PARTICIPAÇÃO DAS DIHIDROESTIRIL-2-PIRONAS E ESTIRIL-2-PIRONAS NAS AÇÕES CENTRAIS DO TIPO-BENZODIAZEPÍNICAS DA PLANTA POLYGALA SABULOSA (POLYGALACEAE) EM ROEDORES. Filipe Silveira Duarte1*; Marcelo Duzzioni1; Alcíbia Helena de Azevedo Maia2; Rafael Luiz Prim2, Cláudia Regina dos Santos2, Alexandre Ademar Hoeller3, Beatriz Garcia Mendes4; Moacir Geraldo Pizzolatti4; Mariel Marder5, Thereza Christina Monteiro De Lima1. 1Farmacologia, 2 Departamento de Análises Clínicas, 3Departamento de Ciências Fisiológicas, 4Química, UFSC, Florianópolis, SC, Brasil, 5IQUIFIB, Buenos Aires, Argentina. O presente estudo investigou os efeitos psicofarmacológicos do extrato bruto hidroetanólico (EBH), frações aquosa, hexânica e acetato de etila (FAE), e 6-metoxi-7preniloxicumarina, três dihidroestiril-2-pironas (DST) e três estiril-2-pironas (STY) isoladas de Polygala sabulosa (Polygalaceae), uma planta popularmente utilizada como anestésico tópico. No labirinto em cruz elevado (LCE), o tratamento por via oral com o EBH e FAE de P. sabulosa aumentaram a porcentagem (%) de tempo de permanência e de entradas nos braços abertos, bem como o número de imersões desprotegidas de cabeça (IDC), além de uma redução dos estiramentos corporais protegidos (ECP), um perfil do tipo-ansiolítico para esta espécie de planta. No teste da hipnose, o EBH e a FAE aumentaram a duração do sono induzido por pentobarbital, um efeito hipno-sedativo confirmado no teste do sono etéreo. Ambas as preparações reduziram a duração da primeira convulsão induzida por PTZ, além de diminuir a severidade das convulsões. A DST (1) e (3) ou STY (4) e (7), administradas i.c.v., induziram um efeito do tipo-ansiolítico similar ao diazepam (DZP), no LCE. Estes resultados sugerem que a P. sabulosa possui efeitos do tipo-ansiolítico, hipno-sedativo e anticonvulsivante, e que estes efeitos podem ser atribuídos à presença dos compostos DST e STY. Além disso, este estudo investigou a participação do receptor GABAA/benzodiazepínico (BDZ) nos efeitos centrais da FAE, bem como dos compostos DST e STY, utilizando o antagonista BDZ em modelos in vivo com o intuito de correlacionar estes efeitos com a atividade in vitro. No LCE, o flumazenil (FMZ), bloqueou parcialmente o efeito do tipo-ansiolítico da administração i.c.v. da DST (3) ou STY (4) e (7), porém não da DST (1). No registro do eletroencefalograma em ratos, a FAE protegeu as convulsões induzidas por PTZ, um efeito parcialmente bloqueado pelo FMZ, indicando a participação do receptor GABA/BDZ nesta ação. Os compostos isolados de P. sabulosa inibiram a ligação do [3H]-FNZ nos sítios BDZ em sinaptossomas de córtex de ratos com os seguintes valores de Ki: superior a 100 M DST (1), 41.7 M DST (2), 35.8 M DST (3), 90.3 M STY (4), 31.0 M STY (5) e 70.0 M STY (7). Nos ensaios de saturação, os compostos DST (3) e STY (7) inibiram competitivamente a ligação do [3H]-FNZ aos sítios BDZ com uma diminuição significativa na afinidade aparente (Kd) sem nenhuma mudança no número máximo de sítios de ligação (Bmax). Então, uma ação sobre os receptores GABAA/BDZ modulando os efeitos do tipo-ansiolíticos, hipno-sedativo e anticonvulsivante da P. sabulosa, da FAE e de seus principais constituintes é plausível. Além disso, a FAE protegeu os camundongos das convulsões induzidas por eletrochoque máximo, indicando que outros sistemas de neurotransmissores poderiam estar contribuindo para as ações da P. sabulosa. Os possíveis efeitos tóxicos da administração oral aguda da FAE nas doses de 250-5.000 mg/kg (Teste de Irwin) ou 250-1.000 mg/kg (administração sub-crônica, 32 dias), em camundongos, também foram investigados. Os parâmetros bioquímicos e hematológicos foram estudados. Além disso, o possível desenvolvimento de tolerância aos efeitos do tipo-ansiolítico da FAE foi investigado no LCE após um tratamento por 30 dias. Nossos resultados mostraram que a DL50 da FAE é superior a 5.000 mg/kg sugerindo baixa toxicidade. As razões para os efeitos sedativo/ansiolítico e miorelaxante/ansiolítico calculadas para o tratamento com a FAE foram muito superiores àquelas do diazepam, sugerindo uma boa margem de segurança. O tratamento sub-crônico não revelou qualquer alteração na evolução do peso corporal. Somente um aumento do peso absoluto e relativo foi observado, em ambos os sexos (machos, 30 e 34 %, respectivamente, e fêmeas, 14 e 18 %, respectivamente). Nos parâmetros bioquímicos e hematológicos, a FAE na dose de 1.000 mg/kg promoveu um aumento da ALT em camundongos machos e uma redução de creatinina bem como um aumento do volume corpuscular médio e de neutrófilos segmentados em fêmeas. No entanto, estas alterações não apresentaram um padrão dose ou sexo-dependente, uma vez que ocorreram em caráter esporádico, após uma ou outra dose da FAE, eventualmente em machos ou em fêmeas. Estas mudanças isoladamente, portanto, sugerem ausência de toxicidade aguda e sub-crônica em camundongos. O tratamento sub-crônico com a FAE (250-1.000 mg/kg) induziu um aumento na % de tempo de permanência e de entradas nos braços abertos do LCE, bem como aumentou o número de IDC, a atividade da região distal dos braços abertos, além de reduzir os ECP, sugerindo falta de tolerância aos efeitos do tipo-ansiolítico. Em conclusão, a planta P. sabulosa apresenta efeitos do tipo-ansiolítico, hipno-sedativo e anticonvulsivante que podem ser atribuídos às DST e STY. Estes efeitos farmacológicos parecem envolver, pelo menos em parte, uma interação com o sítio BDZ do complexo receptor GABAA. Além disso, esta espécie de planta mostrou baixa toxicidade para os esquemas de tratamentos agudo e sub-crônico, indicando boa tolerabilidade e relativa segurança.