Segunda Guerra Mundial(Holocausto)

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Holocausto
13
Genocídio
A destruição das minorias raciais
As tampas, em forma de cogumelo, dos tubos ventiladores das câmaras da morte que pontilhavam o verdejante
gramado eram retiradas e as cápsulas de cianureto desciam através deles. Depois de algum tempo, os infelizes nelas
confinados, ao efeito do gás mortífero, atiravam-se endoidecidos contra a porta de saída, buscando inutilmente a fuga. A
morte levava de cinco a quinze minutos, depen-dendo das condições atmosféricas.
Ward Rutherford
Uma ciência nova e pervertida
Esta é a narrativa da escalada do doloroso tratamento dispensado pelos alemães aos judeus, do anti-semitismo, parte
integrante do dogma do Partido Nacional-Socialista, à aplicação implacável do que Hitler chamou "Solução Final".
Terminada a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha, cheia de frustrações e descontentamentos, oferecia todas as
condições para a semeadura do racismo. Judeus e bolchevistas ali estavam para servir de bodes expiatórios dos reveses
por ela sofridos, e a atribuição do fracasso às maquinações e atividades subversivas desses grupos ajudou a tornar mais
aceitável, por muitos alemães, o problema que tais reveses criaram. O Partido Nacional-Socialista - em si mesmo produto
da reação nacional à derrota e ao caos econômico do pós-guerra - divulgou, em fevereiro de 1924, um manifesto em que
formulou em linguagem muito clara a doutrina racista que adotaria. A cidadania alemã, segundo o manifesto, só deveria
ser concedida aos de sangue alemão, especificando que, portanto, nenhum judeu seria um nacional. Mesmo antes da
publicação do manifesto do partido, Hitler já havia tornado público o sentimento anti-semita que alimentava. O Mein
Kampf (Minha Luta), escrito durante o período de reclusão que cumpriu após o fracassado putsch de Munique, de 1923,
acusava francamente os judeus de haver contribuído para o solapamento do esforço de guerra da Alemanha.
Com o ódio aos judeus colocado como parte integrante da filosofia nazista, seguia-se que os primeiros a esposar a
causa nacional-socialista seriam os que compartilhassem do anti-semitismo fanático de Hitler, porque, no momento, o
partido não era tão bem sucedido a ponto de atrair seguidores ansiosos por ingressar nele. Um dos elementos da "primeira
geração" nazista que mais dispostos se mostraram a adotar o absurdo da superioridade racial nórdica foi Heinrich Himmler.
Desenvolvendo inicialmente uma atividade não-remunerada dentro do partido, Himmler acabou recompensado com
um cargo remunerado e, mais tarde, foi indicado para o cargo aparentemente insignificante de subcomandante das SS,
pequeno grupo integrante das onipotentes SA de Ernst Röhm. Esse grupo, no começo insignificante, aumentaria e
obscureceria com sua sombra sinistra o grupo em cujo seio colheu a cevadura que lhe deu força sos tentáculos para dominar
os instrumentos de poder do
estado totalitário.
Hermann Goering na realidade criou a infame Polícia Secreta do Estado, ou Gestapo, e inaugurou, em 1933, os campos
de concentração para onde os desgraçados rotulados de inimigos do estado eram levados sem-cerimoniosamente. Mas foi
Himmler quem assumiu afinal o controle dessas organizações de terror e de morte. Quando Himmler criou o Departamento
de Inteligência das SS (o SD), indicou Reinhard Heydrich, um jovem de aparência nórdica e força física satisfatória, a
verdadeira antitese do próprio Reichsführer-SS, para o chefiar. Estes dois homens se completavam; um permanentemente
preocupado em inventar teorias raciais malucas, o outro perseguindo sempre o poder pessoal e a autoglorificação. Eles
faziam uma dupla formidável, e, bem servidos por homens como Adolf Eichmann, os dois puseram-se a aplicar a selvagem
política racial do Führer, megalomaníaco e insensível.
