realidade psicossocial 3. Estresse 4. Características intrínsecas da tarefa 5. Quadro de valores 6. Modelo de organização do trabalho O quadro a seguir apresenta os fatores pessoais e organizacionais no trabalho que podem levar o trabalhador a uma boa evolução para a saúde mental, ou ao contrário, para o lado da doença mental, quando “passa” pelas fases ou zonas, cujos elementos estão abaixo descritos. PARA A SAÚDE MENTAL PARA A DOENÇA MENTAL Zona de Tensão e sofrimento: Zona de Tensão e sofrimento: ansiedade ansiedade e tensão; calejamento e tensão; insatisfação no trabalho; uso de medicamentos Zona de Adaptação sustentada: Zona de Adaptação precária: defesas controle sobre a tarefa; satisfação psicológicas individuais; com a tarefa; postura sublimada; descompromisso; medo; desesperança; esperança defesas psicológicas coletivas. Fatores de Lapidação Fatores de Ruptura Zona de Alta qualidade de vida e Zona de Adoecimento mental: crises ótima saúde mental: alta motivação emocionais; fadiga; estafa; períodos de com o trabalho; trabalho enquanto depressão; psicopatia social deformada; valor no referencial do individuo deformado agressivo A figura elucida de forma sintética as inter-relações: Falta figura da página 76 Adaptado de Couto (2007) EVOLUÇÃO PARA O LADO DA SAÚDE MENTAL Na evolução psicologicamente positiva das tensões psíquicas no trabalho, na fase de tensão e sofrimento, o individuo poderá estar vivendo ansiedade e tensão, como também poderá estar na fase de calejamento. Couto, afirma que “as observações do cotidiano mostra que as pessoas calejadas (que aprenderam a “não dar murro em ponta de faca”), em geral, mantêm, em geral, um bom equilíbrio psicológico, aptas a retomar o caminho a saúde mental”. Justifica assim Couto que a colocação do “calejamento” no lado da saúde mental, ao invés daquele do adoecimento mental. Couto (2007) cita os principais fatores condicionantes para manter o individuo na zona de adaptação sustentada: a) Controle sobre a tarefa: principal determinante da adaptação sustentada, pois mesmo que existam outros condicionantes negativos, o individuo ainda mantém a noção de autoridade e de domínio sobre a própria vida; b) Satisfação sobre a tarefa: permite ao individuo isolar a realidade do trabalho de sua realidade ao executar a tarefa na qual se envolve; c) Postura sublimada: nela, o individuo deixa de pensar nas situações problemáticas e direciona sua energia para o objeto da sublimação. As principais formas de postura sublimada são: “esse período (negativo) é uma fase da minha vida”, “esse trabalho é financeiramente interessante”, “estou aprendendo para depois aplicar por minha conta” e “o ambiente de trabalho é bom”. Para o trabalhador chegar à fase de alta qualidade de vida e ótima saúde mental, ele normalmente passa pelos chamados fatores de lapidação. A lapidação é um processo psíquico de ajuste positivo ligado a estados mentais que envolvem possibilidades, probabilidades e realidades que o trabalho representa para si mesmo e para a vida. O autodesenvolvimento é um exemplo. EVOLUÇÃO PARA O CURSO DA DOENÇA MENTAL Na evolução psicologicamente negativa o individuo passa, segundo Couto (2007), por duas fases importantes: a) A fase tensão e sofrimento: nesta o individuo pode viver ansiedade, tensão, insatisfação com o trabalho e comumente fazendo uso de medicamentos ou buscando serviços de saúde para obtê-los para minimizar a sintomatologia. b) A fase da adaptação precária: são encontradas diversas formas de defesas psicológicas individuais representadas pela negação, racionalização, transferência de responsabilidade, regressão e fuga. O aparecimento de descompromisso, do medo, a da desesperança, além de defesas psicológicas coletivas são comuns. Os fatores de ruptura, caracterizados por ocorrências do cotidiano no trabalho que precipitam o quadro do adoecimento mental, são aspectos que, se bem conhecidos, pautam a abordagem para a manutenção da saúde mental no trabalho. Na zona de adoecimento mental os quadros mais freqüentes se traduzem por crises emocionais, fadiga, cansaço, estafa e sintomas depressivos. Ainda, na evolução, o adoecimento mental pode ser manifesto por comportamento psicótico, sendo comum o de caráter deformado e menos freqüente o de caráter deformado agressivo. De acordo com o CID-10, que classifica a psicopatia como transtorno de personalidade antissocial, as características psicológicas (traços de personalidade: “indiferença insensível aos sentimentos alheios”; aspectos relacionais do indivíduo: “propensão marcante para culpar os outros”; características afetivo-emocionais: “baixa tolerância à frustração”, “baixo limiar para descarga de agressão”) são critérios, mas não somente, para o diagnóstico. O portador de psicopatia de caráter deformado agressivo é aquele que não consegue obter a vantagem pessoal que persegue. Passa antes, de assumir o comportamento psicopático, por uma fase, que perdura depois, de alienação com o trabalho, buscando a estabilidade do emprego como objetivo último e que faz da carta anônima o veiculo de informação, buscando unicamente resolver seus problemas em detrimento dos outros por desrespeito aos preceitos éticos. ORGANIZAÇÃO Mundial da Saúde (OMS). Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 – Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artmed, 1993 Na zona de adaptação precária três fatores foram citados por Couto (2007) como fatores de ruptura: a) Carga de trabalho: especialmente alta e com falta de recursos para o trabalho, associada a cobrança rigorosa de resultados; b) Impacto emocional: especificamente o alto impacto pode ser agente agravador dos estados de ansiedade e tensão. Esse impacto emocional ou sobrecarga pode estar relacionado a problemas de ordem física, psicológica ou e social de vivência no trabalho. Pontas não fechadas: em situações de risco (de acidentes) ou perdas. (falta explicitar o significado de pontas não fechadas) PREDISPOSIÇÃO PARA A SAÚDE OU DOENÇA: FATORES INDIVIDUAIS E DE PERSONALIDADE Para Couto (2007) as características do ser humano que levam a uma maior ou menor predisposição para a saúde ou para o adoecimento mental são: 1. De maior resistência e, portanto, mais propenso para a saúde mental no trabalho: a) De personalidade calma, seguros de si e pouco emotivos; b) De forte ética de trabalho; c) De expectativa profissional equilibrada com o que o trabalho pode oferecer; d) Que assume responsabilidade dentro de seus limites; e) Que possui bom equilíbrio financeiro; f) Que pratica atividade física; g) Que tem bom suporte social. 2. De menor resistência e, portanto mais propenso para o adoecimento mental no trabalho: a) De característica jovem ou adulto jovem; b) De personalidade tensa; c) De feição insegura; d) De perfil psicológico emotivo; e) De mais alto nível que a exigência básica para o trabalho; f) Que vive expectativas irreais entre o que pode fazer e as possibilidades que oferece o trabalho; g) Que apresentam desequilíbrio nas contas pessoais; h) Que tem baixo suporte social; i) Que assume responsabilidade bem acima de seus limites. CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS SEIS DIMENSÕES, CONFORME COUTO QUALIDADE DA GESTÃO do processo produtivo As situações de trabalho em que há equilíbrio entre objetivos e metas planos de trabalho compatíveis com a capacidade do trabalhador e contemplando adequadamente as variáveis “1T” e “8M” apontam para boa qualidade de gestão e, conseqüentemente para uma boa saúde mental. Fases de desequilíbrio podem ocorrer quando o trabalhador assume responsabilidades além de seus limites, inclusive com sofrimento mental, podendo levá-lo a crescimento e autodesenvolvimento desde que haja nível de compatibilidade entre as exigências do trabalho, a estrutura do individuo e o suporte social. A má gestão dos processos produtivos que geram tensão e sofrimento mental no trabalho não é diferente daqueles fatores que predispõem a distúrbios musculoesqueléticos, especialmente de membros superiores. Resultado em geral ruim, como perda de prazos e de clientes, falta de qualidade do produto ou serviço, retrabalho, além de aumento da carga de trabalho, de objetivos e metas sem preparo adequado, falta de pessoal e de qualificação de mão de obra, adensamento do trabalho sem base técnica, aumento da jornada (horas-extras), falta de material para completar o trabalho, sistemas auxiliares não disponíveis no momento do uso são alguns exemplos que levam a tensionamento e podem colocar o trabalhador em zona de adaptação precária. No entanto, a discussão das dificuldades e a existência de sinais de mudança são eventos decisivos que levam o trabalhador para a “zona de adaptação sustentada”, que predispõe o trabalhador para o lado da saúde mental. REALIDADE PSICOSSOCIAL do trabalho e os fatores higiênicos Couto (2007) considera “uma das áreas mais críticas na tênue questão da saúde mental no trabalho”. Uma realidade social favorável é fator preponderante para encaminhamento do trabalhador para o lado da saúde mental; ao contrário, uma realidade social desfavorável e fatores higiênicos sem controle representam uma das dimensões mais significativas na precipitação do adoecimento mental. No entanto, mesmo o trabalhador em zona de adaptação sustentada pode adoecer frente a uma emoção agressivamente desagradável. São considerados fatores de realidade social favorável, citados pelo autor, ambientes higiênica e ergonomicamente adequados, coerência no trato de assuntos de pessoal, nível correto de tensão, chefias seguras e capazes, interessadas pelos