Capítulo 10 O processo terapêutico: o papel do paciente Introdução A psicoterapia pode ser definida como processo psicológico que ocorre entre dois (ou mais) indivíduos, no qual um deles (o terapeuta), em virtude de sua posição e capacidade, procura aplicar sistematicamente conhecimentos e intervenções psicológicas com a intenção de compreender, influenciar e, finalmente, modificar a experiência psíquica, a função mental e o comportamento do outro (o paciente). Essa forma de interação se distingue de outros relaciona- mentos entre duas pessoas, pela formalidade do contrato terapêutico (seja explícito ou implícito), o treinamento espe- cífico, a habilidade e a experiência do terapeuta e o fato de que o paciente (quer voluntariamente quer por coerção) veio ao terapeuta à procura de auxílio profissional. O garçon de bar, o professor ou padre, o advogado, o amigo ou o parente também podem modificar com sucesso o comportamento de outra pessoa, muitas vezes de modo benéfico. Contudo, a falta de um contrato terapêutico formal, assim como a falta de treinamento e a falta de sistemática com que as interações são levadas a cabo, impedem que tais relacionamentos sejam considerados psicoterapêuticos, embora um pouco do que se segue neste trabalho possa ser utilizado por eles. 181 A atmosfera terapêutica A psicoterapia acontece como relação interpessoal entre terapeuta e paciente, não importando qual a forma do tratamento, se de apoio, se dirigido ao insight. Como formencionado anteriormente, implica a aliança entre o terapeuta e aqueles aspectos conscientemente cooperativos e sustentadores do ego do paciente, em antagonismo com os elementos conflitivos, conscientes e inconscientes de sua vida mental. O início da terapia, além disso exige o estabelecimento de uma adequada relação a dois entre paciente e terapeuta, na qual ambos estendem seus esforços e tarefas em direção aos objetivos planejados. Um dos primeiros passos para o estabelecimento dessa relação é que o terapeuta ofereça uma atmosfera terapêutica na qual ambos possam trabalhar. Esta atmosfera é difícil de definir; requer que o terapeuta, através do comportamento verbal e não verbal, evidencie sua intenção e seu desejo de trabalhar visando a auxiliar o paciente dentro dos limites de sua capacidade. Enfatizam-se as necessidades terapêuticas do paciente e o fato de que essas reuniões têm como finalidade seu tratamento e bem-estar. O terapeuta também deve sentir (portanto, sem verbalizar) respeito pelo paciente como indivíduo, a despeito de sua enfermidade ou sintomas, devendo aceitá-lo, e as suas queixas, com seriedade, apesar do grau de incapacidade, sua natureza ou irracionalidade. Isto, muitas vezes, contrasta com a atitude de outras pessoas que, freqüentemente, podem depreciá-lo, ridicularizá-lo ou demonstrarlhe pouco interesse, uma vez diagnosticada uma enfermidade emocional. Para ser mais eficiente, o próprio terapeuta deve aceitar a idéia de que as dificuldades do paciente derivam de perturbação emocional ou psicológica além de seu controle consciente, devendo reconhecer que esses sintomas e incapacidades não são os menos angustiantes e incapacitantes. Outro fator importante no estabelecimento de uma atmosfera terapêutica é que o terapeuta tenha, em sua abordagem, compreensão e flexibilidade suficientes para ver e aceitar o paciente no nível de funcionamento psíquico que este apresenta no momento. Com freqüência o paciente já se sente inferiorizado, envergonhado ou culpado por sua doença neurótica; exigências, implícitas ou explícitas, para que este fale num padrão rigidamente dispoto, ditado pelo tera- peuta ou por suas idéias preconcebidas, geralmente mais alienarão o paciente e farlheão sentir que não está sendo compreendido. Por exemplo, um paciente com aguda reação esquizofrênica que fala em termos de processo primário e raciocínio simbólico é, em virtude de seu distúrbio, incapaz de pensamento racional e do processo lógico secundário. Perguntas ou exigências reiteradas para que o paciente se expresse com mais clareza e lógica, poderão fazêlo sentir-se menos compreendido e, portanto, tornar muito mais di182 fícil sua relação como terapeuta. Será mais eficaz se o terapeuta tentar, em parte, comunicar-se com tal paciente ao nível dos seus processos de pensamento do momento, tentando estabelecer, desse modo, uma ponte e um contato humano pelos quais ele poderá sentir-se mais bem compreendido. O mesmo ocorre com um paciente passivo, dependente e quixoso que em virtude de seus distúrbios será incapaz de tolerar significativas frustrações. Ainda que estas atitudes do ego possam ser desagradáveis para o terapeuta, é necessário que as aceite como sintomáticas neste paciente. O mesmo deve acontecer com pacientes para os quais o acting-out tem sido modelo principal de adaptação, ou pacientes cujos sintomas ou comportamento são pessoal ou moralmente ofensivos ao terapeuta. Este deve aprender a aceitar e tolerar tal situação, principalmente