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Atuação dos técnicos de enfermagem da atenção básica no cuidado ao usuário
diabético
Performance of the nursing staff of primary care in the diabetic user
Desempeño del técnico de enfermería de atención primaria en el usuario diabético
Patrícia Simplício de Oliveira. Enfermeira Graduada e Licenciada pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB). Ex-bolsista de Iniciação Científica – PIBIC/CNPQ/UFPB. João
Pessoa (PB), Brasil. E-mail: [email protected]
Marta
Miriam
Lopes
Costa.
Enfermeira.
Professora
Doutora
em
Sociologia,
Graduação/Pós-Graduação, Universidade Federal da Paraíba/PPGENF/UFPB. João Pessoa
(PB), Brasil. E-mail: [email protected].
Eva Porto Bezerra. Enfermeira. Mestre em Enfermagem. João Pessoa (PB), Brasil. Email: [email protected].
Lidiane Lima de Andrade. Enfermeira. Professora, Universidade Federal de Campina
Grande/UFCG,
Doutoranda
em
Enfermagem,
Programa
de
Pós-Graduação
em
Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail:
[email protected].
Josefa Danielma Lopes Ferreira. Enfermeira. Mestranda pelo Programa de PósGraduação em Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa (PB),
Brasil. E-mail: [email protected].
Cizone Maria Carneiro Acioly. Enfermeira. Professora, Universidade Federal da
Paraíba/CCS,
Doutoranda
em
Enfermagem,
Programa
de
Pós-Graduação
em
Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba/UFPB. João Pessoa (PB), Brasil. E-mail:
[email protected].
2
Autor responsável pela troca de correspondência
Patrícia Simplício de Oliveira
Rua Olívio Travassos de Medeiros, 339.
Bairro Miramar
CEP: 58043-050 - João Pessoa (PB), Brasil.
Estudo realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico/Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica/CNPq PIBIC/UFPB,
2012-2013. João Pessoa/PB, Brasil.
Resumo
Objetivo: verificar qual a participação do técnico de enfermagem no cuidado ao usuário
diabético e identificar quais orientações os técnicos de enfermagem oferecem aos
usuários diabéticos sobre os cuidados com os pés. Método: pesquisa exploratória,
descritiva com abordagem qualitativa, analisada através do discurso do sujeito a partir
das questões norteadoras: Como técnico de enfermagem, como você cuida do usuário
diabético? Quais orientações você oferece aos usuários diabéticos sobre os cuidados com
os pés?. Participaram da pesquisa 40 técnicos de enfermagem da atenção básica de
saúde do município de João Pessoa/PB.
Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa
da
do
Centro
de
Ciências
Saúde/UFPB,
n.
0153/12,
CAEE
03459112.1.0000.5188. Resultados: observou-se a relevante contribuição dos técnicos
de enfermagem no cuidado ao usuário diabético na atenção básica através do
acompanhamento e orientação dos usuários diabéticos. Conclusão: as contribuições dos
técnicos proporcionam a diminuição dos riscos para o desenvolvimento das complicações
oriundas do DM. Descritores: enfermagem; diabetes mellitus; educação em saúde.
Abstract
3
Objective: verify the participation in technical nursing care to the diabetic user and
identify guidelines nursing technicians provide users with diabetes about foot care.
Method: exploratory, descriptive qualitative approach, analyzed by subject speech from
the questions: How staff nursing, how you take care of the diabetic user? What you offer
guidance to users on diabetic foot care. Participants were 40 nursing technicians of basic
health care in the city of João Pessoa/PB. This study was approved by the Ethics
Research Center of Health Sciences/UFPB, n. 0153/12, CAEE 03459112.1.0000.5188.
Results: There was a significant contribution of nursing staff in the care of diabetes in
primary user by monitoring and guidance of users diabetics. Conclusion: the
contributions of technicians offer a reduced risk for the development of complications
arising from diabetes. Descriptors: nursing; diabetes mellitus; health education.
