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História da psicologia social e as suas perspectivas atuais
A apresentação de um campo científico através da sua trajetória
histórica, embora seja uma tendência hegemônica em nosso país, não é uma
tarefa que pode ser realizada sem se correr determinados riscos, especialmente
quando se está a par da complexidade inerente à algumas questões
historiográficas, como, por exemplo, os problemas do externalismo e do
internalismo, a questão das perspectivas reverencial e crítica, o papel
desempenhado pelos grandes nomes e pelo espírito de época ou a discussão a
respeito do privilégio a ser atribuído a adoção de uma abordagem conceitual
ou cronológica. Contudo, mesmo se admitindo estas questões, e sabendo-se
de antemão que o interesse pela discussão de questões históricas depende de
um conhecimento prévio daquilo que se pretende historiar, esta tendência a se
iniciar a apresentação de uma disciplina científica a partir da sua trajetória
histórica encontra-se adotada não só aqui, neste espaço, como também em
várias universidades brasileiras. Ora, a admissão destes limites, entretanto,
não deve impedir que tracemos o nosso caminho por esta via, servindo-nos
muito mais para indicar os limites e as perspectivas que ordenam esta
apresentação. Em primeiro lugar, gostaríamos de deixar claro que aderimos
aos pressupostos de que a história não deve ser cronológica, pois o simples
desfiar de eventos ou acontecimentos de importância, mais do que ordenar o
nosso entendimento, termina por obscurecer a complexa natureza das
interrelações que amiúde ocorrem em todos os domínios científicos. Também
não concebemos que a história deva se centrar na contribuição dos grandes
nomes, dado o nosso entendimento que embora algumas contribuições
decisivas surjam da pena de autores de elevada estatura, somos compelidos a
admitir que estes autores sorveram o conhecimento da sua época e de épocas
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passadas e que estes conhecimentos sedimentaram o caminho que
posteriormente seguiram. Da mesma forma, não comungamos com uma
concepção reverencial de história, embora seja impossível se referir ao
passado de um campo de estudos sem levar em consideração fundadores
renomados, acontecimentos paradigmáticos ou contribuições extraordinárias.
Finalmente, embora tenhamos em conta o papel exercido por forças sociais,
políticas, econômicas e culturais na trajetória de uma disciplina científica,
acreditamos que estes fatores contribuem apenas assintóticamente para o
desenvolvimento desta disciplina e que o entendimento pleno da mesma deve
ser alcançado através da análise das articulações internas que nela se
manifestam. Por tudo isto, não fica difícil depreender que a perspectiva
histórica aqui adotada adequa-se aos princípios historiográfico do
internalismo, da mesma forma que temos a obrigação de indicar que também
somos orientados por um entendimento conceitual e crítico das questões a
serem aqui trabalhadas.
Dito isto, devemos admitir que existem no mínimo duas perspectivas
diferentes a respeito da história da psicologia social e que elas encaminham
soluções distintas tanto em relação à maneira pela qual a situação presente
desta disciplina deve ser concebida, como também em relação ao que
podemos esperar quanto ao futuro deste campo de conhecimento. Assim
sendo, apresentaremos a seguir, de uma forma breve, estas duas perspectivas
de se conceber a história da psicologia social, para, um pouco adiante, tecer
considerações a respeito da situação atual e das perspectivas futuras da
psicologia social.
A abordagem oficial
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Não é de todo destituído aplicabilidade à psicologia social aquele
famoso aforismo apresentado por Hermann Ebinghaus a respeito da própria
psicologia: trata-se de uma disciplina que possui um longo passado e uma
história muito curta. Observe-se que a esta diferenciação entre o longo
passado
e a curta história
da psicologia social subjaz um argumento
valorativo, onde as contribuições do passado, embora enriquecedoras, devem
ser entendidas também como empecilhos ao verdadeiro conhecimento, que só
seria alcançado com o advento da transformação do campo de estudos em
uma ciência rigorosa. Por trás desta suposição insinua-se uma concepção
cumulativa a respeito do conhecimento, concepção esta assentada na idéia de
que o critério de auto-correção seria característico da atividade científica.
Esta diferenciação encontra-se presente no texto que serve como ponto
de partida para muitas apresentações sobre a história da psicologia social.