nos contatos iniciais, se espera estabelecer uma relação terapêutica. Essas atitudes ou reações comportamentais devem ser olhadas como possuidoras de significado inconsciente e estão num sentido dinamicamente equivalente aos sintomas neuróticos mais clássicos. Exigir que o paciente controle seu sintoma ou a ele renuncie, antes de encetar o tratamento, não somente está condenado ao fracasso como também mais afastará o paciente do necessário relacionamento terapêutico. Quanto mais forte for o ego do paciente e quanto mais a terapia estiver voltada para a introspecção, mais razoável será para o terapeuta a adoção de atitude neutra e expectante, na presunção de que o paciente, se for um caso apro- priado para a terapia dirigida ao insight, será capaz de tolerar tal atmosfera. Se essa atmosfera terapêutica neutra for intolerável para o paciente, mas a terapia escolhida ainda é em direção ao insight, podem ser introduzidos uma variedade de parâmetros. Deve ser reconhecido, contudo, que estes poderão ter conseqüências finais variadas para o processo terapêutico. O relacionamento terapêutico, Como será elaborado no capítulo XII, sobre a transferência, grande e importante parte do relacionamento paciente-terapeuta é baseada em forças inconscientes que, através do deslocamento e da projeção, influenciam e modificam de modo significativo as reações do paciente à situação terapêutica. A despeito da maior importância dos componentes transferenciais inconscientes, eles não representam, contudo, a totalidade da relação terapêutica. A relação de tratamento implica também reações conscientes no terapeuta e orientadas para a realidade. Além de seus aspectos transferenciais, o terapeuta também é uma pessoa real e seu comportamento pessoal, colocado no tratamento, influenciará a aptidão do paciente para desenvolver uma relação terapêutica útil. 183 A maneira pela qual o terapeuta se comporta e reage, seu conhecimento e capacidade para a delicada compreenso das realizações e do comportamento do paciente, de seus hábitos e idiosincrasias,sua discrição e capacidade de manifestar- se e as inevitáveis variações em seu desempenho diário, podem influenciar a terapia, positiva ou negativamente, não importando se o tratamento é dirigido ao insight ou se é de apoio. Por exemplo, se um terapeuta age fria ou indiferentemente, ou se é crítico e faz juízos morais do paciente ou, ainda, se é desatento e esquece o que o paciente lhe conta, este terá uma variedade de reações para com o terapeuta. Em tal situação, haveria um estímulo da realidade à reação do paciente, mas a resposta comportamental final também seria, em parte, determinada pelos fatores inconscientes intrapsíquicos. São estes últimos fatores que determinarão se o paciente responderá ou não com cólera, depressão, culpa, submissão masoquista, retraimento, acting-out ou confrontação realística. A educação do paciente Conservando em mente esses fatores, o modo pelo qual o terapeuta apresenta ao paciente sua parte no processo terapêutico tem considerável importância na presteza e eficiência com que o tratamento começa. Embora tenha sido explicado o papel do paciente durante o estabelecimento do contrato terapêutico, a verbalização generalizada rara- mente é suficiente, mesmo para os pacientes relativamente sofisticados. A natureza das intervenções do terapeuta e sua atitude ao fazê-las ajudam o paciente a obter uma compreensão emocional e a aceitar as explicações verbais sobre o que é uma psicoterapia. Examinada ao acaso, a situação terapêutica aparenta muitas vezes ser fortuita e sem organização. Observando-se mais de perto, contudo, tem-se uma visão da terapia como uma relação com estrutura definitivamente estabelecida, cujos variados elementos derivam-se logicamente de teoria e estratégia básicas. A — A PARTICIPAÇÃO DO PACIENTE Sempre que possível, o paciente deve manter no processo terapêutico contínua participação através de conversa, automanifestação, resposta e interação com o terapeuta. No tratamento dirigido ao insight, quanto mais ativo for o paciente em realizar a descoberta e a compreensão de seus conflitos, mais genuíno e eficaz será o insight desenvolvido. Quanto mais o terapeuta tomar a iniciativa de explicar, interpretar ou falar, na situação terapêutica, mais provável será 184 que o paciente chegue apenas a uma compreensão limitada ou intelectualizada. Talvez venha a aceitar as idéias do terapeuta como provenientes de fonte autoritária, como se as tivesse encontrado em um livro, mas perde a experiência da convicção pessoal e do impacto emocional que o insight autodesenvolvido pode trazer. Para atingir este fim, o terapeuta estimula os esforços de autoexploração do paciente, mesmo que sejam hesitantes, desajeitados ou, inicialmente mal sucedidos. Até que o padrâó de participaçáo do paciente esteja bem estabelecido, o terapeuta deve centralizar muito de sua atenção nessa área. Explicações prematuras sobre o conteúdo dos conflitos