Resumen
Objetivo: comprobar que la participación en la atención de enfermería técnica para el
usuario diabético e identificar lineamientos técnicos de enfermería ofrecen a los
usuarios la diabetes sobre el cuidado del pie. Método: enfoque exploratorio, descriptivo
cualitativo, analizó mediante el habla tema en las preguntas: ¿práctica enfermera, el
usuario le importa cómo usted diabético? Lo que usted ofrece orientación a los usuarios
sobre el cuidado del pie diabético. Los participantes fueron 40 técnicos de enfermería
de atención básica de salud en la ciudad de João Pessoa/PB. Este estudio fue aprobado
por el Comité de Ética de la Investigación de Centro de Ciencias de la Salud/UFPB, n.
0153/12, CAEE 03459112.1.0000.5188. Resultados: Se observó una importante
contribución del personal de enfermería en el cuidado de la diabetes en el usuario
principal de la supervisión y orientación de los usuarios diabéticos. Conclusión: los
aportes de los técnicos ofrecen un menor riesgo para el desarrollo de complicaciones
4
derivadas de la diabetes. Descriptores: enfermeira; diabetes mellitus; educación para
la salud.
Introdução
Visto na atualidade como uma epidemia mundial, o diabetes mellitus (DM)
compõe o grupo de doenças crônicas não transmissíveis e está associado a complicações
micro e macrovasculares com alta morbimortalidade, como é o caso da insuficiência
renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular.1-2
Estima-se que, em todo o mundo, até 2025, 333 milhões de pessoas apresentarão
diagnóstico positivo para DM, configurando-se como grande desafio para os sistemas de
saúde de todo o mundo. Além disso, as consequências humanas, sociais e econômicas do
diabetes são devastadoras: quatro milhões de mortes por ano são determinadas por essa
doença e suas complicações, representando 9% do total de mortes.1,3
Neste contexto, dentre as complicações crônicas decorrentes do DM destacam-se
aquelas relacionadas aos pés, através do desenvolvimento do pé diabético que pode
levar a amputações não traumáticas, as quais representam um dos mais devastadores
problemas associados à doença, provocando grande impacto socioeconômico e perda da
capacidade produtiva. Este agravo à saúde está entre as dez maiores causas de óbito na
maioria dos países, gerando mortes precoces que poderiam ser evitadas.4-5
Autores5 afirmam que o desenvolvimento do pé diabético, assim como, as
amputações são as principais causas de morbidade entre as pessoas com DM e o risco
para o seu desenvolvimento é estimado em 15%. Nas pessoas com DM, as úlceras nos pés
são caracterizadas por lesões cutâneas com perda do epitélio, que se estendem até a
derme, podendo atravessá-la e alcançar tecidos mais profundos, chegando a atingir
ossos e músculos; comumente, as úlceras antecedem 85% das amputações e são
consequência da combinação de duas ou mais condições de risco que atuam
5
simultaneamente, das quais, a neuropatia periférica é a mais importante. Dessa forma,
compreende-se que as ações de prevenção podem contribuir com a diminuição da
prevalência das lesões e, consequentemente, das amputações.
Desse modo, considera-se que as ações de prevenção devem ser adotadas para
diminuir o número de pessoas portadoras de DM que podem ter seus membros
amputados. Visto que o procedimento relacionado à amputação gera custos dispendiosos
para o setor saúde, como também, danos irreversíveis para as pessoas que se submetem
a essa intervenção. Por isso, a importância de sua prevenção tem-se tornado cada vez
maior, pois o tempo e os gastos são menores se comparado com as grandes despesas
hospitalares e medicamentosas geradas pelo tratamento, além do menor desgaste físicopsicossocial do paciente e de seus familiares.6
Assim, a prevenção das complicações oriundas do DM tem sido prioridade para a
saúde pública, utilizando como principal estratégia a educação em saúde que pode
contribuir para reduzir a alta prevalência de complicações em pessoas com DM. Visto
que educar os usuários com DM pode ter papel fundamental no incentivo e apoio para
assumirem a responsabilidade no controle do diário da sua condição de saúde.7
Diante dessa realidade, compreende-se que a Saúde da Família, entendida como
uma estratégia de reorientação do modelo assistencial que proporciona ações de
promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças desempenha
papel fundamental na atenção ao paciente diabético, uma vez que este requer cuidado
contínuo, educação permanente e suporte para prevenção das complicações agudas e
redução do risco de complicações crônicas.1,8
Neste sentido, a equipe de enfermagem composta pelo enfermeiro e técnico de
enfermagem, inserida no contexto da equipe multidisciplinar que compõe a Estratégia
Saúde da Família tem função primordial, já que esses profissionais têm atribuições que
6
compreendem desde os procedimentos técnicos, inerentes à profissão, até o cuidado
integral e holístico ao paciente diabético.1,9
Dentre os citados profissionais, os técnicos de enfermagem (TE) representam um
contingente significativo de trabalhadores nos serviços de saúde, e, na enfermagem,
representam a maior força de trabalho.10 No entanto, são escassos os estudos na
literatura que investigam como a prática desses trabalhadores tem se processado frente
aos
cuidados
destinados
ao
paciente
diabético.
