ESBOÇO DA MATÉRIA REVELAÇÃO A Necessidade de Revelação A revelação é um elemento de todas as religiões. Todas mantêm a noção de que a divindade é capaz de comunicar ao ser humano. Na Bíblia a revelação é necessária por causa da natureza de Deus e do ser humano. DEUS SER HUMANO Infinito Espírito Finito REVELAÇÃO Espírito/corpo Perfeito Imperfeito Ilimitado Limitado 2 A doutrina cristã de revelação é baseada em duas pressuposições: 1. Deus é capaz de se revelar e, de fato, se revelou. 2. O ser humano é capaz de entender essa revelação. A Definição de Revelação A terminologia As palavras bíblicas principais são galah (tirar ou descobrir) e apokalupto, apokalupis (descobrir, descoberto). Existem outras palavras e frases que descrevem a ação de revelação, como, epifaneia (aparecer), semaínou (mostrar, fazer conhecido). A definição da revelação bíblica: A auto-manifestação de Deus de modo que o ser humano pode conhecêlo pessoalmente. Os elementos da revelação bíblica 1. Um ato de Deus. Deus inicia a revelação. O nosso conhecimento de Deus depende da sua revelação. Deus tem que se revelar se o ser humano vai conhecê-lo. Mas, isso não quer dizer que Deus se revela a parte da experiência do ser humano. Se fosse assim o ser humano não compreenderia a revelação. Uma maneira de entender o papel do ser humanos no ato de revelação é dizer que o próprio Deus, no ato de se revelar, desperta no indivíduo o desejo de conhecê-lo. Assim, as próprias aspirações do ser humano para conhecer a Deus vem do próprio Deus. Veja Ex. 3; Luc. 2.8-15. Leia e compare. 2. Deus se revela. O próprio Deus é o objeto da revelação. a. A revelação de Deus é principalmente pessoal e não de proposições, isto é, Deus se revela a si mesmo e não verdades sobre ele mesmo. Assim, Deus é o centro da revelação bíblica e não as declarações que Deus faz. 3. A revelação de Deus é mediada por meio de Jesus Cristo. Jesus é o meio da revelação de Deus ao ser humano. 4. A revelação de Deus possibilita conhecimento de Deus e comunhão com Deus. A revelação de Deus não tem por propósito principal conhecimento dos mistérios de universo mas, sim, relacionamento pessoal com Deus. O conhecimento que a revelação possibilita é principalmente para comunhão. A Natureza da revelação bíblica 3 Universal Na criação. As palavras bíblicas que se referem à revelação não se referem especificamente à revelação de Deus na criação. Mas, a Bíblia fala de "teofanias", revelações, em termos de fenômenos naturais. Geralmente, essa forma de revelação é chamada "geral" ou "universal" porque é uma revelação que é evidente ao ser humano em termos gerais ou que evidente universalmente. As suas características gerais são: 1. É acessível a todos em toda hora e 2. Não é específica em termos de hora, conteúdo, lugar, etc. Duas perguntas sobre essa forma de revelação: 1. A revelação por meio de natureza realmente existe? 2. Essa revelação é realmente eficaz? As Evidências bíblicas: 1. Salmo 19 a. "Os céus proclamam"(safar - também, "relatar, fazer conhecido, reportar") - particípio no Piel, sugere um processo contínuo b. "O firmamento anuncia" (galah) - declarar ou mostrar. c. "um dia faz declaração"(nb') - efervecer, derramar, emitir d. "uma noite revela" (chvh) - anunciar, informar V. 3 é a chave: "não há fala, não há palavras, não se ouve a sua voz" Várias interpretações: a. o universo é uma testemunha silenciosa. b. Sem falar em voz alta, o testemunho alcance toda parte do mundo c. v. 3 nega vv. 1 e 2. d. Lutero, Calvino, et al: "Não há língua (idioma) onde a sua voz não é ouvida." Dá ênfase à universalidade da mensagem. Toda língua, nação, tribo, etc. tem acesso a esta mensagem. e. LXX: "Não há língua, nem palavras cuja voz não é ouvida", isto é, não existem falas ou palavras que não podem ser ouvidas. v. 4: "Por toda a terra se estende a sua linha" (TM); LXX - "a sua voz". v. 4 implica na eficácia desta revelação pelo menos em termos da sua universalidade. Não há lugar sem acesso a essa revelação. 