1 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E O ENSINO MÉDIO NO BRASIL A PARTIR DO DECRETO 5.154/2004: INTEGRAÇÃO OU DUALIDADE REFORMADA PARA O MERCADO? George Amaral Pereira (FFC/UNESP); [email protected] Orientador: Henrique Tahan Novaes (FFC/UNESP) Linha de pesquisa: Políticas Educacionais, Gestão de Sistemas e Organizações, Trabalho e Movimentos Sociais Resumo A educação brasileira é portadora de uma dualidade estrutural sintomática da divisão social do trabalho e do caráter classista do ensino público. Ao longo da história a dicotomia formação propedêutica versus formação profissional. Destacamos as contradições de uma educação profissional oferecidas a uma classe específica, a trabalhadora, que se dá no palco da luta de classes. Com efeito, apresentam-se sempre as alternativas ao projeto de educação do capital como a educação integral, contemplando a formação omnilateral do ser social. Por vezes, o capital apropria-se das ideias deste conjunto de formulações da esfera do trabalho e as efetivas, camuflando o teor essencial da proposta das mesmas: a superação radical da sociedade do capital. No Brasil a sanção do Decreto nº 5.154/2004 possibilitou a implantação de um projeto de Ensino Médio Integrado que superasse a dualidade estrutural da educação, ora em vigência por meio do Decreto 2.208/1997. Desse modo, a proposta desta investigação consiste em aclarar o debate em torno dessa problemática e analisar as propostas que surgiram como desdobramento da configuração assumida pela educação profissional para o nível médio da educação básica. Para tanto, recorreremos a onto-metodologia marxiana-lukacsiana para iluminar o percurso da pesquisa e assim poder contribuir para o campo de lutas que almeja a superação da sociedade capitalista. Palavras-chave: Crise do capital; política educacional; educação profissional. Introdução e fundamentação teórica O objetivo principal da investigação é pesquisar o complexo de mudanças instituídas sobre a educação profissional no Brasil, de modo especial, a partir da sanção presidencial do Decreto 5.154/2004, ao que se refere à criação e implantação de propostas de Ensino Médio Integrado (EMI). Desse modo, pretendemos aferir se e em que medida ele estabelece uma nova configuração para a dicotomia educativa, formação propedêutica e formação profissionalizante, que vem historicamente expressando o caráter de classe da escola capitalista. De modo mais específico, queremos avaliar, através de um estudo documental, bibliográfico e de campo, o impacto desse dispositivo legal que envolveu em sua aprovação uma correlação de forças ídeo-políticas e, por isso, com desdobramentos sobre o campo da formação dos trabalhadores quando o capital experimenta, como conceitua Mészáros (2011), sua crise estrutural. 2 A investigação que se apresenta entende ser complicada a integração entre um nível de ensino da educação básica e uma modalidade educativa, especificamente, quando se pretende a superação da dualidade educacional. Por isso, entendemos serem necessárias análises mais profundas para uma melhor compreensão da educação ofertada à classe trabalhadora no limiar deste século. Uma investigação de tais propostas será feita à luz da teoria marxiana, compreendendo que diversas formas de apropriações das principais categorias marxistas são utilizadas no campo da educação, advogando, por exemplo, que a educação integrada está sendo implementada. No horizonte das lutas teórico-práticas de cunho marxista no campo educacional está a formação integral do indivíduo ou como Manacorda (2012), a partir de Marx, denomina de formação omnilateral. As Instruções aos delegados do Conselho Central Provisório acerca de diversas questões (de 1866), Marx coloca três coisas essenciais à nova educação: Educação intelectual; educação corporal, tal qual é produzida pelos exercícios ginásticos e militares; educação tecnológica, compreendendo os princípios gerais e científicos de todos os processos de produção (MARX apud MANACORDA, 2012). A educação dos trabalhadores desde Marx é um tema sempre debatido. Um dos autores clássicos é Gramsci que chama sua proposta pedagógica de escola única ou escola unitária (GRAMSCI, 1982). As concepções gramscianas