Solenidade da Ascensão do Senhor - Ano B Atos dos Apóstolo 1,1-11 Salmos 47,2-3.6-7.8-9. Efésios 1,17-23. Marcos 16,15-20. Texto Bíblico Marcos 16,15-20 Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15 e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17 Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18 se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 19 Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. 20 Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam. Lectio divina Depois que o Senhor Jesus apareceu a seus discípulos foi elevado ao céu. Este acontecimento marca a transição entre a glória de Cristo ressuscitado e a de Cristo exaltado à direita do Pai. Marca também a possibilidade de que a humanidade entre no Reino de Deus como tantas vezes Jesus anunciou. Desta forma, a ascensão do Senhor se integra no Mistério da Encarnação, que é seu momento conclusivo. A Ascensão de Cristo é também o ponto de partida para começar a ser testemunhas e anunciadores de Cristo exaltado que voltou ao Pai para sentar-se à sua direita. O Senhor glorificado continua presente no mundo por meio de sua ação nos que crêem em sua Palavra e deixam que o Espírito atue interiormente neles. O mandato de Jesus é claro e vigente: "Ide a todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda a criatura". Por isso, a nova presença do Ressuscitado em sua Igreja faz com que seu seguidores constituam a comunidade de vida e de salvação. vv. 15-18. A primeira nota do envio e do mandato que Jesus dá aos discípulos é a da universalidade… A missão dos discípulos destina-se a “todo o mundo” e não deverá deter-se diante de barreiras rácicas, geográficas ou culturais. A proposta de salvação que Jesus fez e que os discípulos devem testemunhar destina-se a toda a terra. Neste breve discurso de missão podemos individuar três núcleos: 1. Envio dos discipulos, eles devem continuar a missão do Mestre, são mandados a proclamar o Evangelho não somente na Galiléia, mais no mundo inteiro (v 15). 2. O anúncio provoca decisão: crer ou não crer. A Pregação de Jesus levam as pessoas a uma resposta de fé, assim também a pregação dos discípulos deve levar as pessoas à adesão da fé. “Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado” (v 16). 3. Os sinais que acompanham os missionários, aos que aderem ao projeto de Deus podem fazer a mesma coisa que Jesus fez. Os discípulos agem não sozinhos, mas com a força de Cristo (vv. 1718). vv. 19. Esse versículo mostra o fim do caminho de Jesus depois de falar com os seus discipulos. Ele é elevado aos céus sentando-se à direita de Deus. A intronização de Jesus “à direita de Deus” mostra, por sua vez, a veracidade da proposta de Jesus. Na concepção dos povos antigos, aquele que se sentava à direita de Deus era um personagem distinto, que o rei queria honrar de forma especial… Jesus, porque cumpriu com total fidelidade o projeto de Deus para os homens, é honrado pelo Pai e sentado à sua direita. A proposta que Jesus apresentou, que os discípulos acolheram e que vão ser chamados a testemunhar no mundo, não é uma aventura sem sentido e sem saída, mas é o projeto de salvação que Deus quer oferecer aos homens. v. 20. descreve resumidamente a ação missionária dos discípulos: eles partiram deixarando para trás as seguranças, afetos humanos por causa da missão a pregar o Evangelho, à anunciar com palavras e com gestos concretos essa vida nova que Deus ofereceu aos homens através de Jesus indo por toda a parte propondo a todos a proposta salvadora de Deus. Apêndice Dos padres da Igreja "Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai" "O Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, subiu aos Céus e está sentado à destra de Deus" (Mc 16, 19); "no quadragésimo dia de sua ressurreição subiu aos Céus com a carne em que ressuscitou e com a alma". Ascendeu "por seu próprio poder", poder que tinha como Deus e também poder de sua alma glorificada sobre seu Corpo