2. Rom. 1:18-32 4 a. b. c. d. e. 3. A chave da epístola se encontra em vv. 16 e 17. Mas, a salvação pressupõe a revelação da ira de Deus em vv. 18-32. A ira de Deus é justificada na base da verdade revelada por Deus mas rejeitada pelos homens. Deus se manifestou claramente ao ser humano. Esta revelação começou na criação e continua As qualidades (atributos) de Deus que são reveladas: poder eterno e divindade. Assim os ímpios não têm desculpa para não conhecer pelo menos estes atributos. Mesmo com conhecimento de Deus, não honram a Deus. O problema: como interpretar "o que de Deus se pode conhecer" e "Deus lho manifestou"? Em v. 21 a frase "tendo conhecida a Deus" implica em conhecimento de verdade. Rom. 2:12-16 Todos são julgados (condenados). O judeu é condenado porque tem a lei mas não obedece a lei. O gentio é condenado porque, mesmo sem a lei judaica, tem uma "lei" escrito no seu coração. Quando o gentio faz o que a lei diz, mostra que a lei está no seu coração. 4. Atos 14:15-17 a. b. c. 5. Deus "permitiu que as nações andassem nos seus próprios caminhos", isto é, não interfere com as nações. Mesmo assim, Deus dá um testemunho à sua bondade--a chuva, comida, e fazendo bem para todos. O testemunho de Deus ao mundo é a preservação benevolente do mundo. Atos 17:22-31 a. b. O "deus desconhecido", o deus das especulações, sem uma revelação específica, é o Deus que Paulo conheceu por meio de uma revelação específica. Citou um poeta grego que chegou a reconhecer a origem de todo ser humano, "dele também somos geração." As Implicações da Revelação por meio da natureza 1. Todos tem conhecimento de Deus, mas, nem todos reconhecem a verdade de Deus na criação. 5 2. 3. 4. 5. Existe a possibilidade de conhecer uma porção da verdade divina fora da revelação particular; a revelação "geral" é um complemento à revelação particular. Deus é justo quando condena aqueles que nunca ouviram falar do evangelho porque (a) todos tem uma noção de Deus e (b) se não perceberam efetivamente, é porque eles suprimem a verdade. Revelação universal serve para explicar a presença das religiões no mundo. Existe um vínculo entre a verdade do evangelho e a verdade científica do mundo natural. EXCURSO: A Teologia Natural 1. Definição - Existe uma revelação objetiva, válida, e racional na criação. Duas pressuposições: a. A verdade sobre Deus é realmente presente na criação; não é uma projeção do crente da sua fé para a criação. b. O mundo (o universo) de hoje é essencialmente o mesmo que Deus criou. 2. A pessoa que percebe essa revelação é íntegra. As limitações humanas (pecado, etc.) não impedem a interpretação correta da revelação por meio da natureza. 3. A mente humana é capaz de receber e deduzir informação sobre Deus por meio da natureza. Os princípios de lógica são válidos para entender a revelação. 4. A essência de uma teologia natural: É possível chegar a uma compreensão verdadeira de Deus na base da razão sem pressuposições cristãs e sem outra autoridade (a Bíblia, a igreja, etc). 5. Um exemplo de uma teologia natural: Tomás Aquino (Suma Teologica) a. Seu argumento: é possível validar algumas crenças da igreja só por meio de razão pura, por exemplo, a existência de Deus. b. As provas da existência de Deus: (1) A prova cosmológica - (a) cada coisa que existe tem uma causa, uma origem. (b) Não pode ser uma série infinito de causas porque, se fosse, nada seria sido criado. (c) Tem que ter uma Causa Primária - Deus. 6 (2) A prova teleológica - A ordem e estrutura do universo é o resultado de um ser inteligente. O universo e seu mecanismo não apareceu por acaso; deve ser o produto de um plano ou propósito específico. 