Semanas depois que Hitler subiu ao poder, em 1933, os judeus ocupantes de cargos públicos começaram a ser
implacavelmente removidos, e os profissionais liberais e homens de negócios judeus, a ser boicotados e hostilizados. Daí
por diante, a perseguição a esses infelizes ganhou velocidade incontrolável, passando da hostilização ao aviltamento, à
prisão e deportação, chegando à "Solução Final" - o aniquilamento total. À medida que as conquistas da Alemanha
aumentavam, também aumentava o número de judeus que caíam nas garras das SS de Himmler. O gráfico das mortes de
judeus apresentava uma tendência ascendente constante.
Para acompanhar o fluxo crescente de vitimas, fazia-se necessário o aperfeiçoamento dos métodos de executá-los. Na
primavera de 1942, as câmaras de gás de Auschwitz-Birkenau começaram a funcionar, cada qual com capacidade de
aplicar a "Solução Final" a 2.000 desgraçados de cada vez. O gás era introduzido nas câmaras lançando-se cristais de
Zyklon B nos tubos dos ventiladores e os corpos das vítimas eram depois levados sos fornos nos crematórios das
proximidades. O funcionamento da usina da morte adquiria um ar de irrealidade com a música de Lehar e Strauss
executada, durante a horrenda operação, por uma orquestra de vitimas potencisis. Os nomes dos campos de concentração
- Treblinka, Sobibor, Majdanek, Belsec, Chelmno, Dachau, Dora, Mauthausen, Ravensbrück, Sachsenhausen e
Buchenwald - tornaram-se sombriamente evocativos, fazendo-nos recordar as filmagens feitas pelas autoridades aliadas
desses campos à medida que eram tomados, registrando para a posteridade a terrível condição de prisioneiro político do
Terceiro Reich: figuras esqueléticas, envoltas em farrapos, que mal se distinguiam dos seus camaradas mortos;
sobreviventes quase incapazes de compreender que finalmente haviam sido "libertados".
Esses homens são as glórias de batalha das unidades da "Caveira" das SS, criadas para povoar de sombras os
inacreditáveis campos de concentração, sombras que eram homens, mulheres e crianças de raças "inferiores", expiando
crimes não cometidos, condenados à morte por acidente de nascimento.
Mesmo com tantos campos trabalhando febrilmente para executar as ordens do Führer, era difícil acompanhar o ritmo
de chegada dos trens carregados de infelizes trazidos de toda parte da Europa; e assim as vítimas eram obrigadas a sofrer
a indignidade levada ao absurdo, a promiscuidade mais cruciante, até serem amontoadas nas câmaras de gás. Apinhadas,
com as mãos para o alto e com criancinhas jogadas em cima delas, as vítimas eram maltratadas até o último instante de
vida.
Como o autor observa, a perseguição sos judeus não era novidade. Por toda a História, a raça judaica tem sido alvo de
medidas discriminatórias - muitas vezes com total apoio da lei - nalguns países, havendo exemplos, anteriores a Hitler, de
massacres dirigidos contra ela. Mas os seguidores de Hitler acrescentaram outra dimensão a essas medidas. Enquanto os
excessos a que nos referimos, cometidos antes de Hitler, foram perpetrados em clima de exaltação de ânimo, em hora de
aturdimento, Himmler, Heydrich e gente da sua espécie levaram a efeito o genocídio calma, desumana e friamente
planejado. Milhões de judeus morreram nos campos de concentração da Alemanha nazista, vitimas de uma pervertida
forma de ver as razões por que aqui estamos.
Os predecessores dos nazistas
Por certo, nada justifica melhor a famosa definição de "História", de Gibbons, para quem ela é "pouco mais do que o
registro dos crimes, loucuras e desgraças da humanidade", do que o tratamento das minorias judaicas. Durante quase 2.000
anos os não-judeus têm demonstrado gratidão àqueles que lhes deram uma visão única da sua relação com o Infinito, e
que proporcionaram o meio, intelectual e geográfico, para o nascimento do Cristianismo, por perseguições que, com o
correr dos séculos, só têm mudado no fato de que cresceram em magnitude e engenhosidade. Como Bernard Levin
escreveu recentemente, ao fazer a crítica de um livro sobre esses dois milênios, enquanto que a maioria das religiões e
povos tem sido perseguida por alguém em determinado momento "somente os judeus sempre foram perseguidos por todo
o mundo".