subordinados e por seus problemas com a empresa, comunicação interpessoal verdadeira e construtiva, com ambiente eticamente responsável no trato de assuntos particulares e equilíbrio entre capacidade, responsabilidade e remuneração. O trabalhador, ainda que submetido a uma realidade desfavorável (nível muito alto de tensão e pressão excessiva, relações humanas desrespeitosas, chefia inseguras, incapazes ou perversas; insegurança no emprego e bloqueio de ascensão na carreira; condições ergonômicas muito ruins, ambiente com alta incidência de ruído, calor, vapores, contaminantes e correlação desequilibrada entre capacidade, responsabilidade e salário) pode não adoecê-lo e, mais, pode deixá-lo na zona de adaptação sustentada se ele tiver uma postura psicológica de sublimação, uma identificação com a tarefa e uma percepção de sinais de mudança. Aqueles trabalhadores situados em “zona de adaptação precária” podem ser acometidos de doença mental diante de fatores psicossociais como pressão excessiva, desrespeito humano; humilhação (implícita (mobbing) ou explicita) ou assédio moral, assédio sexual ou frustração importante. ESTRESSE O estresse como fator de adoecimento mental no trabalho está relacionado a qualidade da gestão do processo produtivo: boa parte da sobrecarga pela deficiente ou ausente qualidade da gestão é devida ao alto nível de estresse que causa. O entendimento do estresse no trabalho, segundo modelo denominado por Couto (2007) de “Curva de desempenho”, está no equilíbrio da equação exigências da tarefa versus estrutura psíquica do individuo. O afastamento do “ajuste ótimo”, que se caracteriza por motivação ótima, Idéias claras e respostas corretas, para a esquerda ou para a direita leva a fadiga psíquica, a primeira manifestando-se pelo estresse da monotonia (exigências da tarefa menores que a estrutura psíquica do individuo) e a segunda levando para o estresse da sobrecarga (exigências da tarefa maiores que a estrutura psíquica do individuo). O estresse por monotonia está representado pela reação de embotamento mental e crises emocionais e o de sobrecarga pela estafa ou esgotamento físico e mental. As situações de trabalho capazes de induzir crescimento e levar à saúde mental correspondem a carga razoável de atividade; autoridade bem delegada; trabalho desafiador; prazos e flexibilidade razoáveis. O trabalho desafiador pode fazer o trabalhador passar por um período de sofrimento mental, com ansiedade e tensão, podendo dirigir-se para uma zona de adaptação sustentada ou precária, sendo determinante no fluxo de saúde mental (ou doença) o desenvolvimento da capacidade de dar conta (ou não) do desafio. Carga de trabalho muito alta ou bem abaixo da capacidade do trabalhador; muitos prazos limites ou prioridades; ausência de poros ou inflexibilidade; contradições tensionadoras ou alta velocidade de mudanças são o perfil para encaminhamento do individuo para uma “zona de adaptação precária” e alta chance de adoecimento mental. CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECAS DA TAREFA O conhecimento apreendido ou adquirido pelo trabalhador acerca de sua tarefa ou atividade pode induzir a uma boa saúde mental. São fatores decisivos para a satisfação do trabalhador com a tarefa (não com a empresa ou com o emprego) a identidade com a mesma, a autoridade e a criatividade sobre o processo, os ciclos completos e a flexibilidade, além do feedback sobre o trabalho desenvolvido. As características intrínsecas da tarefa, conforme Couto (2007) se constituem numa das dimensões mais importantes de levar o individuo a “zona de alta qualidade de vida e ótima saúde mental” quando existem “fatores de lapidação” como a participação efetiva, o crescimento na carreira e desafios pouco acima dos limites. No entanto, o fato de possuir as características nominadas não garante estágio na “zona de adaptação sustentada” ou ótima saúde mental no trabalho, pois está bem demonstrado que níveis elevados de estresse (ou de elevado nível de simultaneidade) podem deteriorar a qualidade de vida no trabalho. As tarefas de características intrínsecas pobres podem ser as genéricas e o trabalho fragmentado, a pouca ou a ausência de autoridade ou criatividade sobre o processo e a ausência de feedback. Mesmo nestas circunstâncias, dependendo das características do trabalhador e sua expectativa de vida, especialmente quando ainda o processo é eficaz, a remuneração é compensadora e a empresa mantém um bom ambiente de trabalho (sistema social) há possibilidade do trabalhador se manter na “zona de adaptação sustentada”. Os pontos de ruptura (má qualidade no trabalho, remuneração baixa) conduzem à doença mental. O QUADRO DE VALORES A convivência com uma realidade por um terço, ou mais, de uma jornada diária de trabalho influencia o trabalhador na direção da saúde ou do adoecimento mental, preceitua Couto. No construto de uma motivação sadia e crescimento estão a coerência, o respeito ao ser humano, a meritocracia, o estimulo à responsabilidade e a preservação de aspectos éticos. O trabalhador de motivação sadia se interessa pelo que faz, se envolve em proposta de melhorias, age pelo lado da ética, denuncia coisas erradas mesmo se tenha de expor sua segurança. Práticas que permeiam organizações, como valores negativos ou “desvalores” representados pala incoerência, estímulo à submissão sem questionamento, impunidade em quesitos de atos ou atitudes desonestas, protecionismo, pessoas desonestas ocupando cargos de responsabilidade e promoção de pessoas de caráter deformado, são pontos de ruptura que levam ao adoecimento mental. MODELO DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO A organização do trabalho, como cita Couto, é um dos tópicos mais explorados atualmente como implicados na origem dos transtornos mentais no trabalho. Couto descreve um Modelo Hierarquizado com as “principais práticas de potencial de deterioração da saúde mental” compostas por: 1. Falta de clara definição do sistema de trabalho pela hierarquia, 2. Tempos pré-determinados, 3. Linhas de produção sem variação e sem maior desafio, 4. Obediência a padrões, 5. Uso de técnicas de racionalidade obsessivo-compulsiva com critérios cada vez mais apertados. Alguns dos fatores de ruptura do equilíbrio mental, em modelos hierarquizados de Organização do Trabalho são a alienação total, dissociação corpo-mente, a carga enorme de trabalho, o alto grau de controle e a falta de mecanismos de regulação. Couto enfatiza que nem sempre a listagem em epigrafe significa doença mental e que um dos fatores que conduzem o trabalhador à “zona de adaptação precária” é a existência de estresse. Quando o processo é eficaz ou o trabalhador se identifica com a tarefa ele pode conviver numa “zona de adaptação sustentada”. Dos “tipos” de modelos de Organização do Trabalho, aquele que apresneta preponderância de autogerenciamento “costumam ser acompanhados de adaptação sustentada e de desenvolvimento da saúde mental; no entanto tem que ser eficazes e competitivos para fazer frente à concorrência e aos custos de processo operacional”. Incluem a participação dos trabalhadores no desenvolvimento de organização do trabalho, estabelecimento de tempos flexíveis, implantação de células de produção e uso de técnicas de racionalidade para crescimento e melhoria. A discussão se um modelo de organização do trabalho é ou não mais “saudável” em termos de propiciar maior adequabilidade para o lado da saúde mental não depende somente do modelo em si, mas de adaptação de ou a outros fatores, como referido em epigrafe. ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA DE ACOMPANHAMENTO DE PESSOAL Couto (2007) ao desenvolver um modelo de abordagem da questão Saúde Mental na Empresa propôs um instrumento de pesquisa que permite ao pesquisador (psicólogo organizacional, por exemplo) verificar o grau de adaptação mental do trabalhador à Tarefa, à Área em que trabalha e à Empresa. Couto conjectura que “o ser humano não é apenas braços e capacidade de pensar e solucionar questões do trabalho; como ser único, ele tem capacidade reflexiva, de pensar sobre suas situações e vida, inclusive sobre seu grau de ajustamento no trabalho”. Lembra que “o ambiente de trabalho contém exigências de esforços manuais, também pode conter situações ocasionadoras de tensão, algumas delas relacionadas à própria organização do trabalho, outras ligadas ao ambiente psicossocial. Quando essa sobrecarga tensional for causada pelo trabalho, deve ser detectada de forma adequada e conduzida também de forma adequada, visando conseguir-se ambiente de trabalho sadio sob o ponto de vista psíquico”. E completa: “É importante lembrar que esse tipo de situação , quando não adequadamente conduzido, pode acarretar insatisfação com o trabalho, com suas previsíveis conseqüências, e até mesmo adoecimento mental relacionado com o trabalho”. Como objetivos menciona, o autor, os seguintes: Detectar aspectos de organização do trabalho e psicossociais importantes existentes no dia-a-dia das organizações e sobre os quais deve haver uma intervenção precoce, estruturada e eficaz e Detectar aspectos pessoais causadores de transtornos emocionais, orientando o trabalhador para ajuda externa. Couto, ainda considera importantes os ganhos intangíveis ao aplicar a “Entrevista semi-estruturada de acompanhamento de pessoal”: a) Possibilidade de contato pessoal - um dos fatores mais citados como altamente positivos pelos trabalhadores é a possibilidade de falar, de expressar sua percepção a respeito das coisas da área, especialmente de situações que no dia