6. Outras provas a. Emanuel Kant - o argumento antropológico, isto é, existe no ser humano evidências da revelação de Deus, e.g., o impulso moral. b. Anselmo - (a) Deus é o maior de todo ser concebível. (b) Um ser que não existe não pode ser o ser maior, porque um ser que existe certamente é maior do que um ser que não existe. (c) Assim, Deus tem que existir. 7. Conclusão a. As provas da existência de Deus não são conclusivas. Pode ser usadas para provar que Deus não existe, também. Por exemplo, a primeira causa é o Deus de que a Bíblia fala ou é simplesmente um ser muito grande e poderoso para dar início ao universo? b. As implicações das passagens bíblicas indicam que Deus deixou uma revelação objetiva na criação mas o ser humano não pode "ver" Deus claramente por causa das influencias do pecado. Particular (Especial) Deus se manifesta pessoalmente a pessoas específicas, em lugares e horas específicas, de maneira que pessoas possam estabelecer um relacionamento redentor com ele. Aspectos de revelação particular: Teofanias Teofanias são eventos específicos em que Deus aparece na história. São específicos em termos de tempo e lugar, isto é, Deus se revela em um momento histórico específico e em um lugar geográfico específico. Exemplos bíblicos de teofanias: 1. Ex.3 2. Jz.6 À vezes, a teofania aconteceu em uma visão: 1. Is.6 7 2. Ez.1,2 A história como meio de revelação 1. G.E. Wright, O Deus que age a. A revelação acontece numa séria de eventos históricos. b. A Bíblia é uma coletânea (registro) dos atos de Deus e a resposta humanas aos atos. c. Por meio destes atos podemos aprender algo sobre Deus. d. Assim, a Bíblia não especificamente "a palavra de Deus" mas, sim, o registro dos atos de Deus. 2. Revelação por meio de história - Karl Barth (neo-ortodoxia) a. Deus agiu na história para se revelar mas os eventos da história não são a revelação, mas, sim, o meio da revelação. b. Revelação é Deus se manifestando num encontro pessoal com o ser humano. c. A presença de Deus num evento é a revelação e não o evento em si. d. Assim, a Bíblia é um relatório que a revelação aconteceu, mas não é parte da revelação. e. A Bíblia pode ser um veículo através do qual Deus se revela ao leitor. 3. Wolfhart Pannenberg a. Os eventos da história são a própria revelação de Deus. b. Assim, é possível ver os atributos de Deus nos eventos. c. Pannenberg entendeu a história como a história universal, isto é, Deus não se revelou somente na história de Israel mas, sim, na história universal do mundo. A revelação como palavra 1. No AT a. Em termos gerais, no AT as palavra têm uma característica dinâmica. Não foram simplesmente sons que saíram da boca, mas uma vez faladas, elas conseguiram uma "existência" independente. Por exemplo, uma benção falada não pode ser retirada. (Gn. 27.3238). As vezes as palavras são tratadas como "objetos" físicas (Veja 1Sam. 3:19). 8 Em termos da revelação de Deus, no AT a palavra é o modo característico pelo qual Deus revelou seus propósitos ao ser humano. A palavra hebraica que mais caracteriza a noção de palavra é dabar. b. Duas modalidades: (1) A lei (a) O judaísmo do primeiro século dC disse que Deus sempre existia e revelou sua natureza, caráter, seus propósitos, e sua vontade. (b) Os judeus aceitaram a revelação da lei por Deus. Essas palavras foram transmitidas de Deus para os seus servos, principalmente Moisés, por meio do seu Espírito. Assim, essas palavras têm a qualidade de palavras inspiradas, ou, de origem divina. (2) A palavra profética - "a palavra do SENHOR" (a) uma palavra dinâmica e particular. Deus fala e o profeta ouve (Veja Jer. 18.1, Os. 1.1, Joel 1.1.). Outras expressões são usadas pelos profetas, também, como "o oráculo (peso) de Deus" (Hb. 1.1) ou "a visão de Deus" (Ez.1.1). Assim, o profeta "vê" a palavra de Deus numa visão. Veja Is. 2.1; Miq. 1.1; Naum 1.1. (b) A revelação por meio da palavra é a maneira pela qual Deus comunicou a sua vontade ao ser humano. Essa comunicação não deve ser interpretada como informação esotérica ou gnóstica, mas, sim, seu desejo para o ser humano no que diz respeito ao comportamento humano. (c) contextualizada - em tempo e espaço, numa língua específica. (d) O poder da palavra de Deus - O poder da palavra de Deus pode ser visto no imperativo que essa palavra produziu na vida dos profetas. Veja Amós 3:8, Jer. 20:9. Essa palavra produziu uma compulsão divina. A iniciativa é com Deus mas o livre arbítrio do profeta é também respeitado. O poder da palavra é também visto no mundo em termos gerais. Veja Sal. 33.6; Is. 55.10,11. No NT b. 2. 