UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA RELATÓRIO DE ESTÁGIO PEDRO GONÇALVES DE LIMA CURITIBA 2010 APRESENTAÇÃO Esse relatório tem como objetivo apresentar como foi a experiência de um ano de estagio em Psicologia em uma clínica que trata a dependência química e o alcoolismo, mas que também atende casos de depressão, transtorno afetivo bipolar e transtornos de ansiedade. O estágio foi realizado na Clínica Quinta do Sol localizada na cidade de Curitiba, na Rua Cel. Francisco H. dos Santos, nº 1180, no bairro Jardim das Américas, Cep: 81530-001. CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO A Clínica Quinta do Sol oferece seus serviços desde 1984 e é pioneira no País em oferecer tratamento especializado para Dependência Química fora de uma instituição psiquiátrica. Desde o início de seu funcionamento, a Clínica vem desenvolvendo uma sólida bagagem de conhecimentos técnicos e teóricos, sendo considerado espaço de referência até em nível internacional no tratamento de pessoas que sofrem com a dependência química. É referencia também na formação teóricoprático de novos profissionais da área no tratamento das Dependências Químicas. Tem como objetivo desenvolver recursos e técnicas de abordagem que permitam flexibilizar o programa de tratamento visando considerar a singularidade de cada paciente. Possui amplas e modernas instalações e oferece 25 leitos para tratamento em regime de internação, além de várias outras modalidades de atendimento. Conta com uma equipe de coordenação altamente especializada e experiente, composta por psiquiatras, psicólogos, terapeutas familiares, médico clínico, nutricionista, enfermeiras, bioquímico, além de mais de 20 profissionais na equipe de apoio. O Tratamento de alcoolismo e da dependência de outras drogas se faz ao longo prazo, existindo várias alternativas da abordagem além da internação. As modalidades de atendimento são: a) Clínica Integral (Internação) que propõe: diagnóstica (avaliação clínica, avaliação Desintoxicação do grau de e avaliação severidade da dependência, avaliação psiquiátrica e psicológica); Abordagem motivacional; Grupos terapêuticos; Exercício com matrizes cognitivas - técnicas de prevenção de recaída; Seminários ; Programa para tabagismo; Dinâmicas de grupo; Atividade física; Programa de voluntariado; Grupos de mútua ajuda Alcoólicos Anônimos, Nicotina Anônimos e Narcóticos Anônimos; Programa Familiar: atendimento terapêutico do grupo familiar, atendimento individual, grupos informativos e orientação al-anon. b) Clínica Dia que inclui todo o programa oferecido pela clínica integral, o paciente apenas não dorme na clínica. c) Clínica Turno onde o paciente permanece apenas um período na clínica, incluindo Avaliação diagnóstica; Grupos operativos; Seminários; Técnicas de prevenção de recaída; Programa para tabagismo; Grupos de mútua ajuda; Programa Familiar. d) Programa de desintoxicação alcoólica ambulatorial, supervisionado pelo médico psiquiatra que propõe avaliação e tratamento da síndrome de abstinência e trabalho da motivação do paciente para o tratamento. Trabalha também a manutenção após o internamento com consultas mensais com psiquiatra, consultas semanais com psicólogo, técnicas de prevenção de recaída e atendimento e orientação familiar. Faz-se uma avaliação criteriosa do grau de dependência e comprometimento físico, mental e social provocado pela doença, investigandose também o grau de motivação do paciente para o tratamento. Com isso, pode-se elaborar um projeto de tratamento adequado às necessidades individuais do paciente. Quanto mais evolui a ciência no campo das dependências, maior é o nível de complexidade de fatores inter-relacionados que envolve o diagnóstico. A síndrome de dependência é constituída por um conjunto de sinais e sintomas psicológicos, comportamentais e físicos que variam de intensidade e grau de severidade. Somam-se a isso o universo pessoal e sócio-familiar de cada paciente. Para a avaliação de cada caso, alguns fatores devem ser pesquisados: Dados pessoais, Severidade do problema, Uso ou dependência de outras substâncias, Intensidade dos mecanismos de defesa, Motivação para o tratamento, Sucessos anteriores nos esforços de abstinência, Complicações e condições Biomédicas, Complicações e condições Psíquicas, Apoio Social, Nível Sócio-Econômico, Risco de Auto e Hetero-Agressividade, História do desenvolvimento, Severidade global do problema. A avaliação cuidadosa destes itens reflete a necessidade