a dia, as pessoas as pessoas não falam, seja por não terem tempo, seja por não terem um ambiente favorável para tal; b) Compilação de exemplos – fazendo a entrevista com os trabalhadores, o psicólogo passa a ter uma série de exemplos, que ilustrarão seu debate com a alta gerência visando proposição de medidas corretivas e c) Ajudar quem precisa ser ajudado – tanto o que se refere à proposição de melhorias na encaminhamento realidade no caso psicossocial de das questões áreas, pessoais. como no Entre os encaminhamentos possíveis, um deles é à assistente social. DR HUDSON: OPINAR ALTERAÇÃO “ROTEIRO DE ENTREVISTA” PROPOSTA (NOVA) DO MODELO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTRADA DE ACOMPANHAMANTO DE PESSOAL. METODOLOGIA DE APLICAÇÃO. A estruturação na (nova) proposta de Modelo de Entrevista difere do original pela introdução de questões de auto-aplicação com o objetivo de reduzir o tempo de entrevista, maior facilidade na tabulação dos dados e produção de estatísticas. O conteúdo das questões permanece idêntico ao texto original. Mantiveram-se algumas questões abertas por serem consideradas importantes para avaliação da linguagem não verbal do trabalhador, alem de, como referido, propiciar contato pessoal, compilar exemplos e tomar decisões, nno momento, de encaminhamento para solução do problema, se pertinente. É também um momento para avaliar ou esclarecer as respostas às questões de auto-aplicação já respondidas pelo trabalhador. O Entrevistador, ou pessoa treinada para este tipo de atividade, já no contato inicial com o trabalhador deve estabelecer o que Couto denomina de “Contrato Psicológico”, ou seja, explica os objetivos da entrevista, garante o sigilo e a confidencialidade das informações que lhe forem passadas e procura deixá-lo bem à vontade. O trabalhador é orientado a iniciar a parte de auto-aplicável do questionário, podendo ser assistido pelo próprio Entrevistador em caso de dúvidas. De posse das respostas dadas pelo trabalhador, o Entrevistador complementa os dados com a parte das perguntas abertas e ao final emite seu juízo acerca da entrevista como um todo. A sugestão é de que o momento para realização da entrevista seja a da consulta médica relativa ao Exame Ocupacional Periódico (conforme o PCMSO da Empresa). A aplicação rotineira, mesmo que não seja atendida a totalidade dos trabalhadores, é útil para detectar precocemente os sinais de ajuste/desajuste individual, da área ou na empresa. DESCRIÇÃO DAS ETAPAS E DO DETALHAMENTO DA ENTREVISTA. INSTRUÇÕES Responda fazendo um círculo em torno do número em cada questãO, de acordo com a seguinte escala: 4 – Quase sempre ou sempre; 3 – Às vezes; 2 – Raramente; 1 – Quase nunca ou nunca PARTE 1: QUESTÕES DE AUTO-APLICAÇÃO a) Dimensão Gestão do Processo Produtivo Você considera que a empresa dá condições de se conseguir os resultados que lhe são cobrados? Você considera que a maneira (método) que você executa seu trabalho lhe permite alcançar os resultados (produção) esperados? Procura-se detectar o ponto de ruptura do equilíbrio mental: carga enorme de trabalho sem os recursos para tal, com cobrança rigorosa de resultados b) Modelo de Organização do Trabalho Você considera que a intensidade do trabalho é adequada? Você considera que o seu trabalho tem um ritmo puxado do inicio ao fim? Você considera que lhe são apresentadas ou que realiza tarefas ou atividades de menor exigência ou mais simples? Você considera que o trabalho está adequadamente organizado em sua área? Você considera que tem sido oferecido pela chefia oportunidade para participar com sugestões para melhorar a organização no trabalho? Você recebe informações de seus superiores sobre como está indo seu trabalho? Procura-se detectar os pontos de ruptura do equilíbrio mental: Alienação total, Dissociação corpo-mente, Carga enorme de trabalho, Altíssimo grau de controle e poucos mecanismos de regulação c) Aspectos Intrínsecos da Tarefa e Satisfação com o Trabalho Você se identifica com o trabalho que faz nesta empresa? Você tem enxergado ou percebido perspectivas profissionais ou de crescimento no seu trabalho? Você considera que o seu salário, desde que entrou na Empresa, é compatível com o a responsabilidade ou desempenho que você tem no seu trabalho? Procura-se detectar os pontos de ruptura do equilíbrio mental: Má qualidade de vida no trabalho, Remuneração abaixo dos níveis mínimos de dignidade. d) Realidade Psicossocial Você tem percebido um bom relacionamento entre as pessoas em seu ambiente de trabalho? Você tem se sentido pressionado no seu trabalho por parte de seus colegas ou superiores? Você tem sido desrespeitado, humilhado no seu dia a dia no seu local de trabalho pelos superiores? Procura-se detectar pontos de ruptura do equilíbrio mental: Pressão excessiva, Comportamento obsessivo-compulsivo/paranóico/perversidade, Desrespeito, Assédio moral – humilhação explícita, humilhação implícita (mobbing), assédio sexual, Frustração importante e) Quadro de Valores Você tem percebido coerência dos supervisores no trato de assuntos de pessoal? Você tem percebido se os critérios são aplicados a todos quando as pessoas progridem, ou são promovidas, na sua área de trabalho? Você, em algumas situações, tem feito alguma coisa que esteja eticamente errado? Você tem sentido que a chefia de sua área tem agido com protecionismo para com colegas de trabalho? Pontos de ruptura do equilíbrio mental: Exigência de agir fora dos valores éticos, Inibição de autenticidade e de coerência, Inibição de liberdade f) Estresse Você, em algumas situações, foi cobrado para obter resultados na produção sem ter as condições de equipamentos ou materiais adequados para chegar lá? Você presenciou algum episódio na área que tenha levado o pessoal a se sentir muito frustrado, individualmente ou coletivamente? Procura-se detectar pontos de ruptura do equilíbrio mental: Carga excessiva de trabalho; Falta de controle dos meios para conseguir um determinado resultado; Cobrança dos resultados; Frustração importante. g) Fechamento Você tem manifestado queixas da área na qual exerce sua atividade de trabalho, ou de sua Empresa, para sua chefia? Você indicaria ou convidaria, ou já indicou um amigo ou um parente para trabalhar na sua área ou na sua Empresa? A chefia tem lhe tratado bem e tem encaminhado adequadamente os problemas relatados de sua área ou da sua Empresa? PARTE 2: PERGUNTAS ABERTAS 1. Como você se sente atualmente em relação à empresa? Procurar perceber aspectos detectados por um bom treinamento em análise de discurso, por exemplo: silêncio, atitudes de retração, sorriso versus enrijecimento da expressão facial. 2. Qual o problema que você considera mais importante no seu local de trabalho? Explorar com o trabalhador o que ele tiver apresentado como grande fator causador de tensão; detalhar, buscar exemplos, anotar os exemplos, procurar ver se é uma percepção só dele ou se outros trabalhadores têm a mesma percepção. As conclusões do entrevistador podem ser com a tarefa, com a área e com a empresa nos quesitos: “Ajustado”, “Duvidoso” ou “Desajustado”. Por fim, cabem a critério do entrevistador, os encaminhamentos para tratar da solução ou soluções que o caso requer. CONSIDERAÇOES ACERCA DOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA ORGANIZACIONAL Os instrumentos de pesquisa de campo aqui sugeridos visam oferecer sugestões aos agentes envolvidos (medicina ocupacional, psicologia organizacional e assistência social) para abordar a problemática da saúde/doença mental no trabalho no sentido de melhorar o ambiente organizacional. O tratamento dos transtornos mentais será de responsabilidade de profissional médico, auxiliado por psiquiatra, se for ocaso, na assim chamada fase aguda. Mas, a vigilância para evitar que a Organização do Trabalho seja desencadeadora ou agravadora de transtornos psíquicos é responsabilidade de gestão e compartilhamento de informações, exceto as de caráter individual, que por questão ético-profissional deve ser resguardada. O seguimento deverá ser por equipe multidisciplinar, aqui incluído o médico do trabalho, o psicólogo organizacional (e clínico, se necessário) e o assistente social. No retorno ao trabalho, caso haja afastamento do trabalho por tempo prolongado, por pericia médica do INSS o não, as condições pré-existentes no ambiente de trabalho devem ter sido adequadamente abordadas, sob o risco de recorrência de adoecimento. Moreno-Jimenez (2000) afirma que para mudanças positivas, as decisões nas instituições têm de ser baseadas em evidências científicas sobre a abordagem e o tratamento que mantenham a saúde mental para, só assim, alterarem as políticas de benefícios e os recursos humanos direcionados. Añade el informe que el análisis de las políticas existentes ha definido ciertos elementos capitales como muy adecuados, y subraya que «el paso más fundamental para las organizaciones es reconocer y aceptar que la salud mental es um tema importante, y asumir el compromiso de promoverla». 