Mas se a civilização cristã e pós-cristã tem demonstrado uma distinção peculiar nesse aspecto, a raça já vinha sofrendo
muito antes do nascimento de Cristo. Ela conheceu a ocupação da sua nação-estado praticamente desde o seu surgimento;
seu povo sofreu deportação e exílio forçado, sob os assírios, egípcios e babilônios. Tentativas de obrigá-los a abandonar
seu Deus único em troca do panteão do estado foram feitas por quase todos esses opressores e, mais tarde, pela Grécia e
por Roma. Esforços nesse sentido, feitos por Antioco III, o selêucida, levaram à bem sucedida rebelião de Judas Macabeu
em 167 a.C.
Quando Tibério se tornou imperador, em 14 d.C., sua política para com os membros judeus do Império Romano se
assemelhava à de Hitler: "o extermínio de toda a raça judia". Os romanos escandalizaram-se com a desfaçatez de uma
pequenina nação que se atrevia a considerar sua religião superior à deles.
No ano 30 d.C., o Sinédrio, Supremo Tribunal Judeu, perdeu a jurisdição sobre seu próprio povo. Em 70 d.C., o Templo
de Jerusalém foi destruído por Tito, após uma revolta judia. No ano 132 d.C. teve início a rebelião de Bar-Cochba, que foi
impiedosamente sufocada pelos romanos. Esta revolta, a última que os judeus tentaram contra um algoz estrangeiro até o
levante do gueto de Varsóvia, em 1943, levou os romanos a expulsa-los de Jerusalém, destruindo totalmente a cidade.
A expulsão dos judeus de Jerusalém é em geral considerada o começo do período da Diáspora, ou dispersão. Na
verdade, sob o estímulo das constantes perseguições em sua pátria, comunidades judias já haviam emigrado para outros
países.
Se, contudo, os romanos achavam que á nação judia e seu povo haviam desaparecido da face da terra, estavam
enganados. Um ou dois anos após a queda da sua capital religiosa e política, um desastre do tipo que precedera o eclipse
total de outras nações, os judeus tornaram a reunir-se em torno de sua fé. Um novo centro foi iniciado em Jamnia, na costa
mediterrânea, onde novas escolas rabínicas foram fundadas e onde o Sinédrio foi restabelecido.
Mas, estes não eram senão grupos e, como o povo exilado de uma nação reprimida, os judeus buscavam um santuário
onde quer que pudessem encontrá-lo. Eles normalmente eram bem recebidos, até que Constantino fez do cristianismo
religião do Império Romano. Quando o império se dividiu, os judeus perderam todos os privilégios que lhes haviam sido
concedidos na Europa Ocidental. A principio, não havia intenção de separá-los, mas apenas cuidar para que os postos
importantes fossem ocupados por professantes da fé recém-adotada. Contudo, nos séculos seguintes, a perseguição de
parte dos cristãos se tornaria tão generalizada, tão diversa nas suas formas, que não existe um só aspecto da tirania nazista
para o qual não se encontrem exemplos anteriores.
Cada vez mais separados dos seus semelhantes, os judeus foram transformados num painel em que os vícios humanos
estavam todos representados. Eles eram deicidas (não haviam eles permitido a crucificação de Cristo?); eram os
envenenadores de poços; eram infanticidas, repetindo a crucificação em crianças cristãs batizadas e usando seu sangue
para fazer o Pão da Páscoa.
O ponto de vista da Igreja Católica é adequadamente resumido numa série de oito sermões feitos por São João
Crisóstomo em 387. Os judeus, afirmou ele, eram carnais, lascivos, avarentos; eram bêbados, bordeleiros e criminosos.
Sua opinião, e outras idênticas, encontraram eco pelos séculos afora, e foi esposada por muitos líderes cristãos. Há os que
procuram explicar o anti-semitismo com razões de ordem econômica - pura manifestação de inveja dos que têm sofrido a
competição dessa minoria em geral diligente e talentosa. A História absolutamente não apóia esse ponto de vista. A
perseguição aos judeus era fomentada do alto, pelos que não sofriam tal competição. Na Idade Média, assim como na
Alemanha hitlerista, o europeu comum repudiava as perseguições e perdia mais do que se beneficiava com elas.
