Zea Mays L - Milho e Sorgo

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Consequências do atraso na colheita sobre o desempenho agronômico de híbridos de
milho (Zea Mays L.)
Panison, F.1; Sangoi, L.2; Kolling, D. F.3; Schenatto, D. E.4; Giordani, W.4; Boniatti, C. M.4;
Dall’Igna, L.4; Strauss, R.F.; Dall’Igna, M.4; Ianskoski T. R. ; Zanella, E. J.4; Souza, N. M.3;
Fistarol, A. D.3; Durli, M. M; Dallamaria, G.
INTRODUÇÃO
O milho (Zea mays L.) é cultivado nos mais diversos ambientes e climas do planeta
(WERLE et al., 2011), sendo considerado um dos cereais mais consumidos no mundo. Seu
consumo cresce a cada ano, em razão de suas qualidades intrínsecas de teor calórico, de
amilose e pigmentação (PINAZZA & ALIMANDRO, 1998).
A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas de sua
utilização, que vai desde a alimentação animal até a indústria de alta tecnologia. De
importância mundial, constitui um dos principais insumos para o segmento produtivo, sendo
utilizado com destaque no arraçoamento de animais, em especial na suinocultura, na avicultura
e na bovinocultura de corte, tanto na forma in natura como na forma de farelo, ração ou
silagem. Na alimentação humana, o milho é comumente empregado na forma in natura como
milho verde, e na forma de subprodutos, como pão, farinhas e massas (BULL et al., 1993). No
cenário global, o Brasil ocupa o terceiro lugar na produção de milho. No entanto, a produção
brasileira é caracterizada pela presença de grãos com baixa qualidade. Isto ocorre devido a
danos que ocorrem após a maturação fisiológica, promovidos por fatores climáticos, agentes
biológicos e pela respiração dos grãos (MARQUES et. al., 2009).
A maturação fisiológica é estabelecida quando os grãos acumulam o máximo de
matéria seca. Ela é indicada pela presença da camada preta no ponto de inserção do grão com
o sabugo, que indica a interrupção do transporte de fotoassimilados da planta mãe para o grão.
A partir da maturação fisiológica, ocorre apenas um processo físico de perda de umidade nos
grãos. Portanto, é na maturação fisiológica que se tem o maior conteúdo de massa seca e
também o maior percentual de germinação e vigor na semente. Todavia, nem sempre é
possível realizar a colheita nesse estádio (ARAUJO, et. al., 2006) e os grãos ficam
armazenados a campo, sendo expostos as variáveis climáticas, insetos e fungos.
Quando a colheita é realizada logo após a maturação fisiológica, o rendimento é
potencialmente mais alto. Contudo, em muitas situações não se recomenda a colheita nesta
fase, devido ao alto teor de umidade encontrado no grão, o que gera demanda de secagem
artificial, que predispõem o grão à ocorrência de trincas e quebras, facilitando o ataque de
insetos após a armazenagem (PIMENTEL et al., 2011).
O cenário atual do melhoramento é marcado pela busca de cultivares de soja que
apresentam maior precocidade, em associação ao hábito de crescimento indeterminado
(STÜLP et. al., 2009). Com isso, as cultivares de soja cultivadas atualmente atingem a
maturação mais rapidamente em relação as cultivares antigas. Isto faz com que haja
coincidência cada vez maior das colheitas de soja e milho. Como a soja é mais sensível ao
atraso de colheita, e historicamente tem melhor preço de venda, os produtores optam em
colher primeiramente a soja, retardando a colheita do milho (SANTOS et. al., 1997).
O retardamento da colheita do milho favorece o aumento da ocorrência de patógenos
fúngicos no colmo e na espiga, provocando perda de qualidade e resultando em grãos ardidos.
Dentre as doenças de grande importância, Casa (1997) cita as podridões de colmo e de
espiga, causadas, principalmente, pelos fungos Diplodia maydis, D. macrospora, Fusarium
moniliforme e F. graminearum, que afetam o rendimento da cultura e a qualidade dos grãos.
Além disso, alguns patógenos produzem substancias tóxicas, denominadas micotoxinas, que
são prejudiciais para a saúde humana e animal. Outro problema que o atraso na colheita do
milho pode provocar é a ocorrência de acamamento ou quebramento de plantas, devido à
maior fragilidade do colmo com a ocorrência intensa de chuvas e ventos.