servirão para alimentar a passividade do paciente. Mesmo no tratamento de apoio, é importante acentuar o papel contínuo do paciente no processo terapêutico, já que, quanto mais este verbalizar seus processos e reações mentais conscientes, mais eficaz será a subseqüente intervenção do terapeuta. A estratégia comum na terapia de apoio é ajudar o paciente a elaborar e manifestar aqueles processos mentais que estão conscientes no momento, mas não encorajar o retorno à consciência do material inconsciente. Por exemplo, se um paciente diz: “Penso que estou ficando louco”, e diz pouca coisa mais, torna-se difícil para o terapeuta tranqüilizálo, já que não menciona o porquê de seu pensamento. Apoiá-lo ou tranqüilizá-lo antes que expresse alguns de seus pensamentos conscientes, não o deixará persuadido. Se o terapeuta puder encorajar no paciente a elaboração de seus temores conscientes e dos pensamentos que o levam a pensar que está ficando louco (por exemplo, fantasias conscientes de matar seus filhos), a intervenção oferecida pode ser efetivamente aceita pelo paciente. Em outras palavras, depois que o paciente tenha expressado o que está em sua mente consciente, o terapeuta terá oportunidade de intervir com o fim de auxiliar o paciente a suprimir, reprimir, isolar ou, em outras palavras, lidar com a fantasia ou impulsos importunos. Em comparação, em tratamento dirigido ao insight, depois de ter o paciente verbalizado tal fantasia, conscientemente perturbadora, a estratégia manda que ele seja auxiliado a explorar mais além os determinantes e significados por trás da fantasia: Os desejos do paciente de sentir-se satisfeito com a simples expressão consciente da fantasia devem ser compreendidos como resistência contra exploração, descoberta e compreensão maiores. B—A VERBALIZAÇÃO É particularmente importante no tratamento dirigido ao insight que o objetivo tático imediato seja auxiliar o paciente a falar tão livre e francamente 185 quanto possível, sem que tente ocultar pensamentos, mesmo que sejam angustiantes, embaraçosos, obscuros ou, às vezes, irracionais ou incoerentes. Nesse contexto a expressão associação livre pode ocorrer à mente do terapeuta assim como na do paciente. É uma técnica específica, habitualmente reservada para a situação analítica clássica, raramente tentada na psicoterapia frente a frente. À situação analítica clássica, estão inerentes uma série de fatores e forças que promovem regressão a serviço do ego, mais intensa do que seria desejável, ou manejável, na forma de psicoterapia dirigida ao insight que tratamos aqui. Mesmo na situação analítica clássica, a associação livre só se desenvolve de maneira lenta e gradual, depois de significativo trabalho terapêutico. Nas primeiras sessões é importante que o terapeuta admita a necessidade do paciente de reter aspectos do material que lhe são, conscientemente, angustiantes e perturbadores e, também, do material pré-consciente, pouco disponível, e do inconsciente, reprimido. Nem seria razoável esperar que o paciente se despojasse imediatamente de todas as suas habituais defesas e de suas reservas sociais, expressando-as sem restrições, ainda que seja fundamental, na estratégia terapêutica dirigida ao insight, ajudar o paciente a falar com um mínimo de inibição. Desse modo, nas primeiras sessões, será objetivo tático do terapeuta criar atmosfera na qual o paciente possa falar livremente, encorajar sua franqueza e, de vez em quando, tratar como resistência as manifestações mais óbvias de contenção. É importante, então, que o terapeuta não o provoque, imediatamente, sobre o material apresentado, nem acentue o que é irracional, não fazendo, também, interpretações angustiantes nem desagradáveis. Se o terapeuta pede ao paciente que fale livremente, sem selecionar material e imediatamente lhe aponta que este é absurdo, irreal, contraditório ou incoerente, etc., este vai sentir-se em uma armadilha. Essas intervenções vão fazer com que fale com mais precaução, o que é totalmente oposto à estratégia terapêutica. A maneira como o terapeuta reage ao material do paciente é que vai determinar se este segue sendo sincero ou se, sentindo-se responsável por tudo o que diz, será mais cauteloso, ocultando material. Outro objetivo tático é acentuar que o paciente mantém a conversa e que a atenção do terapeuta estará voltada para o material apresentado no momento. Dessa maneira poderá permanecer mais passivo, intervindo apenas para conservar o material fluente, usando uma forma de perguntas ou intervenções abertas. Logo no início do tratamento, o paciente pode começar uma sessão perguntando sobre o que deverá falar. A resposta do terapeuta deverá auxiliar o paciente a começar com pensamentos e idéias; por exemplo: “vamos começar com qualquer coisa que tenha estado pensando desde a última vez que esteve aqui” ou “comecemos com o que estiver pensando agora mesmo.” Algumas vezes será necessário 186 mostrar ao paciente sua insegurança ou ansiedade em