Essa
situação
provocou
o
desenvolvimento deste estudo, pois a prática desses trabalhadores pode se constituir em
uma estratégia para diminuir os impactos negativos decorrentes do DM e, assim,
contribuir na melhoria da qualidade de vida dos diabéticos.
Objetivos
Verificar qual participação do técnico de enfermagem no cuidado ao usuário
diabético e Identificar quais orientações os técnicos de enfermagem oferecem aos
usuários diabéticos sobre os cuidados com os pés.
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem qualitativa. O
estudo foi realizado em Unidades de Saúde da Família do município de João Pessoa/PB
do Distrito Sanitário III, o qual compõe o maior distrito, dos cinco distritos sanitários do
município de João Pessoa/PB. A pesquisa foi realizada durante os meses de maio a julho
de 2013.
A população foi composta por 66 técnicos de enfermagem que compõem as
equipes multidisciplinares da Estratégia Saúde da Família, os quais atuam nas Unidades
de Saúde da Família do Distrito Sanitário III.
Para o processo de amostragem, foi adotado a do tipo não probabilístico e a
amostra elegida foi por acessibilidade11, a qual adotou como critério de inclusão: ter no
7
mínimo um ano de atuação na Unidade de Saúde da Família (USF), estar na USF no
período da coleta de dados e aceitar participar do estudo. Deste modo, a amostra deste
estudo foi constituída por 40 técnicos de enfermagem.
Para o procedimento de realização da pesquisa, foram consideradas as
observâncias éticas contempladas nas diretrizes e normas regulamentadoras para
pesquisa envolvendo seres humanos – Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde12
e a Resolução 311/2007 do Conselho Federal de Enfermagem 13, sobretudo no que diz
respeito
ao
consentimento
livre
e
esclarecido
dos
participantes,
sigilo
e
confidencialidade dos dados.
Ressalta-se que o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba, segundo o
número 0153/12, CAEE 03459112.1.0000.5188, como também, autorizado pela
Secretaria Municipal de Saúde, segundo o processo nº 06871/2013.
Para viabilizar a coleta de dados do presente estudo, foi utilizado um questionário
contendo questões subjetivas, acerca da atuação dos técnicos de enfermagem no
cuidado ao usuário diabético, de acordo com os objetivos propostos.
Os dados coletados foram analisados qualitativamente mediante a técnica de
análise do discurso do sujeito coletivo.14 Esta é uma técnica de organização de dados
discursivos que possibilita resgatar a compreensão de um determinado fenômeno, em
um dado universo. A referida técnica é operacionalizada em quatro etapas apresentadas
a seguir:
Primeira etapa – nesta fase são selecionadas expressões-chave de cada discurso
individual, obtidas a partir da cada questão subjetiva proposta para os estudos.
Segunda etapa – corresponde à identificação das ideias centrais que cada um dos
participantes envolvidos no estudo apresenta em seu discurso e as expressões-chave
8
para cada resposta de uma dada questão, formando assim, a síntese do conteúdo dessas
expressões.
Terceira etapa – ocorre o agrupamento das ideias centrais semelhantes ou
complementares,
que
envolvam
questionamento,
transcrevendo-se
as
mesmas
literalmente
respostas
os
de
termos
um
determinado
empregados
pelos
participantes da investigação.
Quarta etapa – compreende a estruturação do discurso-síntese, ou discurso do
sujeito coletivo, mediante o agrupamento das ideias centrais semelhantes, o que
representa um só discurso, como se todos tivessem sido proferidas por único indivíduo.