1
Acadêmico do Curso de Mestrado em Produção Vegetal da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) –
[email protected].
2
Orientador, Professor do Departamento de Agronomia da UDESC.
3
Acadêmicos do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias da UDESC.
4
Acadêmicos do Curso de Graduação em Agronomia da UDESC.
Esse trabalho foi conduzido com o objetivo de determinar os efeitos do atraso na
colheita sobre características agronômicas de híbridos de milho com ciclos contrastantes.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi conduzido a campo, durante o ano agrícola de 2013/2014, no
município de Lages, estado de Santa Catarina. O clima é do tipo Cfb, mesotérmico, com verões
brandos e precipitações pluviais bem distribuídas, de acordo com a classificação de Köppen. O
solo da área experimental é um Nitossolo Vermelho Distrófico típico. A semeadura foi realizada
no dia 05/10/2013, no sistema de semeadura direta sobre cobertura morta de aveia preta
(Avena strigosa) e ervilhaca (Vicia sativa L.). O ensaio foi conduzido no delineamento de blocos
casualizados, dispostos em parcelas sub-divididas, com três repetições. Na parcela principal
foram avaliados cinco híbridos de milho: dois de ciclo hiper-precoce (P32R22H e P1630), um
de ciclo super-precoce (P2530) e dois de ciclo precoce (P30F53YH e P30R50YH). Nas subparcelas foram testadas cinco épocas de colheita: 0 (grãos na maturação fisiológica com
umidade oscilando entre 28 e 30%), 10, 20, 30 e 40 dias após a época 0.
As sementes foram tratadas com os inseticidas Cruiser ® (Tiametoxam) e Standak®
(Fipronil) e com o fungicida Maxim XL® (Fludioxonil + Metalaxyl). As sub-parcelas foram
compostas por quatro linhas com seis metros de comprimento, espaçadas em 70 cm umas das
outras. Para realizar a semeadura foram utilizadas semeadoras manuais, reguladas para
semear três sementes por cova, garantindo a população desejada por parcela, e um barbante
marcado com a distância entre as covas de plantio. Com isso, houve a necessidade da
realização de um desbaste quando as plantas estavam com três folhas totalmente expandidas
(V3), conforme escala proposta por Ritchie et al. (1993), para obter uma população de 80.000
pl ha-¹.
A adubação de manutenção de nitrogênio, fósforo e potássio foi efetuada no dia da
semeadura, conforme a recomendação oficial da Comissão de Química e Fertilidade do Solo –
RS/SC (2004), visando à produtividade de 18000 kg ha-1. Aplicou-se as quantidades
equivalentes a 30 kg ha-1 de N, 295 kg ha-1 de P2O5 e 170 kg ha-1 de K2O. A adubação
nitrogenada de cobertura foi parcelada em duas doses de100 kg ha-1 de N cada, totalizando
200 kg ha-1 de N. A primeira dose foi aplicada quando as plantas estavam no estádio fenológico
V5, e a segunda quando as plantas estavam no estádio fenológico V8, conforme escala
proposta por Ritchie et al. (1993). Foi realizada uma aplicação do fungicida
azoxistrobina+ciproconazol no estádio fenológico V12 da escala de Ritchie et al. (1993). A
colheita da época 0 (maturação fisiológica) dos híbridos hiper-precoces foi realizada no dia 06
de março de 2014. A colheita da época 0 do híbrido super-precoce foi efetuada no dia 17 de
março de 2014. A colheita da época 0 dos híbridos precoces foi realizada no dia 26 de março
de 2014. As demais colheitas foram feitas na sequência, a cada 10 dias conforme o tratamento.
No dia da colheita de cada época, avaliou-se a percentagem de colmos acamados e quebrados
e a percentagem de colmos com doenças de base de colmo, nas duas linhas centrais da
parcela, nas diferentes épocas. A colheita das espigas foi realizada manualmente. Estas foram
trilhadas e os grãos secos em estufa, até atingirem massa constante para determinar o
rendimento.
Os dados obtidos foram avaliados estatisticamente através da análise de variância
utilizando o teste F. Os valores de F para os efeitos principais e interações foram considerados
significativos ao nível de significância de 5% (P<0,05). As médias foram comparadas entre si
pelo teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O rendimento de grãos não diferiu significativamente entre as diferentes épocas de
colheita (Tabela 1). Portanto, o atraso da colheita em até 40 dias após a maturação fisiológica
não gerou perdas significativas na produtividade potencial dos híbridos testados. Por outro
lado, houve diferença entre os híbridos quanto a rendimento de grãos. Os híbridos P1630 e
P2530 foram mais produtivos do que o P32R22, na média das cinco épocas de colheita.