O espetáculo do sofrimento dos judeus, daqueles que cravaram na cruz o Redentor do homem, era considerada
edificante, tal como as execuções públicas também o eram, por demonstrarem o triunfo da justiça divina e temporal e por
se constituírem numa advertência terrível quanto aos resultados da impenitência obstinada.
Os pogrom e massacres de guetos promovidos pelos "cruzados" da Nova Ordem de Hitler emulavam os modelos mais
antigos, pois cada uma das Cruzadas foi precedida de massacres "dos sarracenos em nosso meio", os saqueadores da Terra
Santa, na França, Alemanha, Espanha e Inglaterra. Quando Benedito, o líder da comunidade judia de York, foi a Londres,
em 1189, levando presentes para a coroação de Ricardo Coração de Leão, foi recompensado com a morte, juntamente com
dezenas de patrícios seus, na cidade. Sua morte foi seguida de massacres em Norwich, Stamford e Kings Lynn, culminando
com o realizado na própria cidade de York. Ali, um grupo de judeus finalmente preferiu o suicídio à violência da ralé.
Assim como as leis de cidadania nazistas tornaram os judeus cidadãos de segunda classe, o mesmo aconteceu na
Inglaterra medieval, onde eles eram propriedade do rei. Assim como suas sinagogas foram incendiadas na Alemanha,
também o foram em Roma e na Espanha. Assim como os nazistas extorquiam dinheiro aos judeus, o mesmo o faziam
antigamente os reis e prelados da Europa Cristã. Algumas grandes igrejas e catedrais que se constituem em orgulho da
Cristandade foram em grande parte construídas com essas verbas. Assim como os nazistas forçaram a emigração e
determinaram a expulsão dos judeus, também estes haviam sido expulsos da Inglaterra e da França.
As acusações, contra os judeus, de conspiração vêm da Idade Média. Na Espanha, o clero, pregava a necessidade de o
país livrar-se dos judeus. Os judeus, diziam os padres, planejavam a escravização de todos os espanhóis, a começar pelo
rei. Milhares morreram nos massacres assim inspirados.
A Idade Média também serviu de berço ao sistema de gueto, no qual o judeu era segregado do ariano, sistema que seria
usado largamente na Polônia e na Rússia nos anos 40. Por mais amargo que fosse o insulto, isto pelo menos dava certa
segurança aos judeus, que voltavam aos guetos, onde encontravam segurança e oportunidade de introspecção, sempre que
o perigo os ameaçava.
Assim como os alemães instituíram o regime do assassinato organizado, o mesmo fez Torquemada, o primeiro Grande
Inquisidor, digno predecessor de Heydrich e Eichmann.
Assim como Himmler pregava a virtude transcendental da pureza do sangue, também na Espanha setecentista a
limpieza de sangre serviu de desculpa para o ataque aos poluidores judeus. Assim como os nazistas reescreveram a História
para imputar aos judeus os problemas que enfrentavam, também na Idade Média as massas aprenderam que os judeus
eram a tribo de Judas Iscariotes, o traidor do Cristo.
Quando sua existência na Europa Ocidental se tornou intolerável, os judeus começaram a mudar-se para o Leste. Ali,
disseram-lhes, predominavam atitudes mais racionais. E assim foi, a princípio. Na Áustria, seus direitos como seres
humanos e cidadãos foram respeitados. Na Polônia, Hungria, Romênia, no nível do povo comum, judeus e cristãos
conviviam. Mas a Igreja Católica inquietava-se com a aliança que estabeleceram.
Houve uma oportunidade de acabar com os judeus quando estourou a guerra entre russos e poloneses. Na Polônia,
disseram que os judeus estavam mancomunados com a Rússia; nesta, que eles estavam mancomunados com os poloneses.
Milhares foram assassinados.
