Métodos de medida da constante de Planck e da função trabalho do elétron no efeito fotoelétrico Grupo 312 - Leandro Donizeti Ribeiro, Marcio Koji Umezawa, Henrique Romeo Instituto de Física – Universidade de São Paulo Disciplina FNC 0313 – Prof. Dr. Nemitala Added 27 de novembro de 2007 Resumo Neste experimento realizou-se a o estudo sobre o efeito fotoelétrico, verificando que a tensão V0 (tensão a partir da qual a corrente fotoelétrica se anula) é independe da intensidade luz e dependente do comprimento de onda da luz incidente. Estimou-se os valores da função trabalho do ânodo e da constante de Planck por três métodos distintos, cujos valores encontrados foram hA = 10,76(19) 10-34 J.s e A = 3,55(12)J por um método e hB = 7,4(22) 10-34 J.s e B = 2,7(14)J para outro método, e finalmente hC = 7,6(27) 10-34 J.s e C = 2,6(16)J por um terceiro método. Introdução [1] O objetivo deste experimento é a caracterização do efeito fotoelétrico e a medida da constante de Planck com auxílio de uma célula fotoelétrica, através da obtenção da constante de Planck e da função trabalho do elétron, por meio de três métodos de análise de dados. existência de um limiar de freqüências para a ocorrência do efeito. Mesmo com polarização direta dos eletrodos, a corrente fotoelétrica permanece nula para luz incidente de freqüência abaixo de certo valor, independente da intensidade da luz incidente. Outra característica do fenômeno é que não há nenhum intervalo de tempo entre a incidência da luz e o aparecimento da corrente fotoelétrica. O fenômeno fotoelétrico é conhecido como a ejeção de elétrons provocada pela incidência de radiação eletromagnética sobre algum material. A observação deste fenômeno levaria muitos anos depois ao desenvolvimento da teoria corpuscular da luz, desenvolvida por Einstein em 1905 exatamente para explicar este efeito. O instrumento utilizado nesse experimento é esquematizado na figura 1: Figura 2 – Gráfico de corrente fotoelétrica por tensão para diferentes intensidades luminosas de mesmo comprimento de onda. Figura 1 – Esquema básico da fotocélula. Iluminando-se o catodo c com luz de uma lâmpada de mercúrio pode-se então coletar os elétrons emitidos pelo catodo no anodo a. Mantendo-se uma diferença de potencial suficientemente grande entre o anodo e o catodo, observa-se que a chamada corrente fotoelétrica é proporcional à intensidade de luz incidente no catodo. Diminuindo-se a tensão, a partir de certo valor, a corrente começa a diminuir. Para polarização reversa (catodo+ e anodo-), a corrente continua a diminuir com o aumento da tensão, permanecendo nula para valores de tensão reversa maiores que um dado valor V0, como visto na figura 2. Observa-se também que o valor de V0 é proporcional à freqüência da luz incidente. Outra observação corresponde à da Sabendo-se que são emitidos elétrons da superfície metálica, pode-se então associar o potencial reverso V0 para o qual cessa a corrente com a energia máxima dos elétrons emitidos. V0 é chamado potencial de freamento e a energia máxima dos elétrons emitidos é dada por: ECmáx eV0 (1) No efeito fotoelétrico, um único fóton interage com um elétron, sendo completamente absorvido por este, que após a interação terá uma energia cinética: EC0 h (2) Após receber esta energia pela interação com o fóton, o elétron deve ainda perder alguma energia até escapar da superfície do metal. A energia cinética do elétron ejetado do metal será, portanto: EC EC0 h (3) onde é o trabalho realizado para arrancar o elétron do metal. Esta energia depende das condições em que a interação se deu. Aqueles que, após a interação não perdem nenhuma energia extra, mas somente a energia