A percentagem de plantas acamadas e quebradas diferiu entre os híbridos e aumentou
significativamente com o atraso da colheita após a maturação fisiológica (Tabela 2). De acordo
com Gomes et al. (2010), o atraso na colheita aumenta a possibilidade de acamamento e a
incidência de plantas quebradas, devido a ocorrência de vento e chuva. Dentre os híbridos
testados, os de ciclo hiper e super-precoce apresentaram maiores percentagens de plantas
acamadas e quebradas do que os de ciclo precoce. Quanto maior velocidade de
desenvolvimento da planta, menor é a quantidade de reservas acumulada no colmo.
Consequentemente, o colmo dos híbridos de menor ciclo fica mais fragilizado e mais suscetível
ao acamamento e quebra.
Houve diferenças significativas entre híbridos e épocas de colheita na percentagem de
colmos doentes (Tabela 3). A percentagem de colmos doentes de todos os híbridos aumentou
proporcionalmente ao atraso na época de colheita. Os híbridos de ciclo hiper e super-precoce
(P32R22H, P1630 e P2530) foram mais afetados por podridões de colmo do que os híbridos de
ciclo precoce (P30F53YH e P30R50YH). Segundo Blum et al. (2003), quanto mais precoce for
o híbrido, menor é a sua área foliar. Isto aumenta a contribuição do colmo no suprimento de
fotoassimilados ao enchimento de grãos, tornando-o mais vulnerável ao ataque de doenças de
colmo. A maior incidência de doenças no colmo dos híbridos com maior precocidade (Tabela 3)
contribuiu para as maiores percentagens de plantas acamadas e quebradas destes materiais
na colheita (Tabela 2).
Deve-se ressaltar que, embora a época de colheita não tenha afetado
significativamente o rendimento de grãos (Tabela 1), a percentagem média de colmos
quebrados e acamados foi de 47,4% quando a colheita foi executada 40 dias após a maturação
fisiológica (Tabela 2). No caso do presente experimento, onde as parcelas foram colhidas
manualmente, as espigas de todas as plantas da área útil foram coletadas. Numa lavoura
comercial isto não ocorreria e o rendimento efetivamente colhido seria menor nas colheitas
mais tardias, devido a falhas de recolhimento das espigas das plantas acamadas e quebradas.
CONCLUSÃO
O rendimento potencial de grãos não foi afetado pelo atraso na colheita,
independentemente do ciclo do híbrido utilizado.
O atraso na colheita promoveu o aumento significativo na percentagem de plantas
acamadas/quebradas e de colmos doentes de todos os híbridos.
O atraso na colheita traz maiores problemas de acamamento e podridões na base do
colmo em híbridos de ciclo hiper e super-precoce.
AGRADECIMENTO
A Dupont do Brasil S.A., divisão Pioneer sementes, pelo apoio financeiro para a
realização do trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, D. F.; ARAUJO, R. F.; SOFIATTI, V.; SILVA, R. F. Qualidade fisiológica de sementes
de milho doce colhidas em diferentes épocas. Bragantia, Campinas, v.65, n.4, p.687-692,
2006.
BLUM, L. E. B.; SANGOI, L.; AMARANTE, C. V. T.; ARIOLI, C. J.; GUIMARÃES, L. S.
Desfolha, população de plantas e precocidade do milho afetam a incidência e a severidade de
podridões de colmo. Ciência Rural, Santa Maria, v.33, n.5, p.805-811, set-out, 2003.
BULL, L. P. e CANTARELA, H. Cultura o milho: fatores que afetam a produtividade.
Piracicaba, POTAFOS, 1993.
CASA, R.T. Diplodia maydis e Diplodia macrospora associados à semente de milho.
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG. Tese de Mestrado. 71p. 1997.
COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO (CQFS RS/SC). Manual de adubação e
de calagem para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Porto Alegre,
SBCS/Núcl, eo Regional Sul, 2004. 400p.
GOMES, L. S.; BRANDAO, A. M.; BRITO, C. H.; MORAES, D. F.; LOPE, M. T. G. Resistência
ao acamamento de plantas e ao quebramento do colmo em milho tropical. Pesquisa
Agropecuária Brasileira, Brasília, v.45, n.2, p.140-145, 2010.
