PARALISIA CEREBRAL DISFUNÇÃO NEURO-MOTORA INTRODUÇÃO. O termo paralisia cerebral, consagrado pelo uso, parece-nos inadequado para denominar esta Síndrome que abrange quadros funcionais extremamente diversos. Temos optado pelo termo disfunção neuro-motora, proposto por Denhoff (Cerebral Palsy and Related disarders (1960)), tanto porque traduz melhor o que ocorre, um problema de ordem predominantemente motora de origem central, bem como por estigmatizar menos o portador. Considerações também podem ser feitas no sentido de que o paciente não é uma pessoa cujo cérebro está paralisado e sim portador de uma desordem no funcionamento deste órgão, este cuidado também favorecerá sua integração social, objetivo de todo e qualquer tratamento. A classificação da disfunção neuro-motora se mantém a mesma, ou seja, o quadro clínico se baseia no tipo de alteração do tônus muscular e na sua distribuição topográfica. CLASSIFICAÇÃO DA DISFUNÇÃO NEUROMOTORA. A. Quanto à distribuição da alteração do tônus muscular: 1. Quadriplegia; 2. Diplegia; 3. Hemiplegia. B. Quanto à qualidade da alteração do tônus muscular: 1. Espástica; 2. Atetóide; 3. Atáxica; 4. Hipotônico; 5. Mista. Obs: a forma hipotônica é um quadro inicial de evolução para uma das outras três formas anteriormente referidas. Outro aspecto a ser abordado na discussão desta patologia é que nosso paciente é a criança e sua família, pois é esta que traz a queixa e está intimamente relacionada ao tratamento. Desde que Litte em 1843, descreveu esta síndrome, primeiramente denominada doença de Litte, muita coisa vem mudando no atendimento destas crianças. Inicialmente abordagem era predominantemente ortopédica. O diagnóstico precoce permite o encaminhamento para atendimento a tempo hábil de se aproveitar a maior plasticidade cerebral dos primeiros meses de vida, o quê , sem dúvida, altera o prognóstico funcional. Crianças atendidas “precocemente” têm muito mais possibilidade de não desenvolverem problemas secundários e compensar muitas de suas dificuldades. Com certeza pode-se prevenir ou minimizar retrações músculo-tendinosas, subluxação do quadril e, principalmente, o atraso do desenvolvimento de funções mentais superiores conseqüentes a dificuldade de acesso a situações estimuladoras bem como a imaturidade emocional ligada a reações de superproteção ou abandono. O diagnóstico precoce está apoiado no conhecimento do desenvolvimento normal o que permite a verificação do desvio. Ao médico compete junto com a equipe de reabilitação avaliar a criança para estabelecer o diagnóstico funcional, ou seja, como está atuando seu paciente em relação ao esperado para a idade cronológica. Este diagnóstico permite que se trace o plano de tratamento. A avaliação é global. Busca-se identificar atrasos nas funções motoras, sensoriais, perceptivas, cognitivas, na linguagem, na independência das atividades de vida diária. Não basta porém identificar atrasos, mas também a quantidade dessas funções e, principalmente, saber do que a criança é capaz, sua relação com o meio e a família. Considerando os amplos aspectos deste diagnóstico, vê-se que somente uma equipe multidisciplinar tem condições para concluí-lo. Sem intenção de esgotar a discussão sobre a formação ideal de uma equipe de reabilitação para o atendimento das disfunções cerebrais citamos a seguinte composição: Médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, fonoaudióloga, psicopedagoga, psicóloga e, dependendo da instituição, assistente social. O diagnóstico clínico e etiológico envolve o pediatra e neuropediatra e , muitas vezes, outros especialistas, tais como o oftalmologista e otorrinolaringologista. É preciso ter estreito relacionamento com esses outros especialistas, para melhor conhecermos nosso paciente e também evitar que se passe mensagens antagônicas para a família. Ou seja, a discussão entre os profissionais deve proceder a devolução do diagnóstico à família. ANAMNESE IDENTIFICAÇÃO Meio familiar Buscar saber mais que o nome, idade, endereço e constelação familiar, mas também como vive esta família, profissão e grau de instrução dos pais, se é