9 a. b. c. No grego as palavras que mais comunicam a noção de palavra são logos e rhema. As duas palavras são usadas na LXX para traduzir davar mas a palavra rhema é a palavra preferida no Pentateuco e a palavra logos é preferida nos profetas. logos tem vários sentidos no grego: contar, relatar, recitar, dizer, falar, explicar, narrar, etc. rhema quer dizer principalmente "dizer" ou aquilo que foi falado ou dito. "A palavra de Deus" no NT (1) a lei no AT - Mar. 7.13 (2) uma passagem específica do AT - Jo.10.35 (3) A vontade revelada de Deus, seu propósito para o ser humano - Luc. 11.28; Rom. 9.6; Col. 1.25-27. (4) As palavra de Jesus e as referências de Jesus à palavra de Deus - Luc. 5.1; Jo. 5.38; 8.55; 17.6. (5) A mensagem do evangelho - Luc. 8.11; Atos 4.31; 1Cor. 14.36; Ef. 1.13; Col. 1.5. (6) As vezes a palavra rhema se refere às palavras de Jesus (Atos 11.16) e o evangelho (1Ped. 1.25). Jesus como a palavra de Deus - Jo. 1.1-14; 1Jo. 1.1; Ap. 19;13. (1) João se referiu a Jesus como a Palavra (logos) porque a terminologia messiânica judaica não foi totalmente adequada para descrever a revelação de Deus em Jesus Cristo para audiências não-judaicas. (2) Além dessa designação O NT usa as expressões "Filho de Deus" e "Filho do Homem." A frase "Filho de Deus" se refere a preexistência de Cristo (Gl. 4.4; Fil. 2.6; Col. 1.15, 17). João se referiu a preexistência de Jesus como o agente de Deus pai na criação (Jo. 1.3). A expressão "Filho do Homem" se referiu a designação de Jesus como o "homem do céu" ou "o segundo Adão." Jesus é o arquétipo do homem verdadeiro, criado à imagem de Deus. As implicações da revelação particular 1. 2. 3. 4. 5. 6. A revelação é pessoal - Deus se revela e revela a verdade. O conhecimento da revelação é pessoal e não teórico. A revelação é realmente algo novo. A revelação é por meio de atos e palavras. A revelação particular de Deus é inteligível. A revelação é por meios humanos O homem Jesus 10 Os atos de Deus As palavras proféticas Os escritores bíblicos A comunidade cristã A DOUTRINA DE DEUS I. INTRO Uma discussão da pessoa de Deus e seus atributos dependem de uma pressuposição que Ele existe e que pode ser conhecido pelo ser humano. Como escreveu L. Berkhof: "Para nós, a existência de Deus é a grande pressuposição da teologia." Uma discussão teológica de Deus normalmente inclui: a. As provas lógicas da sua existência b. A natureza da sua pessoa c. Seus atributos II. As provas da existência de Deus (Uma discussão das provas de Deus se encontra no livro texto e não será tratado na sala de aula.) III. A Natureza de Deus Não há consenso entre os teólogos quanto a maneira de falar da natureza de Deus. Normalmente, a “doutrina” de Deus é apresentada por uma descrição dos atributos de Deus. Há várias maneiras de classificar esses atributos: Naturais Absolutos Transcendente Incomunicáveis Grandeza 1. Morais Relativos Imanente Comunicáveis Benevolência Deus como pessoa (Conner) 11 É necessário tratar de Deus como pessoa por causa da sugestão que vem de outras crenças e filosofias dizendo que Deus é meramente uma "força" impessoal. A nossa posição é que Deus é uma pessoa com as qualidades que fazem parte de personalidade como nós entendemos. Qual é a definição de pessoa e/ou personalidade? W. T. Conner sugeriu três itens: a. a inteligência - a capacidade de conhecer o universo ao seu