passaram a exercer considerável influência sobre educadores brasileiros, principalmente na efervescente década de 1980 quando educadores da esquerda progressista, ao defenderam as lutas do campo do trabalho, também almejam a implantação de uma escola que integre a formação intelectual, profissional, tecnológica a partir do conceito gramsciano do princípio educativo do trabalho. A formação integrada passou a ser debatida como forma geradoras de valores, O termo formação integrada, formação politécnica e educação tecnológica buscam responder, também, às necessidades do mundo do trabalho permeado pela presença da ciência e da tecnologia como forças produtivas, geradora de valores, fontes de riqueza. Mas, também, por força de sua apropriação privada, gênese da exclusão de grande parte humanidade relegada as atividades precarizadas, ao subemprego, ao desemprego, à perda de vínculos comunitários e da própria identidade (FRIGOTTO, 2012, p.85). O ensino médio como último estágio da educação básica nos faz entender que seria o trampolim para o ensino superior. Todavia inserido na dualidade estrutural, preparatório para a cidadania e para o mundo do trabalho como reza a LDBEN 9.394/1996 e confirmada na sanção do Decreto 2.208/1997, torna a lógica do ensino público 3 profissionalizante mais próximo à lógica do mercado quando atribui as entidades privadas ou da sociedade civil a tarefa de ofertar aos trabalhadores a formação profissional. Os recursos públicos passam a ser disputados entre empresas privadas e entidades públicas, portanto, amplificando o tratamento da educação profissional oferecidas aos trabalhadores como mercadoria e um importante nincho para o capital. Esse ‘novo’ modelo escolar apresenta algumas especificidades: planejamento, currículo, metodologia, conteúdo, didática, avaliação, entre outros elementos do processo de ensino-aprendizagem, que podem dar garantias ao próprio Estado, aos empresários e as agências internacionais de financiamento, quanto a eficiência educativa almejada pelo mercado de trabalho contemporâneo. Foi durante década de 1990 que ocorreu a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, em que são acolhidas as orientações das agências internacionais multilaterais, entre as quais destacamos Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial (BM), a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), principais incentivadoras das reformas educativas para os países capitalistas situados na periferia capitalista. Na esteira do processo, em conjunto com os grupos mais conservadores da sociedade e em atendimento aos interesses dos empresários da educação, o governo brasileiro aprovou o Decreto nº 2.208/1997, o que provocou um intenso debate sobre a política educação profissional especificamente entre 1997 e 2004. A LDBEN 9.394/1996 já demonstrava ambiguidades quando observamos atentamente no Artigo 36 dessa Lei que estabelece: o ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões técnicas. Por outro lado, o Artigo 40 diz que a educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. O texto da legislatura da LDBEN é complementado pelo Decreto nº 2.208/1997 conferindo as “instituições profissionais especializadas em educação profissional” a habilitação para implementarem os cursos profissionalizantes em nível médio aos trabalhadores. A eleição de Lula da Silva em 2002 altera a conjuntura política e abriu alguns espaços na esfera estatal, favorecendo uma correlação de forças a alguns setores do campo progressista. Esse campo reúne um conjunto de intelectuais de esquerda, movimentos sociais, políticos que desde os anos de ditadura civil-militar se opõem ao projeto do capital 4 monopolista para sociedade brasileira. As críticas contundentes oriundas desse setor da educação reivindicaram no cenário pós-eleitoral junto ao presidente Lula, mudanças efetivas quanto aos marcos de orientação da educação profissional. As pressões eram, entre outras reivindicações, pela insustentabilidade do Decreto nº 2.208/1997. Com isso, um intenso debate em torno do problema estrutural da dualidade da educação brasileira foi retomado, mobilizando um conjunto de forças políticas para o debate. O fato é que, após dois anos, gestado