Gilson Carvalho – Médico Pediatra e de Saúde Pública ORÇAMENTO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA 2014: O QUE ESPERAR? Confira a análise feita pelo médico Pediatra e de Saúde Pública, Gilson Carvalho, do orçamento da União para a Saúde a partir do PLOA 2014 (Projeto de Lei Orçamentária Anual), substitutivo aprovado no Congresso Nacional em dezembro. A receita total da União, incluindo a renegociação da dívida, é de R$ 2,5 trilhões sendo a de arrecadação R$ 1,8 trilhão, dos quais 106 bilhões são de investimento das estatais. Sendo o orçamento fiscal e da seguridade social de R$ 1,7 bilhão. A receita fiscal saiu em 2013 de R$ 905 bilhões para R$ 1 trilhão e a da seguridade de R$ 651 bilhões para R$ 713 bilhões. A receita do Ministério da Saúde para este ano é de R$ 95,7 bilhões, sendo superada apenas pela da Previdência. No entanto, segundo a Constituição Federal, de 1989 a 1993 deveriam ter sido alocados 30% do orçamento da Seguridade Social para a Saúde. Este parâmetro significaria para a Saúde a importância de R$ 214 bilhões em 2014. Olhem a tristeza do financiamento da saúde: nem os 30% da CF (R$214 bi) nem os 10% da Receita Corrente Bruta da Lei Complementar 141. A inflação prevista entre 2013 e 2014 é de 8,4% e o orçamento da Saúde está crescendo, a priori, segundo a variação nominal do PIB. Essa variação foi aplicada, conforme a regra, entre os R$ 83,1 bilhões de 2013 e os R$ 90,5 bilhões de 2014. A dotação autorizada pelo Congresso supera o mínimo ao ser definida em R$ 95,7 bilhões, mas sendo autorizativa pode ser que não seja liberada. Nada mais que o prescrito, bem menos que 1 Gilson Carvalho – Médico Pediatra e de Saúde Pública o necessário. Os grandes financiadores da Saúde continuam sendo as contribuições sociais COFINS (59%) e CSSL 36%. No restante, podem ser consideradas receitas próprias algumas fontes incluindo a maior que é a do seguro DPVAT. Estes recursos da saúde, em 78%, são destinados a despesas de custeio e capital (ODCC), 17% a pessoal e 5% a investimentos. Dentro das ODCC, temos uma grande chave que é denominada de Programas de Aperfeiçoamento do SUS com 78% dos recursos. Dentre estes estão as despesas maiores como as de procedimentos especializados e hospitalares, depois as de atenção básica com R$ 16,5 bilhões. Existem sempre as rubricas orçamentárias negligenciadas. Cito dois exemplos: a área de nutrição ficou com 38,6 milhões (0,04% do orçamento) e a vigilância à saúde que diminuiu seus recursos entre um ano e outro em 10,43%. Repete-se a história de um discurso de promoção e proteção e uma prática consequente de maior gasto na reabilitação, tratando quem está doente e esperando os excluídos adoecerem. Outra questão, motivo sempre maior na discussão do orçamento no Congresso, são as emendas parlamentares. Estão previstos R$ 21,2 bilhões para 2014, dos quais R$ 4,5 bilhões para a Saúde. Nas últimas décadas, o Ministério da Saúde “inventa” novos programas ou os embala em nomes fantasia que nada mudam na essência, não colocando dinheiro novo, mas retirando ou congelando os recursos de outras áreas. Cada vez fica mais caracterizada a prática, na Saúde, de políticas de governo por dentro daquilo que sabemos deveria ser tão somente uma política de Estado. 2 Gilson Carvalho – Médico Pediatra e de Saúde Pública Publicado a Revista Voz da Saúde Hospitais Humanitários do paraná jan/fev nº77/2014 – Femipa – Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná 3