Trata-se do artigo escrito por Gordon Allport sobre a história da psicologia,
inicialmente publicado na segunda edição do Handbook of social psychologhy
e republicado posteriormente na terceira e na quarta edições deste mesmo
manual. Um dos principais objetivos de Allport na redação do artigo foi tanto
o de apresentar as idéias do passado que contribuíram decisivamente para a
história das idéias psicossociais, como também indicar o grande diferencial
que representou o surgimento dos trabalhos genuinamente científicos de
psicologia social. Ao se referir à contribuição dos autores pré-científicos ele
nos fornece um guia para acompanharmos o percurso das idéias psicossocias
através da identificação das por ele denominadas teorias únicas e soberanas
capazes de explicar o comportamento social. Allport (1968) em um texto que
tem se notabilizado pela longevidade de sua influência chamou a atenção que
no século XIX predominou uma tendência a explicar os comportamentos
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sociais através de teorias simples e soberanas, entendidas estas como uma
chave interpretativa geral para toda e qualquer espécie de comportamento
social. Além de apresentar e revisar estas doutrinas (o hedonismo, o egoísmo,
a simpatia, o gregarismo, a imitação e a sugestão), ele chamou a atenção que a
partir de 1908, sobretudo devido à publicação do conhecido livro de
introdução à psicologia social em que William McDougall apresenta um
conjunto de instintos capazes de explicar o comportamento social humano, a
procura por esse princípio básico de explicação dos comportamentos sociais
passou a ser considerada uma perigosa falácia, sustentada por um argumento
excessivamente simplista. Ocorre que, devido a um número excessivo e ainda
crescente de componentes considerados significativos para o entendimento
dos comportamentos sociais (condicionamento, reforçamento, ansiedade,
sexualidade, culpa, organização cognitiva, papel, identidade, alienação, classe
social, para citar apenas alguns dos apontados por Allport em sua síntese
histórica da psicologia social), tornou-se bastante difícil, para não dizer
impossível, a tarefa de se encontrar um esquema conceitual em que todos os
elementos pudessem ser incluídos e tivessem a sua importância relativa
reconhecida. Deriva-se daí a tentativa, ainda hoje em voga, de se encontrar
uma matriz conceitual onde o número crescente de fatores reconhecidos como
significativos na determinação dos comportamentos sociais pudessem ser
reduzidos ao mínimo possível, daí as tentativas ainda presentes hoje em dia de
se encontrar as bases unificadoras da a psicologia social
O livro de Allport foi republicado duas outras vezes, e apenas na edição
de 1985 os editores do Handbook of Social Psychology resolveram
substituí-lo por uma nova apresentação da história da psicologia social. Esta
nova apresentação ficou a cargo de Jones, um psicólogo com uma longa
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trajetória no campo da psicologia social. Ele inicia o seu trabalho prestando
uma justa homenagem a Allport, reafirmando que a definição de psicologia
social, apresentada algumas décadas antes, ainda permanece válida. Qual o
teor desta definição e o que encontramos de tão significativo nela para que
possa ser aceita sem muitas reservas algumas décadas
depois ?
A
psicologia social foi definida por Allport como a disciplina científica que
"tenta entender e explicar como o pensamento, o sentimento e o
comportamento dos indivíduos é influenciado pela presença atual, imaginada
ou implícita de outras pessoas". Observe que nesta definição já não se
estabelece dúvidas sobre a cientificidade da psicologia social, adota-se uma
abordagem individualista e o plano de análise leva em consideração não só as
experiências imediatas como também os fatores que exercem um efeito
mediatizador sobre o comportamento social.
Há de se considerar, contudo, que Allport viveu em uma época
“heróica” da psicologia social e que devido provavelmente a esta
circunstância ele estivesse fortemente envolvido e nutrisse uma certa estima
às realizações científicas da sua época. Contudo, esta estima não o impediu de
tecer críticas em relação a ausência de teorias que caracterizou os primeiros
passos da psicologia científica e a ênfase mais do que exagerada que os
psicólogos sociais devotavam aos aspectos metodológicos da investigação
psicossocial. Efetivamente, na década de 30 o desenvolvimento da psicologia
social esteve quase que inteiramente atrelado ao aparecimento e à
popularização de muitos métodos de investigação ainda hoje plenamente
adotados. É o caso, por exemplo, dos estudos sobre a medida das atitudes,
desenvolvidos inicialmente por Thurstone (1929) e aperfeiçoados por Likert
(1932). Outra fonte de influência de natureza metodológica relaciona-se com
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os estudos sobre a opinião pública, em especial aqueles decorrentes dos
aperfeiçoamentos nas técnicas de amostragem de populações. O aparecimento
da técnica sociométrica de J. L. Moreno também moldou o desenvolvimento
da psicologia social na primeira metade do nosso século. Ainda no capítulo
das contribuições de base metodológica temos de nos referir ao surgimento de
técnicas refinadas de observação do comportamento social, em especial a
análise dos processos interacionais, postulada por Bales (1950).