pelas disputas, foi sancionado um novo Decreto sob o nº 5.154, de 16 de julho de 2004. Este novo dispositivo legal, segundo Cêa (2007), alterou vários conceitos da Educação Profissional e Tecnológica e a relação desta com a educação básica e supostamente revogaria o Decreto anterior. A novidade do Decreto nº 5.154/2004, na perspectiva de Frigotto et. al (2012), foi possibilitar que a oferta de ensino profissionalizante ocorresse de forma articulada, além do já estabelecido pela LDBEN 9.394/1996 na forma concomitante ou sequencial ao ensino médio, previstas no decreto 2.208/1997 (CÊA, 2007). Para o governo e um conjunto de intelectuais, a aprovação do Decreto nº 5.154/2004 aponta para tentativa de se resgatar a base unitária de ensino médio ao incluir a possibilidade de formação específica para o exercício de profissões técnicas. Argumenta Frigotto et al (2012, p. 37): “o Decreto 5.154/2004 tenta reestabelecer as condições jurídicas, políticas e institucionais que se queria assegurar na LDB na década de 1980”. Nesse caso, pretendia-se uma articulação do ensino médio com a formação profissionalizante, contemplando no campo educativo a educação geral e específica, denominada no dispositivo legal de “integrada”. Lembremos que para os intelectuais marxistas a educação integral ou omnilateral integra a luta histórica, revolucionária e emancipadora da atual sociedade de classes, portanto, constitui-se um projeto de educação que se contrapõe a alienação efetivada pela educação burguesa na sociedade capitalista, pois visa atender, de modo mais preciso, as reais necessidades humanas e, portanto, possibilitando o gozo das conquistas culturais mais refinadas feitas ao longo da história. Nesse sentido, queremos investigar o complexo de mudanças ocorridas e amparadas pelo Decreto nº 5.154/2004 em que, gestados nos meandros de um governo com uma maior inclinação ao campo progressista, naquele momento, almejava-se a mudança estrutural da complicada dualidade da educação brasileira, isto é, de um ensino propedêutico versus o ensino profissionalizante. No âmbito da relação trabalho e educação, 5 esse processo promoveu uma nova configuração da dicotomia educativa? Quais seus principais elementos? Que tipo de “integração” é resultante desse dispositivo legal? Quais políticas educacionais para a o campo da formação profissionalizante tomaram forma no Brasil a partir sanção do Decreto 5.154/2004? Precisamente, já transcorreram 12 anos da vigência do Decreto nº 5.154/2004 e, por isso, acreditamos na relevância desta investigação a fim de analisar com maior profundidade os projetos de Ensino Médio Integrado (EMI) que se apresentaram no cenário da educação brasileira. Especificamente, a política de EMI cearense e paranaense. Optamos por estes dois estados porque o primeiro já foi alvo de nossa pesquisa de mestrado intitulada Formação de professores para a educação profissionalizante no estado do Ceará: crítica à pedagogia do empreendedorismo, portanto, empreenderemos debates que não foram possíveis contemplar naquele e momento. A nossa segunda opção foi o Estado do Paraná que, por lançar uma política educacional de EMI logo após a promulgação do Decreto 5.154/2004, busca uma integração que possibilite superar alguns elementos do problema estrutural da educação profissional em nível médio. Assim poderemos observar e refletir os indicadores educacionais propostos pelos dois projetos e que almejam a intricada articulação entre uma modalidade educativa e um nível de ensino. É oportuno destacar que o nosso objeto é parte de uma totalidade social e, por isso, as análises do filósofo húngaro István Mészáros poderá contribuir para situar atual estágio do capital que, segundo o autor sobredito, experimenta sua crise estrutural desde a década de 1970. Mészáros (2011), com base em Marx, define a crise do capital que começamos a experimentar nos anos 1970 é estrutural e global, que “tende a romper o processo normal de crescimento, mas também pressagia uma falha na sua função vital de deslocar as contradições acumuladas do sistema”, isto é, significa a tripla fratura interna: produção, circulação e consumo (MÉSZÁROS, 2011, p. 799). Nesse sentido, a ofensiva do capital se iniciou