começar ou tomar a iniciativa e tentar ajudá-lo a compreender o significado de tal inibição. Em outras palavras, no início da terapia a atenção estará voltada, principalmente, para o processo de comunicação e não para o conteúdo dos conflitos existentes, o que pode implicar em relembrar ao paciente a regra básica, explicando-se, outra vez, a necessidade de comunicação franca, levando-o a reconhecer sua dificuldade em expressar-se, ou interpretando as resistências específicas contra a exposição e a exploração da vida mental. A tarefa do terapeuta é apresentar esse conceito de modo que seja compreendido e usado pelo paciente. Muitas vezes a analogia pode ser proveitosa (por exemplo, “o dentista, ao tratar de um abcesso, causará dor passageira, mas nada resolveria se, por esse motivo, resolvesse tratar de outro dente” ou, “se você não tirar o chapéu para pentear-se, o cabeleireiro não poderá fazer nada”). Não se deve esquecer que, nessas primeiras sessões, o paciente muitas vezes estará testando a situação e o terapeuta, quanto à sua paciência, vontade de ouvir, atitudes não críticas, capacidade para não reagir de modo moralista, etc. Ao criar esta atmosfera terapêutica inicial, as atitudes não verbais do terapeuta, aceitando o paciente e seu material, são tão importantes quanto as intervenções verbais que possa fazer. Fica-se muitas vezes tentado a interpretar o que está implícito nas comunicações do paciente, esperando acelerar o processo terapêutico. Contudo, a longo prazo, adianta-se mais a terapia provocando o desenvolvimento de uma situação e de um relacionamento terapêutico ótimo na fase inicial do que focalizando o conteúdo do conflito psíquico. Quanto mais o tratamento estiver orientado para o apoio, maior será a necessidade de enfatizar o raciocínio lógico do processo secundário e, por essa razão, não será necessário dizer ao paciente que fale naquilo que lhe vier à mente ainda que lhe pareça absurdo. O terapeuta ficará mais atento ao material, sugerindo tópicos para consideração e fazendo perguntas diretas ou específicas. Também não será tão acentuada a responsabilidade do paciente pela produção de material terapêutico útil ao tratamento e, ainda que escute qualquer material espontâneo trazido pelo paciente, vai encorajá-lo a manter seleção e raciocínio conscientes. A ênfase será colocada na informação dos acontecimentos e reações percebidas conscientemente pelo paciente e o terapeuta não estimulará a informação da exploração introspectiva. C — AUTO-OBSERVAÇÃO Outra função encorajada pelo terapeuta nessa fase inicial, principalmente na psicoterapia dirigida ao insight, é a capacidade do paciente para a auto187 observação. Isto implica cultivar uma ruptura no funcionamento do ego, entre a reação emocional e a reflexão intelectual. Depois de se permitir a expressão de uma experiência emocional de modo crescentemente regressivo, o paciente é encorajado a afastar-se emocionalmente de si próprio e observar e refletir sobre aquilo que recém experimentou e expressou. A ab-reaço emocional pura, ou expressão do conflito é apenas um meio para se chegar ao objetivo final do tratamento, que é integração mais sadia e controle maia eficaz desses processos mentais. Desse modo, após o paciente ter experimentado ou manifestado algo, de maneira emocional ou regressiva, o terapeuta poderá intervir e pedirlhe que avalie, com o raciocínio do processo secundário consciente, o que acabou de manifestar, ou, para considerar que seus pensamentos mais profundos se relacionam com o material que foi trazido. Dessa maneira tenta-se desenvolver um fluxo e refluxo entre a automanifestação regressiva do conflito e do afeto e a autoobservaçâb e reflexão progressivas acerca do que foi manifestado. Existem pacientes, contudo, cujas maiores defesas implicam o uso da intelectualização e do isolamento em grau avançado, cuja autoobservação chega ao ponto de responderem, em tratamento, como se falassem de outra pessoa e nâ’o deles próprios. Em tal situação o terapeuta não alimenta a auto-observação; ao invés, ele a interpreta como manifestação de ansiedade e defesa. Na terapia de apoio, o terapeuta deve compreender que alguns pacientes necessitam de uma oportunidade, prolongada e ininterrupta, para a expressão emocional. Por esse motivo, deve hesitar algumas vezes em provocar tais respostas. Em virtude de sua enfermidade, alguns pacientes não podem tomar uma efetiva distância emocional de seus proble- mas. O terapeuta em tais casos deve aceitar períodos prolongados de catarse e ab-reação. Ao encorajar-se a auto-observação no paciente, esta deve ser baseada, geralmente, no senso comum e a ênfase está em apontar as irracionalidades, de maneira que ele possa, conscientemente, exercer esforços mais eficazes para seu controle. D — OS DETALHES Outra área em que se deve educar o paciente é na expressão dos detalhes dos pensamentos, experiências e sentimen- tos. Particularmente, o caso do tratamento dirigido ao insight, no