necessária para vencer a barreira de potencial existente na superfície dos metais, conhecida como função de trabalho (), terão energia cinética máxima. Portanto a energia cinética máxima dos elétrons emitidos será dada por: ECmáx eV0 h (4) cores, igualou-se a intensidade destas com as demais medidas e para que incidisse na fotocélula apenas o comprimento de onda desejado, já que nessa região tem-se também o espectro de segunda ordem da luz ultravioleta. Inicialmente, para verificar se há algum intervalo de tempo entre a incidência da luz e o aparecimento da corrente fotoelétrica, interrompeu-se e reiniciou-se rapidamente o fluxo de luz incidente sobre a célula fotoelétrica utilizando um pequeno anteparo opaco. A corrente elétrica foi verificada através da leitura do amperímetro analógico. Nenhum atraso foi verificado. O software utilizado (Fe32) na obtenção dos gráficos de corrente por tensão apresentava, para os valores de corrente, uma incerteza que representava o desvio padrão da média dos valores medidos de corrente para cada valor de tensão. Estes valores eram dados numa escala de 0 a 255, e era necessário convertê-los de acordo com o fundo de escala do amperímetro. O mesmo acontece com os valores de tensão, porém a conversão é feita através da relação entre a tensão medida com um multímetro e os valores apresentados pelo software, como mostrado na figura 4: Procedimento experimental Figura 3 – Aparato experimental. O arranjo experimental foi composto por uma fotocélula, um pico-amperímetro, um multímetro, uma lâmpada de mercúrio com uma lente difratora e uma fonte de tensão variável do tipo rampa. A fotocélula consiste de uma ampola de vidro contendo um catodo e um ânodo em vácuo. Foi utilizado também um sistema de aquisição que consiste num conversor analógico digital (ADC) ligado a interface paralela de um microcomputador para a aquisição dos dados. O ADC tem como função converter a tensão de entrada em um número binário e depois enviá-lo ao computador. Monitorou-se também a corrente fotoelétrica através de um amperímetro que enviava um sinal de tensão proporcional a corrente para uma segunda entrada no ACD. Instantaneamente o software de aquisição construía na tela um gráfico de corrente versus tensão. A fonte "rampa" fornecia uma tensão que crescia linearmente com o tempo, até atingir uma tensão máxima fixada de aproximadamente 4 volts. O arranjo foi alinhado de maneira que o feixe de luz incidente sobre a célula fotoelétrica tivesse um único comprimento de onda (). Foi tomado um cuidado extra para os comprimentos de onda correspondentes ao verde e ao amarelo do espectro de emissão do mercúrio (Hg). Utilizando-se filtros de luz correspondente a estas Tensão Medida com o Multímetro (V) Para a realização do experimento montou-se o seguinte arranjo esquematizado na figura 3: 5 4 3 2 1 0 0 50 100 150 200 250 Canal de Tensão do Software Figura 4 – Gráfico para conversão dos valores de tensão de canais para volts. Portanto, para a incerteza da corrente, foi usada a incerteza combinada entre o valor dado pelo software e sua resolução (1 canal). Para a tensão, foi utilizada a resolução do software (1 canal de incerteza), combinados com os coeficientes da reta utilizada na conversão. Para verificação do fenômeno da independência com a intensidade de luz, iluminou-se a célula fotoelétrica com a linha violeta do espectro e aplicou-se uma tensão nas placas de forma a frear os elétrons. A tensão foi aumentada gradativamente através da fonte rampa. O procedimento descrito acima foi repetido para atenuadores que permitem a passagem de 100, 80, 60, 40 e 20% da luz incidente, como mostrado na figura 5. método (A) consistia em subtrair das curvas de corrente medidas a corrente de fuga e a corrente do anodo e tomar como valor de V0 o primeiro ponto que estava com pelo menos 3 incertezas de proximidade com o valor zero; O segundo método (B) consistia em se subtraírem as mesmas correntes de fuga e do anodo, porém agora o valor de V0 era tomado extrapolando-se a reta dos primeiros pontos da curva. O último método (C) consistia em encontrar uma reta tangente à curva no ponto onde a corrente é zero, agora utilizando os dados sem subtrair corrente de fuga e de anodo, e extrapolar uma reta para os últimos pontos abaixo da corrente igual a zero. Os métodos A, B e C estão esquematizados nas figuras 7 e 8: 0,3 Violeta (100%) Violeta (80%) Violeta (60%) Violeta (40%) Violeta (20%) Corrente (pA) 0,2 0,1 0,0 -0,1 -4 -3 -2 -1 Tensão (V) Figura 5 – Gráfico de corrente fotoelétrica por tensão para diferentes intensidades luminosas do Violeta. Foi plotado também um gráfico utilizando diferentes comprimentos de onda do espectro de Hg, como mostra a figura 6: 0,3 Violeta Azul Verde Amarelo Corrente (pA) 0,2 0,1 Figura 7 – Métodos A e B. 0,0 -0,1 -0,2 -4 -3 -2 -1 Tensão (V) Figura 6 - Gráfico de corrente fotoelétrica por tensão para diferentes comprimentos de onda. O gráfico da figura 5 mostra as diferentes intensidades para um mesmo comprimento de onda. Vê-se que todas as linhas se cruzam no mesmo ponto, onde a corrente é zero, e que apartir de dado valor abaixo de zero, todas são paralelas. Já o gráfico da figura 6 mostra que os diferentes comprimentos de onda têm valores distintos de V0 para corrente igual a zero. Isso mostra que o valor de V0 não depende da intensidade da luz, e sim somente do comprimento de onda do feixe de luz que atinge a fotocélula. Vê-se também pelos gráficos que o ponto de corte da corrente é suave, e não faz uma “quina”, como é esperado, devido a efeitos da temperatura da fotocélula. Adquiriram-se gráficos para os espectros verde, amarelo, azul e violeta. Com tais gráficos determinou-se a tensão V0 que corresponde à energia cinética máxima dos fotoelétrons para cada espectro. A tensão V0 foi determinada através de três métodos: O primeiro Figura 8 – Método C. Então obteram-se os seguintes valores para a constante de Planck (h) e para a função trabalho () nos três métodos: Resultados Após serem aplicados os métodos A, B e C para obtenção de V0 para quatro comprimentos de onda do espectro de Hg (violeta, azul, verde e amarelo), encontraram-se os seguintes resultados: Método A h (10 -34 Js) 10,76 0,19 J) 3,55 0,12 Js) 7,4 2,2 J) 2,7 1,4 h (10-34 Js) 7,6 2,7 (10 2,6 1,6 (10 Método C Método B Método A -19 (volts) Violeta Azul Verde Amarelo V0 (volts) 2,72 2,45 1,51 1,21 (volt) Violeta Azul Verde Amarelo V0 (volt) 1,61 1,56 0,81 0,72 (volts) Violeta Azul Verde Amarelo V0 (volts) 1,85 1,65 1,00 0,82 0,02 0,02 0,02 0,02 Método B h (10 -34 (10 -19 Método C 0,33 0,20 0,26 0,23 -19 Discussão 0,48 0,29 0,23 0,21 Tabela 1 – Valores calculados de V0 e incertezas para os três métodos. Para cada método foi traçada uma reta de V0 em função da freqüência de cada linha do espectro de Hg, como exemplificado na figura 9. 