com um processo de reestruturação produtiva, política e ideológica com investidas sobre as tecnologias de produção e na desregulamentação da força de trabalho. Esse processo envolve, entre outros elementos, as reformas do Estado, a reconfiguração do campo educacional, o papel do conhecimento, a formação da força de trabalho, entre outros aspectos. Dadas as determinações inevitáveis do “círculo mágico do capital”, ressalta Mészáros (2011, p. 800): “a crise não ficou confinada na esfera socioeconômica”, destaca o autor: “a crise estrutural da educação tem estado em evidência há já um número de anos 6 nada desprezível. E aprofunda-se a cada dia, ainda que esta intensificação não assuma a forma de confrontações espetaculares” (Idem, p. 995). O desmonte do estado de bem-estar também afetou os parcos recursos que são destinados à manutenção dos sistemas educacionais. A escola pública estatal terá que se adaptar aos cortes de gastos das políticas neoliberais. Essa sequência de fatores influenciou decisivamente as modificações no mundo produtivo, que sob o signo da chamada 3ª Revolução Industrial, colocou em questão os paradigmas educacionais vigentes, passando a exigir um outro modelo para a formação e composição de um novo perfil de trabalhador, que garantisse ao profissional a aquisição de múltiplas competências condizentes com as necessidades de um sistema produtivo agora regido pelo advento das tecnologias de base microeletrônicas. A partir dessa reconfiguração, a qualificação e a requalificação profissional capitalista, pode ser entendida como um requisito técnico e um preceito ideológico, ajustando os trabalhadores à novas formas da produção capitalista. A dicotômica divisão trabalho manual e trabalho intelectual, educação lato e educação stricta, perpassa vários períodos da história, porém em cada um deles apresentou as contradições do modo de produção e das relações sociais vigentes, devido ao antagonismo de classes. Lembramos, no entanto, que o surgimento da propriedade privada e da divisão social do trabalho substituindo a propriedade coletiva e divisão técnica de tarefas, determinam o surgimento de classes e relações sociais arraigadas na divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual (PONCE, 2010). Nesse contexto, é oportuno nos aproximar da relação escola e produção estreitaram seus laços especialmente após a industrialização da produção. Desse modo, a educação no sentido lato e educação stricta é, assim, resultado de uma fratura na divisão social do trabalho que passa a atender interesses específicos da reprodução social dominante baseado na constituição de classes antagônicas. Isto significa conforme Gramsci (1982, p. 118), “a divisão fundamental da escola em clássica e profissional era um esquema racional: a escola profissional destinava-se às classes instrumentais, ao passo que a clássica se destinava às classes dominantes e aos intelectuais”. O cenário histórico da estrutura do ensino no Brasil assume de forma evidente a estrutura dicotômica. O recorte da divisão trabalho manual e trabalho intelectual nas bases da discriminação das atividades manuais, reporta a economia agrária e do trabalho escravo que foram as bases econômicas da sociedade brasileiro durante a maior parte da história. 7 Como aponta Kuenzer (1994, p. 88), a formação profissional sob a responsabilidade do Estado inicia-se em 1909 com a criação das escolas de artes e ofícios, como política pública ofertada aos pobres e desvalidos de sorte. Diferentemente, para “as elites havia outra trajetória: o ensino primário, seguido pelo secundário propedêutico, completado pelo ensino superior, este dividido em ramos profissionais” (Idem). A industrialização da década de 1930 aumentou a necessidade do Estado brasileiro em ofertar uma educação profissionalizante capaz promover o desenvolvimento econômico. Podem ilustrar essa situação o Decreto-lei nº 4.073 de 30 de janeiro de 1942, Lei Orgânica do Ensino Industrial, a Lei Orgânica do Ensino Comercial nº 6.141 de 06 de dezembro de 1942 cuja finalidade era criar escolas de educação profissionalizante. O Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, criava o Serviço Nacional de Aprendizagem (SENAI), destinado