VERBALIZAÇÕES DE TERAPEUTA E CLIENTE E

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VERBALIZAÇÕES DE TERAPEUTA E CLIENTE E ESTABELECIMENTO DE
RELAÇÕES NA EVOLUÇÃO DE UMA TERAPIA ANALÍTICO COMPORTAMENTAL.
Autores: João Ilo Coelho Barbosa (Doutor, Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE) e
Emmanuel Zagury Tourinho (Doutor, Universidade Federal do Pará, Belém, PA.).
Publicação: Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva Vol. 11, No 2 / 2009.
RESUMO
O estudo de Barbosa e Tourinho teve como objetivo a identificação, categorização e análise
das funções básicas das verbalizações do terapeuta e também a análise das verbalizações do
terapeuta e do cliente no que se refere às relações estabelecidas entre as respostas do cliente fora da
sessão e os eventos ambientais antecedentes e subsequentes. Para isto, os autores utilizaram o
material em áudio coletado durante 36 sessões de psicoterapia no período de 1 ano, provenientes de
uma terapeuta analítico-comportamental com experiência de 4 anos, no atendimento à uma cliente
de 29 anos de idade, cuja queixa inicial eram problemas conjugais.
Para obter a análise das verbalizações do terapeuta, os autores basearam-se nas seguintes
categorias relativas às funções básicas das verbalizações do terapeuta (FBVT):
“Informar”,
“Investigar”, “Dar Feedback”, “Confrontar”, “Dar Conselho”, “Verbalizações Mínimas” e “Outras
Verbalizações”.
As categorias de análise das verbalizações do terapeuta eram “T-evento”, em que o terapeuta
refere eventos da vida atual ou passada do cliente que sejam coerentes com a sua problemática, sem
estabelecer relações, e “T-relações”, em que o terapeuta contempla em sua referência à eventos
presentes ou passados, a relação “antecedente-resposta”, “resposta-conseqüência” ou “antecedenteresposta-consequência”. Verbalizações sem referência a eventos ou relações coerentes à
problemática do cliente foram classificadas como “T-outras”. As categorias de análise das
verbalizações do cliente, foram “C-eventos”, em que o cliente cita eventos atuais ou passados que
sejam pertinentes à sua problemática, mas sem estabelecer relações, e “C-relações”, em que há o
estabelecimento de relações “antecedente-resposta”, “resposta-conseqüência”, ou “antecedenteresposta-conseqüência” ao citar eventos presentes ou passados. A categoria “C-outras” refere-se às
verbalizações do cliente que não têm relação com sua problemática.
Os resultados do estudo mostraram que a categoria relativa às funções básicas das
verbalizações do terapeuta denominada “Confrontar” apareceu em 29 das 36 sessões, sendo menos
frequente apenas nas outras 7 sessões por conta de a categoria “Investigar” ter sido mais consistente
nas 2 primeiras sessões, em que o terapeuta necessitou inteirar-se da história de vida do cliente, bem
como de suas queixas.
A categoria de análise “T-eventos” correspondeu a 84,4% do total das ocorrências de
categorias de análise do terapeuta, enquanto a categoria “T-elações” teve seu maior índice de
ocorrência nas relações “antecedente-resposta”, que correspondeu a 8,2% do total de ocorrências
das verbalizações da terapeuta. Quanto ao cliente, a categoria de análise “C-eventos” correspondeu
a 74,8% do total de ocorrência de categorias de análise, e as categorias “C-relações” somaram
juntas 23,7% desse total, sendo o maior índice, ou seja, 13%, de ocorrências de “C-relações”
“antecedente-resposta”. Com isto, os dados do estudo revelaram que, da mesma forma que para o
terapeuta, para o cliente também predominam as verbalizações que referiam-se a eventos de sua
vida sem o estabelecimento de relações,
e dentre as categorias de relações, as relações
“antecedentes-resposta”, foram mais frequentes.
Outros dados relevantes, referem-se a maior ocorrência de verbalizações de relações
“antecedente-resposta” por parte do cliente, em comparação ao terapeuta, confirmando, segundo os
autores, que isto provavelmente controlou o aparecimento de verbalizações subsequentes do
terapeuta, relacionando uma resposta do cliente aos seus antecedentes. Da mesma forma, o cliente
também relacionou seu comportamento a eventos consequentes em maior frequência que o
terapeuta na maioria das sessões, e também nas relações “antecedente-resposta-consequência”.
De acordo com os autores, os dados do estudo parecem mostrar que o terapeuta não
apresentou um modelo padronizado de intervenção, de modo que sua maneira de intervir pareceu
ser parcialmente regida por contingências presentes no atendimento, sobretudo o comportamento do
cliente. Este por sua vez, mostrou ter conseguido estabelecer um maior número de relações
ambientais para suas respostas. Sendo assim, os resultados apresentados puderam demonstrar de
que forma se dá a intervenção terapêutica, bem como a evolução das descrições do cliente a respeito
de suas demandas. Quanto à análise das relações estabelecidas entre eventos, tanto do cliente quanto
do terapeuta, os autores a consideram importante à medida que são dados relevantes para o
desenvolvimento de um método específico para a abordagem dos relatos verbais em contexto
terapêutico. Entretanto os autores ressaltam que o comportamento verbal pode estar sob controle
simultâneo de múltiplas contingências, tornando-se um grande desafio para o pesquisador a escolha
de uma unidade de análise que reflita as inúmeras variáveis que controlam o comportamento verbal
dos interlocutores no processo terapêutico.
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