AMBULÂNCIA de Gregory Motton O que é que fazem nesta noite riscada pelo passar de luzes azuis, pelo cintilar dos planetazinhos (ou estrelas?) cor de laranja, com valsas para clavicórdio em fundo, tudo ponteando os abismos negros da cidade. E mais os gemidos de ambulância, a sucessão de tufões domésticos das centrifugadoras, o rugir ameaçador das máquinas de lavar. E sobre esta paisagem trémula, o trânsito aleatório das almas mortas que vagueiam por uma cidade (Londres, podia ser outra) desta Europa finisecular ou finicivilizacional onde a esperança parece ter-se tornado impossível. Dejectos? Ou outra coisa: mutantes, seres alheados do sistema e dos seus sinais, dos seus códigos que não querem ou não sabem interpretar. Ou que desaprenderam numa espécie de rejeição inconsciente.