7. A DOR, O SOFRIMENTO E O ADOECIMENTO MENTAL Dor é um dos sintomas e razões mais comuns de consultas médicas. A dor aguda é de ocorrência universal, tem duração limitada, responde ao tratamento e pode ser curada; já a dor crônica tem tempo de duração superior a três meses e se caracteriza pela persistência além da cura, mesmo não havendo patologia demonstrável (Teixeira, 2003; Catalano, 2007) Teixeira MJ, Filho JLB, Márquez JO, Yeng LT. Dor – Contexto Interdisciplinal. Paraná: Editora Maio; 2003. Catalano EM,Hardin KN. Dores Crônicas: Um guia para tratar e prevenir. Rio de Janeiro: Summus; 2007.p.17-9. O que entender por dor? A palavra “dor” origina-se do latim dolore. Os dicionários costumam defini-la como impressão desagradável ou penosa, decorrente de alguma lesão ou contusão, ou de um estado anormal do organismo ou de parte dele (Pessini, 2002) Existem pelo menos mais duas definições de dor que valem a pena lembrar. Em 1979, a Associação Internacional para o Estudo da Dor assim a definiu: “uma experiência emocional e sensorial desagradável, associada com dano potencial ou atual de tecidos, descrita em termos de tais danos”. Em 1986, reformulou esse conceito para “uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesões reais ou potenciais, ou descrita em termos de tais lesões” (Figueiró, 2000). Figueiró JA. A dor. São Paulo: Publifolha, 2000.p.12. Pessini, Léo. Humanização da dor e sofrimento humanos no contexto hospitalar. Rev. Bioética 2002 – vol.10 n. 2. Pessini (2002), citando Dame Cicely Saunders, tomando esta descrição como base cunhou a expressão “dor total”, que inclui além da dor física a dor mental, social e espiritual. Falhar em considerar esta apreciação mais abrangente de dor é uma das principais causas pelas quais os pacientes não recebem alívio adequado dos sintomas dolorosos. Nos termos da definição, não apenas o componente físico e químico estão envolvidos no evento doloroso são considerados, mas também aspectos subjetivos e psicológico, que são cruciais na compreensão da queixa dolorosa. A dor, como outras sensações, exerce função de adaptação. Enquanto a dor aguda atua como instrumento de alerta, indicando que algo esta errado com os meios exterior ou interior ao individuo, a dor crônica decorre de estímulos contínuos ou recorrentes, mas pode ocorrer mesmo na ausência deles e causa sofrimento e incapacidade. Sua função biológica e menos definida; talvez exerça funções relacionadas a memória e proteção da região acometida (Teixeira, 1990; Teixeira 2006) A dor e sempre subjetiva e cada individuo aprende a utilizar o termo baseandose em suas experiências pessoais frente a lesões que ocorrem desde o inicio da vida (Merskey, 1979). Este conceito dispensa a necessidade de existência de lesão e enfatiza a subjetividade na interpretação do fenômeno como seu caráter emocional e sensitivo. A dor aguda e aquela que desaparece assim que ocorre cura da lesão causal. A dor crônica e a que persiste além do prazo esperado para a cura de sua lesão ou está relacionada a doenças crônicas, pode ser continua ou intermitente e persiste por mais de 6 (seis) meses. Nem sempre a lesão está presente ou pode ser identificada. (Anderson et al.,1993; Merskey, 1994). Dor crônica é uma síndrome complexa e envolve componentes biológicos, emocionais, cognitivos e comportamentais (Merskey, Bogduk, 1994; Smith, Chambes, Smith, 1996) Merrskey H, Bogduk N, Eds. Classification of chronic pain: descriptions of chronic pain syndromes and definitions of pain terms. 3 ed. Seatlle, WA: IASP Press; 1994 Smith, BH; Chambers, WA; Smith, WC. Chronic pain: time for epidemiology. Journal of the Royal Society of medicine 1996; 89(4): 181-183 A dor, aguda ou crônica, é capaz de produzir incapacidade. “A incapacidade pode ser vista sob o aspecto físico, social, ocupacional e mental. Quando relacionada à dor crônica, pode ser definida pela dificuldade ou impossibilidade de realização de tarefas e atividades em função da dor. Estas tarefas incluem o auto-cuidado, tarefas domesticas, atividades de trabalho, atividades sociais e de lazer, que podem ser prejudicadas ou mesmo inviabilizadas em função da dor” (Salvetti, 2010) Salvetti, MG. Incapacidade em pessoas com dor lombar crônica: prevalência e fatores preditores [Tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; 2010. Atualmente a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde (OMS) é utilizada para padronizar os termos na área da saúde e a incapacidade é compreendida como uma resultante da interação entre disfunção apresentada pelo individuo (seja orgânica e/ou da estrutura do corpo, a limitação de suas atividades e a restrição na participação social, envolvendo fatores ambientais que podem atuar como facilitadores ou barreiras para o desempenho e participação nestas atividades (WHO, 2002; Farias, Buchalla, 2005) Wittinkk (2005) afirma que incapacidade é um termo “guarda-chuva” para prejuízos, limitação de atividades e restrições na participação. Para Leeuw et al. (2007) a incapacidade relacionada à dor refere-se aos problemas em executar tarefas da vida diária e atividades de casa e do trabalho. Leeuw M, Goossens MEJB, Linton SJ, Crombez G, Boersma K, Vlaeyen JWS. The fear-avoidance modelo f musculoskeletal pain: current state of cientific evidence. JJournal of Behavioral Medicine 2007; 30(1): 77-94. Wittink H. Functional capacity testing in patients with chronic pain. Journal of Pain 2005: 21(3): 197-199. [WHO] Word Health Organization. Towards a Common Language for Functioning Disability and Health – ICF, [WHO/EIP/GPE/CAS/01.3]. Genebra: 2002. Farias N, Buchalla CM. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde da Organização Mundial da Saúde: Conceitos, Usos e Perspectivas, Rev Bras Eppidemiologia 2005; 8(2): 187-93. Merskey H, Albe-Fessard DG, Bonica JJ, Carmon A, Dubner R, Kerr FWL, et al. Pain terms: a list with definitions and notes on usage. Recommended by the IASP subcommittee on Taxonomy. Pain 1979; 6: 249-252. Anderson HI, Ejlertsson G, Leden I, Rosenberg C. Chronic pain in a geographically define general population: study of diferences in age, gender, social class and pain localization. Clin J Pain 1993; 9:174-182. Merskey H, Bogduk N. Classification of chronic pain. 2nd ed. Seattle: IASP Press; 1994 Teixeira MJ. A lesão do trato de Lissauer e do corno posterior da substancia cinzenta da medula espinal e a estimulação elétrica do sistema nervoso central para o tratamento da dor por desaferentação [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de Sao Paulo; 1990. Teixeira MJ. Dor e depressão. Rev Neurocienc 2006; 14(2):044-053. DOR EM TRANSTORNOS OU ANORMALIDADES PSÍQUICAS. Baptista (2005) afirma que a depressão, frequentemente, acompanha os quadros de dores crônicas, a ansiedade acompanha os quadros de dor aguda, ou de dores crônicas, nos quais o paciente não tem informações sobre seu estado e o que pode vir a acontecer. Para Figueiró (2000) pessoas com dor crônica, freqüentemente apresentam manifestações emocionais de depressão e alterações na qualidade do sono. “Dor e depressão formam uma associação complexa, que se dá em uma via de mão dupla: a dor pode gerar a depressão pela sua trajetória de perdas e incapacidades; e a depressão apresenta diferentes tipos de dor dentre seus sintomas referidos” afirma Baptista (2005). Figueiró JA. A dor. São Paulo: Publifolha; 2000. Baptista CMA, Ebel R, Fortes S. Grupoterapia e dor crônica. In: Figueiro JAB, Angelotti G, Pimenta CAM, organizadores. Dor e saúde mental. São Paulo: Atheneu; 2005. p. 167-79. Diversas anormalidades ou transtornos psíquicos têm relação com a dor crônica, conforme se pode ver no quadro abaixo. De acordo com Teixeira (2006) a relação temporal entre essas anormalidades psíquicas e dor crônica é difícil de estabelecer: “a depressão pode preceder a ocorrência da dor crônica, ser consequência da dor crônica ou pode ser um evento biológico concomitante com a dor crônica”. E ressalta o autor que “os fenômenos psicopatológicos intensificam a experiência dolorosa” e assegura que “a relação entre a dinâmica e o reforço entre dor psicopatologia torna impossível o tratamento de cada condição independentemente de outra” (Teixeira, 2006). Daí decorre a importância do tema dor crônica x transtorno psíquico e da importância da abordagem do tratamento conjunto dos dois fenômenos. Quadro - Prevalência de transtornos psiquiátricos em doentes com dor crônica em comparação à população em geral (conforme McWilliams, 2003. Diagnósticos de acordo com o DSM III-R Dor crônica População Geral (em %) (em %) Qualquer transtorno de humor 21,7 10 Depressão 20,2 9,3 Distimia 5,2 2,3 Qualquer transtorno de ansiedade 35,1 18,1 Transtorno de ansiedade generalizado 7,3 2,6 Transtorno de pânico com agorafobia 6,5 1,9 Fobia simples 15,7 1,9 Fobia social 11,8 7,8 Agorafobia com ou sem pânico 8,4 3,3 Transtorno de estresse pós-traumático 10,7 3,3 Fonte: Modificado de Teixeira MJ. Dor e depressão. Rev Neurocienc 2006. Wortz (1994) observou que 30% a 100% das queixas dolorosas faziam parte das queixas dos portadores de síndromes depressivas, especialmente quando acompanhadas de ansiedade. Doentes deprimidos frequentemente queixam-se de dor crônica, muitas vezes em vários segmentos do corpo na ausência de lesões ou de justificativas para tal e geralmente consultam profissionais das mais variadas especialidades sem, no entanto, obterem melhora satisfatória (Magni at al., 1990). Teixeira (2006) afirma que os transtornos depressivos são, apos a insônia, a segunda anormalidade mais frequentes em pacientes com dor e de acordo com estudo de Sullivan (1992) a depressão é mais comum nos portadores de dor crônica, quando comparados aos controles sadios De acordo com Hirschfeld (1985) os doentes com dor crônica geralmente apresentam raiva, hostilidade, comprometimento cognitivo, ansiedade, depressão, transtornos mistos ansiosos e depressivos. Diz ainda o autor que “sofrem muita influencia de estressores psicossociais e socioeconômicos, depressões recorrentes e se beneficiam do tratamento com antidepressivos” Queixas dolorosas podem desencadear medo, dependência ou mesmo