Um capítulo à parte sobre as contribuições metodológicas no
desenvolvimento da psicologia relaciona-se com a necessidade sentida por
muitos psicólogos sociais não só em identificar e como também manipular os
estímulos sociais. A preocupação com estes dois problemas pode ser
considerada o centro de gravidade da psicologia social entre os anos 1930 e
1945 ( Jones, 1996). Lembremos que embora o estudo de Tripplet de 1898
possa ser considerado um trabalho experimental, apenas a partir dos trabalhos
de Sheriff (1936) sobre a influência das normas sociais no padrão de
julgamento e os de Kurt Lewin (1939) sobre a atmosfera grupal se concebeu a
possibilidade de se criar um ambiente complexo e situações realísticas no
espaço de um laboratório de pesquisas psicossociais. Se o refinamento das
técnicas experimentais contribui para o desenvolvimento da psicologia social,
também está na base de muitas críticas apresentadas contra este disciplina,
especialmente aquelas que se referem ao artificialismo da situação
experimental quando comparada à complexidade inerente ao mundo real e a
falta de validade ecológica de muitos estudos experimentais sobre o
comportamento social.
Apenas na década de 1950 a ênfase metodológica foi substituída por
uma ênfase mais acentuada no plano teórico. Esta foi a época do surgimento
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das principais teorias psicossociais, teorias estas que de certa forma marcaram
a face da psicologia social até os anos 80. Merece especial referência neste
particular a influência dos trabalhos de Leon Festinger, especialmente as suas
contribuições derivadas da teoria da comparação social (1954), e em um grau
mais acentuado, da teoria da dissonância cognitiva (1957). Há de chamar
atenção, contudo, que no início da segunda metade do nosso século os efeitos
da teoria behaviorista S-R ainda se manifestavam vigorosamente na
psicologia social, em especial a teoria da frustração-agressão de Dollard e
colaboradores, que embora tenha uma base conceitual de sabor levemente
psicanalítico, encontra-se desenvolvida a partir do modelo S-R, a teoria de
Miller e Dollard exposta no livro Imitation and Social Learning (1941) e a
teoria de Zajonc (1965) sobre a facilitação social.
Evidentemente que o desenvolvimento histórico da psicologia social
não
se
restringiu
inteiramente
aos
seus
componentes
teóricos
e
metodológicos. Um conjunto de temas ou áreas centrais de investigação
ganhou corpo em diferentes momentos da trajetória desta disciplina: os
estudos sobre a comunicação e a persuasão (Hovland, Janis e Kelley, 1953);
sobre a interdependência característica das relações interpessoais (Thibaut e
Kelley, 1953); influência social e conformidade (Asch, 1956; Milgram, 1963).
Um aspecto final que deve ser destacado nesta história oficial da
psicologia social relaciona-se com o impacto proporcionado pela orientação
cognitivista na psicologia como um todo e na psicologia social em particular.
Se em certo é possível se falar acerca de uma revolução cognitivista que
mudou a face da psicologia a partir do final dos anos sessenta, semelhante
afirmação parece mais controversa no caso da psicologia social, dado que
desde muito tempo a psicologia social orienta-se por uma preocupação
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cognitiva, a se considerar, por exemplo, o enorme impacto exercido por
concepções tais como o new look in perception, a teoria da percepção de
pessoas ou as teorias atribuicionais da causalidade. Em um outro ponto do
nosso programa falaremos da cognição social, que pode ser entendida como a
manifestação mais atual da orientação cognitivista na psicologia social.