constituída, ou seja, o meio em que vive o paciente. QUEIXA Dificuldade real Na maioria das vezes, a queixa não traduz as reais dificuldades funcionais da criança, sendo comum os pais preocuparem-se com apenas um aspecto do problema. Geralmente predomina a referência sobre problemas de ordem motora, mas independente da queixa, a anamnese em sua seqüência deverá abordar todos os aspectos do desenvolvimento. PERÍODOS PRÉ, PERI E PÓS-NATAL. Situações patológicas nestes períodos são consideradas fatores de risco para um desvio do desenvolvimento. Fatores de risco 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. baixo peso de nascimento, prematuridade; recém-nato pequeno para idade gestacional, maior que 2; desvios padrão; hemorragia intraventricular; meningite; ventilação mecânica prolongada; bronco displasia pulmonar; hipoglicemia sintomática; hiperviscosidade, policitemia; Hiperbilirrubinemia; Infecções congênitas. Disfunção cerebral Sinais motores Visão global Crianças que sofreram um ou mais fatores de risco neste período que o cérebro está em extrema imaturidade, são mais sujeitas a desenvolver uma disfunção cerebral. Quando nesta predominam os sinais motores, fica caracterizada uma disfunção neuro-motora. Crianças que apresentam primeiramente sinais motores são mais propensas a desenvolver problemas de linguagem e posteriormente, dificuldades escolares. Isto justifica seguir seu desenvolvimento para indicar-se uma intervenção terapêutica quando necessário. Fica claro que qualquer uma das áreas do desenvolvimento neuro-psico-motor pode ser afetada, o que impõe uma visão global por parte dos profissionais que lidam com essas questões. TIPO Disfunção neuro-motora Disfunção de comportamento Distúrbios perceptivos Disfunção neuro-sensorial Disfunção intelectual Disfunção da consciência Misto CARACTERÍSTICA Desordem da postura e do movimento (paralisia cerebral) Distúrbios da atenção, hiper ou hipoatividade Distorções viso motores, proprioceptivas ou auditivas Deficiência neurológica da função visual ou auditiva Deficiência cognitiva Desordens convulsivas Variada História da doença atual Função motora Perguntas sobre quando o controle da cabeça, o rolar, sentar (ativo ou colocado), engatinhar, por-se de pé andar fornecerão informação sobre como vem se processando o atraso. Importante saber como a mãe se coloca diante deste atraso, se justiça, minimiza, super valoriza, etc. Estas informações são importantes para guiar o exame físico. Função alimentar Sucção Engasgo Reflexo de vômito A sucção no peito nas primeiras horas da vida informa sobre a vitalidade. Engasgos ao mamar podem indicar alteração motora ou hipotonia orofacial, incoordenção entre deglutição e respiração, ansiedade materna ou dificuldade do bebê em relacionar-se devendo se investigar estas suposições. Os usos prolongados do alimento pastoso e mamadeira podem atrasar a introdução do alimento sólido e uso da colher, prejudicando o desenvolvimento da mastigação e de toda a musculatura e Propriocepção da região. Este atraso pode estar relacionado a dificuldades motoras como o engasgo por falta de posteriorização do ponto de estimulação do reflexo do vômito (sinal de imaturidade cerebral), falta de controle de cabeça e tronco ou insegurança da mãe para lidar com o crescimento do seu filho. Atendimento fonoaudiológico A indicação do atendimento fonoaudiológico precoce facilita a evolução da função alimentar, diminuindo a ansiedade na relação mãe-filho durante a alimentação e prevenindo dificuldades de fala e linguagem, tornando mais prazerosa a relação do bebê com o meio. Comportamento Hipo/hiperatividade Choro Sono Linguagem Psicologia Irritabilidade, choro freqüente, curtos períodos de sono profundo são mais uma indicação de dificuldade na maturação do SNC. Hipo ou hiperatividade também podem estar relacionadas, compondo um quadro associado a distúrbios do tempo, de atenção e concentração, desadaptação social, desorganização familiar, distúrbio de linguagem ou aprendizagem, mesmo sem déficit intelectual. Estas informações já reforçam a necessidade da orientação familiar pelo setor de