Resultados e Discussão
Participaram do estudo 40 técnicos de enfermagem (TE), sendo trinta e sete
(92,5%) do sexo feminino e três (7,5%) do sexo masculino, com idades entre 20 e 62
anos, com média e desvio-padrão de 41,15 ± 10,91 anos; tempo de profissão com média
e desvio-padrão de 13,23 ± 9,83 anos e tempo de atuação no referido local de trabalho
com média e desvio-padrão de 4,75 ± 3,97 anos.
No que se refere aos cuidados de enfermagem dos TE ao usuário diabético, foi
realizado o seguinte questionamento: “Sendo técnico de enfermagem, como você cuida
do usuário diabético?” Esse questionamento deu origem a duas ideias centrais (IC), com
seus respectivos discursos do sujeito coletivo (DSC): Ideia Central 1 - Orientações que
abordam o tratamento não-farmacológico e farmacológico para o Diabetes Mellitus, bem
como, sobre a higienização e os cuidados com os pés e Ideia Central 2 – Procedimentos
técnicos de enfermagem.
Ideia Central 1 - Orientações que abordam o tratamento não-farmacológico e
farmacológico para o Diabetes Mellitus, bem como, sobre a higienização e os
cuidados com os pés – Discurso do sujeito coletivo:
9
Orientando quanto aos cuidados com a alimentação [...] como não
comer doces, gorduras [...] se alimentar a cada três horas.
Também acho importante orientar sobre os cuidados com os pés,
sobre a higiene [...] sem esquecer a realização das atividades
físicas, como a caminhada; além disso, falo sobre a medicação que
deve ser controlada, tomada corretamente [...] na hora certa.
Como também, participo do cuidado ao paciente diabético quando
passo informações sobre a sua patologia [...] esclarecendo suas
dúvidas, dentro dos meus conhecimentos, a respeito de todo o seu
tratamento [...] estando sempre pronto para ouvir os seus
questionamentos. Ainda oriento quanto à importância do uso da
insulina e sobre os locais em que ela pode ser aplicada.
O Discurso do Sujeito Coletivo dos participantes inseridos no estudo, expresso na
Ideia Central 1, mostra que os TE acreditam que o cuidar do usuário com DM pode ser
realizado através de orientações, principalmente no que diz respeito ao tratamento
farmacológico – uso correto da medicação, e ao tratamento não farmacológico –
alimentação adequada e atividade física regular.
Este é um achado positivo, visto que um estudo realizado em João Pessoa – PB
revelou que usuários diabéticos da atenção básica possuem conhecimento superficial e
limitado em relação ao DM, como também, aos meios para controlar a referida doença
crônica, o que pode propiciar o surgimento de complicações.15
Deste modo, a orientação apresenta-se como uma ferramenta que permite ao
técnico de enfermagem promover o cuidado através da educação em saúde no
momento, pois proporciona ao paciente o conhecimento quanto aos meios para controlar
o DM, contribuindo na prevenção de agravos oriundos da referida doença crônica. Uma
10
vez que ao proporcionar orientações a este paciente, a prevenção também é promovida,
pois estimula-se um disseminador de informações; além de permitir à pessoa acometida,
maior participação nas decisões e atitudes relativas à sua saúde, bem como, promoção
do autocuidado.16-17
Corroborando com esse achado, autores18 afirmam que a melhor maneira de
impedir as complicações decorrentes do DM é a prevenção, cabendo, principalmente,
aos profissionais de enfermagem a importante função de cuidar, acompanhar
periodicamente e orientar os pacientes portadores de DM, seus familiares e a
comunidade em geral, a respeito da importância dos cuidados com os pés, da
alimentação adequada, das práticas regulares de exercícios físicos e da necessidade de
um controle glicêmico, para o alcance de uma vida mais saudável.
Contudo, tanto na perspectiva do paciente quanto na do profissional da saúde, o
tratamento do DM é complexo e difícil de ser realizado, o que tem acarretado
dificuldades no controle da doença.19 Por isso, ressalta-se que as estratégias de
educação em saúde devem ter caráter participativo, pois as ações educativas
influenciam no estilo de vida, melhoram os ambientes social e físico e a relação
interpessoal entre o profissional e o paciente. Além disso, a educação em saúde,
baseada no diálogo, ou seja, na troca de saberes, favorece a compreensão dessa relação
no processo saúde-doença e, respectivamente, na troca entre o saber científico e o
saber popular.20
Ideia Central 2 – Procedimentos técnicos de enfermagem – Discurso do sujeito
coletivo:
Mediante a vinda do usuário ao PSF, a minha categoria profissional
têm os seus procedimentos técnicos específicos, ou seja, verificar
peso, glicemia capilar, circunferência abdominal e a pressão
11
arterial, pelo menos uma vez por mês; também faço os curativos
nas feridas das pessoas que têm pé diabético; [...] administro
insulina.