de um planejamento de tratamento que atende à especificidade de cada caso. Para pacientes com quadros graves, quadros psiquiátricos associados que necessitem de desintoxicação e cuidados médicos mais efetivos é recomendado um tratamento intensivo ou internamento. Para pacientes com quadros moderados, aplica-se uma intervenção de média intensidade. Tratamentos menos intensivos são indicados para pacientes com quadros leves, ou seja, pessoas emocionalmente melhor estruturadas, com bom suporte social (família estável, emprego, etc.). Às vezes, nestes casos, só uma orientação pode funcionar. Antes de iniciar um tratamento é efetuada uma avaliação, que guia a formulação da proposta terapêutica. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA O homem sempre viveu na dependência de grupos naturais (família, escola, trabalho, etc), nos quais, devido à sua natureza, estabelece vínculos com seus semelhantes, compartilhando objetivos e ações na busca de apoio e ajuda. Em um relacionamento grupal prevalecem as trocas afetivas, os cuidados mútuos e a comunicação franca e precisa entre as pessoas. O resultado é um sentimento de coesão e de apoio que empresta ao grupo subsídios para o enfrentamento da realidade. As pessoas reunidas em torno de uma situação comum sentem-se imediatamente identificadas, unidas umas às outras. Compartilham das mesmas angústias e das mesmas esperanças, limitações e discriminações. Grupos terapêuticos têm como objetivo integrar o paciente ao um grupo inicial de recuperação, com relacionamento entre os membros; reforçar ou reestruturar o Eu, elevando a auto-estima e a auto-confiança, além de uma conscientização maior do indivíduo sobre si mesmo; proporcionar a identificação e troca de experiências com os outros pacientes, espaço para expressão de sentimentos, informações e reflexão acerca da doença e dos fatores a ela relacionados; privilegiar a interdependência entre os integrantes, tendo como meta o estabelecimento de relações sociais saudáveis voltadas para a reabilitação; criar um espaço de reflexão, no qual o paciente possa buscar o sentido de suas próprias vivências, na tentativa de encontrar uma resposta diferente para a transformação de sua realidade; tornar os mecanismos de defesa o mais consciente possível para que o paciente aprenda a lidar com a ansiedade de uma forma menos perturbadora; progressiva responsabilização do sujeito por sua vida, tornando-o agente ativo do tratamento. Ao longo das últimas décadas, a psicoterapia de grupo tem emergido como um dos instrumentos mais utilizados no tratamento da dependência química. O grupo tem a força de criar uma identidade única, que servirá posteriormente como apoio para a construção de uma identidade própria, mais fortalecida e autêntica. A psicoterapia de grupo no tratamento da dependência química propicia a percepção de que o integrante faz parte do grupo, pois ao se identificar com o mesmo, compartilha experiências com pessoas “iguais” a ele, o que o auxilia na criação de saídas para o isolamento e a solidão. As pessoas reunidas em torno de uma situação comum sentem-se imediatamente identificadas, unidas umas às outras. Compartilham das mesmas angústias e das mesmas esperanças, limitações e discriminações. Quando se trata de dependência química, a negação é um mecanismo de defesa freqüentemente presente (“posso parar de usar no momento em que eu quiser”). A confrontação dessa negação pode ter um efeito mais positivo num ambiente que não exista apenas o terapeuta para intervir, mas também uma interação grupal proveitosa. Em um relacionamento grupal prevalecem as trocas afetivas, os cuidados mútuos e a comunicação franca e precisa entre as pessoas. O resultado é um sentimento de coesão e de apoio que empresta ao grupo subsídios para o enfrentamento da realidade. Na maioria das vezes pacientes chegam a um grupo com muita ansiedade, ambivalência, medo e até mesmo hostis. A incapacidade de reconhecer estes sentimentos e lidar com eles de forma hábil e afetiva pode resultar no surgimento de uma resistência e tornar mais lento o processo terapêutico. Com o passar do tempo os pacientes adquirem a habilidade de expressar seus sentimentos. À medida que sua auto-estima e confiança aumentam, eles geralmente passam a ajudar outros membros do grupo, oferecendo apoio e sugestões. A dependência química é num sentido geral caracterizada pela necessidade incontrolável de prosseguir consumindo uma substância compulsivamente, apesar dos problemas