a organizar escolas de aprendizagem em todo o país (ROMANELLI, 2013). Já nas décadas de 1960 e 1970 podemos indicar algumas mudanças que reforçaram a dualidade do ensino público. Inicialmente através da Lei nº 4.024/61, reconhecendo a equivalência do ensino propedêutico, era modificada pela Lei nº 5.692/71, em que pese a educação profissionalizante como obrigatória no nível médio de ensino. A compulsoriedade do ensino médio técnico-profissionalizante atrelou diversos interesses, efeituando na relação trabalho-educação em virtude do projeto de desenvolvimento econômico do país, liderados pelo regime civil-empresarial-militar. Já na década de 1990, sob os olhares atentos das agências internacionais multilaterais e balizadas pela adesão do Estado brasileiro ao Consenso de Washington em 1989, aprofunda um processo de reformismo em que as elites governantes optam pela adoção o neoliberalismo como elemento fundamental para o desenvolvimento econômico. A partir desse cenário, o avanço conservador foi coordenado nos marcos dos preceitos neoliberais. A histórica dualidade do ensino público no Brasil, perdura com a aprovação do Decreto 2.208/1997. Todavia o movimento política que almejava superá-lo, demarcando a aprovação do Decreto 5.154/2004, promoveu uma nova configuração ao Ensino Médio que oferta também o Ensino profissionalizante. E partir dessas novas configurações que queremos investigar a dicotomia educativas estrutural, analisando seus entraves e possibilidades para uma educação que vise a emancipação para classe trabalhadora. 8 Objetivos da pesquisa Contextualizado na discussão recém exposta, temos como objetivo geral analisar o complexo de mudanças instituídas sobre a educação profissional no Brasil, de modo especial, até que ponto e por quais mediações a dicotomia educativa se reconfigurou através da aprovação do Decreto nº 5.154/2004. Observando que após sua vigência um conjunto de políticas educacionais tem sido implementadas supostamente atendendo as premissas de uma educação integral. Pretendemos efetuar análises mais precisa sobre essa questão através dos seguintes objetivos específicos: 1) analisar as relações trabalho e educação considerando o atual estágio do sistema capitalista; 2) examinar historicamente o papel que a educação profissional assume mediante as relações capital-trabalho no Brasil, recortando a dicotomia do ensino público; 3) identificar as mediações que possibilitam a reforma do Ensino Médio e Educação Profissional bem como os desdobramentos dos Decretos 2.208/1997 e 5.154/2004; e 4) examinar o quadro de políticas educacionais direcionadas a educação profissional para o nível Médio da Educação Básica, relacionando ao menos dois projetos distintos de Ensino Médio Integrado que advogam a integração entre a dimensão propedêutica e profissionalizante, como é caso dos Estados do Ceará e Paraná. Metodologia Como ponto basilar de nossa reflexão, Marx (2007, p.49) foi enfático quando asseverou que o “melhor método é começar pelo real e pelo concreto” quando se quer fazer uma pesquisa científica. O princípio onto-metodológico de que devemos partir das condições materiais de existências dos homens, isto é, do modo de produção da vida material que condiciona o desenvolvimento da vida social, política e intelectual em geral (MARX, 2007). Nossa tarefa metodológica exigirá compreensão acerca da problemática da educação em crise. Portanto, faremos inicialmente, com base no debate do caráter ontológico da educação, aclarando a origem e as consequências da atual crise do capitalismo contemporâneo, para, em seguida, articular tal análise ao contexto educacional. Para isso, tendo como base a relação trabalho-educação, será necessário ir até a gênese onto- histórica do complexo educativo e assim conferir a função social que a chamada educação profissional adquire, sobretudo a partir da modernidade. Esse debate será guiado primeiramente pelas análises clássicas de Karl Marx quanto ao capital e, em seguida, pelas 9 contribuições de Lukács (2012, 2013), Gramsci (1982; 2004), de Mészáros (2006 2008, 2011), entre outros autores que o desvelamento do objeto exigirá. Em seguida trataremos de analisar o percurso histórico educativo que efetiva a