qual os detalhes específicos de um processo do pensamento, ou suas associações, podem ser o fator crucial que leve o insight do paciente e do terapeuta para as perturbações e conflitos subjacentes. Nessas situações, o uso de generalizações ou a evitação do detalhe podem servir em função de defesa. Pedir ao paciente que preencha com detalhes uma série particular 188 de associações é, muitas vezes, o primeiro passo para o conhecimento daquilo que tem sido reprimido e, eventual- mente, direciona ao insight. Por esse motivo, em uma relação de apoio, o terapeuta muitas vezes não pressiona o paciente por detalhes, já que tal coisa poderia provocar as defesas e resultar no começo da eliminação da repressão. Contudo, alguns pacientes, principalmente os obsessivos, podem devotar grande parte de sua hora terapêutica a um recital de minúcias que, novamente, aparecem em função da resistência. Em tal situação, o papel do terapeuta seria mostrar ao paciente o quanto ele obscurece o material por enfatizar indiscriminadamente todos os detalhes. A abordagem de apoio para tal forma de interação seria permiti-la por mais tempo, como forma de defesa ou, às vezes, como modo de expressão de derivativo do impulso inconsciente (por exemplo, o paciente que sente deve obrigar o ouvinte a lhe dar atenção, o que deseja aborrecê-lo e irritá-lo, ou que deseja fazê-lo esperar). E —O AFETO A manifestação do afeto na situação terapêutica é outra área em que se faz necessário educar o paciente. Para alguns deles, é preciso que se interpretem as defesas contra a expressão de afeto e perguntar ativamente sobre sentimentos, principalmente quando as defesas evidentes são o isolamento ou a intelectualização. Em outras situações, o paciente pode ter manifestado o afeto bastante livremente e, então, envergonhar-se e pedir desculpas por ter cedido aos seus sentimentos. È muito importante que o terapeuta seja capaz de aceitar a manifestação de afeto do paciente sem ansiedade ou impaciência e, se necessário, explique não ser apenas o conteúdo do pensamento o importante na psicoterapia, mas também os sentimentos que o acompanham. Tentativa alguma é feita para provocálo ou induzi-lo a manifestar seus sentimentos, mas é importante que o paciente compreenda claramente que a manifestação de sentimentos também faz parte do seu tratamento e que o terapeuta pode tolerar essa manifestaçâo sem constrangimento. Na terapia de apoio, em alguns casos, é indicado se permita ao paciente o uso contínuo do isolamento e da evitação de afeto intenso como parte da manutenção do sistema de defesa. No outro extremo, se o paciente está intensamente envolvido com a manifestação do afeto, talvez seja necessário ajudá-lo a recuperar o controle de seus sentimentos, principalmente no fim da sessão, encorajando o isolamento ou acentuando o controle e a supressão conscientes. Na terapia de 189 apoio, a ênfase é colocada na expressão dos afetos que so percebidos conscientemente pelo paciente, e a estratégia é evitar a mobilização dos afetos inconscientes. F — AUSÊNCIA DE RESPOSTAS IMEDIATAS É importante nessas primeiras sessões que as intervenções do terapeuta também convençam ao paciente de que não há respostas imediatas para o que se encontra por trás de determinada experiência ou pensamento, e que a tarefa terapêutica mútua é começar a procurar por elas. Para confirmação , é essencial que o terapeuta evite qualquer atitude de conhecimento complacente, ou de superioridade, ou, ainda, dando a impressão de já conhecer as respostas e as estar retendo. Logo no início do tratamento, o paciente ainda no pode apreciar a importância de perceber por si próprio seus insights, e o sentimento de que o terapeuta está resistindo freqüentemente mobilizará hostilidade e negativismo. A esse respeito, o terapeuta deve estar ciente do impacto da pergunta por quê? nessa fase do tratamento. Tal pergunta, geralmente, obrigará o paciente a racionalizar suas motivações e pensamentos e vai sugerir, também, que há uma resposta imediata ou conhecida para a qual se espera o conhecimento do paciente. Pode também encorajar o paciente a “adivinhar a resposta certa”, principalmente se o terapeuta tem uma idéia específica e espera que o paciente chegue por si próprio à mesma idéia. Abordagem mais útil é fazer a pergunta de maneira mais geral (isto é, “quais são seus pensamentos ou “o que veio à sua mente ), sem demonstrar que há uma resposta específica ou imediatamente disponível. O objetivo tático é ajudar o paciente a reconhecer o fato de que ambos estão procurando uma compreensão que virá gradualmente, mas que existem provavelmente outros pensamentos, associações ou fantasias por trás do comportamento particular ou dos conteúdos mentais e o paciente deve agora começar a dirigir sua atençâb e exploração para estes. Na terapia de apoio, a situação tende a ser bem mais flexível, e as intervenções do terapeuta são mais variadas e feitas à luz da estratégia total. Por exemplo, quando a estratégia requer que o terapeuta se apresente como figura onipotente e autoritária, a tática poderia ser exprimir respostas imediatas e definitivas. Se a estratégia exigir o estímulo dos problemas conscientes do momento enquanto se evita os do passado, a tática pode ser desestimular ativamente o encontrar as respostas e exercer pressão sobre o controle consciente. Quando a estratégia pede diminuir a importância do papel do terapeuta, a tática pode ser evitar interpretações positivas e reforçar as tentativas do próprio paciente para encontrar as respostas rapidamente. 