significativos que podem surgir, sejam físicos, emocionais, financeiros, etc. Os tóxicos, agindo no sistema nervoso central, vão produzir olhos brilhantes, palavras fáceis, excesso de movimentação, falta de autocrítica, desinibição, euforia e sensação de bemestar físico, caracterizando o aspecto exterior do dependente. Internamente, o problema se apresenta grave, o sistema nervoso central é atingido. Atuando sobre o cérebro, as drogas provocam alteração do funcionamento de todo organismo. O cérebro ordena um funcionamento mais acelerado dos aparelhos respiratório sobrecarga nos pulmões e no coração. e circulatório, provocando uma Na dependência química, fatores biológicos, psicológicos, sócio-culturais e espirituais desempenham um importante papel na causa, curso e resultados do transtorno. Há uma diferenciação entre uso, abuso e dependência: uso seria um consumo de substâncias, seja para experimentar, seja esporádico ou episódico; abuso ou uso nocivo seria um consumo de substâncias já associado a algum tipo de prejuízo, que pode ser biológico, psicológico ou social; dependência seria um consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário. Esses três itens dão a idéia de continuidade, como uma evolução progressiva, em que os indivíduos inicialmente passam por uma fase de uso, evoluindo para o estágio de abuso e, para que então alguns destes últimos tornam-se dependentes. Nem todo uso de álcool e outras drogas é devido a dependência, a maior parte das pessoas que apresentam uso disfuncional não é dependente. Não existe um fator que determine se as pessoas se tornarão dependentes, na verdade, uma combinação de fatores contribui para que algumas pessoas tenham maiores chances de desenvolver problemas em relação às substâncias durante algum período de suas vidas. Com o uso contínuo de drogas e com o avanço da dependência, a vida do usuário se relaciona crescentemente com o alívio ou evitação da abstinência. O repertório pessoal torna-se cada vez mais restritivo, com padrões fixos, há uma repetição de comportamentos e atitudes que “funcionam” no manejo da síndrome de abstinência. É um mecanismo adaptativo do indivíduo ao aparecimento da síndrome de abstinência, envolvendo comportamentos que a evitem. O indivíduo pode tentar manter um nível de consumo da substância estável, que aprendeu a reconhecer como confortável e acima de um nível perigoso. Seu consumo é desencadeado com o objetivo de evitar ou aliviar os desagradáveis sintomas da abstinência. Outra conseqüência é o aumento da tolerância que é definida como a diminuição da sensibilidade aos efeitos da droga, que ocorre como resultado da contínua exposição a ela. Com o avanço da dependência, o indivíduo passa a priorizar a manutenção da ingestão da droga. Dessa forma, o consumo se torna mais importante que a família, o trabalho, a saúde. O indivíduo passa a centrar seu comportamento e atividades em função da droga. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 1.1 – Atividades gerais a) Acompanhamento dos pacientes em horários livres, fornecendo escuta, acolhimento e suporte. b) Acompanhamento de seminários e atividades realizadas por psicólogos, psiquiatras, enfermeiras, nutricionista e professor de educação física. c) Monitoria e contenção de pacientes que estão em momentos mais difíceis. d) Suporte aos profissionais da equipe em serviços gerais como atendimento de telefone e outras questões técnicas. e) Plantão na unidade de desintoxicação: pacientes que necessitam estar nessa unidade tem o acompanhamento 24 horas da equipe, sendo distribuído esse horário em plantões de uma hora. f) Acompanhamento dos pacientes em saídas breves da clínica para consultas médicas, idas ao banco, entre outras. 1.2 – Atividades específicas a) Reunião de Pacientes Novos: tem como objetivo passar para os pacientes novos os combinados da clínica, esclarecer o funcionamento da clínica e tirar dúvidas. b) Prevenção de Recaída (abertura): é uma introdução sobre prevenção de recaída, consiste em uma leitura de um texto cujo título é “A Jornada da Estrada da Dependência à Montanha da Liberdade”. Tem como objetivo esclarecer o que é a prevenção de recaída e tirar dúvidas. c) Espaço dos Assistentes: é uma atividade coordenada pelos estagiários de Psicologia, em que podem ser trabalhados assuntos diversos que tenham a ver com o tratamento da dependência química. d) Grupo Operativo: acompanhamento da terapia de grupo (denominada Grupo operativo) realizada com os