MARQUES, O. J.; VIDIGAL FILHO, P. S.; DALPASQUALE, V. A.; SCAPIM, C. A.;
PRICINOTTO, L. F.; MACHINSKI JÚNIOR, M. Incidência fúngica e contaminação por
micotoxinas em grãos de híbridos comerciais de milho em função da umidade de
colheita. Maringá, v. 31, n. 4, p. 667-675, 2009.
PIMENTEL, M. A. G.; FONSECA, M. J. O. Sistemas de Produção Embrapa Milho e Sorgo.
Sete
Lagoas:
Colheita
e
Pós
colheita,
2011.
Disponível
em:
http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Milho/CultivodoMilho_7ed/colsecag
em.htm
PINAZZA, L. A.; ALIMANDRO, R. Milho híbrido: desafios de uma semente.
Agroanalysis, São Paulo, p. 18-19, ago. 1998b.
SANTOS, J. P.; WAQUIL, J. M.; MAIA, J. D. Época de colheita do milho e sua influência sobre
perdas de grãos no campo e no armazenamento em espigas. Revista Brasileira de
Armazenamento, Viçosa, p.21-26, 1997.
STÜLP, M.; BRACCINI, A. L.; ALBRECHT, L. P.; AVILA, M. R.; SCAPIM, C. A.; SCHUSTER, I.
Desempenho agronômico de três cultivares de soja em diferentes épocas de semeadura em
duas safras. Revista Ciência Agrotecnologia. Lavras, v. 33, n. 5, p. 1240-1248, 2009.
Tabela 1. Rendimento de grãos de milho em função de cinco híbridos e cinco épocas de colheita.
Lages/SC2013/2014.
Épocas de Colheita
Híbridos
(dias)
Rendimento de grãos (kg ha-1)
P30F53YH
P32R22H
P1630
P2530
P30R50YH
Média
0
15755,15
13686,88
16845,25
16675,57
15196,02
15631,78 a
10
15661,3
13483
16041,07
16107,87
14814,62
15221,57 a
20
14346,4
14358,86
16534,18
15050,49
14885,84
15035,15 a
30
15431,97
13597,56
14918,49
15642,21
14354,05
14788,86 a
40
15227,76
13164,84
14771,08
17046,71
15161,91
15074,46 a
Média
15284,51 ab*
13658,23 b 15822,01 a 16104,57 a
14882,49 ab
* Médias seguidas por mesma letra minúscula não diferem significativamente pelo teste de Tukey a nível de significância
de 5%.
Tabela 2. Porcentagem de plantas acamadas e quebradas em função de cinco híbridos e cinco épocas de
colheita. Lages/SC, 2013/2014.
Épocas de colheita
Híbridos
(dias)
Plantas Quebradas e Acamadas (%)
P30F53YH
P32R22H
P1630
P2530
P30R50YH
Média
0
0,48
3,05
0
10,76
0
02,86 c
10
0,47
10,61
2,38
13,12
0
05,32 c
20
6,66
19,83
4,49
19,75
5,33
11,21 bc
30
3,84
33,62
8,26
61,02
18,6
25,07 b
40
15,79
95,43
58,41
50,43
17,06
47,43 a
Média
5,45 b*
32,51 a
14,71 ab
31,02 a
8,20 b
* Médias seguidas por mesma letra minúscula não diferem significativamente pelo teste de Tukey a nível de significância
de 5%.
Tabela 3. Porcentagem de plantas com doenças de base de colmo em função de cinco híbridos e cinco épocas
de colheita. Lages/SC, 2013/2014
Épocas de Colheita
Híbridos
(dias)
Doenças de Colmo (%)
P30F53YH
P32R22H
P1630
P2530
P30R50YH
Média
0
21,31
20,56
26,19
34,52
8,34
22,18 d
10
37,36
51,31
56,55
54,67
27,84
45,55 c
20
38,56
83,73
69,06
78,12
45,14
62,93 b
30
67,56
84,77
82,5
85,42
84,09
80,87 a
89,08 a
40
82,13
97,47
89,56
95,1
81,14
Média
49,38 b*
67,57 a
64,77 a
69,57 a
49,31 b
* Médias seguidas por mesma letra minúscula não diferem significativamente pelo teste de Tukey a nível de significância
de 5%.
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