190 G —A REGRESSÃO Na terapia dirigida ao insight, outro dos primeiros aspectos educacionais é encorajar o paciente à regressão terapêu- tica a serviço do ego, pela suspensão da seleção e do juízo crítico na apresentação de seus pensamentos e sentimentos, até que o material tenha sido manifestado. Através da regressão haverá, finalmente, retorno do conflito previamente reprimido, o qual poderá ser submetido, então, ao escrutínio consciente. Em outras palavras, na terapia dirigida ao insight, a atitude seria “falar primeiro e pensar depois”, alimentando desse modo o afastamento da rígida aderência às regras do processo secundário. Para que isto aconteça, é essencial que o terapeuta não espere que o paciente seja imediatamente responsável por aquilo que diz, ou que seja sensível e consciente, ou que se adapte a padrâo predeterminado. Se o terapeuta pede ao paciente que manifeste livremente qualquer coisa que lhe venha à mente e, imediatamente, aponta as inconsistências lógicas do material apresentado, contradiz diretamente o que indicou para o paciente fazer, tornando assim mais difícil para este expressar-se livremente no futuro, com receio de incorrer outra vez em crítica e ficar com a impressâo de estar exposto. Nas primeiras fases do tratamento dirigido ao insight, se o paciente realmente sofrer significativa regressão do ego durante a sessão, é importante que, no fim desta, o terapeuta auxilie a inverter tal regressão. O terapeuta deve lembrar-se que a experiência da regressão pode mobilizar considerável ansiedade, o que pode tornar difícil para o paciente permitir-se tal regressão nas sessões terapêuticas subseqüentes. Auxiliando o paciente a inverter a regressão, provoca- se um controle no grau em que esta ocorrerá e fica acentuado para o paciente que o processo é reversível e que o terapeuta nâo permitirá que escape de suas mãos. Tal reversão pode ser encorajada por uma intervenção que ponha em evidência os processos integradores e de auto-observação do ego, ou pedindo-se ao paciente que resuma o que aconteceu na sessão, ou simplesmente mostrando que a sessão está quase a terminar, alertando desse modo o paciente para a necessidade de instituir os controles de seu ego. Como a terapia prossegue e o paciente tem sofrido as sucessivas experiências dessas regressões reversíveis do ego, as intervenções tornam-se menos necessárias, já que o paciente pode agora controlar mais eficazmente a duração do processo regressivo. Por outro lado, na terapia de apoio, a estratégia pede que se evite maior regressão. Por esse motivo, o terapeuta encoraja o paciente a uma atitude de “primeiro pensar para depois falar”, mantendo o processo secundário e refor191 çando a eficiência das defesas do ego. Naquelas situações em que o paciente já tem manifestado significativa regressão, expressando diretamente material do processo primário, a tática imediata é escutar o material do paciente, ajudando-o, o mais cedo possível, a uma determinação mais avançada do material do processo secundário ou concentrar o conteúdo da exposição em outras áreas. Na tentativa de evitar nova regressão, ou de revertê-la caso chegue a ocorrer,o terapeuta pode interpor-se com intervenção mais orientada para a realidade, proporcionando tranqüilidade ao paciente ou contato interpessoal direto e prepara-se para encerrar a sessão mais cedo, pondo em evidência os aspectos de maior progresso do material apresentado. Talvez seja necessário passar do tempo destinado, ou encorajar ativamente o paciente a cooperar, ou convidá-lo a sentar em outra sala até que se sinta melhor e esteja preparado para voltar para casa. H — CONVENÇÕES SOCIAIS É outra área em que se faz necessário educar o paciente, principalmente no tratamento dirigido ao insight. No capítulo XII, sobre transferência, será estudado que o tratamento dirigido ao ínsight implica o estabelecimento de um relacionamento terapêutico no qual há um deslocamento dos conflitos internos inconscientes para a situação terapêu- tica, de modo a se tornarem mais conscientes, podendo, então, ser submetidos à determinação e integração do ego. Para este fim, o terapeuta reduz o caráter de realidade da relação, já que quanto maiores os elementos de realidade, mais difícil será desenvolver e demonstrar distorções transferenciais. O terapeuta tenta, também, conduzir o tratamento numa situação de relativa frustração da