pacientes. Consiste em observação e participação ativa na terapia de grupo. e) Caminhadas: duas vezes por semana os pacientes têm direito a realizar caminhadas fora da clínica, com objetivo terapêutico. É função do estagiário de Psicologia acompanhar esses pacientes antes (explicando os combinados da caminhada), durante (certificando-se de que os pacientes estão sendo adequados) e depois (no retorno à clínica). f) Recreação Externa: também com fins terapêuticos, os pacientes podem sair nos finais de semana para uma recreação que fica a escolha deles, mas depende de aprovação dos psicólogos. A recreação pode ser passeios em pontos turísticos de Curitiba, shoppings, parques, etc. g) Supervisão de Estágio: A supervisora dos estagiários de Psicologia é a psicóloga Franciane Veiga Cazella, Psicóloga pela PUC-PR, especialista em terapia de família e casal pela PUC-SP e Especialista em dependência química pela EPM/UNIFESP. A supervisão é realizada uma vez por semana, tendo duração de uma hora e meia, sendo que além da psicóloga supervisora outra psicóloga também acompanha a supervisão. A supervisão tem como objetivo trabalhar questões levantadas pelos estagiários que podem ser sobre os pacientes, sobre os colegas e sobre si mesmo. É um espaço onde algo que é considerado importante pode ser discutido, funcionando como uma terapia de grupo. Todas as atividades realizadas são adequadas e contribuem com a formação do estudante de psicologia. O nível de crescimento pessoal e profissional que não é oferecido somente com a teoria é desenvolvido nessas atividades. A relação teoria e prática é observada principalmente na atividade “Grupo Operativo”, sendo que a abordagem teórica dos profissionais da clínica é a da Psicanálise. A clínica Quinta do Sol trabalha com o objetivo da Abstinência, diferentemente da proposta dos CAPS – AD, que trabalha com a Redução de Danos. A Abstinência é o abster-se totalmente da droga e a Redução de Danos se propõe a escutar o usuário e o uso que ele faz das drogas e, partindo disso, agir reduzindo tanto quanto possível os eventuais prejuízos que vem sendo acarretados pelo uso indevido das drogas, bem como orientá-lo no sentido de fazer um uso menos prejudicial. CONSIDERAÇÕES PESSOAIS Uma grande dificuldade é o manejo com pacientes que estão mais desafiadores e onipotentes, sem conseguir escutar o que a equipe tem a dizer. Outra dificuldade é na realização da contenção de pacientes que estão agressivos. É um momento de grande tensão e perigo, mesmo tendo todo um preparo e um treino para lidar com essas situações. Outros casos difíceis de lidar são os de pacientes com histórico de tentativas de suicídio e de perfil depressivo. É importante para lidar com os pacientes da clínica tanto o conhecimento adquirido na faculdade como também o conhecimento adquirido com a vivência e experiência proporcionadas pelo estágio. Pensando nas atividades oferecidas, o acompanhamento da terapia de grupo é de extrema importância. É o lugar onde aparecem as principais questões levantadas pelos pacientes que não aparecem em outros momentos do tratamento. Poder acompanhar e participar dessa terapia de grupo é bastante enriquecedor para a formação do psicólogo. RELATÓRIO DE ATIVIDADES DE ESTÁGIO 1. IDENTIFICAÇÃO DO ESTAGIÁRIO Nome: PEDRO GONÇALVES DE LIMA Curso: PSICOLOGIA Ano/Semestre: 4º/8º Matrícula: GRR20073683 Relatório n°: 01 Professor Supervisor: MELISSA RODRIGUES DE ALMEIDA 2. LOCAL DO ESTÁGIO: Razão Social: Lotação: Setor do Estágio: Vigência do Estágio: Supervisor(a) do Estágio: 3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: Acompanhamento dos pacientes em horários fora de atividades, fornecendo escuta, acolhimento e suporte; acompanhamento de seminários e outras atividades realizadas para os pacientes também com o intuito de auxiliálos. 4. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O ESTÁGIO: De extrema importância para a formação de um estudante de Psicologia. Preparando não só para atuar na área de dependência química como também em outras possibilidades de atuação do psicólogo na área de saúde. Contribui com o crescimento e constituição pessoal e profissional do estagiário. 5. AVALIAÇÃO DO ESTÁGIO: Avalie a importância do estágio para sua formação atribuindo um dos seguintes conceitos: ( ) Insuficiente Data ___/ ___/ ___ ( ) Regular ( ) Bom ( ) Muito Bom ( )Excelente ________________________________ Assinatura do Estagiário ________________________________ Assinatura do Professor Supervisor