No que se refere ao DSC apresentado na IC 2, foi evidenciado que os TE indicam
os procedimentos técnicos de enfermagem como uma forma de prestarem os cuidados
para os usuários diabéticos, o qual mostra que esses profissionais seguem as sugestões
do último Caderno de Atenção Básica
nº 16 do Ministério da Saúde9 para as suas
atribuições profissões, dentre elas : verificar os níveis da pressão arterial, peso, altura
e circunferência abdominal, em pessoas da demanda espontânea da unidade de saúde;
orientar pacientes sobre automonitorização (glicemia capilar) e técnica de aplicação de
insulina.
Dessa forma, pode-se compreender que os TE participam do cuidado à pessoa
acometida por DM através da educação em saúde, como também, por meio da
assistência de enfermagem, o que contribui na adesão à terapêutica, visto que os
principais fatores envolvidos na adesão ao tratamento estão relacionados ao
conhecimento, a uma assistência adequada, à motivação pessoal pela busca de melhor
estado de saúde, e à obtenção do controle da glicemia através de modificações de
hábitos de vida.21
Quanto às orientações sobre os cuidados com os pés, foi indagado aos técnicos de
enfermagem: “Quais orientações você oferece aos usuários diabéticos sobre os cuidados
com os pés?”. Essa indagação originou cinco ideias centrais, com seus DSC
correspondentes: Ideia Central 1 - Uso de calçados que protejam os pés, Ideia Central
2 - Inspeção dos pés, Ideia Central 3 - Higiene e hidratação dos pés, Ideia Central 4 –
Cuidados com as unhas e Ideia Central 5 – Prevenção de ferimentos.
Ideia Central 1 - Uso de calçados que protejam os pés. DSC:
12
Para que eles não andem descalços; [...] devem andar sempre
calçados, com calçados confortáveis, adequados e fechados, [...]
protegendo os pés de topadas, arranhões e feridas [...] evitando se
ferir para que, consequentemente, não haja complicações quanto à
cicatrização.
Ideia Central 2 - Inspeção dos pés. DSC:
Inspecionar diariamente os pés, inclusive a área entre os dedos.
Procurar
rachaduras,
bolhas,
edemas,
ferimentos,
qualquer
mudança de cor, [...] de sensibilidade. Sempre que aparecer algum
ferimento, por menor que seja que ele (usuário) procure a ajuda
de um profissional da área de saúde para que esse ferimento não
venha a ter complicações.
Ideia Central 3 - Higiene e hidratação dos pés. DSC:
Manter os pés sempre limpos, lavando bem com água e sabão, [...]
fazendo higienização adequada; [...] depois tem que enxugar bem,
principalmente entre os dedos, para que os pés não fiquem
úmidos.
Também oriento
que depois é
importante passar
hidrantes, [...] óleos, pelo menos uma vez ao dia, para conservar
os pés hidratados, [...] evitando o ressecamento.
Ideia Central 4 – Cuidados com as unhas. DSC:
Ter cuidado com as unhas [...], mantendo elas limpas e, ao cortar,
ter o cuidado de deixá-las sempre retas; [...] evitar a retirada de
cutículas e nunca utilizar alicates; [...]. E, se puder sempre
preferir lixar as unhas a cortá-las; [...] quando for à pedicure,
13
relatar que é diabético para que ela tenha mais cuidado quando
for fazer as unhas.
Ideia Central 5 – Prevenção de ferimentos. DSC:
Falo para eles que tenha o devido cuidado para evitar topadas,
quedas, pois a cicatrização do diabético não é fácil e merece uma
devida atenção; [...] por isso digo pra ter muito cuidado e não ter
machucados.