transferência, intensificando desse modo os derivados do impulso, a fim de que estes possam tornar-se mais rapidamente conscientes. Por essa razão, as convenções sociais comuns, que fazem parte do relacionamento interpessoal não-terapêutico, são geralmente suspensas no tratamento dirigido ao insight. O terapeuta tenta evitar intercâmbios de natureza social, no princípio ou no fim das sessões e no decorrer do contato terapêutico ajudar o paciente a pegar qualquer coisa que tenha caído ao chffo, oferecer ou aceitar cigarros, ajudar o paciente a colocar ou tirar o casaco, conversas ou comentários casuais, etc., são deliberadamente evitados. À medida que prossegue a terapia, esses comportamentos podem tornar-se veículo para a manifestação de várias defesas ou desejos transferenciais inconscientes e, gratificando impensadamente esses derivativos, pode-se perturbar toda a estratégia. Contudo, um paciente que não conhece as técnicas da terapia dirigida ao insight pode sentir como um insulto esse tipo de resposta, ou como manifestação 192 de frieza ou falta de interesse do terapeuta. E também, logo no início do contato terapêutico, essas atividades náo têm as implicações transferenciais que podergo vir a ter à medida que a relação se desenvolva e, por esse motivo, o paciente terá mais dificuldade para compreender o comportamento e a abordagem do terapeuta. Haverá necessidade de alguma explicação para que o paciente compreenda que isto não é mais do que uma parte da estrutura da situação terapêutica. Um modo proveitoso de lidar com tal situação é concentrar a atenção do paciente nessas manifestações comporta- mentais desde o princípio, embora, algumas vezes, permitindo essas gratificações. Por exemplo, um paciente pode pedir ao terapeuta um cigarro, o que, em uma relação social comum seria oferecido sem comentários. Numa situação de tratamento dirigido ao insight, isto pode ter uma variedade de significados; portanto, logo no início do tratamento, o terapeuta pode dar o cigarro, mas pedirá ao paciente mais pensamentos e associações ligados a este intercâmbio. Talvez não seja ainda possível interpretar seu significado específico, já que este pode ser desconhecido para o terapeuta ou o paciente pode não estar pronto para aceitar tal interpretação, mas a sugestão de que este comportamento pode ter outros significados ocultos, que devem ser explorados, é importante na educação do paciente. Para que se desenvolva completamente a relaçâo de transferência é importante que essas manifestações não sejam imediatamente interpretadas. Será primeiro necessário que o paciente tenha adquirido experiência e compreensão para aceitar e integrar tal interpretação de modo significativo. Por outro lado, deixar que este comportamento continue, sem comentários, pode encorajar mais actingout e demandas para a gratificação dos derivados do impulso. Pode ser mais eficaz mostrar de que maneira o processo da psicoterapia é estruturado e conduzido. Em outras palavras, desde o princípio deve mostrar-se ao paciente a necessidade de observar o significado e a importância das várias interações que ele sente e experimenta pelo terapeuta. Paradoxalmente, quanto mais o terapeuta responde comportamentalmente às provocações, manipulações ou seduções, mais perigosa se torna para o paciente a situação terapêutica. Este pode sentir-se incapaz de controlar seus próprios impulsos, exceto através de massivos mecanismos neuróticos de defesa e, quanto mais o paciente sente que é o mais forte e que não pode contar com o terapeuta para controlar o relacionamento entre os dois, maior será sua ansiedade. Se o paciente pode manipular ou controlar o comportamento do terapeuta, por pouco que seja, pode sentir dúvidas e temores a respeito do controle do terapeuta em resposta a maiores provocações que possam emergir mais tarde, quando a transferência se aprofunde. Dessa maneira, nas primeiras sessões terapêuticas, o paciente, freqüen- temente, testa o terapeuta para ver até onde pode ir e quais são os seus limites. A atitude do terapeuta que mais pode auxiliar o paciente é 193 deixá-lo livre para pensar e expressar, de forma verbal, quaisquer pensamentos, sentimentos, fantasias ou impulsos. Contudo, o paciente no é livre para atuar sobre eles. Um modo de estabelecer esses limites, sem que o terapeuta tome posição crítica ou proibidora, é fazer com que o paciente concentre sua atenção sobre as manifestações ativas e comportamentais e, quando possível, interpretar seu significado. Isto leva o paciente a se abster da ação e, em seu lugar verbalizar o impulso que está por trás do ato. O paciente pode, também, pôr à prova o terapeuta, a fim de ver se este se sente à vontade no seu papel e se pode ou não tolerar os sentimentos do paciente ou, ainda, sentir-se assustado pela ameaça de ação. Num tratamento dirigido ao insight, se o terapeuta permite que o paciente atue sobre seus impulsos, sem fazer comentários, o paciente pode ser bloqueado no conhecimento