Além destes aspectos relacionados mais diretamente com as questões
metodológicas e conceituais, os psicólogos sociais, orientados por uma
perspectiva utilitária, inerente e característica da psicologia norte-americana,
mantiveram sempre uma preocupação em vincular a psicologia com a análise
e a apresentação de soluções para problemas sociais. No desenvolvimento da
psicologia social a apresentação de soluções para alguns problemas sociais
exerceram uma forte atração entre muitos psicólogos sociais. Quais eram estes
problemas ? Segundo Jones (1996) podemos destacar neste particular temas
como os estereótipos, preconceito e discriminação, a questão da televisão na
eliciação de comportamentos violentos, o comportamento de ajuda, os
fenômenos multitudinários e o seu impacto no stress
A visão alternativa
Os psicólogos sociais europeus interpretam de uma forma diferente a
história da psicologia social. Nas análises apresentadas a seguir levaremos em
consideração a ruptura na perspectiva de estudo da história da psicologia,
inaugurada por Kurt Dazinger, e em especial, os trabalhos desenvolvidos pelo
psicólogo inglês Robert Farr.
As diferenças mais marcantes da abordagem histórica de Farr quando
se compara com a historiografia oficial da psicologia social refere-se ao papel
central desempenhado na sua obra pelos elementos relativos aos contextos
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social e cultural 1. Uma coletânea publicada recentemente pela Editora Vozes
oferece ao público brasileiro elementos que permitem caracterizar esta nova
maneira de se abordar a história da psicologia social. Uma das principais
preocupações foi a de demarcar os efeitos de uma psicologia social
predominantemente americana, diferenciando-a de uma psicologia social
eminentemente européia, que teria representado um movimento de resistência
contra o positivismo da psicologia social norte-americana. Tendo em vista
este objetivo ele discorre sobre alguns elementos importantes capazes de
esclarecer esta diferenciação. Seu ponto de partida parece ser um argumento
aceito unanimemente: a suposição de que a psicologia social moderna é um
fenômeno predominantemente americano. Com este objetivo em vista, ele
procura demonstrar que este predomínio da psicologia social norte-americana
tem origem inicialmente na II Guerra Mundial, não só com a diáspora de
muitos cientistas sociais, sobretudo alemães e austríacos, como também
com a colaboração dos cientistas sociais ocidentais no esforço de guerra,
assim como no pós-guerra, em especial quando da reconstrução da Europa
destruída pela guerra, e o desenvolvimento de centros de pesquisa em
psicologia social organizados e orientados por eminentes psicólogos sociais
europeus. Nestas condições teria ocorrido uma espécie de exportação da
psicologia social americana para o continente europeu e para o mundo. A
psicologia social genuinamente européia deveria ser entendida, sobretudo,
como um movimento de resistência a este modelo dominante de psicologia
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Um outro plano de análise desenvolvido por Farr relaciona-se com a crítica ao modelo
historiográfico tradicionalmente adotado pelos historiadores da psicologia. É importante assinalar
que este tema envolve discussões muito detalhadas sobre os modelos historiográficos e depende
do reconhecimento de um limite inerente à história da psicologia como um todo. Não custa lembrar
que os principais historiadores da psicologia não possuem formação especializada em história, de
forma que a abordagem que eles apresentam da história da psicologia tende a sofrer os efeitos
deste limite.
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social. Os principais focos de resistência seriam encontrados nos grupos de
trabalho organizados em torno de Serge Moscovici, na França, e de Henri
Tajfel, na Inglaterra. Não nos refiremos neste momento ao trabalho destes
dois autores, pois discutiremos o trabalho de Moscovici ao tratarmos dos
conceitos básicos da psicologia social e a obra de Tajfel ao falarmos da
psicologia dos comportamentos coletivos.
Importa assinalar agora, no
entanto, a importância do trabalhos destes dois psicólogos sociais, pois o
impacto exercido pela obra de Tajfel no estudo das relações intergrupais, dos
estereótipos e dos preconceitos
foi decisivo, repercutindo inclusive na
psicologia social norte-americana, enquanto a importância da obra de
Moscovici sobre as representações sociais foi crescendo em importância com
a passagem dos anos e hoje se constitui na abordagem psicossociológica
quase predominante em muitas países latino-americanos e em alguns
europeus.
As críticas apresentadas pelos psicólogos sociais europeus contra a
perspectiva predominante na psicologia social são bastante conhecidas para
que
possamos
aqui
tratá-las.
Com
um
objetivo
mais
ilustrativo,
apresentaremos algumas delas: excesso de individualismo, a-historicismo,
excessivamente etnocêntrica, neo-positivista e centrada por demais nos
experimentos de laboratório.