redor; relacionar-se ao universo; a capacidade de se identificar dentro do universo b. a auto determinação - a capacidade de influenciar a si mesmo; determinar a direção da sua vida; dirigir-se numa ou outra direção c. a consciência moral - a capacidade de distinguir entre o bem e o mal e a obrigação de escolher o bem e rejeitar o mal. À luz da Bíblia, podemos dizer que Deus tem tudo isso e, assim, é uma pessoa. O ser humano somente possui essas características até certo ponto, em uma escala limitada. Se Deus é a pessoa perfeita e nós somos imperfeitos, podemos concluir que a nossa personalidade deve ser no processo de desenvolvimento. Evidências da personalidade de Deus a. a personalidade do ser humano. De onde veio se não de Deus? b. O nome de Deus - Êx. 3.14,15; 6.2,3 c. sua capacidade de agir; sua capacidade de iniciar relacionamentos, falar, sentir, pensar, etc. A vida é o que faz a distinção principal entre Javé e os ídolos. Isa. 44.18,19 e Jer.10.10 mostram a situação entre Deus e os ídolos. d. sua auto-suficiência - At. 17.25 e. a pessoa de Jesus Cristo: 1) seu relacionamento com o Pai 2) suas qualidades como, seu amor,, sua retidão, etc. são pessoais 3) sua capacidade de iniciar relacionamentos pessoais f. a experiência cristã nos mostra que a reposta que o crente recebe de Deus é pessoal - o perdão, a transformação, etc. 2. A Espiritualidade de Deus João 4.24 declara que Deus é espírito: Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade. (pneuma o qeus ) 12 a. b. c. d. e. Deus não é um espírito, mas é de natureza espiritual, isto é, não tem matéria como parte do seu ser. Veja 1Tim. 1.17; 6.15,16. Ex. 20.4 implica na impossibilidade de fazer uma representação concreta de Deus A nossa comunhão com Deus é de natureza espiritual. Não podemos alcançá-la por meios dos sentimentos humanos. Ele não tem limitações físicas; não é preso pela natureza física do universo. Veja Atos 17.24. As antropomorfismos e antropopatias (1) Os antropomorfismos são figuras de linguagem humana que nos ajuda a entender a natureza de Deus, como ele age, etc. Veja Dt. 26.8; Is. 59.1, Ex. 33.22,23. “e o Senhor nos tirou do Egito com mão forte e braço estendido, com grande espanto, e com sinais e maravilhas” Dt. 26.8 E quando a minha glória passar, eu te porei numa fenda da penha, e te cobrirei com a minha mão, até que eu haja passado. Depois, quando eu tirar a mão, me verás pelas costas; porém a minha face não se verá. Ex. 33.22,23 Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para que não possa ouvir; Is. 59.1 (2) As antropopatias são descrições de Deus em termos de sentimentos humanos, por exemplo, a ira, o ódio, ou o arrependimento. “Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração” Gên. 6.6 (3) As teofanias visíveis de Deus são auto-manifestações de Deus em forma ou humana ou de fenômenos naturais que permitem uma visão de Deus sem prejudicar a sua santidade ou ferir o ser humano. 3. A natureza absoluta de Deus 13 A natureza absoluta de Deus refere-se à impossibilidade de conter Deus em nossos pensamentos ou pelas nossas expressões. Ele não depende de nada para sua existência. O mundo depende dele. Os relacionamentos que ele mantém com o mundo são os relacionamentos que somente ele deseja. As implicações: a. A auto existência Deus é a fonte de tudo que existe e ele não depende de nada para sua existência. Seu domínio é eterno, sem limites de tempo, sem início ou fim. Ele não se desenvolve. Veja Sl. 90.1,2; Judas 25. b. A unidade Deus é só um e é indivisível. Uma noção básica no AT e no NT é que Deus é um. Veja Ex. 20.2; Dt. 6.4. Essa unidade não anula a doutrina da Trindade porque essa doutrina também ensina que Deus é um. Sendo um só, Ele é o único Deus que deve ser adorado. Assim, o politeísmo é excluído. Jer. 10 c. O poder absoluto Deus é soberano sobre o universo. Seu poder é ilimitado e sem igual. Veja Jer. 35.17; Mt. 19. 