3,0 2,8 2,6 Não foi verificado um possível atraso na emissão dos fotoelétrons, já que a variação da corrente medida no amperímetro, conforme o feixe era obstruído ou desobstruído, era aparentemente instantânea, isso esta em desacordo com a teoria clássica da luz que prevê um atraso perceptível na emissão dos fotoelétrons. Através da figura 5, observa-se que o aumento da intensidade resulta em um aumento da corrente fotoelétrica. Tal fato é previsto pela teoria que diz que o aumento da intensidade implica no aumento do número de fótons incidentes, e conseqüentemente no aumento do número de elétrons ejetados. Entretanto o potencial V0 não depende da intensidade. Este resultado contraria a teoria clássica que prevê um aumento em V0 quando é aumentada a intensidade de luz incidente. Observa-se também que existe um valor de saturação da corrente elétrica para valores de tensão aceleradora. Isto porque alguns dos elétrons têm energia para serem ejetados do cátodo, mas não possuem energia suficiente para atingir o ânodo. Conforme a tensão aceleradora aumenta o número de fotoelétrons que atinge o cátodo também aumenta, até um limite em que mesmo aumentando a tensão aceleradora à corrente fotoelétrica permanece constante (corrente de saturação). 2,4 Tensão V0 (volt) J) Tabela 2 – Valores calculados da constante de Planck e função trabalho do elétron e incertezas para os três métodos. 2,2 2,0 1,8 1,6 1,4 1,2 1,0 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 14 7,5 8,0 -1 Frequência (10 s ) Figura 9 – Gráfico que relaciona V0 com a freqüência das diferentes linhas do espectro de Hg. Usando a equação 4, pode-se relacionar o coeficiente angular dessa reta (a) e o coeficiente linear (b) da seguinte forma: a b h e e Na figura 6 verifica-se que, mudando a freqüência utilizada, o potencial de corte é alterado, estando de acordo com a equação 4, novamente observou-se a saturação da corrente para tensões aceleradoras. Posteriormente, foi possível determinar a constante de Planck e o valor da função trabalho, sendo os valores encontrados iguais a: hA = 10,76(19) 10-34 J.s e A = 3,55(12)J pelo método A; hB = 7,4(22) 10-34 J.s e B = 2,7(14)J para o método B; e hC = 7,6(27) 10-34 J.s e C = 2,6(16)J para o método C. Comparando os métodos, vemos que o método A apresentou um valor para a constante de Planck muito grande, incompatível com o valor encontrado na literatura (6,63x10-34), mostrando que não se pode ignorar os efeitos da temperatura da fotocélula; os métodos B e C nos mostram valores da constante de Planck compatíveis com a literatura, porém com valores de incerteza muito grandes devido aos diversos ajustes de reta necessários para se obterem os valores finais. Conclusão Neste experimento verificou-se o aparecimento instantâneo de corrente fotoelétrica quando a fotocélula é iluminada. Verificou-se também a dependência da tensão V0 com a freqüência da luz incidente e não com a intensidade da luz, como previa a teoria clássica. Observou-se que quanto maior a intensidade da luz incidente maior a corrente fotoelétrica medida. Tais fatos caracterizam o efeito fotoelétrico e, portanto, evidenciam o caráter corpuscular da luz. Assumindo a validade da teoria sobre o efeito fotoelétrico, determinou-se o valor da constante de Planck e da função de trabalho do ânodo, utilizando os valores de V0 estimados nos três métodos de análise. O primeiro método mostrou que não se pode ignorar a influência da temperatura da fotocélula, os outros dois métodos apresentaram incertezas muito grandes, da ordem de 30% dos valores medidos, acarretados pela propagação de incertezas, já que envolveram diversos ajustes de reta. Referências [1] V. Ribas-Estrutura da matéria (Notas de aula). http://www.dfn.if.usp.br/~ribas/download.html [2] Apostila da disciplina de Física Experimental V (Estrutura da matéria)– FNC-313 – Efeito Fotoelétrico, IFUSP, 2005. [3] Página Web da disciplina. http://www.labdid.if.usp.br/~estrutura [4] Melissinos, Experiments in Modern Physics [5] Microcal Origin – Gráficos e ajustes de pontos experimentais. http:/ /www.microcal.com [6] J. H. Vuolo, Fundamentos à teoria de erros, 2º edição – Editora Edgard Blücher.