Situação atual e perspectivas para o futuro
Efetivamente, parece ser aceitável a suposição de que o aspecto mais
importante da crítica exercida pela abordagem alternativa foi o fato de
permitir realizar uma avaliação rigorosa dos limites enfrentados pela
psicologia social. Em um artigo publicado faz poucos anos Scherer (1993)
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procura analisar as perspectivas européias de psicologia, indicando sobretudo
as diferenças que as opõem. Após considerar os elementos chaves do
desenvolvimento da disciplina nos início dos anos 90 através de um survey
realizado com 80 eminentes psicólogos sociais (40 norte-americanos e 40
europeus) Scherer apresenta alguns indicadores apontados pelos respondentes
a respeito do avanço relativamente tímido do conhecimento da psicologia
social. Entre estes fatores encontraríamos a tendência a realizar investigações
a partir de trabalhos previamente realizados em lugar de se voltar para a
discussão de questões mais importantes, a falta de matrizes teóricas
claramente definidas que delineiem a investigação, o a-historicismo, a falta de
concordância a respeito de formas de conceituação, de definição e de
operacionalização, a pouca atenção dedicada aos problemas de amostragem, a
falta de sofisticação metodológica, a negligência em relação aos resultados
negativos, a falta de estudos de replicação, a ausência de cumulatividade nas
evidências e nos achados obtidos pelos psicólogos sociais, a dificuldade de
generalização dos resultados e a validade ecológica.
Ora, estas dificuldades são variadas e se inserem em planos como o
teórico-conceitual e o metodológico. Existiriam justificativas para as mesmas
? Os psicólogos representados na amostra de Scherer indicam alguns
elementos que nos fornecem algumas explicações razoáveis para estas
limitações. Em primeiro lugar encontra-se, obviamente, a complexidade dos
fenômenos estudados, dado que na explicação da vida social devemos levar
em consideração fatores internos ao indivíduo que controlam o seu próprio
comportamento, as interações observadas entre indivíduos numa relação face
a face ou em pequenos grupos e ainda o efeito de elementos mais amplos tais
como os agregados, as coletividades e o contexto sócio-cultural. Um outro
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fator capaz de oferecer explicações a respeito dos limites da psicologia social
se refere às diferentes demandas inerentes à própria ciência, em especial à
competição entre psicólogos para a publicação nos poucos periódicos
especializados e a censura exercida pelos editores no sentido de preferir
trabalhos com um maior rigor metodológico às expensas de outros critérios
igualmente importantes, tais como a validade ecológica, a generalização ou a
integração teórica.
Reconhecidas
as
dificuldades
e
apresentado
um
diagnóstico
relativamente acurado dos problemas enfrentados, torna-se mais fácil
apresentar propostas no sentido de permitir um maior avanço neste campo de
estudos. Claro que nem sempre as soluções apresentadas podem vir a ser
implementadas de imediato, mas quando nada elas servem como princípios
orientadores para novos desenvolvimentos e para aqueles que procuram
trilhar por caminhos mais inovadores. A principal sugestão apresentada por
Scherer
foi a substituição de uma tradição de pesquisa guiada por
paradigmas por uma concepção de pesquisa cuja principal virtude seria a de
focalizar fenômenos, mas a partir de uma matriz teórica que ajude nas
investigações e que ofereça condições de avaliar de forma clara os resultados
empíricos. Entretanto, o próprio autor da sugestão deixa claro que esta
solução é muita mais fácil de ser apresentada do que ser realizada, daí a
necessidade de se apresentar outras sugestões mais realistas, portanto, mas
exequíveis face à condição atual da psicologia social. Quais seriam estas
soluções mais realistas ? Em primeiro lugar, a psicologia social deveria
enfatizar o desenvolvimento de pesquisas aplicadas, embora por pesquisa
aplicada devamos entender não aquela que se realiza com um intuito
pragmático ou utilitário, mas sim as pesquisas aplicadas científicamente
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sustentadas. Em segundo lugar, os psicólogos deveriam se voltar para a
obtenção de um maior contato interdisciplinar, não só com pesquisadores de
outros campos especializados dentro da psicologia e com psicólogos sociais
sociólogicos, como também com pesquisadores de outras disciplinas
científicas. Em terceiro lugar, os psicólogos sociais deveriam se voltar para o
design de pesquisas interculturais, sobretudo aquelas capazes de fornecer uma
maior possibilidade de generalização das evidências obtidas e contribuir com
a ampliação da validade ecológica dos estudos psicossociais.
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