26. Ele pode tudo que é apropriado ao seu poder. Veja Gên. 1; Is. 40.12-29. A sua soberania é visto no seu domínio sobre as nações no AT. Veja Is.14.24-27. Ele usa outras nações para castigar o seu povo Israel. Assim, o elemento nacionalista é eliminado. Veja Is. 10.5-19. d. O conhecimento absoluto Deus conhece tudo que pode ser conhecido e a sua compreensão das coisas é ilimitada. Veja Sl. 147.7 Não há nada que acontece que Deus não sabe; Ele não é surpreso quando algo acontece. Veja Pr. 15.3; Mt. 10.29, 30; Hb. 4.13. Ele possuí todos os fatos e faz decisões na base do seu conhecimento completo. O ser humano não entende tudo que Deus faz porque é Deus. Veja Is. 55.8,9; Rm. 11.33. A melhor ilustração da incapacidade do homem compreender os caminhos de Deus é a história de Jó. 38-41 (Veja 42.1-6) 4. A Transcendência e Imanência de Deus A imanência é a presença e atividade de Deus na criação, na história e na natureza humana. A crença na imanência de Deus estabelece uma defesa contra o deísmo, a crença em um deus impessoal. Veja Dt. 4.7; Sl. 46.1; 119;151; 148.18; Is. 55.6; Jr. 23.23,24; Atos 17.27,28 As implicações: 14 a. Deus não é limitado quanto a maneira de agir. Ele pode usar qualquer coisa para cumprir os seus desejos—sobrenatural ou natural (científico). b. Deus pode usar qualquer pessoa para cumprir seus propósitos. c. Existe a possibilidade de conhecer algo de Deus por meio da criação. d. Devemos apreciar a criação. A transcendência de Deus estabelece a separação de Deus da criação. A transcendência estabelece a defesa contra o panteísmo. Veja Gn. 1.1; Sl. 113.5,6; Is. 45.15; 55.8,9; 57.15. As implicações: a. Existe algo mais alto do que o ser humano. b. Deus não pode ser totalmente compreendido por meio do pensamento humano. c. A salvação não é obra do ser humano. d. Sempre vai haver uma diferença entre Deus e o ser humano. e. O nosso relacionamento com Deus deve ser caracterizado pela reverência e adoração. Podemos esperar uma intervenção por parte de Deus, não somente por meios naturais. A NATUREZA MORAL DE DEUS I. II. INTRODUÇÃO 1. Pensar em Deus deve enfatizar a sua natureza moral 2. Se desejarmos conhecer a Deus, devemos começar por Jesus como pessoa moral. 3. As qualidades principais de Jesus são, ao mesmo tempo, as qualidades principais de Deus. AS QUALIDADES DIVINAS 1. Santidade a. Santidade não é principalmente uma característica de Deus, mas é sua essência. Deus é santo por natureza. b. Implica a transcendência de Deus, isto é, a sua separação do mundo que ele criou. c. No AT, as coisas associados com Deus são separadas das demais coisas quanto ao seu uso—templo, altar, utensílios, etc. d. Implica a transcendência ética também, isto é, ele não é como homem (Is.55.8,9) e a sua separação é motivo para adoração (Is.6.3; Ap.4.8; 15.4) 15 e. O NT enfatiza a santidade na oração modelo de Jesus (Mt.6.9). Jesus falou com o Pai como “Pai nos céus.” f. Algumas implicações: 1) Deus é conhecido como “Santo” pela sua separação das coisas do mundo e pela sua natureza ética. Sua bondade é mais que qualquer outra entidade. Jesus disse que somente Deus é bom (Mc.10.18) 2) Sua justiça é uma justiça ética, assente de falhas morais. 3) Sua bondade e misericórdia supera qualquer demonstração do ser humano (Mi.7.18,19). 4) A santidade de Deus é o alvo para conduta humana: “Sereis santos porque eu, seu Deus, sou santo”(Lv.19.2). 2. Retidão a. Implica no caráter correto de Deus, nele não há erro ou mal. b. Deus é perfeito em retidão e sempre vai agir de maneira correta. c. Como reto em tudo, Deus é contra tudo que é mal e age contra o mal. d. Quando Deus age, não é de forma caprichosa. Sua vontade expressa sua retidão e. A retidão de Deus em relação ao ser humano: a) A retidão de Deus exige a retidão do ser humano. 