glorioso. "Aquele que tudo criou, subiu acima de tudo e por seu próprio poder". "Estar sentado" é uma maneira de dizer que chegou ao respouso que merece como guerreiro vencedor. É a postura do Rei e do Juiz, cheio de poder e magestade. A Ascensão de Cristo ao Céu, entre outras coisas, nos move a busca sempre as coisas essenciais, que são invisíveis aos olhos do corpo, e que são aquelas coisas que não passam e não morrem: "Aspirai as coisas do alto onde está Cristo... Provai as coisas do alto, não as da terra", dizia o apóstolo São Paulo aos primeiros cristãos (Col 3, 1-2). A Ascensão do Senhor deve nos encher de inabalável esperança, já que nos assegurou: "Na casa do meu Pai há muitas moradas... Eu lhes prepararei um lugar... Voltarei novamente e vos levarei comigo, para que onde eu estou estejais também vós" (Jo 14, 2-3). Somos cidadãos do Céu! (Fl 3, 20). E como os apóstolos, que após a Ascensão ficaram "olhando para o céu", devemos ter "o olhar fixado nele..." (At 1,10). Á direita do Pai "Sentou-se à direita da Magestade nas alturas" (Hb 1, 3), segundo São João Damasceno refere-se à "glória e honra da divindade", ou seja, significa que Cristo reina junto com o Pai e, além dissi, tem o poder judicial sobre vivos e mortos. O saber que o Senhor está junto do Padre deve nos fazer crescer, de maneira imensurável, nossa confiança nele: "Tudo posso naquele que me conforta" (Fl 4,13), deve dizer um jovem junto com São Paulo e com ele também aquela outra expressão de confiança total: "Sei em quem me confiei!" (2 Tm 1,12). Catecismo da Igreja Católica A Ascensão do Senhor aumenta nossa fé Cristo, em sua humanidade santíssima, já chegou à glóriaa, essa glória que, até o momento, é aurora para o resto da humanidade. Ainda não podemos experimentá-la, mas cremos firmemente nela. De fato, a esperança nesse reino induziu tantos homens, depois de Cristo, a entregar sua vida, sem temer a morte; homens que conformam uma constelação quase infinita de jóias na história da Igreja: são os mártires. Mas não só os mártires; na realidade, todos estamos chamados a uma única santidade e todos devemos viver com os olhos de nosso coração voltados para o céu porque "passa a figura deste mundo" e logo seremos "recebidos na paz e na suma bem-aventurança, na pátria que brilhará com a glória do Senhor". (Gaudium et spes, 93). Assim como na solenidade de Páscoa a ressurreição do Senhor foi para nós causa de alegria, assim também agora sua ascensão ao céu nos é um novo motivo de alegria, ao lembrar e celebrar liturgicamente o dia em que a pequenez de nossa natureza foi elevada, em Cristo, acima de todos os exércitos celestiais, de todas as categorias de anjos, de toda a sublimidade das potestades, até compartilhar o trono de Deus Pai. Fomos estabelecidos e edificados por este modo de atuar divino, para que a graça de Deus se manifestasse mais admiravelmente, e assim, apesar de ter sido afastada da vista dos homens a presença visível do Senhor, pela qual se alimentava o respeito dele para com Ele, a fé se mantivesse firme, a esperança inabalável e o amor aceso. Nisto consiste, com efeito, o vigor dos espíritos verdadeiramente grandes, isto é o que realiza a luz da fé nas almas verdadeiramente fiéis: crer sem vacilar no que nossos olhos não vêem, ter fixo o desejo no que não pode alcançar nosso olhar. Como poderia nascer esta piedade em nossos corações, ou como poderíamos ser justificados pela fé, se nossa salvação consistisse apenas no que nos é dado ver? Assim, todas as coisas referentes a nosso Redentor, que antes eram visíveis, passaram a ser ritos sacramentais; e, para que nossa fé fosse mais firme e valiosa, a visão foi substituída pela instrução, de modo que, em diante, nossos corações, iluminados pela luz celestial, devem apoiar-se nesta instrução. Esta fé, aumentada pela ascensão do Senhor e fortalecida com o dom do Espírito Santo, já não se abate pelas correntes, a prisão, o desterro, a fome, o fogo, as feras nem os refinados