psicologia durante o tratamento. Controle dos esfíncteres Atraso e dificuldade para o controle dos esfíncteres anal e vesical informam sobre lentificação do amadurecimento cerebral ou desadaptação psicossocial. Mães que treinam o controle antes do tempo biológico de amadurecimento dos centros nervosos criam situações de desenvolvimento emocional adequado. Espera-se que aos 2 anos, uma criança possa controlar seus esfíncteres durante o dia e, aos 3 anos durante a noite. Vida escolar Adaptação Aprendizagem Psicopedagogia Dificuldade para adaptação à escola e para acompanhar o desenvolvimento pedagógico da turma, deve ser investigada. É muito difícil que uma criança portadora de disfunção neuro-motora de grau moderado a grave não havendo nenhum problema de ordem intelectual. A indicação de atendimento psicopedagógico visa prevenir ou minimizar sentimentos de menos valia e incapacidade e permitir que o processo de alfabetização se viabilize. Hábitos familiares Hábitos regredidos AVD Independência Terapia ocupacional Ações do tipo: permissão para que a criança mantenha hábitos regredidos, tais como dormir no quarto ou cama dos pais, comum em situações de superproteção ao filho com dificuldade, vão prejudicar ainda mais o amadurecimento emocional e a individualização, e até interferir na vida sexual do casal (no exemplo citado). Isto é um agente facilitador da separação dos pais e desagregação familiar, que gera mais insegurança na criança já em dificuldades para crescer. É comum a não estimulação da independência nas atividades de vida diária. O atendimento em terapia ocupacional deve, além das questões perceptivas e motoras, mostrarem à mãe que este tipo de atitude leva a aumentar a passividade e dependência do filho. Identificar quem atende a criança torna-se necessário para que estas orientações possam ser repassadas para casa. História pregressa Informações sobre medicamentos usados, história clínica e cirúrgica ajudam a adequar e programar o nível de esforço físico e não impedem a tentativa de entrar em contato com outros profissionais que atendam a criança. Tratamentos realizados Saber se a criança já realizou algum tipo de terapia, qual, e por que foi suspenso, tentando identificar os fatores que levam famílias a submeter-se a inúmeros tratamentos sucessivos, interrompidos porque a busca era a cura do filho, o que não houve. Todo o esforço da equipe deve estar voltado para que a família possa adaptar-se à realidade da criança, compreendendo suas dificuldades e potencialidades (que o tratamento visa explorar ao máximo), sendo também esclarecida sobre o próprio tratamento, o que ajuda a evitar idealizações mágicas que certamente aumentarão a carga de frustração. O tratamento preconizado tem bases na neurofisiologia, cinesiologia e no desenvolvimento normal, sendo portanto, uma abordagem neuro-evolutiva. Queixa principal Observação: ao final da anamnese pode-se perguntar aos pais se deixamos de saber algo que considerem importante em relação ao filho. O que se espera é conseguir estabelecer uma relação de confiança e fazer com que se sintam seguros o suficiente para relatar sua verdadeira queixa e preocupação quanto ao futuro do filho. Muitas vezes é neste momento que a queixa principal é elaborada. EXAME FÍSICO Observação. No diagnóstico funcional, quanto menos invasivo for o exame, mais informações verídicas serão obtidas. Observar condutas espontâneas e o brincar. Palpação, movimentação passiva (balanceio), exame de força muscular e outras manobras devem ser evitadas ou postergadas para o final se objetiva-se o diagnóstico funcional. Este se baseia na observação da movimentação da criança em várias posturas. Sugere-se que o retirar da roupa não seja o primeiro ato, mesmo que sendo feito pela mãe. A criança melhor ambientada pode permitir que isto seja feito pelo examinador, que deve que deve aproveitar para verificar amplitudes articulares e tônus muscular. Como a mãe carrega o bebê. Esta observação faz-se na entrada ao consultório. A forma de segurar o bebê ou de introduzir a criança na sala pode revelar atitudes de extrema proteção, descaso