Assim como os judeus, segundo testemunhas, enfrentavam os fuzilamentos nazistas sem pedir piedade, também iam
para a fogueira cantando salmos, virando as costas à oportunidade de salvar-se, mas não admitindo a retratação e a
conversão. Na história dessas mortes em massa nas fogueiras, tomamos conhecimento do caso de um menino que
encorajava e consolava seu irmão mais novo que se mostrava aterrado diante das chamas aonde estava prestes a ser jogado,
dizendo-lhe que ele ia para o Paraíso. Também mais tarde, pais, mães, avós e irmãos mais velhos consolariam os jovens
aterrorizados diante das covas da morte em Ponary e nas câmaras de gás de Auschwitz.
Mesmo com o Iluminismo, não houve alívio. A ciência foi destorcida para justificar a perseguição, e a razão era
mantida em xeque. O próprio Voltaire chegou a quebrar a sua reconhecida lógica para censurar os judeus de ignorantes,
bárbaros, avarentos, supersticiosos e cheios de ódio.
Na Rússia, o pogrom tornara-se instrumento de política do governo, aplicado sempre que o povo se mostrava inquieto.
Mesmo na guerra de 1914, com a Alemanha, a perseguição aos judeus não sofreu solução de continuidade. Ela ainda
estava acesa quando, como aconteceu na Alemanha, mais tarde, pôs em perigo o curso da guerra.
E foi pelo próprio Czar Nicolau, em sua residência de campo, Tsarskoye Selo, em 1905 - o ano da revolução fracassada
- que o notório livro Protocolos dos Sábios do Sião foi promulgado. Trabalho de um escritor pago pelo governo, era uma
amálgama de todos os absurdos atribuídos aos judeus desde a Idade Média, como complôs internacionais etc., e que Hitler
usou como prova trinta anos depois. Contudo, o Czar Nicolau II não era homem para quem a razão significasse muita
coisa quando se tratava de atacar judeus: ele dissera ao Kaiser Guilherme II, da Alemanha, sobre os ingleses: "O inglês é
um judeu".
No resto da Europa, os movimentos populistas e democratizantes dos meados do século XIX produziram um novo
açoite para surrar os judeus e foram responsáveis pela introdução da palavra "anti-semitismo". Para os anti-semitas
adversários dos movimentos democráticos, como Gobineau, os judeus eram comunistas e socialistas. Para os socialistas
anti-semitas, como Drumont, então os judeus eram as eminências negras financeiras do capitalismo.
Joseph Arthur, Conde de Gobmeau (1816-82), procurou, em seus quatro volumes do Essai sur L'inégalité des Races
Humaines, explicar a história em termos raciais, ressaltando o eterno conflito entre as raças dolicocéfalas (ou de cabeça
longa) e as raças braquicéfalas (ou de cabeça larga). Os principais entre os dolicocéfalos eram os povos nórdicos louros.
Os judeus, naturalmente, eram braquicéfalos. Tão penetrantes foram suas idéias, que os propagandistas ingleses aplicavam
pejorativamente aos alemães o termo "braquicéfalo".
Edouard Drumont (1844-1917) relacionou o anti-semitismo com o socialismo e o oculto - uma combinação também
encontrada entre os nazistas. E foi um dos seus seguidores, Jacques de Biez, que cunhou o nome "Nacionais-Socialistas".
Ele disse, em 1899: "Somos nacionais-socialistas porque estamos atacando as finanças internacionais. Queremos a França
para os franceses". Substituindo-se as palavras: "Alemanha" e "os alemães" nesta última frase, o trecho poderia ter saído
da pena do Dr. Goebbels.
As perseguições ocorridas na Rússia, Polônia, Romênia e Hungria levaram os judeus a retornar para o oeste. Muitos
não foram além da Áustria, mas números menores chegaram à Alemanha, França e mais além. Eles foram aceitos, mas
não considerados bem-vindos. Criados em guetos, desenvolveu-se neles o instinto natural para se manterem unidos,
apegando-se a seus hábitos, costumes e linguagem, sempre temerosos de novos pogrom.
A Igreja Católica viu neles, uma vez mais, uma ameaça à fé do seu rebanho, afirmando que o judaísmo era a antítese
do cristianismo. Ademais, como a História demonstrava que os judeus eram inconversíveis, eles tinham de ser expulsos.