1) Deus deseja que o ser humano faça o que é reto. A consciência humana pode indicar o que ele deve fazer, mas não é infalível. É uma indicação que a natureza moral de homem é revelação de Deus. 2) A revelação do requerimento moral do ser humano se encontra nas escrituras. Exemplos da revelação das exigências morais de Deus: - Os Dez Mandamentos - O sermão do monte - As exortações nas cartas de Paulo - A vida e pessoa de Jesus é o exemplo supremo da vida moral que Deus deseja do ser humano. 16 3) Mostra que a base de moralidade não é a experiência humana (uma visão utilitária), mas na natureza reta de Deus, nas sua transcendência e natureza imutável. b) A retidão de Deus condena o pecado do ser humano. 1) O ser humano universalmente não alcance a retidão de Deus (Rm.3.23). 2) Porque Deus é totalmente reto, ele tem que condenar o pecado do ser humano. Negar isso é dizer que Deus não é moral e que não reconhece a distinção entre bem e mal. 3) Sua retidão condena o pecado do homem, mas não significa que Deus não ama o ser humano. O amor de Deus para com o ser humano é devido a sua criação à imagem de Deus. O ser humano “é digno de ser salvo, mas não merece ser salvo” (Conner, p. 95). 4) Jesus nos mostrou a atitude divina sobre o pecado do homem. “Tratar o pecado com indulgência não é misericórdia para o pecador” (e, p.96). Jesus tratou do pecado com compaixão mas condenou todos que permaneceram na descrença voluntária. c) A retidão de Deus o motiva para remir o pecador; é retidão redentora. 1) Redenção e retidão podem ser consideradas sinônimas (Sl.40.10; 71.15; 98.2; Is.51.5,6,8; 56.1; 1Jo.1.9) 2) A retidão de Deus o motiva a condenar o pecado e resgatar o ser humano das consequências do seu pedado. 3) A retidão de Deus é a fonte da nossa retidão. A nossa retidão deve nos levar a praticar o que é reto, isto é, de viver uma vida reta, praticando atos de justiça e bondade. 3. Amor a. A natureza do amor de Deus 17 a) Mais que emoção e sentimento; é a característica de Deus que o leva a fazer decisões inteligentes conforme a sua vontade. b) É benevolente, visando o nosso bem estar (Dt.7.7,8; Mt.6.26-28; Lc.15; Jo.15; 1Jo.4.10). c) É reto; é demonstrado conforme os princípios eternos de retidão. É condicionado pela sua moralidade e por isso não é caprichoso ou arbitrário. d) A graça de Deus; amor que não é baseado em mérito; é o favor não merecido de Deus (Rm.5.8; Ef.2.8,9). Demonstrado na sua misericórdia e compaixão (Sl.103.13; Mt.9.36; 14.14). e) É persistente (1Pe.3.20; 2Pe.3.9,15). f) É o amor que se dá a si mesmo; é amor vicário. g) Exige o amor do ser humano para com Deus. Deus é Deus zeloso e exige fidelidade completa. h) 1Jo.4.7-5.3 A TRINDADE I. Unidade 1. Unidade fundamental – Dt.4.35; Is.43.11; Dt.6.4,5; Mc.12l29,30 2. Diversidade de manifestações – Gn. 16.7ss; Sl. 34.7; Pr.8.22ss; Hb.1.1,2 3. Diversidade se torna trindade – Pai, Filho, Espírito Santo são necessários para completar o “retrato” bíblico de Deus. a. O Pai não é completo sem o Filho que o revela. b. O Espírito “acorda” o nosso coração à revelação do Pai pelo Filho. c. O Pai envia o Filho, o Filho revela o Pai, e o Espírito capacita o ser humano conhecer e apreender o Pai como é revelado pelo Filho. 4. Outras doutrinas – mais duas doutrinas são centrais à doutrina da Trindade: a. A divindade de Cristo b. A personalidade do Espírito 18 II. A deidade dos três 1. O Pai – poucos discutem a deidade do Pai (1Co.8.4; 1Ti.2.5,6) 2. O Filho – Fi.2.5-11 usa a palavra morphe para descrever Jesus. 3. Traduzida “forma” e significa a natureza essencial de alguma coisa, o que ela realmente é. Deve ser comparada à palavra schema. morphe nunca muda, schema pode. Schema expressa a aparência; morphe, a essência. Em Fi. 2.6, Paulo disse que Jesus possui a natureza imutável de Deus. Outras referências: Cl.1.19; Hebreus 1.3, 5, 8. 