ou indiferença ao conforto que o colo pode oferecer. Relação com o examinador e o meio. Observar se a criança é curiosa, se o olhar é vivo ou retrai-se ao primeiro contato, mesmo estando junto à mãe. Ao oferecer-se um brinquedo, pode-se verificar o acompanhamento ocular, tipo de alcance, pegada e manuseio. Às vezes, esta é a primeira informação sobre assimetrias e conseqüente suspeita de hemiplegia. Anotar o comportamento: passivo, hiperativo, voluntarioso, inseguro, bem como sua relação de interesse pelos objetos, explorando a criatividade (permitem inferir sobre as possibilidades de a criança fazer trocas com o meio (aprendizagem), importante para a conduta terapêutica). Estas observações poderão apontar para que, além do atendimento fisioterápico, a criança seja encaminhada a outros setores que facilitem sua relação com o meio e a família receba orientações do setor de psicologia sobre maneiras mais adequadas de lidar com suas dificuldades. Resposta auditiva e visual Estas resposta estão ligadas ao comportamento do bebê e o exame é dito como avaliação comportamental, cujo padrão de resposta já está sistematizado e publicado para conhecimento dos especialistas. Caso surjam suspeitas sobre a adequação das respostas, deve-se referenciar o paciente para o oftalmologista ou otorrinolaringologista. Na pesquisa auditiva o cuidado se faz no sentido de não se dar pistas de localização. No exame visual, o acompanhar de trajetórias deve suceder a verificação da capacidade de fixação ocular. Tônus muscular, motricidade, atividade reflexa postural O exame vai variar de acordo com a idade da criança e a gravidade do quadro motor. É preciso conhecer as etapas do desenvolvimento motor normal e os pré-requisitos que antecedem cada salto postural, desde deitado até de pé. Este conhecimento permitirá identificar o movimento anormal, incoordenado, dismétrico, pouco seletivo, globalizado, que leva a prejuízos na dinâmica e funcionalidade corporal. Em supino: observar se a criança eleva os braços para alcançar algum objeto (primeiro trimestre), junta as mãos na linha média alcança seu rosto e não manter mãos fechadas (segundo mês) movimentos restritos estão relacionados à espasticidades e a postura de abdução de coxas, a hipotonia. O atraso da cabeça em relação ao tronco, ao se puxado para sentar indica hipotonia muscular, o que assegura atenção ao controle de tronco no tratamento. Em prono: a incapacidade de lateralizar a cabeça para liberar vias e áreas indica grande grau de hipotonia e hipoatividade, estando geralmente associado a dificuldades na sucção. Nas hipertonias os membros superiores (MMSS) tendem a se posicionar posteriormente em relação aos ombros, dificultando o apoio de antebraço e sua evolução para apoio espalmado. Até o quinto mês, o quadril pode apresentar algum grau de flexão, porém sua manutenção indica um aumento do tônus, que impede a retificação contra o solo e prejudica uma adequada distribuição do peso corporal. O jogo do peso corporal alternado (direito e esquerdo) também não ocorre e, sendo um pré-requisito motor para o rolar, seu atraso prejudicará o sentar ativo. Suspensão ventral: o objetivo é verificar como o bebê posiciona-se em relação à força de gravidade. O recém-nato mantém atitude de extrema flexão corporal, resultante do predomínio do componente flexor, que gradativamente cede espaço para o componente extensor até atingir o padrão maduro, no qual não existe predomínio. Em torno do sexto mês de vida, o bebê deve ser capaz de retificar-se neste posicionamento (reação de Landau positiva), o que não ocorre nos casos de hipotonia. Nos casos de espasticidade, há predomínio no componente extensor do padrão motor. A presença de atividade reflexa postural patológica (permanência com exacerbação de resposta) dos reflexos tônico labiríntico (RTL) e tônico cervical assimétrico (RTCA) pode ser melhor observar em supino e prono sem a necessidade de manobras para induzi-los. O reflexo tônico cervical simétrico (RICS) é muito difícil de ser identificado e a presença dos anteriores já é suficiente para indicar dificuldades na maturação