Mesmo os judeus batizados eram tidos como "espiões dentro da Igreja" e, como medida de proteção do cristianismo,
tinham de ser tratados como os seus concidadãos não-batizados. As organizações comerciais viam-nos como
competidores. Os judeus da classe média assimilada de Viena e Berlim votavam-lhes franca aversão, considerando-os
parentes pobres que de repente se haviam abatido sobre o seu lar, e contrariaram-se quando descobriram que, além disso,
os não judeus se recusavam a aceitar os protestos dos judeus assimilados de que os judeus que chegavam haviam chegado
sem "serem convidados". "Isto", diziam os não judeus entre si, "é o que acontece quando se deixa um judeu entrar. Antes
de você perceber, ele trouxe a tribo toda".
Havia outros fatores em ação na Alemanha. À Guerra Franco-Prussiana de 1870 seguira-se uma crise econômica,
enquanto o movimento de unificação dos estados alemães, iniciado por Bismarck, ainda estava em andamento. Era
inevitável que isto focalizasse a atenção sobre a raça, sobre "germanidade".
Os emigrados do leste, com seus estranhos costumes e trajes, não se enquadravam na imagem racial germânica. Numa
comunidade de estados que de repente se conscientizou de que era um só povo, não havia lugar para os homens de olhos
tristes, com seus longos casacos pretos, barbas, cabelos cacheados nas têmporas e chapéus chatos. "Os judeus são o nosso
azar", disse um autor do século XIX. Esta frase viria a tornar-se um lema nazista.
Se, entretanto, sua vida se tornasse difícil (esta a opinião geral) eles talvez fossem embora, e os movimentos antisemitas dirigiram esforços nesse sentido. Já havia sido publicada muita literatura anti-semita, cada vez mais violenta. A
princípio os judeus eram "estranhos" ou "decadentes", como tornaram a sê-lo na linguagem nazista de 1933-35; antes do
fim do século, passaram a ser "parasitas", "subgente" que só servia para ser "pisoteada".
A teoria da evolução de Darwin, que a princípio abalou muita ilusão que a humanidade alimentava na década de 185060, foi rapidamente aplicada ao cenário social, por intérpretes que compensavam em dogmatismo o que lhes faltava em
compreensão. Do ponto de vista da evolução, o anti-semitismo merecia certa credibilidade científica. Estes falsos conceitos
também seriam adotados pelo nazismo, que representava para seus adeptos "a vontade biológica do povo".
Milhares de portas até então abertas aos judeus na Alemanha e na Áustria foram-lhes abruptamente fechadas. Os
grêmios estudantis adotaram resoluções que baniam os judeus de seu seio. Os regimentos de elite e a reserva de oficiais
do exército não mais os aceitavam. Clubes, sociedades e câmaras de comércio concordaram tacitamente em não permitir
o ingresso de judeus.
Neste aspecto, franceses e alemães, inimigos noutros campos, fizeram causa comum, pois foram os franceses que
"bolaram" o que os alemães afinal adotaram. Havia, por exemplo, uma Sociedade Gobineau em Freiburg. Mas os
franceses, povo afeito às especulações intelectuais, até hoje raramente agem com base nas suas próprias especulações.
Com os alemães, no entanto, dava-se o contrário. Até a filosofia mais absurda era aplicada com seriedade.
Gobineau fora amigo pessoal de Richard Wagner, o compositor, que atacara a memória do falecido Mendelssohn, de
quem só recebera estímulo e apoio, por ser ele judeu. Para o compositor de "Tannhäuser" e de "O Anel dos Nibelúngios",
a música de Mendelssohn passou a ser por ele considerada "estranha, fria, bizarra, medíocre, antinatural e pervertida". Por
certo foi o anti-semitismo de Wagner, além de sua música, que o recomendou a Hitler.
A casa de Wagner era um ponto de encontro para o anti-semitismo "intelectual" e Hitler seria um dos seus futuros
visitantes. Mas um visitante anterior fora Stewart Houston-Chamberlain (1855-1927), o antisemita britânico e
propagandista alemão da Primeira Guerra Mundial. Chamberlain foi o biógrafo de Wagner e casou com sua filha. A ele é
que devemos a primeira afirmação logicamente coerente da posição do anti-semita: "Odeio os judeus. Odeio sua estrela e
sua cruz", manifestando seu ódio tanto ao judaísmo como ao cristianismo.
