POLÍTICA SOCIAL E QUESTÃO SOCIAL A partir de 1930, na Europa tem origem a Questão Social, devido as grandes mudanças sociais, políticas e econômicas que ocorreram com a Revolução Industrial. No Brasil ela surge com um duplo sentido: 1º) Sentido Amplo: Abrangendo o conjunto de contradições e conflitos que incidem na sociedade; 2º) Sentido Estrito: Correspondendo às manifestações concretas e peculiares das mesmas contradições e conflitos, envolvendo pessoas, grupos, organizações, em nível local requerendo reconhecimento e enfrentamento pelos sujeitos sociais. A concepção de questão social está enraizada na contradição capital x trabalho, em outros termos, é uma categoria que tem sua especificidade definida no âmbito do modo capitalista de produção. A concepção de questão social mais difundida no Serviço Social é a de CARVALHO e IAMAMOTO, (1983, p.77): “A questão social não é senão as expressões do processo de formação e desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais além da caridade e repressão”. Logo, a tarefa do assistente social não é apenas decifrar as formas e expressões da questão social na contemporaneidade mas atribuir transparência às iniciativas voltadas à sua reversão e/ou enfrentamento imediato. Hoje, com a reforma do Estado em curso para atender às exigências da atual fase do capitalismo, em âmbito internacional, é premente que os assistentes sociais identifiquem uma nova face da questão social dos tempos presentes, compreendendo a questão social como elemento constitutivo da relação entre a profissão e a realidade social. Desta forma, poderão apreender as mutações que estão se processando no Serviço Social como profissão no tocante à sua inserção social, em particular no serviço estatal, e as demandas que possam estar se configurando para as profissões de corte social. Na sociedade brasileira, todas as categorias sociais são atingidas, sendo os trabalhadores menos qualificados os que mais sofrem. No entanto, os trabalhadores qualificados também não escapam das transformações no mundo do trabalho e sofrem por vários motivos: crise na empresa, término do contrato de trabalho temporário e baixos salários. A questão social representa uma perspectiva de análise da sociedade. Isto porque não há consenso de pensamento no fundamento básico que constitui a questão social. Em outros termos, nem todos analisam que existe uma contradição entre capital e trabalho. Ao utilizarmos, na análise da sociedade, a categoria questão social, estamos realizando uma análise na perspectiva da situação em que se encontra a maioria da população, aquela que só tem na venda de sua força de trabalho os meios para garantir sua sobrevivência. ALEJANDRA PASTORINI (2004) nos diz que: “as principais manifestações da questão social (a pauperização, a exclusão, as desigualdades sociais) são decorrências das contradições inerentes ao sistema capitalista, cujos traços particulares vão depender das características históricas da formação econômica e política de cada país e/ou região. Diferentes estágios capitalistas produzem distintas expressões da questão social. A partir desta afirmação passamos a ver a questão social como a expressão das desigualdades sociais produzidas e reproduzidas na dinâmica contraditória das relações sociais e nas suas configurações assumidas pelo trabalho e pelo Estado dentro do contexto globalizado atual. E, em São Borja ela se manifesta através do aumento no número de excluídos no mercado de trabalho, gerando assim pobreza, desigualdade e exclusão social. E vista disso a área da saúde, educação , habitação, assistência social tornam-se inoperantes e ineficientes, pois a demanda de atendimento cresce a cada dia. As profissões são criadas para responderem às necessidades dos homens. O assistente social convive cotidianamente com as mais amplas expressões da questão social, matéria prima de seu trabalho. Apesar dos esforços e enfrentamento, que depende dos recursos disponíveis e mobilizáveis, a questão social permanece insolúvel. A sua eliminação pressupõe a dissolução das contradições presentes na sociedade e como isso não vem sendo possível na nossa sociedade, a questão social vem sendo reforçada e sempre renovada pelos novos conflitos gerados. O profissional do Serviço Social deve decifrar as formas e expressões que norteiam a questão social, desfazendo seus nós, como também procuramos dar maior visibilidade às formas de resistência e luta presentes na realidade. Segundo IAMAMOTO (1997) “Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade.A questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social”. Ao finalizar, cabe aqui reconhecer os limites da política social na ampliação do bem-estar social, e concordar com DELGADO e THEODORO (2005) que sugerem a alteração nos padrões de participação e na própria perspectiva de produtividade associados àqueles segmentos no circuito econômico por meio de políticas setoriais específicas e de um projeto de desenvolvimento comprometido com os ideais de justiça social. A necessidade atual consiste em o Estado fazer-se forte no sentido de atuar em prol da sociedade, portando uma verdadeira democracia, distributiva de renda, enfrentando as desigualdades sociais. 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