cerebral. Uma postura assimétrica fixa está relacionada a falta de inibição do rica, é o predomínio do componente extensor estar associado ao RTL. A presença do reflexo do moro após os dois meses também é sinal de que o amadurecimento do SNC está ocorrendo de forma adequada. Decúbitos laterais: verificar se existe um acomodamento corporal confortável a este posicionamento. Quando existe o predomínio de um componente do padrão postural, surgem dificuldades para rotação e o ajuste a esta postura fica prejudicado. Graças as rotações (mistura do padrão flexor com extensor) pode-se realizar algumas trocas posturais e desenvolver reações de equilíbrio e marcha. Sentado: Verificar a retificação do tronco e a capacidade crescente de suportar pequenos deslocamentos induzidos a partir do quinto mês. Uma criança sentada com o tronco fixo, para compensar uma hipotonia muscular, torna-se instável terá dificuldades para desenvolver as reações de equilíbrio e extensão protetora dos braços (os MMSS funcionaram mais para o apoio, dificultando a exploração manual e a sua própria funcionalidade). O peso corporal deve estar distribuído de forma simétrica. Assimetria associadas à permanência do RTCA ou hemiplegias precisam ser observadas devido ao risco do desenvolvimento de escoliose. De pé: A partir dos nove meses em média, a criança deve ser capaz de permanecer em pé com apoio. Nesta postura verifica-se a extensão do quadril; a presença de intervenção da pelve com aumento da lordose lombar pode estar associada à alteração do tônus muscular, como a que ocorre nas diplegias. Recurvato de joelhos em casos leves estão mais ligados a quadros de hipotonia muscular; nos casos graves em que isto ocorre, a espasticidade geralmente é grande nas assimetrias de quadril deve-se afastar a subluxação coxo-femural. O apoio plantar em eqüino é quase patognonimo de espasticidade, levando a uma inadequada distribuição de peso corporal, com sobre carga no ante-pé e evolução para encurtamento do tendão de Aquiles. No atendimento fisioterápico, colocar a criança de pé a partir desta idade, mesmo não havendo a possibilidade para a marcha, facilita a formação de um acetábulo menos raso, com prevenção de encurtamento músculotendinosos a postura deve ser dinâmica, com freqüência ajustes corporais e distribuição do peso ora a direita, ora a esquerda o que vai estar prejudicado na espasticidade. Deslocamentos e trocas posturais A partir do quinto mês a criança deve ser capaz de dominar o rolar, com independência crescente entre as cinturas escapular e pélvica. Um rolar em bloco, fortuito e acidental, às vezes até assustando a criança (que se vê de repente em outra posição) está ligado a desajustes do tônus muscular. Entre o sexto e o sétimo mês, ao sentar deve ser ativo, sendo importante verificar como a criança realiza essa troca postural. Se não se senta ativamente, pode-se facilitar a ação e verificar se os MMSS participam do movimento e se o apoio de mãos está correto, o que não ocorre nas hipertonias. Uma criança normal de oito meses quase que por um “ato reflexo” coloca-se sentada, postura quase domina completamente, já sendo capaz de fazer alguns deslocamentos para alcançar algum objeto. A ausência deste comportamento pode ser um sinal de alteração motora ou pode interesse pelo ambiente que a cerca. Se a criança é capaz de colocar-se de pé, deve-se verificar como isto ocorre. Os MMSS servem para um leve apoio, mais para compensar déficit nas reações de equilíbrio, ainda não totalmente desenvolvidas, de que como suporte para sustentação do peso corporal. Os MMII não devem alterar em bloco, a criança a partir de nove meses poderá dominar uma situação dinâmica no qual um dos MMII encontra-se em flexão enquanto o outro estende-se crianças com diplegias moderadas a leves são capazes de passar para posição de pé; alteração do tônus pode ser verificada pela pouca seletividade da movimentação dos MMII e o uso de MMSS para tração corporal. Em hemiplegias leves, percebe-se a predominância da passagem sempre por um dos lados, e não de forma alternada. Aos nove meses a criança pode engatinhar em