O resultado da Primeira Guerra Mundial fez recrudescer o ímpeto contra os semitas. A derrota de seus grandes impérios
foi uma experiência profundamente traumática para alemães e austríacos. Durante as últimas semanas de outubro de 1918,
o exército alemão estava avançando. Na semana seguinte, a 7 de novembro, cuidava-se do armistício, ficando a Alemanha
à mercê das Potências Aliadas, que jamais a deixaram de considerar, mesmo depois de colocada sob um governo liberal,
como militarista e agressiva.
A fúria contra ela era ainda maior porque os que a combateram jamais conseguiram dobrá-la na frente de batalha.
Milhares de soldados alemães não-derrotados retornaram à Alemanha, encontrando-a economicamente falida e incapaz
de sustentá-los. Alguma coisa, raciocinaram eles, deve ter acontecido além do óbvio, além do motim de marinheiros
comunistas em Kiel e do rigor do bloqueio britânico, para provocar essa situação.
Era certo que, após tantos séculos de difamação e opressão, e do aumento incessante do anti-semitismo como força
intelectual, que mais cedo ou mais tarde haveria uma erupção. Foi assim que os judeus passaram a responsáveis pela
"punhalada nas costas" da Alemanha. Os judeus, que encontraram melhor compreensão sob o governo liberal alemão,
chegando a fazer parte desse mesmo governo, foram considerados partícipes de uma grande conspiração visando á
derrubada da Alemanha; e o anti-semitismo, verdadeira idéia fixa de certos indivíduos e grupos, passou a força poderosa.
Como se fosse uma nova religião, entregou-se ele a ativo proselitismo.
Os anos de tormento
Hitler mostrou-se anti-semita desde os primeiros pronunciamentos que fez. Sua muito citada frase no Mein Kampf,
declarando que se uns 15.000 "desses inimigos hebreus" tivessem sido asfixiados no transcurso da Primeira Guerra
Mundial "o sacrifício de milhões de seres na frente de batalha não teria sido em vão", provavelmente foi criada em 1923,
quando ele se encontrava preso na Fortaleza de Landsberg, mas ele já expressara sentimentos semelhantes num discurso
pronunciado em 1920 e numa carta, em 1919.
Suas idéias sobre o assunto surgiram certamente durante os dias de dificuldade que viveu em Viena - época em que
seu orgulho não o impedia de aceitar o dinheiro que lhe enviava um judeu amigo de sua família. Seus associados, uns
amargos freqüentadores dos albergues - antimarxistas, anti-semitas e pangermanistas - passavam o tempo, seu único bem
grátis, na vã procura de bodes expiatórios para as desgraças da Alemanha, que acreditavam ser a causa das suas próprias
desgraças.
Os historiadores que buscam uma base filosófica para o anti-semitismo de Hitler têm sugerido várias fontes, entre as
quais as noções do monge cisterciense, Adolf Lenz. Suas opiniões, propagadas no Arioheröiken, correspondem em grande
parte com as de Hitler. Também aquele apoiava a teoria da "superioridade" ariana e defendia a eliminação dos judeus por
meio de esterilização e deportação. A verdade é que tudo quanto sugerem esses historiadores não tem qualquer
fundamento. O anti-semitismo de Hitler jamais se apoiou em razões filosóficas e intelectuais. Na intimidade, ele
demonstrava até desprezo pelas teorias raciais pangermânicas de Alfred Rosenberg e Walter Darré. Visto que tinha de
justificar sua posição de quando em vez, seus argumentos eram tirados a esmo de conceitos de Gobineau, Nietzsche, com
seu Super-homem, Darwin (Hitler não parava de falar sobre a "sobrevivência do mais capaz" e de "seleção natural") e, em
particular, do "anti-semitismo de salão" dos Wagners e de Stewart Houston-Chamberlain.