tormentos dos cruéis perseguidores. Homens e mulheres, crianças e frágeis donzelas lutaram em todo o mundo por esta fé, até derramar seu sangue. Esta fé afugenta os demônios, cura doenças, ressuscita os mortos. Por isso os próprios apóstolos, que, apesar dos milagres que haviam contemplado e dos ensinamentos que haviam recebido, se acovardaram diante das atrocidades de paixão do Senhor e se mostraram arredios em admitir sua ressurreição, receberam um progresso espiritual tão grande da ascensão do Senhor, que tudo o que antes era motivo de temor tornou-se motivo de gozo. É que seu espírito estava agora totalmente elevado pela contemplação da divindade, do que está sentado à direita do Pai; e ao não ver o corpo do Senhor podiam compreender com maior claridade que aquele não havia deixado o Pai, ao descer à terra, nem havia abandonado seus discípulos, ao subir aos céus. Então, amadíssimos irmãos, o Filho do homem mostrou-se, de um modo mais excelente e sagrado, como Filho de Deus, ao ser recebido na glória da magestade do Pai, e, ao afastar-se de nós por sua humanidade, começou a estar presente entre nós de um novo modo e inefável por sua divindade. Então nossa fé começou a adquirir um maior e progressivo conhecimento da igualdade do Filho com o Pai, e a não necessitar da presença palpável da substância corpórea de Cristo, segundo a qual é inferior ao Pai; pois, subsistindo a natureza do corpo glorificado de Cristo, a fé dos fiéis é chamada onde poderá tocar ao Filho único, igual ao Pai, não mais com a mão, mas mediante o conhecimento espiritual. Dos Sermões de São Leão Magno, Papa Ninguém, subiu ao céu senão aquele que veio do céu "Hoje nosso Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também como Ele nosso coração. Ouçamos o que nos diz o Apóstolo: Se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à destra de Deus. Ponde vosso coração nas coisas do céu, não nas da terra. Pois, do mesmo modo que ele sufiu sem por isso afastar-se de nós, assim também nós estamos já com ele, embora ainda não se tenha realizado em nosso corpo o que nos foi prometido. Ele foi elevado ao mais alto dos céus; entretanto, continua sofrendo na terra através das fadigas que experimentam seus membros. Assim o testificou com aquela voz vinda do céu: Saulo, Saulo, por que me persegues? E também: Tive fome e me destes de comer. Por que não trabalhamos nós também aquí na terra, de maneira que, pela fé, a esperança e a caridade que nos unem a ele, descansemos já com ele nos céus? Ele está ali, mas continua estando conosco; nós, estando aqui, estamos também com ele. Ele está conosco por sua divindade, por seu poder, por seu amor; nós, embora nao possamos realizar isto como ele pela divindade, podemos pelo amor a ele. Ele, quando desceu até nós, não deixou o céu; tampouco nos deixou, ao voltar ao céu. Ele mesmo assegura que não deixou o céu enquanto estava conosco, posto que afirma: Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. Isto diz em virtude da unidade que existe entre ele, nossa cabeça, e nós, seu corpo. E ninguém, exceto ele, poderia dizer isso, já que nós estamos identificados com ele, em virtude de que ele, por nossa causa, fez-se Filho do homem, e nós, por ele, fomos feitos filhos de Deus. Neste sentido diz o Apóstolo: Assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, a pesar de serem muitos, são um só corpo, assim também é Cristo, Não diz: "Assim é Cristo", mas: Assim também é Cristo. Portanto, Cristo é apenas um corpo formado por muitos membros. Desceu, pois, do céu, por sua misericórdia, mas já não subiu sozinho, que nós subimos também nele pela graça. Assim, pois, Cristo desceu sozinho, mas já não ascendeu ele sozinho; não é que queremos confundir a divindade da cabeça com a do corpo, mas sim, afirmamos que a unidade de todo o corpo pede que este não seja separado de sua cabeça." Dos Sermões de Santo Agostinhon, bispo (Sermão Mai 98, Sobr la Ascensão ol Senhor, 1-2; PLS 2, 494-495)