dualidade entre educação lato versus educação stricta e nesse percurso a dicotomia ensino propedêutico versus profissionalizante. Desse modo, atentaremos para o debate teórico a partir da bibliografia em comparecem as propostas de educação que superem a dualidade estrutural na educação tendo como referência os clássicos do marxismo, por exemplo, Gramsci “sobre a escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre equanimemente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual” (GRAMSCI, 1982, p. 118). Em seguida faremos uma pesquisa bibliográfica e documental sobre as reformas educativas, recortando a educação profissional, no contexto das políticas do Estado brasileiro iniciadas na década de 1990 e que perpassam o início deste século. Examinaremos os dispositivos legais sobre o Ensino Médio e Educação Profissional, de modo preciso, a LDBEN 9.9394/1996, o Decreto 2.208/1997, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Ensino Médio (Resolução CNE/CEB nº 3/98), as Diretrizes Curriculares para a Ensino Médio e Técnico (Parecer CNE/CEB nº09/98) e Parecer CNE/CEB nº 17/97 que estabelece as diretrizes operacionais para a educação profissional em nível médio. Em seguida o analisaremos o Decreto nº 5.154/2004 bem como o Documento Base intitulado Propostas de Políticas Públicas para a Educação Profissional e Tecnológica, assinado por Dante Henrique Moura, Sandra Regina de Oliveira Garcia e Marise Nogueira Ramos (BRASIL; MEC; SETEC, 2007), entre outros documentos publicados pelo MEC; SETEC posteriores ao Decreto 5.154/2004. Os autores que darão suporte a essa discussão, indicamos: Gramsci (1982, 2004), Nosella (1992), Romanelli (2013), Frigotto, Ciavata, Ramos (2012), Ramos (2008, 2012), Frigotto (2012), Ciavatta (2012), Santos (2005, 2007, 2012), Dore (2006), Garcia (2009), Neves (2008) e Cêa (2007). Como forma de aproximação aos projetos de Ensino Médio Integrado (EMI) implementados nos Estados do Ceará e Paraná, respeitando o arcabouço teóricometodológico acima indicado, a pesquisa analisará alguns documentos oficiais que são importantes para essa proposta de integração. Os documentos Fundamentos Políticos e Pedagógicos da Educação Profissional (2005); Relatório de gestão (2007, 2008), publicados pela Secretaria de Educação do Estado do Paraná. No projeto de EMI do Estado 10 do Ceará através das regulamentações para a criação das Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEPs) sob Lei n° 14.273 de 19.12.08 e para a composição de profissionais para as EEEPs através do Decreto nº 30.865, de 03 de abril de 2012 (CEARÁ; SEDUC, 2008, 2012). Também analisaremos os documentos Referências para as EEEPs (CEARÁ; SEDUC, 2013) e o documento que gestão pedagógica da escola sob o título Tecnologia Empresarial Sócioeducacioal (TESE), elaborado pelo Instituto de Co-responsabilidade pela Educação (ICE), inspirado na ideologia empresarial da Odebrecht S/A Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO). Poderemos realizar também um estudo de campo conforme o desvelamento do objeto nos mostre a necessidade de visitarmos escolas, observar o trabalho de planejamento pedagógico, o dia a dia de professores e alunos. Esse procedimento será feito após estudos bibliográficos e nesse caso faremos uma observação, diário de campo, aplicação de questionário a fim de colher informações que confirmem ou não hipóteses levantadas. A investigação terá como bússola a relação trabalho e educação, tomando o trabalho como categoria que explica o ser social, isto é, no processo de autoconstrução da humanidade que tem no trabalho um ato ontológico primário, mediador do metabolismo entre homem e natureza, sujeito e objeto. A partir da centralidade do trabalho em Marx, transforma-se no modelo de toda a práxis social, inclusive da educação, sendo assim, este complexo também se realiza, conforme Lukács, pela relação entre teleologia e movimentos de séries causais (LUKÁCS, 2013). A educação como um complexo fundado pelo trabalho, embora tenha autonomia relativa é dependente ontologicamente do trabalho. Por esse prisma, entendemos como esses dois processos são dialeticamente interligados. O primeiro vincula-se a reprodução do homem como um ser histórico e