4. O autoconhecimento de Jesus (Mc.2.8-10; Mt. 13.41; 25.31) 5. O Espírito – Atos 5.3,4; Jo.3.8; 1Co.12.4-11; 3.16,17 6. Os três – Mt.28.19; 2Co.13.14; 1Pe.1.2. III. Várias Interpretações oferecidas 1. Unitariana - Exclui Cristo da Trindade, considerar Cristo como um homem dotado de poderes sobrenaturais ou pelo menos um homem de capacidades excepcionais. 2. Modalismo – Afirma que Deus é uma pessoa só que se manifestou em três “aspectos” ou modos ou formas. Pai, Filho, e Espírito são manifestações diferentes do mesmo Deus. Mesmo tratando da divindade de Cristo, não reconhece a natureza essencial de um relacionamento permanente entre as três pessoas. 3. Triteísmo – afirma que Deus é três indivíduos que cooperam um com o outro, um tipo de concílio eterno de deuses. O uso da palavra pessoa pode nos levar a pensar numa separação extrema entre Pai, Filho, e Espírito. Podemos falar de Deus em três pessoas, mas não em termos de três indivíduos. Não pode haver três indivíduos infinitos e absolutos. 4. A natureza triuno de Deus – Duas verdades tem que ser reconhecidas: a unidade de Deus e a trindade. Deus é um, indiviso que sustem tudo que existe. Dentro desta unidade existe uma trindade unida em ação. A obra do Pai, Filho, e Espírito é a obra de Deus. A obra de Cristo é a obra de Deus, Cristo não é um tipo de “representante” enviado por parte de Deus nem o Espírito um agente externo de Deus. Quando Cristo ou o Espírito trabalham, é a obra de Deus triúno. A obra de um é incluída na obra de todos. Às vezes falamos dos “ofícios” das três pessoas como cada pessoa 19 assumiu uma parte da obra divina, cooperando um com o outro. A Bíblia não apresenta Deus trabalhando numa sequência de obras para completar o programa. Isso é um tipo de triteísmo. Ao invés disso, a obra de um é a obra de todos. Existe uma distinção de ofício ou função. O Pai é a fonte e origem de tudo, o Filho é o intermédio do poder de Deus, o Espírito age para completar todas as coisas. A palavra “pessoa” quando se aplica às distinções da Trindade sempre tem sido usada com certa cautela porque existe a tendência de pensar das pessoas em termos exclusivos como três pessoas independentes que trabalham como “comitê divino.” No caso da Trindade, a palavra “pessoa” não implica a identidade independente da pessoa, mas o poder de incluir outras pessoas na obra. A palavra pessoa só deve ser usada para se referir à unidade da Trindade e não a independência das três pessoas. A Trindade é imanente e eterna, não é temporal e “econômico”, isto é, que funcionou em épocas e maneiras distintas e funcionais. Uma sugestão é que a Trindade é uma unidade aparente, isto é, porque é além da compreensão do ser humano, Deus aparece aparentemente como três pessoas. O aspecto mais importante é a expressão histórica da Trindade. Não é uma teoria sobre a natureza de Deus, mas uma reflexão dos fatos históricos e de experiência. A revelação de Deus deve revelar como Deus realmente é. A revelação na história deve ser aceita como a chave para entender o Deus eterno. Se Deus é revelado como Pai por Jesus no tempo e espaço, então Deus é Pai na sua existência. O DEUS QUE CRIOU E SUSTEM I. Porque estudar a criação? 1. A Bíblia trata da questão. (Gn.1.1) 2. Faz parte das declarações doutrinárias da igreja. CREDO APOSTÓLICO Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do Céu e da terra. 20 II. III. CREDO NICENO (325) Creio num só Deus, Pai Todo-poderoso, Criador do céu e da terra, de todas as coisas, visíveis e invisíveis. 3. A compreensão da doutrina de criação nos ajuda compreender outras doutrinas, como a natureza do ser humano e o destino final do universo. 4. Ajuda separa cristianismo das demais religões. 5. Cria uma ponte de diálogo entre fé e ciência. Textos bíblicos chave 1. Gn.1 2. Sl.8 3. Sl.104 4. Is. 40.12-31 5. 2Pe.3.7, 10, 12 6. Is. 65.17; Ap.21.1,2 7. Outras: Mt. 13.55; 19.4; 24.21; Mc.10.6; 13.19; Hb.1.10; Ap.3.14 Elementos da visão bíblica da criação 1. De nada 2. Tudo que existe 3. Sem dualismo 4. A obra do Deus triuno 5. Para glorificar a Deus