O anti-semitismo de Hitler, como acontece com todo racismo verdadeiro, era emocional e subjetivo. Quando se começa
a analisar os motivos psicológicos, é preciso considerar-se que Hitler era um inadaptado e um frustrado sexual. Pois, assim
como os racistas brancos de hoje falam da suposta luxúria e grandes pênis dos negros, também Hitler escrevia sobre jovens
judeus lascivamente à espreita de jovens alemães para seduzi-las. No delírio das fantasias que criava, essas imagens
podiam levá-lo a paroxismos de fúria. Não há razão para considerá-lo impotente ou, como os mexericos de tempo de
guerra sugeriam, sexualmente deformado. A evidência da autópsia que os russos apresentaram demonstra isso. Há, no
entanto, razão para se supor que ele não era atraente para as garotas, sobretudo nos seus tempos de jovem pobre. Fora a
terrível pobreza - para ele sem dúvida uma degradação - havia nele defeitos insuportáveis, como a grosseria, a fúria
incontida, o fanatismo louco. E não é por coincidência que ele constantemente se referia ao caráter corruptor das finanças
judias, pois o dinheiro é, com freqüência, um símbolo inconsciente de sangue, e a "corrupção" do sangue das jovens arianas
era precisamente o que ele via os jovens judeus fazer, em seu pesadelo.
No Nationalsozialistische Deutsche Arbeiter-Partei, para dar ao partido nazista seu título completo e adequado, seu
anti-semitismo logo recebeu corporificação política. Os Pontos 4 e 5 do manifesto do NSDAP, publicado em fevereiro de
1924, declarava que a cidadania alemã estava disponível "somente aos de sangue alemão, independente de credo religioso".
No caso de o significado dessa frase parecer ambíguo, a frase seguinte torna-a bem específica: "Nenhum judeu", declara
ela, "pode, portanto, ser um nacional". Isto é desenvolvido no ponto seguinte, que declara que os que não possuem
cidadania do estado são sujeitos "às leis aplicáveis aos estrangeiros".
Estes princípios foram incorporados não só à ideologia do partido como ao seu comportamento. Sempre paramilitar
em caráter (ela afirmava estar travando uma batalha contra os comunistas), a milícia do partido eram os Sturmabteilung
(Destacamentos de Assalto ou, mais popularmente, Tropas de Assalto) do Capitão Ernst Röhm. Quando não estavam
desfilando ou combatendo os moinhos de vento do bolchevismo, eles estavam intimidando os judeus ou provocando
intimidação com discursos pronunciados nas esquinas.
Contudo, já um novo grupo estava surgindo dentro da própria milícia. Em 1922, uma unidade especial das SA havia
sido formada e recebera o nome de Schutzstaffeln (Formações de Proteção) ou, abreviado, SS. Três anos depois, um
bávaro insignificante e míope, com um queixo azulado e pequeno, um homem que não apresentava outras qualidades além
de ser um minucioso executor dos deveres do partido, cujo nome era Heinrich Himmler, ingressou nas SS. Em 1926, com
as SS tendo então cerca de 200 homens, com a tarefa principal de servir às reuniões do partido, Himmler foi nomeado seu
subcomandante. Em 1929, por ordem direta de Hitler, Himmler, que tinha então 28 anos, foi nomeado substituto de Erhard
Neiden como comandante, ou Reichsführer das SS. O grupo aumentara em oito homens, mas se conservava subordinado
às SA e Röhm.
Se Himmler dava a impressão de não ser muito imaginativo, a verdade é que, como Hitler, sua vida interior era cheia
de fantasia, povoada de personagens das lendas germânicas. Ele começou a admitir que tudo aquilo poderia concretizarse através das SS. Elas se tornariam uma força poderosa e independente no nazismo e na Alemanha, um estado dentro do
estado, constituindo-se numa mistura adoidada da antiga Ordem dos Cavaleiros Teutônicos e dos Jesuítas - pois seus
sonhos sempre tinham uma tintura de misticismo.
Uniformizadas em negro, altamente disciplinadas, em contraste com as rebeldes SA, o ingresso nas SS passou a ser o
sonho dos jovens alemães. Entretanto, o ingresso na corporação tornou-se bastante difí...
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