Os membros inferiores constituem uma das regiões do corpo mais vulneráveis em
pessoas com DM. Neste sentido, entende-se a necessidade da atenção com os cuidados
com os pés, visto que estudos comprovam que mais de 10% das pessoas com DM são
suscetíveis a desenvolver úlceras nos pés em algum momento de sua vida.22
Nesta perspectiva, os discursos apresentados pelos técnicos de enfermagem nas IC
1, 2, 3, 4 e 5, por meio de orientações, recomendam os cuidados necessários que as
pessoas com DM devem desenvolver com o propósito de prevenir o surgimento de feridas
e, assim, evitar complicações.
Concordando com o achado desse estudo, a literatura20 destaca que as pessoas
com DM devem conhecer os mecanismos que podem causar lesões nos pés, a fim de se
conscientizarem da necessidade de cuidar de seus pés, através de medidas de higiene,
hidratação e proteção com calçados adequados, bem como, através da inspeção diária
dos pés na procura de sinais de lesão, sem esquecer a inspeção do interior dos calçados,
antes de utilizá-los.
Deste modo, os TE contribuem na prevenção de uma das mais incapacitantes
complicações crônicas advindas do mau controle do DM, a qual denomina-se “pé
diabético”, que são ulcerações nos pés de pacientes diabéticos que ocorrem em
consequência de neuropatia, vasculopatia e deformidades, que se associam e se
14
influenciam mutuamente. A neuropatia consiste na diminuição da sensibilidade térmica
e dolorosa como perda de um mecanismo de proteção contra lesões traumáticas. A
vasculopatia surge mediante lesões microangiopáticas responsáveis pela alteração da
microcirculação, acarretando má circulação para os tecidos periféricos; e as
deformidades são provenientes de pressões mecânicas. Essas lesões, que geralmente são
decorrentes de trauma, são complicadas por infecção, tendo muitas vezes como porta
de entrada as fissuras e as micoses interdigitais, e podem terminar em amputação
quando o tratamento não é precoce e adequado.19
O programa de educação sobre o diabetes tem por objetivos aumentar o
conhecimento sobre a doença, desenvolver habilidades para o autocuidado, estimular
mudanças de comportamento, proporcionar suporte para solucionar problemas diários
decorrentes dessa doença e prevenir complicações agudas e crônicas. 23 Todavia, a
maioria dos problemas relacionados ao pé diabético é passível de prevenção por meio da
educação em saúde do usuário e de seus familiares, visto que a literatura apresenta que
quando há aumento do conhecimento, é comprovada a redução, mesmo mínima, do risco
de ulceração e amputação.24-25
Conclusão
A realização deste estudo possibilitou identificar a relevante contribuição dos
técnicos de enfermagem no cuidado ao usuário diabético na atenção básica, uma vez
que os seus discursos revelaram um cuidado voltado tanto para a educação em saúde,
quanto para a assistência de enfermagem, o que proporciona a diminuição dos riscos
para o desenvolvimento das complicações oriundas do DM.
Principalmente no que diz respeito às complicações ocasionadas nos membros
inferiores, diminuindo o grande impacto negativo sobre os aspectos biopsicossocial,
espiritual e econômico que o pé diabético, sobretudo as amputações não-traumáticas,
15
acarretam na vida do usuário diabético. Deste modo, fica evidenciada a importância
desse profissional de saúde, no contexto da equipe multidisciplinar da estratégia da
saúde da família.
Contudo, é necessário que esses profissionais sejam submetidos a capacitações
frequentes, para que exerçam o seu processo de cuidado de forma cada vez mais
qualificada, proporcionando melhoria no cuidado aos diabéticos. Para que isso seja
concretizado, é preciso maior atenção da gestão municipal de saúde para esses
profissionais, no que diz respeito à valorização da profissão e à oferta de educação
permanente, a qual, muitas vezes é voltada apenas para os enfermeiros, deixando os
técnicos de enfermagem em segundo plano.
Além disso, foi observada uma literatura escassa quanto ao processo de cuidar dos
técnicos de enfermagem na atenção básica, o que aponta para a importância da
existência de estudos que tenham como foco a atuação desses profissionais, tanto no
âmbito hospitalar quanto no âmbito da atenção básica, principalmente no que concerne
ao cuidado à pessoa acometida por diabetes mellitus.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq
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