comportamentos para obtenção de benefícios que surgem com o adoecimento, afirma Fishman (1996). Wortz (1994) assenta que em alguns casos, o sofrimento relacionado a dor domina o quadro clinico e a síndrome depressiva associada só e reconhecida meses ou, muitas vezes, anos após. Ocorrem transtornos depressivos em cerca de 50% dos doentes com dor, incluindo a cefaléia, a dor facial, a cervicalgia, a lombalgia, as dores torácica, abdominal e pélvica, e dor nas extremidades (Von Knorring, 1983) Teixeira (2006), citando diversos autores, confirma a hipótese de que a depressão pode evoluir com dor e esta com depressão, constituindo assim um ciclo vicioso, dor-depressão-dor. Entretanto, reconhece o autor, a relação causal entre dor e depressão é controversa, e também que é difícil afirmar quem surgiu antes, a dor ou a disfunção psicológica ou comportamental. A dor é uma experiência tanto física quanto psicossocial, segundo Pessoa et al. (2007). E pode ser reconhecida como uma importante forma de stress, pois indivíduos vulneráveis ao enfrentarem circunstâncias difíceis podem desenvolver a dor como resposta (Figueiró, 2003). O estresse excessivo tem sido considerado um dos principais problemas do mundo moderno, sendo tema de interesse da Organização Mundial da Saúde a qual estima que 15% das pessoas no mundo sofrem de problemas relacionados ao estresse (Borges et al., 2009) Borges, Camila S.; Luiz, Andreia Mara Angelo Gonçalves; Domingos, Neide Aparecida Micelli. Intervenção cognitivo-comportamental em estresse e dor crônica. Arq Ciênc Saúde 2009 out-dez; 16(4):181-6 Figueiró JAB. Dor e stress. In: Lipp MEN, organizador. Mecanismos neuropsicofisiológicos do stress: teoria e aplicações clínicas. São Paulo: Casa do Psicólogo; 2003. p. 149- 53. Pessoa CP, Barreto MB, Santos LB, Alves TDB, Oliveira MC, Martins AG. Instrumentos utilizados na avaliação do impacto da dor na qualidade de vida de pacientes com dor orofacial e disfunção temporomandibular. Rev Baiana Saúde Pública. 2007;31(2):267-93 Lipp MEN , Malagris LEN. O stress emocional e seu tratamento. In: Rangé B, organizador. Psicoterapias cognitivocomportamentais: um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Artmed; 2001. p. 475-90. Kreling MCGD, Cruz DALM, Pimenta CAM. Prevalência de dor crônica em adultos. Rev Bras Enferm. 2006;59(4):509-13. Ferreira PEMS. Dor crônica: avaliação e tratamento psicológico. In: Andrade Filho ACC. Dor: diagnóstico e tratamento. São Paulo: Roca; 2001. p. 43-52 Castro M, Quarantini L, Daltro C, Kraychette D, Miranda Scippa A. Prevalência de ansiedade, depressão e características clínico-epidemiológicas em pacientes com dor crônica. Rev Baiana Saúde Pública. 2006;30(2):211-23 Brasio KM, Laloni DT, Fernandes QP, Bezerra TL. Comparação entre três técnicas de intervenção psicológica para tratamento da fibromialgia: treino de controle de stress, relaxamento progressivo e reestruturação cognitiva. Rev Ciênc Méd, (Campinas) 2003;12(4):307-18 Figueiró BJA. Aspectos psicológicos e psiquiátricos da experiência dolorosa. In: Carvalho JM, organizador. Dor um estudo multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed; 1990. p. 139-88 Men e Len (2003) afirmam que é fundamental notar um círculo vicioso entre o desenvolvimento da dor e o estado emocional, o que aumenta a tensão vivenciada. Nos indivíduos com dor crônica, esta persiste além do tempo necessário para a cura da lesão. A dor crônica leva o indivíduo a manifestar sintomas como alterações de sono, apetite, libido, irritabilidade, energia, diminuição da capacidade de concentração e restrições na capacidade para as atividades familiares, profissionais e sociais. A persistência da dor prolonga a existência desses sintomas, podendo exacerbá-los (Kreling, 2006; Ferreira et al, 2001) O estresse e a dor crônica podem levar os indivíduos a desenvolver transtornos psiquiátricos como a depressão e ansiedade (Brasio et al., 2003; Castro et al., 2006). Figueiró (1990) salienta que outro sintoma presente em indivíduos com dor crônica é a ansiedade e que esta aumenta a tensão muscular, ampliando a sensação de dor. A propósito de dores musculoesqueléticas, Leino e Magni (1993) observaram que sintomas depressivos predisseram a evolução de disfunções musculoesqueléticas. Merskey (1965) já notava que muitos deprimidos, apresentam redução do limiar para a percepção de dor. Em seus estudos, Pikoff e Nouwen (1984), observaram que a “ansiedade frequentemente associa-se a depressão; o estado de ansiedade aumenta a tensão muscular que, por sua vez, e causa da síndrome dolorosa miofascial”. McWilliams LA, Cox BJ, Enns MW. Mood and anxiety disorders associated with chronic pain: an examination in a nationally representative sample. Pain 2003; 106:127-133 Leino P, Magni M. Depressive and distress symptoms as predictors of low back pain, neck-shoulder pain, and other musculoskeletal morbidity: a 10-year followup of metal industry employees. Pain 1993; 53: 89-94. Merskey H. The effect of chronic pain upon the response to noxious stimuli by psyhiatric patients. J Psychosom Res 1965; 8:405-419. Pikoff H. 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Relationship to diagnostic subgroup and depressive symptomatology. Pain 1983; 15:19. Diagnostic and statistical manual of mental disorders. 4.Ed. Washington DC: American Psychiatric Association, 1994. Weintraub MI. Chronic pain in litigation: real or imagined? 47th Annual Meeting, American Academy of Neurology, San Francisco, 1995:440-23 – 440-28. Eisendrath SJ. Psychiatric aspects of chronic pain. Neurology 1995; 45(Suppl 9):26-34. Borges et al, citando estudos de Santos et al.(2006), Rhodin et al.(2006), Domingos (2005) e Galego et al., (2007), afirmam que “na maioria das vezes, sintomas de depressão, ansiedade, stress e dor crônica têm efeitos negativos, o que afeta de forma adversa o processo de recuperação e reduz mais ainda a qualidade de vida do indivíduo”. TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS E SUA RELAÇAO COM A DOR CRÔNICA O Diagnostic and Statistical Manual IV (DSM-IV, 1994) classifica as síndromes dolorosas crônicas entre os transtornos somatoformes, transtornos factícios e a simulação. A dor também pode ser manifestação de doença psiquiátrica, como depressão, ansiedade e psicose. Nos transtornos somatoformes a dor pode fazer parte do transtorno de somatização, quando é acompanhada de sintomas gastrointestinais, sintomas sexuais e sintomas pseudoneurológicos. Quando a dor é o único sintoma, é classificada como transtorno doloroso. Os transtornos somatoformes são considerados de natureza inconsciente e involuntários, ao contrário dos transtornos factícios e simulação, que são conscientes e voluntários. (DSM-IV, 1994). Dor é a mais comum das formas de apresentação de conversão20. Reação de conversão é caracterizada pela presença de sintomas ou déficits afetando a função motora ou sensitiva voluntária, que simulam uma condição neurológica ou outra condição médica geral (DSM-IV, 1994). Os sintomas da reação de conversão são precipitados por conflitos ou outros fatores tensionais (Weintraub, 1995). Na simulação os sintomas e exame são iguais aos que ocorrem na conversão. Se houver acentuada discrepância entre o sofrimento ou deficiência alegada pela pessoa e os achados objetivos e falta de cooperação durante a avaliação diagnóstica, deve-se suspeitar de simulação (DSM-IV, 1994). O diagnóstico de simulação fundamenta-se na identificação de um ganho externo ou secundário (em relação a um ganho interno, como no transtorno factício), como a principal motivação para o comportamento (Eisendrath, 1995). O transtorno factício difere de conversão e simulação porque os sintomas e os sinais são produzidos conscientemente, mas a motivação é inconsciente. O objetivo, na maioria das vezes, é obter assistência e atenção médica através de hospitalização. O ganho visado no transtorno factício é puramente psicológico (Eisendrath, 1995). A dificuldade dos diagnósticos descritos acima é determinar se os sintomas são produzidos consciente ou inconscientemente. Um comportamento pode ser considerado consciente quando o indivíduo escolhe os momentos e locais para agir de modo a parecer doente, e toma decisões de encobrimento, o que seria demonstração de controle dos sintomas (Teasell, 1994). Barsky AJ, Borus JF. Somatization and medicalization in the era of managed care. JAMA 1995; 274:1931-1934. Hadler NM. Cumulative trauma disorders. J Occup Med 1990;32:38-41. 