padrão cruzado. Admite-se como normal variante deste padrão, desde que seja um movimento funcional. Algumas alterações tônicas leves permitem o engatinhar, mais prejudicam a boa dissociação do movimento no nível dos MMII principalmente, dos dez aos treze meses a uma evolução da marcha lateral para a marcha com apoio e, desta para marcha livre, estável e com base alargada, que até os dezoito meses devem estar bastante funcional. Exame articular As observações anteriores permitiram perceber quis articulação estão com suas amplitudes reduzidas, para um exame local detalhado e determinação da necessidade de correção cirúrgica a ser discutida com o ortopedista. A retração músculo tendinosa mais comum nos quadros de hipotonia está na fáscia lata devido à abdução das coxas em uma postura a favor da gravidade. Nos casos de espasticidade, retrações em flexão dos antebraços, na musculatura adutora de coxa e posterior de perna e coxa. Nos casos moderados a grave, a hipertonia de adutores de coxa pode desenvolver luxação do quadril e, na presença de forte reação associada de boca, ocorrer desajustes na articulação temporo-mandibular. Existe o riso de desenvolver-se escoliose nas hemiplegias e nos quadros graves com forte atividade do RTCA. Reflexos bicipital, patelar e aquileu. A hiperatividade destes reflexos e o aumento de suas área de estimulação estão ligados à alteração do tônus muscular da espasticidade. Nas crianças com hipotonia, a ausência destas respostas leva a suspeitar de outras patologias que não a disfunção neuro-motora, como a doença e Werdining-Hoffman ou as miopatias. A hipotonia, nos quadros de disfunção neuro-motora, é uma forma que deve evoluir para espasticidade, atetose ou ataxia. Quando mais longa a sua presença, mais grave será o quadro funcional, e sua permanência deverá alertar para outro tipo de patologia. Exame de sensibilidade Em crianças, este exame conduz a inúmeros erros de avaliação. Fica claro que na presença da disfunção neuro-motora, a propriocepção corporal e a percepção do movimento estarão sempre alteradas. CONCLUSÃO A seqüência proposta neste roteiro deve ser ajustada às condições do momento do exame, porque com uma criança o certo é aproveitar as oportunidades que surgem. O maior problema é identificar os casos leves e moderados, principalmente nos primeiros meses de vida, para que o encaminhamento ao atendimento especializado possa aproveitar a grande plasticidade cerebral deste período. É imprescindível ao conhecimento do desenvolvimento normal. O objetivo de uma avaliação em desenvolvimento nem sempre é alcançável ao final de uma única sessão, mas o objetivo final é o de poder: Identificar o atraso motor e a presença de sinais que indique tratar-se de uma disfunção neuro-motora, tais como a alteração do tônus muscular e a presença de atividade reflexa postural patológica que dependendo da idade ou intensidade, pode permitir a classificação do tipo clínica; Verificar o nível postural em que a criança se encontra para comparar com futuras avaliações; Avaliar-se o problema é predominante, se as outras disfunções estão associadas se ha necessidade, de referenciar a criança a outro especialista e qual seria o problema principal naquele momento; Caracterizar qual o tipo de relação que a criança estabelece com o meio e o examinador, e que tipo de participação, em princípio, pode-se esperar da família; Escolher quais os profissionais da equipe de reabilitação deverão fazer avaliações específicas de acordo com as dificuldades funcionais aportadas no exame; Organizar a reunião de equipe e discutir os resultados das avaliações, visando à conclusão funcional e propostas de atendimento, lembrando que sempre a menor número possível de terapeutas deverá atuar com a criança; Comunicar aos pais os resultados da reunião de equipe, o diagnóstico funcional e a proposta de tratamento; Entrar em contato com outros profissionais que estejam envolvidos com o paciente, visando buscar uma linguagem mais homogênea; Organizar reavaliações periódicas para acompanhar a evolução da criança. 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