regressivo de seus impulsos mais primitivos em virtude da ansiedade, o que pode oprimir seus controles, manifestando-se no comportamento. É importante que o terapeuta acentue, e demonstre por suas atitudes, logo nas primeiras sessões, que não está fazendo juízo moral ou crítico do comportamento do paciente, mas será no melhor interesse da terapia que ele tente controlar seu comportamento enquanto verbaliza os sentimentos que o estimularam. Como será visto no capítulo XII, a estratégia da terapia de apoio implica a tentativa de diminuir as distorções e as frustrações da transferência, dando ênfase a uma relação terapêutica baseada em harmonia consciente que se relacione com a estrutura e as defesas do ego do paciente. Com tal estratégia, utiliza-se a tática de estimular os elementos de realidade da relação terapêutica. Por isso o terapeuta estará mais apto a observar as relações sociais, mantendo, na interação com o paciente, atitudes e comportamentos de uma relação interpessoal real, não-terapêutica. No tratamento de apoio, essas respostas e gratificações reais do terapeuta não produzirão, em geral, os efeitos descritos para a situação de tratamento dirigido ao insight, já que sua estratégia se apóia no fato de serem evitadas maior regressão e a descoberta de perturbações transferenciais inconscientes. Conseqüentemente, as interações sociais tendem a ser experimentadas pelo paciente em seu contexto real e as distorções da transferência regressiva serão menos prováveis. Nesse contexto, contudo, o terapeuta deve se deixar guiar pelo paciente, considerando que, para alguns, o distanciamento emocional é necessário em virtude de seus conflitos e defesas e uma relação íntima e pessoal poderá mobilizar grande ansiedade, devendo, por isso, ser contra-indicada. Nas situações em que essa forma de distanciamento emocional é previamente mantida pelo paciente, é particularmente importante para o terapeuta responder positiva- mente a qualquer abertura que aquele possa proporcionar. 194 Em tal caso, a resposta deveria ser o bastante para levar o paciente a um primeiro passo em direção a uma relação mais íntima, mas não tão intensa que possa assustá-lo ou oprimi-lo. I— OS ESFORÇOS DO PACIENTE PARA MUDAR Outro aspecto do papel desempenhado pelo paciente é sua intenção ativa de modificar seu comportamento e reações fora da situação terapêutica, baseado no que aprendeu ou experimentou no tratamento. Tanto na psicoterapia dirigida ao insight como na de apoio, a simples verbalização de pensamentos ou sentimentos tem pouca utilidade se não levar a uma mudança de comportamento fora das sessões. É importante que o paciente reconheça a continuidade de sua vida mental e o fato de que aquilo que fala ou aprende no tratamento tem relação com sua vida atual e é aplicável fora do tratamento. Assim, também, aquilo que ocorre em sua vida fora da sessão está relacionado com as reações emocionais intrapsíquicas e com os sintomas dos quais ele se queixa. Por essa razão, nas duas formas de tratamento, o paciente é eventualmente encorajado a encarar as situações ou relacionamentos produtores de sintomas e aplicar o que aprendeu na terapia em sua vida corrente. Na situação de apoio, o terapeuta utiliza ativamente a sugestão, o reforço, a aprovaço, a desaprovação ou outra intervenção apropriada para provocar a desejada mudança de comportamento. Na terapia dirigida ao insight, espera-se que o paciente tente seus próprios novos modelos de adaptação, a fim de se tornar mais independente e menos apoiado na atividade contínua do terapeuta. Em outras palavras, a tarefa do paciente inclui tentativas de novos modelos de adaptação no relacionamento interpessoal, no trabalho, na sexualidade e nas reações generalizadas de sua vida fora do tratamento. Esses novos mecanismos ou modelos de integração devem refletir o progresso do material e do trabalho conduzidos no tratamento. A esse respeito, uma das diferenças entre o tratamento de apoio e aquele dirigido ao insight é, no primeiro, o tera- peuta concentrar a atenção do paciente principalmente nos mecanismos e atitudes conscientes do ego, dando ênfase ao papel que este desempenha na sua adaptação total. Já no tratamento dirigido ao insight, o terapeuta enfatiza ao mesmo tempo que auxilia o paciente a conhecêlos, os conflitos, mecanismos e métodos de adaptação inconscientes. Como aumenta o conhecimento do paciente sobre essas forças inconscientes, ele deve tentar, então, pôr este conhecimento, agora consciente, em atividade. 195 Leitura sugerida COLEMAN, Jules V. (1949). “The initial phase of psychotherapy’. Buli. Menninger Clin. 13, 189. DEUTSCH, Felix (1949). Applled Psychoanaysis. Grune & Stratton. Nova lorque. GILL, Merton, NEWMAN, Richard & REDLICH. Fredierick C. (1954). The initial lnterview in Psychíatric Practice. International Universities Press lnc. Nova lorque. WOLBERG. Lewis R. (1967). The Technique of Psycíiotherapy. Second edition. Grune Stratton lnc, Nova lorque. 196