24. Cunningham LS, Kelsey JL. Epidemiology of musculoskeletal impairments and associated disability. Am J Public Health 1984;74:574-579. Teasell RW, Shapiro AP. Strategic-behavioral intervention in the treatment of chronic nonorganic motor disorders. Am J Physical Med Rehabil 1994;73:44-50. O paciente que sonega ou acrescenta dados para obter licença médica é claramente um simulador. Somatizadores e simuladores abastecem-se de sintomas comuns da vida diária como fadiga, dor de cabeça, dor nas costas, dolorimentos musculares, tonteiras, os quais, para a maioria das pessoas, não são causas suficientes para levá-las a procurar assistência médica (Barsky, 1995). Dor músculo-esquelética, associada a fadiga, é comum em pessoas normais, independentemente do tipo de atividade (Hadler, 1990; Cunningham & Kelsey, 1984). Outra fonte de sintomas são as “doenças da moda”, do momento atual, que apresentam repercussão social, a exemplo das lesões por esforços repetitivos, como dito por Teixeira (2006). ELEMENTOS PARA ABORDAGEM NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA Teixeira (2006) afirma que o tratamento da dor crônica só pode ser planejado com eficácia apos a determinação da etiologia primariamente orgânica ou não somática e implica na realização do exame clinico e de historia clinica e psiquiátrica detalhadas. Ramamurthy S, Rogers JN. Decision Making in Pain Management. In: Decker ABC (ed). Ney York: Mosby Year Book; 1993. O tratamento da dor deve basear-se na etiologia e fisiopatologia da dor e suas repercussões (Ramammurthy, 1993); deve envolver a eliminação do fator causal, uso de fármacos analgésicos e adjuvantes e medidas não farmacológicas incluindo os recursos de medicina física e de reabilitação em conjunto com os procedimentos psicoterápicos e com técnicas e materiais educativos (Caudill, 2001; Catalano & Hardin, 2003) Caudill M. Controle a dor antes que ela assuma o controle. Sao Paulo: Summus Editorial; 2001. Catalano EM, Hardin KN. Dores Cronicas. Sao Paulo: Summus Editorial; 2003. Candeletti S, Romualdi P, Spadaro C, Spampinato S, Ferri S. Studies on the antinociceptive effect of intrathecal salmon calcitonin. Peptides 1985; 6: 273276. Candeletti et al. (1985) afirmam que “em casos de dor aguda, as intervenções visam a eliminação do desconforto e recorrem fundamentalmente a remoção das causas, a farmacoterapia analgésica e aos procedimentos simples de medicina física e de medicina comportamental” Teixeira (2006) coloca que em casos de dor crônica, o tratamento fundamentase no emprego de medidas sintomáticas, especialmente no uso de medicamentos adjuvantes, medicina física e reabilitação, psicoterapia e intervenções de reintegração social. E completa que a prescrição de medicamentos é a primeira atitude analgésica adotada para ambas para tratamento da dor, aguda ou crônica. 8. RECOMENDAÇÕES AO SERVIÇO DE MEDICINA OCUPACIONAL E PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL PARA ABORDAGEM DO ADOECIMENTO MENTAL NO TRABALHO Reduzir os agravos à saúde é contribuir diretamente para o aumento da produtividade e objetivo maior da medicina do trabalho na sua ação preventiva. O adoecimento deve ser sinalizador para tomada de ação. Outros agentes do SESMT – Serviço Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho são fundamentais para melhoria das condições e ambiente de trabalho, com redução da nocividade do trabalho. Equipe multidisciplinar, especialmente serviço de psicologia organizacional e assistência social, são fundamentais para a saúde coletiva. Do contrário, o descaso com a prevenção pode ser uma importante fonte de desmotivação e queda de produtividade, indicando que a saúde está sendo usada como objetivo meio e o aumento da produtividade como objetivo fim. A qualidade de vida é um processo importante para a eficiência no processo de produção e para tanto, o ambiente de trabalho requer intervenções rotineiras que possam diagnosticar os tipos de desgastes estão sofrendo os trabalhadores. Como é possível, através do serviço de atendimento à saúde do funcionário, repensar os processos de trabalho? MENDES, René and DIAS, Elizabeth Costa. Da medicina do trabalho à saúde do trabalhador. Rev. Saúde Pública [online]. 1991, vol.25, n.5, pp. 341-349. ISSN 0034-8910. doi: 10.1590/S0034-89101991000500003. Não se pode olvidar que os níveis de comando, de chefia, de gerência, de diretoria, são agentes importantes para alcançar os níveis ótimos de saúde no trabalho e dos trabalhadores. As Empresas buscam reduzir os custos de operação, minimizar as perdas, diminuir custos com serviços externos e aperfeiçoar a utilização dos recursos já existentes. A busca pela Empresa destes requisitos não deve somente pautarse pela rubrica econômico-financeira, mas saber fazer a “leitura” que os requisitos de otimização perpassam pela saúde do contingente de trabalhadores. Sem ela os objetivos da Empresa tem seus custos acrescidos pela doença (com afastamento) e pela baixa produtividade de quem continua no trabalho com limitações de ordem física ou mental. Dejours (1999 afirma que “hoje, afora seu objetivo principal – o lucro –, o que caracteriza uma empresa não é mais sua produção, não é mais o trabalho. O que a caracteriza é sua organização, sua gestão, seu gerenciamento (...)” A saúde do trabalhador e a melhoria das condições de trabalho terá relevância, se puder ser usada como instrumento para implementar mais lucratividade à empresa (Silva, 1997). Na verdade, afirma Mattos, (1994) nem isso é feito pelas empresas (...), se forem consideradas as situações de insalubridade e periculosidade dos locais de trabalho, as jornadas prolongadas pelas horasextras e o trabalho noturno. Reconhecer a importância de investir no que se costuma chamar de capital humano da empresa – situação educacional, treinamento, remuneração, qualidade ambiental – é verdadeiramente o paradigma da gestão moderna. O retorno virá nos anos em que o trabalhador se dedicar à organização e pela busca da melhoria na qualidade do ambiente de trabalho. Gerenciar um serviço de saúde não é tarefa simples porque os processos de trabalho são complexos. A redução de custos e o aumento da produtividade são metas empresariais perseguidas e que colocam a empresa no mercado de forma competitiva, porém neste contexto, a saúde pode ficar comprometida e redução consequente da produtividade individual e ou coletiva. A doença não é só do trabalhador, pode ser coletiva se o ambiente de trabalho estiver doente, em seus aspectos físicos ou psíquicos, estes últimos relacionados á situação e organização do trabalho. Como já enfatizado, as condições ambientais adversas contribuem para aumentar a carga de trabalho. Os riscos ambientais, de natureza física (calor, frio, vibrações, ruído, entre outros), química e biológica e as condições ergonômicas, podem atuar sinergicamente com uma organização do trabalho inadequada (autoritária, inflexível) na intensificação da carga física, psíquica e cognitiva, provocando o desgaste e o adoecimento do trabalhador. A ergonomia trata a carga de trabalho como um instrumento conceitual auxiliar na busca do entendimento da conexão e das repercussões da atividade de trabalho sobre a saúde, o desgaste e o desempenho do trabalhador, orientando a formulação de critérios de intervenção sobre situações de trabalho específicas (Echternacht, 1998). No mundo real, observa-se que a carga de trabalho aumenta quando a flexibilidade da organização de trabalho e as alternativas operatórias frente à variabilidade das situações de trabalho diminuem. Os riscos para a saúde física e mental dos trabalhadores podem estar associados à combinação entre a alta demanda psicológica e o baixo grau de controle, produzindo o trabalho de alto desgaste. O baixo suporte social no trabalho intensifica o risco associado ao trabalho de alto desgaste, ao passo que o suporte social elevado funciona como um fator de amortecimento dos seus efeitos prejudiciais. (Job Strain Model, Modelo Demanda Controle, Karasek) As estratégias efetivas de promoção da saúde visam, como já referido, a redução da carga de trabalho, flexibilização maior da organização do trabalho e, por consequência, evitar o desgaste do trabalhador. As ações, objetivando a promoção da saúde no ambiete de trabalho, propostas por Dantas (2003), Levi (2005) e Couto et al, (2007), são: a) Aumentar o controle que o trabalhador exerce sobre o próprio trabalho. b) Regular as demandas psicológicas relacionadas à execução das tarefas. Isto significa oferecer condições para que o trabalhador possa desenvolver habilidades especiais, aplicar a criatividade, aprender coisas novas, diversificar as tarefas, influenciar na equipe, ampliar a capacidade decisória e a autonomia para tomar decisões sobre o próprio trabalho. O diálogo, a negociação com os supervisores e as relações assertivas é essencial para o gerenciamento e adequação dos seguintes aspectos: a) O trabalho excessivo; b) As demandas conflitantes; c) O ritmo excessivo; d) A alta complexidade e variabilidade do trabalho; e) O tempo insuficiente para a execução das tarefas; f) O nível de concentração requerido; g) A frequência de interrupção das tarefas; h) A dependência de atividades realizadas por terceiros; Fornecer o suporte social em nível adequado, atuando como um fator protetor ao desgaste no trabalho. Essa proteção depende do grau de integração social e confiança entre os colegas de trabalho, supervisores e gerentes, isto é, o suporte sócio-emocional. Existem vários aspectos relacionados ao suporte social. Os mais relevantes são o apoio fornecido pelos supervisores e colegas de trabalho e o fornecimento do suporte material básico em qualidade e quantidade suficientes. Em síntese, é necessário que as empresas adotem processos de gestão capazes de conciliar a produtividade com a redução da insegurança no emprego. Ao mesmo tempo, devem estabelecer diretrizes para aumentar o suporte social proveniente da gerência, da supervisão e dos colegas, fornecer suporte instrumental eficaz, plano de carreira atraente e políticas de benefícios que atendam às necessidades do trabalhador e família. O cuidado da dor e do sofrimento faz o resgate da dignidade do ser humano e é um dos objetivos da Medicina. A problemática da dor e do sofrimento não é pura e simplesmente uma questão técnica; é uma das questões éticas contemporâneas que precisa ser vista e enfrentada nas suas dimensões física, psíquica e social. Glina (2001) enfatiza que embora apresentem alta prevalência entre a população trabalhadora, os distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho freqüentemente deixam de ser reconhecidos como tais no momento da avaliação clínica. Contribuem para tal fato, entre outros motivos, as próprias características dos distúrbios psíquicos, regularmente mascarados por sintomas físicos, bem como a complexidade inerente à tarefa de definir-se claramente a associação entre tais distúrbios e o trabalho desenvolvido pelo paciente. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT: com Cicero 10. ANEXOS Nesta seção estão dispostos os instrumentos para investigação organizacional em saúde mental, os quais foram citados no corpo deste trabalho. Apresentamse na forma para sua aplicação aos trabalhadores. Detalhes como pontos de corte são apresentados abaixo para consulta rápida. Maior aprofundamento deve ser buscado nos capítulos em epígrafe ou na literatura citada nas referencias bibliográficas ou outras fontes de consulta. SRQ-20 Finalidade: Rastrear distúrbios psiquiátricos menores como depressão, ansiedade, distúrbios somatoformes e neurastenia, com “características (...) para o rastreamento da saúde mental em âmbito ocupacional” Descrição: São 20 itens auto-aplicáveis onde o escore zero (resposta NÃO) indica que o sintoma esteve ausente nos últimos 30 dias e o escore (1) um (resposta SIM), que esteve presente. Pontos de corte: distintos para os sexos – 6 para os homens e 7 para as mulheres, indicando que todo escore superior a 6 / 7 é considerado caso. MBI Finalidade: Avaliar a Síndrome de Burnout, uma síndrome psicossocial oriunda de uma resposta crônica aos estressores interpessoais no trabalho. Descrição: São 22 itens, auto-aplicado, divididos em três sub-escalas, nas quais altas pontuações em Exaustão Emocional e Despersonalização e baixas pontuações em Falta de Realização Profissional refletem nível de Burnout. Pontos de corte: pontuação, de escala do tipo Likert, onde zero (nunca) a quatro (todo dia), somadas apresentam um escore global. Observar que há inversão de pontuação em Falta de Realização Profissional. QUESTIONÁRIO DE COOPER Finalidade: Avaliar o grau de satisfação pessoal ou de satisfação em relação ao trabalho. Descrição: composto por 22 perguntas com 6 opções de resposta cada uma. Cada resposta recebe um valor, sendo o valor 1 (um) correspondente a “enorme insatisfação” e o valor 6 (seis) a “enorme satisfação”. Pontos de corte: presença de insatisfação no trabalho quando a soma dos valores das 22 questões resultar em valor igual ou inferior a 76. SINAIS GERAIS DE BURNOUT Finalidade : screening para detecção de potenciais candidatos ao burnout. Descrição: são 18 aspectos para assinalar que faltam ou que estão seriamente comprometidos. Pontos de corte: 9 ou mais dos aspectos assinalados para inclusão como candidato em potencial para caminhar em direção ao burnout. INVENTÁRIO DE DEPRESSAO DE BECK INVESTÁRIO DE ANSIEDADE DE BECK Falta completar para demais instrumentos 10.1. QUESTIONÁRIO SRQ-20 – AVALIAÇÃO DO SOFRIMENTO MENTAL Leia as instruções com atenção antes de iniciar o preenchimento das questões. Estas questões estão relacionadas a certas dores ou sintomas ou problemas que podem ter surgido ou ter lhe incomodado nos últimos trinta (30) dias. Se você considera que a questão se aplica a você e você teve o problema nos últimos 30 dias assinale com “x” a coluna SIM. Se a questão não se aplica a você e você não teve o problema nos últimos 30 dias assinale com “x” a coluna NÃO. -- Perguntas 1 Sente-se nervoso, tenso ou preocupado? 2 Assusta-se com facilidade? 3 Sente-se triste ultimamente? 4 Você chora mais do que de costume? 5 Tem dores de cabeça frequentemente? 6 Você dorme mal? 7 Você sente desconforto estomacal? 8 Você tem má digestão? 9 Você tem falta de apetite? 10 Tem tremores nas mãos? 11 Você se cansa com facilidade? 12 Tem dificuldade em tomar decisões? 13 Tem dificuldades de ter satisfação em suas tarefas? 14 O seu trabalho lhe traz sofrimento? 15 Sente-se cansado todo o tempo? 16 Tem dificuldade de pensar claramente? 17 Sente-se incapaz de desempenhar papel útil em sua vida? 18 Tem perdido o interesse pelas coisas? 19 Tem pensado em dar fim à sua vida? 20 Sente-se útil em sua vida? Sim Não X Somatório de respostas SIM e NÃO ___ ___ 10.2 QUESTIONÁRIO DE COOPER: COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO AO SEU TRABALHO? Este questionário procura averiguar qual é o seu grau de satisfação pessoal ou de satisfação em relação ao seu trabalho. Dê a sua opinião honesta e responda a todas as questões. Em cada uma das próximas questões assinale a alternativa que mais se aproxima do seu sentimento em relação aos aspectos do trabalho. Responda fazendo um “x”, de acordo com a seguinte escala: 6- enorme satisfação 5 – muitas satisfações 4 – algumas satisfações 3 – algumas insatisfações 2- muitas insatisfações 1 – enorme insatisfação -- Perguntas 1 Comunicação e forma de fluxo de informações na empresa em que você trabalha 2 Seu relacionamento com outras pessoas na empresa em que você trabalha 3 O sentimento que você tem a respeito de como seus esforços são avaliados 4 O conteúdo do trabalho que você faz 5 O grau em que você se sente motivado por seu trabalho 6 Oportunidades pessoais em sua carreira atual 7 O grau de segurança no seu emprego atual 8 A extensão em que você se identifica com a imagem externa ou realizações de sua empresa 9 O estilo de supervisão que seus superiores usam. 6 5 4 3 2 1 10 A forma pela qual mudanças e inovações são implementadas 11 O tipo de tarefa e o trabalho em que você é cobrado 12 O grau em que você sente que você pode crescer e se desenvolver em seu trabalho 13 A forma pela qual os conflitos são resolvidos 14 As oportunidades que seu trabalho lhe fornece no sentido de você atingir suas aspirações e ambições 15 O seu grau de participação em decisões importantes 16 O grau em que a organização absorve as potencialidades que você julga ter 17 O grau de flexibilidade e de liberdade que você julga ter no seu trabalho 18 O clima psicológico que predomina na empresa em que você trabalha 19 Seu salário em relação à sua experiência e à responsabilidade que tem 20 A estrutura organizacional da empresa em que você trabalha 21 O volume de trabalho que você tem para desenvolver 22 O grau em que você julga estar desenvolvendo suas potencialidades na empresa em que trabalha --- Somatório de pontos em cada coluna _ _ _ _ _ _ 10.3 QUESTIONÁRIO MALASH BURNOUT INVENTORY MBI Este questionário procura avaliar os fatores pessoais e os fatores do trabalho que interferem no seu desempenho pessoal e profissional. Marque com um “x” a sua escolha e responda a todas as questões. Enquadre cada uma das questões de forma mais adequada com o seu pensamento e de acordo com a seguinte escala: 1 - nunca 2 - algumas vezes ao ano 3 - algumas vezes ao mês 4 - algumas vezes na semana 5 - diariamente --- Perguntas 1 2 3 4 5 1 Sinto que meu trabalho está me desgastando 2 Quando termino minha jornada de trabalho sinto-me esgotado 3 Quando me levanto pela manhã e me deparo com outra jornada de trabalho, já me sinto esgotado 4 Sinto que estou trabalhando demais 5 Sinto-me frustrado com meu trabalho 6 Sinto-me como se estivesse no limite de minhas possibilidades 7 Sinto-me emocionalmente decepcionado com meu trabalho 8 Sinto que trabalhar todo o dia com pessoas me cansa 9 Sinto que trabalhar em contato direto com as pessoas me estressa 10 Sinto que estou exercendo influência positiva na vida das pessoas, através de meu trabalho 11 Creio que consigo muitas coisas valiosas nesse trabalho 12 Sinto que posso criar, com facilidade, um clima agradável em meu trabalho 13 No meu trabalho eu manejo com os problemas emocionais com muita calma 14 Sinto-me estimulado depois de haver trabalhado diretamente com quem tenho que atender 15 Sinto-me muito vigoroso no meu trabalho 16 Sinto que trato com muita eficiência os problemas das pessoas as quais tenho que atender 17 Sinto que posso entender facilmente as pessoas que tenho que atender 18 Sinto que me tornei mais duro com as pessoas, desde que comecei este trabalho 19 Fico preocupado que este trabalho esteja me enrijecendo emocionalmente 20 Sinto que realmente não me importa o que ocorra com as pessoas as quais tenho que atender profissionalmente 21 Sinto que estou tratando algumas pessoas com as quais me relaciono no meu trabalho como se fossem objetos impessoais 22 Parece-me que os receptores do meu trabalho culpam-me por alguns de seus problemas --- Somatório de pontos por coluna _ _ _ _ _ 10.4 SINAIS GERAIS INDICATIVOS DE BURNOUT (Reinhold, 2002) Leia toda a lista dos aspectos abaixo, antes de inicia a responder. Para cada item listado abaixo que você percebe que “falta” ou que está “seriamente comprometido” no seu trabalho, assinale com “x” Para aquele(s) aspecto(s) que você encontra no trabalho deixe em branco. VOCÊ ULTIMAMENTE, EM SEU TRABALHO, TEM PERCEBIDO OU SENTIDO FALTA DE: “x” - Sinais 01 Alegria 11 Concentração 02 Entusiasmo 12 Motivação 03 Satisfação 13 Energia 04 Interesse 14 Encantamento 05 Auto-confiança 15 Idéias criativas 06 Ideais 16 Capacidade “x” Sinais para problemas 07 Iniciativa 17 Confiança nos outros 08 Tolerância 18 Prazer 09 Organização 10 Humor Somatório: resolver 10.5 INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK: “BECK DEPRESSION INVENTORY” - (BDI) Este questionário consiste em 21 grupos de afirmações. Depois de ler cuidadosamente cada grupo, faça um círculo em torno do número (0, 1, 2 ou 3) diante da afirmação, em cada grupo, que descreve melhor a maneira como você tem se sentido nesta semana, incluindo hoje. Se várias afirmações num grupo parecerem se aplicar igualmente bem, faça um círculo em cada uma. Tome o cuidado de ler todas as afirmações, em cada grupo, antes de fazer a sua escolha. Grupo Pontos Afirmação 1 2 3 0 Não me sinto triste. 