partícipe de um gênero, um ser que, pelo trabalho, saltou ontologicamente, para outra dimensão ontológica, como referência a do ser social, capaz de criar sempre o novo e produzir incessantemente um patrimônio histórico-cultural. Em seguida porque o processo de reprodução de uma determinada forma histórica de sociabilidade, no caso a reprodução da sociedade do trabalho alienado, da exploração do homem pelo homem, tomou forma na trajetória humana, fundada na propriedade privada e cindida socialmente na luta de classes. Esse processo requer a educação como complexo que se movimenta processualmente e leva à tona um conjunto de mediações que executa ações para alcançar sua finalidade no quadro da reprodução social, isto é, efetiva saberes, mobiliza técnicas e tecnologias para 11 que o indivíduo possa aprender constantemente, assim, possa integrar-se ao gênero humano. A partir desse quadro, em que a educação cumpre uma determinada função, porém numa forma societal em que o trabalho se apresenta como elemento negativo da liberdade, isto é, sua forma alienada, Lukács (2013) entende que a tarefa educativa formal consiste em responder primariamente as determinações do capital, posto que ele exerce um poder hierárquico sobre o trabalho. Contudo, uma sociedade em que a luta de classe está sempre comparecendo, revelando as contradições, a educação poderá, partindo dessas contradições, produzir elaborações teleológicas emancipadoras, embora pressionadas pelos limites impostos pelo capital. Com nossa metodologia definida na concepção do trabalho como fundamento do ser social, é importante esclarecer, na esteira de Lukács (2013), que é a partir do trabalho como fio-condutor da autoconstrução humanidade que medeia suas relações com o meio natural, entretanto, sem se limitar nessa perspectiva, pois a categoria trabalho no palco da luta de classes será um dos pontos fundamentais da análise pretendida. Nisso, podemos sublinhar a importância da onto-metodologia marxiana-lukacsiana na tentativa de captar a relação fenômeno-essência, objetividade-subjetividade do movimento do objeto no real, deslindando sua aparência mistificadora. ATIVIDADES E CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO O primeiro ano será utilizado para cursar as disciplinas do programa. O segundo ano, terá como finalidade propiciar condições de realização das investigações documentais e teóricas, participações em seminários e congressos para o aprimoramento teóricometodológico da pesquisa; o terceiro ano será reservado para a realização e sistematização da pesquisa; o último ano ficará planejado para o desenvolvimento do texto da tese e sua defesa. 12 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO Discriminação das Atividades Fev. a Junho 2016 Julho a Nov. 2016 Dez. e Jan. 2016/ 2017 Fev. a Junho 2017 Levantamento e catalogação das fontes de pesquisa. Estudo bibliográfico X X X X X X X X Analise documental. Aprofundamento dos estudos referentes à temática. Levantamento de dados: número de matrículas, número de unidades escolares, composição dos currículos dos cursos profissionalizantes. Elaboração e apresentação preliminar da pesquisa ao orientador: categorias de análise da metodologia e fundamentação teórica. Análise do material produzido e sistematização dos dados coletados. Elaboração do relatório final da pesquisa Qualificação das bases teóricametodológica para a banca de doutores Apresentação do relatório da TESE ao X X X Julho a Nov. 2017 X X Out. Mar. 2017/20 18 Abril a Dez. 2018 Jan. a Abril 2019 Jan. a nov. 2019 Dez. 2019 Fev. 2020 X X X X X X X X X X X X X X orientador Defesa da TESE X 13 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Ricardo. A substância da crise. In MÉSZÁROS, István. A crise estrutural do capital. 2ª ed. – São Paulo: Boitempo, 2011. BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: http://www.mec.gov.br/sef/fundef/pdf/lei9394.pdf. Acessado em 23 de outubro de 2013. ______. Decreto nº 2.208/97, de 17 de abril de 1997. Casa Civil da Presidência República Federativa do Brasil. Disponível: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2208.htm. Acesso efetuado em em 23/09/2014. ______. 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