1 Eu me sinto triste. 2 Estou sempre triste e não consigo sair disso. 3 Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar. 0 Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro. 1 Eu me sinto desanimado quanto ao futuro. 2 Acho que nada tenho a esperar. 3 Acho o futuro sem esperança e tenho a impressão de que as coisas não podem melhorar. 0 Não me sinto um fracasso. 1 Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum. 2 Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que posso ver é um monte de fracassos. Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso. 3 4 5 6 7 8 9 10 0 Tenho tanto prazer em tudo como antes. 1 Não sinto mais prazer nas coisas como antes. 2 Não encontro um prazer real em mais nada. 3 Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo. 0 Não me sinto especialmente culpado 1 Eu me sinto culpado às vezes. 2 Eu me sinto culpado na maior parte do tempo. 3 Eu me sinto sempre culpado. 0 Não acho que esteja sendo punido. 1 Acho que posso ser punido. 2 Creio que vou ser punido. 3 Acho que estou sendo punido. 0 Não me sinto decepcionado comigo mesmo 1 Estou decepcionado comigo mesmo. 2 Estou enojado de mim. 3 Eu me odeio. 0 Não me sinto de qualquer modo pior que os outros 1 2 Sou crítico em relação a mim devido a minhas fraquezas ou meus erros. Eu me culpo sempre por minhas falhas. 3 Eu me culpo por tudo de mal que acontece. 0 Não tenho quaisquer idéias de me matar. 1 Tenho idéias de me matar, mas não as executaria. 2 Gostaria de me matar. 3 Eu me mataria se tivesse oportunidade. 0 Não choro mais que o habitual. 1 Choro mais agora do que costumava. 11 2 Agora, choro o tempo todo. 3 Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo mesmo que o queira. 0 Não sou mais irritado agora do que já fui. 1 Fico molestado ou irritado mais facilmente do que costumava. 12 13 14 2 Atualmente me sinto irritado o tempo todo 3 Absolutamente não me irrito com as coisas que costumavam irritar-me. 0 Não perdi o interesse nas outras pessoas. 1 2 Interesso-me menos do que costumava pelas outras pessoas. Perdi a maior parte do meu interesse nas outras pessoas. 3 Perdi todo o meu interesse nas outras pessoas. 0 1 Tomo decisões mais ou menos tão bem como em outra época. Adio minhas decisões mais do que costumava 2 Tenho maior dificuldade em tomar decisões do que antes. 3 Não consigo mais tomar decisões. 0 Não sinto que minha aparência seja pior do que costumava ser. Preocupo-me por estar parecendo velho ou sem atrativos. 1 3 Sinto que há mudanças permanentes em minha aparência que me fazem parecer sem atrativos. Considero-me feio. 0 Posso trabalhar mais ou menos tão bem quanto antes. 1 Preciso de um esforço extra para começar qualquer coisa. 2 Tenho de me esforçar muito até fazer qualquer coisa 3 Não consigo fazer nenhum trabalho 0 Durmo tão bem quanto de hábito. 1 Não durmo tão bem quanto costumava. 2 15 16 2 3 17 18 19 Acordo uma ou duas horas mais cedo do que de hábito e tenho dificuldade para voltar a dormir. Acordo várias horas mais cedo do que costumava e tenho dificuldade para voltar a dormir. 0 Não fico mais cansado que de hábito. 1 Fico cansado com mais facilidade do que costumava. 2 Sinto-me cansado ao fazer quase qualquer coisa. 3 Estou cansado demais para fazer qualquer coisa. 0 Meu apetite não está pior do que de hábito. 1 Meu apetite não é tão bom quanto costumava ser. 2 Meu apetite está muito pior agora. 3 Não tenho mais nenhum apetite. 0 Não perdi muito peso, se é que perdi algum ultimamente. 1 Perdi mais de 2,5 Kg. 2 Perdi mais de 5,0 Kg. 3 Perdi mais de 7,5 Kg. Estou deliberadamente tentando perder peso, comendo menos: SIM ( 20 NÃO ( ) 0 Não me preocupo mais que o de hábito com minha saúde. 1 Preocupo-me com problemas físicos como dores e aflições ou perturbações no estômago ou prisão de ventre. Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa que não isso. Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não consigo pensar em outra coisa. 2 3 21 ) 1 Não tenho observado qualquer mudança recente em meu interesse. Estou menos interessado por sexo que costumava. 2 Estou bem menos interessado em sexo atualmente. 3 Perdi completamente o interesse por sexo. 0 10.5 INVENTÁRIO DE ANSIEDADE BECK: “BECK ANXIETY INVENTORY” (BAI) Terra, Fabio de Souza. Avaliação da ansiedade, depressão e autoestima em docentes de Enfermagem de universidades pública e privada [Tese de Doutorado]. Ribeirão Preto, 2010, 258p. Uma lista de sintomas comuns à ansiedade está listada abaixo. Leia cuidadosamente cada item da lista. Identifique o quanto você tem sido incomodado (a) por cada um dos sintomas durante a última semana, incluindo hoje, colocando um “número” no espaço correspondente, na mesma linha de cada sintoma, de acordo com a seguinte escala: 0 = Absolutamente não 1 = Levemente. Não me incomodou muito. 2 = Moderadamente. Foi muito desagradável, mas pude suportar. 3 = Gravemente. Dificilmente pude suportar 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 SINTOMAS Dormência ou formigamento Sensação de calor Tremores nas pernas Incapaz de relaxar Medo que aconteça o pior Atordoado ou tonto Palpitação ou aceleração do coração Sem equilíbrio / inseguro(a) Aterrorizado(a) Nervoso(a) Sensação de sufocação Temores nas mãos Trêmulo(a) Medo de perder o controle Dificuldade de respirar Medo de morrer Assustado(a) Indigestão ou desconforto no abdômen Sensação de desmaio Rosto afogueado (rubor facial) 0 1 2 3 21 Suor (não devido ao calor 10.6 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA DE ACOMPANHAMENTO DE PESSOAL Responda fazendo um “X” para cada questão abaixo. Não deixe questões sem responder. Assinale sua resposta de acordo com a seguinte escala: 4 – Quase sempre ou sempre 3 – Às vezes 2 – Raramente 1 – Quase nunca ou nunca ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA DE ACOMPANHAMENTO DE PESSOAL Perguntas 4 3 2 1 01 Você considera que a empresa lhe dá condições para conseguir os resultados que lhe são cobrados? 02 Você considera que a maneira (método) que você executa o seu trabalho lhe permite alcançar os resultados (produção) esperados? 03 Você considera que a intensidade do trabalho é adequada? 04 Você considera que o seu trabalho tem um ritmo puxado do inicio ao fim? 05 Você considera que lhe são apresentadas ou que realiza tarefas ou atividades de menor exigência ou mais simples? 06 Você considera que o trabalho está adequadamente organizado em sua área? 07 Você considera que tem sido oferecido pela chefia oportunidade para participar com sugestões para melhorar a organização no trabalho? 08 Você recebe informações de seus superiores sobre como está indo seu trabalho? 09 Você se identifica com o trabalho que faz nesta empresa? 10 Você tem enxergado ou percebido perspectivas profissionais ou de crescimento no seu trabalho? 11 Você considera que o seu salário, desde que entrou na Empresa, é compatível com o a responsabilidade ou desempenho que você tem no seu trabalho? 12 Você tem percebido um bom relacionamento entre as pessoas em seu ambiente de trabalho? 13 Você tem se sentido pressionado no seu trabalho por parte de seus colegas ou superiores? 14 Você tem sido desrespeitado, humilhado no seu dia a dia no seu local de trabalho pelos superiores? 15 Você tem percebido coerência dos supervisores no trato de assuntos de pessoal? 16 Você tem percebido se os critérios são aplicados a todos quando as pessoas progridem, ou são promovidas, na sua área de trabalho? 17 Você, em algumas situações, tem feito alguma coisa que esteja eticamente errado? 18 Você tem sentido que a chefia de sua área tem agido com protecionismo para com colegas de trabalho? 19 Você, em algumas situações, foi cobrado para obter resultados na produção sem ter as condições de equipamentos ou materiais adequados para chegar lá? 20 Você presenciou algum episódio na área que tenha levado o pessoal a se sentir muito frustrado, individualmente ou coletivamente? 21 Você tem manifestado queixas da área na qual exerce sua atividade de trabalho, ou de sua Empresa, para sua chefia? 22 Você indicaria ou convidaria, ou já indicou um amigo ou um parente para trabalhar na sua área ou na sua Empresa? 23 A chefia tem lhe tratado bem e tem encaminhado adequadamente os problemas relatados de sua área ou da sua Empresa? PERGUNTAS ABERTAS 1. Como você se sente atualmente em relação à empresa? 2. Qual o problema que você considera mais importante no seu local de trabalho? CONCLUSÕES DO ENTREVISTADOR: Com a tarefa: ( ) Ajustado; ( )Duvidoso; ( ) Desajustado. Com a área ( ) Ajustado; ( ) Duvidoso; ( ) Desajustado. Com a empresa: ( ) Ajustado; ( ) Duvidoso; ( ) Desajustado. Encaminhamentos: Ponto de corte sugerido: média de respostas 1 + 2 / 3 + 4. 10.5 PERGUNTAS PARA RASTREAMENTO DE DEPRESSÃO DE ANDERSON -- Perguntas 1 Sim Não Durante o último mês você se sentiu incomodado por estar para baixo, deprimido ou sem esperança? 2 Durante o último mês você se sentiu incomodado por ter pouco interesse ou prazer para fazer as coisas? 10.6 ESCALA DE GOLDBERG PARA DETECÇÃO DE DEPRESSÃO -- Perguntas Sim Não 01 Você vem tendo pouca energia? 02 Você vem tendo perda de interesses? 03 Você vem tendo perda de confiança em você mesmo? 04 Você tem sentido sem esperança? (Se Sim para qualquer uma, continue…) 05 Você vem tendo dificuldade para concentrar-se? 06 Você vem tendo perda de peso (devido a pouco apetite)? 07 Você tem acordado cedo? 08 Você vem se sentindo mais devagar? 09 Você tende a se sentir pior de manhã?